As conheiras de Vila de Rei: património geo-arqueológico associado á ocupação humana no Médio Tejo entre Proto-História e Idade Romana

June 16, 2017 | Autor: Davide Delfino | Categoria: Gold Mineralization, Archaeological and Heritage Tourism, Roman Gold Mines, Tagus valley
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GEONOVAS N.º 28: 185 a 208, 2015

As conheiras de Vila de Rei: património geo-arqueológico associado á ocupação humana no Médio Tejo entre Proto-História e Idade Romana Davide Delfino1*, José Romão2,3 & Filomena Gaspar4 Instituto Terra e Memória (ITM – Mação) / Câmara Municipal de Abrantes (Projeto MIAA)/ Grupo “Quaternário e Pré-História” do Centro de Geociências (CGeo – Universidade de Coimbra), Largo Infante D Henrique, 6120-750 Mação 2 LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia, I.P., Unidade de Geologia, Hidrogeologia e Geologia Costeira, Estrada da Portela-Zambujal, Alfragide, Apartado 7586, 2610-999 Amadora 3 Universidade Europeia, Estrada da Correia, n.º 53, 1500-210 Lisboa 4 CMA – Câmara Municipal de Abrantes, Serviços da Cultura; [email protected] *autor correspondente: [email protected] / [email protected] 1

Resumo Evidências significativas de mineração de ouro aluvionar, associadas com a sua exploração nos tempos romanos e, também, provavelmente na Proto-História, ocorrem, na sua maioria, dispersas no território do Concelho de Vila de Rei, bem como nos de Abrantes e Mação. Este património geológico, mineiro e arqueológico não renovável, de apreciável interesse científico, pedagógico e turístico, está diretamente relacionado com o tema da pesquisa, prospeção e exploração de ouro, mas não pode ser dissociado da rede de ocupação humana que geria a sua extração e praticava o seu comércio, tendo sido descobertos nos últimos tempos diversos vestígios entre os rios Ocreza, Tejo e Zêzere. Esta realidade, marcada pelo binómio exploração de ouro e ocupação humana do território, deverá ser estudada e aprofundada, uma vez que é indispensável para a verdadeira rentabilização turística destes locais e lugares, numa lógica de rede de Património Cultural no Médio Tejo, dedicada à exploração do ouro da Proto-História à Época Romana. Palavras-chave: Conheiras, Exploração do ouro, Proto-História, Idade Romana, Turismo no Médio Tejo Português. Abstract Significant evidences of alluvial gold mining, associated with their exploitation in Roman times and also probably in Proto-history, are scattered are scattered thoughout the territories of Vila de Rei Abrantes and Mação Municipalities. This geological, mining and archaeological heritage, not renewable, of scientific, educational and touristic interest is directly related to the topic of gold research, exploration and exploitation, but cannot be dissociated from the network of human occupation, which has managed the extraction and practiced their trade. Recently many gold traces have been discovered in the Ocreza, Tagus and Zêzere rivers. This reality, marked by the binomial gold exploration and human occupation of the territory, should be studied in-depth since it is essential for a real touristic profitability of these sites and places, within a Cultural Heritage logical network in the Middle Tagus, dedicated to the exploration of the gold from Proto-history to the Roman Period. Key words: Conheiras, Gold mining, Proto-history, Roman Age, Tourism in Portuguese Middle Tagus.

Introdução Na exploração de ouro distinguem-se, genericamente, dois tipos de jazidas: as primárias, cujo depósito se gerou por acumulações sucessivas de partículas de ouro a partir de soluções que circulam em substratos rochosos encaixantes (depósitos epigenéticos), e as secundárias, onde a aglomeração de

ouro ocorreu e foi contemporânea da formação dos próprios sedimentos que a contêm, designados por depósitos aluviais ou singenéticos (Bertolani, 1972; Park & MacDiarmid, 1982). Estas últimas jazidas são originadas em consequência da alteração de depósitos auríferos primários; enquanto os constituintes minerais mais leves são dispersos pelos agentes meteóricos, o ouro, estável e com peso es-

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pecífico elevado (19,3), é transportado pelas águas nas redes de drenagem junto com as areias dos rios. Aqui, a concentração ocorre por densidade, depositando-se no fundo, preferencialmente em pontos onde as águas se movimentam com mais baixa velocidade, nomeadamente nas curvas ou ilhotas dos rios. Nas jazidas secundárias, o ouro é facilmente obtido sob a forma de pepitas, argueiras ou pó por lavagem das areias utilizando-se bateias (Giardino, 1999). No caso dos depósitos aluvionares de antigas redes de drenagem compactados e já litificados, as areias auríferas precisam de ser retiradas dos afloramentos que contêm os depósitos sedimentares, procedendo-se primeiro à desmontagem das vertentes, prosseguindo por subsequente triagem manual para separar os seixos das areias. Só depois ocorrerá a lavagem das areias que contêm o ouro. Os depósitos secundários de ouro ocorrem, na generalidade, no seio de estratos areno-conglomeráticos, muitas vezes com alguma argila na sua matriz ou em horizontes de muito fraca espessura. Este tipo de depósitos, de natureza continental, são originados a partir de sedimentação de materiais que circulam ao longo de canais fluviais, sendo que o ouro se acumula preferencialmente em zonas onde existem relevos nos fundos dos rios antigos. Entre as evidências de exploração do ouro aluvionar no Médio Tejo português, as conheiras constituem as estruturas mais espetaculares e em maior número, estando relacionadas com jazidas secundárias. Consistem de aglomerações de seixos empilhados uns sobre os outros que provieram do desmantelamento de terraços auríferos e subsequente triagem prévia à lavagem dos sedimentos edificados pela ação do Homem. Este tipo de vestígio, que ocorre com frequência na Península Ibérica, está normalmente associado com a mineração aurífera que ocorreu durante a Época Romana ou mesmo em tempos proto-históricos. No Concelho de Vila de Rei existem grande parte das conheiras identificadas na região, 52 de acordo com Batata & Gaspar (2013), estando as restantes nos Concelhos de Abrantes e Mação, respetivamente, 35 (Gaspar, 2011) e 4 (Batata, 2006); foram ainda reconhecidas 3 conheiras na margem norte do rio Tejo no Concelho de Constância (Batista, 2004). Salienta-se, ainda, o facto de um número significativo de conheiras pode-

rem ter ficado debaixo das águas do rio Zêzere, na albufeira da barragem de Castelo de Bode. Os vestígios da exploração do ouro em jazidas secundárias ocorrem em formações geológicas que integram a Bacia Cenozoica do Baixo Tejo, que tem por fronteiras unidades do substrato antigo, incluídas no Maciço Ibérico. De facto, as conheiras são produtos residuais concentrados de unidades de natureza conglomerática (Fig. 1), que resultaram da decomposição das formações designadas por Conglomerados da Lousã (Romão, 2000, 2006) e por Conglomerados de Rio de Moinhos e Conglomerados de Serra de Almeirim (Barra et al., 2000). Do ponto de vista geológico, as conheiras encontram-se localizadas nas proximidades de cristas quartzíticas, datadas genericamente do Ordovícico ao Devónico, na estrutura em sinforma de Amêndoa-Carvoeiro (Romão et al., 1998). A região estudada, já designada como Alto Ribatejo, é um ponto de convergência geológica e geotectónica entre Maciço Antigo de cariz metamórfico, Maciço Calcário Estremenho da Bacia Lusitaniana e Bacia Cenozoica do Baixo Tejo, tendo revelado importantes evidências de povoamento humano e de encontro de civilizações, desde a Pré-História (Oosterbeek, 1997) até à Proto-História (Delfino, 2012), atingindo mesmo a Idade Romana (Batata, 2006). É necessário conhecer a totalidade das relações entre as características geológicas e geomorfológicas do território e seu povoamento para entender as conheiras de Vila de Rei e dos concelhos limítrofes, nomeadamente o papel no circuito do ouro antigo, a importância para as sociedades antigas, a hierarquia social em pirâmide das explorações que realizavam a extração do ouro dos sedimentos auríferos, entre outras. De facto, é preciso entender este Património Cultural na globalidade, quer geológico-mineiro quer arqueológico, numa lógica inter-relacional em rede para a sua rentabilização turística. Considerações sobre geomorfologia e geologia da região de Vila de Rei A região do concelho de Vila de Rei localiza-se, do ponto vista geomorfológico, no bordo ocidental da Meseta ou Cordilheira Central, também designada por Maciço Ibérico ou Hespérico,

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Figura 1 - Conglomerados de Rio de Moinhos num corte recente a montante da conheira da Carreira (Milreu, Vila de Rei). Figure 1 – Rio de Moinhos Conglomerates in a recent section located in the upstream of the conheira of the Carreira (Milreu, Vila de Rei).

imediatamente a norte do rio Tejo. Do ponto de vista geológico situa-se no bordo SW da Zona Centro-Ibérica, junto à fronteira com a Zona Ossa Morena, onde sobressai a sucessão da Bacia Cenozoica do Baixo Tejo depositada sobre as unidades geotectónicas do soco antigo, sendo constituída por materiais culminantes da referida bacia. A região é caracterizada por domínios morfológicos distintos: um, a norte do planalto que contém a crista quartzítica, que aflora logo a sul da povoação de Vila de Rei, constituindo a Formação do Quartzito Armoricano, e outro, a sul desta mesma crista, tendo como limite meridional o acidente com desenvolvimento subparalelo á ribeira de Codes, assinalado no Mapa Geomorfológico de Portugal (Ferreira, 1947) e na Carta Neotectónica de Portugal (Cabral & Ribeiro, 1988). O domínio setentrional é marcado por uma superfície de aplanação, formada essencialmente por xistos e metagrauvaques do Grupo das Beiras (350400 m), onde emerge um relevo residual de dureza, com forma alongada e direção NNW-SSE, que se designa de Inselberg granítico de Melriça (591 m). Salienta-se ainda, um pouco mais a norte de Melriça, a presença de relevos quartzíticos alinhados

com a direção WNW-ESE a NW-SE e destacados na paisagem, porém com menor altitude (450 m). O domínio meridional ocupa os terrenos do interior do sinforma Amêndoa-Carvoeiro (Romão et al., 1998; Romão, 2006), onde se identificaram metassedimentos paleozoicos e depósitos continentais cenozoicos. Corresponde a um bloco tectónico deprimido, alinhado E-W e basculado para sul, cujo limite meridional constitui uma escarpa de 50 m, que forma degrau tectónico recuado relacionado com a falha de ribeira de Codes (Martins, 1999). Os depósitos continentais fossilizaram superfície de erosão talhada em metassedimentos paleozoicos, da qual sobressaem inselberges quartzíticos (com 400 a 500 m de altitude) caracterizados por vertentes exteriores mais inclinadas que as interiores, que integram o flanco norte do sinforma Amêndoa-Carvoeiro, datados na generalidade da base do Ordovícico. Neste domínio, caracterizado do ponto de vista estrutural por pequena sub-fossa dissimétrica, foram identificados depósitos em leque aluvial na parte norte que constituem os conglomerados da Aloformação de Vila de Rei/Mação de idade vilafranquiana (Barbosa, 1995; Romão, 2000). Estes depósitos adelgaçam para N e terminam em bisel de encontro às

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cristas quartzíticas, constituindo superfície de aplanamento que corresponde a ampla rampa com cerca de 2 % de declive. A sul, e subjacente aos conglomerados de Vila de Rei/Mação, identifica-se a superfície culminante da Bacia Cenozoica do Baixo Tejo, materializada por unidades conglomeráticas com areias auríferas, que contém grandes aglomerados de blocos de quartzito e quartzo, subrolados a rolados (conheiras), correspondendo aos produtos finais estéreis de antigas explorações mineiras a céu aberto, cuja unidade pesquisada integra a litostratigrafia dos depósitos continentais cenozoicos do Grupo de Almeirim (Barbosa, 1995). De facto, as conheiras situam-se nos depósitos continentais cenozoicos, de constituição areno-conglomerática, designados por Conglomerados de Rio de Moinhos (Martins & Barbosa, 1992, Martins, 1999) e Conglomerados de Serra de Almeirim (Barbosa & Reis, 1996) na região de Vila de Rei e por Conglomerados de Lousa na região de Mação (Romão, 2000, 2006), sendo todas as unidades atribuídas ao Miocénico Superior. Ao Grupo de Almeirim está subjacente, através de uma descontinuidade erosiva de carácter regional que marca um hiato de tempo significativo, uma sucessão de 30 a 50 m de arenitos feldspáticos, maciços e mal calibrados, localmente conglomeráticos, com clastos angulosos, no geral de composição quártzica. Esta unidade tem sido datada do Paleogénico e designada por Arcoses da Ribeira de Boas Eiras/ Monsanto (Barbosa & Reis, 1996; Romão, 2006). Para além das unidades com conglomerados auríferos já focadas, também foi encontrado ouro nos depósitos holocénicos de terraço (5-10 m de espessura) que ocorrem ao longo da ribeira de Codes e do rio Zêzere. De facto, Oliveira (1975) e Carvalho (1975) obtiveram interessantes teores de ouro por lavagem, bateando manualmente areias da matriz conglomerática de alguns dos terraços fluviais quaternários, reconhecidos a jusante das conheiras. Foram ainda identificados nestes depósitos, diversos aglomerados de blocos e seixos de quartzito e quartzo sub-rolados a rolados, no geral de menor dimensão e com clastos de menor diâmetro, relativamente às conheiras já descritas. O ouro que tem sido identificado ao longo dos tempos é proveniente da exploração de jazidas secundárias relativamente dispersas, donde se pode questionar quais teriam sido as suas fontes primá-

rias. A distribuição dos depósitos de ouro nas unidades conglomeráticas do Miocénico Superior sugere que a sua localização estaria intimamente associada à rede de drenagem dessa época, em particular a zonas onde a velocidade de fluxo das correntes fluviais variavam significativamente. Atendendo à arquitetura dos depósitos, à organização sequencial e às medidas de paleocorrentes é admitido que a rede de drenagem miocénica estaria orientada, no geral, do quadrante NE para o de SW. Assim, seria de esperar que a erosão das litologias que ocorreriam a montante dos sítios explorados fossem, eventualmente, as fontes primárias do ouro, sendo então concentrado por densidade através do transporte pela água. Nesta perspetiva, as formações geológicas com mais expressão cartográfica que poderão ser fonte de ouro, localizadas a montante dos depósitos secundários, correspondem aos metassedimentos do Grupo das Beiras e à Formação do Quartzito Armoricano. De facto, são conhecidas diversas minas em afloramentos do Grupo das Beiras (Góis, Castromil, entre outras de menor dimensão) e, por outro lado, a presença de numerosos blocos de diversas dimensões de quartzitos da Formação do Quartzito Armoricano no seio dos depósitos explorados sugere que os afloramentos desta unidade seriam bem mais extensos e que estavam em desagregação durante o Miocénico, podendo assim ser também fonte do ouro secundário. A região aurífera do Tejo descrita pelos historiadores antigos Durante a Idade Romana, entre o I séc. a.C. e o I séc. d.C., alguns escritores de língua grega e latina deixaram notícias da exploração de ouro ao longo do rio Tejo português e na sua região envolvente. Escreve o geografo de língua grega Estrabão (60 a.C. - 23 d.C.), alguns anos depois (24 a.C.): “alguns destes rios são navegáveis e ricos de areias auríferas” (Estr. Geogr. III, 4, 3-4) e ainda “Assim, os Turdetanos, inundam com transvase de água dos lugares secos, sendo visível o pó de ouro” (Estr. Geogr. III, 2, 19-21), referindo-se a fontes mais antigas, como Políbio (206 a.C. - 124 a.C.) e Posidónio (135 a.C. - 50 a.C.). O estudioso Plínio, o Velho (23 d.C. - 79 d.C.), escrevia na Naturalis História em 77 d.C. que o ouro que se encontra no nosso mundo está lo-

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calizado junto aos rios Indo ou perto das tribos dos Citas, mas também no Tejo, na Hispânia, no Pó, na Itália, no Hebro, na Trácia, no Pactolo, na Ásia, e no Ganges, na India. Nos vales destes rios, os habitantes costumavam obter o ouro, não só a partir da separação das areias não consolidadas dos rios por densidade através da utilização de bateias, mas também de sedimentos consolidados, localizados junto aos rios, usando neste caso, técnicas de desmonte de vertentes para retirar a areia aurífera (Plin. Nat. Hist. XXXII, 21,4). O complexo de mineração aurífera romana de Vila de Rei Após a avaliação do potencial da região para exploração de ouro, procedeu-se à instalação de conjunto de infrastruturas necessárias ao seu desenvolvimento. Estas funções estavam habitualmente a cargo do exército ou de técnicos qualificados, dado que envolviam todas as estruturas relacionadas com a rede hidráulica a implantar, os desmontes mineiros, os canais de evacuação e as acumulações de estéreis. Tendo em conta as técnicas de exploração de ouro a céu aberto na Época Romana (Sánchez-Palencia & Orejas, 1994; Martins - Braz, 2008), os testemunhos visíveis na paisagem que incorpora o território em estudo, consistem de frentes de desmonte de trincheiras, conheiras (dejetos de estéreis), estruturas em “forma de pente” formadas pelos alinhamentos dos blocos e estruturas hidráulicas, nomeadamente barragens e canais. Contudo, a generalidade das evidências de exploração aurífera no Concelho de Vila de Rei é expressa pela presença de conheiras, que correspondem a importantes acumulações de estéreis circunscritas a cotas relativamente baixas (tabela 1). Organizam-se em estruturas em forma de pente, uma vez que sobre o terreno ocorrem alinhamentos dos blocos, na sua maioria, de composição quartzítica que resultaram do desmonte das frentes de trincheiras; por comparação com as plantas das cortas do vale do Duerna e das “Médulas de Léon em Espanha, corresponderiam a corredores de escoamento das águas de lavagem, a par da existência de aterros para o desvio e condução dessas mesmas águas (Domergue & Herail, 1978). Estas ocorrem, na sua maioria, ao longo do baixo curso da ribeira de Codes e na

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sua margem direita, porém também se encontram ao longo do rio Zêzere, junto à sua foz (Fig. 2). O termo conheira pode ter sido originado a partir de duas origens diferentes e consequentemente, apresentar dois significados distintos. Assim, pode derivar da palavra latina Cos / Cotis que significa “penedo” (Romão et al., 2001), ou estar ligado ao nome do povo de Cónios (Guerra, 1996), povoação cuja localização ainda não foi bem definida; admite-se que teria sido edificada provavelmente entre o Sul de Portugal, incluindo o Vale do Tejo, e a Andaluzia (Espanha). Estão associados a áreas onde afloram conglomerados areníticos consolidados (Conglomerados de Vila de Rei ou de Rio de Moinhos), com dimensões médias, onde a extensão é variável desde poucas dezenas de metros até algumas centenas, como por exemplo as conheiras localizadas nos arredores de Milreu (Figs. 3, 4 e 5). Estas já foram analisadas com algum detalhe, quer do ponto de vista geológico (Barbosa et al., 1998) quer arqueológico (Batata & Gaspar, 2013). O volume total de sedimentos extraídos das cortas mineiras a céu aberto (tabela 1), que contêm areias auríferas, foi estimado em acerca de 33000000 m3 (ibid. 21), tendo por base a capacidade dos cúmulos amontoados de seixos descartados ou seja das acumulações de estéreis (conheiras). Com base em avaliações de natureza qualitativa, Batata (2011) coloca a hipótese do ouro extraído ter sido entre os 1200 kg (com um mínimo de 30 mgr./m3) e os 8000 kg (com um máximo de 200 mgr./m3). Recentes avaliações dos volumes de sedimentos com areias auríferas exploradas permitiram realizar uma nova estimativa, porém com valores ligeiramente reduzidos quando comparados com os anteriores. De facto, Batata & Gaspar (2013) estimaram que o ouro extraído se situou entre o mínimo de 990 kg e o máximo de 6,600 kg. Para além das conheiras já focadas, foram ainda reconhecidas diversas estruturas hidráulicas no concelho de Vila de Rei. Destaca-se a presença de pelo menos duas barragens, provavelmente romanas: uma, junto à povoação de Quinta da Laranjeira, da qual só restam testemunhos orais, e outra, no Souto do Penedo (Batata & Gaspar, 2013); ambas localizadas mais a norte e a cotas mais altas A barragem do Souto do Penedo (coordenadas M = 200,2 km; P = 299,0 km), situada a nordeste

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de Milreu, constituiu um aproveitamento hidráulico construído pelo Homem a partir do aproveitamento das condições naturais já existentes no terreno; de facto, estamos na presença de uma barreira natural de natureza quartzítica que atravessa quase por completo a ribeira do Pisão de orientação próxima de N-S, sendo apenas necessários alguns muros de sustentação para a edificação da barragem. O local que foi escolhido para o paredão da barragem corresponde à primeira crista de quartzitos recristalizados da Formação de Quartzitos Armoricanos e contata com os metassedimentos xisto-grauváquicos do Grupo das Beiras (Romão et al., 2001; Romão, 2006). Esta crista, com cerca de 10 a 15 m de altura máxima e 3 a 5 de largura, constitui um estreito relevo de dureza que sobressai na paisagem da zona, sendo composta por uma sucessão de camadas sobrepostas de quartzitos, de direção E-W e pendor para S de cerca de

10º. É ainda possível observar no leito da referida linha de água junto ao paredão da barragem, sobre terrenos xisto-grauváquicos, sedimentos de granularidade muito fina e de cor escura, porém de reduzida espessura. Estes materiais foram eventualmente depositados pelas águas que constituíam a albufeira por processos de decantação. Nesta barragem, junto ao seu paredão, há evidências de suportes e do traçado de diversos canais hidráulicos que possivelmente levariam a água da albufeira até cotas mais baixas, para ser aproveitada na desmontagem das vertentes da formação conglomerática e na lavagem das próprias areias auríferas (Mateus Pereira, 2006). Apesar de alguns dos canais se encontrarem dissimulados, foram encontrados vestígios de um canal com cerca de 5 km de extensão, na direção da povoação de Milreu (Allan, 1965). Contudo, relativamente às conheiras, estruturas hidráulicas (barragens e canais) não existem provas

Figura 2 – Esboço da carta geológica do concelho de Vila de Rei com a localização das conheiras na margem direita da ribeira de Codes e junto ao rio Zêzere, atendendo aos dados de Batata (2013) e Romão et al. (2001). Figure 2 - Geological map sketch of Vila de Rei municipality with the location of the conheiras on the right margin of the Codes riverside and next to the Zêzere river considering the data Batata (2013) and Romão et al. (2001).

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Figura 3 - Conheira de Barroca da Água vista de sul. Figure 3 - Conheira of Barroca da Água view from south.

Figura 4 - Frente de desmonte da mina de céu aberto, localizada a montante da Conheira da Carreira. Figure 4 – Disassemble front of the open pit mine located upstream of the Conheira da Carreira.

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de Rei e a exploração de ouro efetuada pelos povos romanos na região, os únicos dados com algum significado que podem suportar esta hipótese são: . a coincidência destes vestígios com a “cadeia operatória” da mineração romana, que ocorreu à escala da Península Ibérica; . as fontes históricas da Idade Clássica, que atestam o aproveitamento das areias auríferas nas unidades conglomeráticas das vertentes dos vales da rede de drenagem associado ao rio Tejo e não só a partir das areias dos leitos das linhas de água, ribeiras e rios; . as evidências arqueológicas que são conhecidas no território dos concelhos vizinhos, que integram o Médio Tejo, ligadas com à exploração de ouro direta ou indiretamente. Evidências arqueológicas de mineração de ouro fora do concelho de Vila de Rei

Figura 5 – Aglomeração de seixos aos pés da frente de desmonte da Conheira da Carreira. Figure 5 – Pebbles agglomeration at the foot of the quarry front of the Conheira da Carreira.

de cultura material móvel para poder com a certeza absoluta atribuir estes vestígios à Época Romana. De facto, mesmo antes dos povos romanos, as areias auríferas dos referidos conglomerados poderiam ter eventualmente sido exploradas, porém de forma menos intensiva e menos destrutiva, já na Época Proto-histórica. Esta asserção é evidenciada pela relação de proximidade territorial entre conheiras e povoados amuralhados que estiveram ocupados entre a Idade do Bronze Final II (sécs. X - VIII a.C.) e a Primeira Idade do Ferro (a partir do VII séc. a.C.), como por exemplo em Cerro do Castelo (Seada). Esta relação é ainda mais evidente na ribeira do Caratão, já no concelho de Mação, entre duas conheiras e um povoado do Final da Idade do Bronze intitulado Castelo Velho do Caratão (Delfino et al., 2014). Para confirmar a relação entre as conheiras do concelho de Vila

No concelho de Vila de Rei não foram encontradas evidências arqueológicas relativas à Época Romana, com exceção, eventualmente das conheiras, da barragem do Souto do Penedo e de uma ponte, designada Dos Três Concelhos, que sofreu significativas alterações a partir do séc. XVIII (Batata & Gaspar, 2013). De facto, não há nenhuma evidência direta, de que quem construiu as conheiras, a partir do desmonte de vertentes para exploração das areias auríferas, morava na região ou negociava o ouro. Porém, a dimensão das conheiras e das frentes de desmonte das trincheiras sugerem que a organização dos trabalhos e a arquitetura das estruturas necessárias ao desmonte fossem planificadas por especialistas e necessitavam de mão-de-obra qualificada, que não vivia na região; para além disso, os trabalhos requeriam ainda um grande número de pessoas. Contudo, na povoação de Abrantes, que se localiza no interior da bacia hidrográfica do rio Tejo e a cerca de 10 km a sul da ribeira de Codes, há provas da existência de cidade romana, composta, possivelmente, por mais do que um simples vicus. A descoberta de estátua romana em mármore (Fig. 6), datada do Séc. I d.C. (Candeias et al., 2009), junto ao porto fluvial do Rossio de Abrantes, que está localizado na margem sul do rio Tejo e hoje desativado, mas que esteve a operar até à década

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de 40 do século passado. Atendendo ao seu tamanho (2,11 m de altura), esta só pode ser uma estátua forense, na opinião de Luis Jorge Gonçalves, e portanto, associada com uma civitas, ou seja, a um corpo social de cidadãos, já com dimensão significativa. Atualmente, a estátua integra o espólio de arte sacra que se encontra guardada no Museu Municipal de D. Lopo de Almeida, implantado na igreja de Santa Maria do Castelo, no Castelo de Abrantes (Gonçalves & Portocarrero, 2010). Ainda, no morro onde se situa o Castelo de Abrantes, debaixo do pavimento da Igreja focada no parágrafo anterior, foi encontrada outra estátua romana, provavelmente votiva, e um pequeno tesouro de moedas do Calígula (Candeias et al., 2010). A associação, estátua e moedas, sugere a possibilidade de esta área ser um local de vocação votiva ou simbólica. A existência de uma civitas romana em Abrantes, com diversas quintas agrícolas nos arredores, como é o caso do Olival Comprido (ibid.), não parece ser impossível, até pela sua ligação com a exploração do ouro que se pode intuir na provável etimologia do nome cidade atual: Abrantes> Avrantes> Aurantes (aurum = ouro). Ao longo do rio Tejo, na direção montante, existem vestígios e provas de outra estrutura urbana da Época Romana. De facto, foi identificado no Vale do Junco, em Ortiga (Mação), um vicus romano (Fig. 7), que contém um complexo termal com balneário, datado do Séc. III-IV a.C. (Oleiro, 1951; Horta Pereira, 1970; Carvalho, 1987; Batata, 2006). Esta estrutura deveria estar associada, provavelmente, com a mineração do ouro que teria ocorrido ao longo das ribeiras do Caratão e de Boas Eiras (Fig. 8). De facto, nas margens das ribeiras anteriores ocorrem depósitos de conglomerados areníticos (Conglomerados da Lousa) onde foram edificadas conheiras de dimensões consideráveis (Fig. 8). Interpretação das dinâmicas de exploração do ouro entre Proto-História e Época Romana no Médio Tejo português Os dados sobre a quantidade de ouro explorado na Península Ibérica podem ser inferidos a partir do número de peças de ouro conhecidas e do peso de cada peça, sendo quase inexistentes evidências de extração no terreno em mina ou por bateia, quer

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na Pré-História Recente quer na Proto-História. Para os períodos mais antigos, o panorama mostra que o número de peças de ouro criadas no Calcolítico (III milénio a.C.) principiou por ser baixo, com pequenas peças e não maciças, prosseguindo com a produção de peças ainda não maciças, mas muito mais numerosas na Idade do Bronze Antiga e Plena (séculos XXI a XIV a.C.). Na Idade do Bronze Final (séculos XII a VIII a.C.) volta a haver menos peças, porém bastante mais maciças e pesadas; entre a primeira Idade do Ferro (período Orientalizante), datada dos séculos VIII a VI a.C., e a Segunda Idade do Ferro (período Ibérico), considerada dos séculos VI a I a.C., o peso de cada peça de ouro baixa gradualmente de forma significativa e o número de peças produzidas volta novamente a aumentar de forma constante (Perea, 1991). A partir da distribuição das peças de ouro no arco cronológico descrito é possível interpretar que as primeiras explorações do ouro foram provavelmente realizadas a pequena escala nos leitos dos rios, utilizando-se a técnica de lavagem por bateia. Porém, atendendo à maior circulação de ouro no Final da Idade do Bronze, a procura atingiu patamar para o qual as areias dos leitos dos rios dessa época já não eram suficientes, sendo necessário explorar areias auríferas dos paleoleitos dos rios. O início do Império Romano é marcado pela dinastia Júlio - Cláudia (9 a.C. - 68 d.C.), que procurou tanto quanto possível manter a estabilidade do peso do aureus nummus (moeda de ouro que equivale ao valor de 25 denarii em prata). Este objetivo obrigou à exploração sistemática dos leitos dos rios da época e dos mais antigos que continham areia aurífera, o que levou ao seu provável esgotamento já no início do reinado do Trajano (161 a.C.), quando o sestércio em ouro perdeu definitivamente a sua estabilidade em peso. De facto, o peso foi mantido quase inalterado até o reinado de Domiciano, havendo apenas algumas exceções, como por exemplo nos reinados de Nero (54 d.C. - 68 d.C.), Galba (68 d.C. - 69 d.C.), Otão - Vitélio (68 a.C.), Vespasiano (68 - 79 d.C.) e Tito (79 d.C. - 81 d.C.), eventualmente consequência de flutuações da quantidade de ouro descoberta (tabela 2). Atendendo ao quadro apresentado sobre os dados obtidos, em particular, a partir da produção de moedas, podemos considerar que o inter-

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valo de tempo máximo de exploração das areias auríferas foi durante a Época Romana; pode ter sido durante o século I d.C. e o primeiro, segundo e terceiro quartel do século II d.C. Assim, é de esperar que a exploração das unidades conglomeráticas auríferas identificadas na bacia hidrográfica do Médio Tejo Português teria atingido um máximo durante a referida época. A sustentar esta hipótese está o achado de uma ponta de lança de ferro na conheira do Touro (Vila de Rei), provável testemunho da presença de soldados que estariam normalmente em serviço da vigilância aos trabalhos de exploração de ouro; na base da ponta está inciso o acrónimo “M.A.F.”, que segundo Batata (2006) pode significar “Marcus Aurelius Firmus”, procurador dos metais (procurator metallorum) em 191 d.C. na região de Valduerna (Noroeste da Península Ibérica). Em síntese, há dados significativos, que indicam ocorrência e exploração do ouro local a nível de gestão integrada, sobretudo áreas mineiras e montanhosas versus áreas de cidade ao longo do Tejo, quer para a Proto-História, quer para o primeiro período imperial Romano nos concelhos de Vila de Rei, Mação e Abrantes que integram a bacia hidrográfica do Médio Tejo Português. Valorização geo-arqueológica da exploração do ouro no Médio Tejo português A bacia hidrográfica do Médio Tejo ocupa uma região marcada por numerosas evidências da intensa exploração de ouro durante a Época Romana, que eventualmente foi o re-

tomar de antigas atividades mineiras que já tinham ocorrido em tempos proto-históricos. Na região estudada, a área de exploração de ouro pode ser repartida em duas microunidades territoriais com características fisiográficas, económicas e sociais bem distintas. Uma das unidades ocupa uma área situada a norte do rio Tejo, constituída na generalidade por formações rochosas metamórficas, que é designada do ponto de vista geomorfológico como Maciço Antigo. É caracterizada por ser uma zona montanhosa, onde a população de cariz rural e marcadamente extensiva, se dedicava quase exclusivamente à agricultura de subsistência e à exploração do ouro. A outra unidade territorial está na dependência direta do rio Tejo, que era navegável pelo menos até ao vicus de Vale do Junco (Ortiga), e localiza-se especialmente ao longo das suas margens, em particular, nas zonas mais planas. Constitui uma área urbana, onde predominavam atividades comerciais, na qual se destaca o transporte do ouro extraído dos depósitos auríferos para ser conduzido aos centros de cunhagem. Para se ter uma visão de conjunto dos vestígios geológicos e arqueológicos associados com a mineração do ouro durante os tempos romanos na região da bacia hidrográfica do Médio Tejo, é necessário ter em conta todos os elementos e recursos que foram descobertos. Nesta perspetiva, teremos que integrar todos os dados que existem no território dos concelhos de Vila de Rei (conheiras e barragens), de Mação (conheiras e vicus romano) e de Abrantes (conheiras e vila romana) para uma compreensão global da realidade marcada pelo binómio exploração ouro e ocupação humana do território que predominou na Época Romana. A promoção e divulgação deste património cultural através da definição de circuitos integrados de turismo arque-geológico, onde seriam focadas as metodologias utilizadas na exploração do

Figura 6 - Estátua em mármore encontrada em Rossio-ao-Sul-do Tejo (Abrantes) do séc. I d.C. e atualmente guardada no Museu Lopo de Almeida - Castelo de Abrantes (fonte: Câmara Municipal de Abrantes). Figure 6 - Marble statue found in Rossio-ao-Sul do Tejo (Abrantes) of the first century I AD and actually stored in Lopo de Almeida Museum - Abrantes Castle (source: Municipality of Abrantes).

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ouro e a génese das conheiras, e de turismo arqueo-natural, com visitas a civitas em Abrantes e ao vicus em Ortiga/Mação (Fig. 9), bem como o foco no importante papel que o rio Tejo desempenhava como via de transporte entre a região e o mundo romano, na dependência direta das atividades de exploração de ouro, são mais-valias para a valorização económica da região na vertente. Considerações finais A diversidade da paisagem e a ocorrência de numerosos locais onde teria ocorrido a mineração do ouro e os vestígios de aglomerados romanos, que eventualmente dariam apoio a atividades necessárias à sua exploração, enriquecem e valorizam o pa-

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trimónio cultural da região da bacia hidrográfica do Médio Tejo. A sua singularidade e registo, na perspetiva da compreensão da história do lugar e/ou da região e da contextualização à escala dos tempos proto-históricos e romanos, acrescenta valor cultural e importância científica, pedagógica e socioeconómica à região. Os locais inventariados não são renováveis e todos eles têm importância, muitas vezes significativa, podendo ser mesmo assumidos como monumentos geológicos, mineiros e arqueológicos. Justifica-se a sua importância por serem representativos de testemunhos do passado da história da Terra, raros ou mesmo únicos; de facto, apresentam interesse científico e educativo, dado que permitem o conhecimento aprofundado do

Figura 7 - O balneário termal do vicus romano de Vale do Junco (Ortiga, Mação). Figure 7 – The thermal bathhouse of the roman vicius of the Vale do Junco (Ortiga, Mação).

Figura 8 – Representação das conheiras identificadas no Concelho de Mação implantadas sobre um esboço do mapa geológico (Romão, 2000). Figure 8 - Representation of the identified conheiras implemented in Mação Municipality on a geological map outline (Romão, 2000).

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Figura 9 - O sistema integrado do ouro antigo no Médio Tejo Português. Figure 9 - The integrated system of the antique gold in the Middle Portuguese Tagus.

local e a exemplificação dos fenómenos e processos associados com as ciências naturais e sociais. A sua divulgação através de visitas ao terreno ou de folhetos ou roteiros, bem como de circuitos turísticos com guias, que testemunham a história natural e social da região, irá contribuir para o desenvolvimento do turismo da natureza. Salienta-se ainda que os guias e roteiros turísticos devem conter mapas a diversas escalas, com vários itinerários pedestres, de modo a que o património cultural descrito seja acessível à população em geral, na qual se incluem turistas, amadores de geologia e de arqueologia, para além dos alunos das escolas secundárias e do ensino superior. De facto, a elaboração de itinerários, programas e publicações de promoção e divulgação sobre os locais e lugares focados, permite o crescimento de um tipo de turismo distinto do habitual, constituído por indivíduos mais cultos e mais interessados nos valores naturais e no saber, os quais são atraídos por atividades de índole cultural nas suas distintas vertentes. Outra forma de divulgação, que poderá ser usada, consiste no recurso interpretativo de tipo painel

(Dias et al., 2003), ainda com escasso desenvolvimento no país. Porém, esta abordagem interpretativa deverá ser cuidada, para que a mensagem a transmitir seja eficaz e adaptada ao público-alvo. Em suma, a valorização dos locais e lugares mencionados e a sua divulgação à população em geral, e turística em particular, potenciam e fomentam o desenvolvimento de atividade turística que poderá ter elevado interesse socioeconómico para o futuro da região. Agradecimentos Os autores agradecem a elaboração dos esboços de mapas geológicos apresentados á Secção de Cartografia Digital da UGHGC do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, em particular à Dr.ª Ana Pestana.

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