AS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS DA PÓS-MODERNIDADE E DO NEOLIBERALISMO

July 24, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Sociology, Economics, Political Science, Postmodernism
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AS CONSEQUÊNCIAS NEOLIBERALISMO

POLÍTICAS

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PÓS-MODERNIDADE

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Fernando Alcoforado* Dois fatores foram decisivos para que a globalização produtiva, comercial e financeira se impusesse no mundo para promover a expansão do sistema capitalista mundial: 1) o fracasso do Keynesianismo como política econômica capaz de alavancar o desenvolvimento dos países capitalistas centrais e periféricos a partir da década de 1970, após o “boom” do capitalismo dos “anos gloriosos” das décadas de 1950 e 1960; e, 2) a crise que levou ao fim da União Soviética e do sistema socialista do Leste Europeu no final da década de 1980. Eles abriram caminho para a mudança no modusoperandi do sistema capitalista mundial com a implementação da globalização produtiva, comercial e financeira em escala planetária quando foi introduzida a ideologia neoliberal que preconiza o desmanche do Estado – como agência econômica, de prestação de serviços públicos e de proteção social -, de precarização das relações trabalhistas e do emprego e da contenção das lutas sindicais e populares, a internacionalização do capital, em todas as suas formas (produtiva, comercial e financeira) e a adoção de políticas de desregulamentação do mercado e retirada das barreiras protecionistas, liberalização e abertura dos mercados dos países, centrais e periféricos, do capitalismo mundial. Esta mudança se concretiza com a chegada ao governo das forças liberais e conservadoras na Inglaterra, em 1979, com Margareth Thatcher; nos Estados Unidos, em 1980, com Ronald Reagan; e na Alemanha, em 1982, com Helmut Kohl. Na Inglaterra, as primeiras políticas de cunho neoliberal implementadas foram a desregulamentação, a privatização e a abertura comercial as quais foram incorporadas pelos organismos multilaterais, fundamentalmente FMI e BIRD, e implementadas nos países que recorrem a estas instituições, em especial os países periféricos. O fracasso do Keynesianismo como política econômica capaz de alavancar o desenvolvimento dos países capitalistas centrais e periféricos a partir da década de 1970 e a crise que levou ao fim da União Soviética e do sistema socialista do Leste Europeu no final da década de 1980 desencadearam o fim definitivo da Modernidade que nasceu com a Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII. O fim da Modernidade que se baseava na sociedade industrial coincidiu também com o advento em 1962 do conceito de sociedade pós-industrial formulada por Daniel Bell, autor entre outros de The Coming of Post-Industrial Society (New York: Basic Books, 1973). Na opinião de Bell, ao nível econômico, as sociedades pós-industriais caracterizam-se pelo crescimento do setor dos serviços enquanto principal atividade econômica, que substitui assim em importância a produção de bens da sociedade industrial. Em termos de estrutura de classes, a sociedade industrial se apoiava no proletariado para produzir bens, enquanto na sociedade pós-industrial prevaleceriam as profissões técnicas e setores tecnológicos intelectuais. Alain Touraine, autor de La Société Post-Industrielle (Editions Denoel, 1969), destacou também a importância do conhecimento no novo contexto pós-industrial. O que vem a ser uma sociedade pós-industrial? Trata-se de uma sociedade que empregaria cada vez mais o seu trabalho no setor de serviços e cada vez menos no setor industrial, de forma que o processo produtivo guardaria menos relação com as 1

características do processo fabril. A sociedade pós-industrial seria caracterizada justamente pela lógica dos serviços. Sai de cena a fábrica moderna e aparecem o comércio, os serviços, as finanças, o lazer, o ensino, a pesquisa científica como bases da nova era. Esses processos produtivos pós-modernos não exigiriam mais fábricas com linhas de montagem, mas processos programados baseados na tecnociência – daí o papel central, para este tipo de pensamento, da 3ª. Revolução Tecnológica, baseada na microeletrônica – que demandam a crescente implementação de sistemas de informação computadorizados.

Para o pós-modernismo, a Modernidade teve como base a produção sustentada na grande indústria e na Pós-Modernidade o comércio e os serviços teriam um espaço mais abrangente na sociedade do que a produção fabril. Os ideólogos da PósModernidade afirmam que estaríamos em uma nova era, pós-moderna na qual não valeriam mais as teorizações passadas que construíam seus argumentos sobre o capital, capitalismo, valor, trabalho produtivo, proletariado revolucionário, etc., a partir da lógica industrial, fabril. Em outras palavras, a morte da Modernidade implicaria na morte do pensamento de Karl Marx, assim como a de qualquer metanarrativa totalizante. Assim, na concepção do que seria a sociedade pósindustrial, o pós-modernismo passa para a negação de toda perspectiva totalizante e para a afirmação da fragmentação, do descontínuo e do caótico. Entretanto, trata-se de uma falácia afirmar que crescimento do setor serviços, vis-àvis o setor industrial, nega o que Marx descobriu a respeito do funcionamento do capitalismo, uma vez que este não se confunde apenas com a indústria e nem pode ser definido pela produção material, isto é, pela produção de valores de uso materiais. Muito do que é hoje chamado de setor serviços, constitui-se, na realidade, de capital que aciona meios de produção e força de trabalho com o fim de gerar e realizar a mais-valia. Logo, o que define o trabalho produtivo, seja industrial e do setor de serviços, é um critério de valorização de uma relação social e não de produção material. Além de afirmar a existência da sociedade pós-industrial em substituição à sociedade industrial nascida no século XVIII, muitos dos autores defensores da PósModernidade advogam também falsamente o fim das classes sociais, de forma que a sociedade pós-industrial seria, ao mesmo tempo, e pelas mesmas razões, uma sociedade pós-classista. A Pós-Modernidade seria fruto, assim, da derrota do socialismo real, isto é, da derrota de uma metanarrativa que se propunha alternativa frente à ordem capitalista. Ao capitalismo neoliberal seria necessário a todos reconhecê-lo como uma realidade incontestável, contra o qual não poderiam ser construídas alternativas totalizantes. O que fazer frente a essa nova era pósmoderna? Como agir coerentemente diante do mundo? A resposta pós-moderna é a de que não deveríamos tentar nos engajar em algum projeto global. A opção oferecida pela Pós-Modernidade do ponto de vista político para os povos do mundo inteiro limita-se às seguintes alternativas: 1) capitulação/resignação/conformismo com a vitória histórica do capitalismo globalizado neoliberal; ou então, 2) contestar a ordem vigente, mas não a partir de uma perspectiva totalizante, global que leve à substituição do capitalismo, mas sob uma ótica fragmentada de lutas. A postura prática do pós-modernismo é de não 2

contestar a lógica capitalista como ela é de fato. Deliberadamente, a Pósmodernidade defende a tese de que é impossível contestar um sistema vitorioso e que veio para ficar, o capitalismo neoliberal. Apesar da ditadura neoliberal imposta globalmente, a atual crise do neoliberalismo manifestada na crise mundial de 2008 demonstra sua incapacidade em retomar o crescimento/desenvolvimento econômico nos países que aderiram a esse receituário de políticas e do sistema capitalista mundial como um todo. O caráter político retrógrado da Pós-Modernidade e do neoliberalismo apresentado neste artigo será complementado no próximo artigo (final) a ser publicado sob o título O IMPERATIVO DA REINVENÇÃO DO ILUMINISMO PARA ENFRENTAR E VENCER O NEOLIBERALISMO E O PENSAMENTO PÓS-MODERNO. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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