AS ANOTAÇÕES EM SALA DE AULA E O DISCURSO DO PROFESSOR NA UNIVERSIDADE
Julia Maria Raposo Gonçalves de Melo Larré 1 (
[email protected]) e Anny Caroline Silva Souza 1
(1. Depto. de Letras, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
INTRODUÇÃO:
Muitos dos trabalhos realizados pela Sociolingüística são sobre a linguagem falada. Mas a escrita também pode mostrar como funcionam a língua e o mundo social. Segundo Marcuschi (2004: 143), "compreender bem um texto não é uma atividade natural nem uma herança genética; nem uma ação individual isolada do meio em que se vive. (...) É muito mais uma forma de inserção no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relação com o outro dentro de uma cultura e uma sociedade". Escolhemos as anotações em sala de aula como objeto de estudo, pois são, de uma certa maneira, uma "pista" deixada pelo aluno sobre a sua compreensão do texto emitido oralmente pelo professor. Também levamos em conta o fato de que este gênero tenha sido pouco estudado pelos lingüistas. Teoricamente, nos baseamos nos trabalhos de autores como Bazerman (2005) e Marcuschi (2004) sobre os gêneros textuais. O nosso estudo, que envolve as noções teóricas de gênero, comunidade discursiva e ação social, pretende contribuir para uma melhor compreensão destes conceitos, sua inter-relação e sua possível aplicação ao ensino.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa está vinculada ao Projeto OS GÊNEROS DISCURSIVOS E A UNIVERSIDADE: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO, sob a orientação da Professora Doutora Judith Chambliss Hoffnagel. A análise segue uma metodologia de cunho etnográfico (Brewer 2000; Johnstone 2000; Atkinson 1999), observando assim o processo de interação dos participantes inseridos num determinado contexto social, no nosso caso, a universidade. Visando perceber quais funções o gênero anotaçõesdesempenha em sala de aula, procuramos responder as seguintes questões: os alunos anotam com freqüência e são fiéis ao discurso emitido pelo docente? As anotações são imprescindíveis para o aprendizado de até mesmo outros gêneros textuais na universidade? As análises se baseiam num corpus composto por anotações produzidas pelos alunos de um curso de graduação da UFPE (com a devida autorização dos mesmos) e gravações de trechos de aulas em que tais anotações foram feitas. Além disso, fizemos entrevistas com os alunos contendo nove perguntas que se referem à importância atribuída às suas anotações. Fizemos também uma comparação entre o discurso do professor em sala e o que os alunos anotaram em seus cadernos.
RESULTADOS:
Com base nos resultados obtidos, observamos, além de outras coisas, que a maior contribuição que podemos encontrar da nossa análise para com o ensino é fazer compreender que a linguagem, por realizar-se na interação verbal entre locutores socialmente situados, não pode ser considerada de forma alguma independente da sua situação concreta de produção, ou seja, os alunos não anotam algo que não tenha surgido a partir do discurso do professor. Encontramos também várias diferenças entre anotações realizadas por diferentes pessoas sobre um mesmo trecho do discurso. Isto significa que a linguagem, por ser opaca, não possui um sentido literal. É constituída por muitos sentidos, dependendo principalmente da carga semântico-pragmática determinada pelo indivíduo. A fala do professor pode ser interpretada de várias maneiras, sendo adaptada de acordo com as condições em que se encontra o interlocutor que possui certos conhecimentos, com determinados objetivos. Quanto às entrevistas que realizamos, a grande maioria dos alunos (44%) não soube responder qual a verdadeira função de suas anotações.
CONCLUSÕES:
De acordo com os resultados obtidos com base na análise dos gêneros discurso do professor eanotações em sala de aula , percebemos questões interessantes que vêm trazer novas perspectivas para a análise das relações entre oralidade e escrita, bem como novos desafios lançados pelos processos interativos nas instituições de ensino.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave: anotações; discurso; etnografia.
Conteúdo de pôster apresentado no 57ª Reunião Anual da SBPC, 2005. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/SENIOR/RESUMOS/resumo_1535.html Acessado em: 03/08/2016.
