As cantigas de Martim de Caldas (edição digital) [2004]

July 3, 2017 | Autor: J. Montero Santalha | Categoria: Poesia trovadoresca galego-portuguesa
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As cantigas de Martim de Caldas Martim de Caldas [= Tav 92]: Biografia. Procederia de um dos vários lugares chamados Caldas, existentes tanto na Galiza como em Portugal. Nas Inquirições de 1258 cita-se um Martim Páez de Caldas, mas não sabemos se pode tratar-se do trovador. As suas cantigas, todas de amigo, encontram-se situadas nos cancioneiros na zona em que se tem conjecturalmente suspeitado um prévio “Cancioneiro de jograis galegos”. Se a existência desta colectânea chegasse a confirmar-se, o trovador Martim de Caldas seria um jogral, originário de um dos lugares chamados Caldas na Galiza (possivelmente do mais conhecido deles, oficialmente denominado Caldas de Reis, vila histórica e hoje sede de concelho, na província de Pontevedra). Como os restantes trovadores desse hipotético cancioneiro jogralesco, Martim de Caldas teria vivido numa época indeterminada dentro do período que compreende a segunda metade do século XIII e talvez também os inícios do XIV.

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Obra poética: 7 cantigas, todas de amigo (cc. 1209-1215): «Per quaes novas hoj’ eu aprendi» (Ba 1193, V [798]) iM? [= Tav 92,6]: cant. 1209. «Madr’ e senhor, leixade-m’ ir veer» (Ba 1194, V [799]) iR [= Tav 92,3]: cant. 1210. «Mandad’ hei migo qual eu desejei» (Ba 1195, V [800]) iR [= Tav 92,4]: cant. 1211. «Foi-s’ um dia meu amigo daqui» (Ba 1196, V [801]) iR [= Tav 92,2]: cant. 1212. «Ai meu amig’ e lume destes meus» (Ba 1197, V [802]) iR [= Tav 92,1]: cant. 1213. «Nostro Senhor!, e como poderei» (Ba 1198, V [803]) iR [= Tav 92,5]: cant. 1214. «Vedes qual preit’ eu querria trager» (Ba 1199, V [804]) iR [= Tav 92,7]: cant. 1215.

Martim de Caldas 1 [= 1209 = Tav 92,6] «Per quaes novas hoj’ eu aprendi» (Ba 1193, V [798]) [Cantiga de amigo; de mestria (?). A rapariga espera para amanhã a visita do seu amigo, e imagina que ele estará pensando o que lhe falará]. I 2 4 6

Per quaes novas hoj’ eu aprendi, crás me verrá meu amigo veer, e hoje cuida quanto mi_há dizer; mais, do que cuida, nom será assi, ca lhi cuid’ eu a parecer tam bem que lhe nom nembre, do que cuida, rem.

Martim de Caldas 2 [= 1210 = Tav 92,3] «Madr’ e senhor, leixade-m’ ir veer» (Ba 1194, V [799]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga roga à mãe que lhe deixe ir ver o seu amigo, insistindo em que ambos morrem por ver-se]. I 2 4

Madr’ e senhor, leixade-m’ ir veer aquel que eu por meu mal dia vi, e el viu mi em mal dia por si, ca morr’ el, madr’, e eu quero morrer 1

6 II 8 10 12 III 14 16 18

se o nom vir; mais, se o vir, guarrei, e el guarrá pois me vir, eu o sei. O que mi Deus nom houver’ a mostrar, veê-lo_ei, madre, se vos prouguer ém, e tal nom me lhi mostrou por seu bem, ca morr’ el e moir’ eu, se Deus m’ ampar, se o nom vir; mais, se o vir, guarrei, e el guarrá pois me vir, eu o sei. Aquel que Deus fez nacer por meu mal, madre, leixade-mi_o veer, por Deus; [e] eu naci por mal dos olhos seus, ca morr’ el e moir’ eu, u nom jaz al, se o nom vir; mais, se o vir, guarrei, e el guarrá pois me vir, eu o sei.

Martim de Caldas 3 [= 1211 = Tav 92,4] «Mandad’ hei migo qual eu desejei» (Ba 1195, V [800]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga, cheia de felicidade, comunica à mãe que lhe chegaram notícias de que o seu amigo virá hoje]. I 2 4 6 II 8 10 12 III 14 16 18 IV 20 22 24

Mandad’ hei migo qual eu desejei gram sazom há, madre, per bõa fé, e direi-vo-lo mandado qual é, que nulha rem nom vos ém negarei: o meu amigo será hoj’ aqui, e nunca eu tam bom mandad’ oí. E, pois mi Deus fez tal mandad’ haver qual desejava o meu coraçom, madr’ e senhor, asse Deus mi perdom, que vos quer’ eu [o] mandado dizer: o meu amigo será hoj’ aqui, e nunca eu tam bom mandad’ oí. E porém sei ca mi quer bem fazer Nostro Senhor, a que eu fui rogar por bom mandad’, e fez-mi_o El chegar qual poderedes, mià madre, saber: o meu amigo será hoj’ aqui, e nunca eu tam bom mandad’ oí. Melhor mandado nunca já, per rem, daqueste, madre, nom poss’ eu oir; e porém nom me quer’ eu encobrir de vós, ca sei que vos praz do meu bem: o meu amigo será hoj’ aqui, e nunca eu tam bom mandad’ oí.

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Martim de Caldas 4 [= 1212 = Tav 92,2] «Foi-s’ um dia meu amigo daqui» (Ba 1196, V [801]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga declara a suma tristeza em que vive desde que o seu amigo se foi]. I 2 4 6 II 8 10 12

Foi-s’ um dia meu amigo daqui trist’ e coitad’ e muit’ a seu pesar porque me quis del mià madre guardar; mais eu, fremosa, des que o nom vi, nom vi depois prazer de nulha rem, nem veerei já mais se m’ el nom vem. Quando s’ el houve de mi a partir, chorou muito dos seus olhos entom e foi coitado no seu coraçom; mais eu, fremosa, por vos nom mentir, nom vi depois prazer de nulha rem, nem veerei já mais se m’ el nom vem.

Martim de Caldas 5 [= 1213 = Tav 92,1] «Ai meu amig’ e lume destes meus» (Ba 1197, V [802]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga exige ao amigo que lhe explique por que tardou tanto]. I 2 4 6 II 8 10 12 III 14 16 18

Ai meu amig’ e lume destes meus olhos e coita do meu coraçom, porque tardastes há mui gram sazom? No-mi_o neguedes, se vos valha Deus, ca eu quer’ end’ a verdade saber, pero mi_a vós nom ousades dizer. Dizede-mi quem mi vos fez tardar, ai meu amig’, e gradecer-vo-lo_ei, ca já m’ end’ eu o mais do preito sei, e nom vos é mester de mi_o negar, ca eu quer’ end’ a verdade saber, pero mi_a vós nom ousades dizer. Per bõa fé, nom vos conselhou bem quem vos esta tardada fazer fez; e, se mi vós negardes esta vez, perder-vos-edes comigo porém, ca eu quer’ end’ a verdade saber, pero mi_a vós nom ousades dizer.

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Martim de Caldas 6 [= 1214 = Tav 92,5] «Nostro Senhor!, e como poderei» (Ba 1198, V [803]) [Cantiga de amigo; de refrão. A rapariga sente-se angustiada perante a notícia de que o seu amigo quer ir-se, e está decidida a ir-se ela também com ele]. I 2 4 6 II 8 10 12 III 14 16 18

Nostro Senhor!, e como poderei guardar de morte meu amig’ e mi?; ca mi dizem que se quer ir daqui, e, se s’ el for, log’ eu morta serei, e el morto será se me nom vir; mais quero-m’ eu esta morte partir. Ir-m’-ei com el, que sempre falarám desta morte, que se[m] ventura for; ca se quer ir meu lum’ e meu senhor, e, se se for, serei morta, de pram, e el morto será se me nom vir; mais quero-m’ eu esta morte partir. Irei com el mui de grado, ca nom me sei conselho, se mi_o Deus nom der; ca se quer ir o que mi gram bem quer, e, se s’ el for, serei morta entom, e el morto será se me nom vir; mais quero-m’ eu esta morte partir.

Martim de Caldas 7 [= 1215 = Tav 92,7] «Vedes qual preit’ eu querria trager» (Ba 1199, V [804]) [Cantiga de amigo; de refrão. Dirigindo-se à irmã, a rapariga manifesta que desejaria comprazer à vez ao seu amigo e a sua mãe]. I 2 4 6 II

Vedes qual preit’ eu querria trager, irmãa, se o podesse guisar: que fezess’ a meu amigo prazer e nom fezess’ a mià madre pesar; e, se mi Deus esto guisar, bem sei de mi que log’ eu mui leda serei.

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E atal preito m’ era mui mester, se mi Deus aguisar de o haver: e quanto o meu amigo quiser, e que mi_o mande mià madre fazer; e, se mi Deus esto guisar, bem sei de mi que log’ eu mui leda serei.

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E, se mi_a mi guisar Nostro Senhor aqueste preito, será meu gram bem,

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com’ eu faça a meu amig’ amor e me rogou mià madre_ante porém; e, se mi Deus esto guisar, bem sei de mi que log’ eu mui leda serei.

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