As cantigas de Joám de Cangas (edição digital) [2004]

July 4, 2017 | Autor: J. Montero Santalha | Categoria: Poesia trovadoresca galego-portuguesa
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As cantigas de Joám de Cangas Joám de Cangas [= Tav 65]: Biografia. A um trovador chamado «Joám de Cangas» assignam os cancioneiros três cantigas, todas de amigo. Sobre este trovador não dispomos doutra informação biográfica que a que podemos deduzir das suas próprias composições poéticas. O nome «Joám de Cangas», por carecer de patronímico, sugere que devia de ser um humilde jogral. A colocação das suas composições numa zona dos cancioneiros que tem sido denominada como «Cancioneiro de jograis galegos» (por reunir cantigas compostas provavelmente por trovadores que eram jograis de profissão, e de procedência galega) pode tomar-se como confirmação desta conjectura. Por outra parte, a indicação «de Cangas» assinala procedência geográfica. Apesar de que o topónimo Cangas se repete meia dúzia de vezes na Galiza (nos concelhos de Bergondo, Cangas, Cesuras, Foz, Lalim e Pantom), resulta quase segura a identificação com a povoação desse nome situada na península do Morraço, na beira setentrional da ria de Vigo, por aparecer nas suas cantigas repetidamente alusão à ermida de São Mamede do Mar (nos textos “Sam Momede do Mar”: 1286.7), que devemos identificar com a ermida dessa advocação que se encontra na freguesia de Beluso (pertencente hoje ao concelho de Bueu, contíguo ao de Cangas). Como acontece com os restantes trovadores incluídos no hipotético “Cancioneiro de jograis galegos”, não há referências seguras para a sua ubicação cronológica: de maneira geral, podemos supor que deveu de viver pela segunda metade do século XIII ou pelos inícios do XIV. Obra poética: 3 cc., de amigo (cc. 1284-1286): 1) «Em Sam Momed’, u sabedes» (Ba 1267, V [873]) irR [= Tav 65,2]: cant. 1284. 2) «Fui eu, madr’, a Sam Momed’, u me cuidei» (Ba 1268, V [874]) irR [= Tav 65,3]: cant. 1285. 3) «Amigo, se mi gram bem queredes» (Ba 1269, V [875]) irR [= Tav 65,1]: cant. 1286.

#Joám de Cangas 1 [= 1284 = Tav 65,2] «Em Sam Momed’, u sabedes» (Ba 1267, V [873]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se à mãe, a rapariga intenta com distintos argumentos de grande finura psicológica convencê-la de que a deixe ir encontrar-se com o amigo na ermida de São Mamede]. I

1 3 5

II

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III

11 13

Em Sam Momed’, u sabedes que viste-lo meu amigo, hoj’ houver’ a seer migo: mià madre, fé que devedes, leixedes-mi_o ir veer! O que vistes esse dia andar por mi mui coitado, chegou-m’ ora seu mandado: madre, por Santa Maria, leixedes-mi_o ir veer! Pois el foi d’ atal ventura que sofreu tam muito mal por mi, e rem nom lhi val, 1

15 IV

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mià madre, e por mesura, leixedes-mi_o ir veer! Eu serei por el coitada, pois el é por mi coitado: se de Deus hajades grado, madre bem-aventurada, leixedes-mi_o ir veer!

Nota(s): A rima ado aparece repetida nas estrofes segunda e quarta, em ambas como rima ]b[.

#Joám de Cangas 2 [= 1285 = Tav 65,3] «Fui eu, madr’, a Sam Momed’, u me cuidei» (Ba 1268, V [874]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se ainda à mãe (a qual, ao parecer, dera uma resposta afirmativa à súplica da cantiga precedente), a rapariga, de regresso de São Mamede, manifesta a sua decepção porque o amigo não foi, e desculpa a sua ausência culpabilizando-se a si mesma]. I

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II

8 10 12 14

III

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Fui eu, madr’, a Sam Momed’, u me cuidei que veéss’ o meu amig’, e nom foi i. Por mui fremosa, que triste m’ ém parti! E dix’ eu como vos agora direi: “– Pois i nom vem, sei ũa rem: por mi se perdeu, que nunca lhi fiz bem”. Quand’ eu a Sam Momede fui e nom vi meu amigo (com que quisera falar, a mui gram sabor, nas ribeiras do mar), sospirei no coraçom e dix’ assi: “– Pois i nom vem, sei ũa rem: por mi se perdeu, que nunca lhi fiz bem”. Depois que fiz na ermida oraçom e nom vi o que mi queria gram bem, com gram pesar filhou-xi-me gram tristém, e dix’ eu log’ assi [aqu]esta razom: “– Pois i nom vem, sei ũa rem: por mi se perdeu, que nunca lhi fiz bem”.

Nota(s): A rima i aparece repetida nas estrofes primeira (rima ]b[) e segunda (rima ]a[).

2

#Joám de Cangas 3 [= 1286 = Tav 65,1] «Amigo, se mi gram bem queredes» (Ba 1269, V [875]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se ao amigo, a rapariga (que na cantiga precedente o desculpava de não ter acudido ao encontro estabelecido entre ambos na ermida de São Mamede do Mar) pensa agora que ele lhe mentiu e convida-o novamente insistinto-lhe que desta vez não falte]. I

1 3

II

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III

7 9

Amigo, se mi gram bem queredes, id’ a Sam Momed’ e veer-m’-edes: hoje nom mi mençades, amigo. Pois mi_aqui rem nom podedes dizer, id’ u hajades comigo lezer: hoje nom mi mençades, amigo. Serei vosc’ em Sam Momede do Mar, na ermida, se mi_o Deus aguisar: hoje nom mi mençades, amigo.

3

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