AS COMPETÊNCIAS ESPERADAS DO PROFISSIONAL DE COMÉRCIO EXTERIOR PELAS EMPRESAS NA REGIÃO DE TATUÍ

July 23, 2017 | Autor: Marcio Marietto | Categoria: Comércio Exterior
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AS COMPETÊNCIAS ESPERADAS DO PROFISSIONAL DE COMÉRCIO EXTERIOR PELAS EMPRESAS NA REGIÃO DE TATUÍ ANA CARLA DE RAMOS1, GIOVANA DE SOUSA DOMIGUES2, MÁRCIO LUIZ MARIETTO3 ¹ Aluna de Graduação do curso de Tecnologia em Gestão Empresarial. FATEC-Tatuí – SP – [email protected] 2

Aluna de Graduação do curso de Tecnologia em Gestão Empresarial. FATEC-Tatuí – SP – [email protected]

3. Docente e orientador de TCC no curso de Tecnologia Empresarial/COMEX na FATEC-TATUÍ; Doutorando em Administração de Empresas na Universidade Positivo; Membro do Academy of Management e do European Group of Organizational Studies. [email protected]

RESUMO

Percebendo-se o constante aumento no fluxo de operações no Comércio Internacional constata-se a necessidade de se debater sobre as Competências dos profissionais que lidam com estas operações tidas como de alta complexidade. Neste sentido este trabalho discute, por meio de uma pesquisa qualitativa entrevistando-se profissionais da área e coordenadores de cursos acadêmicos de Comercio Exterior, a percepção das Competências dos Profissionais de Comércio Exterior na região de Tatuí.

PALAVRAS-CHAVE: comércio exterior. competências individuais. profissional de comércio exterior.

1. INTRODUÇÃO

Em épocas pré-históricas, as trocas ocorriam entre habitantes da mesma tribo. Com o progresso do relacionamento humano, o campo de ação das trocas ampliou-se, sucessivamente, para as cidades, nações e, finalmente, para o mundo (MAIA, 2008). Com a evolução do ser humano e seus aparatos tecnológicos, o Comércio Exterior tornou-se importante para os países envolvidos, seja pela necessidade de troca de produtos, devido à escassez ou à sobra desses, conforme afirma Keedi (2010): Se um país tem falta desses recursos não terá como suprir suas necessidades por si próprias, em especial, se é um país altamente industrializado e que necessita de produtos primários para a produção da sua indústria e seu desenvolvimento. Como se vê tanto a abundância quanto a sua falta são motivos para a realização do comércio exterior (KEEDI, 2010, p.18).

Assim, a partir dos anos 70 o volume de transações comerciais entre os países cresceu exponencialmente, devido à maior abertura dos mercados, à criação de blocos econômicos e à queda das tarifas propiciando o aumento do comércio internacional. Oriundo a isto, Werneck (2007, p.22) distingue as três formas de comércio que são: a) Comércio Nacional - é o conjunto das atividades de compra e venda de mercadorias e prestação de serviços onde o vendedor e comprador estão situados no mesmo país; b) Comércio Internacional - é o conjunto das atividades de compra e venda de mercadorias e prestação de serviços entre as nações, isto é, em que vendedor e comprador estão situados em países distintos; e c) Comércio Exterior - é o conjunto das atividades de compra e venda de mercadorias e prestação de serviços entre um país e as demais nações.

Nesta direção, a área de Comércio Exterior ou Comércio Internacional é o ambiente onde se situa o profissional de Comércio Exterior sendo fundamental observar as competências atribuídas a estes profissionais. Para Parry (1996), em geral, as organizações dispendem bastante tempo na condução de estudos para identificar os clusters de conhecimentos, habilidade e atitudes necessários para desempenhar as várias funções laborais. As competências que são detectadas nestes estudos tornam-se a base de decisões para as contratações, treinamento, promoções e outros assuntos relacionados aos recursos humanos das organizações. Devido à importância destas decisões deve-se estar seguro que essas competências são válidas e úteis e que, de fato, descrevem as características principais que devemos observar para se desenvolver em um candidato para o cargo em questão. Um estudo mal conduzido poderá produzir uma lista de competências irrelevantes, que por sua vez irá gerar decisões incorretas dentro das politicas de RH organizacionais. É nesta linha de raciocínio que se percebe a importância do profissional de Comércio Exterior independente de sua localização geográfica. Destarte, atualmente com mais de 107 mil habitantes (IBGE, 2010), a cidade de Tatuí, nos últimos anos, teve um significativo aumento nas atividades de comércio exterior. Desde a sua fundação, a história nos mostra que, apesar de ser uma cidade voltada para agricultura, alguns pioneiros como, por exemplo, Manoel Guedes, já ousavam participar do Comércio Internacional. No ramo da indústria cerâmica, após a 1ª Guerra Mundial no ano de 1920 exportava seus tijolos para a Inglaterra, onde ainda hoje podemos encontrá-los em antigos prédios ingleses. A Região de Tatuí é constituída por 16 municípios com potencial importador/exportador, sendo 9 com perfil importador e 7 com perfil exportador. Em 2009, a Balança Comercial da cidade de Tatuí teve um volume de movimentações nas importações e exportações no total de cerca de U$ FOB 194 milhões. Suas principais empresas exportam: tripas de bovinos, tripas de suínos, tecidos de algodão e fusíveis; nas importações predominam: fornos industriais, trigo, outras máquinas, farinha de trigo e outros aparelhos de circuitos elétricos. Desta forma, considerando-se o contexto complexo ao qual este profissional está inserido, bem como a relevância da região de Tatuí no Comércio Exterior, este trabalho tem como objetivo demonstrar, por meio de entrevistas qualitativas individuais a profissionais ligados ao Comércio Exterior em algumas empresas da região e, também, dando-se voz aos coordenadores de faculdades com cursos de formação, em nível de graduação em Comércio Exterior na região, a percepção destes para: Quais são as competências básicas que um profissional de Comércio Exterior deve ostentar para desenvolver suas atividades nesta função na região de Tatuí?

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Comércio Exterior Brasileiro

Desde os anos 70 o Comércio Internacional já figurava com força entre os países desenvolvidos, mas o Comércio Exterior brasileiro só passou a ter destaque a partir dos anos 90, quando houve a abertura dos mercados, a diminuição do protecionismo e a queda da inflação, conforme Bassi (2000): Vários países, entre eles o Brasil e nossos vizinhos sul-americanos em geral, demoraram a se integrar no comércio internacional em plena ebulição, devido a políticas protecionistas que visavam a estimular a industrialização. Para as empresas latino-americanas, especialmente as brasileiras, a hora da verdade chegou no início da década de 90, com a abertura de seus mercados e, pouco depois, com as políticas de estabilização econômica praticadas pela maioria dos governos da região, reduzindo drasticamente as taxas de inflação (BASSI, 2000, p. 31).

Lanzana et alli (2006) constataram que “na primeira metade dos anos 1990, advogava-se que a abertura comercial externa era opção atraente para elevar a competitividade internacional dos produtos brasileiros, trazendo maior disciplina aos preços com benefícios ao mercado interno.” E ainda, conforme o mesmo autor, em 2003 apenas 3% de 7 milhões de empresas, participaram da atividade

exportadora, sendo que no mesmo ano 800 empresas eram responsáveis por 83% da receita de exportação e cerca de metade eram do ramo de commodities. No entanto, no final dos anos 90, a participação das pequenas e médias empresas aumenta no comércio exterior, sobretudo nas exportações conforme Lanzana et alli (2006) observam: O número de pequenas e médias empresas brasileiras exportadoras cresceu 35% no período de 1995 a 2001 (...). A questão da promoção das exportações vem sendo, portanto, tratada com certa seletividade entre mecanismos dedicados à grande, pequena e média empresa. Para as primeiras, os incentivos resumem-se às questões financeiras (...). Para as pequenas e médias empresas, os avanços dos órgãos informativos de comércio exterior, bem como a simplificação das operações iniciadas na primeira metade dos anos 1990, procuram caracterizar as exportações como uma quase extensão das vendas no mercado doméstico (LANZANA et alli, 2006, p.157-158).

Desse modo, o Comércio Exterior Brasileiro, desde a abertura dos mercados passou a figurar com grande importância no cenário internacional.

2.2 Competências Organizacionais e Individuais

Fischer et alli (2010, p.33) explica que “o conceito de competência foi proposto de forma estruturada pela primeira vez em 1973, por David McClelland (1973)” visando a abordagem mais efetiva que os testes de inteligência para a seleção de pessoas, ampliando o conceito para sustentar os processos de avaliação nas organizações. Na mesma linha de pesquisa, constata-se para alguns autores, na maioria norte-americanos, cujos trabalhos foram desenvolvidos nos anos 70,80 e 90 que: Competência é o conjunto de qualificações (underlyingcharacteristics) que permite à pessoa uma performance superior em um trabalho ou situação. As competências podem ser previstas e estruturadas de modo a se estabelecer um conjunto ideal de qualificações para que a pessoa desenvolva uma performance superior em seu trabalho, ou seja, um cluster de conhecimentos, skills e atitudes relacionadas que afetam a maior parte de um job, que possa ser medido contra parâmetros bem aceitos, e que pode ser melhorada através de treinamento e desenvolvimento (FISCHER et alli, 2010, p.34).

Parry (1996), também elucida que nem todos os estudos sobre competência são criados de maneira igual. Alguns estudos concentram-se em um trabalho específico de descrição funcional, como um caixa de banco ou farmacêutico, enquanto outros tentam identificar as principais competências necessárias em um trabalho dentro de uma categoria ampla como um treinador, gerente ou vendedor, ou seja, uma descrição funcional-estrutural. O quanto específicas ou genéricas devem ser definições de competências? A resposta depende de como as competências serão utilizadas e a finalidades do estudo. Outra diferença importante nos estudos competência é se uma "competência" é vista como um input ou output do comportamento humano. No Reino Unido, por exemplo, as competências são vistas como outputs: Os colaboradores mostram suas competências na medida em que seu trabalho atende ou excede os padrões de trabalho prescritos, logo nos Estados Unidos, as competências são vistas, principalmente, como insumos constituídos por conjuntos de conhecimentos, atitudes e habilidades que afetam a capacidade de um indivíduo para executar seu trabalho (PARRY, 1996). A partir deste ponto, somente com a intenção de localizar o leitor ao contexto teórico de Competências Organizacionais, Maciel e Camargo (2007) explicam que o construto Competência Organizacional tem sido definido como capacidade de coordenação de um conjunto de recursos, atividades e habilidades organizacionais. Ainda sobre as competências da organização, Marietto et alli (no prelo) explicam que no conceito de aprendizado estratégico está a noção de Competências Essenciais. Prahalad e Hamel (1990) defendem que organizações bem sucedidas sustentam seu desempenho numa coordenação valiosa de recursos especiais, obtendo vantagens competitivas. Denominam estes recursos cuidadosamente articulados de Competências Essenciais. Explicam que as Competências Essenciais relacionam-se a: O aprendizado coletivo na organização, especialmente no que diz respeito a como coordenar as diversas habilidades de produção e integrar as múltiplas correntes da tecnologia (...). A Competência Essencial é comunicação, envolvimento e um profundo comprometimento em trabalhar além das fronteiras organizacionais. Envolve muitas pessoas e de todas as funções (PRAHALAD e HAMEL, 1990, p.58-59).

Os autores, ainda, explicam que três testes podem ser feitos para identificar as Competências Essenciais de uma empresa: 1) Uma Competência Essencial oferece acesso potencial a uma ampla variedade de mercados; 2) Uma Competência deve contribuir de maneira significativa para os benefícios percebidos pelo cliente no produto final; e 3) Uma competência deve ser difícil de ser imitada pelos concorrentes. Por outro lado, Ruas (2003) introduz que “em primeiro lugar, a pesquisa empírica confirma a grande disseminação da noção de competência, especialmente no que se refere à dimensão individual”. Em uma de suas observações nos faz perceber que o termo competência está ligado diretamente à gestão de pessoas dentro do ambiente empresarial constatando as dificuldades de estudálas de forma isolada, pois a confusão entre as diferentes instâncias prejudica a clareza do uso da noção de competências na prática. Ele cita como exemplo desta confusão, a definição de competências requeridas ou competências efetivas, “Capacidade de inovar e criar” ou “Capacidade de lidar com situações complexas”, aliados aos recursos de conhecimento “Conhecimento do Mercado” e “Conhecer a política da organização” e mais os atributos como “Saber ouvir” ou “Comprometido”. Sarsur (2007) traz à tona os pensamentos da escola francesa que diferem a qualificação da competência e nos mostra que esta não está limitada somente à formação acadêmica inicial do indivíduo. Segundo a teoria, as duas noções não devem estar em lados opostos, mas é importante que estejam na mesma direção, para que a competência permita o aprimoramento da noção de qualificação. Nesta direção, ressalta-se que é difícil caracterizar na prática o que é competência, gerando “certa confusão entre essa noção e os conceitos de desempenho, resultados, atribuições, responsabilidade, etc.” Entre essas dificuldades de aplicação da noção, observa-se, também, que “grande parte das atribuições de competências são apresentadas numa perspectiva ideal, excessivamente abrangente e praticamente inatingível por um indivíduo” (RUAS, 2003). Conforme Fleury e Fleury (2001), “competência não se limita ao estoque de conhecimentos teóricos e empíricos do individuo, nem se encontra encapsulada na tarefa”. E ainda, segundo os autores, “competência é a inteligência prática de situações, que se apoia nos conhecimentos adquiridos e os transforma com tanto mais força quanto maior for a complexidade das situações”. Na abordagem de Fleury e Fleury (2001), a competência pode ser definida como sendo “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e social ao individuo”. Observam também que a competência é o cruzamento de três fatores: o indivíduo (pessoa), sua formação educacional e sua experiência como profissional e presume-se que a competência individual depende do contexto e da rede de conhecimento ao qual o indivíduo está inserido, sendo esta última de grande importância para que a comunicação favoreça a competência (Fleury e Fleury, 2001). Segundo Ruas, Antonello e Boff (2005, p.18), capacidade é tudo o que se desenvolve e explora sob a forma de potencial e que é mobilizado numa ação a qual associamos à noção de competência, ou seja, não se trata de considerar as pessoas competentes, mas sim suas ações. As capacidades são, em geral, compostas por conhecimentos, habilidades e atitudes. Além das capacidades algumas ações vão requerer outros recursos do tipo instrumentos, sistemas ou equipamentos. Não há dúvida de que a concepção de competência individual é a mais heterogênea. Para esta pesquisa utilizaremos o conceito de Competência Individual de Fleury e Fleury (2001) alinhado ao conceito de Capacidade de Ruas, Antonello e Boff (2005), ou seja, a competência está ligada ao que o indivíduo aprende ao decorrer de sua vida em certas situações ou mesmo ao estoque de conhecimentos práticos e específicos, além de vincular-se em pautar suas ações com responsabilidade, somando, assim, a capacidade de desenvolver seus conhecimentos, habilidades e atitudes utilizando-se dos instrumentos disponíveis para o desenvolvimento de suas tarefas e ações laborais imersos em uma eficiência e eficácia longitudinal.

2.3 Competências do Profissional de Comércio Exterior

O Profissional de Comércio Exterior é o indivíduo que atua diretamente nas relações de

Comércio Internacional, bem como na análise das situações e novas tendências de mercado, como para o planejamento do comércio de produtos e serviços com outros países. A título de exemplo, em uma operação de comércio exterior, ou seja, num processo de transferência de mercadorias entre o importador e exportador, podemos considerar quatro aspectos importantes: o negocial, o logístico, o cambial e o fiscal (WERNECK, 2007, p.25). Assim, percebe-se que o profissional envolvido terá contato direto ou indireto com as questões que tratam das transações comerciais, a logística, as operações de câmbio, legislação, entre outras, e percebe-se aqui a necessidade de se debater sobre as competências do mesmo em relação as suas atividades diárias e laborais no desenvolvimento destas tarefas. Neste contexto, a globalização é um fato determinante na carreira deste profissional, pois é um dos fatores determinantes no rumo das negociações internacionais. Na opinião de Echeveste et alli (1999), a competência do Profissional de Comércio Exterior pode ser entendida como um processo social econômico de caráter transnacional e requer uma nova postura do perfil dos executivos a fim de manter vantagens competitivas exigidas pelas mudanças em um cenário dinâmico de constantes transformações. O mercado internacional segue em uma corrida pela procura daquilo que o consumidor global exige e quer adquirir, portanto de acordo com Mainardes, Deschamps e Lima (2007), o Profissional de Comércio Exterior deve buscar cada vez desenvolver suas qualificações, eficiência, profissionalismo e criatividade para sobreviver dentro de um quadro de relações internacionais onde se deve evitar erros. Por meio de procedimentos técnicos e baseados em legislação específica, o Profissional de Comércio Exterior faz a importante ponte entre importador e exportador, agindo como negociador, tratando das questões financeiras, cambiais e processos logísticos. Neste sentido, Mainardes, Deschamps e Lima (2007) falam da importância da boa formação dos egressos dos cursos de comércio exterior e de como deverão estar aptos a “lidar com a diversidade de culturas, de regimes jurídicos, institucionais e políticos, de estruturas econômicas, de experiências históricas”, sobretudo pela variedade de linguagens que o profissional irá encontrar no diálogo que lhes é imposto pelas negociações internacionais. Em seu estudo, Mainardes, Deschamps e Lima (2007) ainda observam que o novo cenário econômico demanda por profissionais que tenham uma visão mais ampla e generalista, tendo conhecimento não só do universo teórico que a formação lhe confere, mas a prática que é própria deste ambiente de negócios. Ressalta também que há uma necessidade cada vez maior de profissionais que tenham raciocínio lógico, criatividade, flexibilidade, adaptabilidade, senso crítico, visão global e estratégica, além da capacidade de selecionar e processar um grande número de informações, ligadas aos mais inesperados e variados segmentos de mercado, áreas de conhecimento e contextos culturais. Na mesma linha de pensamento, Ataíde (1997) fala da necessidade de aprimoramento contínuo dos conhecimentos individuais, sejam quais forem as funções exercidas, pois o mercado exige profissionais qualificados e de bom relacionamento, sendo que “somente os mais bem preparados e que sabem transformar dados e informações em conhecimentos e com formação ética terão condições de enfrentar os desafios e ameaças e aproveitar as oportunidades em beneficio da sociedade global.” Para tanto é imprescindível que esse profissional seja atualizado tanto nas questões de mercado interno, quanto nos acontecimentos globais, sejam de caráter econômico, político e cultural, lembrando que cada acontecimento pode refletir diretamente na comercialização de produtos e serviços entre os países, demandando tomadas de decisões imediatas. Isto, além dos requisitos já citados, exige do Profissional de Comércio Exterior e de outras áreas, o saber lidar com seus sentimentos e emoções para lidar com os assuntos pertinentes à sua área de atuação. Foi assim que Ludovico (2010) observando a questão do ponto de vista científico dedicou um capítulo de seu livro “Logística Internacional – Um enfoque em Comércio Exterior”, somente para expor suas pesquisas com relação às aptidões do profissional da área do campo de logística ligado ao comércio exterior. Tendo visão pelo ponto de vista da neurolinguística, o autor chegou à seguinte observação: A razão, dizem os cientistas, tem a ver como a maneira pela qual as emoções e os sentimentos são processados no cérebro. [...] Tornar a razão mais rica por meio deste processo só é possível àqueles que conseguem fazer com que suas emoções trabalhem intencionalmente para si, o que requer o reconhecimento e a valorização dos sentimentos, mediante a prática de técnicas e o aproveitamento de aptidões que compõem essa visão, tais como controle de impulsos, abandono de sentimentos negativos, adequação da autoestima,

tolerância às justificações, interpretação dos canais não verbais de comunicação e sintonia no relacionamento interpessoal (LUDOVICO, 2010, p.355).

Algo ainda totalmente imprescindível para o profissional de comércio exterior é o domínio de uma segunda língua, tornando a fluência no inglês, requisito cada vez mais básico para quem quer atuar nesta área. Desta forma, Peres Antônio (2005), afirma que: O mundo, hoje, tem um mercado moderno e globalizado, ficando praticamente tudo em inglês, que é, sem dúvida, uma língua universal. Para quem acha que a língua inglesa é um mero detalhe para o Comércio Exterior, basta passar os olhos em algumas documentações e logo irá se deparar com vários termos nesta língua. International Trade, Bill of Lading, Foreign Exchange, Packing List, Port, Commercial Invoice, entre muitos outros, são termos usados diariamente nesta área. (PEREZ ANTÔNIO, 2005)

O conceito balizador deste estudo fundamenta-se em Mainardes, Deschamps e Lima (2007) alinhado a Ataíde (1997) e complementando Peres Antônio (2005), sendo que o Profissional de Comércio Exterior é aquele que tem visão global e estratégica, aliados à capacidade de criatividade, flexibilidade, sendo este capaz de aplicar os seus conhecimentos nos mais diversos segmentos de mercado e contextos culturais, com ética e determinação para enfrentar os diversos desafios impostos pelo mercado, além de raciocínio lógico, adaptabilidade, senso crítico, seleção e processamento de um grande número de informações, e o domínio da língua estrangeira.

3. ESTRATÉGIA DE PESQUISA

Marietto (2011) ressalta a importância da Pesquisa Qualitativa para o desenvolvimento analítico dos fenômenos observados, ou seja, percebe-se que os estudos Quantitativos, em geral, apenas tocam a realidade de maneira superficial promovendo uma generalização estatística localizada e restrita (explicam: O quê? No sentido de quais elementos compõem este fenômeno/objeto; e o Como? No sentido de como as variáveis destes elementos se relacionam). Enquanto que os estudos Qualitativos tendem a se aprofundarem analiticamente no fenômeno/objeto promovendo, assim, uma generalização profunda de explicação contextual a aquele fenômeno/objeto de estudo (além de explicarem O Quê e Como? Explicam também: o Porquê estes elementos se relacionam; além de Quando? Onde? Por Quem?). Neste sentido, optou-se por uma Estratégia de Pesquisa de Entrevista Qualitativa onde nos dizeres de Bauer e Gaskell (2000, p.65): A compreensão dos mundos da vida dos entrevistados e de grupos sociais especificados é a condição sine qua non da entrevista qualitativa. Tal compreensão poderá contribuir para um numero diferentes empenhos na pesquisa. Poderá ser um fim em si mesmo o fornecimento de uma “descrição detalhada” de um meio social específico; pode também ser empregada como base para construir um referencial para as pesquisas futuras e fornecer dados para testar expectativas e hipóteses desenvolvidas fora de uma perspectiva teórica especifica.

3.1 Método

Utilizou-se o método de Entrevista Individual Aberta, baseado nos pressupostos de Bauer e Gaskell (2000), onde os pesquisadores não orientaram a investigação a partir de um conjunto de perguntas pré-determinadas como em um levantamento ou questionário, ainda que o conteúdo das perguntas abertas tenha sido estruturado pelo referencial teórico desenvolvido acima. A ideia não foi a de realizar perguntas esperando-se que os entrevistados proporcionassem suas ideias em categorias de respostas previamente especificadas, contudo ostentou-se a intenção de que o entrevistado fosse convidado a falar longamente com suas próprias palavras e com tempo para reflexão esperando-se, desta forma, obter esclarecimentos e acréscimos em pontos importantes com sondagens apropriadas e questionamentos específicos (BAUER E GASKELL, 2000, p.73).

3.2 Procedimentos de Coleta de Dados

Em um primeiro momento realizou-se uma pesquisa no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior junto ao Departamento de Planejamento e Desenvolvimento de Comércio Exterior – DEPLA, para verificar quais empresas da região de Tatuí possuíam atividade de importação ou exportação e, consequentemente, a necessidade do Profissional de Comércio Exterior em seu quadro de funcionários, além de um levantamento junto as Universidades da Região que possuem cursos de formação em Comércio Exterior em nível de graduação. A seguir contataram-se os profissionais, professores e coordenadores que atuam nas mesmas sendo entrevistados, ao todo, dez profissionais entre 03 de março e 15 de abril de 2011: a) Quatro supervisores de importação/exportação atuando no ramo de metalúrgica, alimentos e vidros; b) Três analistas de importação/exportação no ramo de materiais sintéticos, artefatos de plástico e máquinas operatrizes; e c) Dois coordenadores e uma professora em cursos de graduação em Comércio Exterior. As perguntas foram diretamente aplicadas aos entrevistados dentro do ambiente de seu trabalho, deixando-os livres para expressarem suas ideias e contarem suas experiências profissionais com relação ao Comércio Exterior. Os depoimentos foram gravados para que não se perdesse nenhum dado ou detalhe em sua interpretação e, assim, proporcionou-se uma análise dos dados criteriosa e rigorosa aos depoimentos.

4. ANÁLISE DOS DADOS

As respostas obtidas foram sintetizadas, devido à restrição de espaço, em um quadro autoexplicativo – Quadro 1- de modo que sobressaíssem os pontos mais importantes resultando no que a pesquisa visava coletar em direção aos pressupostos conceituais elencados no referencial teórico acima. O quadro mostra a relação das respostas dos profissionais entrevistados com a base teórica que se pode ressaltar sobre o profissional de Comércio Exterior. A categorização foi realizada levando-se em conta os pontos elencados pelos entrevistados convergentes aos conceitos de referência utilizados neste trabalho devendo-se perceber que, para se manter o rigor analítico e contextual das entrevistas, transcreveram-se as palavras exatas proferidas pelos entrevistados. Destarte, eventuais erros de semântica ou concordância não caracterizam desleixo ou falta de revisão dos autores, mas o objetivo maior de ser fiel e rigoroso aos dados apresentados e analisados proferidos pelos entrevistados.

Teoria SUPERVISORES DE COMEX ANALISTAS DE COMEX

Fleury e Fleury (2001) e Ruas, Antonello e Boff (2005).

Ataíde (1997); Peres Antônio (2005) e Mainardes, Deschamps e Lima (2007)

Deve dominar assuntos relativos ao mercado comercial; Habilidades para resolver, solucionar problemas; Atitude.

Preparo técnico; Conhecer a Legislação Aduaneira; Língua estrangeira (pelo menos duas línguas); Experiência na área também é interessante. Formação em Comex; Conhecer órgãos públicos; Institutos; Língua estrangeira (inglês principalmente); Conhecer o ramo; Saber o negócio que pretende atuar; Experiência profissional. Preenchimento rápido dos documentos; Saber o funcionamento de todo processos.

Jogo de cintura; Pessoa rápida (processos são rápidos); Pessoa ágil; Pessoa de fácil assimilação;

Deve ser antenado em tudo que acontece no mundo; Domínio em negociações.

Comex mais amplo do que se parece; O profissional precisa saber da legislação, saber de logística, área financeira, contratos, fechamento de câmbio, negociação.

Ter uma habilidade geral; Pós-graduação; Domínio dos processos; Conhecer o funcionamento dos órgãos públicos, Disponibilidade para viajar.

Dominando uma língua estrangeira sim, continuidade nos estudos e curso de especialização.

Principal é dedicação, 1º tem que ser uma pessoa comprometida com bastante foco nos problemas.

Ter no mínimo inglês, interessante também o espanhol, para ter uma melhor comunicação. 2º tem que ter conhecimento no processo e conhecidos para fornecer ajuda e contatos, tem que ser uma pessoa polivalente, saber de NCM, saber de desembaraço aduaneiro. Essencial conhecimento em informática, línguas, conhecimento em logística, ter conhecimento sobre os países que estão atuando. Não tem receita de bolo, estudar muito, não ter medo de meter a cara, ter conhecidos para lhe ajudar, não ter medo de pressão, equipe empenhada, inglês é imprescindível.

A pessoa tem que ser comunicativa dinâmica; Pró ativa; Ter espírito de equipe e ser bem flexível e ser comunicativa. Tem que ser multidisciplinar, entender do que está fazendo e ter equipe para te dar apoio; Discernimento para tomada de decisão; Não pode ser uma pessoa acomodada, Não ser acomodado, habilidade. Desenvolveremse para negociações.

PROFISSIONAL ACADÊMICO

Respostas

Quadro 1 – Competências esperadas do Profissional de Comércio Exterior na Região de Tatuí

Alto grau de competitividade; Pró-atividade; Conhecimento técnico e adaptação para exigências.

Competências gerais de um gestor, iniciativa, trabalhar em equipe, saber planejar, aprender sempre, relacionamento interpessoal, ética.

Sempre se atualizar; leis e regras de beneficio e acompanhar o mercado; Vai estar diretamente ligado ao tamanho da empresa e segmento; Pode trabalhar em bancos, comercial exportadora, própria empresa exportadora, seguradora uma série de funções; Conhecer todos os processos; Conhecer toda documentação da área em que está inserido. Estudar, estudar, estudar; Nunca desanimar; Idioma inglês no mínimo (principal exigência, mandarim seria muito bom); Ser intraempreendedor; Procurar se interar além de suas funções; Controlar o processo do início ao fim agrega muito valor. Conhecimento das documentações e legislação; Fluência em língua estrangeira; Gerenciar operações, transações cambiais, despacho, legislação aduaneira, exportação, importação, contratos, logística internacional, define planos de ação, executar operações legais e tributárias.

5. CONCLUSÃO

Por meio da análise dos dados, demonstrada no Quadro 1, pode-se inferir que os pressupostos teóricos sobre Competência Individual listados por Fleury e Fleury (2001); e Ruas, Antonello e Boff (2005); e Competência do Profissional de Comércio Exterior listados em Ataíde (1997); Peres Antônio (2005) e Mainardes, Deschamps e Lima (2007);são convergentes aos elementos listados pelos entrevistados nas empresas e faculdades de Tatuí e Região. Percebeu-se que as respostas tendem a ser bem parecidas nas três classes entrevistadas. Supondo-se que estes profissionais conhecem o mercado e suas necessidades quanto a um profissional enfatizaram as Competências do Profissional de Comércio Exterior como: o profissional tem que ter preparo técnico, conhecer a legislação aduaneira, conhecer os processos de importação e exportação, conhecer os órgãos públicos, toda documentação necessária para o processo, contratos, despachos, câmbio, negociações, área financeira, logística e ter fluência em pelo menos uma língua estrangeira, entre outras. Observou-se, que em algumas respostas, encontrou-se o termo “estudar”, que pode significar que o profissional deve possuir a competência adicional de permanecer em constante atualização buscando opções e melhorias para a manutenção de suas competências na área de Comércio Exterior. Citaram-se, também, competências que podem não ser somente de um Profissional de Comércio Exterior, mas de qualquer como: ser uma pessoa ágil, multidisciplinar, polivalente, próativo, competitivo, flexível, intra-empreendedor, comunicativo, atualizado, ético, entre outras, inferindo-se, também, o direcionamento aos pressupostos elencados por Parry (1996), além de evidenciar o caráter funcionalista-estrutural dos resultados encontrados.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATAÍDE, M. E. M. O lado perverso da globalização na sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v.26, n.3, 1997. BASSI, E. Empresas locais e globalização: guia de oportunidades estratégicas para o dirigente nacional. São Paulo: Cultura, 2000. BAUER, M.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002. CARBONE, P. P.; BRANDÃO, H. P.; LEITE, J. B. D.; VILHENA, R. M. P. Gestão por competências e gestão do conhecimento. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. ECHEVESTE, S.; VIEIRA, B.; VIANA, D.; TREZ, G.; PANOSSO, C. Perfil do executivo no mercado globalizado. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v.3, n.2, 1999. FISCHER, A.; DUTRA, J. S.; NAKATA, L. E.; RUAS, R. Absorção do conceito de Competência em gestão de pessoas: A percepção dos profissionais e as orientações adotadas pelas empresas. In: DUTRA, J. S.; FLEURY, M. T. L.; RUAS, R. (Org) Competências, conceitos, métodos e experiências. São Paulo: Atlas, 2010. FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v.5, 2001. IBGE CIDADES@. Sinopse do senso demográfico – . Acesso em: 10 abr. 2011.

2010.

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