As consequências e riscos do novo espirito do Capitalismo na sociedade global contemporânea

May 23, 2017 | Autor: Claudemir Pereira | Categoria: Sociology, Social Sciences, Globalization, Political Science, Sociology of Risk, Capitalism
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As consequências e riscos do novo espírito do Capitalismo na sociedade global contemporânea. Resumo Este texto tem o objetivo de discutir frente aos textos lidos e as discussões estabelecidas em aula pela disciplina optativa Pensamento Sociológico Contemporâneo II, discorrer sobre a atualidade dos debates em torno da ideia do novo espírito do capitalismo e as consequências para a sociedade contemporânea. Exporemos uma breve análise de como o capitalismo a partir da década de 1970, mediante sua crise estrutural desenvolveu uma nova forma e metamorfoseou o seu substrato, mudando drasticamente a sua estrutura interna e devido a esta crise estrutural, provocou uma mudança em seus paradigmas e bases, inclusive alterando a sua forma de reprodução e seu sistema de acumulação de capital. Palavras-Chave: Capitalismo. Crise Estrutural. Sociedade Contemporânea.

Abstract This text has the objective of discussing with the texts read and the discussions established in class by the elective course Sociological Thought Contemporary II to discuss the current debates about the idea of the new spirit of capitalism and the consequences for contemporary society. We will briefly analyze how capitalism from the 1970s, through its structural crisis developed a new form and metamorphosed its substrate, drastically changing its internal structure and due to this structural crisis, provoked a change in its paradigms and bases, including altering its form of reproduction and its system of capital accumulation. Keywords: Capitalism. Structural Crisis. Contemporary Society.

Introdução O presente artigo visa discorrer sobre uma análise de como o sistema capitalista a partir da década de 1970, mediante a sua crise estrutural interna reformulou e ressignificou em seu cerne interno a sua estrutura, mudando desde a sua base produtiva (abandona a plataforma Fordista-Taylorista e passa a se valer de uma nova plataforma flexível ou do modelo japonês de produção da Toyota) e altera a sua forma de acumulação de capital (de acumulação industrial financeira para a acumulação flexível financeira). Atualmente, a partir do último quarto do século XX, a sociedade contemporânea é dimensionada pelas novas determinações e por um novo espírito do capitalismo. Nesta passagem do capitalismo industrial para o capitalismo flexível, o sistema incorpora em seu cerne interno uma nova fase globalizada e hegemônica. Simultaneamente, entretanto, assistimos a ocorrência de fenômenos econômicos, políticos, sociais e ambientais inusitados que nos levam a considerar que o capitalismo globalizado entrou em uma nova etapa que requer novas categorias para ser compreendido adequadamente. Com o advento da globalização e do desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia aplicada, principalmente nos âmbitos das engenharias de comunicação, eletrônica, transporte e

materiais, estes fatores permitiram ao capitalismo atual um desenvolvimento sem precedentes na história da Humanidade. Através destas Tecnologias conquistou a mundo e o dominou totalmente, imprimindo aos Estados nacionais e sociedades humanas, sua lógica econômica e hegemônica. Através de seus mecanismos destruiu fronteiras físicas e culturais destinando o mundo a um fluxo infinito de dados, informações, materiais e pessoas, processos que se realizam muitas vezes em tempo real. O capitalismo e a globalização adentraram em todos os tecidos sociais e legitimaram seus processos de dominação, criando instrumentos de controle e uma linguagem de representação que espalha pelo globo a sua mentalidade e ideologia. Através de uma engenharia social sofisticada desenvolve uma lógica interna que afeta as subjetividades dos seres humanos, imprimindo aos mesmos seus processos de consenso, ou seja, mediante as críticas que sofre, em seu processo de regulamentação e legitimação de suas ações, absorve as mesmas e, as ressignificas, demonstrando-as como de seu interesse, e desta forma vai aglutinando e destruindo qualquer possibilidade de contradição e crise. Segundo os autores Luc Boltanski e Éve Chiapello, em sua obra O Novo Espírito do Capitalismo (2009) “a verdadeira crise não é do capitalismo, mas sim da crítica ao capitalismo”, para eles “o capitalismo prospera e a sociedade cada vez mais se degrada”. O capitalismo em essência não deixou de lado o seu fator propulsor de produção de desigualdades e miséria, em seu processo por busca de mais lucros, subordinou os Estados nacionais a aceitarem as suas políticas econômicas, que traz consigo o enfraquecimento da atuação dos Estados nacionais nas diretrizes que permeiam as relações do mundo do trabalho, causando a produção do fenômeno da flexibilização e o fim em muitos países de alguns direitos sociais e trabalhistas. Estes fatores associados a quebra ou falência dos projetos de Estado de Bem-estar social de inúmeros países, culminam em fortes crises que lançam ao mundo um contingente inumerável de pessoas ao desemprego e miséria, e geram crises humanitárias sem precedentes em muitos destes países. Para além disso, em sua busca frenética por mais lucros, o capitalismo gera intensos conflitos militares em áreas estratégicas do globo (países do Oriente Médio, da África e sudeste asiático), na busca por recursos escassos e bens materiais primários – como petróleo e minerais raros, não levando em conta, os custos sociais e ambientais destas regiões, e causando neste processo os fenômenos de grandes imigrações de pessoas, destas localidades em guerra para os grandes centros europeus e EUA. Devido a tal fator a sociedade humana e o meio ambiente tem sido vitimadas nas últimas décadas por graves crises sociais, econômicas e ambientais que colocam em risco a garantia

da vida no planeta. Os fenômenos do capitalismo e da globalização em sua atual configuração reformulou a base da sociedade, de sua concepção clássica de sociedade industrial de classes a transforma naquilo a que Ulrich Beck, em sua obra Sociedade de Risco: Rumo a uma outra Modernidade (2010) conceitua como uma “sociedade de risco”, cuja proposta o autor nos leva a uma reflexão crítica em torno dos conflitos e incertezas gerados pela sociedade contemporânea na busca incessante em prol da ideia de desenvolvimento e progresso científico. Neste artigo procuraremos discorrer sobre os impactos que o capitalismo e a globalização imprime a sociedade contemporânea, a fim de considerar as alterações que estes processos operam na produção de subjetividade em razão de novas formas de acúmulo de valor; explicitaremos a noção do advento de um novo espírito do capitalismo, de um intenso processo de globalização, do uso da ciência como valor econômico e de produção de riscos como condição da reprodução insaciável do sistema capitalista por mais lucros.

O Cosmos capitalista e o seu novo espírito O conceito clássico para o termo “cosmo”1 em sua acepção mais comum, emprestado das ciências astronômicas, definimos como: “espaço universal, composto de matéria e energia e ordenado segundo suas próprias leis; universo” e da filosofia clássica grega como: “a harmonia universal; o universo ordenado em leis e regularidades, organizado de maneira regular e integrada”. O Capitalismo em seu atual estado, criou para si, um “cosmos”, em que imprime ao mundo globalizado as suas regularidades e leis, de uma forma que não visa apenas ao ordenamento do mundo, mas também a sua dominação total. Em seu processo de consolidação absorveu toda as formas de contradição, crises e crítica, e se autotransformou, ressignificando muitas de suas categorias e conceitos. O capitalismo remodelou sua estrutura e que pode ser pensada basicamente como o seu “coração” sendo o Mercado Global Financeiro e seu “cérebro”, em boa medida os conselhos das grandes corporações transnacionais e bancárias (a riqueza dos 80 mais ricos deste mundo é a mesma, se juntada, das 3,5 bilhões de pessoas mais pobres), permeado pelo seu novo espírito, sua nova gramática social, sua ideologia neoliberal e sua mentalidade do Manager, ou da lógica da administração empresarial. O capitalismo durante quase toda a sua história, com certa exceção às últimas cinco décadas, vivenciou um período de intensas mudanças ao 1 Dicionário Eletrônico Houaiss (2009).

longo de sua caminhada em direção a supremacia hegemônica e dominação total do mundo globalizado. Desde os seus primórdios com os processos de mercantilização, protecionismo e acumulação primitiva sempre deparou-se com crises cíclicas e passageiras (superprodução de mercadorias), que de certa maneira, não mudaram internamente os seus mecanismos estruturais, mas, durante a década de 1970, uma nova forma metamorfoseou o seu substrato, mudando drasticamente a sua lógica interna e devido a esta “crise estrutural interna”, provocou uma mudança em seus paradigmas e bases, inclusive alterando a sua forma de reprodução e seu sistema de acumulação de capital. Segundo Boltanski & Chiapello (2009), estes autores analisaram a crise estrutural do capitalismo dos anos da década de 1970 e a partir de então traçaram o perfil de um novo espírito do capitalismo, em uma análise inédita da literatura produzida pela gestão empresarial. A partir de meados da década de 1970, o capitalismo renuncia ao princípio de sua plataforma produtiva fordista-taylorista, onde havia uma organização hierarquizada e cristalizada de trabalho e passa a desenvolver uma nova estrutura em rede, mais flexível e verticalizada permitindo aos seus atores uma maior autonomia relativa do trabalho, mas tal transformação acometeu o mundo do trabalho e lançou-o em uma crise, à custa de garantias materiais, ambientais e humanas incalculáveis. A partir dos anos de 1970, a plataforma produtiva fordista-taylorista, o Welfare State keynesiano e o Pacto Capital-Trabalho, que permitiu aos países centrais e ao capitalismo industrial e financeiro atingir o seu pleno desenvolvimento, começou a dar mostra de esgotamento. Estabelecendo assim uma “crise estrutural do capitalismo”, um quadro clínico mortuário que se evidenciou com a queda acentuada e estrutural da taxa de lucro; com o desgaste da plataforma acumulativa e produtiva do modelo fordista-taylorista; com a falência do modelo de Estado de Bem-estar social; crescimento excessivo da esfera financeira – determinando e “colocando o capital financeiro como campo prioritário para a especulação, na nova fase do processo de internacionalização” (ANTUNES, 2002, p. 30); intensificação dos processos das fusões entre empresas ocasionando maior concentração de capitais; e o esgotamento dos Estados nacionais incrementou uma onda acentuada, principalmente nas décadas de 1980/90 de inúmeras privatizações de suas empresas estatais. Essa crise que se intensificou com os fortes ataques das políticas neoliberais, deliberadas pelos governos dos EUA e Grã-Bretanha e pelo enfraquecimento da extinta URSS, iniciou um processo de reestruturação produtiva e inaugurou uma nova era, o capitalismo deixa de lado a base do modelo de acumulação produtiva do fordismo-taylorismo e implanta a forma da

acumulação flexível (Sistema Toyota de Produção), esta nova fisionomia acompanhado do intenso processo de privatização das empresas estatais do Estado, levou às falências milhares de empresas e colocou milhões de trabalhadores nas ruas, intensificando e elevando as taxas de desemprego em inúmeros países, este fato acarretou profundas modificações na morfologia social e nas relações do mundo do Trabalho, ocasionando crises e esgotamentos nas relações entre a Política, sindicatos e trabalhadores. A reestruturação do capitalismo ao longo das últimas décadas, que, como vimos, ocorreu em torno dos mercados financeiros e dos movimentos de fusão e aquisição das multinacionais num contexto de políticas governamentais favoráveis em material fiscal, social e salarial, também foi acompanhada por fortes incentivos ao aumento da flexibilização do trabalho. A desregulamentação dos mercados financeiros, sua descompartimentação, a falta de intermediação e a criação de “novos produtos financeiros” multiplicaram as possibilidades de lucros puramente especulativos, por meio dos quais o capital cresce sem passar por um investimento em atividades produtivas. (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 21)

A criação de novos produtos financeiros e sistemas de investimentos, nada mais é que, repor perpetuamente em jogo o capital no circuito econômico com o objetivo de extrair lucro, ou seja, aumentar o capital que será, novamente, reinvestido, sendo esta a principal marca do capitalismo atual, aquilo que lhe confere a dinâmica e a força de transformação. Independente de seus atores, seja ele o capitalista (acionistas), principalmente aqui definido como aquele que tem capital de investimento e poder político para realizar as manobras necessárias nos cenários que o mundo globalizado enseja, ou, no caso dos trabalhadores assalariados, que na atual configuração do sistema perderam a sua essência primordial, e seu único valor para o sistema se entrelaça na condição de se tornarem consumidores em potencial de suas mercadorias e artefatos econômicos (serviços de bancos, linhas de créditos especificamente para consumo, etc) e se tornaram apenas massa de manobra para as grandes corporações transnacionais. Ambos, independente de sua condição no processo são apenas instrumentos das relações econômicas, e que de certa forma, se tornaram vítimas dos efeitos do capitalismo globalizado, que na acepção do fato, se tornou um ente incontrolável e insaciável na busca frenética por mais lucro. O capitalismo, sob muitos aspectos, é um sistema absurdo: os assalariados perderam a propriedade do resultado de seu trabalho e a possibilidade de levar uma vida ativa fora da subordinação. Quanto aos capitalistas, estão presos a um processo infindável e insaciável, totalmente abstrato e dissociado da satisfação de necessidades de consumo, mesmo que supérfluas (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 38).

Em seu atual momento, o capitalismo com o advento e o desenvolvimento da Ciência e da tecnologia avançada, criou para si e para a dominação do globo – os sistemas abstratos, nas quais torna refém a sociedade e os indivíduos, ou seja, em sua busca infindável de mais lucro (especulativo e virtual), ao valer-se da Ciência (exemplo: o caso do agronegócio: algumas empresas ao abrir seu capital, seus títulos e ações para os mercados financeiros, legitima a especulação no processo, ou seja, o acionista vende uma determinada produção, que ainda nem foi plantada e confiante na Tecnologia (sistemas abstratos), que lhe garante previsões futuras, se lança no processo mesmo ciente de um certo nível de risco, e probabilidades possíveis sobre o clima e mercados, promove a difusão dos mercados futuros). Para além disso, ao validar as suas ações e estratégias, durante o processo (especulação-lucro virtual) legitima a ideologia capitalista que justifica o engajamento dos atores no capitalismo. A qualidade do compromisso que se pode esperar depende, antes, dos argumentos alegáveis para valorizar não só os benefícios que a participação nos processos capitalistas pode propiciar individualmente, como também as vantagens coletivas, definidas em termos de bem comum, com que ela contribui para todos (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 39).

O novo espírito do capitalismo é justamente o conjunto de crenças associadas à ordem capitalista neoliberal que contribuem para justificar e sustentar essa ordem, legitimando os modos de ação e as disposições coerentes com ela. Essas justificações, sejam elas gerais ou práticas, locais ou globais, expressas em termos de virtude ou em termos de justiça, dão respaldo ao cumprimento de tarefas mais ou menos penosas e, de modo mais geral, à adesão a um estilo de vida, em sentido favorável à ordem capitalista. Nesse caso, pode-se falar de ideologia dominante, contanto que se renuncie a ver nela apenas um subterfúgio dos dominadores para garantir o consentimento dos dominados e que se reconheça que a maioria dos participantes no processo, tanto os fortes como os fracos, apoia-se nos mesmos esquemas para representar o funcionamento, as vantagens e as servidões da ordem na qual estão mergulhados. Se nos for permitido um resumo rápido, mas capaz de explicar um pouco melhor o desenrolar da história das teorias econômicas que nos interessa aqui, pode-se dizer que a incorporação do utilitarismo à economia possibilitou considerar como ponto pacífico que “tudo o que é benéfico ao indivíduo é benéfico à sociedade. Por analogia, tudo o que engendra um lucro (portanto, serve para o capitalismo) também serve para a sociedade (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 44)

Nesta perspectiva econômica, só o acumulo e crescimento das riquezas, independente de quem seja o seu beneficiário (de preferência que detenha poder econômico e político), é considerado critério do bem comum. “Evidentemente, seria pouco realista não incluir no

espírito do capitalismo seus três pilares justificativos fundamentais: progresso material, modo de organização social favorável ao exercício das liberdades econômicas e compatível com os regimes políticos liberais” (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 45). Em seu processo de dominação o capitalismo através de seus interesses e instrumentos criados para a legitimação de sua política, criou para si e copiada do Mercado Global uma linguagem e constituição que de certa forma será aglutinada pelas constituições de inúmeros Estados nacionais, pautas de projetos políticos, discursos de líderes internacionais, discursos de atores da mídia e esportistas, que são cooptados e muito bem valorizados para serem exemplos a serem seguidos. Na qualidade de ideologia dominante, o espírito do capitalismo tem, em princípio, a capacidade de permear o conjunto das representações mentais próprias de determinada época, de infiltrar-se nos discursos políticos e sindicais, de formar representações legítimas e esquemas de pensamento a jornalistas e pesquisadores, de tal modo que sua presença é ao mesmo tempo difusa e geral (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 84)

Um exemplo a ser especificado é o uso da linguagem na definição da “coisa pública”, quando pensado o termo “coisa pública” nos remete a ideia de campo político, uma coisa que precisa da mediação da Política para definir o seu uso, valor e apropriação pelo indivíduo ou grupo, e a falta de esclarecimento de tal consenso leva a sociedade ao conflito de interesses. Quando pensado o público como sendo de interesse comum, ou como exercício definirmos como “coisa comum”, nos remete a ideia de campo do Mercado, o bem é comum a todos, domina aquele que tiver maior poder econômico, ou seja, o bem pode ser negociado, e passa a exprimir a ideia de mercadoria, embora em sua essência, é algo público. A sua nova linguagem segue a ideologia neoliberal e palavras como os termos indivíduo, liberdade individual, segurança privada, seguro de saúde, plano de aposentadoria pessoal, Estado mínimo, contrato, plano de carreira entre outros termos, são associadas a sua nova dinâmica, a sua nova linguagem e adentram ao tecido social por sua rede intermediada pela mídia e por uma engenharia social que cada vez mais define e valoriza os quadros de talentos e sucesso que atendem a sociedade capitalista atual. A dominação de uma linguagem permite ao capitalismo determinar quem são seus aliados e seus inimigos, e com o apelo da mídia cria os heróis e inimigos públicos, que podem ser desde indivíduos que cometeram crimes graves às ideologias partidárias e políticas contrárias ao seu sistema. O novo espírito do capitalismo “apresenta duas faces, uma voltada para a acumulação do capital flexível e financeiro, e a outra para princípios de legitimação” (BOLTANSKI & CHIAPELLO, 2009, p. 84) de seus ideais do neoliberalismo. O processo das políticas

econômicas neoliberais da reestruturação produtiva ganha força e obriga os países capitalistas centrais e periféricos a um intenso processo de flexibilização da plataforma produtiva e das relações de trabalho, passando a enfatizar as vantagens das novas formações produtivas; melhora na produtividade, maior lucratividade, pouca rigidez na produção, desmonte de grandes parques industriais, empresas mais enxuta e flexibilidade do tempo (menos horas trabalhadas na fábrica). O neoliberalismo passou a ditar o ideário e o programa a serem implementados pelos países capitalistas, inicialmente no centro e logo depois nos países subordinados, contemplando reestruturação produtiva, privatização acelerada, enxugamento do Estado, políticas fiscal e monetária sintonizadas com os organismos mundiais de hegemonia do capital, como o FMI e o BIRD, desmontagem dos direitos sociais dos trabalhadores, combate cerrado aos sindicalismos de esquerda, propagação de um subjetivismo e de um individualismo exacerbados, dos quais a cultura “pósmoderna” é expressão, animosidade direta contra qualquer proposta socialista contrária aos valores e interesses do capital etc. (ANTUNES, 2002, p. 187).

O assentimento da ideia de precarização, perpassa e informa a degradação das condições de trabalho do novo padrão flexível, em que os direitos sociais e trabalhistas foram não só flexibilizados e destituídos, mas dispostos em função das necessidades do mercado consumidor, configurando o assim as bases do chamado modelo toyotista de produção, em que o operário tornou-se polivalente, diversificado, atuando na lógica do Just in time2, integrado em equipe e trabalhando em prol do controle de qualidade total. A flexibilização do sistema produtivo e a flexibilidade da própria organização do trabalho terminaram intensificando a exploração do trabalho, principalmente com a ocidentalização do modelo japonês, que, por estar muito mais sintonizado com a lógica econômica neoliberal em contrapartida ao modelo da social-democracia, enfraqueceu ainda mais o Estado de bem-estar social, provocando encolhimento dos fundos públicos e uma drástica redução dos direitos e das conquistas sociais válidas para a população em geral. Em contrapartida a globalização exerceu um papel fundamental ao permitir que as grandes corporações transnacionais deslocassem suas plantas produtivas para territórios com mão de obra barata e isenções fiscais, dispersos ao longo do globo, geralmente mantendo os seus centros de administração e poder em cidades financeiras e onde exercem influência no poder político e econômico, de forma decisória em escalas mundiais. O fenômeno da globalização 2 Just in time (JIT) é um sistema de administração da produção que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certa. “Just in time” é um termo inglês, que significa literalmente “na hora certa” ou “momento certo”. Este sistema pode ser aplicado em qualquer organização e é muito importante para auxiliar a reduzir estoques e os custos decorrentes do processo. O “Just in time” é o principal pilar de diversas fábricas, em especial de carros, como por exemplo o sistema Toyota de produção.

em expansão caminha paripassu com a evolução do novo espírito capitalista, pois em seu processo de dominação produz os seus instrumentos de dominação por meio da criação de seus próprios sistemas simbólicos; no caso da globalização – a produção simbólica de signos universais e dominantes, como meios de comunicação e de uma linguagem própria e universal; no caso do novo espírito do capitalismo – de uma literatura própria e interna ao seu sistema de referências que agem como “estruturas estruturantes” (BOURDIEU, 1989, p.8) na produção de seu universo simbólico. Em sua análise mais dissecada podemos notar que a globalização e o capitalismo, por meio da comunicação em rede da Internet criaram em seu núcleo interno uma linguagem e língua própria, que na acepção de Ferdinand de Saussure – “a língua é compreendida como um sistema estruturado e fundamentalmente tratada como condição de inteligibilidade da palavra” (BOURDIEU, 1989, p. 8). O capitalismo e a globalização encontraram na linguagem matemática uma forma de produzir uma língua universal que é traduzida para qualquer idioma humano ou híbrido. Através da Tecnologia avançada da eletrônica e o uso dos meios de comunicação em rede, esta linguagem foi desenvolvida por meio de códigos numéricos e algorítimos matemáticos, que deram um caráter ontológico a este processo de desenvolvimento e formação de uma linguagem universal, que permite a todos, no mundo contemporâneo, se entenderem e se comunicarem através de múltiplas redes e símbolos. Com o desenvolvimento desta linguagem universal e de suas tecnologias, que podemos categorizar como instrumentos de conhecimento e de comunicação, que de acordo com Pierre Bourdieu, em seu livro O Poder Simbólico (1989) discorre sobre o poder estruturante destes instrumentos na produção de sistemas simbólicos de poder e dominação. Bourdieu estabelece que o poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem e dar um sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social). Os símbolos produzidos por estes dois fenômenos – a globalização e o capitalismo atual; se complementam em sua lógica de aglutinar, estruturar e dominar o mundo social e suas demais esferas, são os instrumentos por excelência da “integração social” da sociedade capitalista e global. Através da produção de seus símbolos eles tornam possíveis o “Éthos3 capitalista” e dão um “senso global” acerca do sentido do mundo social e implementam os fundamentos para a reprodução da ordem social, no caso capitalista e da globalização, constituem um “poder simbólico” e real, dentro da ideia de uma lógica de integração legitima sua dominação imprimindo ao mundo social sua condição de ser integrador absoluto. 3 Conjunto dos costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento (instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças), característicos de uma determinada coletividade, época ou região. In: Dicionário eletrônico Houaiss (2009).

O poder simbólico como poder de constituir o, dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário. Isto significa que o poder simbólico não reside nos sistemas simbólicos em forma de uma “ilocutionary force” mas que se define numa relação determinada – e por meio desta – entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença (BOURDIEU, 1989, p. 14).

Com o desenvolvimento das redes mundiais de comunicação, a internet e as intranet’s das grandes corporações e instituições financeiras; as imigrações e fluxos contínuos de dados, informações e pessoas impõem ao mundo social uma força especial que torna visível o horizonte de referência destes instrumentos. Estes instrumentos são cooptados e relacionados aos interesses das classes dominantes, e por meio destes, as classes dominantes produzem seus símbolos de dominação e suas ideologias, que servem-se de interesses particulares intrinsecamente a si e tendem a se apresentar ao mundo, como interesses universais, comuns a todos e que todos serão beneficiados. Uma falácia, pois o real interesse da classe dominante é a subordinação da classe dominada, e por esta razão, produz sua própria cultura dominante. Uma cultura dominante que é disseminada por seu meio de comunicação e sua tecnologia, sabendo que a comunicação e as relações de poder são inseparáveis e são determinadas pela forma de acumulação de capital – material, virtual e simbólico, que quando são colocados na conta, determinam sua legitimação e poder, de umas sobre as outras. Embora caminhem conjuntamente, a globalização e o capitalismo, não são dependentes um do outro, um pode existir sem o outro, embora juntos, são hegemônicos e totalitários, ambos são sistemas de forças poderosas e pontos de equilíbrio dinâmico nas mediações de campo político, social e econômico. Mas em seu espírito interno são forças livres e incontroláveis, ultrapassam os limites e fronteiras das relações humanas, seja qual for o campo de ação, uma esfera de poder que não tem Estado, indivíduo ou grande corporação transnacional que o detenham, um processo que tem seu limite apenas nas condições primárias dos recursos do planeta, talvez este seja o único limite para estes fenômenos, o esgotamento total dos recursos do planeta Terra.

A globalização e a sociedade de risco Em sua obra intitulada Globalização: As Consequências Humanas, de 1999, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman demonstra uma detalhada história da globalização, desde o desenvolvimento de computadores e o surgimento da Internet, da comunicação em tempo real e das consequências desta tecnologia para as relações humanas e sua sobrevivência. As fronteiras físicas foram derrubadas ou ressignificadas neste processo, mas, doravante ao efeito sobre o espírito humano, estamos cada vez mais cerceados de nossa liberdade e subjetividade, nosso campo de atuação foi delimitado, em nosso narcísico sonho de ser um ente global e livre; embora aparentemente e enganosamente parecíamos estarmos na direção das ações humanas, construímos um novo mundo em que não somos capazes de ditar os acontecimentos ou prever os riscos eminentes das consequências globais e catastróficas da globalização e do capitalismo em suas esferas de poder – político, econômico, científico e militar. A “globalização” está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns, “globalização” é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém, “globalização” é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo “globalizados” — e isso significa basicamente o mesmo para todos (BAUMAN, 1999, Pg. 7).

A globalização em sua nova formação estrutural totalizante forçou impiedosamente aos países do globo a abertura de suas fronteiras por meio de acordos econômicos, políticos e sociais, visando um fluxo permanente e infinito de informações, recursos e pessoas. Com a ressignificação das fronteiras físicas (territoriais) e subjetivas (ideologias, barreiras culturais, barreiras sociais, mentalidades e psiquismo individual) fortaleceu os centros de produção de significados e valor, transformando estes em elites extraterritoriais e segregando os outros espaços de disputa, causando uma progressiva ruptura de comunicação entre estes atores, e criando um grande divisor – países ricos com tecnologia avançada tornando-se cada vez mais globais e países em desenvolvimento, forçados a serem cada vez mais locais e subordinados. Com o deslocamento destas forças e concentração nos centros elitistas, a atual polarização tem muitas dimensões; este novo centro produz uma desigualdade social e econômica sem precedentes na história humana, com implicações políticas, ambientais e sociais que colocam os países numa saia justa na luta por reconhecimento, sobrevivência e garantias de recursos primordiais para o desenvolvimento e sustentabilidade de seus povos.

A globalização permitiu ao indivíduo moderno uma mobilidade extraterritorial e um aumento da esfera de sua liberdade individual. A mudança constante de suas localidades em busca de melhores condições de trabalho e vida, e com o fim das fronteiras físicas e/ou parcialmente acordados os fluxos imigratórios ou acesso regulado pelos estamentos econômicos das grandes corporações transnacionais e bancárias, e por fim com a flexibilização do mundo do trabalho; o sistema capitalista em paripassu com a globalização impôs ao indivíduo moderno uma lógica que traz seus próprios males, a perda da consciência de coletividade, ou seja, com a globalização e a fragmentação do mundo do trabalho corporativo e industrial, os indivíduos estão cada vez mais desenraizados de suas origens e marginalizados de suas identidades políticas e socioculturais, tornando-se meramente forças livres de trabalho, sem direitos legitimados e aceitando condições precarizadas de trabalho e remuneração, que como processo final degrada a sua condição humana e consciência de pertencimento a algo e, o desenraíza de suas origens e tradições. Dado o cenário acima mencionado, com a desregulamentação de muitos direitos trabalhistas e sociais, o indivíduo influenciado por uma força oculta estabelecida pela mídia e interesses de grandes corporações, tendem cada vez mais solicitar junto aos seus Estados nacionais e/ou governos vigentes a garantia de seus recursos (trabalho, moradia, saúde, educação, outros) e direitos (regulamentação e proteção). O que coloca em xeque a qualidade e a eficiência da Política e suas instituições em nosso contexto atual, que outrora era a detentora do poder e ditava as regras do jogo, atualmente em sua luta por determinações, regulamentação ou desregulamentação, sofre com o jogo de interesses e sanções econômicas impostas pelas grandes corporações e as instituições internacionais do Mercado (FMI, Banco Mundial, OIT e OMC). A maioria dos países foram duramente atingidos pelas últimas crises do Capitalismo Financeirista dos últimos anos, o que acarretou reduções drásticas em suas plataformas produtivas e de serviços agregados, levando os Estados nacionais a repensarem seus projetos políticos e sociais e colocá-los em segundo plano frente a primazia dos projetos econômicos, mas como boa parte destes Estados apresentam grandes problemas econômicos e necessitam de grandes empréstimos para resgatarem sua capacidade produtiva e atrair novamente investimentos de capitais, muitos se rendem as lógicas e regras das imposições do FMI e Banco Mundial, o que leva estes a propagação de cortes e reajustes nas esferas dos gastos sociais. Esta ação causa uma profunda revolta por parte da população em relação aos seus representantes políticos, que tornam-se lentos e reacionários as exigências e demandas apresentadas pela sociedade civil, que cada vez mais orientadas pelas imposições da ideologia

capitalista e do advento da supressão da esfera pública pela privada acha seus governos ineficientes e corruptos, levando a esfera política a uma corrosiva crise de representação e a desqualificação dos ideais democráticos. Diante de tal fato, a globalização e o capitalismo atual nos coloca diante de um paradoxo: os seus instrumentos e instituições permitiram aos indivíduos e as sociedades contemporâneas caminharem em prol do desenvolvimento e da emancipação do conjunto da humanidade, mas produziu em seus cernes internos vários dramas que colocam em risco a vida humana e nãohumana do planeta. A Ciência e a Tecnologia estão em um patamar nunca visto na história da humanidade, criou formas lógicas avançadas de sistemas abstratos, que aparentemente tem respostas para as mazelas da sociedade, mas é uma falsa ideia se assentar nesta proposição de segurança e garantia; assim como o capitalismo e a globalização, a Ciência tornou-se um ente abstrato que coloca em risco o seu entorno, a sociedade humana e o meio ambiente. Em sua obra, Sociedade de Risco: Rumo a uma outra Modernidade (2010), o sociólogo alemão Ulrich Beck nos apresenta uma análise e diagnóstico de nosso tempo, às vezes, um pouco distópico, mas em grande medida nos aponta uma tese em que a sociedade industrial de classes, caracterizada pela produção e distribuição de bens, em alguns países do Ocidente, e também a consolidação da Democracia e da expansão de direitos sociais, foi ultrapassada e deu passagem para a “sociedade de risco” e está atingindo sua plena maturação na medida em que a Ciência e a Tecnologia criaram em seu processo um cenário que não dão conta mais de suas predições e controle de riscos, o que de certa forma geram grandes incertezas e consequências incalculáveis para a vida humana e para o meio ambiente. Na modernidade tardia, a produção social de riqueza é acompanhada sistematicamente pela produção social de riscos. Consequentemente, aos problemas e conflitos distributivos da sociedade da escassez sobrepõem-se os problemas e conflitos surgidos a partir da produção, definição e distribuição de riscos científico-tecnologicamente produzidos (BECK, 2010, p. 23).

Este conjunto de riscos geraria “uma nova forma de capitalismo, uma nova forma de economia, uma nova forma de ordem global, uma nova forma de sociedade e uma nova forma de vida pessoal” (BECK, 2010, p. 7). A sociedade de risco caminha paripassu diretamente com os processos do novo espírito do capitalismo e da globalização: os riscos são democráticos e globais, afetando as sociedades humanas e classes sociais em todo o globo sem respeitar fronteiras de nenhum tipo. Os processos que passam a delinear-se a partir dessas transformações são ambíguos, coexistindo grande concentração de renda nas mãos de poucos e maiores concentrações de pobreza em larga escala e produzindo uma massa de famintos e

miseráveis sem precedentes, as disputas do campo político e econômico tem produzido um crescimento de nacionalismo e fundamentalismos religiosos, crises econômicas globais, e aumentado os conflitos armados e guerras locais e, por fim, potencializando as catástrofes ecológicas e tecnológicas. Em seu livro, Beck (2010) nos aponta num primeiro momento os riscos ecológicos (com impacto imediato sobre a Biosfera terrestre), químicos e nucleares (principalmente o seu uso militar na fabricação de armas de destruição em massa) e os riscos genéticos (advindo dos avanços da Bioengenharia e do seu uso na produção de sementes transgênicas e pesquisas médicas em seres humanos e outras espécies animais e vegetais); de acordo com o autor, muitos destes riscos são consequências das ações de indústrias de grande porte, laboratórios de pesquisa avançada, multinacionais, complexos industriais bélicos, grandes corporações transnacionais e governos dos países mais rico do globo. Beck (2010) em suas últimas análises sobre a sociedade de risco englobou às categorias acima mencionadas, a categoria dos riscos econômicos, que em grande medida nos apresenta suas trágicas consequências ao mundo do trabalho e as economias dos países do globo, com as suas constantes crises financeiras e queda de mercados financeiros internacionais. A sociedade de riscos traz consequências em seus processos na qual não são utilizadas medidas protetoras para a manutenção e garantia lógica da proteção da vida. Esta é conduzida por uma lógica inversa a garantia da vida; seus interesses são predominantemente econômicos e são amplamente protegidas pelas leis e constituições, muitas vezes, elaboradas por conselhos de grandes corporações e individualizados juridicamente por instituições de caráter globais, cuja força de lei é instituído e minimizados politicamente por seus representantes legais e colocados nos centros de decisões majoritários – de Congressos Nacionais a Conselhos Internacionais (Banco Mundial, FMI, ONU, OTAN, Fóruns Mundiais, entre outros) que visam apenas os fins puramente econômicos. Os riscos científicos são expostos e legitimados por sub-políticas em grandes Fóruns de Encontros Mundiais, com as mais abrangentes questões de ordem e agendas que classificam os níveis de riscos submetidos à Humanidade; tais como conflitos armados, veto ao uso de armas de destruição em massa, genocídios e programas de combate às mazelas naturais (fome, miséria, desastres naturais) que afligem o espírito humano; ou legitimam o uso de tecnologias, como a biotecnologia e a engenharia genética na produção de sementes transgênicas, testes de novos medicamentos e vacinas em processos bioéticos complicados, que em prol da ideia de prevenção, colocam em risco a vida humana.

Neste conjunto de fatores, Beck (2010) nos aponta especificamente três grandes ameaças, de caráter global e total, que afetam toda a esfera da vida no planeta, fatores que podem ou não serem complementares entre si: Primeiramente aponta os “conflitos tipos bads” que envolve os riscos pertinentes a destruição ecológicas decorrente do abuso sucessivo de testes científicos e produtos tecnológicos a que a natureza é submetida em prol do desenvolvimento industrializado, do progresso científico e da tecnologia avançada; riscos tais como o aquecimento global, efeito estufa, poluição (solo, atmosfera, mananciais aquíferos), destruição de ecossistemas orgânicos por testes militares e científicos, abuso de agrotóxicos, buraco na camada de ozônio e os riscos recorrentes ao uso da engenharia genética na produção de sementes transgênicas e nas pesquisas médicas em animais, plantas e seres humanos. Em segundo lugar aponta os “riscos de caráter humanitários” relacionados a pobreza, habitação, alimentação, saneamento, saúde, perda de espécies e destruição de habitats, esgotamento de recursos naturais, como água, combustíveis fósseis. E em terceiro coloca na conta os “riscos decorrentes ao uso de tecnologia NBC (nuclear, biological, chemical)” na produção de armas químicas e nucleares de destruição em massa, testes clínicos de vacinas e medicamentos e/ou produção de certos tipos de doenças (a tecnologia biomédica avançada reproduz ou altera o DNA e a propriedades mortíferas de alguns vírus e bactérias); o autor alerta que tais riscos são mediados por cenários conflitantes e amplamente vinculados aos efeitos políticos e militares de países fundamentalistas e potencial uso por facções terroristas espalhadas pelo mundo. A grande eminência de um destes riscos acometerem a sociedade humana é o fato desta classificação e diagnóstico demonstrar que tais riscos não precisam ser necessariamente de escala global, terá como consequência final o efeito global, mas, na realidade, grandes áreas ou partes do mundo estão permeadas por conflitos de caráter local e emaranhadas por questões de ordem étnicas, raciais, culturais, escassez de recursos e disputas por poder (Político, econômico, territorial) e influências de grupos religiosos fundamentalistas e de células terroristas em ascensão (geralmente associadas a ideologias contra a ocidentalização do mundo e abuso do poder dos grandes centros capitalistas). A partir de 2008, a crise econômica e financeira que atingiu o mundo globalizado tem intensificado e produzido em muitos Estados nacionais a necessidade de recuperar as suas economias, a crise produziu graves implicações políticas, trabalhistas e sociais. Os Estados nacionais apresentam grandes dificuldades de recuperar e controlar as suas economias, frente a este desafio, tendem a reduzir seus custos sociais para retomar a sua matriz produtiva

lucrativa, e em alguns casos suas políticas econômicas têm demonstrado ineficiência, e agravado o cenário, repercutindo em taxas exorbitantes de desemprego, inflação alta e PIB retroativo. As politicas econômicas ineficazes tendem a causar sérios conflitos na relação capital-trabalho e mediante ao fenômeno da individuação e da flexibilidade das novas formas de trabalho reproduz na sociedade uma tamanha desigualdade social e econômica que leva muitos governos ao caos político, conflitos armados e a ruptura das estruturas burocráticas essenciais a manutenção da vida (trabalho, segurança, alimentação, aposentadoria), que no fim, aprisionam e jogam milhões de sere humanos à pobreza e a miséria. O capitalismo vive um novo momento caracterizado por uma natureza flexível, que ataca as formas rígidas da burocracia, as consequências da rotina exacerbada e os sentidos e significados do trabalho; criando uma situação de ansiedade e incerteza nas pessoas, que não sabem os riscos que estão correndo, colocando em teste o próprio senso de pertencimento e caráter pessoal. Beck (2010) apontou como sendo um processo de individuação três fatores básicos, que ele coloca como proposições universais. (…) desprendimento em relação a formações e vínculos sociais estabelecidos historicamente, no sentido de contextos de domínio e provimento (“dimensão da libertação”), perda de seguranças tradicionais, com relação a formas sabidas de atuação, crenças e normas de direcionamento (“dimensão do desencantamento”) e – com o que o sentido do conceito se converte em seu contrário – uma nova forma de enquadramento social “dimensão do controle e da reintegração”) (BECK, 2010, p. 190).

A especialização flexível obriga os trabalhadores a um intenso processo de individuação e a constantes mudanças em seus comportamentos sociais; obrigados pela nova dinâmica do trabalho flexível a que são submetidos, são obrigados ao aperfeiçoamento e transformações em suas funções e profissões, devido ao fato de, neste processo sofrem uma transformação profunda em sua natureza. Neste processo os indivíduos são submetidos a processos de desenraizamento de suas tradições e alteram as suas relações humanas, sofrendo constantes mudanças em suas biografias e aglutinando em suas subjetividades as tramitações simbólicas da ideologia capitalista. Para além disso, com os processos cada vez mais globalizados de trabalho e relações capitalistas de consumo imprimiram nas sociedades humanas um processo civilizador a que são reféns e precisam ser adaptadas a tal lógica. A globalização com o desenvolvimento de várias ciências – da tecnologia da informação, sistemas computacionais, redes de comunicação e da eletrônica criou em seu cerne interno, parâmetros que suplantaram a estrutura e superestrutura das sociedades humanas modernas e industriais (outrora tema de contradições e lutas de classes sociais), encerrou em sua multifacetada transformação a

“compressão tempo/espaço”4 e a especulação financeira numa lógica interna ao novo espírito do capitalismo – o caráter de manager, copiado da administração privada e ressignificado com sua nova estrutura flexível, permeado por um sistema da produção enxuta, do Just in time, de comunicação em tempo real e da maximização dos recursos em prol de uma produtividade nunca antes vista, que encerra em seu núcleo a infinita busca por mais lucros, cada vez maiores e sem muito custo de operação, embora com um custo socioambiental incalculável e aumento da desigualdade em escalas globais.

Considerações finais O presente artigo procurou demonstrar as implicações sociais e globais de um sistema econômico que atingiu a sua plena hegemonia e sepultou todas as possibilidades contrárias a partir do fim da URSS e da utopia do socialismo no final do século XX. A partir do processo de reestruturação de seu modo de produção e de sua lógica de acumular cada vez mais lucros sob suas ações, o capitalismo do início do século XXI apresenta ao mundo contemporâneo, um novo espírito – cuja estrutura é baseada na nova literatura da gestão empresarial e das ciências econômicas e, que impõe ao mundo a ação do Mercado Financeiro sob o controle do Manager. Em sua nova base de acumulação, abandona a plataforma produtiva industrial fixa e apresenta uma nova forma de acumulação flexível – capital financeiro virtual vinculado as ações de mercados futuros. Diante deste fato cada vez é mais corrente a ideia de que diante da ineficiência das políticas econômicas dos Estados no Mercado, seus governos têm estabelecidos constantes cortes nos direitos sociais e trabalhistas, direcionados pelas políticas neoliberais que ditam as regras do Mercado Mundial atendendo em grande medida aos interesses das grandes corporações transnacionais. Os avanços da política neoliberal desde a crise dos anos 1970 geraram uma dinâmica de não intervenção na ordem social, que tem agravado e precarizado a condição humana da classe de trabalhadores, desamparada pelos seus agentes históricos reivindicativos (Partidos de Trabalhadores e Sindicatos) e sendo brutalmente violada em seus direitos por constantes ataques de reformas trabalhistas e sociais (redução de direitos) direcionadas por diretrizes estatais e neoliberais em grande medida por orientações de cunho econômico por 4 David Harvey, em sua obra Condição Pós-moderna (1989), enfoca a globalização através da caracterização do processo de compressão do tempo-espaço, isto é, a presença na história do capitalismo de uma tendência à aceleração do ritmo da vida, simultânea a uma conquista paulatina das barreiras espaciais, provocando uma sensação de encurtamento do tempo e encolhimento do espaço. Discorre sobre a transformação e compressão do espaço e do tempo na experiência humana foi uma das mais relevantes mudanças ocorridas com a transição do fordismo para a acumulação flexível.

parte das grandes corporações transnacionais, que não medem os riscos e custos a que sujeitam as sociedades. Com o advento da globalização, do desenvolvimento da Ciência e Técnica, utilizando de uma nova forma de linguagem adentrou em todas as esferas do substrato humano e instituiu um novo padrão as sociedades e aos Estados. Uma poderosa ideologia fortaleceu o poder avassalador do capitalismo – a lógica das ações neoliberais, onde os indivíduos tornaram-se presas dos discursos em prol de estabilidade econômica, das liberdades individuais e desenvolvimento intenso. O Mercado Financeiro e Global em sua configuração atual tem causado danos irreparáveis e riscos que coloca em questão a sobrevivência da espécie humana e do planeta. O Mercado Global e Financeiro institui ao mundo suas instituições e prende os Estados em uma rede tão emaranhada, forçando a esses atores acatar suas leis e regularidades, não levando em conta os custos sociais e ambientais. O século XXI vivencia uma avassaladora dominação por parte do sistema capitalista que torna-se o processo civilizador em potencial da atualidade, imprimindo ao mundo sua lógica de poder, criando seus sistemas simbólicos de dominação, destruindo fronteiras e culturas, sem precedentes na história humana.

Referências Bibliográficas ANTUNES, R. Os Sentidos do Trabalho. São Paulo: Boitempo, 2002. BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar 1999. BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: UNESP, 2010. BOLTANSKI, LUC e CHIAPELLO, Eve. O novo espírito do Capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. HARVEY, D. Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2007.

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