As cantigas de Martim Campina (edição digital) [2004]

July 4, 2017 | Autor: J. Montero Santalha | Categoria: Poesia trovadoresca galego-portuguesa
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As cantigas de Martim Campina Martim Campina [= Tav 90]: Biografia. Nada sabemos deste trovador. Não há notícias de que o seu nome tenha sido documentado fora dos cancioneiros, e as suas cantigas não contêm nenhum dado de índole toponímica ou antroponímica (que poderia oferecer algum ponto de referência geográfica ou cronológica). Nem sequer estamos seguros de que o seu apelido deva ler-se Campina (como oferecem os manuscritos dos cancioneiros coloccianos, e como se vem fazendo também nos estudos trovadorescos) ou antes Campinha. Dado que as suas duas cantigas aparecem nos cancioneiros fazendo parte da série que se considera como um (hipotético) «Cancioneiro de jograis galegos», podemos conjecturar que seria jogral de profissão, e originário de algum lugar da Galiza chamado Campin(h)a. Isto último, porém, seria mais incerto se o apelido fosse realmente Campina e não Campinha, pois o topónimo Campina é mais característico da área meridional do idioma, especialmente do Algarve (e igualmente a correspondente forma plural Campinas, embora esta se documente alguma vez também na Galiza). Quanto à época em que deveu de viver, temos que conformar-nos, como acontece com os demais trovadores do «Cancioneiro de jograis galegos», com situá-lo num período indeterminado que vai da metade do século XIII aos inícios do XIV aproximadamente. Obra poética: 2 cantigas, ambas de amigo (cc. 1198-1199): 1) «O meu amig’, amiga, vej’ andar» (Ba 1182, V [787]) iR [= Tav 90,2]: cant. 1198. 2) «Diz meu amigo que eu o mandei» (Ba 1183, V [788]) iRF [= Tav 90,1]: cant. 1199.

Martim Campina 1 [= 1198 = Tav 90,2] «O meu amig’, amiga, vej’ andar» (Ba 1182, V [787]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se a uma amiga, a rapariga declara que vê o amigo andar triste, e suspeita que ele está pensando em ir-se dali mas sente afastar-se dela]. I 2 4 6 II 8 10 12 III 14 16 18

O meu amig’, amiga, vej’ andar trist’ e coi[t]ad’, e nom poss’ entender porque trist’ anda, si veja prazer; pero direi-vos quant’ é meu cuidar: anda cuidand’ em se daqui partir e nom s’ atreve sem mi a guarir. Anda tam triste que nunca mais vi andar nulh’ home,_e em saber punhei o por que era, pero no-no sei; pero direi-vos quant’ end’ aprendi: anda cuidand’ em se daqui partir e nom s’ atreve sem mi a guarir. Atám trist’ anda que nunca vi quem tam trist’ andasse no seu coraçom, e nom sei porquê nem por qual razom; pero direi-vos quant’ aprendi ém: anda cuidand’ em se daqui partir e nom s’ atreve sem mi a guarir.

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Martim Campina 2 [= 1199 = Tav 90,1] «Diz meu amigo que eu o mandei» (Ba 1183, V [788]) [Cantiga de amigo; de refrão, com finda. Dirigindo-se à amiga, a rapariga assegura ser falso que ela mandou ao amigo ir-se dali, como ele anda dizendo]. I 2 4 6 II 8 10 12 III

Diz meu amigo que eu o mandei ir, amiga, quando s’ el foi daqui; e, se lho sol díxi nem se o vi, nom veja prazer do pesar que hei; e, se m’ el tem torto em mi_o dizer, veja-s’ el ced’ aqui em meu poder. E vedes, amiga, do que m’ é mal: dizem os que o virom, com’ el diz que o mandei ir; e, se o eu fiz, nunca del haja dereito nem dal; e, se m’ el tem torto em mi_o dizer, veja-s’ el ced’ aqui em meu poder.

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E que gram torto que m’ agora tem em dizer, amiga, per bõa fé, que o mandei ir!; e, se assi é, como m’ el busca mal, busque-lhe_eu bem; e, se m’ el tem torto em mi_o dizer, veja-s’ el ced’ aqui em meu poder.

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E, se el vem aqui a meu poder, preguntar-lh’-ei quem lho mandou dizer.

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Nota(s): Pode observar-se que todos os versos de Martim Campina são oxítonos.

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