As Atividades do Observatório do Colégio de Santo Antão na Década de 1750

Share Embed


Descrição do Produto

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

AS ATIVIDADES DO OBSERVATÓRIO DO COLÉGIO DE SANTO ANTÃO NA DÉCADA DE 1750 Jefferson dos Santos Alves*

A dissertação de mestrado intitulada O Planetario Lusitano de Eusébio da Veiga e a Astronomia em Portugal no século XVIII, defendida por mim em 2013, apresenta uma análise da Astronomia desenvolvida pelos jesuítas em Portugal em meados do século XVIII a partir das atividades dos professores do Colégio de Santo Antão em Lisboa, tendo com principal referência a obra Planetario Lusitano1, publicada em 1758, do padre jesuíta Eusébio da Veiga (1717-1798), o último professor da “Aula da Esfera”, o curso de Matemáticas deste colégio. O principal objetivo da obra de Veiga é oferecer efemérides para utilização na navegação, embora as mesmas possam ser utilizadas para qualquer atividade que necessite de observação astronômica. As efemérides são tabelas com a indicação da posição relativa dos astros em cada dia do ano. No Planetario Lusitano essas tabelas foram calculadas para os anos de 1758, 1759 e 1760 e estão disponíveis nas partes intituladas Planetario Calculado. Além das efemérides, Veiga também calculou as Taboas Perpetuas e Immudaveis, com dados astronômicos que não se alteram, como por exemplo, a localização de uma estrela ou as coordenadas geográficas de determinado local. Além das tabelas astronômicas, Veiga incluiu outras duas partes: uma intitulada Planetario Lusitano Explicado com Problemas, e exemplos praticos, com o objetivo de fornecer instruções sobre a consulta e o uso das tabelas astronômicas, sobretudo na prática náutica; a outra consiste em três relatos de observação de eclipses. Através do Planetario Lusitano Explicado e dos relatos de eclipses, podemos entrar em contato com algumas das atividades astronômicas desenvolvidas no observatório do Colégio de Santão na década de 1750. Eusébio da Veiga nos dá a conhecer a observação dos seguintes fenômenos: ocultação de Vênus e de duas estrelas pela Lua em 27 de julho de 1753; eclipse solar de 26 de outubro de 1753; eclipse parcial da Lua de 27 de março de 1755; eclipse do segundo satélite de Júpiter em 21 de maio de 17552; eclipse parcial da Lua de 30 de julho de 1757.

*

Bolsista (desenvolvimento PCI - CNPq) do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCTI), mestre em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). 1 O título completo da obra é Planetario Lusitano, Explicado com Problemas, e Exemplos Praticos para melhor intelligencia do uso das Efemerides, que para os annos futuros se publicão no Planetario Calculado: e com as regras necessarias para se poder usar delle não só em Lisboa, mas em qualquer Meridiano. 2 A observação dos satélites de Júpiter, diferentemente dos outros fenômenos citados, possui uma frequência observacional quase diária.

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Além dessas observações, o historiador Rómulo de Carvalho nos dá notícia de outra realizada em Santo Antão no ano de 1753 e relatada por Veiga ao astrônomo francês Joseph Nicolas Delisle. Trata-se da observação da passagem de Mercúrio sobre o Sol em 06 de maio3. O objetivo deste trabalho é analisar essas observações empreendidas por Eusébio da Veiga no observatório do Colégio de Santo Antão e verificar em que medida essas atividades estão inseridas no contexto científico da época. Desta forma, poderemos inserir Portugal e os jesuítas no contexto de produção intelectual do século XVIII, mostrando que não estavam à margem do conhecimento científico europeu. A ideia de Portugal estar à margem da Europa provém de uma concepção de decadência cultural e intelectual que teria início em 1580 com a união das coroas ibéricas. Essa imagem de Portugal decadente é perceptível em muitos autores, no entanto aqui iremos citar três para ilustrar este pensamento. O primeiro a que faremos referência é o escritor português Antero de Quental (18421891). Pertencente a um movimento acadêmico conhecido como “Geração de 70”, em 1871 proferiu um discurso sobre as Causas da decadência dos povos peninsulares nos três últimos séculos nas Conferências Democráticas do Casino Lisbonense. Influenciado por uma tendência historiográfica que visava entender as causas de uma situação considerada decadente em Portugal, entre outros pontos, Quental separou Portugal e Espanha da “Europa culta”, como ser visto no trecho abaixo: Durante 200 anos de fecunda elaboração, reforma a Europa culta as ciências antigas, cria seis ou sete ciências novas, a anatomia, a fisiologia, a química, a mecânica celeste, o cálculo diferencial, a crítica histórica, a geologia: aparecem os Newton, os Descartes, os Bacon, os Leibniz, os Harvey, os Buffon, os Ducange, os Lavoisier, os Vico – onde está, entre os nomes destes e dos outros verdadeiros heróis da epopeia do pensamento, um nome espanhol ou português? Que nome espanhol ou português se liga à descoberta duma grande lei científica, dum sistema, duma facto capital? A Europa culta engrandeceu-se, nobilitou-se, subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos. A alma moderna morrera dentro em nós completamente (QUENTAL, 1871).

Apesar de esse discurso ter sido proferido no final do século XIX, a ideia de atraso da Península Ibérica transpassa pelo século. Em 1952, o professor José Sebastião da Silva Dias (1916-1994) publicou Portugal e a Cultura Europeia (sécs. XVI a XVIII), cujo título já 3

A carta, escrita em latim, está datada de 28 de maio de 1753 e encontra-se no Arquivo do Observatório de Paris, Portefeuille de JosephNicolas de l'Isle. (CARVALHO, 1985: 59, 111).

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

evidência uma separação entre Portugal e Europa. Esse trabalho de Silva Dias é um “roteiro da marcha e contra marcha do pensamento português” que aponta para um isolamento cultural português. Por volta de 1580 [...] até quase aos fins do século XVII, não houve mais filosofia nem mais ciência em Portugal – pode dizer-se – que a dos tratadistas escolásticos. E pode dizer-se também que não houve contactos fecundos com a inteligência de além Pirinéus. O país viveu então um longo período de isolamento cultural – facto que parece não ter passado sem deixar consequências na sua história (DIAS, 1952: 458).

Apesar desse “isolamento cultural”, Silva Dias conclui que no século XVIII houve uma gradual recuperação que ocorreu anteriormente às reformas pombalinas, pois o “caminho da cultura moderna” teria sido percorrido pelos jesuítas, que “ao serem expulsos em 1759, estavam em dia com os conhecimentos científicos e achavam-se integrados no ambiente filosófico de setecentos” e seus escritos eram, “no conjunto, o que de melhor se escreveu no país, em matéria de filosofia e de ciências, entre 1580 e 1730, aproximadamente”. Portanto, podemos dizer que a Companhia de Jesus constituiu uma “ponte” com a “Europa culta”, pois estavam integrados a ela (DIAS, 1952: 455, 460). O terceiro autor que aborda a separação entre Portugal e Europa é o filósofo português Eduardo Lourenço (1923-). Em seu livro Nós e a Europa ou as duas razões de 1988, Lourenço admite a presença de um “mórbido complexo de inferioridade” em Portugal que o torna um exilado do próprio continente. No entanto, ele atribui ao século XIX, com seu romantismo e sua segunda revolução industrial, um enraizamento desse sentimento no plano cultural e criação de um cenário negativo dos séculos XVII e XVIII. É relativamente recente, mas inegável, constituindo quase uma fractura da nossa imagem cultural, o sentimento de exílio, de distanciamento e, sobretudo, de autêntico e mórbido complexo de inferioridade em relação a uma outra Europa que, na esteira das descobertas hispânicas, iria reforçar a sua revolução cultural – burguesia empreendedora, reforma religiosa, especialização científica – com a exploração económica sistemática dos nossos espaços extra-europeus. A estagnação ibérica é um facto incontestável, mas só o romantismo e, sobretudo, a segunda revolução industrial lhe conferiram, no plano estritamente cultural, essa conotação deprimente, esse sentimento de desvalia que o Portugal e a Espanha dos séculos XVII e XVIII não viveram em termos de tão dramático ressentimento e de hiperbólico fascínio (LOURENÇO, 1988: 26).

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Assim como Silva Dias, Eduardo Lourenço vê nos jesuítas (e também nas demais ordens religiosas) um ponto de integração e diálogo com a “Europa culta”. No entanto, há uma visão negativa desse diálogo, pois teria relegado Portugal às margens da Europa. Através dos Jesuítas ou das ordens tradicionais como os Beneditinos ou os Dominicanos, a específica cultura que é então a portuguesa continua o antigo e permanente diálogo com a outra Europa já implicada num tipo de aventura espiritual e científica que nos deixará, durante séculos, nas suas margens (LOURENÇO, 1988: 26).

Este artigo não possui o intuito de apresentar uma revisão historiográfica, mas mostrar que a ideia de que Portugal esteve à margem de uma “Europa culta” pode ser relativizada ao se considerar – no caso do objeto aqui estudado – as atividades dos jesuítas no século XVIII, dentre as quais estão as observações de fenômenos celestes no observatório do Colégio de Santo Antão alguns anos antes da supressão da Companhia de Jesus em Portugal em1759.

A Companhia de Jesus e o Colégio de Santo Antão O Colégio de Santo Antão foi criado em 1553 em um antigo mosteiro que servia de albergue aos membros da Companhia de Jesus em Lisboa desde 1542. O intuito dos jesuítas era estabelecer um colégio aberto não somente aos membros do clero e postulantes, mas também aos leigos. Inicialmente o colégio oferecia aulas de latim e estudo de autores latinos, de grego e de retórica, além de temas morais e religiosos. Em 1555 o padre jesuíta Francisco Rodrigues começou a ministrar aulas introdutórias à cosmologia e astronomia. Em 1590 passa a ser oferecido um curso específico de matemáticas que perdurará até o término das atividades do Colégio em 1759 com a supressão da Companhia de Jesus em Portugal4. Esse curso foi denominado “Aula da Esfera”, um termo que tem origem nos textos medievais dedicados à exposição dos princípios de cosmografia designados por tratados “da esfera”. No entanto, o curso não se limitava a cosmografia, seu programa era bem diverso e variava de acordo com o docente, mas nos seus 169 anos de funcionamento se destacaram as questões ligadas à astronomia e náutica. Aproximadamente 130 anos após o início da “Aula da Esfera”, o monarca D. João V mandou erigir dois observatórios em Lisboa, um no Colégio de Santo Antão e outro no Paço da Ribeira. Na análise do historiador Rómulo de Carvalho, D. João V estava seguindo o mesmo modelo de fomento às ciências existente na Inglaterra e na França onde

4

Ainda nos primeiros anos de funcionamento, o colégio rapidamente adquiriu fama e recebeu muitos alunos, mas apenas em 1593 um novo prédio foi construído sendo conhecido como Colégio de Santo Antão-o-Novo. Atualmente nesse prédio funciona o Hospital São José, em funcionamento desde 1759 quando os jesuítas foram exilados.

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

os reis protegiam os investigadores científicos, os honravam com sua admiração, os auxiliavam com a instalação de Gabinetes de Física, de Observatórios Astronómicos, de Jardins Botânicos. Portugal devia acompanha-los nesse progresso, e para isso o rei estava disposto a promovê-lo, tão sumptuosamente como em qualquer das suas futilidades (CARVALHO, 1985:40).

As futilidades a que se refere Carvalho também são consideradas por Álvaro Teixeira Soares, que chamou o governo de D. João V de “reinado de frivolidade” subsidiado pelo ouro e diamante brasileiros. Segundo Soares, D. João V custeava festas e presentes para amantes, para estrangeiros preeminentes e membros da corte, também realizou muitas obras públicas para exaltar o fausto da corte portuguesa como a fundação de uma Academia para artistas portugueses em Roma e a construção monumental das bibliotecas da Universidade de Coimbra e do Convento de Mafra. Essa atitude visava à construção de uma imagem luxuosa da realeza tal como fez o rei francês Luís XIV (SOARES, 1983:51-55). Apesar dessa imagem de governo fútil, a construção dos observatórios não ocorreu apenas por capricho do rei, mas está ligado a questões de demarcação dos limites entre as terras portuguesas e espanholas no continente americano. Em 1722 chegam a Lisboa dois astrônomos jesuítas italianos a convite de D. João V para, através da determinação de longitudes, verificar esses limites. O problema em questão era que o Tratado de Tordesilhas foi ignorado durante a expansão da colônia portuguesa e para o estabelecimento de um acordo entre as Coroas era necessário conhecer até onde se estendiam as terras ocupadas. Os jesuítas eram os padres Giovanni Battista Carbone e Domenico Capassi, que em Lisboa foram encarregados de montar os observatórios, exerceram a função de preceptores na corte e de conselheiros reais. Em 1726 apenas Capassi foi enviado ao Brasil na Companhia de outro jesuíta, padre Diogo Soares, que havia lecionado a “Aula da Esfera” entre 1721 e 1722. Carbone foi designado matemático régio, recebeu o título de ministro e se tornou reitor do Colégio de Santo Antão em 1749 (CARVALHO, 1985:40; BALDINI, 2004:432). Para efetuarem suas medições, Capassi e Soares, os “padres matemáticos”, adotaram como referência o meridiano do Rio de Janeiro. A consequência foi o estabelecimento de um observatório no Morro do Castelo junto ao colégio da Companhia de Jesus. Capassi faleceu em São Paulo, em 1740, e Diogo Soares em Minas Gerais, em 1748. Durante dezoito anos de trabalhos produziram 197 listas de coordenadas das capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, e mapas abrangendo a costa leste e sul, sul do Brasil e o interior até o Rio Paraná (MENEZES, 2011:3-4).

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Dessa forma, a construção dos observatórios em Lisboa e no Rio de Janeiro pode ser relacionada aos problemas de demarcação territorial da colônia. Além disso, a construção em Lisboa de dois observatórios indica um interesse pessoal do monarca pelas observações, já que um deles foi construído no Paço da Ribeira, e um interesse no fomento do ensino de Matemáticas em Santo Antão onde era ensinada a “Aula da Esfera”. Apesar da importância em ser obter assertividade em medições das coordenadas geográficas devido a problemas de fronteiras, as observações astronômicas não podem ser entendidas como orientadas unicamente para este fim. Restringir as atividades dos observatórios apenas para verificação de fronteiras pode afastar Portugal de um contexto no qual muitas questões relativas ao universo eram discutidas entre astrônomos e matemáticos de várias localidades, não apenas na Europa. De acordo com o historiador Thomas Hankins, “na segunda metade do século XVIII, tornou-se um lugar comum a ideia de que estava em curso uma Revolução Científica capaz de afectar todos os aspectos das ciências naturais”. Em outras palavras, em meados de oitocentos havia uma consciência no ocidente de que uma mudança nos métodos e nos questionamentos acerca dos fenômenos naturais estava em curso. Trata-se de um momento de verificação de novas teorias, sobretudo aquelas enunciadas por Isaac Newton (1642-1727), “e uma vez que os movimentos dos astros podiam ser medidos com grande precisão, proporcionavam o derradeiro teste das leis do movimento e da teoria da gravitação” (HANKINS, 2002:1, 37). O trabalho de Newton apresentou uma nova interpretação das leis da natureza, pois o que seria válido no mundo terrestre também valeria no celeste. No entanto, a comprovação de certas leis, como a ação da gravidade na órbita dos planetas, deveria ser verificada no próprio céu. A observação astronômica, ao longo do século XVIII, se tornou mais precisa com o desenvolvimento dos instrumentos, possibilitando a aferição das teorias e vice-versa (HANKINS, 2002: 41). Não podemos retirar os observatórios portugueses desse contexto descrito por Hankins. Uma análise das atividades do observatório de Santo Antão corrobora com isso, uma vez que as observações empreendidas no período proposto por nós – década de 1750 – foram realizadas também em outras localidades da Europa para dirimir questões acerca dos fenômenos celestes, não necessariamente concernentes a problemas de demarcação territorial, verificação de coordenadas geográficas ou elaboração de guias para navegação, como foi o objetivo do Planetario Lusitano segundo Eusébio da Veiga expos em seu prólogo.

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

As observações astronômicas no Colégio de Santo Antão As observações astronômicas que analisaremos foram realizadas por Eusébio da Veiga, que assumiu a direção do observatório do Colégio de Santo Antão no mesmo ano que assumiu a cátedra da “Aula da Esfera”, em 1753. Anteriormente a essa função, Veiga lecionou Matemáticas no Colégio de Coimbra entre 1747 e 1749. Não conhecemos as atividades exercidas por Veiga anteriores ao Colégio de Santo Antão, mas sabemos que era conhecido fora de Portugal, como mostra uma carta elogiosa do superior geral da Companhia de Jesus, Inácio Visconti, ao próprio Veiga de 1754: De quanto agora li na carta de V. Rev.cia, pude conhecer a prudência que levou o P. Provincial a colocar V. Rev.cia nesse colégio de Santo Antão, como público professor de matemática. Vejo que ele comprazera com o gênio de V. Rev.cia, inclinado para esta ciência matemática, e com o seu talento, já comprovado pela experiência. Louvo a maneira como V. Rev.cia trabalha em ressuscitar uma ciência quase sem vida, na cidade, que é capital de todo o reino, onde era menos decoroso para a Companhia ter uma cadeira, a ele confiada, e não tratar de modo nenhum de adiantar as ciências que nessa cadeira se ensinam (VISCONTI APUD RODRIGUES, 1950:420).

A falta de documentação impossibilita conhecer o conteúdo lecionado por Veiga na “Aula da Esfera”. Não identificamos escritos produzidos para as lições, nem notas feitas por alunos. Em relação às atividades desenvolvidas no observatório, há uma documentação que nos permite conhecê-las. A primeira é uma carta datada de 28 de maio de 1753 de Veiga ao astrônomo francês Joseph Nicolas Delisle com o relato da observação que fez da passagem de Mercúrio sobre o disco do Sol ocorrido em 06 de maio (CARVALHO, 1985:59). A correspondência entre Veiga e Delisle não é uma ação isolada. Com um ano de antecedência, Delisle já planejava como executaria suas observações da passagem de Mercúrio e instruía outros astrônomos como proceder, entre os quais está o padre oratoriano João Chevalier, responsável pelo observatório da Casa das Necessidades em Lisboa. Chevalier também era intermediário entre Delisle e os jesuítas, distribuindo as instruções que recebia (CARVALHO, 1985:72; CARVALHO, 1996:276). Desde a segunda metade do século XVII, astrônomos têm observado a passagem dos planetas Mercúrio e Vênus sobre o disco solar – fenômeno também conhecido como trânsito – para mensurar a distância entre a Terra e o Sol. O método para isso foi aperfeiçoado por Edmond Halley após sua observação da passagem de Mercúrio sobre o Sol em 28 de outubro

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

de 1677 na Ilha de Santa Helena, um território inglês situado no meio do Oceano Atlântico Sul. De acordo com Ronaldo Mourão Usando várias observações dessa passagem, obtidas em diferentes sítios ao redor do mundo, Halley calculou a paralaxe de Mercúrio em relação ao disco solar, obtendo desse modo a distância do Sol. O valor encontrado foi bastante inexato, pois Mercúrio se acha muito distante da Terra. No caso de Vênus, que está próximo, o deslocamento, ou seja, a paralaxe, seria maior e a precisão alcançada bem superior (MOURÃO, 1993: 140).

O método proposto por Halley foi publicado em 1716 nas Philosophical Transactions da Royal Society de Londres. Apesar de ter sido elaborado a partir da observação de Mercúrio, o método recomendava a observação de Vênus por estar mais próximo da Terra. O método de Halley depende da consideração de dois triângulos similares, ambos com o vértice em Vênus, sendo que um triângulo tem como base dois observadores na Terra e o outro as projeções de Vênus no Sol conforme vistos por estes observadores (HELDEN, 1995:154; MOURÃO, 1993:140-141). A recomendação de Halley em utilizar esse método em Vênus não exclui seu uso em Mercúrio. Dessa forma, podemos entender o interesse de Delisle em manter contato com vários astrônomos: quanto mais observadores, maior será a variedade de triângulos formados para mensurar a distância entre a Terra e o Sol, ocasionando melhor assertividade nos cálculos. Também devemos considerar que houve um incremento na precisão dos instrumentos desde 1716, o que poderia minimizar os problemas oriundos pequeno ângulo da paralaxe de Mercúrio. Eusébio da Veiga e o observatório de Santo Antão estavam inseridos nessa empresa pela busca da precisa distância entre a Terra e o Sol. Aliás, essa busca era a preocupação de muitos dos proeminentes e conhecidos astrônomos do século XVIII, conforme aponta as Mémoires de mathématique et de physique publicadas pela Académie des Sciences de Paris em 1757 com os relatos da observação do trânsito de Mercúrio de César-François Cassini, Pierre Charles de Le Monnier, Pierre Bouguer, Guillaume Le Gentil e Alexandre Guy Pingré, além de Delisle. A importância em ser obter a correta distância entre a Terra e o Sol está relacionada com os vários questionamentos acerca dos movimentos dos planetas. Desde Copérnico, no século XVI, essa distância se tornou a principal referência para o estudo da mecânica celeste dentro do sistema solar, pois o Sol é o centro das órbitas. No século XVIII, as mensurações estão mais acuradas, devido à precisão dos instrumentos e dos novos conhecimentos, sobretudo após as teorias de Newton. O método de Halley tem como base teórica a terceira lei Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

acerca dos movimentos planetários de Johannes Kepler5, formulada em 1619 e aperfeiçoada pela teoria da gravitação universal de Newton em 1687. Como dito por Hankins, a observação astronômica no século XVIII aplicava e verificava as novas teorias, não estando o observatório do Colégio de Santo Antão fora deste contexto. As demais observações empreendidas por Eusébio da Veiga também demonstram isso. Ainda em 1753, sabemos que Eusébio da Veiga observou o raro fenômeno da ocultação de Vênus pela Lua em 27 de julho e o eclipse solar de 26 de outubro. Os relatos dessas observações estão em um documento, com apenas duas páginas, intitulado Observatio Eclipsis Solaris, publicado no mesmo ano e posteriormente anexado ao Planetario Lusitano em 1758. No relato sobre a ocultação de Vênus, disposto na segunda página de Observatio Eclipsis Solaris, Veiga registra os momentos em que o planeta é totalmente encoberto pela Lua e de seu reaparecimento. Em seguida, apresenta o registro do aparecimento e da ocultação pela Lua de duas estrelas que ocorreu de forma simultânea a ocultação de Vênus, uma estrela situada na constelação de Libra com magnitude α, outra localizada “em frente a Capricórnio” com magnitude β6. Nas Mémoires da Académie des Sciences, há dois relatos desses mesmos fenômenos: Guillaume Le Gentil relatou a observação da ocultação da estrela β situada em Capricórnio, Giovanni Domenico Maraldi relatou a ocultação de Vênus e de uma estrela ε situada na constelação de Touro. O estudo do movimento dos astros, como os planetas e os cometas, tem as estrelas como principal referência. A localização das mesmas poderia ser aferida através da observação de fenômenos como a ocultação ou a conjunção. Além disso, a indicação correta da localização das estrelas também implicava na atividade náutica, pois no mar os astros são as únicas referências (WILLIAMS, 1983:378). As observações dos eclipses empreendidas por Eusébio da Veiga também podem ser entendidas como uma verificação das distâncias entre os objetos celestes internos ao sistema solar e das próprias leis de Newton. Como dito, temos notícias de que Veiga observou o eclipse solar de 26 de outubro de 1753, o eclipse parcial da Lua de 27 de março de 1755; e eclipse parcial da Lua de 30 de julho de 1757. Para demonstrar a importância dos eclipses para a astronomia, citaremos duas cartas do astrônomo inglês Richard Dunthorne dirigidas a Richard Mason, ambas publicadas nas A terceira lei de Kepler estabelece que “os períodos de revolução ao redor do Sol – ou seja, a duração do ano – de um planeta qualquer são proporcionais aos cubos de suas distâncias ao Sol”. “Esta lei constitui um elo de ligação de todos os planetas entre si” (MOURÃO, 1993:138). 6 As magnitudes referidas por Veiga foram retiradas do catálogo de Johann Bayer de 1603. Cada letra grega corresponde a determinada magnitude aparente da estrela. 5

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Philosophical Transactions. A primeira carta é de 04 de novembro de 1746 e fala sobre o movimento lunar. Dunthorne diz que as tabelas que havia calculado acerca da órbita da Lua tinham o propósito de ser uma referência a quem que desejasse retificar a astronomia lunar e verificar se as teorias newtonianas eram condizentes com o observado no céu (DUNTHORNE, 1746). A segunda carta é de 28 de fevereiro de 1748 e fala sobre a aceleração da Lua, sua principal preocupação. Segundo Dunthorne, seguindo um modelo criado por Halley, a variação de aceleração da órbita lunar deveria ser estudada a partir de comparações entre vários relatos de observações, inclusive aquelas que ocorreram décadas ou séculos atrás (DUNTHORNE, 1749). As observações dos eclipses de 1755 e 1757 foram realizadas em conjunto com outros observadores ligados aos colégios jesuítas em Portugal. Os relatos de ambos foram publicados e posteriormente anexados ao Planetario Lusitano. O relato do eclipse lunar de 1755, com o título de Eclipsis Partialis Lunae, mostra que Veiga observou em parceria com o jesuíta Dionísio Franco do Colégio de Évora. O relato do eclipse de 1757, intitulado Observatio Lunaris Eclipseos, mostra que além de Franco, o jesuita Bernardo de Oliveira no Colégio de Coimbra também partilhou suas informações. Outra observação empreendida por Veiga que situa o observatório de Santo Antão no cenário de discussões astronômicas do século XVIII, é a observação dos satélites de Júpiter. A partir de 1610, com a publicação de Sidereus Nuncius de Galileu Galilei, a observação dos eclipses desses satélites se tornou o método mais eficaz para determinação da longitude. Sobre os satélites, Eusébio da Veiga apresenta a seguinte explicação: Movem-se à roda de Jupiter quatro planetilhas, a que chamamos Satellites, porque lhe servem como de guardas, acompanhando-o sempre em gyros. Estes satellites, e o mesmo Jupiter, como todos os mais Planetas, recebem a luz do Sol, por isso quando no seu gyro encontrão com a sombra de Jupiter, perdem a luz, pois entre elles, e o Sol se entremette o mesmo Jupiter. A esta falta de luz chamamos Immersão dos satellite na sombra. Continuando no seu gyro immersos na sombra, sahem finalmente della, e recuperando a luz perdida, apparecem vistosos, e brilhantes com os novos resplendores do Sol. A esta nova apparencia dos satellites chamamos Emersão do satellite, ou sahida da sombra. São muito uteis as observações dos satellites, que no mesmo ponto de tempo, em diversos lugares da terra, são vistos entrar, ou sahir da sombra, porque por este modo, que entre os Astronomos he o mais certo, e exacto, se conhece a verdadeira distancia dos Meridianos em tempo, e em gráos, convertando as partes do tempo em partes do circulo pela Taboa competente, que no seu lugar se propõe. Com hum Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

bom telescopio de seis, ou sete palmos se descobrem à nossa vista os satellites; porèm para os observar com certeza he necessario usar de hum telescopio de dezoito palmos, ou mais (VEIGA, 1758, PLANETARIO EXPLICADO:42-43).

No entanto, a observação desses satélites teve outras utilidades no campo da astronomia. Em 1676, o astrônomo dinamarquês Ole Christensen Rømer verificou que o primeiro satélite de Júpiter iniciou seu eclipse com aproximadamente 17 minutos de atraso, apesar dos cálculos previamente feitos. A explicação encontrada foi que a luz emanada do satélite percorreu uma distância maior devido ao ponto da órbita de Júpiter. Assim, Rømer constatou que a luz possui uma velocidade finita. Apenas em 1728, James Bradley determinou um valor para essa velocidade (BOBIS; LEQUEUX: 2008). O fato de Veiga não mencionar essa descoberta no Planetario Lusitano, não indica que ele desconhecesse. Aliás, os eclipses dos satélites de Júpiter eram recorrentes, possibilitando várias observações e comparações. Em 1755, Veiga empreendeu a observação do segundo satélite em parceria com o jesuíta Dionísio Franco do Colégio de Évora: Aos 21 de Maio de 1755 observou em Evora hum Mathematico Jesuita a emersão do segundo satellite de Jupiter, e succedeo de manhã 0h 2’ 2”. Esta mesma emersão foi observada por outro Jesuita na Especula do Collegio de Santo Antão, e succedeo no dia 20 às 11h 56’ 9”. A differença do tempo destas observações he 5’ 53”, e esta he a distancia temporaria, com que Evora está mais ao Oriente a respeito de Lisboa, que convertida em partes de circulo dá hum gráo 15’, e 15” [...] Concorda esta differença temporaria de Lisboa a Evora com a que constituimos na folha impressa da observação do fim do eclipse da Lua, observado aos 27 de Março de 1755 nos ditos lugares pelos mesmos Mathematicos (VEIGA, 1758, PLANETARIO EXPLICADO: 43).

Podemos concluir que havia uma dinâmica no Colégio de Santo Antão em consonância com as discussões acerca do universo presente em outras localidades da Europa. Considerar que os jesuítas em Portugal no século XVIII eram limitados ou apenas se preocupavam com questões concernentes a demarcação de território oi técnicas náuticas podem obscurecer seu lugar na chamada “ciência moderna” que se desenvolvia desde os dois séculos anteriores. Não queremos dizer que as questões relacionadas as determinações de coordenadas geográficas eram simples e de importância secundária, mas pretendemos deixar claro que consistiam em uma das atribuições e habilidades dos matemáticos jesuítas presentes em Portugal no século XVIII.

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

Bibliografia Fontes ACADÉMIE DES SCIENCES. Mémoires de mathématique et de physique. In Histoire de l'Académie royale des sciences. Paris: Imprimerie royale, 1757. DUNTHORNE, Richard. A Letter from Mr. Richard Dunthorne, to the Rev. Mr. Cha. Mason, F. R. S. and Woodwardian Professor of Nat. Hist. at Cambridge, concerning the Moon's Motion. Philosophical Transactions. 1746, 44, p. 412-420. _____________. A Letter from the Rev. Mr. Richard Dunthorne to the Reverend Mr. Richard Mason F. R. S. and Keeper of the Wood-Wardian Museum at Cambridge, concerning the Acceleration of the Moon. Philosophical Transactions. 1749, 46, p. 162-172. VEIGA, Eusébio. Planetario Lusitano. Lisboa: Officina de Manescal da Costa, 1758. Bibliografia Geral ALVES, Jefferson dos Santos. O Planetario Lusitano de Eusébio da Veiga e a Astronomia em Portugal no século XVIII. Dissertação de mestrado em História. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2013. BALDINI, Ugo. The teaching of Mathematics in the Jesuit Colleges of Portugal, from 1640 to Pombal. In: LEITÃO, Henrique; SARAIVA, Luís (ed.). The Practice of Mathematics in Portugal:

Papers

from

the

International

Meeting.

Coimbra:

Acta

Universitatis

Conimbrigensis, 2004. p. 293-465. BOBIS, Laurence; LEQUEUX, James. Cassini, Romer and the velocity of light. Journal of Astronomical History and Heritage, 11(2), 2008, p.97-105. CARVALHO, Rómulo. A Astronomia em Portugal no Século XVIII. Lisboa: ICLP, 1985. _____________. Actividades Científicas em Portugal no Século XVIII. Évora: Universidade de Évora, 1996. _____________. Colectânea de Estudos Históricos (1953-1994). Évora: Universidade de Évora, 1997.

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Anais Eletrônicos do 14º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia – 14º SNHCT

DIAS, José Sebastião da Silva. Portugal e a Cultura Europeia (sécs. XVI a XVIII). Biblos, XXVIII, 1952, p. 203-498. HANKINS, Thomas L. Ciência e iluminismo. Trad. Ana Sampaio. Porto: Porto Editora, 2002. HELDEN, Albert Van. Measuring solar parallax: the Venus transits of 1761 and 1769 and their nineteenth-century sequels. In: TATON, René; WILSON, Curtis (orgs.). The General History of Astronomy. Cambridge: Cambridge University Press, 1995; v. 2 (Part B: The eighteenth and nineteenth centuries), p. 153-168. LOURENÇO, Eduardo. Nós e a Europa ou as duas razões. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988. MENEZES, Paulo. Márcio. Leal de. A Cartografia do Império do Brasil. In: IV SIMPÓSIO LUSO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA HISTÓRICA. 2011. Porto. Anais... Porto: Universidade do Porto, 2011. v. 1. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Eclipses, da superstição à previsão matemática. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 1993. QUENTAL, Antero de. Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos. 1871. RODRIGUES, Francisco. História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal: Virtude, Letras e Ciências. A Província Portuguesa no século XVIII 1700-1760. Porto: Livraria apostolado da imprensa, 1950. Tomo 4. SOARES, Álvaro Teixeira. O Marquês de Pombal. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1983. WILLIAMS, M. E. W. Was there such a thing as stellar astronomy in the eighteenth century? History of Science, 21, p.369-388, 1983.

Belo Horizonte, Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG 08 a 11 de outubro de 2014 | ISBN: 978-85-62707-62-9

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.