As Associações de Nipo-descendentes de Londrina - PR e a busca pela identidade nikkei

July 26, 2017 | Autor: Silvia Leal | Categoria: Identidade cultural, Nipo-brasileiros
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SILVIA DOMINGOS LEAL

AS ASSOCIAÇÕES DE JOVENS NIPO-DESCENDENTES DE LONDRINA – PR E A BUSCA PELA IDENTIDADE NIKKEI

LONDRINA 2010

SILVIA DOMINGOS LEAL

AS ASSOCIAÇÕES DE JOVENS NIPO-DESCENDENTES DE LONDRINA – PR E A BUSCA PELA IDENTIDADE NIKKEI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. Orientadoras Profa. Dra. Alice Yatiyo Asari e Profa. Ms. Rosely Maria de Lima



LONDRINA 2010

SILVIA DOMINGOS LEAL

AS ASSOCIAÇÕES DE JOVENS NIPO-DESCENDENTES DE LONDRINA – PR E A BUSCA PELA IDENTIDADE NIKKEI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina.

COMISSÃO EXAMINADORA

Ms. Rosely Maria de Lima __________________________ Profa. Orientadora Universidade Estadual de Londrina

Dra. Alice Yatiyo Asari __________________________ Profa. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina

Dra. Ruth Youko Tsukamoto __________________________ Profa. Componente da Banca Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 21 de Dezembro de 2010.

À minha mãe, que é o meu norte e sempre mantém os meus pés no chão, à Kimiyo e à Tonazo Kameyama (in memoriam): minha ligação direta com o Japão, à toda a comunidade nikkei que inspirou a realização deste trabalho e aos amigos Cleiton (in memoriam), Rubi e Kiko (onde quer que esteja)

dedico este trabalho!

AGRADECIMENTOS Às forças maiores nas quais acredito, por eu ter chegado até aqui. À minha família, que é a base do meu caráter e primeiro contribuiu para formação de minha identidade. Imensamente, à minha orientadora, professora Dra. Alice Y. Asari, não só pela constante orientação neste trabalho, mas por todos os outros, que de certa forma, resultaram neste. Obrigada, pela paciência e pela sua amizade. Aos amigos que fiz na terra do pé vermelho e que me acolheram como se eu fosse da família: Amaral (pai londrinense), Bruna, Luana, Raquel e Simonete (irmãs), Jônatas (irmãozão) e Maurício (brother). Aos funcionários do Departamento de Geociências, especialmente Regina e Edna pelo auxílio durante cinco anos e mais um pouco. Aos colegas do Grupo PET, pelo crescimento pessoal e acadêmico, proporcionado durante as diversas e frutíferas discussões. Aos colegas e professores do Grupo de Estudos da Imigração Japonesa e da Iniciação Científica, pela amizade e cumplicidade, principalmente à Íris pelo apoio na reta final do TCC. Aos colaboradores: J, pelo mapa, Paulo Leal, pelo auxílio na tabulação dos dados, Amaral e Kleyton, pela ajuda nos trabalhos de campo. Às colegas “pindenses”, por manterem o contato e a amizade: Ana Paula e Lílian. Aos professores e colegas do curso de Geografia da UEL. Aos

entrevistados,

pelo

tempo

e

paciência

dispensados,

principalmente Éder Takemura, por propiciar o contato com os grupos seinen-kai. À Família Koguishi pela acolhida e por me mostrar mais da cultura japonesa. E à todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho. Arigatô!

Enquanto é tempo sei que cada momento é tudo o que tenho e o agora tudo que existe

Luiz Fernando Prôa

LEAL, Silvia Domingos. As associações de jovens nipo-descendentes de Londrina – PR e a busca pela identidade nikkei. 2010. 90 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.

RESUMO

Após a decisão de permaneceram no Brasil e o adotarem como segunda pátria, os imigrantes japoneses trataram de se organizar em comunidades, onde reproduziram o modo de vida japonês. A união do grupo se deu por meio das associações, que desenvolveram papel fundamental no processo de manutenção da cultura japonesa. Estas são organizadas em departamentos de senhores (nihon-jin-kai), de senhoras (fujin-kai) e de jovens (seinen-kai). O foco deste estudo foram as associações de jovens nikkeis de Londrina. Elas podem constituir-se de associações vinculadas a outras entidades como a ACEL (Associação Cultural e Esportiva de Londrina) e a Aliança Cultural Brasil-Japão ou podem formar grupos independentes, sendo este o caso do Grupo Sansey, do Grupo Anime Daiko, entre outros. Nas associações de jovens nikkeis, atualmente, são encontrados nipo-descendentes que apreciam a dança e a culinária japonesa e que gostam de tocar o taiko e o shamisen (instrumentos musicais típicos da cultura japonesa). Palavras-chave: Identidade cultural, nipo-descendentes, seinen-kai.

LEAL, Silvia Domingos. The associations of nikkei young people of Londrina – PR and the search of nikkei identity. 2010. 90 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.

ABSTRACT

After the decision of to stay in Brazil and to adopt it as a second homeland, the Japanese immigrants organized by themselves in communities, where they reproduced the Japanese way of life. The union of the group happened by the associations, that developed fundamental role at the process of maintenance of the Japanese culture. These associations are organized at departments of older men (ninhon-jin-kai), of older women (fujin-kai) and of young people (seinen-kai). The focus of this study was the associations of nikkei young people of Londrina. They can be formed of the associations connected to others entities like the ACEL (Cultural Association and Sporting of Londrina) e the Cultural Brazil-Japan Alliance or they can form independent groups. It is the case of the Sansey Group, of Anime Daiko Group and others. At the associations of nikkei young people, nowadays, we can find Japanese’s descended that appreciate the Japanese dance and the Japanese cookery and that like to play the taiko and to play the shamisen (musical instruments typical of Japanese culture). Key-words: Cultural identity, Japanese’s descended, seinen-kai.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização dos grupos seinen-kai de Londrina.....................................34 Figura 2 – Ensaio do Grupo Sansey na quadra do Colégio Universitário................35 Figura 3 – Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko no “Londrina Matsuri 2009”.............36 Figura 4 – Grupo Jishin Shamidaiko no “Londrina Matsuri 2009”............................40 Figura 5 – Ensaio do Grupo Anime Daiko, na Chácara Itaú ....................................41 Figura 6 – Tambor japonês - taiko...........................................................................44 Figura 7 – Instrumentista segurando sanshin..........................................................45 Figura 8 – Shamisen ...............................................................................................46 Figura 9 – Intrumentista tocando koto .....................................................................47 Figura 10 – Intrumentista tocando ôkaido ...............................................................49 Figura 11 – Público dançando o Bon Odori no “Londrina Matsuri 2009” .................49 Figura 12 – Yosakoi – Grupo Sansey no “Londrina Matsuri 2009” ..........................50 Figura 13 – Apresentação do Grupo Jishin Shamidaiko..........................................52 Figura 14 – Grupo Louvarte da Igreja Holiness no “Londrina Matsuri 2009” ...........53 Figura 15 – Apresentação de taiko do Grupo Sansey .............................................59 Figura 16 – Jishin Shamidaiko – apresentação de dança japonesa........................59

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dados sobre a imigração no Brasil .......................................................22 Quadro 2 – Grupos Seinen-kai de Londrina ............................................................42

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Número de pessoas por núcleo familiar de dois a seis membros.........54 Gráfico 2 – Descendência japonesa se considerados 4 grupos de análise ............55 Gráfico 3 – Descendência japonesa se considerados 5 grupos de análise ............56 Gráfico 4 – Miscigenação na família .......................................................................57 Gráfico 5 – Geração em que ocorreu a miscigenação ............................................58 Gráfico 6 – Atividades desenvolvidas nas associações ..........................................60 Gráfico 7 – Emprego do idioma japonês - fala ........................................................62 Gráfico 8 – Nivel de conhecimento do idioma japonês - fala...................................62 Gráfico 9 – Emprego do idioma japonês - escrita....................................................63 Gráfico 10 – Nível de conhecimento do idioma japonês - escrita............................63 Gráfico 11 – Compreensão do idioma japonês .......................................................64 Gráfico 12 – Nível de conhecimento do idioma japonês - compreensão.................64 Gráfico 13 – Uso do japonês em casa ....................................................................65 Gráfico 14 – Freqüência de consumo de comida japonesa ....................................66 Gráfico 15 – Preferência religiosa dos entrevistados ..............................................67 Gráfico 16 – Entrevistados que possume ofurô em casa ........................................68 Gráfico 17 – Relação de amizade com outros nipo-descendentes .........................69 Gráfico 18 – Como o entrevistado se considera......................................................70 Gráfico 19 – Jovens que já viajaram para o Japão .................................................73

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACEL – Associação Cultural e Esportiva de Londrina ACROL – Associação Cultural e Recreativa Okinawa de Londrina CEASA – Central de Abastecimento CENP – Centro de Estudos Nipo-Brasileiros CELJ – Centro de Estudos da Língua Japonesa CNTP – Companhia de Terras Norte do Paraná DF – Distrito Federal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPPUL – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina JICA – Japan International Cooperation Agency MS – Mato Grosso do Sul PR – Paraná SP – São Paulo UEL – Universidade Estadual de Londrina

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13

2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE MIGRAÇÕES .......................................15 2.1 O IMIGRANTE E AS REDES SOCIAIS...............................................................19

3 A TRAJETÓRIA DOS IMIGRANTES ATÉ O BRASIL ..........................................22 3.1 A OCUPAÇÃO DO NORTE PARANAENSE PELA COMUNIDADE NIKKEI ........24

4 PESQUISA EMPÍRICA NAS ASSOCIAÇÕES DE NIPO-DESCENDENTES EM LONDRINA – PR ....................................................................................................26 4.1 AS ASSOCIAÇÕES DE JOVENS DE LONDRINA: SEINEN-KAI........................32 4.2 AS PRINCIPAIS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS SEINEN-KAI...........43 4.3 A DIVULGAÇÃO DA CULTURA JAPONESA EM LONDRINA............................51 4.4 PERFIL DO JOVEM NIPO-DESCENDENTE ......................................................53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................75

REFERÊNCIAS.........................................................................................................77

APÊNDICES .............................................................................................................80 APÊNDICE A – Questionários...................................................................................81

ANEXOS ...................................................................................................................87 ANEXO A – Glossário ...............................................................................................88

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1 INTRODUÇÃO

As migrações constituem um recorte temático da Geografia, ciência humana que se preocupa com a dinâmica populacional, tanto por meio desta categoria de análise, como de outras, a saber: mortalidade, natalidade, fecundidade, porção da população ativa e inativa, entre outras. O tema migração tem suscitado inúmeras pesquisas por parte de profissionais os mais diversos. O processo de imigração japonesa com destino ao Brasil iniciou-se em 1908, com a chegada do primeiro navio com imigrantes japoneses, Kasato Maru, ao Porto de Santos, no estado de São Paulo. A imigração japonesa no Brasil caracteriza-se por seu início tardio em relação às demais nacionalidades e foi a que teve a menor duração e o menor fluxo de migrantes. Note-se que o Brasil foi por muito tempo uma nação receptora de imigrantes dos mais variados pontos do globo. Assim, a população brasileira é miscigenada, formada por descendentes de africanos (imigração forçada), portugueses, espanhóis, italianos, alemães, japoneses, entre outros. Quando chegaram ao Brasil, os japoneses se depararam com um país de língua, cultura e hábitos diferentes dos seus, de modo que a união do grupo foi a forma encontrada para a superação destas dificuldades. Esta união se deu por meio da formação das associações nipo-brasileiras, as quais foram fundamentais no processo de adaptação dos imigrantes japoneses ao país. Estas associações apresentam funcionamento similar às do seu país de origem e têm se mostrado como instrumento de grande valia para a resignificação dos laços familiares, de compadrio e de amizade. São organizadas em departamentos de senhores (nihon-jin-kai)*, de senhoras (fujin-kai)* e de jovens (seinen-kai)*, constituem uma forma de integração entre os membros da comunidade nikkei* e de manutenção de sua cultura. A partir destas reflexões, acerca das conseqüências da imigração japonesa no Norte do Paraná, este estudo procurou investigar o modo como os descendentes japoneses preservam a identidade nikkei, nos dias de hoje. Nota-se que muitos nipo-descendentes, da terceira, quarta ou quinta geração, internalizaram os hábitos culturais brasileiros. Entretanto, não perderam o vínculo com a cultura (*) todos os vocábulos em japonês são explicados no glossário em anexo.

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japonesa, principalmente, devido ao envolvimento com as atividades das associações de jovens (seinen-kai). A presente pesquisa teve por objetivos específicos: averiguar quantos grupos seinen-kai existem no município de Londrina, onde estão sediados e como se mantém; analisar a função dessas associações para a comunidade nikkei, no sentido da manutenção da cultura japonesa e de sua transmissão às futuras gerações; conhecer os locais de encontro e apresentação destes grupos, com o objetivo de divulgar a cultura japonesa e analisar a importância da identificação cultural do jovem nikkei com suas raízes orientais no processo de reterritorialização da comunidade nipo-brasileira. A idealização desta pesquisa é fruto de indagações surgidas durante o desenvolvimento do projeto “Espaço e Tempo nas migrações internacionais no Norte do Paraná”, coordenado pelas professoras Alice Yatiyo Asari e Ruth Youko Tsukamoto, do Departamento de Geociências da UEL, durante os anos de 2007 e 2009. O interesse pelo tema deve-se também a indagações próprias sobre a identidade nikkei, característica pessoal, reforçada a partir da mudança em 2005 para Londrina, município paranaense com forte presença de manifestações da cultura japonesa. Logo, este estudo teve o intuito de somar dados aos artigos já publicados sobre a temática, assim como o de melhor entender como a cultura e as tradições japonesas se mantiveram vivas após mais de cem anos de imigração, completados em junho de 2008. A metodologia adotada na pesquisa constituiu-se de trabalhos de gabinete e de campo. Realizou-se o levantamento bibliográfico sobre migrações internacionais, imigração japonesa, associações de jovens (seinen-kai), identidade cultural, bem como sobre os processos de territorialização e des-territorialização de grupos humanos. Em relação à parte empírica do trabalho, foram realizadas visitas às associações nipo-brasileiras e demais locais em Londrina onde se localizam as sedes das associações de jovens. Junto aos coordenadores dos grupos realizaramse entrevistas para levantar dados sobre a origem e as formas de manutenção dos mesmos. Aos demais membros (jovens) foram aplicados questionários, cujas respostas indicaram o seu grau de envolvimento com a cultura japonesa. Tanto o roteiro de entrevistas, como o modelo do questionário, encontram-se em anexo.

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2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE MIGRAÇÃO

As discussões realizadas neste capítulo inicial têm o intuito de embasar a análise das informações fornecidas pela comunidade nipo-descendente do município de Londrina – PR, pois a imigração japonesa no Brasil ocorreu pelos mesmos motivos que tantas outras correntes migratórias, acionadas no globo, ao longo da história: mobilidade do trabalho e procura por melhores condições de vida, principalmente. A capacidade de mudar do lugar onde nasceu é facultada ao ser humano desde os tempos ermos, visto que nossos antecedentes mais remotos eram nômades, ou seja, mudavam de região conforme a necessidade de encontrar alimentos, de se proteger de possíveis predadores e de fugir das adversidades climáticas. O ato de mudar, porém, não é tarefa simples, pois além de envolver modificações de um ambiente físico a outro, também inclui mudanças de comportamento social. Afinal, um habitat diferente pressupõe a necessidade de manter relações sociais com pessoas diferentes, sendo esta uma característica da própria convivência em sociedade. Todavia, quando este convívio social é permeado por atritos, como a questão do domínio de um mesmo território, por exemplo, a desavença pode tornarse o motivo para a mobilidade. E o inverso também ocorre, nos casos em que a mobilidade do indivíduo ou do grupo social é alimentada pelo desejo de ampliar o seu próprio território, conquistando o dos outros. É o caso dos colonizadores europeus que atravessaram o Atlântico para tomar posse das terras então descobertas no “novo mundo.” De acordo com Pierre George, a migração é, além de um deslocamento humano, um meio de [...] irradiação geográfica de um dado sistema econômico e de uma dada estrutura social. Na maioria das vezes é um empreendimento controlado: um ato político. As emigrações, além de revelarem a impossibilidade permanente ou episódica de assimilação de contingentes populacionais, postos em movimento pelas modificações da estrutura econômica nacional (crise de desemprego), correspondem, muitas vezes, a instrumentos de uma política imperialista. As circunstâncias de emigração, neste caso,

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referem-se às condições da partilha do mundo pelos impérios coloniais e neocoloniais. (GEORGE, [19 --] apud DAMIANI, 2004, p.40).

O sistema econômico ao qual o autor se refere é o capitalismo, que nesta época, por volta do século XV, estava em sua fase primordial, denominada de capitalismo comercial ou mercantil (mercantilismo) e foi caracterizada pela expansão marítima européia. Nota-se que o tema da migração é abrangente e pode ser abordado por diferentes vieses. Assim, buscou-se na literatura a discussão que alguns autores elaboraram sobre conceitos ligados a temática. Um dos estudiosos do fenômeno das migrações humanas foi o geógrafo francês Max Sorre (1880-1962), cuja obra foi traduzida e analisada pelo brasileiro Januário Francisco Megale, por meio de livros publicados entre os anos de 1983 e 1984. Dentre os principais conceitos abordados por Sorre está o de mobilidade geográfica: “[...] capacidade de um indivíduo ou grupo social de se deslocar de seu local de origem para outro dentro do espaço físico [...].” (SORRE, [19 --] apud MEGALE, 1983, p. 57). A forma como ocorrem tais deslocamentos, bem como os motivos também entram na análise dos estudos migratórios e da mobilidade, pois [...] A mobilidade geográfica pode ser definida pelo volume dos movimentos migratórios tomados isoladamente ou considerados no quadro das correntes internas ou internacionais. A estrutura e o volume das migrações nos dão idéia de mensuração da mobilidade geográfica. (MEGALE, 1983, p. 56-57).

Um dos pontos destacados acima por Sorre é o da distinção entre os tipos de migração: interna e externa. No primeiro caso, refere-se às migrações ocorridas dentro de um mesmo país e no segundo, quando ocorrem de um país para outro ou a nível intercontinental. Em ambas as situações, volta-se para a idéia de George, mencionadas acima, sobre a influência do capitalismo como força propulsora do processo migratório. Nesta mesma linha de pensamento destaca-se também a posição de Damiani (2004), quando afirma que: Tanto as migrações internacionais, como as migrações internas – ruralurbana, rural-rural comprovam o processo de expropriação (a concentração da propriedade) e de exploração, que marcam o desenvolvimento do capitalismo em países como o Brasil. (p. 41)

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De acordo com esta autora, na Idade Moderna, as migrações intercontinentais foram responsáveis pela saída de mais de 50 milhões de europeus, que se dirigiram em grande parte para a América do Norte, seguida da América do Sul (Brasil e Argentina). Este grande êxodo da Europa, motivado pela expectativa dos migrantes de adquirirem terras próprias e pela falta de emprego nas cidades é um bom exemplo do que Sorre chamou de mensuração da mobilidade geográfica. Para compreender melhor este conceito faz-se necessário discutir ainda o que seria, para Sorre, o ponto de partida da mobilidade geográfica, ou seja, o ecúmeno. Segundo o autor, no entender dos gregos, ecúmeno referia-se à área de extensão do homem, de um espaço na Terra, limitado e ocupado por ele. Embora “ocupação” remeta à idéia de fixação e estabilidade, o ecúmeno apresenta diferentes níveis de mobilidade. Esta, ao lado da permanência é um dos aspectos do ecúmeno, que [...] se apresenta, num primeiro momento, como permanente, o que garante o processo de socialização dentro de uma estrutura social determinada. Em seguida, o ecúmeno tem a característica da mobilidade, ou seja, está sempre em movimento através das migrações, sejam internas, seja para fora ou de fora para dentro de seu contingente demográfico o que lhe garante, ao lado da permanência, uma contínua e lenta alteração. (SORRE, [19 --] apud MEGALE, 1983, p. 56).

Continuando a análise da questão da mobilidade geográfica, o autor descreve como alguns dos motivos dos movimentos migratórios a guerra, a violência, as pressões externas e os cataclismas naturais. Outros fatores de migração também são considerados por ele: [...] Mas devemos sempre procurar a origem das migrações nas necessidades, no gênero de vida, nas aspirações e mesmo na imaginação dos migrantes; talvez mesmo numa disposição adquirida ou hereditária. Assim qualquer alteração entre técnica e habitat, ou qualquer aspiração como alteração nas crenças e valores dos indivíduos pode dar origem à migração. Tanto mais instável ou em processo de mudança um grupo social, maior a mobilidade geográfica de seus elementos. A mobilidade geográfica retrata ora o dinamismo do grupo social que perde o indivíduo, ora o dinamismo do grupo social que o recebe como imigrante. (SORRE, [19 --] apud MEGALE, 1983, p. 57).

Assim, o termo migração, de acordo com as reflexões de Sorre refere-se a algo mais que a simples idéia de movimento, de mudança de lugar e de

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moradia. Para este autor, cuja obra foi analisada por Megale (1984, p. 126) “[...] as migrações são expressão da mobilidade do ecúmeno.” Isso quer dizer que, quando um grupo humano ou um indivíduo deixa de ocupar um determinado território e se instala em outro, seu espaço de dominação também muda, com ele. A idéia de possuir domínio sobre determinado recorte espacial, um território, implica em discussões acerca dos modos de apropriação do mesmo. De acordo com Haesbaert (2004), o território pode ser entendido, entre outros significados, como “um espaço de referência para a construção de identidades” (p.35). Segundo este autor, é também o local onde ocorre a reprodução dos grupos sociais através da existência de uma dimensão concreta, de caráter político-disciplinar e de dimensão simbólica e cultural, na qual se cria uma identidade territorial, visando o domínio do espaço ocupado. Logo, um povo ou grupo que se territorializa está, automaticamente, criando mediações espaciais que resultam no controle sobre sua reprodução enquanto grupo social (HAESBAERT, 2004). Deste modo, no entender deste autor, o território é o local onde ocorre a reprodução dos grupos sociais por meio da existência destas duas dimensões: concreta e simbólica. Se a territorialização é um processo que envolve a fixação de um grupo em determinado espaço, limitado por fronteiras político-admistrativas ou simbólicas, a des-territorialização implica na mobilidade do mesmo, que ao se deslocar, por vários motivos, tenderá a perder o domínio deste lugar. Assim, quando o migrante se fixa novamente em outra região, cria laços com o novo habitat e a tendência é que reproduza os costumes e o modo de vida anterior, num movimento de re-territorialização. Nota-se que as idéias de Haesbaert acerca da territorialização e reterritorialização de grupos humanos vão de encontro às considerações feitas por Sorre. Afinal, de acordo com o geógrafo francês, o modo como se dá a fixação de um grupo social em um território (territorialização) implica no desenvolvimento de técnicas facilitadoras do processo de transformação e dominação do meio. Depois de criadas e internalizadas, as técnicas são passadas de geração para geração, podendo ser modificadas conforme o surgimento de novas necessidades.

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À combinação dessas técnicas, Sorre chamava de “gênero de vida”, tema, aliás, anteriormente abordado por Vidal de la Blache, para quem: [...] Conjunto de técnicas, os gêneros de vida são formas ativas de adaptação do grupo humano ao meio geográfico. Da especialização deste, de sua estabilidade dependem, em grande parte, a especialização e a estabilidade dos gêneros de vida, suas possibilidades de duração. (LA BLACHE, [18 --?] apud MEGALE, 1984, p. 103).

Deste modo, quando se estabiliza em um novo espaço, um novo território, o ser humano tende a reproduzir hábitos alimentares, culturais e sociais que já praticava em seu local de origem. É deste modo que as diferentes culturas dos distintos povos se chocam e o conhecimento de novas técnicas é transmitido. Estes hábitos constituem os gêneros de vida, que podem sofrer modificações, caso não sejam mais necessários nos moldes em que foram criados. Tal idéia é reforçada por Sorre no parágrafo abaixo: [...] Deslocado, pela necessidade ou pela força, para fora de seu território, um grupo humano carrega consigo o seu gênero de vida. Poderá conserválo, se o novo habitat for semelhante ao antigo. Mas pode verificar-se incompatibilidade entre os seus hábitos e o meio onde ele se estabeleceu. Novos usos impõem-se. [...]. (MEGALE, 1984, p. 108).

Estes novos usos aos quais se refere o autor demonstram que o indivíduo migrante pode ser forçado a se adaptar a uma nova condição física ou mesmo social e para isso, terá que adaptar também suas técnicas, costumes, enfim, seu gênero de vida. Após discutir as questões que remetem ao processo migratório, farse-á uma explanação a respeito dos imigrantes, que são os atores sociais do mesmo e das redes sociais, as quais eles estão vinculados.

2.1 O IMIGRANTE E AS REDES SOCIAIS

Aquele que deixa sua pátria para ir morar em outra, por motivos diversos é chamado de emigrante no momento em que parte, e de imigrante, no local em que chega. De acordo com Sayad (1998), um imigrante é uma força de

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trabalho provisória, em trânsito, ou seja, para este autor, o fator de migração mais relevante é o do trabalho. Porém, sabe-se que muitos imigrantes chegaram ao Brasil por outros motivos. Como exemplo, tem-se o caso recente dos angolanos que emigraram por causa de conflitos em seu país e os já citados primeiros imigrantes portugueses, que vieram para tomar posse da nova terra, então dividida com a Espanha1. Embora as razões da imigração e as condições de entrada ao novo país se diferenciem, no geral, o processo de adaptação pelo qual passa o imigrante é semelhante. Envolve o rótulo de “estrangeiro” que lhe é facultado pelos naturais do país receptor, assim como as dificuldades de compreensão da língua falada no novo ambiente: A manutenção da língua materna, as dificuldades de comunicação com a nova sociedade, os conflitos lingüísticos entre os mais velhos e a nova geração, entre pais e filhos, marcam também o fenômeno da imigração. O desejo de ser bilíngüe se apresenta como meio de o imigrante se tornar brasileiro e ascender socialmente. (OLIVEIRA, 2001, p.12-13).

Conforme a procedência do imigrante, o mesmo pode sofrer com as diferenças climáticas entre o país de origem e o de chegada e também com os hábitos e costumes distintos dos seus. O fato de vir só, com a família ou inserido em qualquer outro tipo de grupo social e os contratos prévio e posterior com patrícios que chegaram antes, são fatores relevantes no processo migratório, pois podem determinar o grau de assimilação, por parte do imigrante, da cultura do país receptor. Todavia, esta assimilação cultural depende também do tempo transcorrido desde o período da imigração. Normalmente, ela é mais percebida nas gerações de descendentes dos imigrantes, que não passaram diretamente pelo processo da migração, mas já nasceram em solo “estrangeiro”. Segundo Oliveira (2001), no intuito de preservar a ligação com a terra natal, muitos imigrantes conservam em suas casas objetos pessoais que os fazem lembrar seu lugar de origem, tais como retratos de família, objetos de decoração, imagens religiosas, entre outros. A autora ainda afirma que: O grau de contato com os que ficaram, através de cartas; manutenção de laços originais pelo casamento, pela prática de se mandar buscar noivas e a criação / reforço de laços através de associações e clubes marcam os grupos migrantes. (OLIVEIRA, 2001, p.13). 1

Por meio do tratado de Tordesilhas, em 1494, que dividiu as terras descobertas, por ambas as nações, em suas expedições ultramarinas.

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Estas formas de comunicação entre os imigrantes e seus pares (tanto os que permaneceram no país de origem, como os demais que também imigraram), constituem uma rede social, conceito que abrange diversos tipos de relações sociais. No processo migratório o estudo das redes sociais é imprescindível, visto que [...] de modo geral, envolve certas relações de interesse, entre aqueles que chegam e os outros residentes no lugar. Trata-se de redes de determinado tipo de sociabilidade, de reciprocidade, que re-significam as ações sociais, reterritorializam os grupos sociais, rearranjam as parcerias, na passagem ou permanência do imigrante no lugar de destino, integrando-o adaptando-o ou re-definindo sua situação. (CARLEIAL, 2004, p.2).

A esta colocação da autora, acrescenta-se a idéia de Soares (2002, p.12), cuja preocupação foi também diferenciar redes pessoais e redes migratórias de redes sociais. Segundo ele, A rede social consiste no conjunto de pessoas, organizações ou instituições sociais que estão ligadas por algum tipo de relação. Um rede social, devido ao processo em torno de qual ela organiza, pode abrigar várias redes sociais; a rede pessoal representa, então, um tipo de rede social que se baseia em relações sociais de amizade, de parentesco, de compadrio; a rede migratória cujas particularidades dependem da natureza dos contextos sociais que ela articula, é, também um tipo específico de rede social que agrega redes sociais existentes e possibilita a criação de outras, consiste portanto em redes de redes sociais.

A análise de ambos os autores (Carleial e Soares), sobre o tema, leva ao melhor entendimento do funcionamento das associações japonesas, objeto de estudo desta pesquisa. Afinal, elas possuem todas as características de uma rede social, principalmente, por serem tanto um meio de ligação entre os imigrantes e nipo-descendentes japoneses, como uma forma de reterritorialização da comunidade nikkei. A caracterização da dinâmica funcional das associações japonesas, bem como sua relevância na preservação da cultura nikkei serão aprofundadas posteriormente. Antes, porém, faz-se necessário apresentar um breve histórico da imigração japonesa no Brasil.

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3 A TRAJETÓRIA DOS IMIGRANTES JAPONESES ATÉ O BRASIL

Como demonstrado em capítulo anterior, sabe-se que a imigração internacional para o Brasil teve início com a chegada dos portugueses. Visando a exploração das terras, os mesmos implantaram no país, no início do século XVI, o sistema produtivo da grande lavoura comercial de exportação, o qual foi baseado na utilização da mão-de-obra escrava africana. O fim do tráfico de escravos no país, em 1850; a criação de projetos de imigração livre para a formação de colônias agrícolas, baseadas na pequena propriedade policultora; seguida da necessidade de substituição do tipo de mão-deobra nas fazendas de café do Oeste Paulista, bem como dos processos de urbanização e industrialização foram as razões para que ocorresse no país (na segunda metade do século XIX) a intensificação deste fluxo migratório internacional. Como o Brasil foi por muito tempo uma nação receptora de imigrantes dos mais variados pontos do globo, sua população é formada por descendentes tanto de portugueses, como de espanhóis, italianos, alemães, japoneses, entre outros, além é claro, da descendência herdada dos povos africanos, que aqui chegaram por meio de uma imigração forçada. A proporção de imigrantes que entraram no país conforme a nacionalidade, no período de 1884 a 1939, é demonstrada no quadro 1, abaixo:

A IMIGRAÇÃO NO BRASIL (1884 – 1939) Nacionalidade Alemães Espanhóis Italianos Japoneses Portugueses Sírios e turcos Outros Total

Total 170.645 581.718 1.412.263 185.799 1.204.394 98.962 504.936 4.158.717

% 4,1 13,99 33,96 4,47 28,96 2,38 12,14 100

Quadro 1: Dados sobre a imigração no Brasil. Fonte: IBGE (2000), apud OLIVEIRA (2001). Org.: LEAL (2010).

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Ao compararmos os dados do quadro 1, observamos que o percentual de entrada de imigrantes japoneses ao país, no intervalo analisado por Oliveira (2001), é um dos mais baixos (4,47%). Note-se que os imigrantes alemães ficam atrás por uma pequena diferença (4,1%) e que além deles, somente os sírios e turcos (2,38) chegaram em menor número que os japoneses. Entre as justificativas para a baixa expressividade da imigração japonesa no Brasil está o fato de que ela começou tarde não só aqui, mas em todo o mundo. De acordo com Bassanezi (1995), a imigração japonesa teve início em 1880, com destino ao Havaí, seguido dos Estados Unidos, Peru e México. Esse movimento surgiu da necessidade da população japonesa em buscar melhores condições de vida, visto que o Japão passava por uma crise econômica, predominante na Restauração Meiji (1868). Nesse período, o quadro sócioeconômico deste país apresentava superpopulação, alto índice de desemprego e êxodo rural. A imigração japonesa para o Brasil iniciou-se ao final da primeira década do século XX, após o fim de restrições impostas por ambos os países: receptor e remetedor. Se de um lado o governo brasileiro resistia em aceitar a imigração “amarela” devido a sua política de embranquecimento da população, do outro extremo, o governo japonês não admitia a imigração japonesa em condições tão desfavoráveis: sem garantias de volta, caso necessário; como mão-de-obra barata, sem possibilidade de ser proprietário de terras e pela falta de comunicação com o Brasil. (BASSANEZI, 1995). A solução deste impasse, segundo a autora, partiu de três fatores, a saber: a) o agravamento da crise econômica no Japão; b) a melhora da situação econômica-financeira do Brasil, delineada pelo Convênio de Taubaté (1906)2; c) a proibição da imigração italiana para o Brasil, em 1902, aumentando a demanda por braços na lavoura cafeeira. Sendo assim, não restou alternativa a ambos os governos, a não ser assinarem o acordo de migração entre os países, viabilizando em junho de 1908 a chegada ao Porto de Santos (SP) do Kasato Maru, primeiro navio a trazer imigrantes japoneses ao país. Após este navio pioneiro, outros também aportaram no litoral de São Paulo, ora mais freqüentemente, ora em espaços de tempos maiores. Constam na história do país, três períodos de imigração japonesa. 2

Reunião entre presidentes dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro visando a revalorização do café, por meio da ampliação do mercado consumidor.

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O primeiro, de 1908 a 1923, foi subsidiado pela economia cafeicultora e contou com a chegada de 34.939 japoneses. O segundo período, de 1924 a 1941, foi responsável pela entrada de 153.676 estrangeiros, que trabalharam basicamente no cultivo de arroz e do algodão. Desta vez, foi o governo japonês quem assumiu o processo de emigração de sua população para o Brasil. E em 1953, teve início o terceiro e último período significativo de imigração. No período compreendido entre os anos de 1950 e 1960, o país recebeu cerca de 60.000 japoneses. (BASSANEZI, 1995). Embora a imigração japonesa caracterize-se por ter começado tarde em relação às demais e por ter tido menores duração e volume de migrantes, estudos mostram que ela foi significativa nos estados brasileiros nos quais se concentrou: São Paulo e Paraná.

3.1 A OCUPAÇÃO DO NORTE PARANAENSE PELA COMUNIDADE NIKKEI

Segundo levantamento do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros de São Paulo, divulgado em 1988, nesta época, a população nikkei no Brasil era de 1.167.000 habitantes, distribuídos principalmente, entre as regiões Sul (12%) e Sudeste (78%). Os primeiros japoneses a conheceram o Estado do Paraná, segundo Igarashi (2006), foram Sadatsuchi Uchida, ministro plenipotenciário do Brasil e Argentina e seu secretário, Arajiro Miura. Ambos estiveram em Curitiba, em 1907 e de lá seguiram até Antonina, no Vale do Rio Cachoeira, local que Uchida percebeu ser semelhante ao Japão em seus aspectos físicos, favoráveis ao cultivo do arroz. A fixação do imigrante japonês, neste estado, no entanto, teve início com a chegada de trabalhadores rurais do estado vizinho, São Paulo. O árduo regime de trabalho nas fazendas de café ao qual foram submetidos os japoneses, sem o retorno financeiro esperado, levou muitos imigrantes a abandonarem as propriedades, muitas vezes, sem o consentimento dos patrões. Esse foi o caso, por exemplo, de Jintaro Matsuoka e Eihati Sakamoto, que, fugidos de uma fazenda em São Paulo, chegaram a Curitiba (PR), após caminharem 45 dias. Foram eles, os

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primeiros imigrantes japoneses que se fixaram no Estado do Paraná. (IGARASHI, 2006). A respeito destes “abandonos” de propriedades rurais, pelos imigrantes japoneses, Nogueira (1973), afirma que a opção dos proprietários pela mão-de-obra asiática nas lavouras de café, deu-se, justamente, devido à dificuldade que este tipo de imigrante teria em deixá-las, considerando-se a distância de sua terra natal, o preço da passagem de volta ao Japão e as barreiras da língua. Dizia-se que os imigrantes italianos, utilizados como mão-de-obra nos cafezais antes dos japoneses abandonavam as propriedades agrícolas com facilidade, porque assimilavam rapidamente a cultura local e conseguiam voltar à pátria mais rapidamente, caso desejassem. De acordo com a autora destacam-se como motivos para a saída dos imigrantes japoneses das fazendas: o desconhecimento dos serviços agrícolas (nem todos eram camponeses no Japão), a constituição peculiar das famílias (artificiais) e também o clima, a língua e os costumes completamente diferentes dos seus, enfim, fatores que resultariam em uma busca inconsciente de melhores condições de integração. Sobre esta questão da família japonesa imigrante, destacam-se as considerações feitas por Born (1986) e demais estudiosos do tema. Segundo a autora referenciada, no primeiro navio, em 1908, chegaram 168 famílias japonesas, sendo 593 homens e 186 mulheres. Uma característica peculiar da imigração japonesa, que a diferenciava das demais, diz respeito à artificialidade da composição familiar, ou seja, para cumprir a exigência do governo brasileiro de imigração por núcleo familiar e não de forma individual, “estranhos” eram agregados as famílias, ou mesmo as famílias eram “montadas” antes do embarque para o Brasil. A cronologia da entrada de nikkeis no Estado Paranaense é a que se segue: Curitiba, 1909; Ribeirão Claro, 1912; Antonina e Cambará, 1915; Paranaguá, 1916; Bandeirantes, Andirá e Santa Mariana, 1916; Jacarezinho, 1918; Cornélio Procópio, 1928; Ibaiti e Londrina, 1930; Assaí, Cambé e Rolândia, 1932 e mais 72 municípios até 1962. (OGUIDO, 1988, apud IGARASHI, 2006, p.61-62). Ainda de acordo com a obra de Igarashi (2006), a colonização japonesa no Norte Paranaense só foi possível graças à ampliação da Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1908, a ferrovia chegou a Ourinhos (SP). Sua ampliação alcançou o Paraná no município de Cambará em 1920, com o nome de Estrada de

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Ferro Noroeste do Paraná. Tratava-se da futura Companhia Ferroviária São Paulo – Paraná. Em 1930, foram inaugurados os trechos que ligavam Cambará a Ingá (Andirá), Bandeirantes e Cornélio Procópio. E em 1932, a ferrovia chegou a Jataí, alcançando Londrina, posteriormente, em 1935. A entrada dos imigrantes japoneses e seus descendentes em solo londrinense coincide com a formação da própria cidade, pois segundo Silva (2002), Londrina nasceu a partir do loteamento implantado pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). De acordo com a revista “Made in Japan” (2007), em sua edição especial “Cem anos de imigração”, embora a CNTP fosse de origem inglesa, ela contava com um japonês em seu quadro de funcionários, o Sr. Hikoma Udihara, que facilitou o processo de venda de terras na região, para os imigrantes oriundos de colônias japonesas de São Paulo. Consta que a busca por novas terras para o plantio do café foi impulsionada pela crise econômica de 1932, momento, em que o governo proibiu a plantação de novos cafezais em território paulista, visando proteger os antigos plantadores de café. Ademais, a presença da comunidade nikkei em Londrina também é comprovada pelo histórico de criação das associações japonesas. A ACEL, por exemplo, a mais antiga da cidade, teve sua origem no ano de 1933, além da participação do próprio Sr. Udihara em sua fundação.

4 PESQUISA EMPÍRICA NAS ASSOCIAÇÕES DE NIPO-DESCENDENTES EM LONDRINA – PR

Após a exposição do embasamento teórico utilizado durante a pesquisa, abordando-se os motivos e conseqüências do processo migratório, bem como da caracterização do Norte Paranaense, neste capítulo, são apresentados os resultados propriamente ditos da pesquisa empírica. Pretende-se demonstrar, primeiramente, a caracterização das associações de nipo-descendentes em Londrina e em seguida, a síntese e análise dos dados coletados nas associações de jovens nipo-descendentes, os grupos seinen-kai, por meio de gráficos, figuras e quadros.

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Frente às muitas dificuldades já relatadas anteriormente, como a diferença de hábitos, de idioma, o preconceito por vir na condição de mão-de-obra barata, entre outras, enfrentadas pelos imigrantes japoneses no Brasil, os mesmos procuraram se organizar, de modo que unidos, constituíam um grupo mais forte. Uma forma de preservar a cultura e as tradições da comunidade japonesa foi a criação das associações, similares às formas de organização que existiam no Japão. De acordo com Handa (1987), as associações de imigrantes japoneses no Brasil tiveram origem nos núcleos coloniais, onde surge a necessidade dos chefes de família de se reunirem para a discussão de problemas comuns. Rokuro Hama, citado por Handa, conta que os primeiros imigrantes japoneses, por não terem intenção de permanecer em solo brasileiro, levaram por certo tempo, uma vida “provisória” aqui. Ou seja, só após a Segunda Guerra Mundial é que eles decidiram construir no Brasil o que o autor chamou de segunda Terra Natal para si e seus descendentes. A inviabilidade de voltar ao Japão, onde os seus filhos crescidos teriam dificuldades de adaptação “convenceu” o imigrante japonês a criar raízes no Brasil. Para que isso ocorresse, dentro das colônias tentou-se reproduzir o modo de vida japonês, através da criação de escolas japonesas e das associações. Nestas, estabeleceu-se a divisão dos integrantes, conforme a faixa etária e/ou sexo, em departamentos. Os grupos mais comuns nas associações são os de nihon-jinkai*, formado por senhores, fujin-kai*, que é a associação de senhoras e o seinenkai*, constituído pelo conjunto de jovens. Aliás, as associações de jovens podiam surgir até mesmo antes das de senhores, pois eram os moços que tinham a responsabilidade de organizar as gincanas (undokai*) e confraternizações (shinbokukai*) da comunidade. Então, devido a essa necessidade de se reunir aproveitavam a oportunidade para se conhecer e criar laços de amizade. (HANDA, 1987). Observa-se que, com o passar do tempo, muitas destas colônias japonesas transformaram-se em cidades. É o caso, por exemplo, de Assaí, município do Norte Paranaense que foi fundado a partir da Colônia “Três Barras” e de Cotia, em São Paulo, que se originou do núcleo japonês de “Moinho Velho”. Assim, mesmo depois de emancipados, estes núcleos de imigrantes conservam em sua estrutura a presença das associações japonesas, que por sua vez, continuam auxiliando na manutenção da cultura nikkei, dentro da comunidade.

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Nota-se, hoje em dia, que além de manter a cultura japonesa, as associações passaram a desempenhar o papel de disseminadoras da mesma, por meio da abertura à comunidade não nipo-descendente, de atividades como o ensino da língua e da dança japonesa, de instrumentos musicais, etc. Para se ter uma idéia melhor do raio de atuação destas associações japonesas, a seguir, traça-se o perfil e conta-se um pouco da história de algumas de suas principais representantes, com sede no município de Londrina. Faz-se importante relatar que a fonte destas informações foram trabalhos de campos realizados durante o desenvolvimento do projeto “Espaço e Tempo nas migrações internacionais no Norte do Paraná”, no período de 2007 a 2009 e já comentado nas notas introdutórias. A Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, conforme dados fornecidos pela própria instituição, foi fundada em 1968 e é reconhecida como de utilidade pública pelas instâncias de governo: municipal, estadual e federal. Suas reuniões são mensais e realizadas em sua sede social, situada à Rua Paranaguá, 1782. Por tratar-se de uma entidade jurídica, sem fins lucrativos, a diretoria não é remunerada e à semelhança de uma federação, congrega 78 entidades sócioculturais e esportivas, localizados em 75 municípios do Estado do Paraná. Tem por finalidades essenciais, promover atividades culturais e beneficentes; promover o intercâmbio cultural entre o Brasil e o Japão; promover o intercâmbio entre as associações filiadas e dar assistência médica e odontológica aos idosos. Com base nestes objetivos, a instituição é responsável pela promoção de concursos de canto, de temas ligados à língua japonesa, assim como de cursos diversos, abrangendo a caligrafia, a língua japonesa, origami, além de coordenar a realização de conferências, congressos, festivais, campanhas assistenciais e educativas que visam o bem estar da comunidade. No ano de 2003, inaugurou um setor que presta atendimento ao dekassegui*, tanto para os que se dirigem para o Japão, quanto para os que retornam. Para melhor promover o congraçamento e integração das entidades nikkeis* do Estado, mantém elo com as seguintes instituições: Consulado-Geral do Japão em Curitiba; JICA – Japan International Cooperation Agency; Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, São Paulo; Fundação Japão, São Paulo; Centro de Estudos de Língua Japonesa; Escritório da Província de Hyogo, Curitiba e Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil, São Paulo.

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A ACEL – Associação cultural e esportiva de Londrina foi fundada, oficialmente, em 18 de junho de 1933, a partir da constituição do primeiro Nihon-jinkai* londrinense. Seu primeiro presidente foi o Sr. Hikoma Udihara. Após, exerceram a presidência Sakudiro Koyama, Gueisaku Nishioka, Taiti Okabayashi e outros. Como conseqüência da Segunda Guerra Mundial, o grupo deixou de se reunir, uma vez que ficou proibida no Brasil, a reunião de mais de três japoneses ou descendentes. Após a guerra, retomaram-se as atividades do Nihon-jin-kai, ao mesmo tempo em que se formou um Seinen-kai*, amplamente estruturado e condizente com os novos tempos (e novas expectativas de vida por parte dos imigrantes japoneses). Então, em 23 de setembro de 1955 ocorreu a fusão dos dois grupos, Nihon-jin-kai (associação de senhores) e Seinen-kai (associação de moços). Ao ser regularizada a situação do imóvel que fora adquirido pelo Nihon-jin-kai, em 1937, são iniciados os trabalhos para a ampliação do campo de esportes e para a construção de um local para reuniões e assim, em vez de contribuições mensais das famílias nipo-brasileiras, começa a funcionar o sistema de venda de ações, dando origem a Associação Cultural e Esportiva de Londrina – ACEL. Pode-se dizer, portanto que a associação em foco, é oriunda das associações de senhores (Nihon-jin-kai), de senhoras (Fujin-kai) e de jovens (Seinen-kai) que foram formadas no início da ocupação de Londrina. Note-se que a ACEL, inicialmente, teve como sede social uma antiga máquina de café localizada na Rua Paraíba, próxima a Rua Belo Horizonte. Com o passar dos anos ocorreu a mudança para a Rua Guaporé, 771, onde permaneceu até 1985, ano em que é inaugurada a sede social junto ao campo de esportes no Jardim Los Angeles.

Nessa época, os aficcionados de beisebol e softbol*

consideraram que o local para a prática desses esportes deveria ter um espaço maior e assim, foi adquirido um terreno de quinze alqueires nas proximidades do Tiro de Guerra (Bairro Limoeiro), no ano de 1989. Várias campanhas para a obtenção de recursos foram realizadas (livro-ouro, arregimentação de novos sócios) e foram construídos os campos de beisebol e softbol, além de um salão, formando a sede campestre. Infelizmente, face a problemas financeiros, posteriormente, a sede do Jardim Los Angeles foi vendida e toda a administração e os setores esportivos e culturais se transferiram para a sede campestre, no Bairro Limoeiro. Entre os fatos marcantes da história da ACEL, pode-se destacar a festa na associação em comemoração aos 50 anos da imigração japonesa, ocorrida

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em 1958, na qual esteve presente o príncipe japonês Mikasa. Atualmente, cerca de seiscentas famílias participam desta associação e a maioria dos associados (70%) vive na área urbana do município. Sua estrutura é constituída por sete departamentos que incluem atividades esportivas e culturais (beisebol, tênis de mesa, tênis de campo, futebol, park golfe*, canto e coral) e também possui o maior complexo esportivo de beisebol do Estado do Paraná e do Brasil, capaz de sediar campeonatos mundiais, sul-americanos e brasileiros. A associação se mantém por meio do pagamento de mensalidades e através da promoção de eventos, bingos e campanhas promocionais diversas (sukiyaki*, feijoada). Segundo

depoimento

de

Fernando

Sorreli,

funcionário

da

administração da ACEL, a associação representa para a comunidade nipo-brasileira de Londrina uma forma de manutenção da tradição e cultura japonesas. A Associação Cultural Nipo-brasileira Central Rubiácea de Londrina tem sua fundação em 27 de março de 1982. Sua origem remete a fusão de duas sociedades, da Associação Esportiva Central de Londrina, fundada em 1952 com a Associação Cultural e Esportiva Rubiácea, constituída em 1951. Sua sede localizase às margens da BR-369, próxima ao CEASA e sua sede campestre possui cerca de 24,2 hectares; nela encontram-se diversos campos de gatebol* e um dos maiores campos de beisebol do Estado do Paraná. Relacionado a essas atividades esportivas e a outras, a associação tem estruturado os departamentos de canto e de gatebol. Para se manter ela utiliza recursos oriundos da locação de seu salão social para eventos, como casamentos, e da anuidade paga pelos associados que, hoje, somam cerca de 60 famílias, devidamente cadastradas, que residem 35% na zona rural e 75% na zona urbana. Como meta, para os próximos cinco anos, a Associação Rubiácea pretende construir quadras de vôlei, basquete e de futebol de salão, um park golfe* e disponibilizar locais para a prática do tênis de mesa e snooker*. A ACROL – Associação Cultural e Recreativa Okinawa de Londrina não é só mais uma das associações da comunidade nipo-brasileira do Norte do Paraná. Trata-se de uma Kenjin-kai* (associação formada para reunir pessoas e descendentes da mesma província), neste caso, constituída por imigrantes e descendentes da província japonesa de Okinawa, localizada ao Sul daquele país. A comunidade okinawana teve papel relevante na imigração japonesa no Brasil, tendo

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em vista que boa parte dos imigrantes era oriunda da Ilha de Okinawa. Em 1908, do total de 781 imigrantes japoneses do primeiro navio a aportar em Santos – SP, o Kasato Maru, 324 eram okinawanos. (OGAMA, 1988). A Associação Okinawana de Londrina surgiu em 27 de abril de 1955. Segundo depoimento do Sr. Tokuzo Oshiro (ex-presidente da ACROL), publicado no boletim informativo da associação em julho de 1978, na matéria intitulada “Famílias pioneiras da ACROL”, as primeiras famílias okinawanas chegaram a Londrina por volta dos anos de 1933/34. Entre os pioneiros destacam-se os chefes de família Saijo Nakama, Joshim Shimabukuro, Serei Oguido e Seiti Tsuha. Mais tarde, no ano de 1939 também vieram Tsune Seirei, Kakiu Miyashiro, Koki Shiroma, Seiki Sakuma, Koasegawa e Fuji. Por intermédio de Seimo Oguido e outros, os parentes dessas famílias, que na época residiam em São Paulo (região de Sorocaba e Avaré), também puderam chegar à cidade. Para auxiliar financeiramente as famílias okinawanas que foram chegando, o grupo, em 1948, passou a se reunir para a prática do tanomoshi* (espécie de consórcio que era constituído por membros recém-chegados). E, foi em uma dessas reuniões, realizada na residência do Sr. Seiso Oguido, que se firmou a idéia da criação de um Kenjin-kai, o Okinawa-kai*. A associação foi então instalada na Vila Nova, em um barracão improvisado. Em 1969, teve sua sede transferida para a Rua Jaguaribe, no mesmo bairro. Seu primeiro presidente foi Seicho Oguido, que foi sucedido por Seiko Oguido, a seguir, assumiu Seimo Oguido, Genzi Shinzato e outros. Atualmente, a associação é presidida por Luiz Shiroma. Apesar de ter iniciado com a participação de poucas famílias (20), hoje, ela conta com 250, aproximadamente, sendo todos os associados cadastrados e identificados por Kumis*. Até pouco tempo, tratava-se da única sede paranaense da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, que tem outras 45 espalhadas por São Paulo, Mato Grosso do Sul e Brasília. Juntas totalizam mais de 140.000 okinawanos e descendentes associados. A atual estrutura da ACROL conta com campo de gatebol, piscina, quadra de esportes e salão social. Nestas dependências são praticadas atividades esportivas (futebol, futsal, vôlei, basquetebol, gatebol, tênis de mesa e jogos de salão), bem como atividades culturais. Existem também outros departamentos como o social, o departamento de relações com os dekasseguis, o de relações públicas

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nacionais e internacionais, o de patrimônio e obras civis, o departamento de tanomoshi, o relativo ao bem estar e saúde, além do Fujin-kai e do Seinen-kai. De acordo com o presidente em exercício em 2007, Luiz Shiroma, a importância da ACROL se deve a sua preocupação em manter viva a tradição e cultura da comunidade okinawana, através das reuniões sociais e das práticas esportivas e culturais desenvolvidas na sede da associação. Como meta para os próximos anos, a associação pretende realizar reformas em suas instalações e construir um ginásio de esportes. Sobre o perfil socioeconômico dos associados, o presidente disse estar a maioria empregada no setor terciário (prestação de serviços), residindo a maior parte na zona urbana (90%). Enfim, todas essas associações japonesas de Londrina, de uma forma geral, possuem objetivos e metas semelhantes que entre outras, destacam-se a manutenção da cultura nikkei e sua divulgação à comunidade não nipodescendente. Além disso, atualmente, elas dão suporte à maioria das associações jovens de nipo-descendentes, que constituem o foco deste estudo.

4.1 AS ASSOCIAÇÕES JOVENS DE LONDRINA: SEINEN-KAI

Como explicado anteriormente, seinen-kai era o nome dado ao departamento de jovens nikkeis das associações japonesas. No começo, os seinenkai contavam com a participação somente de homens, após surgiram as associações para mulheres jovens. Hoje, o grupo é homogêneo, constituído tanto por rapazes como por moças. As atividades realizadas abrangem a prática de esportes como beisebol, futebol, futsal, tênis de mesa, jogos de salão e outros, a organização de grupos de taiko* (arte de tocar o tambor), a orientação espiritual por meio da adesão a alguma filosofia de vida, como por exemplo, o Seicho-no-ie, até as simples reuniões em bares ou participação em festas típicas como o Bon-Odori (evento que homenageia os antepassados). Existem dez grupos seinen-kai em Londrina. Dentre eles destacamse o Grupo Sansey, Animedaiko, Ishindaiko (taikô), Jishin Shamidaiko (taikô e

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dança), grupo de jovens da ACROL, da ACEL, da Associação Rubiácea e grupo da BSGI - Associação Brasil Soka Gakkai Internacional. Tanto a associação de jovens da ACEL – Associação Cultural e Esportiva de Londrina, como a da Associação Cultural Central Rubiácea de Londrina são vinculados a Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná (sede das reuniões dos grupos em nível estadual). Embora existam associações de jovens independentes como o da ACROL e o Grupo Sansey, as associações de jovens mantêm relação entre si e com outros grupos, de jovens nipo-descendentes ou não. É este o caso do contato de algumas associações de jovens da Escola Megumi e dos grupos de jovens da Paróquia Imaculada Conceição e da Igreja Evangélica Holiness. A Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, que possui afiliadas em cerca de setenta municípios, também possui uma associação de jovens. A periodicidade das reuniões entre os membros dos grupos varia de uma vez por semana (Jishin Shamidaiko) a uma vez por mês (ACEL e Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná). Mas, os membros do grupo também se reúnem fora das associações, sendo o caso dos encontros de um grupo para a prática do futsal (futebol de salão) na AABB, em Uraí, por exemplo. As associações de jovens foram criadas em datas, relativamente, próximas. A da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná surgiu no ano de 2000 e o grupo da ACEL está em fase de reativação. Segundo dados da direção da associação de jovens da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, para participar destes grupos, o único pré-requisito é demonstrar interesse. Os seinen-kai organizam-se como as próprias associações, ou seja, as tarefas são divididas por comissões e departamentos. Dentre as dez associações de jovens nikkeis existentes em Londrina conseguiu-se o contato efetivo com metade delas (cinco). Logo, os dados mais específicos de cada uma e que são apresentados a seguir dizem respeito aos grupos: Sansey, Ishindaiko, Anime Daiko, Jishin Shamidaiko e do Grupo de Jovens da ACROL (Ryukyu Koku Matsuri Daiko). A localização das associações de jovens nikkei está indicada no mapa 1, a seguir.

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Vila Nova Xangrilá

Centro

Rodovia Celso Garcia Cid Gleba Fazenda Palhano

Figura 1: Localização dos grupos seinen-kai de Londrina Fonte: Base de dados – IPPUL; Trabalho de campo, 2009. Org. CÂNDIDO, Jônatas Lima, (2010).

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O primeiro grupo apresentado é o Grupo Sansey, que é coordenado por Mity Shiroma3 e do qual participam cento e vinte jovens, cujas idades variam de 15 a 25 anos. De acordo com informações da professora Mity, este grupo é fruto da “Mity Escola de Karaokê” e foi formado em 1988. Institucionalizado em 1992, tem por objetivo a realização de atividades de grupo, como o taiko*, o canto*, o matsuri* dance* e o yosakoi* (vide figura 2), para incentivar o espírito de liderança. O pré-requisito para participar do Grupo Sansey é ser aluno da escola de karaokê, após um ou dois anos do ingresso na escola, o jovem pode participar mais ativamente do grupo. Mensalmente, os alunos pagam uma taxa de vinte e sete reais. Trata-se de um conjunto de jovens tanto do sexo masculino como do feminino, não havendo uma hierarquia dentro dele. Os encontros para os treinos, conforme a atividade escolhida, normalmente, ocorrem nas salas de aula, uma vez por semana. A exceção ocorre para o pessoal que participa do yosakoi, que ensaia duas vezes por semana e nos períodos de treino mais intensivo (época de campeonato), tem seus ensaios na quadra do Colégio Universitário, por ser um grupo grande e requerer maior espaço. Como uma forma de integração, todos os anos, os membros do grupo das diversas atividades saem para acampar, em algum local de Londrina. Embora não periódico, o Grupo Sansey mantém certo contato com um grupo de jovens de Campo Grande – MS, de matsuri dance. Ainda segundo Mity Shiroma, o Sansey constitui-se de um grupo independente, mas possui ligação com a Aliança Cultural, assim como outros grupos de Londrina.

Figura 2: Ensaio do Grupo Sansey, na quada do Colégio Universitário. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

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A professora Mity é empresária do ramo de eventos e também é responsável pela Mity Escola de Karaokê.

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Outro grupo de jovens de Londrina, que assim como o Sansey, é relativamente grande é o Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko, cuja formação é do ano de 2007 e cujo início vincula-se a ACROL, que lhe emprestava o local para os treinos (a quadra coberta em sua sede). Segundo Rodrigo Sakuma, professor e coordenador deste grupo, a formação do mesmo foi o resultado de um convênio entre a Universidade Estadual de Londrina e uma faculdade de Okinawa4, que cedeu os primeiros instrumentos para o eisa* (dança performática). Em 2009, o grupo desvinculou-se da ACROL, tornando-se independente, mas continuou ensaiando em sua sede, mediante o pagamento de uma taxa de aluguel. Do mesmo modo que o Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko de Londrina existem outros de matsuri daiko, ligados a cultura okinawana, no Brasil e no mundo. Ressalta-se que em Okinawa, existem 12 filiais e no Brasil encontra-se o maior grupo de taiko do mundo, fora do Japão (com cerca de 700 pessoas). O Grupo de Londrina é composto por 76 membros, com variadas idades: a maior parte tem entre 8 e 10 anos (categoria júnior), aproximadamente vinte pessoas tem acima de 15 anos e a integrante mais velha apresenta mais de 40 anos. As crianças podem inscrever-se a partir dos 7 anos e o grupo é aberto a todos os interessados. Vide figura 3.

Figura 3: Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko no “Londrina Matsuri 2009”. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

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Conjunto de 169 ilhas ao sul do Japão que formam o arquipélago de Ryukyu.

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As atividades desenvolvidas compreendem o eisa*, o taiko*, o shime*, o canto e a dança, sendo todas as músicas de Okinawa. Cada aluno é responsável pela aquisição de seu material. Estima-se que o shime custe em torno de trezentos a quatrocentos reais, o odaiko*, quinhentos reais e o uniforme completo, setenta reais. As coreografias são baseadas nas performances de uma das filiais do grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko, de São Paulo, com o qual mantém freqüente contato. Também se comunica com as demais filiais de Brasília – DF, Campo Grande – MS, Curitiba – PR e até do Peru. Durante as apresentações é comum alguns membros apresentarem técnicas de karatê*, como o kata* (seqüência de movimentos de ataque ou de defesa), por exemplo. Para o melhor funcionamento do grupo, as atividades são divididas em departamentos, sendo eles: o financeiro, o de treino e materiais, o de eventos, o de comunicação e o de apresentação. Cada departamento ou seção é coordenada por um líder e um vice-líder, que pode ser um membro com idade entre 15 e 20 anos e que deverá cumprir essa função por até dois anos. De acordo com Sakuma, a filosofia do grupo compreende o desenvolvimento da autonomia dos alunos, o incentivo à responsabilidade, a não interferência religiosa e trata-se de uma associação sem fins lucrativos. Para a manutenção das atividades, cada integrante paga uma quantia de trinta reais mensais. As reuniões para treino ocorrem aos sábados, das 14 às 18h. Porém, é comum os participantes se reunirem fora do local de ensaio em shoppings e em ocasiões especiais como comemorações do dia dos pais, dia das mães, início e fim de ano. O próximo grupo a ser apresentado é o Ishindaiko, que também foi constituído nos anos 2000, sendo, portanto mais jovem que o Grupo Sansey, mas um pouco mais velho que o Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko. De acordo com o coordenador do Grupo, o Sr. Jânio Yamaguto, em 2004, veio ao Brasil o professor japonês Yukihisa Oda, para divulgar a arte milenar do taiko no país. Essa visita foi realizada por meio de um convênio entre o sensei (professor) e o empresário Atsushi Yoshii, da construtora A. Yoshii Engenharia. A partir daí formou-se o grupo Ishindaiko. A compra dos primeiros instrumentos, assim como a concessão de um local para os treinos do grupo, (aos sábados, das 14h às 18h, com exceção da

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categoria júnior, que treina as terças e quintas-feiras, à noite, na Chácara Graciosa), também partiu do casal Atsushi e Kimiko Yoshii. Além disso, o grupo contou, na época, com o apoio do Banco Sudameris, hoje, Banco Santander. Antes do Sr. Jânio Yamaguto, o Ishindaiko foi coordenado por Silvio Muraguchi, que exerceu a função até 2007 e, assim como Janio, também é pai de um integrante do grupo, ou seja, de “um tocador” de taikô (como eles dizem), que é a principal atividade desenvolvida pelo grupo. Segundo dados apresentados pela coordenação, trinta e três jovens participam deste grupo, cujos objetivos compreendem o desenvolvimento nos integrantes de qualidades interpessoais, tais como: a responsabilidade, a disciplina, o aprendizado por atitudes, a autonomia, o senso de organização, a convivência em grupo, enfim, o crescimento pessoal. A inserção do jovem neste grupo visa, ainda, contribuir para o próprio reforço dos seus laços familiares, pois muitos pais acompanham os filhos nos treinos e nas apresentações, auxiliando o conjunto na fabricação de instrumentos, providenciando o lanche, na confecção das roupas de apresentação e na logística, de uma forma geral. O Grupo Ishindaiko, em conjunto com o Instituto Cultural Atsushi e Kimiko Yoshii promovem a divulgação do taiko na Guarda Mirim de Londrina, com o objetivo de que essa arte possa ser praticada pelas diferentes classes sociais. Graças a essa parceria, há dois meses são ofertadas aulas do instrumento, gratuitamente na instituição. Da mesma forma, o grupo também apóia a APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do município de Sertanópolis. Como parte das atividades do Ishindaiko, aos domingos, de manhã, na Chácara Graciosa, funciona uma escola de taiko, que atende cerca de 20 alunos, nipo-descendentes ou não, pois, qualquer um que se interesse pela arte do taiko é bem vindo ao grupo, segundo Janio Yamaguto. Ele relatou também que essas aulas são parte de um processo de formação que vai além de uma escola convencional de música, pois nela, os alunos desenvolvem as mesmas habilidades incentivadas nos treinos (senso de organização, responsabilidade por seu instrumento, etc.) e com o tempo, se transformam em agentes multiplicadores, uma vez que fica a cargo dos alunos mais velhos ensinarem os iniciantes. A média de idade dos participantes varia de 9 a 24 anos, sendo 50% composta por estudantes universitários, das mais diversas áreas: psicologia, designer, fisioterapia, enfermagem, engenharia, entre outras. No grupo, as tarefas

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são divididas entre os pais e os tocadores de taiko, de modo que todos participam das reuniões administrativas mensais, porém, fica sob a responsabilidade dos adultos os cargos de coordenação, secretaria, tesouraria, fabricação e manutenção de instrumentos e de relações públicas. Devido à convivência dos membros do grupo nos ensaios de taiko, muitos tocadores e pais acabam encontrando-se fora da chácara também, dando origem a outros grupos de convívio. Aliás, o Ishindaiko caracteriza-se por ter integrantes que participam de outras associações de jovens, como o Grupo Sansey, por exemplo. Além disso, o grupo já teve contato com um grupo de Olodum, em Salvador – BA, ocasião em que ambos puderam conhecer outro ritmo e trocar experiências. Tal experiência demonstra que a cultura japonesa já não é mais vista como uma “cultura de difícil assimilação”, ao contrário do que ocorria no início da imigração japonesa para o Brasil. De acordo com Yamaguto, “em razão, da própria tradição, da cultura e da sociabilidade, o Ishindaiko mantém vínculos com a Aliança Cultural e com a ACEL.” Ou seja, embora, “independente” este seinen-kai não está isolado das demais associações, nesse sentido todos estão ligados pelo mesmo ideal: a manutenção da cultura japonesa. Além de reforçar esta ligação, pelo plano das idéias afins, no caso do grupo a seguir, Jishin Shamidaiko, a Aliança Cultural Brasil-Japão também contribui com recursos materiais. Formado por quinze membros, atualmente, o presidente deste grupo (também independente), é Alexandre Higashi. O conjunto é responsável pelo departamento de shamisen* (instrumento semelhante ao banjo) da Aliança Cultural Brasil-Japão, que é o local onde ocorrem os ensaios, aos domingos de manhã, das 9h às 12h. No entanto, o grupo se reúne em outros locais, extraordinariamente, para tratar de assuntos administrativos quando necessário e também para confraternizações como festas juninas e churrascos, por exemplo. Segundo informações do presidente, a formação do grupo se deve a reunião de alguns integrantes da mesma família (primos), no ano de 2003, que criaram um grupo para participar de eventos como o Bon Odori* e o Matsuri Dance. Em 2006, esses jovens tiveram contato com o shamisen, em um evento na cidade de Presidente Prudente – SP, época em que o grupo, também se transformou em uma associação, oficialmente. Neste momento, fizeram contato com um professor do

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instrumento (shamisen) de Taubaté, estado de São Paulo, para aprender a tocá-lo e transmitir esse conhecimento aos demais membros, posteriormente. Hoje em dia, além de manter contato com grupos de shamisen destas duas cidades do interior paulista (Kaito em Taubaté e Yuukyo Gumi em Presidente Prudente), o Jishin Shamidaiko também já se apresentou com grupos londrinenses como o Anime Daiko e o Grupo Sansey. Além do shamisen, o Jishin Shamidaiko também desenvolve outras atividades como a dança, o canto e o taiko. Mensalmente, os integrantes pagam uma quantia de quinze reais para participar da associação. Vide figura 4

Figura 4: Grupo Jishin Shamidaiko no “Londrina Matsuri 2009”. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

O

último,

porém,

não

menos

importante

grupo

seinen-kai

apresentado é o Anime Daiko, que junto com o anterior, Jishin Shamidaiko, conta com menos de vinte membros. Assim, o Anime Daiko possui treze membros, dos quais seis não são nipo-descendentes, pois, segundo Douglas Hiroshi (integrante do grupo), a descendência japonesa não é o pré-requisito para participar e sim o interesse pelas atividades desenvolvidas. Fundado em 31 de outubro do ano de 2004, a partir da reunião de amigos que gostavam de dançar e que criavam as próprias coreografias e músicas, este grupo, no início, reunia-se na UEL. O taiko foi introduzido posteriormente e hoje, nas apresentações, também estão presentes elementos do teatro. Neste grupo, as tarefas são divididas administrativamente entre o presidente e o tesoureiro (pais dos

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jovens) e os ensaios (vide figura 5) ocorrem aos domingos, na Chácara Itaú, das 14h às 18h. Entretanto, eventualmente, os membros se reúnem para discutir outros assuntos fora da chácara e também para atividades de lazer como karaokês* e idas a shoppings centers. Entre os participantes, a idade oscila de 16 a 24 anos e o custo mensal para a manutenção do grupo é de R$ 15,00, por integrante. Consideram-se um grupo “independente”, sem vínculos com a ACEL ou a Aliança, embora mantenham contato com outros seinen-kais, como o Jishin Shamidaiko, com o qual já se apresentou em um evento em Londrina, o Anime Yuu, (evento que reúne admiradores de manga*, anime* e da cultura japonesa em geral).

Figura 5: Ensaio do Grupo Anime Daiko, na Chácara Itaú. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Ao final da exposição das principais características dos cinco grupos contactados, nota-se que o mais antigo e por isso também o mais consolidado, é o Grupo Sansey. Enquanto ele foi formado em 1988, os demais surgiram após os anos 2000, ou seja, mais de dez anos depois. Outra característica que nos chama a atenção nos grupos é a declaração, por parte de todos, de que a não descendência japonesa não constitui impedimento de acesso as atividades desenvolvidas nas associações jovens. O Grupo Anime Daiko, inclusive, consta com quase 50% dos membros não

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descendentes de japoneses. Esta informação mostra, novamente, a assimilação da cultura nikkei entre os jovens não nipo-descendente. Quanto aos demais dados, relevantes nesta análise, veja-se o quadro 2.

2. QUADRO COMPARATIVO DAS ASSOCIAÇÕES JOVENS DE LONDRINA

Grupo Seinen-kai Anime Daiko Jishin Shamidaiko Ishindaiko Ryukyu Koku Matsuri Daiko Sansey

N. de participantes

Faixa etária

Atividades

13 15

16 a 24 anos 10 a 25 anos

33 76

9 a 24 anos 7 a 40 anos ou mais

120

15 a 20 anos

Dança, taiko, teatro Shamisen, dança, canto, taiko Taiko Dança, eisâ, taiko, shime*, canto Yosakoi, dança, taiko

Quadro 2: Grupos Seinen-kai de Londrina. Fonte: Entrevistas com coordenadores dos grupos, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

O maior grupo, em termos de número de participantes é o Sansey, com mais de cem jovens e o menor é o Anime Daiko, com apenas treze membros. Tal discrepância talvez se deva as diferenças na própria estrutra dos grupos, uma vez que o primeiro é advindo de outra instituição (Escola Mity de Karaokê) e como constatado anteriormente tem mais de duas décadas de consolidação. Ao contrário do segundo, que teve início no ano de 2004 e caracteriza-se como um grupo “independente” e recém-formado. A falta de uma sede própria, provavelmente, constitui outro fator de dificuldade em se organizar e aumentar adeptos. O Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko é o que possui a maior oscilação de faixa etária (de sete a mais de quarenta anos). As justificativas para esta variabilidade são, além do expressivo número de participantes (setenta e seis), a abertura do grupo a todos os que quiserem participar e que tenham, no mínimo sete anos (não há outro critério). Certamente, as próprias origens do grupo, que incluem a princípio, a vinculação com a ACROL (outra entidade bastante numerosa) é um motivo relevante para a adesão de pessoas com idades tão diferentes. Aliás, o fato de adultos (pais e mães) também participarem, por outro lado, descaracteriza

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um pouco este grupo, que neste estudo é tratado como um seinen-kai (associação de jovens nipo-descendentes). A dança e o taiko* são atividades comuns a todos os grupos. Além delas, outras são características exclusivas de determinados grupos, sendo este o caso do yosakoi* no Grupo Sansey, do shamisen* no Grupo Jishin Shamidaiko, do eisá* no Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko e também do teatro, no Grupo Anime Daiko. Conclui-se que, esta exclusividade de algumas atividades, por parte dos grupos pesquisados, é a expressão da identidade de cada seinen-kai, ou seja, é o elemento diferente que o caracteriza como “aquele” grupo, específico. Embora os elementos comuns tornem-os homogêneos e os tornem grupos seinen-kai, as particularidades de cada um, constituem sua marca identitária.

4.2 AS PRINCIPAIS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS SEINEN-KAI

Dada a relevância do conhecimento mais profundo destas atividades que, comumente, fazem parte do repertório apresentado pelos grupos seinen-kai, segue discussão da origem, finalidade e variabilidade dos instrumentos musicais: taiko, shamisen e sanshin*, bem como das modalidades de dança japonesa: matsuri, Bon Odori, eisá e yosakoi. O taiko (tambor japonês, vide figura 6) é um dos instrumentos musicais mais tradicionais do Japão. Foi introduzido no Brasil pelos imigrantes japoneses, sendo, nos dias de hoje, divulgado pela Associação Brasileira de Taiko e pelos vários grupos espalhados no país. De acordo com Janio Yamaguto, coordenador do grupo Ishindaiko (Londrina-PR), existem mais de oitenta grupos de taiko no Brasil e cerca de vinte no Estado do Paraná.

Segundo ele, “os tambores” eram usados na época dos

samurais como forma de comunicação, em época de guerra. Com o tempo, a batida tradicional teria evoluído para a música. Zukeran (2008) vai ainda mais longe, afirmando que a lenda do taiko se mistura às próprias lendas xintoístas de criação do Japão. O instrumento também está presente em cerimônias religiosas. De acordo com o professor japonês

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Toshiyasu Minowa, em depoimento ao Jornal da Tarde (2008), em matéria de Valéria Zukeran, “o taiko é cheio de detalhes – e os brasileiros mesmo os nikkeis, não estão acostumados. A precisão é importante.” A repórter descreve o instrumento da seguinte maneira: [...] Feitos com base de barris de madeira e tampo revestido de couro fixado por cordas, parafusos ou adesivos, basicamente, são divididos em três tipos: o shime que é o menor de todos; o okedou, o tambor médio; e o wadaiko, o grande [...].A baqueta se chama “bati”, o wadaiko é tocado pelos percussionistas mais experientes. (ZUKERAN, 2008, p.4).

De acordo com Zukeran (2008), a maior comunidade de japoneses fora do Japão vive em solo brasileiro, diante disso não é de se espantar que em 2008, ano do centenário da Imigração Japonesa no Brasil, foi possível assistir a uma apresentação de taiko em pleno desfile da escola de samba de São Paulo, a Unidos de Vila Maria.

Figura 6: Tambor japonês - taiko. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Durante as visitas às associações de jovens, ouvir o som do taiko virou quase um hábito e pode-se dizer que sua batida forte e tão característica da cultura nikkei influenciaram o olhar sobre este trabalho, de uma forma geral. Afinal, ler a respeito de um determinado tema é uma coisa, testemunhar os jovens tocando, tanto nos ensaios, como nas apresentações oficiais (Londrina Matsuri 2009), é outra.

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Ver a expressão de satisfação dos grupos, ao tocarem o taiko, comprovou o alto grau de identidade que os mesmos mantêm com este elemento, em particular, tradicional da cultura japonesa. Outros instrumentos musicais tradicionais japoneses são o shamisen e o shansin, que embora, não raro, confundidos e até considerados pelo público mais leigo iguais, são, na essência, distintos. De acordo com Mari Kamia, shamisen significa “três cordas de sabor” e trata-se de [...] um instrumento musical de três cordas, geralmente fabricado com couro de cobra, gato ou cachorro. Fazendo uma comparação com o ocidente, este objeto se assemelha ao banjo, composto por caixa de ressonância, braço e cravelhas. Contudo, o sangen (outro nome dado ao instrumento) não possui casas nem trastes e seu corpo (dô) possui um formato retangular ovalado o qual amplifica o som das cordas. (KAMIA, 2008, p. 1).

 

A origem deste instrumento remete a um outro, parecido com ele e surgido no século XVI, em Okinawa: o “sanshin”. Todavia, o precursor do shamisen japonês, na verdade, pode ter vindo da China, uma vez que Okinawa tinha boas relações com os chineses, os quais utilizam um instrumento musical chamado sanxián também de três cordas. Curiosamente, o sanshin (vide figura 7) quase desapareceu durante a Segunda Guerra Mundial e só não o fez devido ao esforço da população okinawana ao fabricá-lo com latas.

Figura 7: Instrumentista segurando sanshin. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

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Para tocar o instrumento é necessário o uso de uma espátula, conhecida como bachi, que pode ser confeccionada com casco de tartaruga, marfim ou madeira. Comumente, utiliza-se o som do shamisen (vide figura 8) no teatro tradicional japonês (kabuki) e no teatro japonês de bonecos (bunraku). (KAMIA, 2008). De acordo com informações do site do Jornal Nippobrasil, o sanshin se difere do shamisen pelo tamanho e pelo jeito de ser tocado. Invés do uso do bachi, para ser tocado, o sanshin requer o uso do chimi (dedal feito de búfalo). Ujiru, nakajiru e mijiru são os nomes das cordas deste instrumento.

Figura 8: Shamisen. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Embora raro de se ver nas apresentações artísticas dos grupos seinen-kai, o koto* (vide figura 9) faz parte da performance do grupo Jishin Shamidaiko, de Londrina. De acordo com as informações de seu presidente, Alexandre Higashi, mesmo não encontrando um professor do instrumento disponível na região, o grupo não desistiu de introduzi-lo no seu repertório musical e contratou uma professora de São Paulo para ensinar a tocar tanto o koto, como o shamisen.

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Segundo a professora Tamie Kitahara, que é representante do Grupo Seiha do Brasil de Koto, (na matéria “Acordes orientais” do portal NippoBrasil), a pouca adesão de ambos os instrumentos, por parte dos grupos de música tradicional japonesa, deve-se “a dificuldade de se apresentar em grandes festivais, onde o som dos equipamentos dificulta a boa transmissão dos acordes delicados do koto e do shamisen.” (KITAHARA, [200-] apud NIPPOBRASIL, [200-].). A matéria do portal esclarece ainda que o alto custo de um instrumento de boa qualidade é outro obstáculo a sua difusão, pois os instrumentos fabricados no Brasil não têm a mesma qualidade dos importados do Japão, que são mais caros. A definição do instrumento dada é a seguinte: O koto, espécie de cítara japonesa composta de 13 cordas e uma caixa de ressonância, é originário da China e foi introduzido no Japão no século XI. Tem aproximadamente 180 centímetros de comprimento e é formado por duas pranchas de kiri (madeira tradicional do Japão). O belíssimo som do koto foi usado muitas vezes para representar os sons da natureza, como as gotas de chuva, o som do vento, ou de passarinhos. Atualmente, ele pode ser encontrado em cenários ecléticos do jazz ao clássico. (NIPPOBRASIL, [200-]).

A opção pelo uso destes três instrumentos tradicionais japoneses, koto, shamisen e shansin, considerados raros nos grupos seinen-kai, hoje em dia, certamente, eleva o grau de identidade do Grupo Jishin Shamidaiko, com elementos mais tradicionais da música japonesa, demonstra a preferência por esta vertente, em detrimento de outros ritmos e instrumentos musicais mais populares.

Figura 9: Instrumentista tocando koto. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

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Entre

as

danças

japonesas

demonstradas

pelos

grupos

pesquisados, destacam-se o eisâ*, o matsuri*, o bon odori* e o yosakoi*. Tradicionalmente presente nas apresentações da comunidade okianawana, o eisâ é uma dança performática típica da região de Okinawa, sendo parte, portanto do repertório artístico do Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko, de Londrina. Sua origem advém do início do século XVII, ocasião em que o monge Taichû Shônin chegou a Okinawa, levando consigo preces e cantos budistas. Após adaptá-los a uma linguagem mais acessível e dando-lhes melodia, esses cantos foram difundidos como poemas budistas, tornando-se costume cantá-los aos espíritos ancestrais no Bon Odori (dança de Obon) junto com danças budistas. Assim, na última noite deste festival (que homenageia aos antepassados), grupos de pessoas dançam e cantam ao som de música folclórica, acompanhada do taikô (tambor japonês), ou seja, dançam o eisâ. (NIPPOBRASIL, [200-]). Segundo informações do portal Nippobrasil e de Rodrigo Sakuma, coordenador do grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko, conforme o distrito, o estilo nas performances de eisâ pode variar, sendo a música folclórica okinawana a origem da maioria de suas composições. Atualmente, também é possível encontrar grupos de eisâ moderno (sôsaku eisâ), que incorporam variados estilos musicais em seus repertórios, ocidentais, inclusive. Entre os elementos utilizados nas apresentações de eisâ, tem-se o parankû*: pequeno taikô* revestido por pele em apenas um dos lados; o shimedaiko: um pouco maior que o pârankû, é revestido nos dois lados; o hata e hatagashira*: geralmente, as apresentações de eisâ são acompanhadas por bandeiras (hata*) que faziam parte dos ritos de pedido de boas colheitas e livramento de pragas e doenças. O hata é a ligação entre o mundo dos homens e o dos espíritos e é por ele que a manifestação divina se faz presente em rituais e celebrações; o sanshin; o min`yô*: como é chamada a música folclórica e o ôdaiko (vide figura 10): o maior taikô usado no eisâ. É leve, se comparado aos de outros estilos do Japão. É tocado preso ao ombro por uma fita. (NIPPOBRASIL, [200-]).

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Figura 10: Instrumentista tocando ôkaido. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

O Bon Odori (figura 11) é outra dança tradicional japonesa. Não é característica específica de uma determinada associação jovem, sendo conduzida por cantores, acompanhados de tambores japoneses. Do mesmo modo que muitas danças ocidentais, as danças japonesas têm sua origem na antiguidade, como uma forma de homenagem às divindades. A dança chamada Bon Odori, famosa no Japão, é ligada à idéia de oferecer culto com danças aos mortos que visitam o mundo dos vivos e é, até hoje, muito conhecida e executada no festival sazonal do Japão de mesmo nome. (NIPPOBRASIL, [200-]).

Figura 11: Público dançando o Bon Odori no “Londrina Matsuri 2009”. Fonte: Trabalho de campo, 6 set. 2009.

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Diz-se que o Bon Odori é uma dança folclórica “interativa”, pois sua manifestação é sempre uma oportunidade do público todo participar, tanto jovens, como crianças, adultos e inclusive idosos. Sobre os demais estilos de dança japonesa, pode-se citar o yosakoi soran e o matsuri dance. Ambas as modalidades são praticada pelo Grupo Sansey de Londrina, que é tetra-campeão brasileiro de yosakoi soran (vide foto 12). Esta modalidade de dança nasceu há 18 anos da mistura de dois estilos musicais regionais do Japão (Yosakoi Bushi e Soran Bushi). O Yosakoi – “a noite vem” - é um tipo de música originária da província de Kouchi, dançada pelos jovens nas ruas, de maneira viva e vibrante. Soran é uma canção folclórica rítmica, comum entre os pescadores de Hokkaido, que usam a expressão como um grito de guerra. [...] ele representa uma celebração em agradecimento pelos resultados da colheita e da pesca. Dança e música exaltam os movimentos da atividade pesqueira simbolizando a luta contra o mar e o heroísmo dos pescadores em busca de sustento. (ASSOCIAÇÃO YOSAKOI SORAN DO BRASIL, [200-]).

Segundo informações da página eletrônica da Associação Yosakoi Soran do Brasil, no país, este festival acontece desde 2003. Sua primeira edição foi no bairro da Liberdade, município de São Paulo – SP e no ano seguinte, no Parque Ibirapuera, mesma cidade. A partir de 2005, o evento passou a ocorrer na Via Funchal, Vila Olímpica, também em São Paulo.

Figura 12: Yosakoi Soran - Grupo Sansey no “Londrina Matsuri 2009”. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

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O matsuri dance é um estilo de dança bem popular entre os nipodescendentes e foi desenvolvido pelo Grupo Sansey, por ocasião da realização da edição inaugural do festival “Londrina Matsuri”, no ano de 2003. “No Matsuri Dance, as músicas misturam ritmo ocidentalizado como o pop, o rock, o funk, entre outros, com ritmo “ondo” ao som de “taiko”, o tambor milenar japonês.” (GRUPO SANSEY, [200-]). As apresentação de matsuri dance são realizadas com a participação de bandas ao vivo, instrumentalistas, cantores e do grupo de taiko.

4.3 A DIVULGAÇÃO DA CULTURA JAPONESA EM LONDRINA

A partir das entrevistas realizadas com os coordenadores dos grupos, descobriu-se que muitos seinen-kais reúnem-se também fora de suas sedes, em eventos tanto no município de Londrina, como fora dele. Um importante momento de encontro das associações é o evento cultural “Londrina Matsuri”, realizado há oito anos, pelo Grupo Sansey. Este festival japonês homenageia, tradicionalmente, a chegada da Primavera, sendo realizado, portanto, no mês de setembro. De acordo com informações da página eletrônica oficial do evento, há quatro anos, o “Londrina Matsuri” passou a ser organizado no Parque de Exposições Ney Braga (Parque Governador Ney Braga, sito a Avenida Tiradentes, n. 6275 – Londrina – PR), devido ao grande público que recebe (cerca de 30 mil pessoas). Anteriormente, o mesmo ocorria na Praça Nishinomiya (inaugurada em 1988, como símbolo das cidades de Londrina – PR e Nishinomya5, na Província de Hyogo, Japão). Em conseqüência da dimensão de pessoas que dele participam, o festival passou a fazer parte do calendário oficial de eventos da Secretaria Municipal de Cultura de Londrina. As atividades realizadas contemplam apresentações de dança japonesa (Bon odori, matsuri dance, yosakoi soran) e de taiko (tambor japonês), exposição de flores e orquídeas, oficina de origami, demonstrações de tai chi chuan,

5

Cidade irmã de Londrina.

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degustação de pratos típicos como o nagashi somen (macarrão na correnteza), entre outras. Na sétima edição do “Londrina Matsuri”, em 2009, estiveram presentes os Grupos Sansey (Yosakoi soran e Matsuri Dance), Ishindaiko, Jishin Shamidaiko (vide figura 13) e Ryukyu Koku Matsuri Daiko. Além deles, também compareceram outros grupos, pertencentes a outras instituições ligadas a cultura japonesa, como por exemplo, os grupos de taiko da Escola Megumi e o Ishin Ladies (grupo de taiko formado só por mulheres), assim com o grupo de dança Louvart (da Igreja Evangélica Holiness de Londrina). Vide figura 14

Figura 13: Apresentação do Grupo Jishin Shamidaiko. Fonte: Trabalho de campo, 6 set. 2009.

A reunião de diversas associações, de jovens ou não, em um evento dessa proporção só contribui para a divulgação e manutenção da cultura nikkei. A entrada ao parque nos dias do festival é condicionada ao pagamento de um valor simbólico (R$ 2,00). Entre os principais objetivos de sua idealização, segundo seus organizadores, estão o de cultivar, difundir e integrar a arte e a cultura japonesa na comunidade brasileira. Parte do “trabalho de campo” desta pesquisa foi feita neste festival, em setembro do ano de 2009. Como se pode perceber, as fotos que aparecem intercaladas ao texto foram tiradas nesta ocasião. A divulgação do evento foi feita com certa antecedência e o mesmo, ocorreu durante os dias 7, 8, 9 e 10 de setembro (contemplando a segunda-feira,

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feriado do dia da pátria). A escolha deste período para a realização do evento favorece o índice de público que vem se elevando nos últimos anos.

Figura 14: Grupo Louvarte, da Igreja Holiness no “Londrina Matsuri 2009”. Fonte: Trabalho de campo, 6 set. 2009.

A presença no evento, de um grupo seinen-kai que não consta como foco deste trabalho serviu para comprovar a sua existência. Faz-se um parêntese, neste momento, para explicar que o tempo para a realização da pesquisa empírica, assim como dificuldades em contatar algumas associações, ou mesmo a descaracterização delas como perfil de grupo seinen-kai desejado, foram os motivos que impossibilitaram, por exemplo, a presença do Grupo Holiness neste estudo.

4.4 PERFIL DO JOVEM NIPO-DESCENDENTE

Durante os trabalhos de campo nas associações jovens de Londrina, foram distribuídos cerca de 80 questionários, dos quais 66 retornaram respondidos. Destes, um foi descartado por apresentar muitos campos não preenchidos e os outros dois foram aproveitados, exclusivamente, na discussão acerca da influencia da cultura nikkei sobre a brasileira, uma vez que foram respondidos por jovens não

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nipo-descendentes, participantes de um dos grupos estudados. A partir, então, da tabulação de 63 questionários, foi possível realizar a análise que se segue. Os entrevistados possuem idades entre 10 e 32 anos e todos, exceto um, residem no município de Londrina, em diferentes regiões. A exceção se deve a um morador do município paranaense de Rolândia, que, eventualmente, frequenta uma das associações pesquisadas. A maioria dos jovens está inserida em núcleos familiares compostos de até quatro pessoas (44,4%). Em segundo lugar, aparece o grupo de entrevistados, cujos núcleos familiares são de até cinco pessoas (28,6%). Famílias com seis pessoas somam 14,3% do total, com três integrantes, 11,1% e as compostas por apenas duas pessoas representam 1,6% dos entrevistados, conforme demonstra o gráfico 1.

Gráfico 1: Número de pessoas por núcleo familiar de dois a seis membros. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Sobre este aspecto da família nipo-brasileira, pode-se concluir que apesar da maioria apresentar quatro integrantes, os percentuais de famílias com até cinco e seis pessoas juntos, representam quase metade do total de entrevistados. Tal característica do núcleo familiar nikkei é relevante, considerando-se a queda da taxa de fecundidade da população brasileira, nos últimos anos. Em relação à descendência japonesa, a maior parte dos jovens, 57,1% é constituída por sanseis, que são os nipo-descendentes de terceira geração (se considerados os imigrantes japoneses como isseis – primeira geração). Os

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yonseis (quarta geração) somam 22,2% da comunidade e mesmo não sendo esperado, ao final da pesquisa, constatou-se a presença (mesmo que pequena 3,2%) de nisseis (segunda geração) no grupo estudado. O restante dos jovens, 17,5% compõe-se de mestiços, ou seja, filhos e

filhas

de

japoneses,

nisseis*,

sanseis*

ou

yonseis*

casados

com

brasileiros(as).(Gráfico 2).

Gráfico 2: Descendência japonesa, se considerados 4 grupos de análise. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Conforme

levantamento

bibliográfico

de

dados

referentes

à

porcentagem de nipo-descendentes por geração (publicados no final da década de 1980, pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiros e citados por diversos autores), já se esperava que com o passar do tempo a tendência natural é que se aumente o número de representantes das terceiras, quartas, quintas e até sextas gerações de descendentes. Embora, esta pesquisa não tenha detectado ninguém nesta situação, sabe-se que no Brasil já existe, pelo menos um rokussei (sexta geração, se considerar o issei, a primeira). Entre os entrevistados que compõem o grupo dos “mestiços”, observou-se que, pelo menos quatro deles, também assinalaram a opção “sansei”

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no campo “grau de descendência japonesa”, ou seja, estas pessoas consideram-se nipo-descendentes, mesmo tendo ocorrido a miscigenação por um dos cônjuges. Fato que reforça o bom grau de identidade destes jovens com a cultura nikkei. Caso semelhante de dúvida quanto ao grau de descendência ocorreu com cinco entrevistados que nasceram no Japão, porém, se auto declararam nisseis, sanseis ou mesmo yonseis. Tal posição destes entrevistados, talvez se explique por estes jovens, atualmente, viverem no Brasil e o considerarem como pátria, apesar de terem nascido em solo japonês. Certamente, os pais, pelo menos daqueles que se consideram sansei ou yonsei foram ou são dekasseguis. Se considerarmos o local de nascimento deles, uma nova variável aparecerá no gráfico sobre descendência japonesa: os isseis somariam, então, 7,9% do total, enquanto os nisseis permaneceriam no menor grupo com apenas 1,6%; também diminuiriam as porcentagens de sanseis (de 57,1% para 54%) e de yonseis (de 22,2% para 19%). E somente o grupo dos mestiços permaneceria inalterado, com 17,5%. (Gráfico 3).

Gráfico 3: Descendência japonesa, se considerados 5 grupos de análise. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

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A porcentagem de entrevistados, em cujas famílias não houve qualquer tipo de miscigenação foi de 59%, contra 32% em que houve. Nove por cento dos entrevistados não responderam este quesito. (Gráfico 4).

Gráfico 4: Miscigenação na família. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Nota-se, através destes dados, que ainda há certa preferência dentro da comunidade nipo-brasileira, por casamentos (uniões) entre os “pares”, ou seja, a união inter-racial não prevalece neste grupo, por hora. Deste fato, duas direções opostas de análise podem ser seguidas: 1) Como um aspecto positivo – sem a mistura das etnias, seria mais fácil conservar os hábitos, costumes e idioma japoneses, ou como diria Sorre, o gênero de vida japonês não precisaria ser muito “alterado”; 2) Como um aspecto negativo – sem a mistura das etnias, o processo de assimilação da cultura “brasileira”, por parte destes nipo-descendentes (que atualmente, residem no Brasil e não mais no Japão) seria menor, talvez, implicando em maior dificuldade de relacionamento com os não nikkeis. A questão é, sem dúvida, contraditória, dúbia. O ideal é que se achasse um equilíbrio entre a dosagem de interação das duas culturas: japonesa e brasileira. Certamente que esta análise não sugere que se tenham mais casamentos inter-raciais ou menos, tais discussões apenas induzem a pensar mais ainda sobre a questão da descoberta da identidade do jovem nikkei, em território brasileiro.

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No caso dos que se declararam mestiços ou que afirmaram ter havido a miscigenação por parte de alguém da família, 65% indicaram que ela ocorreu na segunda geração e 30%, na terceira. Cinco por cento dos entrevistados não responderam essa questão. (Gráfico 5).

Gráfico 5: Geração em que ocorreu a miscigenação. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Note-se que, pelo menos na amostra estudada, a miscigenação não aconteceu entre japoneses (isseis*) e brasileiros, sendo, portanto, uma característica da segunda geração (nisseis*) em diante. Nas associações de jovens das quais participam, os entrevistados apontaram as mais diversas atividades as quais têm acesso.

Estas vão das

tipicamente oriundas da cultura japonesa como: aulas de japonês, artes marciais, beisebol, taiko, ikebana*, origami*, kirigami*, undokai*, shamisen, canto / karaokê e dança (yosakoi, eisâ e matsuri), às menos típicas como: futebol, futsal (futebol de salão), handbol, natação, sinuca, teatro, tênis de campo, tênis de mesa, vôlei e xadrez. A freqüência com que participam destas atividades costuma variar de uma vez (50,8%) a duas ou mais vezes por semana (39,7%), sendo este o caso dos ensaios de yosakoi (modalidade de dança japonesa), por exemplo.

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As atividades com maior porcentagem de adesão, por parte dos jovens, são o taiko (35,7%) e a dança japonesa (22,5%). Vide figuras 13 e 14.

Figura 15: Apresentação de taiko do Grupo Sansey. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Figura 16: Jishin Shamidaiko – apresentação de dança japonesa. Fonte: Trabalho de campo, 2009.

Em seguida, aparece a opção “atividades esportivas” (20,9%), empatada com o somatório das demais atividades. Vide gráfico 6.

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A preferência pelo taiko e pela dança japonesa pode ser entendida no contexto da própria juventude dos pesquisados, que, independentemente, das raízes étnicas, no geral, apreciam a música, gostam de dançar e manifestam interesse em tocar algum instrumento. Se fossem jovens mais identificados com a cultura ocidental, por exemplo, talvez se interessassem por baterias de bandas, se amantes da cultura africana, poderiam querer aprender a batida do Olodum ou das escolas de samba mesmo. A questão do gosto, que é subjetiva, tem seu peso nesta análise. Todavia, a simples identificação do indivíduo com a cultura japonesa também justifica a preferência dele pelas músicas e instrumentos musicais japoneses.

Gráfico 6: Atividades desenvolvidas nas associações. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Embora declarado por parte dos coordenadores e/ou responsáveis que os associados podem participar das funções administrativas dos grupos pesquisados, apenas 23,8% dos jovens afirmaram exercer algum cargo nas associações. As funções desempenhadas, de forma voluntária, variam de assistente de aulas, coordenador de treino, presidente, tesouraria, fiscal até diretor da ala jovem. Excepcionalmente, três pessoas revelaram que recebem algum tipo de

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remuneração para desempenhar os cargos de coordenadoria do yosakoi, de instrutor e de monitoria.

Para os entrevistados, a importância de um seinen-kai (associação de jovens) se dá pela contribuição para a sociedade, na medida em que pode ajudar a criar meios de melhorias da mesma e pelo estímulo de características como: “Trabalho em equipe”; “Disseminação e preservação da cultura japonesa”, “Fazer amizades”, “Manutenção dos valores japoneses pelos jovens brasileiros”, “Convivência com pessoas diferentes”, “União e integração”, “Administração e manutenção das associações”, “Manutenção da identidade nikkei” “Crescimento pessoal do jovem (nipo-descendente ou não)”.

As respostas fornecidas pelos jovens levam a alguns apontamentos sobre a questão das associações. Um deles refere-se à função das mesmas. Notase que esta característica foi indicada como uma das mais importantes, tanto na discussão sobre redes sociais, como pelas demais associações japonesas de Londrina. A Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, por exemplo, destacou a promoção de eventos culturais e festivais ligados a comunidade nikkei; Handa (1987), abordou as questões da união e da força do grupo, também indicadas acima e Soares (2002) explica a rede pessoal como um tipo de rede social, baseada em relações de amizade, compadrio e parentesco. Enfim, todas essas colocações, convergem para as opiniões dos jovens sobre a importância de um seinen-kai. O conhecimento do idioma japonês, por parte dos jovens foi outro campo de interesse deste trabalho, afinal a língua materna é uma ligação que tende a se perder, conforme o passar das gerações em terras “estrangeiras”.

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Gráfico 7: Emprego do idioma japonês - fala. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Depois de transcorridos mais de cem anos da imigração japonesa para o Brasil é natural que o idioma japonês não esteja mais tão presente nas famílias de nipo-descendentes. Todavia, de acordo com os dados coletados, 75% dos jovens pesquisados falam a língua japonesa. (Gráfico 7). Quanto ao domínio deste idioma, a maioria dos entrevistados (49%) afirmou falar apenas “um pouco”, enquanto outros (43%) indicaram a opção “mais ou menos” e a minoria (8%), “fluentemente”. Vide gráfico 8.

Gráfico 8: Nível de conhecimento do idioma japonês - fala. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

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O nível de fluência do idioma japonês, indicado pela maioria como baixo e mais ou menos, indica que o jovem até convive com pessoas que dominam o idioma (talvez os pais, ou mais provavelmente os avós), ou têm contato com músicas neste idioma, como vários relataram. No entanto, não estão estudando o japonês em escolas, sistematicamente, como se faz no aprendizado do inglês ou espanhol. Poucos entrevistados revelaram que já estudaram o idioma desta forma. Em relação a escrita e ao entendimento da língua, os percentuais não são muito diferentes, como pode-se observar nos gráficos 9, 10, 11 e 12.

Gráfico 9: Emprego do idioma japonês - escrita. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Gráfico 10: Nível de conhecimento do idioma japonês - escrita. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

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Gráfico 11: Compreensão do idioma japonês. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Gráfico 12: Nível de conhecimento do idioma japonês – compreensão. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Enfim, de um modo geral, estes gráficos revelam um nível considerável de conhecimento do idioma japonês (fala, escrita e compreensão) por parte dos entrevistados. Porém, é preciso lembrar que o grupo pesquisado refere-se a

jovens

nipo-descendentes

muito

ligados

a

cultura

japonesa,

ou

seja,

possivelmente, fora do âmbito dos grupos seinen-kai, os percentuais seriam diferentes.

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Gráfico 13: Uso do japonês em casa. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

De acordo com o gráfico 13, pouco mais da metade dos jovens utiliza o idioma japonês em casa. No entanto, exceto por três questionários com respostas adversas (um em branco neste quesito e os outros dois com respostas negativas, porém, sem justificativa) os demais, 60 entrevistados, afirmaram que o conhecimento da língua japonesa é importante. Entre as justificativas para esta questão, as seguintes respostas foram apresentadas: “é importante conhecer a língua de origem”, “é bom saber vários idiomas”, “pela tradição”, “para viajar para o Japão”, “para ter mais conhecimento, para usar em reuniões de grupos seinen-kai”, “para conhecimento próprio”, “para entender melhor a cultura japonesa e para preservá-la”, “porque é a cultura da minha família”, “porque é um diferencial na área profissional” “porque o conhecimento de qualquer língua abrange o entendimento da realidade de uma etnia ou de um povo”. De acordo com Oliveira (2001), é comum no imigrante a sensação de ser diferente, principalmente, devido à barreira da língua. Segundo a autora, o aprendizado do idioma local é um fator determinante na construção de uma nova

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identidade. Nosso foco de estudos não é o imigrante, propriamente, mas seu descendente, por isso, ressalta-se essa preocupação com a identidade nikkei nas falas dos jovens: “para entender melhor a cultura japonesa e para preservá-la”, “porque o conhecimento de qualquer língua abrange o entendimento da realidade de uma etnia ou de um povo”, “porque é a cultura da minha família” e “para ter mais conhecimento, para usar em reuniões de grupos seinen-kai”. A vontade de saber o idioma para conhecimento da cultura nikkei está explícita nessas frases. Por outro lado, a consciência de que um segundo ou terceiro idioma pode fazer a diferença no campo profissional, também demonstra a maturidade do grupo pesquisado, que, possivelmente, é orientado, em casa, a dedicar-se aos estudos, característica comum no meio da comunidade nikkei. É quase unânime o gosto dos jovens pela culinária japonesa. Com exceção de um questionário (em branco nesse item), os demais afirmaram que apreciam a comida japonesa. Muitos pratos típicos foram lembrados e apontados como os preferidos. Entre eles, destacam-se: sushi*, sashimi*, sukiyaki, missoshiru*, gohan*, tofu*, oniguiri*, takenoko*, tempurá*, nori*, yakimeshi*, udon*, temaki*, entre outros. A

freqüência

do

consumo

varia

bastante,

a

maioria

dos

entrevistados, 46%, afirmou consumir comida japonesa semanalmente, 27% diariamente, 19% mensalmente e 4,8% raramente. O percentual restante, 3,2%, não respondeu a questão. (Gráfico 14).

Gráfico 14: Frequência de consumo de comida japonesa. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

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A religião predominante entre os entrevistados é a católica, opção de mais da metade dos entrevistados (52,8% do total), seguida pelo budismo, com 4,6% da preferência. Curiosamente, em dois questionários, observou-se a indicação de mais de uma religião: católica / budista e católica / seicho-no-iê. Apenas um entrevistado declarou-se evangélico e o outro, cristão, somente. Cinco pessoas (5,8%) não responderam esta questão. (Gráfico 15).

Gráfico 15: Preferência religiosa dos entrevistados. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Entre os que se declararam católicos, porém, apenas 34,6% se consideram “praticantes”, contra 57,7% deste grupo, que se considerou “não praticante”. O restante (7,7%) não especificou se pratica ou não a religião católica. O fato de maioria revelar que não é praticante indica que estes jovens não demonstram grande interesse pela religião que optaram seguir. Dependendo da idade do entrevistado (se pouca), pode-se mesmo deduzir que a religião declarada não é uma opção sua ainda, mas da família. Em suas casas, 17% dos entrevistados possuem ofurô*, 78% não possuem e 5% não responderam a pergunta. Por meio dos dados presentes na caracterização do núcleo familiar, nota-se que as residências com o ofurô são, normalmente, as mesmas nas quais os avôs e avós vivem com a família, ou seja,

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nesses casos, a presença dos mais velhos incentiva a permanência dos costumes japoneses tradicionais. (Gráfico 16).

Gráfico 16: Entrevistados que possuem ôfuro em casa. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Sobre o círculo de amizades dos jovens pesquisados, percebe-se que há uma predominância quanto à origem nipônica, pois 65,1% afirmaram que a maior parte dos amigos é de nipo-descendentes e 34,9%, que metade é. Ninguém disse que apenas alguns são. (Vide gráfico 17). Esses dados comprovam que, mesmo na terceira e quarta geração, os descendentes de japoneses, a exemplo dos seus pais e avós, no início da imigração, continuaram ligados socialmente e culturalmente, por meio das associações. No item preferência musical, mais de uma opção foi assinalada, ou seja, muitos jovens manifestaram interesse por mais de um tipo de música. Ainda assim, os resultados demonstram que a maioria (46,2%) prefere a música japonesa, enquanto que 28,2% preferem a música brasileira e 25,6% indicaram a preferência por outras músicas, tais como as internacionais, por exemplo. Os lugares mais freqüentados pelos jovens são os matsuris, com 52,6%

da

preferência.

Outras

opções

também

foram

assinaladas,

concomitantemente, ou não, sendo 19,6% a opção por bares, 18,6% por clubes e 7,2% por casas noturnas. Cerca de 2% dos entrevistados não respondeu este item.

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Gráfico 17: Relação de amizade com outros nipo-descendentes. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

O quesito mais importante, talvez, para se determinar o grau de identidade nikkei do jovem que freqüenta associações (cujas características são semelhantes aos antigos seinen-kais) é a questão de como eles se consideram, se vêem. A maior parte, 66,7% dos entrevistados se considera “mais japonês”, 23,8% consideram-se “mais brasileiro”, 7,9% assinalaram as duas opções, indicando um equilíbrio entre as nacionalidades e uma pessoa (1,6%) disse “não saber”. (Gráfico 18). As justificativas para uma e para outra resposta (mais brasileiro ou mais japonês), variaram bastante. Quando justificado que se consideravam “mais japonês”, apareceram afirmativas como:

“devido à alimentação”, “a cultura japonesa é muito presente em minha vida”, “pela minha aparência”, “pelos costumes, hábitos e convivência na cultura”, “por gostar mais da culinária japonesa”, “por identificar-se mais com os valores da tradição japonesa”, “por influencia da família”, “por interessar-me mais pelos assuntos da cultura japonesa”.

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Gráfico 18: Como o entrevistado se considera. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Por outro lado, as justificativas por se sentir mais brasileiro foram: “nasci no Brasil”, “possuo mais hábitos ocidentais que orientais”, “pelos lugares que freqüento”, “por ser mestiço”, “porque a cultura familiar se mistura e vai se perdendo com o passar de cada geração”, “por não saber falar a língua japonesa”, “porque o povo japonês é mais fechado e introvertido, entre outras”. Os comentários daqueles que assinalaram as duas opções: “mais japonês” e “mais brasileiro” foram: “depende da ocasião”, “interesso-me pela cultura japonesa, mas não sei tanto quanto gostaria”, “depende de onde estou, com quem e da necessidade”, “sofri influencia dos dois lados da família (brasileira e japonesa)”.

Analisando os questionários mais cuidadosamente, notou-se que os que se consideram mais brasileiros são os mestiços e os que, mesmo não sendo mestiços, tiveram miscigenação na família. Todos tinham idades acima de dezessete anos e são ou foram universitários.

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A ressalva se faz porque o único questionário cuja resposta veio “não sei” é de uma pessoa com idade inferior ao da grande maioria, ou seja, menos de quinze anos. Talvez a pouca idade seja um fator que contribua para a indecisão quanto a sua própria identidade. Uma análise mais profunda das questões sobre identidade, de como se consideram, se mais japoneses ou mais brasileiros, mostram, em um primeiro momento, respostas parecidas às dadas anteriormente sobre a relevância do idioma japonês. Logo, revelam também os aspectos da construção da identidade nikkei. Remetendo a Oliveira (2001), a identificação com o idioma é importante para que o indivíduo se sinta parte do grupo social, acolhido entre seus pares. Justificativas como “a cultura japonesa é muito presente em minha vida” e “por identificar-me mais com os valores da tradição japonesa” se aproximam da idéia de Haesbaerte (2004), quando este discute a criação de uma identidade territorial, baseada em uma dimensão simbólica e cultural, pois essa dimensão ao qual o autor se refere é criada pelo ambiente familiar / social que vivemos. Quando inserido em um ambiente permeado por traços da cultura oriental, naturalmente, sua segurança está depositada ali, ou seja, é o seu mundo conhecido (territorializado). Do mesmo modo que quando o ambiente é “brasileiro” e sempre assim o foi, a tendência é que se queira deixar “as coisas como estão”. Certamente, que o desconhecimento do idioma japonês, neste caso, só agrava a situação, porque é por meio do entendimento da língua japonesa que o descendente pode melhor compreender a cultura nikkei. Os que se declararam “os dois” e que tanto se consideram japoneses como brasileiros, apontaram que o meio influencia sua identificação com a cultura. Neste grupo, mais uma vez, se destacam as respostas dos “miscigenados”, que declaram “sofrera influência dos dois lados da família”. Possivelmente, este grupo (os mestiços) enfrenta os piores dilemas quanto à identificação cultural, justamente, por receberem influencias de ambos as etnias. Independente de como se identificam, ou se tiveram ou não miscigenação na família, todos os entrevistados responderam que apreciam a cultura japonesa e, exceto por uma resposta em branco, todos os demais pretendem educar seus descendentes dentro dela. As justificativas para essa questão foram: “a educação é rígida”,

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“para manter a cultura”, “para não perder as raízes”, “para manter a tradição”, “porque acha a cultura bonita”, “pela disciplina”, “pela qualidade de vida”, “pela educação e respeito que os japoneses prezam”, “porque tem bons valores” “para que meus filhos aprendam mais de uma língua”, “porque o povo japonês é mais sério”, “porque fui criado assim” e “porque acredito que seja muito importante preservar a cultura e educar nossos filhos dentro dela, pois hoje, encontramos muitos descendentes que não sabem nem as palavras básicas. Não que seja por desleixo por parte dos pais, acredito que seja mais por estarmos tão inseridos na cultura brasileira que acabamos deixando de lado a japonesa”.

As respostas acima indicam que, mesmo não tendo certeza sobre sua própria identidade, os jovens almejam educar seus filhos dentro da cultura japonesa. De acordo com estudos de Asari e Ferreira (1986), voltados aos professores universitários nikkeis da UEL, entre os hábitos japoneses que deveriam ser preservados, destaca-se “o comportamento de alto respeito e educação (valorar os estudos)”. Comparando-se essa colocação com muitas das respostas fornecidas pelos jovens, percebe-se que elas são muito semelhantes. Nota-se assim, a valorização da cultura nikkei, também por parte dos representantes das terceiras e quartas gerações de imigrantes japoneses. Sobre o conhecimento do território japonês, constata-se que pouco mais da metade dos entrevistados (54%) já viajou para o Japão. Os motivos da viagem, das pessoas que ficaram lá por até quinze dias foram o lazer e a apresentação de dança japonesa ou taiko. (Gráfico 19).

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Gráfico 19: Jovens que já viajaram para o Japão. Fonte: Trabalho de campo, 2009. (Organizado por LEAL, 2010).

Os jovens que viajaram a trabalho ou a estudo, no entanto, permaneceram por tempo maior, que variou de 1 a 10 anos. Dos que nunca foram ao Japão (46%), todos tem vontade de ir, por motivos como o lazer, para conhecer as origens, por curiosidade quanto ao modo de vida, por interesse pela cultura e somente uma pessoa respondeu que quer ir para o Japão para morar, definitivamente. A vontade de conhecer o território japonês é mais uma manifestação de interesse pelo modo de vida japonês. Por fim, quando perguntada a opinião sobre o fenômeno dekassegui, uma pequena porcentagem dos jovens afirmou não saber o que é o fenômeno ou não ter opinião formada a respeito. Os demais teceram comentários como os a seguir: “são esforçados”, “serve para os descendentes conhecerem o país de origem”, “é uma tentativa de melhorar as condições de vida”, “é natural devido a busca pela ascensão social”, “é algo importante para reforçar os laços entre os dois países (Brasil e Japão)”, “é uma alternativa para quem não tem qualificação profissional ou não teve oportunidade de estudar”, “é arriscado”,

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“é o jeito porque no Brasil há menos oportunidades de emprego”, “é uma importante troca de informações e costumes”, “é o processo contrário ao da imigração japonesa no Brasil e com conseqüências semelhantes, para os que foram não foi fácil deixar as famílias no Brasil”, “foram porque não tiveram escolha”, “o ideal seria conseguir ganhar dinheiro no próprio país (Brasil)”, “muitos não se esforçam para ganhar mais do que estão ganhando lá”, “é ruim porque divide as famílias”, “é ruim porque ocorre a ilusão dos emigrantes, afasta os amigos e as famílias”, “está em baixa, devido a crise mundial, mas trata-se de uma fase momentânea, sendo considerada uma boa oportunidade para quem não pode estudar e necessita ter um rendimento melhor”.

Pressupõe-se

que

algumas

opiniões

sejam

baseadas

em

experiências reais, pessoais dos entrevistados, visto que muitos já foram ao Japão, sendo que alguns já trabalharam, ou mesmo viram seus pais partirem para o trabalho no Nihon. A maioria concorda que é um “mal necessário”, especialmente para aqueles que não puderam estudar no Brasil. Os motivos da emigração, no entanto, induzem a volta da leitura de Sorre, George, Oliveira, entre outros. Afinal, a emigração dos nipo-descendentes em direção ao Japão hoje, principalmente, quando teve início, foi desencadeada pelos mesmos fatores de migração abordados por estes autores: falta de empregos e expectativa de melhora de vida. Todavia esse movimento de retorno à terra dos antepassados inclui um lado negativo também, que é o do rompimento de uma rede pessoal, de laços afetivos e de amizade aqui no Brasil e configura uma nova reterritorialização no Japão, onde os nipo-descendentes são vistos como estrangeiros.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Migrações humanas refletem um estágio de insatisfação de uma população com o local em que vive. É da natureza do homem deslocar-se do ambiente onde nasceu em busca de recursos que não dispõe. Esse deslocamento pode implicar na transposição de fronteiras e na ocupação consciente ou não de um espaço já ocupado por outro grupo social. Assim, os fluxos migratórios de populações humanas, normalmente, resultam em mudanças de cunho ambiental, social, cultural e econômico, que podem ocorrer tanto no ambiente remetedor, como no ambiente receptor. O imigrante, ao sair da sua pátria, procura levar consigo o seu gênero de vida, ou seja, seu modo de vida, que é constituído por suas técnicas de trabalho, seu jeito de se expressar, de agir, de pensar, enfim, de existir. Transferir esse conjunto de “saberes” sobre si ou sobre um povo de um espaço geográfico a outro é também uma forma de re-territorializar-se. Manter este modo de vida é mais fácil quando se migra em grupo, ou seja, quando não se rompe uma rede social. Porém, no processo migratório, distintos grupos migrantes que não possuam relações pessoais, muitas vezes se vêem obrigados a dividir o mesmo espaço, então, novas relações sociais são construídas. Afinal, os motivos de ambos podem ser os mesmos, assim como os objetivos. Para manter a união entre os membros de um grupo migrante, o mesmo lança mão de mecanismos como, por exemplo, a criação e manutenção de associações. Estas são na essência o mesmo que as redes sociais. Uma associação, portanto, constitui o meio que os imigrantes e descendentes japoneses encontraram para manter vivas as tradições e, de um modo geral, a cultura de seu país de origem – Japão – mesmo este grupo estando em um país tão diferente do seu – o Brasil. Embora tenham chegado ao país, inseridos em um núcleo familiar, muitas “famílias se desfizeram durante o processo de adaptação ao trabalho na roça, principalmente, por se tratavam de famílias “montadas”. Mais uma vez, as associações provaram que a união do grupo, os fazia mais fortes. Das dez associações de jovens nikkeis existentes em Londrina – seinen-kai, conseguiu-se o contato efetivo com metade delas (cinco). Todos os

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seinen-kais se mantêm por meio do pagamento de mensalidade dos participantes, que varia de quinze a trinta reais mensais. Dois deles apenas têm sede própria e os demais realizam suas atividades em locais cedidos ou alugados de associações de nipo-descendentes ou de empresas da região. Estas associações constituem um importante meio de ligação do jovem nipo-descendente com a cultura nikkei, assim como do jovem que não é nipodescendente, pois esta característica não constitui um pré-requisito para a participação no grupo. Tal abertura demonstra ainda que as associações estudadas constituem um meio de disseminação da cultura japonesa em território brasileiro. A respeito das associações de jovens (seinen-kai) em Londrina, pode-se dizer que a manutenção dos hábitos e costumes de seus antepassados, por parte dos jovens nipo-descendentes, é reforçada pelo convívio dos mesmos nas associações, ou seja, contribuem para o processo de re-territorialização da comunidade nikkei no Brasil. A identidade do jovem nipo-descendente é diretamente influenciada pelo meio em que ele vive, logo a convivência com outros “pares”, no seinen-kai, tende a fazê-lo se identificar mais com a cultura nikkei, embora, muitos já tragam esta identificação de casa. Assim, para aqueles que não trazem, ou seja, em cujos lares não são mantidos os “costumes japoneses” aproximar-se e futuramente participar de uma associação de jovens nikkeis pode ser o caminho para a identificação cultural nikkei. Constata-se que as sedes das associações japonesas no Brasil, como antes o foram as colônias japonesas, transformaram-se em porções do território japonês fora do Japão, uma vez que o território também pode ser entendido a partir de uma visão abrangente, que engloba uma dimensão cultural, necessária a formação da identidade.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

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APÊNDICE A Questionário

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPTO. DE GEOCIÊNCIAS

Roteiro de entrevista

Projeto: Os Seinen-kai e a manutenção da identidade cultural: um processo de (re)territorialização nikkei

N.

1.

Nome: ____________________________________________Data: ____/____/____

2.

Características do núcleo familiar Relação de

Nome

parentesco

Sexo Idade Escolaridade

Local de

Atividade

Local de

nascimento

exercida

trabalho / estudo

3.

Município onde reside: _____________________________ Estado: ____________

4.

Bairro: __________________________________________________________________

5.

Religião: ____________________________

( ) praticante

( ) não

praticante 6.

Quanto ao grau de descendência japonesa: ( ) nissei

( ) sansei

( ) yonsei

( ) gossei

( ) mestiço

Se mestiço, por qual parte da família tem descendência? ( ) materna ( ) paterna Houve a miscigenação na família? Sim ( ) Não ( )

Em que geração?

( ) segunda ( ) terceira ( ) quarta ( ) quinta 7.

Participa de alguma associação cultural e/ou esportiva? Sim ( ) Não ( ) Quais:

_______________________________________________________________________ 8.

Se sim, paga anuidade? Sim ( ) Não ( ) Qual o valor? ______________________

9.

Se sim, de quais tipos de atividade participa?

83

Culturais: ( ) taikô ( ) dança japonesa ( ) ikebana Outras: ____________________________________________________________ Esportivas:

( ) beisebol ( ) softbol ( ) tênis de mesa ( ) artes marciais ( ) undokai

Outras: _____________________________________________________________ 10.

Com qual freqüência? Uma vez por mês ( )

Uma vez por semana ( )

De duas a mais vezes por

semana ( ) 11.

Faz parte da administração da associação? Sim ( ) Não ( )

12.

Se sim, que cargo ocupa? _____________________________________________

13.

Se sim, é remunerado?

14.

Participa de um grupo Seinen-kai? Sim ( ) Não ( )

15.

Para você qual a função / importância de um Seinen-kai? ______________________

Qual o valor? _______________________________

__________________________________________________________________________ 16.

Quanto à cultura japonesa: Idioma:

fala ( ) sim ( ) não pouco ( ) mais ou menos ( ) fluentemente ( ) escreve ( ) sim ( ) não pouco ( ) mais ou menos ( ) fluentemente ( ) entende ( ) sim ( ) não pouco ( ) mais ou menos ( ) fluentemente ( ) a família fala em japonês em casa? ( ) sim ( ) não acha importante o conhecimento da língua japonesa? ( ) sim ( ) não ( ) por quê? ______________________________ ________________________________________________________

Comida:

gosta ( ) sim ( ) não ( )

consome:

( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente ( ) raramente Quais os pratos japoneses que conhece, consome e onde? ____________________________________________________________________ Hábitos:

tem ofurô em casa? ( ) sim ( ) não

Amigos:

nipo-descendentes ( ) a maior parte é

Música:

( ) metade é

( ) apenas alguns são

preferência: ( ) japonesa ( ) brasileira ( ) outras: _____________

Lugares que freqüenta com amigos: ( ) clubes ( ) bares ( ) casas noturnas ( ) matsuri 17.

Você se considera ( ) mais brasileiro ( ) mais japonês Por quê? ___________________________________________________________

84

____________________________________________________________________ 18.

Aprecia a cultura japonesa? Sim ( ) Não ( )

19.

Pretende educar seus descendentes dentro dela? Sim ( ) Não ( ) Por quê? ___________________________________________________________ ____________________________________________________________________

20.

Já viajou para o Japão? Sim ( ) Não ( ) Motivo: lazer ( ) trabalho ( ) estudo ( ) Se sim, quanto tempo ficou lá? ___________________________________________ Se não foi, tem vontade de ir? Sim ( ) Não ( ) Por quê? ___________________________________________________________

21.

Qual a sua opinião sobre o fenômeno dekassegui: __________________________ ____________________________________________________________________

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPTO. DE GEOCIÊNCIAS

Roteiro de entrevista

Pesquisa: Os Seinen-kai e a manutenção da identidade cultural: um processo de (re)territorialização nikkei

1. Nome: ___________________________________________________________________ 2. Função no grupo seinen-kai ___________________________Data: ____/____/____ 3. Nome do grupo: ______________________________________________________ 4. Quantas pessoas participam deste grupo? _________________________________ 5. Este grupo faz parte de alguma associação: Sim ( ) Não ( ) 6. Se sim, qual? ________________________________________________________ 7. Qual a data de criação deste grupo e como ele se formou? ____________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 8. Que atividades o grupo promove / desenvolve? _____________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 9. Quais os pré-requisitos para participar do grupo? ___________________________ _______________________________________________________________________ 10. Qual a média etária predominante no grupo? _______________________________ 11. Há algum tipo de hierarquia dentro do grupo? Sim ( ) Não ( ) 12. Como são divididas as tarefas? __________________________________________ _______________________________________________________________________ 13. Com que freqüência o grupo se reúne e onde são as reuniões? _________________ _______________________________________________________________________ 14. Os integrantes têm o hábito de se reunirem fora da associação também, em atividades de lazer, por exemplo? ________________________________________ _______________________________________________________________________ 15. Este grupo tem contato com outros Seinen-kais de Londrina ou de fora? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________

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16.

Qual a relação do Seinen-kai com a ALIANÇA e com a ACEL? Que tipo de vínculos tem? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

E-mail: ____________________________________________ Contatos: __________________________________________

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ANEXOS

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ANEXO A Glossário

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GLOSSÁRIO

Bon-Odori – dança japonesa em homenagem aos antepassados e a boa colheita. Daiko – substituição; representação; delegação; agenciação. Dekassegui – de (verbo deru = sair); kassegui (trabalhar fora, com remuneração) Eisá – dança performática okinawana Fujin-kai – associação de senhoras Gatebol – esporte parecido com o croquet (da Inglaterra). Necessita-se de tacos (stick), arcos (gate), pino central (goal pole) e dez bolas numeradas. Gohan – Arroz sem gordura Ikebana – arranjo de flores Issei – 1ª. geração (imigrante japonês) Kai - encontro, reunião, festa, associação, entrevista, une Karaokê – canto Kata – movimento do karatê Kenjin-kai – associação formada para reunir pessoas e descendentes da mesma província Kifu – doação; contribuição expontânea Kirigami – dobradura feita com auxílio de tesoura Kumi – bairro Matsuri – modalidade de dança japonesa Matsuri Dance – modalidade de dança japonesa moderna Missôshiru – sopa de pasta de soja (missô) Nihon – Japão Nihon-go – idioma japonês Nihon-jin-kai – associação de senhores Nikkei – descendente de imigrantes japoneses Nissei – 2ª. geração (filho de imigrante japonês) Nori – alga Ôdaiko – tipo de tambor grande Odori – dança Ofurô – banheira

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Okinawa – província japonesa, localizada ao Sul do país Ondo – tipo de música popular japonesa. Oniguiri – bolinho de arroz cozido Origami – dobradura Rokussei – 6ª. geração Ryukyu – arquipélago do Japão Sansei – 3ª. geração (neto de imigrante japonês) Sashimi – peixe cru Seinen-kai – associação de jovens Sensei – professor Shamisen – instrumento musical semelhante ao banjo Sanshin – instrumento musical semelhante ao shamisen Shime – tipo de tambor pequeno Shinbokukai – confraternização Shibus – associações Snooker – jogo semelhante ao billhar Softbol – modalidade de beisebol Sukiyake – prato típico com legumes, verdura, carne, etc. Sushi – bolinho de arroz, enrolado com algas (nori) / recheios diversos Taiko – tambor japonês Take-no-ko – broto de bambu Tanomoshi – sociedade financeira mútua Temaki – tipo de sushi Tempurá – fritura (legumes) Tofu – queijo de soja Tsukemono – conservas (de pepino, nabo, etc.) Udon – sopa de macarrão Undokai – gincana; práticas poli-esportivas Wassabi – raiz forte (utilizada no sashimi) Yakimeshi – arroz temperado / assado Yakisoba – macarrão com legumes, carne, etc. Yonsei – 4ª. geração (bisneto de imigrante japonês) Yosakoi – modalidade de dança japonesa

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