As cantigas de Joám de Requeixo (edição digital) [2004]

July 4, 2017 | Autor: J. Montero Santalha | Categoria: Poesia trovadoresca galego-portuguesa
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As cantigas de Joám de Requeixo Joám de Requeixo [= Tav 67]: Biografia. Requeixo é topónimo frequente assim na Galiza como em Portugal (só na Galiza há meio cento de localidades com esse nome), de modo que por esse único dado não poderíamos situar a procedência geográfica do trovador, nem sequer aproximada. Porém, a coincidência com o facto de que nas suas cantigas ocorre repetidamente a referência à ermida de Santa Maria de Faro torna provável que o Requeixo do nome do trovador seja a freguesia assim chamada no concelho de Chantada, já que no território dessa freguesia existe uma antiga ermida de Santa Maria do Faro, de grande veneração popular na comarca desde há séculos. A ermida está situada em lugar pitoresco, no alto de um dos montes da Serra do Faro, no centro geográfico da Galiza. Joám de Requeixo devia de ser um jogral, e esta conjectura vê-se confirmada pela colocação das suas cantigas no “Cancioneiro de Jograis Galegos”. Como acontece com os restantes trovadores incluídos nesse grupo, não é segura a sua ubicação cronológica: de maneira geral, podemos supor que deveu de viver pela segunda metade do século XIII ou até pelos inícios do XIV. Algum Joám de Requeixo documenta-se no século XIII na zona central da Galiza, mas o desconhecimento do patronímico do trovador não nos permite ter a segurança de que se trate da mesma pessoa. Obra poética: 5 cantigas, todas de amigo (cc. 1305-1309): 1) «Fui eu, madr’, em romaria a Faro com meu amigo» (Ba 1289, V [894]) irR [= Tav 67,4]: cant. 1305. 2) «A Far[o], um dia» (Ba 1290, V [895]) irR [= Tav 67,1]: cant. 1306. 3) «Pois vós, filha, queredes mui gram bem» (Ba 1291, V [896]) irR [= Tav 67,5]: cant. 1307. 4) «Atender quer’ eu mandado que m’ enviou meu amigo» (Ba 1292, V [897]) irR [= Tav 67,3]: cant. 1308. 5) «Amiga, quem hoj’ houvesse» (Ba 1293, V [898]) irR [= Tav 67,2]: cant. 1309.

Joám de Requeixo 1 [= 1305 = Tav 67,4] «Fui eu, madr’, em romaria, a Faro com meu amigo» (Ba 1289, V [894]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga confidencia à mãe a alegria com que volta da romaria de Faro, porque o amigo jurou-lhe que morria de amor por ela]. I 2 4 II 6 8 III 10 12

Fui eu, madr’, em romaria | a Faro com meu amigo e venho del namorada | por quanto falou comigo, ca mi jurou que morria por mi: tal bem mi queria! Leda venho da ermida | e desta vez leda serei, ca falei com meu amigo, | que sempre [per-]desej[ar]ei; ca mi jurou que morria por mi: tal bem mi queria! Du m’ eu vi com meu amigo | vim leda, se Deus mi perdom, ca nunca lhi cuid’ a mentir, | por quanto m’ el[e] diss’ entom: ca mi jurou que morria por mi: tal bem mi queria! 1

Joám de Requeixo 2 [= 1306 = Tav 67,1] «A Far[o], um dia» (Ba 1290, V [895]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga declara à mãe que deseja ir a Faro rogar que volte logo o seu amigo]. I 2 4 6 II 8 10 12 III 14 16 18

A Far[o], um dia, irei, madre, se vos prouguer, rogar, se verria meu amigo, que mi bem quer; e direi-lh’ eu entom a coita do meu coraçom. Muito per-desej’ eu que veésse meu amigo, que m’ estas penas deu, e que falasse comigo; e direi-lh’ eu entom a coita do meu coraçom. Se s’ el nembrar quiser como fiquei namorada, e se cedo veér e o vir eu, bem talhada! E direi-lh’ eu entom a coita do meu coraçom.

Nota: Nos versos iniciais da cantiga apresento uma leitura algo diferente da que vêm dando os demais editores.

Joám de Requeixo 3 [= 1307 = Tav 67,5] «Pois vós, filha, queredes mui gram bem» (Ba 1291, V [896]) [Cantiga de amigo; de refrão. A cumplicidade da mãe com o amor da filha: a mãe manda à rapariga que vá à ermida de Faro ver o seu amigo e falar com ele como antes, mas pede-lhe que não saibam que ela lho manda]. I 2 4 6 II 8 10

Pois vós, filha, queredes mui gram bem voss’ amigo, mando-vo-l’ ir veer; pero fazede por mi ũa rem que haja sempre que vos gradecer: nom vos entendam, per rem que seja, que vos eu mand’ ir u vos el veja. Mando-vos eu ir a Far’ um dia, filha fremosa, fazer oraçom, u fale vosco, como soía, [o] voss’ amig’; e, se Deus vos perdom, 2

12 III 14 16 18

nom vos entendam, per rem que seja, que vos eu mand’ ir u vos el veja. E, pois lhi vós [mui] gram bem queredes, direi-vos, filha, como façades: ide, vos mand’, e veê-lo-edes; mais, por quanto vós comig’ amades, nom vos entendam, per rem que seja, que vos eu mand’ ir u vos el veja.

Nota: Nos versos 15-16 ofereço uma leitura diferente da que vem sendo habitual.

Joám de Requeixo 4 [= 1308 = Tav 67,3] «Atender quer’ eu mandado que m’ enviou meu amigo» (Ba 1291, V [897]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se à mãe, a rapariga expressa a sua segurança em que o amigo virá, como lhe anunciou, em romaria a Santa Maria de Faro para verem-se]. I

1 3 5

II

6 8 10

III

11 13 15

IV

16 18 20

Atender quer’ eu mandado | que m’ enviou meu amigo: que verrá em romaria | a Far’, e veer-s’-á migo. E porém tenh’ eu que venha; comoquer que outrem tenha, nom tem’ eu del que nom venha. Atendê-lo quer’ eu, madre, | pois m’ enviou seu mandado, ca mi diss’ o mandadeiro | que é por mi mui coitado. E porém tenh’ eu que venha; comoquer que outrem tenha, nom tem’ eu del que nom venha. Atendê-lo quer’ eu, madre, | pois m’ el [seu] mandad’ envia que se verrá veer migo | em Far’, em Santa Maria. E porém tenh’ eu que venha; comoquer que outrem tenha, nom tem’ eu del que nom venha. Que el log’ a mi nom venha | nom tenh’ eu, per rem que seja, nem que muito viver possa | em logar u me nom veja. E porém tenh’ eu que venha; comoquer que outrem tenha, nom tem’ eu del que nom venha.

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Joám de Requeixo 5 [= 1309 = Tav 67,2] «Amiga, quem hoj’ houvesse» (Ba 1293, V [898]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se a uma amiga, a rapariga manifesta o seu desejo de que o amigo retorne, para poderem ambos falar na ermida de Faro]. I 2 4 6 II 8 10 12 III 14 16 18

Amiga, quem hoj’ houvesse mandado do meu amigo e lhi bem dizer podesse que veésse falar migo ali u sempre queria falar mig’ e nom podia! Se de mi houver mandado, nom sei rei que o detenha, amiga, pelo seu grado, que el mui cedo nom venha ali u sempre queria falar mig’ e nom podia! [U] foi mig’ outra vegada atendê-lo-ei, velida, fremosa e bem talhada: em Far[o], ena ermida, ali u sempre queria falar mig’ e nom podia!

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