AS AVENTURAS E DESVENTURAS DA PRIMAVERA.docx

May 25, 2017 | Autor: Nathalie Armindo | Categoria: Literatura Infantil
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As Aventuras e Desventuras da Primavera



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AS AVENTURAS E DESVENTURAS DA PRIMAVERA
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Nathalie ArmindoNathalie Armindo
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1
Ninguém sabia porquê, mas a Primavera andava zangada e quase ninguém lhe ouvia uma palavra. Nenhuma das outras estações do ano, nem os elfos e fadas e duendes, quiseram saber a razão de tamanha preocupação.

2
Sem bem saberem como, nem quando, a Primavera desapareceu. Não deixou bilhete explicativo, nem uma simples despedida. Deixou para trás o conforto do seu lindo palácio e foi pelo Mundo fora.

3
Era a sua primeira Aventura e não sabia o que esperar. Só sabia que ia conhecer o Mundos dos Humanos, chegar e fazer-se anunciar. Bom, talvez… Não sabia como seria recebida, mas as outras estações cada vez tomavam mais espaço, entravam em conflito e faziam-na sempre chegar tarde.

4
Lembrava-se que anos atrás nem lhe tinham permitido ocupar o seu lugar no Calendário Gregoriano. Na Terra, ainda que os Humanos se tivessem apercebido disso, continuaram com as suas rotinas.



5
A Primavera, que sempre fora extremamente alegre, tornou-se triste e zangou-se com os seus irmãos. Daí ter fugido do seu Mundo sem dizer nada! Ia visitar o Planeta Azul.

6
Quando planeava a viagem, pensou em se transformar na mitológica deusa Perséfone. Fazia todo o sentido, pois Perséfone é a deusa das ervas, flores, frutos e perfumes. Sabia que na Terra as mulheres tanto podiam andar de burca, como de xaile, ou ainda serem modernas. Para melhor conhecer os Humanos optou por não se materializar. Queria observar e aprender sem ser vista.

7
Assim, a Primavera decidiu transformar-se em nuvem. Poderia viajar para onde quisesse, quando quisesse sem ser muito notada. Assim fez. E partiu. Deixou-se levar pelos ventos suaves e tranquilos que a conduziam até ao Planeta Azul. Não ia sozinha, claro. Acompanhavam-na outras nuvens. Todas pareciam felizes com a viagem.

8
A nossa Primavera-Nuvem sentia-se leve, leve, leve e sentia-se bem por ir ao sabor dos ventos. Era branquinha e fofinha como o algodão. Pareciam quase todas iguais, mas não eram. As preguiçosas viajavam deitadas. As graciosas pareciam figuras de uma qualquer história. As envergonhadas eram muito encolhidas e metidas consigo mesmas. As belas exibiam belas formas humanas. A nossa Primavera pertencia a este último grupo.

9
Sem darem por isso pairavam sobre a Terra. Foi aí que a Primavera se afastou do grupo em busca de nova aventura. Continuou a deixar-se levar pelos ventos suaves e foi descendo de altitude para melhor observar os Humanos.

10
Primeiro visitou as Américas e ficou muito surpreendida com a diferença da morfologia da terra, da vegetação e dos rios, lagos e cascatas. Gostou imenso, imenso da Amazónia. Foi muito feliz ali.

11
Para conviver com os povos indígenas e mestiços, resolveu afinal materializar-se. Como deusa Perséfone, poderia aprender e ver muito mais de perto as belezas raras do Paraíso. Merecia passar ali alguns dias.

12
- Que lindo! – dizia Perséfone encantadíssima com a fauna e a flora. – Mereço fazer parte deste Mundo Maravilhoso.
- Pois pode pertencer. – disse o Índio Piripkura. – Que fazes nesta Floresta Equatorial?
- Sei que não devia dizer nada, mas eu não sou quem tu pensas. Não faço parte do povo que te perseguiu. Sou a Primavera disfarça de "Humana".
- Não é perigoso para ti andares por aqui sozinha? Por que vieste?
- Estou zangada com os meus irmãos Verão, Outono e Inverno. Eles não deixam que eu exista como estação. Logo eu, a Primavera. Como é aqui a Primavera?
- É linda! É floral e a floresta enche-se de aromas naturais, há mais sol durante mais horas e as temperaturas são amenas, mas ainda assim chove bastante.

13
- Ainda bem que eu existo aqui. Fico tão feliz!
- Nós também pela tua visita Primavera.
- Tenho de continuar a minha longa viagem. Onde vais agora? – quis saber o índio.
- Vou passar pela América Central e depois sigo para a América do Norte.
- Posso fazer-te mais uma pergunta?
- Claro, Primavera.
- É só para confirmar. Quais os meses em que eu vos visito?
- O Equinócio da Primavera é a vinte e três de Setembro.
- Como sabes?
- Pela transformação da Natureza que é para mim um livro aberto.
- Obrigada, muito obrigada por me ter ouvido e esclarecido. Aqui sei que existo. Estou muito feliz.
E despediram-se.

14
A nossa Primavera voltou a transformar-se em nuvem e continuou a sua viagem rumo à América Central. Decidiu parar no México e materializar-se novamente de deusa Perséfone. Assim que chegou a Teotihacan, muito visitado pelas suas pirâmides, sentiu-se incomodada. Todos a olhavam com admiração. O que era natural. A deusa Perséfone era muito bela. Era alta, cabelos castanhos-escuros longos, olhos azuis, pele clara e muito tranquila.
Saiu de Teotihacan sem ver os monumentos, nem falar com ninguém. Alguns turistas homens foram mesmo muito indelicados.
Para espanto de todos transformou-se em ave e voou para bem longe.

15
Pensava visitar as Cataratas de Niagara nos Estados Unidos e no Canadá e passar algum tempo no Canadá. Chegou em pleno Inverno. Havia um grande nevão nas principais cidades e as temperaturas tinham baixado trinta graus abaixo de zero. Mas essa tempestade não a impedia de continuar a sua missão: descobrir se ali havia Primavera. Traria um pouco dessa mesma estação com a sua presença.
Descobriu que o mês em que começava o seu reinado era Março e que as estações estavam muito bem definidas.
A Primavera ao ouvir estas últimas informações deu pulos de alegria. Ela existia em todo o seu esplendor. E despediu-se.

16
- Olá. – disse uma voz.
- Olá. – respondeu a Primavera.
- Tens gostado da tua viagem? Tens feito progressos?
- Que interrogatório é este? Quem és tu?
- Não me conheces, maninha.
- Desculpa Outono. Como me descobriste?
- Consultei o nosso Oráculo secreto. A profetisa mandou-me vir ter contigo, pois viu-te algo aflita.
- Ó meu mano querido, és um anjo.
- E tu o meu.
E abraçaram-se num abraço longo e cheio de amor.

17
- Por onde andaste? Já estive nas Américas! Só não gostei do México. Parecia que os homens me iam devorar.
- Minha doce Perséfone, por vezes é perigoso viajar sozinho.
- Descobri por mim mesma esse perigo. Vens fazer-me companhia?
- Gostava, mas não posso. É a tua viagem de descoberta. Trouxe-te dois amuletos que te representam. Qual queres?
O Outono mostrou-lhe uma medalha com uma romã desenhada e um fio e uma pulseira com um cervo.
A Primavera escolheu o fio com a romã. O irmão colocou-lhe o fio ao pescoço e beijou-a nas maçãs do rosto. No dia seguinte partiu para se juntar aos seus irmãos antes que dessem pela sua ausência.

18
Ao raiar do sol, Primavera dirigiu-se para a Antártida. Para mais depressa lá chegar transformou-se novamente em nuvem. À medida que se aproximava da Antártida era levada por um vento forte, frio e ameaçador.
Assim que pôde, transformou-se em Perséfone. Desta vez o culpado de se sentir enregelada e levada pelo vento era o seu irmão Inverno, que nem sequer lhe apareceu para a ajudar.
A paisagem da Antártida era um gigantesco deserto branco e muito frio.
- Inverno. Ó Inverno, onde estás? Sou a tua irmã Primavera? Não tens saudades minhas?
O que Perséfone ouviu foi o silêncio frio e gelado. Decidiu partir rapidamente para outro continente. Qual? Logo decidiria. Ia para um continente onde sempre a tinham mimado.
- Adeus, Inverno. Quando chegar a casa, faço contas contigo.


19
E para onde foi a nossa querida Primavera? Pois bem, decidiu-se pela Ásia. Pena não poder visitar todos os países. Assim, optou por visitar a Índia, a China profunda, o Japão e o Nepal.
Na Índia misturou-se com as crianças que brincavam no rio Ganges. Falou com elas e partilhou alguns segredos com elas.
- Como és linda!- Disse uma menina com uns olhos muito vivos.
- Tu também és. – respondeu a Primavera. – E muito simpática como os teus amiguinhos.
- És tão diferente de nós. – acrescentou um rapazinho.- Nós somos morenos e de olhos escuros. Tu és tão branquinha…
- As diferenças de pele não interessam. Estou a adorar estar aqui convosco.
- Vais mergulhar connosco?- perguntou outro rapaz.
- Claro! Vou purificar-me como vocês.
- Urra!
E mergulharam no rio Ganges e chapinharam na água.
Antes de partir, Perséfone chamou-os à parte e disse-lhes quem era. Isto é, que era a Primavera. Os meninos riram-se. Então brotaram flores das suas mãos com as quais fez grinaldas e ofereceu-lhas. Todos ficaram surpreendidos e ainda incrédulos.

20
De visita à China profunda, a Primavera ficou surpreendida com tantos terraços de arrozais. O verde dos campos era lindo! No entanto, algo entristeceu a Primavera de tal forma que os seus olhos se cobriram de lágrimas.
Viu centenas de crianças, entre os dez e os catorze anos a trabalhar, dez ou mais horas, por turnos. "Quando é que estas crianças podiam ser crianças? Não podiam, claro! Será que iam à escola?", perguntou a Primavera para si mesmo.
Incapaz de continuar a ver tamanha exploração infantil, partiu rumo a outras paragens. Ainda assim espalhou flores de céu e todos olharam para aquela estranha nuvem. Sorriram.

21
No Japão tudo era diferente. A Primavera sentiu-se transportada para outro mundo. Tudo era magnífico e mágico. Tudo era beleza e tranquilidade. Admirou as linhas de arbustos em forma de rolo conseguidas ao longo de décadas e as cerejeiras que, quando florescem, têm os ramos pendentes em forma de mão e criam leques fantásticos. Encantou-se com lagos e pontes e trilhos de pedra.
Subitamente, a Primavera viu aproximar-se um ancião e instantaneamente transformou-se em Perséfone. Em pouco tempo, com os seus passinhos curtos, foi ter com a bela Perséfone.
Uniu as mãos ao nível do coração e curvou-se em jeito de cumprimento e sinal de boas-vindas. Perséfone fez o mesmo e manteve-se calada em sinal de respeito.
- Por que estais aqui, bela senhora.
- Vim descobrir se a Primavera tem um lugar no Japão.
- É das estações mais floridas. Digo-lhe que as estações são bem definidas neste país.
- Como sou aqui? – deixou escapar Primavera.
- Como dissestes?
- Desculpe, Queria saber como é a Primavera neste lindo país de jardins magníficos?
- É uma paleta de cores e aromas. Tudo desabrocha. As cerejeiras vestem-se de flores matizadas e folhas, as flores das ameixeiras japonesas também são lindas.
- Também vi camélias vermelhas, glicínias lilás, hortênsias belíssimas, azáleas de várias cores, flores de lis. Dos arbustos encantou-me olhar para os buxinhos redondos, os bambus, os bonsais nos lagos.
- Como sabeis tanto sobres as flores e os arbustos dos nossos jardins? Vejo que não sois daqui, mas de terras distantes.
- Sabe, sou observadora e muito curiosa, por isso aprendo tudo o que me dizem ou leio.
- Muito bem. Fico impressionadíssimo com a vossa cultura. Quereis saber mais alguma coisa, antes de irmos beber um chá?
- Quando é que é aqui a Primavera.
- Como disse, aqui as estações estão bem definidas. A Primavera neste recanto do planeta vai de vinte, vinte um de Março e termina a vinte e um de Junho. No primeiro dia de Primavera é feriado no nosso país.
- Sei que se realiza o Hanami, o Festival de Sakurá. Observam-se as flores das cerejeiras. É um Festival extraordinário!
- Como sabeis? – quis saber o ancião.
- Porque venho cá todos os anos. Não é evento que se possa perder.
- Há algo de misterioso em vós, mas não sei dizer o que é. Parece-me que estou a ter uma revelação.
- Não há nada, Tatsuo.

- Como sabe o meu nome então?
- Porque de acordo com o nosso encontro, sois sábio e lúcido. É o que o seu nome significa. Ou enganei-me?
- Não, estais certíssima. Hum, sei quem sois. Sois Perséfone! Claro que sabeis tudo sobre a Primavera se sois ela mesma. Obrigada pela visita. Sois linda e maravilhosa.
- Obrigada. Vamos então ao nosso chá? – perguntou a Primavera para se esquivar de mais perguntas.
- Com certeza! Vamos.

22
E a viagem continuou e a nuvem-Primavera foi até aos Nepal. Já sabia que tinham ocorrido dois terramotos e que muitas pessoas tinham morrido, outras tinham desaparecido, havia muitos feridos e os sobreviventes viviam em constante sobressalto.
Ali não teve coragem de materializar-se em Perséfone. Continuou a ser uma nuvem. Mas desta vez era uma nuvem bem pequenina. Visitou os feridos e doentes nos hospitais de campanha, pois tudo havia sido destruído.
Nas camas dos mais velhos colocou calêndulas amarelas, na dos mais jovens calêndulas laranjas e na das crianças, calêndulas matizadas. O perfume das calêndulas aliviava a dor e prevenia evitava infeções em ferimentos.
Aquela enfermaria e outras improvisadas ficaram bem coloridas e ninguém conseguiu explicar o que tinha acontecido.
Ali não havia perguntas, só respostas visíveis e invisíveis. E a Primavera saiu dali com o coração apertado. Tudo havia de correr pelo melhor.

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Ainda com as imagens de destruição de todo um património cultural e o sofrimento dos habitantes na sua mente, a Primavera foi até à Oceânia. Não sabia que países ou ilhas visitar. Talvez fosse até às Ilhas Fiji, à Nova Zelândia e se tivesse tempo, ainda daria um saltinho até à Austrália.
Como o mar era azul turquesa e transparente e o céu tão azul! Até se viam os corais. Que belas paisagens! E quantas Ilhas! Naquele paraíso, a Primavera sabia que existia de Setembro a Novembro.
Do alto, a nuvem-Primavera viu paisagens de cortar o fôlego, casais românticos, muitos turistas. Eram ilhas muito pouco seguras para alguém como a Primavera.
Foi por isso que nem se materializou, nem conviveu com os humanos.
Voou então até à Nova Zelândia.

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