As cinco teses sobre o trabalho no meio rural

May 31, 2017 | Autor: Ezequiel Redin | Categoria: Agriculture, Ruralidad, Família Rural
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│ As cinco teses sobre o trabalho no meio rural│ Autor(a): Ezequiel Redin Doutor em Extensão Rural (PPGExR/UFSM) E-mail: [email protected] Acesso em: http://ezequielredin.blogspot.com.br/2016/01/as-cinco-teses-sobre-o-trabalho-no-meio.html

Alguns dias de trabalho no meio rural e surgem algumas teses para reflexões. Seria ousado demais, de minha parte, chamar isto de tese, por isso, fui ao dicionário para elucidar o seu significado. Segundo o dicionário (Dicio) tese é um assunto ou tema; o que se propõe discutir ou debater; proposição que se faz para ser defendida caso haja contestação. Então, vamos ao debate. Lanço separadamente algumas reflexões, sem compromisso com a sua real fidedignidade. Como afirma Karl Popper, um bom argumento é quando ele é passível de falsificação. Abertos ao debate! 1. O homem e o animal têm racionalidades semelhantes no que tange a alimentação. Ambos preferem alimentarem-se em ambientes limpos, com comidas saborosas e, caso exista a opção de escolher o alimento, maior o leque para tomada de decisão. Origem da reflexão: Estava roçando com uma foice manual (sim, ainda se fazem roçadas manuais no meio rural), quando percebi que o gado começou a se aproximar e a comer a grama naquele espaço roçado. No fim, a chuva afastou-nos do local.

Blog Ezequiel Redin Online – v.6, n.314, p. 1-2, Jan. 2016.

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Blog de Reflexões e Debates sobre o Mundo Social 2. No meio rural, as pessoas possuem maior tempo de raciocínio. Enquanto trabalham passam o tempo todo pensando, dialogando, raciocinando e analisando fatos e fatores para a tomada de decisão. Nessa perspectiva, possivelmente, os trabalhadores de modo geral tem maior tempo de reflexão, porém, a tomada de decisão é limitada, conforme as restritas alternativas apresentadas e a mercê da influência da televisão, dos vizinhos ou da rádio local. Origem da reflexão: Na mesma roçada, atrás do galpão, com o gado próximo. 3. O agricultor sabe trabalhar. Isto é fato, porém, às vezes, o que carece na propriedade é a organização dos fatores de produção. Mão de obra familiar deslocada do serviço principal, equipamentos com uso errôneo, força manual excessiva em detrimento da força da máquina. A aversão ao trabalho coletivo (puxiron) derivada de experiências anteriores negativas faz com que prevaleça o espírito individualista no espaço rural. Logo, isso tem a mesma origem das reflexões sobre o insucesso das cooperativas organizadas pelos agricultores. Origem da reflexão: Colhendo tabaco e pendurando os pés de Burley no galpão, após mais uma chuva diária durante a colheita no Rio Grande do Sul. 4. O trabalho rural é infinito, idem a qualquer trabalho no mundo capitalista. A crença e a dádiva pelo trabalho convoca que o trabalhador dedique o máximo da sua força de trabalho ao seu negócio. Nessa perspectiva, o negócio nem sempre lhe traz o retorno financeiro justo em relação ao grau de dedicação que o sujeito embute ao trabalho. Logo, a sua autoexploração pode não ser positiva para a saúde, em especial, para aproveitar a vida no meio rural. Origem da reflexão: Durante o corte dos pés de fumo tipo Burley na lavoura. Atento a movimentação climática, pois mais uma chuva estava se aproximando. 5. A expressão “aproveitar a vida” no meio rural é uma noção construída pela perspectiva do estilo de vida urbana. Somente se pode aproveitar a vida, pela percepção da sociedade, quando você está confraternizando, viajando de férias, ou fazendo algo que não envolva trabalho diretamente. Não obstante, a noção de “aproveitar a vida” não necessariamente precisa remeter a este viés. Aproveitar a vida também pode estar direcionado a sua própria ação no lugar em que vive. No meio rural você não tem direito a férias remuneradas, após um ano de trabalho. Logo, até o trabalho pode ser uma forma de aproveitar a vida. Porém, além disso, existem outras formas de aproveitar a vida que não esteja diretamente ligada a exposição social, ao consumismo ou a algo que remeta sair do seu habitat. Um agricultor pode aproveitar a vida, por exemplo, ao ir pescar no açude ou no rio que tangencia a propriedade. Uma agricultora pode aproveitar a vida ao visitar as vizinhas ou ajudar na festa de sua comunidade. Portanto, destrói-se aqui a noção de que aproveitar a vida é algo que está ligado ao estilo de vida urbana. No entanto, a noção anterior foi vendida e internalizada por grande parte da sociedade ocidental, sendo muito difícil sua destituição. Origem da reflexão: Intervalo do meio dia durante a colheita de tabaco.

Blog Ezequiel Redin Online – v.6, n.314, p. 1-2, Jan. 2016.

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