\"As democracias com adjetivos\" no discurso da ciência política: o lugar da América Latina no mapa teórico do mundo // America Latina: os espaços e pensamentos: corpos locais e mentes globais sociedade-politica-economia e cultura. Os materiais do IV Congresso Internacional do NUCLEAS. UERJ

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"As democracias com adjetivos" no discurso da ciência política: o
lugar
da América Latina no mapa teórico do mundo


Elena Shitova[1]
Doutoranda em ciências políticas pelo Instituto da América Latina,
Academia de Ciência da Rússia, Moscou




Resumo
Em muitos países e sociedades há uma lacuna entre institutos
democráticos formais e valores culturais, históricos e tradicionais. O
fenômeno das «democracias» que se enquadram nos padrões formais e
procedimentais, mas que ao mesmo tempo levantam dúvidas sobre a sua
natureza democrática, deu origem a novos conceitos para descrever as
recentes mudanças – o conjunto desses conceitos denomina-se "democracias
com adjetivos''[1]. Atualmente, o discurso sobre as "democracias com
adjetivos'' abrange mais de 60 países, em especial os estados da América
Latina. O presente artigo tem por objetivo analisar o conceito de
"democracias com adjetivos', indicar a quais fenômenos ele se aplica,
descrever as principais etapas da sua formação, trazer à luz questões
fundamentais relacionadas ao discurso democrático e apresentar os
principais embasamentos teóricos de seus autores.


Palavras-chave:
"Democracias com adjetivos", democratização, América Latina,
distribuição regional das "democracias com adjetivos", regime político.


Abstract
There is a gap between formal democratic institutes and cultural,
historical, traditional values in some countries/ societies. The fenomenon
of democracies that meet the formal and procedural grounds, but raising
doubts about its democratic nature, generated new concepts to describe the
changes taking place, collectively called 'democracies with adjectives'.
Presently the discourse involves more than 60 countries. The most detailed
discussion there is on case of the countries of Latin America. The article
explaines the concept 'democracies with adjectives', indicates in which
field exists this concept, describes the main stages of its formation,
marks the problem areas that are under consideration by the discourse of
democracy, shows graffically the countries that are covered by this
discourse, and the stratedies of the authors of the concepts.


Keywords:
'democracy with adjectives', democratization, Latin America, regional
dimension of 'democracy with adjectives', political regime


De acordo com a organização Freedom House, 123 dos 197 países
existentes hoje são democráticos[2]. O principal critério para tal
avaliação é a realização de eleições multipartidárias competitivas. No
entanto, o que acontece após as eleições nesses países formalmente
democráticos? Eles podem ser considerados democracias liberais no
entendimento ocidental?
Atualmente, existem muitas definições de democracia, contudo a Ciência
Política moderna não desenvolveu um conceito unificado de democracia e de
processo de democratização. Wallerstein argumenta que a democracia tornou-
se um slogan comum desprovido de qualquer conteúdo[3]. Ser uma democracia é
sempre algo positivo - é «estar na moda». A democracia é proclamada por
inúmeros regimes como única forma aceitável de governo. Nenhum país se
reconhece abertamente como uma ditadura. A situação é ainda mais complicada
pela falta de unidade nos estudos de diferentes tipos de democracias. A
maioria dos índices de avaliação se baseia em um conjunto ínfimo de
características para determinar o que é a democracia. Consequentemente, as
inúmeras variações intermediárias são simplesmente ignoradas. Os teóricos
também criaram um grande número de conceitos que descrevem o estado da
democracia no mundo. A falta de uma definição única de democracia gera uma
enorme variedade de conceitos com o objetivo de descrever o fenômeno a
partir de diferentes perspectivas. Tal fato atraiu a atenção de muitos
pesquisadores no final dos anos 80 de século XX. Uma descrição de todas as
possíveis «semi», «pseudo» e «sob» democracias é hoje mais do que tudo uma
necessidade - a cada ano os conceitos se multiplicam.
Um campo especial para o surgimento de novos conceitos foi aberto com
a inconclusão da transição democrática em vários países da "terceira onda"
[4] de democratização e do Espaço Pós-Soviético. Eles se caracterizam
principalmente pelo fato das instituições democráticas formais terem sido
substituídas por práticas democráticas informais. A razão para isso é a
diferença na cultura, nos valores e na mentalidade da população destes
países em relação aos países da Europa Ocidental - as práticas democráticas
implementadas não são capazes de sedimentarem na cultura política dos
países da "terceira onda" (e tampouco nos países pós-soviéticos). Há uma
ruptura entre as instituições democráticas formais, que foram
transplantadas dos modelos ocidentais de democracia para os países da
"terceira onda", e as instituições informais, como a cultura e os valores
tradicionais, que se estabeleceram historicamente nesta sociedade[5]. Em
outras palavras, os valores e a cultura nestes países se diferem dos países
Ocidentais no exato momento em que as instituições devem ser assimiladas na
cultura política. Como resultado, as instituições democráticas são
rejeitadas e continuam a vigorar antigas práticas antidemocráticas
(feudais, clientelistas, etc), baseadas em tradições e valores culturais
consolidados historicamente em determinada sociedade.



O aparecimento do conceito de "democracia com adjetivos" no discurso
científico


A década 80 deu origem a uma verdadeira euforia entre os estudiosos
dos processos de transição democrática. Os acontecimentos políticos no
Brasil e em outros países latino-americanos, junto às mudanças na União
Soviética, pareciam apontar para a vitória do modelo de democracia liberal
como ideologia, de maneira que a sua difusão para outros países seria uma
mera questão de tempo. No entanto, depois de duas décadas, é possível
afirmar que o entusiasmo dos transitologistas foi prematuro: a maioria dos
países (com raras exceções) paartiu do ponto A, mas não chegou ao ponto B.
Em alguns países, a transição democrática não foi observada empiricamente,
não houve transição para uma democracia consolidada[6] - há transformação,
mas não há trânsito. Há também mudanças de regime com resultados duvidosos
(a partir de um estado não democrático para outro estado
antidemocrático)[7]. Essas alterações de regime político em países com
democracia não consolidada criou um novo modo - um híbrido - que não pode
ser chamado totalmente autoritário, mas ao mesmo tempo não pode ser
classificado como democrático. Portanto, os regimes de alguns países da
"terceira onda de democratização" e da antiga União Soviética estão em
algum ponto intermediário entre os democráticos e autoritários, sendo
denominados "híbridos". Tal fenômeno tem despertado o interesse de um
grande número de cientistas: quase todo caso de regime híbrido tem o seu
próprio nome, bem como diferentes abordagens de como analisá-lo.
Por um lado, há a democracia e sua descrição (conceitos diferentes).
Por outro, há o autoritarismo. Alguns dizem que nos países da "terceira
onda" nenhum trânsito foi concluído, e eles continuam na fase do
autoritarismo, mas de um tipo especial. Muitos inventam diversas
denominações: novo, suave, corporativo, estadual, capitalista[8]. Outros
buscam algo intermediário - inventam diferentes tipos de regimes híbridos,
sem mencionar as palavras "democracia" ou "autoritarismo" (Zudin A.,
policentralidade – monocentrismo[9]; Kholodovski, plebiscitário-
burocrático[10]). E ainda outros dizem que, neste caso particular, há uma
democracia, mas um tipo especial – não consolidada – e inventam as próprias
definições (N. Petrov, M. Lipman, democracia tutelada [11]; V. Surkov,
democracia soberana [12], Tretiakov, democracia gerenciada[13], O'Donnel,
democracia delegativa [14] e etc.)
No entanto, a solução mais comum deste problema de pesquisa na
literatura científica é a produção de novos conceitos com a palavra
"democracia" – as chamadas «democracias com adjetivos»[15].
Um dos primeiros a chamar a atenção para um fenômeno novo (democracia,
com algumas características adicionais) foram os pesquisadores americanos
David Collier e Stephen Levitsky em sua obra "Democracia com adjetivos:
inovação conceitual em comparação"[16], escrito em 1996. Neste trabalho,
eles inicialmente identificaram o número aproximado de todas as democracias
com adjetivos, contando mais de 500 modelos. Contudo, eles não fizeram uma
lista detalhada e os 500 acabaram abrangendo tanto as democracias
desenvolvidas (por exemplo, parlamentar, bipartidária), como as
democracias problemáticas (de fachada, pseudo, etc.). Eles também
identificaram cinco âmbitos conceituais para o trabalho com as democracias
(da definição mínima à conceptualização máxima) е determinaram ás areas da
aplicação desses conceitos a esses âmbitos. Também identificaram os
subtipos de democracias «diminuídas»[2], que diferiam do primeiro tipo por
uma única característica adicional, e criaram uma classificação para elas:
regime não democrático, eleitoral, mínimamente processual, minimamente
processual estendido. Collier е Levitsky foram os primeiros a definir os
conceitos que vieram a descrever os novos estágios da democracia. O artigo
de Collier е Levitsky foi praticamente a única pesquisa focada somente nas
democracias com adjetivos. Estudos posteriores foram realizados em áreas
relacionadas, cruzando-se muitas vezes. Estas áreas incluem estudos sobre
regimes híbridos (em parte, democracias) e democracias defeituosas.
Além disso, foram realizadas pesquisas sobre os regimes híbridos e
sobre o lugar que a democracia com adjetivos ocupa neles. Os principais
artigos nessa área da pesquisa foram escritos por Amichai Magen e Leonardo
Morleena[17], Larry Diamond[18], Mathias Bogards[19]. Larry Diamond foi
primeiro a chamar a atenção para os regimes híbridos, identificando o
fenômeno da "pseudo-democracia". As instituições e os processos só podem
ser democráticos formalmente, mas, na verdade, algumas características da
democracia são muito difíceis de se observar em funcionamento. A existência
de eleições multipartidárias com um pequeno nível de competitividade não
pode ser uma garantia de democracia. Authoritarianism também pode ser
"eleitoral". Diamond identifica no seu trabalho os conceitos de "democracia
eleitoral" e "autoritarismo eleitoral". A democracia pode ser definida
pela presença das liberdades, inclusividade e accountability. Ele não
considera a pseudodemocracia um tipo da democracia.
Leonardo Morlino e Amichai Magen também classificaram os regimes
híbridos entre autoritarismo eleitoral e democracia eleitoral, e falaram
sobre a sua posição dúbia. Eles chamam a atenção para o fato de que o
estado híbrido pode demandar um longo tempo para se tornar estável e que o
processo de democratização não é um movimento em uma única direção - as
"democracias com adjetivos" podem se tornar uma realidade, e não um simples
trânsito.
Mathis Bogards também tentou classificar os regimes híbridos
existentes entre o autoritarismo e democracia. Ele analisa a qualidade das
democracias e não a ausência de quaisquer características. Deste modo
identifica o espaço entre o autoritarismo eleitoral e as democracias
defeituosas.
Há um grupo de autores que se concentraram no estudo das democracias
defeituosas como um subtipo especial das democracias com adjetivos do tipo
problemático. Nessa direção trabalharam quase simultaneamente Jurgen
Puhle[20] e Wolfgang Merkel[21]. Wolfgang Merkel inicialmente examinou o
conceito de democracia "inserida" para a qual destacou várias medições:
legitimidade vertical, direitos políticos, liberalismo e Estado de Direito
(direitos humanos e accountability horizontal), controle efetivo da agenda.
Dependendo das irregularidades em uma das medições ele identifica os tipos
de defeitos da democracia. Ao todo há quatro democracias defeituosas (como
as medições para as quais eles correspondem): exclusiva, dominante
(dominância de atores corporativos não eleitos), não-liberal e delegativa.
A democracia defeituosa de Merkel não é transitória e pode existir por
muito tempo, graças ao apoio tanto das elites e do cenário político. Pohle
também discorre sobre a qualidade da democracia, de maneira semelhante à
pesquisa de Merkel. A novidade no estudo de Puhle é a tabela de
distribuição por tipo de democracias defeituosas.
Outro estudo também destaca a conceptualização e mensuração das
democracias. Munck е Verkuilen [22] ofereceram realizar um estudo de
desenvolvimento democrático em três etapas: a conceptualização, a medição e
a agregação. No nível da conceptualização ocorre a identificação das
características (seleção e designação) e, em seguida, a sua organização
vertical. Como resultado obtem-se uma hierarquia das características.


Abordagens para o estudo das "democracias com adjetivos"


O maior impulso para o desenvolvimento da teoria democrática foi dado
pela "terceira onda" de democratização. Ela se tornou um verdadeiro desafio
para os pesquisadores, especialmente no início de 1990, quando ficou claro
que as democracias liberais ocidentais não são necessariamente o "ponto
final" do caminho democrático, mas apenas uma das muitas opções para o
desenvolvimento nem sempre democrático. Tecnicamente e de fato, alguns
países deixaram de ser autoritários. No entanto, eles não se tornaram
democráticos no entendimento "ideal" da democracia na sua definição máxima.
O conceito de "democracia" ganhou as novas características. Apesar do fato
de que os novos regimes políticos nacionais na América Latina, África, Ásia
e na antiga União Soviética têm importantes atributos democráticos, muitos
deles diferem significativamente das democracias nos países
industrializados. Eles não podem ser considerados democracias inteiramente
válidas. O complexo conceito de democracia tem dado origem a um grande
número de diferentes conceitos que descrevem seus diferentes tipos.
No total, atualmente existem mais do que 500 tipos de democracias com
adjetivos, ou seja, mais do que os países[23].
Com base no grau de implementação dos princípios declarados, na
prática foi identificado um grande número de variedades de democracias ("as
democracias com adjetivos") que podem ser agrupados em três categorias[24]:
democracia liberal desenvolvida (poliarquia, livre, consolidada); limitada
(formal, não-livre, eleitoral, delegada, soberana); a democracia que
permite aos indivíduos competir por votos; um conjunto mínimo de liberdades
graças a que a concorrência e a participação têm qualquer sentido, е ao
mesmo tempo o estado geralmente é incapaz de garantir plenamente os
direitos e liberdades declarados; pseudo-democracia (autoritário, regime
híbrido, neo-autoritarismo, quase-democracia, etc) – externamente abrangem
características básicas da democracia eleitoral, mas ao mesmo tempo as
possibilidades da competição eleitoral são limitadas, impedindo uma mudança
de governo[25]. A pseudo-democracia descreve uma ordem política, que está
tentando se parecer com a democrática, mas não aspira a se tornar uma.
Pseudo-democracia não é um retiro da democracia liberal, mas é um passo no
caminho para a construção de uma democracia totalmente diferente.
O primeiro grupo simplesmente esclarece o entendimento de democracia
liberal ocidental, enquanto o segundo e o terceiro descrevem os casos mais
complexos е mistos. Vamos nos concentrar nos dois últimos grupos das
democracias com adjetivos.
Como regimes autoritários fechados são agora uma raridade (lembre-se
que, de acordo com a Freedom House, no mundo tem apenas 74 países de197 não-
democraticas, 123 países foram classificados como democracias eleitorais,
como nestes países tem as eleições justas е regulares [26]), todos os
outros países são mais ou menos democráticos. Mas o desenvolvimento
democrático no Brasil e nos EUA, por exemplo, pode ser considerado igual?
Existem quaisquer critérios que identificam graduações da democracia?
Como foi mencionado acima, para substituir os regimes autoritários não
vieram as democracias liberais ocidentais. Vieram alguns regimes, que não
podem ser classificados nem como países autoritários, nem como os
democráticos. O ceticismo crescendo sobre a "terceira onda" de
democratização levou a um aumento sem precedentes das pesquisa sobre "zonas
cinzentas" e "regimes híbridos" nos países não-ocidentais. Estes incluem
mais de 58 países [27], ou seja, cerca de um terço de todos os países do
mundo.
Como resultado, apareceu um grande número de "adjetivos" para a
democracia, tentando explicar os casos individuais. Ao mesmo tempo, há
conceitos que tentam explicar o mesmo fenómeno, mas com a atribuição das
definições dos regimes autoritários: "semi-autoritarismo" (Egito, Croácia,
Azerbaijão)[28], "autoritarismo liberalizando"[29], "Autoritarismo
competitivo"[30], etc. Os regimes híbridos (que combinam elementos
democráticos e autoritários) existem relativamente há muito tempo. Mesmo
nas décadas de 1960 e 1970 haviam regimes multipartidários, eleitos, mas
não democráticos. Entre os regimes autoritários eleitos estão o México,
Singapura, Malásia e Senegal[31]. No entanto um verdadeiramente
florescimento dos conceitos mistos aconteceu no final dos anos 80.
Apareceram um monte de conceitos, descrevendo os regimes híbridos em termos
de "democracias com adjetivos."
Coexistência de procedimentos eleitorais democráticos e, por outro
lado, a violação dos direitos cívicos e políticos, o alto nível de crime, a
corrupção e o baixo nível de desenvolvimento social e econômico, mostra que
é necessário investigar não apenas a dimensão eleitoral da democracia. É
necessário entender também a natureza dos regimes híbridos.
Como pode ser visto na Figura 1, a "democracia com adjectivos" é a
parte de um regime híbrido. Entre os regimes autoritários e democráticos do
tipo difuso não há uma fronteira clara. Os limites são subjutivos. Neste
estudo este tipo de limite foi efetuado de acordo com as posições dos
autores dos conceitos e seus estratégias.

O surgimento dessas estratégias é incentivada por práticas objetivas
quando o regime realmente não é autoritário, mas não pode ser considerado
democrático no sentido liberal ocidental da palavra, e as estratégias
subjetivas dos atores e especialistas individuais. Em um caso, há
conceitos explicativos destinados a explicar o fenômeno novo e que têm como
núcleo a estratégia cognitiva. Em outro caso, o surgimento de novos
conceitos é o interesse dos atores individuais na criação de um novo
discurso sobre a democracia e as suas propriedades em países individuais.
Estes tipos incluem a estratégia de legitimação para justificar as
características antidemocráticas existentes e justificá-las como uma
característica (cultural, país, etc) de um novo tipo de democracia, e as
estratégias não legítimas (para explicar que os regimes autoritários que
são considerados democráticos com as propriedades individuais, não
compatíveis com a democracia e são por isso chamados "pseudo-
democracias").
Os pesquisadores que baseiam suas pesquisas sobre estratégias
cognitivas, geralmente trabalham nas três áreas seguintes: sócio-jurídica
(direitos humanos, dignidade e igualdade); econômico (distribuição de
recursos na sociedade); política (a participação pública no processo de
tomada de decisão)[32].



A classificação das peculharidades anexos em conceitos diferentes


Todo conceito único de "democracia com adjetivos" tem um conjunto de
características, em maior ou menor grau, distinguindo-a de outros
conceitos. No total todas características que ocorrem podem ser divididos
em cinco tipos de áreas problemáticas. Em primeiro lugar, as institucionais
que incluem a violação do princípio da separação dos poderes /
personalismo; função política dos militares. Em segundo lugar, as
processuais com a falta de consenso sobre as "regras do jogo"; falta de
canais de feedback (retorno). No terceiro, as legais com falta dos direitos
das minorias, dos direitos civis. Em quarto lugar, as econômicas com a
estagnação econômica, o aumento da dívida externa. No quarto, as sociais
com o fator religioso, cultural, étnico, população apolítica e orientação
religiosa.
Cada característica é única, porque os autores das democracias com
adjetivos não tendem a generalizar os fenômenos individuais. Há muito pouco
trabalhos teóricos em termos de generalização. A maioria dos conceitos foi
criada por causa da uma única característica. Tais características não têm
uma "nuvem" de critérios, mas por si mesmas são muito informativas.
Quase todoas as características estão relacionadas com o "mínimo
procedimental". Entre os problemas encontrados, há tais fatores como
culturais, religiosos e econômicos característicos de vários países. No
entanto, estas características afetam outros aspectos mais significativos
de desenvolvimento democrático. Principalmente são deformados as
instituições e os procedimentos políticos. Por isso, tanta atenção é dada
ao problema das instituiçoes e à interação entre elas e o meio político.


Distribuição regional de "interesse de pesquisa" para o problema da
democracia


A distribuição das democracias com adjetivos no mapa mundi permite
identificar as regiões abrangidas pelos conceitos mencionados. Dentre as
principais, podemos citar a América Latina, o Espaço Pós-Soviético e, em
parte, Ásia, África e Oriente Médio.
Figura 2. A distribuição das democracias com adjetivos no mapa do
mundo

Não estão incluídos: Suíça até 1971, sul dos EUA até 1964, a Irlanda
do Norte até 1972 e o "mundo muçulmano".


América Latina é uma das regiões mais polêmicas no que concerne ao
tipo de regime predominante em seus países: autoritário ou democrático.
Estes países são analisados num mesmo contexto e dentre eles são destacadas
características semelhantes. No entanto, dependendo da posição do
pesquisador, tal conjunto de características pode ser creditado ás
democracias com adjetivos ou a todos os tipos de "ismos" de uma forma leve.
A América Latina é a região favorita dos autores de conceitos das
democracias com adjetivos. A quantidade de pesquisas verificadas nos
últimos vinte anos na América Latina, não foi igualada em nenhuma outra
região do globo. Nesta região, predominam características intrínsicas, como
a forte influência dos militares, a preponderância da jurisdição militar
sobre a civil e o caudilhismo.
No total a região tem trinta e uma características de quarenta e cinco
identificadas nos textos sobre diferentes conceitos das "democracias com
adjetivos". Não há população apolítica, constata-se o uso de princípios
religiosos como plataforma política.

Cruzamento com a Rússia:
Há muitas características em comum entre a Rússia e América Latina.
Ambas as regiões se caracteriam por: estreitos círculos de políticos com
muita influência, fraqueza das instituições formais, personalismo, falta
de accountability, pviolação do princípio de checks and balances e
condições desiguais de competição política. Isto a une com tais países
latino-americanos como o Brasil, a Argentina, o Peru, a Colômbia е Honduras
antes da dêcada 1980. A análise do Espaço Pós-Soviético não adiciona novos
países, mas adiciona novas características: a violação do Estado de direito
e violação do princípio da liberdade das associações.

Área pôs-sovietica:
Entre as características comuns para a Rússia е o Espaço Pós-Soviético
podemos mencionar a violação do Estado de direito, violação do princípio da
liberdade de associação, violação do princípio da liberdade de expressão e
informação, a violação do princípio do controle mútuo dos poderes, a falta
de autonomia dos meios de comunicação, a manipulação através da mídia, o
elitismo, a substituição das instituições, falta de accountability,
personalismo e condições desiguais de competição política. O único país da
antiga União Soviética que não tem problemas e característica comuns com a
Rússia é Letônia, onde o problema principal da democracia é a restrição do
voto ativo e passivo.
Ásia é a única região onde as características das democracias com
adjetivos não se cruzam com as da Rússia ou do Espaço Pós-Soviético. Em
compensação, essa região se caracteriza pelo paternalismo e personalismo
com infração dos direitos civis (Japão, Coreia do Sul, Sri Lanka, Taiwan,
Cingapura, Paquistão, Índia). A Mongólia se destaca por corrupção e má
gestão, como resultado de violações do princípio de checks and balances. Na
Ásia não há a principal característica da America Latina: função política
dos militares.


Médio Oriente:
O Oriente Médio (Líbano, Jordânia e Iêmen) até tempos recentes se
caracterizava pela intervenção do governo na economia, limitação dos
direitos civis, violações do princípio da liberdade de associação e da
liberdade de expressão e informação.

África é uma região que representa o menor interesse para os
pesquisadores de "democracia com adjetivos". Em seu território, apenas
quatro países são classificados pela Ciência Política como "democracias com
adjetivos": Angola, Marrocos, Egito e Tunísia. Eles são divididos em dois
blocos: Angola, com o personalismo, a fraqueza das instituições formais,
dominação corporativa dos atores políticos não eleitos, não se assemelha ao
Marrocos, Egito e Tunísia, contam com forte intervenção do Estado na
economia, limitação dos direitos civis, a violação do princípio da
liberdade de expressão e informação.
O discurso sobre a "democracia com adjetivos" tem uma cobertura
geográfica impressionante. No entanto, apesar do fato de que o discurso
envolve mais de 60 países, a discussão mais detalhada é fornecida somente
no caso dos países da América Latina. Em outras regiões, as semelhanças
entre as características e os países não são tão vastas e variadas.
Confirma a ausência de características universais na discussão sobre
os países е democracias com adjetivos os paralelos limitados entre a
Rússia e os países da da área pôs-sovietica com os outras das regiões do
mundo.
***
Novo e relativamente jovem fenômeno das democracias, que atendam às
características processuais formais, mas levantam dúvida sobre a sua
natureza democrática, deu origem aos novos conceitos para descrever as
mudanças que estão ocorrendo. Na verdade, as democracias com "definição",
ou, como alguns dizem, "Marcas de nascença" mostraram que nem sempre têm a
essência de trânsito e pode estar o tempo suficiente no estado de
equilíbrio, não garantindo mais nenhuma transição para a democracia do tipo
mais perfeito ou rollback. A diversidade dos conceitos das democracias com
adjetivos que aparecem mais rápido do que mudam os regimes nos países, mais
frequentemente são construídas em um princípio descritivo e cognitivo. A
principal dificuldade reside no fato de que cada novo conceito não é
inteiramente baseado no anterior. No entanto, apesar disso, em grande
parte, duplica as características já atribuídos a outro conceito. O número
de conceitos das "democracias com adjetivos", inventadas, descritas e
utilizadas no discurso da ciência política são intercambiáveis , porque os
dados conceitos apelam para o mesmo conjunto dos atributos. Isto é devido
ao fato de que sobre este fenómeno praticamente não há consenso.
Infelizmente, um grande número de casos não confere uma visão global
do fenômeno, que abrange apenas uma única série de problemas, mas ainda
mais confusa a compreensão do que é a democracia. O resultado é uma falta
de clareza, confusa do discurso na Ciência Política sobre a democracia, o
que dificulta não só a compreensão do fenômeno, mas também dos caminhos
para a democratização de regimes.
Apesar de todos os meandros do discurso, as tentativas de o entender
não são em vão. O surgimento de novos conceitos e a necessidade, mais cedo
ou mais tarde, serão coordenados com os resultados anteriores, promovendo a
interação entre os pesquisadores para destacar as características comuns e
não a formação infinita de novos conceitos.


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[1] E-mail: [email protected] Tel.: RUS +7 (926) 604-97-60 ; BRA
(21) 965- 699-815

[2] "Diminished" em original.
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