As dimensões do sagrado nas obras de Mircéia Eliade, Émilie Durkhein e Rudolf Otto

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As dimensões do sagrado nas obras de Mircéia Eliade, Émilie Durkhein e Rudolf Otto no processo de proliferação das igrejas decorrentes de suas divisões Domingos Amauri Massa Resumo Nosso objetivo através deste texto é colaborar para o entendimento das dimensões do sagrado nas obras de Mircéia Eliade, Émilie Durkhein, Rudolf Otto, colaborando para o entendimento do sistema social ocasionado pelo movimento religioso no processo de proliferação das igrejas decorrentes de suas divisões. Nas últimas décadas o fenômeno religioso tem causado um impacto muito profundo nos sistemas sociais, sendo motivo de estudos da sociologia da religião na busca de respostas para um aprofundamento e entendimento do cerne da questão. O forte aumento da ocorrência de novos movimentos religiosos e a efervescência religiosa em geral, além do ressurgimento do debate a respeito das relações entre religião e poder, produziram uma convergência da sociologia da religião com a Ciência Política (MARTIN, 1980 p.29)

Abordaremos inicialmente a percepção e as formas do sagrado utilizando a escola sociológica de Émile Durkhein para explica-lo passaremos pela fenemonologia de Rodolfo Otto, e na congruência com a interação das análises históricas, sociológicas, etnológica e psicológica de Mircea Eliade. Buscaremos as expressões do sagrado na linguística, nos símbolos, mitos e nos rituais. A manipulação do sagrado pelas instituições utilizando o conceito do “sagrado selvagem” de Roger Bastide. Verificaremos ainda como as instituições que lidam com o sagrado podem gerar divisões.

Em segundo lugar utilizaremos os conceitos de Pierre Bordeau de trabalho e campo religioso, e como esta tensão pode trazer divisões. Posteriormente trabalharemos com os conceitos econômicos aplicados no mercado religioso, e verificaremos como a demanda por produtos religiosos faz com que aconteça um aumento na oferte pelas instituições religiosas para atender os vários nichos de mercado. Por últimos concluiremos nosso trabalho

Bacharel em Teologia e Mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.

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fundamentando nesta monografia, para o entendimento do por que e como as igrejas se dividem. Palavras-chave: Sagrado, Mercado Religioso, Sociedade do Consumo Abstract

Our goal through this text is to help the understanding of the dimensions of the sacred in the works of Mircéia Eliade, Émilie Durkhein, Rudolf Otto, contributing to the understanding of the social system caused by religious movement in the process of proliferation of churches stemming from their divisions. In recent decades the religious phenomenon has caused a profound impact on social systems, and why the sociology of religion studies in search of answers to a deepening and understanding the crux of the matter. The strong increase in the occurrence of new religious movements and religious ferment in general, and resurgent about the relationship between religion and power debate, produced a convergence of sociology of religion with political science (Martin, 1980 p.29).

Initially discuss the perception and sacred shapes using the sociological school of Emile Durkhein to explain it pass by fenemonologia Rudolph Otto, and in congruence with the interaction of historical analysis, sociological, ethnological and psychological Mircea Eliade. We seek the sacred expressions in language, symbols, myths and rituals. The manipulation of the sacred institutions using the concept of "sacred savage" Roger Bastide. We will check even as the institutions that deal with the sacred can generate divisions.

Second we will use the Pierre Bordeau concepts of work and religious field, and how this tension can bring divisions. Later we work with economic concepts applied in the religious market, and I can see how the demand for religious products makes it happen an increase in oferte religious institutions to meet the various market niches. For last we conclude our work substantiating this thesis, to understand the why and how the churches are divided.

Keywords: Sacred, Religious Market, Consumer Society

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1. Introdução

As religiões baseiam suas ortodoxias e ortodopraxia nas percepções do sagrado desenvolvidas dentro de uma cultura. Todos nós temos uma ideia sobre o sagrado, mas convém precisa-la. Nas últimas décadas, muitos canalizaram seus esforços na dedicação do seu estudo e como resultado conseguiram certo consenso a respeito do que significa ou da experiência humana quando falamos do sagrado.

Quantos falamos de reflexão sobre o sagrado, encontramos as respostas polarizadas, de um lado Émile Durkhein, sociólogo francês, que explica o sagrado como uma projeção simbólica da identidade do clã ou do grupo tribal; representa a tradição positivista e redutora em sua análise da experiência religiosa. No outro polo está Rodolf Otto, alemão, teólogo e historiador das religiões, que define o sagrado como um poder que situa além do âmbito humano; e que fazer justiça ao portador da experiência religiosa.Ambos tem em comum fazer do sagrado o fundamento da religião. Acrescentamos ainda ao presente processo de reflexão Mircea Eliade, através da sua corrente hermenêutica continuadora da fenomenologia e da história das religiões.

1.1.A Busca do sagrado através do elemento sociológico Para a escola durkheimiana a busca da origem do sagrado acontece na sociedade sem preocupação com o transcendente ou o sobrenatural. Buscam a partir das sociedades primitivas o lugar de nascimento do sagrado e da religião na tentativa de encontrar o elemento constitutivo do sagrado. Tal elemento é o “mana”1, que pode ser mais bem definido por sagrado: uma força “sui generis”, imaterial e impessoal que exprime a hipótese do clã. O mistério do sagrado fica desvendado pela sociedade como um conjunto de forças que se perpetuará como produto da consciência coletiva como um conjunto de crenças. O clã suscita a sensação do poder do sagrado e projeta para um segundo momento, o “totem”2 que é corpo divino do sagrado. Assim o clã é visto como a origem do sagrado e da religião. O culto também é originado pela sociedade que cria o sagrado, fruto dos rituais e ações simbólicas. Para a escola durkherimiana, o sagrado é uma categoria fundamental da 1 2

Melhor definido como sagrado. Latim. Espírito do divino ou poder localizado na natureza.

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consciência coletiva que foi originada na sociedade. O fenômeno religioso é visto apenas nas suas dimensões sociais e culturais (reducionismo), o sagrado aparece como um produto da sociedade que se converte em meio para sua manutenção e prossecução. A religião é a manutenção do sagrado.

1.2. A busca do sagrado através do elemento fenomenológico Rudolf Otto descreve a estrutura das reações humanas perante a experiência do sagrado. Seguindo o pensamento de Schleiemarcher. R. Otto enfatiza primeiro o lugar a presença do “numinoso”3 – consciência particular da experiência de um poder oculto ou misterioso – o sagrado é um poder além do indivíduo, transcende a experiência de qualquer ser humano. O “numinoso” não é produto do indivíduo, mas o objeto de sua experiência religiosa. Outro fator importante para R. Otto está no que ele denominou “mysterium tremendun”4, a consciência desse objeto numinoso que inspira medo, temor e terror, que exprime de certa forma sua santidade (o tremendo, a majestade, a energia). Um terceiro aspecto está no fascínio do numinoso, produzindo no homem religioso grande atração. A obra de Otto influenciou muitos estudiosos da religião ao proporcionar um grande número de ilustrações da experiência religiosa na sua ambivalência entre mysterium tremendum e “mysterium fascinans”5.

1.3. A busca do sagrado através do elemento hermenêutico A obra de Mircea Elíade, ligada à fenemonologia da religião, integraliza as análises históricas, sociológicas, etnológicas e psicológicas, o que chamaos de hermenêutica, na busca de descobrir o comportamento das estruturas de pensamento, a lógica simbólica o universo mental do “homo religiosus”6. Para Eliade, o fundamental não são as tipologias, os esquemas mas antes entender o seu significado. O sagrado é visto, sob a perspectiva, como um modo de ordenar o seu significado. O Sagrado é visto, sob a perspectiva, como um modo de ordenar o espaço, o tempo, a cidade, o cosmos. Isto é, um modo de ordenar e 3

Latim Espírito divino ou poder localizado na natureza. Latim Mistério tremendo. 5 Latim Mistério fascinante. 6 Latim Homem Religioso. 4

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dar sentido à vida humana em todos os aspectos fundamentais. Daí o sagrado e o profano são dois modos de estar no mundo, das situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da história (MARDONES, 1967, p.20) Como o sagrado é algo que transcende este mundo, o símbolo para Eliade, é o meio pelo qual o homem é capaz de captar e comunicar o sagrado, de modo que todo ato religioso tem um significado que, em última análise, é simbólico. Ele propõe o termo hierofania (algo que o sagrado nos mostra), para denominar as manifestações do sagrado, e afirma que na história das religiões há uma enorme acumulação de hierofanias desde as mais simples como a manifestação do sagrado em uma pedra ou uma árvore, até a hierofania suprema que é para o cristão a encarnação de Deus em Jesus Cristo. (MARDONES, 1967, p.20)

1.4. A busca do sagrado através do elemento linguístico No campo da linguística, as expressões usadas para sagrado simbolizam concepções fundamentais na compreensão humana. A palavra “sagrado”. Segundo H. Fugier (RIES, 1989, p.173), tem sua raiz na palavra sacro que significa conferir realidade. De acordo com a pesquisa linguística o sagrado significa o que é real, o que existe.

1.5.A busca do sagrado através do elemento simbólico Temos acesso a uma modalidade do real ou a uma estrutura e significado do mundo que nos é evidente através dos símbolos. O sagrado se exprime por meio de uma linguagem que se adequa a referência do que é inefável. Este símbolo não é a realidade, mas traz uma imagem ou figuração da realidade que se quer representar, procurando ser uma cópia fiel da realidade que representa. Os símbolos religiosos comunicam que a vida tem uma estrutura mais profunda e mais misteriosa do que a experiência comum e diária, estamos diante desse mistério, o lado oculto de uma realidade que está além, por isso é transcendente, sobrenatural, divino. Assim o símbolo é uma linguagem da evocação que projeta para o fundo da realidade oculta e se contrapõe a realidade manifestada. Os símbolos podem ser materiais (objetos, locais) ou imateriais (expressões linguísticas do sagrado: rituais verbalizados, textos sagrados, léxico sagrado, nomenclaturas sagradas; mitos).

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1.6. A busca do sagrado através do elemento mítico O mito é um conjunto estrutural de símbolos, que procura exprimir o caráter dilematico, disseminatório ou contraditório da mesma realidade tal como vivemos. Segundo Levi-Straus, o mito pode ser visto como “uma ferramenta lógica” destinada a harmonizar diacronicamente as entidades semânticas que não se podem sobrepor, sincronicamente, nas perspectivas da lógica clássica. O mito aparece como discurso final ou relato último, fundador, em que constitui o sentido da vida e traz em si uma série de funções sociais O mito abre a dimensão do mistério que palpita em todas as formas do mundo; é o fundamento da ciência, permitindo-lhe explicar este mundo; fundamenta e valida uma certa ordem social; ensina a viver uma vida humana em qualquer circunstância.

1.7. A busca do sagrado através do elemento ritualístico Os rituais são atos simbólicos que buscam apresentação do sagrado e suas manifestações, que se repete e põem em ação os símbolos e mitos, onde o objetivo é encontrar o sagrado no pluralismo de significados e evocações, bem como a celebração do numinoso além de estar dotado de elementos culturais de concepção cosmológicas e valores com força emotiva persuasiva.

2. O conceito do sagrado selvagem de Roger Bastide Roger Bastide foi o criador do conceito: “sagrado selvagem”, que se tornou Clássico em Ciências da Religião. Em sua opinião o homem é uma “máquina de fazer Deuses”. A medida que o sagrado se torna “frio” nas instituições religiosas (igrejas) recria o sagrado “quente”, que é chamado de “sagrado selvagem”. Seguindo os passos de Émile Durkhein em sua afirmação de que a religião surge nos estados de efervescência social, Bastide conclui que esta efervescência religião não são duráveis e são seguidas por uma queda de fervor sociológico. A religião já instituída desenvolve-se à partir dessa queda “como gestora da experiência do sagrado”, produzindo uma liturgia padrão, um discurso

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ortodoxo e de ortopraxia que apriosiona o sagrado, transformando-o de selvagem em dominado. Como reafirmam as palavras de Bastide ”toda igreja instituída tem, sem dúvida, seus místicos, mas desconfia deles; ela lhes delega seus confessores e seus diretores para dirigir, canalizar, controlar seus estados extáticos, quando ela não os prende em algum convento que seus gritos de amor perdido não possam perfurar”. Os movimentos de reformas religiosas são expressões sociais do desejo de volta à um passado vibrante e efervescente de “deuses sonhados” e que podem abalar o equilíbrio da vida das igrejas. Foi o que aconteceu na Reforma Protestante, no Movimento Pentecostal, Teologia da Libertação, no Movimento de Renovação Carismática.

2.1.O controle e liberação do sagrado

No catolicismo os mecanismos de controle do sagrado são mais flexíveis, sem rigor institucional e preocupação com os místicos. Raramente exclui os que pretendem liberar o sagrado; antes, os envolve com se pálio e os transforma em agentes eficientes da sua continuidade. No protestantismo os inovadores que esforçam por voltar a um sagrado mais “quente”, são logo excluídos. Os grupos dissidentes formam logo outras instituições, consagra seus pastores, o que permite o surgimento das diversas denominações. Quanto mais rígida e sujeita as doutrinas estabelecidas e consolidadas for uma instituição religiosa, mas sujeita estará as divisões ocasionadas pela necessidade de liberação do sagrado. A hierofania é um epifenômeno que se apresenta a um indivíduo e constitui nele uma experiência fundante ou transformadora ou mesmo mantenedora de uma foram de religião. Pessoas que partilham dessas experiências forma um conglomerado associativo e surgem interpretações comuns do sagrado, surgem códigos de conduta que legitimam a vida e os relacionamentos. Com o passar do tempo esse agrupamento se organiza com regras de inclusão e exclusão dessa convivência institucionalizada. Passam a controlar o sagrado e sua experiência se esfria, acontece um gradiente cujos segmentos mostram o grau de dominação do sagrado, agora temos sagrado instituinte da experiência religiosa e o instituído da instituição religiosa. Graves problemas surgem quando os insatisfeitos com a rotina religiosa decidem liberar o sagrado em favor de uma religião mais emocional, para isso promovem movimentos de reforma e reavivamento, é onde acontece a possibilidade da

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divisão do grupo. Temos indivíduos fundadores de religiões e os profetas que pregam a volta ás origens da religião instituída ou a correção de seus desvios.

3. O conceito de religião em Pierre Bourdieu

Seguindo a linha de Durkheim, para Buordieu a religião é um sistema simbólico de comunicação e pensamento operando para uma dada sociedade a ordenação logica do seu mundo natural, integrando-o com cosmos. Ela desempenha funções sociais, e se estrutura a medida que seus elementos internos se relacionam entre si sendo capazes de construir a experiência. Portanto a religião é uma força estruturante aplicada às relações sócias em alquimia ideológica. A religião desempenha a função simbólica de conferir à ordem social um caráter transcendente e inquestionável ao revestir o humano com caráter sagrado, assumindo sua eficácia simbólica e ao mesmo tempo sua função política. A religião tem sua eficácia social, quando é capaz de gravar a estrutura de seus pensamentos nas consciências individuais que nelas incorporam transformando-se então em hábitos.

3.1.O campo religioso O Campo religioso se constitui no conjunto de relações que os agentes religiosos mantem entre si no atendimento à demanda dos leigos. Há duas fontes de tensão interna no campo religioso, primeiros agentes especializados que se opõem à auto-produção de “leigos”, e os agentes especializados que se opõem entre si no atendimento das demandas dos “leigos”. Bourdieu distingue os profissionais do sagrado, entre sacerdote, profetas e magos, e suas relações no campo religioso. Sacerdote é aquele que pertence a uma instituição, e exerce um cargo, o carisma não lhe pertence, mas à instituição. Aparece como elemento fundante da religião. Como agente desta instituição, o sacerdote se opõem a quem pretenda, de forma autônoma e independente da instituição, obter carisma (os magos). Profeta ao contrário é autônomo guiado por um senso de reforma moral, dotado de carisma. Defende a ética da religião, com a transferência da noção de pureza para o campo moral e promove rupturas contra a instituição, não aceita o status quo.

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Mago é o agente religioso autônomo. Dotado de poderes especais (mana, maga ou carisma) que o torna capaz de negociar ou mesmo forçar os deuses. Se fracassar, poderá correr o risco de perder autoridade e a fidelização dos seus seguidores. Lida com o sobrenatural sem se preocupar com as instituições. Encontraremos na sociedade a classe dominante que busca na religião a legitimação de seu domínio, e a classe dominada que pede à religião a libertação da opressão. Neste campo religioso encontramos os agentes especializados competindo entre si pelo monopólio do atendimento às demandas dos “leigos”.

4. O Conceito econômico aplicado a Religião

Dentro do campo das análises sociológicas das instituições religiosas, encontramos em Economia e Sociedade (WEBER, 1990, GUERRA,2003 p.31) uma estruturação religiosa em termos de práticas sacerdotais como resultado de três forças: a) a demanda do leigo; b) a concorrência do profeta e o mago; c) o trabalho religioso e a instituição religiosa.

4.1.O Antigo paradigma O sistema religioso passa agir debaixo das influências mercadológicas tendo como a primeira tendência a transformação das práticas e discurso religioso em produtos, e a segunda é a organização das atividades para atender as necessidades do mercado. Adam Smith em seu livro Riqueza das Nações ([1776] 1965, GUERRA, pg.31) foi o primeiro a usar conceitos econômicos para avaliar o desempenho dos provedores no monopólio dos serviços religiosos. Peter Berger em O Dossel Sagrado ([1963]1985) avaliou que a desregulamentação do mercado religioso, promoveu a instalação gradual do pluralismo religioso criando competição e concorrência.(STARK [1988]1992, GUERRA,2003. pg.37).

4.2.O Novo paradigma Utilizando conceitos mercadológicos a partir da lei da oferta e procura dentro do mercado religioso, à medida que a economia religiosa vai se desregulamentando, afinal o consumo é uma forma de pluralismo, surge o pluralismo religioso para atender novos nichos de mercado, uma vez ser impossível que apenas uma única organização religiosa possa

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suprir a demanda pelos diversos interesses (gostos) do mercado consumidor. Um novo paradigma se estabelece tendo como ideia central da concorrência no mercado religioso como apresentada por Berger, mas acrescida da aplicação da Teoria da Escolha Racional. As igrejas e seus cléricos produzem um produto com características próprias e desenvolvem formas de como fornece-lo ao mercado, e os fieis como consumidores escolhem racionalmente qual religião vão aceitar. O pluralismo se torna a resposta à expansão do mercado religioso, aumentando a oferta dos produtos religiosos, condenando o monopólio religioso ao fracasso. A nova tendência desse mercado é das pessoas buscarem recompensas e evitarem custos. O aumento da oferta de bens simbólicos faz com que haja uma concorrência acirrada no mercado religioso com a tendência dos consumidores buscarem os deuses ou religiões que ofereçam mais pelo menor custo. O movimento religioso assim passa a ser simplesmente uma questão de custo/benefício. Em sua busca de se manterem no mercado, as instituições religiosas, procuram a “fidelização” de sua clientela ampliando sua gama de produtos e serviços. As estatísticas dentro dos movimentos religiosos são ferramentas imprescindíveis para avaliação e no desenvolvimento de novos produtos, para a formação de uma oferta cada vez maior de produtos e serviços religiosos, como resultado das variações nos desejos e necessidades dos consumidores ávidos por novidades, que poderíamos chamar dentro desse movimento, de “clientes da fé”.

Considerações finais As percepções do sagrado se encontram inicialmente inseridas na sociedade como projeção da imagem de um grupo social. O culto é o resultado dos rituais e ações simbólicas da sociedade originária do sagrado. O culto é o resultado dos rituais e ações simbólicas da sociedade originaria do sagrado, que alinhado as dimensões sociais e culturais formam o fenômeno religioso. Uma vez que o sagrado é transcendente, cada pessoa tem a possibilidade de ter a sua experiência do sagrado, que se apresenta na consciência particular desse objeto numinoso que inspira medo, temor e terror (mysterium tremendum); e fascínio que produz no homem religioso (mysterium fascinans). O sagrado é visto sob um modo de ordenar sentido à vida humana em todos os aspectos fundamentais, transcendendo este mundo. O homem é capaz de captar e comunicar o sagrado utilizando símbolos que procuram ser cópias fieis da realidade que representam. A religião por sua vez é a manutenção do sagrado em seus dogmas, mitos e ritos.

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Entendemos ser este o primeiro motivo pelo qual as igrejas se dividem. Quanto a percepção do sagrado é resumido a um clã ou grupo social, ou na limitação da experiência religiosa como sendo apenas emocional. Nesta dualidade de conflito os símbolos religiosos que são produzidos podem ou não representar percepção deste ou daquele grupo. Considerando a linguagem dos símbolos como expressão da religião, e sua “determinância” na produção de seus mitos e rituais. Podem ser formados grupos contrários ou favoráveis a algumas práticas, ou símbolo, ou rito, dentro da instituição e por não concordarem entre si e suas práticas acabam por dividirem. As religiões nascem da efervescência social e aparecem “como gestoras da experiência do sagrado”, produzem uma liturgia padrão, um discurso ortodoxo e de ortopraxia que aprisionam o sagrado, transformando de sagrado selvagem em sagrado dominado. Na tentativa de liberar o sagrado em uma forma mais “quente” em uma religião mais emocional, grupos dissidentes se formam se desprendendo da estrutura original, com passar do tempo dessa convivência. Passa a controlar o sagrado e a sua experiência se esfria, acontece um gradiente cujos segmentos mostram o grau de denominação do sagrado, agora temos o sagrado instituinte da experiência religiosa e o instiuído da instituição religiosa. Em segundo lugar entendemos que pode acontecer a formação de grupos dissidentes dentro das instituições religiosas motivados pelo desejo de uma religião mais vibrante, no afã da liberação do sagrado na busca de um sagrado mais “quente”. Este é o segundo motivo pelo qual as igrejas se dividem, a busca de uma religião mais “emocional” e o rompimento com um sistema institucionalizado onde o sagrado está dominado. Dentro da instituição encontramos o trabalho religiosos onde pessoas produzem práticas e discursos revestidos de sagrado para atenderem a necessidade de um grupo. O trabalho religioso encontra na produção de pensamentos e ações referente ao sagrado, e em produtores especializados que monopolizam o sagrado. Assim criamos o campo religiosos onde agentes especializados se opõem a auto-produção dos leigos e se digladiam entre si no atendimento dos leigos. Temos os profissionais de religião, sacerdotes, profetas e magos, e suas relações no campo religiosos. Outro fator de divisão encontrado no campo religioso, onde os agentes produtores não permitem que os “leigos” possam produzir para si mesmo gêneros que atendam suas necessidades religiosas, esses agentes são monopolizadores da religião. Não apenas isso, os

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agentes profissionais se opõem entre si para atender a demanda dos “leigos”. Nestas oposições e conflitos encontramos a terceira razão como resposta à divisão de igrejas. Dentro do campo das análises sociológicas das instituições religiosas encontramos uma estruturação em termos de práticas sacerdotais como resultado de três forças: a demanda do leigo, a concorrência entre o profeta e o mago, o trabalho religioso e a instituição religiosa. O sistema passa a agir debaixo das influencias mercadológicas tendo como primeira tendência a transformação das práticas e discurso religioso em produtos, e a segunda na organização das atividades para atender as necessidades de mercado. A partir da lei da oferta e procura dentro do mercado religioso, vão surgindo novos produtos e serviços para atendimento dos novos nichos de marcado. Aqui está quarta e talvez a maior e mais importante razão pelo qual as igrejas se dividem. Com a efeverscência no movimento religioso provocando impacto no sistema local provocando impacto no sistema social, observamos que está é uma via de duas mãos, surgem novos grupos de clientes para o mercado religioso, despertados por suas necessidades sociais, que com voracidade querem supri-las. Recorremos a Teoria Econômica da lei de mercado para explicar esse fenômeno. Por um lado temos uma demanda muito grande, consumidores ávidos por produtos da “fé”, por outro, se apresenta uma instituição pronta para fornecer e suprir as necessidade desse extenso e plural mercado consumidor. Como é impossível para uma única instituição atender a todos os gostos dessa clientela, e aos novos nichos de mercado, as instituições se tornam especializadas no atendimento desse mercado religioso emergente. Novos símbolos e produtos religiosos passam a ser desenvolvidos pelas igrejas; estatísticas são utilizadas como ferramentas para a criação de estratégias de marketing; passa-se a trabalhar no mercado religioso para criar a demanda para novos produtos, com isso temos sempre uma “doutrina nova”. Desta forma as igrejas vão se segmentando no mercado religioso ao mesmo tempo em que vão se dividindo para atender a crescente demanda por artigos religiosos e serviços, por parte dos “clientes da fé”.

Referências bibliográficas

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BERGER, Peter. O Dossel Sagrado: Elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo, Paulus. 2013. DURKHEIM, Émile. As formas Elementares de vida Religiosa, São Paulo. Martins Fontes. 1996. ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: A essência das religiões. Editora WMF, 2010. GUERRA, Lemuel Dourado. Mercado Religioso no Brasil – Competição, demanda e dinâmica na esfera da religião. João Pessoal. Editora Idéia. 2003. MARDONES, José Maria. Para compreender as novas formas de religião: a reconstrução pós cristã da religião, Coimbra, Gráfica Coimbra, 1996. MENDONÇA, Antonio Golveia. A experiência religiosa e a insticionalização da religião.In: Revista de estudos avançados. 18(52). 2004. OTTO, Rudolf, O Sagrado: Os aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o racional. São Leopoldo/Est:Petropolis: Vozes, 2007. STARK, Rodney. O Crescimento do Cristianismo, São Paulo, Paulus. 1996. TEIXEIRA Faustino (org.). Sociologia da Religião: Enfoques Teóricos, Petrópolis. Vozes.2003.

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