AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NOS ESTADOS UNIDOS E O FUTURO DA RELAÇÕES INTERNACIONAIS

May 31, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: International Relations, War Studies, War and Peace
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AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NOS ESTADOS UNIDOS E O FUTURO DA RELAÇÕES INTERNACIONAIS Fernando Alcoforado* A paz já foi definida como ausência da guerra. A fórmula de Carl Von Clausewitz exposta em Da Guerra- A Arte da Estratégia (a guerra como continuação da política por outros meios) é substituída na atualidade pela fórmula inversa: a política passa a ser a continuação da guerra por outros meios. Historicamente, a busca da paz entre as nações apresentou três características: 1) o equilibrio entre as grandes potências; 2) a hegemonia exercida por uma grande potência e aceita pelas demais; e, 3) estado imperial exercido por um grande potência que detem o monopólio da violência e impõe sua vontade no cenário mundial. Num espaço histórico dado, ou as forças das unidades políticas estão em equilibrio, ou estão dominadas por uma dentre elas, ou então são superadas a tal ponto pelas forças de uma unidade que todas as demais perdem sua autonomia e tendem a desaparecer como centros de decisão política. Após a 2ª Guerra Mundial, a Guerra Fria se caracterizou pelo equilibrio entre as duas superpotências (Estados Unidos e União Soviética). Com o fim da União Soviética em 1989, os Estados Unidos passaram a exercer sua hegemonia incontestável no cenário mundial graças ao seu poder econômico, científico, tecnológico e militar até o final do século XX. No entanto, os Estados Unidos perderam a condição de potência hegemônica no início do século XXI graças à incapacidade de superar a crise econômica mundial a partir da crise de 2008 e de ordenar o caótico sistema internacional que passou a ter novos protagonistas com o fortalecimento da União Europeia e da Rússia, bem como o surgimento de potências emergentes como a China e a Índia e o terrorismo. O Estado imperial exercido por um grande potência que detem o monopólio da violência foi exercido pelo Reino Unido quando dominou o mundo durante o século XIX que passou a ser contestado pela Alemanha e, também, pelos Estados Unidos no início do século XX. A 1ª e a 2ª Guerra Mundial resultaram, entre outros fatores, do desejo das classes dominantes da Alemanha, do Japão e da Itália de redividirem o mundo que era dominado pelo Império Britânico. A ausência da guerra entre as grandes potências durante a dominação britânica está relacionada com sua superioridade econômica e militar em relação às demais potências que impedia qualquer uma delas, e qualquer coalizão destas unidades de impor sua vontade. O Estado hegemônico exercido pelos Estados Unidos de 1989 até o início do século XXI não aspirava a situação de império. Está comprovado, entretanto, que a hegemonia é uma forma precária de equilibrio entre as grandes potências. O caótico sistema internacional contemporâneo é produto da frágil hegemonia exercida pelos Estados Unidos. Todas as relações mundiais dos Estados Unidos se modificaram profundamente nos últimos tempos que é obrigado a compartilhar com outros países seu poder em escala mundial. É o que já está ocorrendo a partir do governo Barack Obama. Acabou a era em que os Estados Unidos procuravam impor sua vontade no cenário internacional nos planos econômico e militar. A estratégia de Donald Trump, candidato republicano à Presidência República, seria o de transformar os Estados Unidos em um Estado Imperial para reverter seu declinio econômico e a perda de sua hegemonia na cena mundial.

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A postura adotada por Donald Trump é radicalmente contrária à tendência do governo Obama de retirar as tropas norte-americanas de países estrangeiros. O candidato republicano não descarta enviar mais tropas ao Oriente Médio para combater o terrorismo. Ele disse ter um plano infalível para derrotar o Estado Islâmico bombardeando-o e tomando todo o seu petróleo para entregá-lo à Mobil e outras grandes empresas de petróleo dos Estados Unidos. Quando questionado sobre como trataria a questão religiosa dentro do país, Trump afirmou que, se necessário, fecharia mesquitas nos Estados Unidos. Trump comprou briga com ninguém menos do que o maior parceiro comercial dos Estados Unidos: a China. Ele acusou os chineses de roubarem empregos dos americanos e defendeu que sejam aplicadas sanções a este país. Pascal Boniface, professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Paris VIII, afirma em seu livro Vers La 4e. Guerre Mondiale (Armand Colin, 2009) que a ideia de uma 4ª Guerra Mundial está a ser desenvolvida pelos americanos neoconservadores que acreditam que a Guerra Fria foi a III Guerra Mundial e que a guerra contra o Islã ou contra o terrorismo, eles usam ambas as palavras muitas vezes tão indiferentes, seria a quarta. Este é o caso de Donald Trump e seus aliados na campanha presidencial norte-americana cuja política é baseada no confronto acreditando que os problemas políticos podem ser resolvidos unicamente através do uso da força e que o poder militar é uma resposta universal. A candidata democrata Hillary Clinton tenderia a adotar a política de Barack Obama de equilíbrio nas relações internacionais e de combate ao terrorismo. A guerra contra o terrorismo é frequentemente apresentado por Donald Trump e Hillary Clinton como o grande desafio do mundo ocidental. A história demonstra que nem o equilíbrio entre as grandes potências, nem a hegemonia exercida por uma delas e aceita pelas demais e nem o monopólio da violência exercido por um Estado imperial contribuem para a construção da paz mundial. O futuro da segurança internacional está em jogo porque o terrorismo islâmico se tornou o epicentro de um potencial conflito de civilizações que ameaça levar o mundo à ruína. Tanto Hillary Clinton quanto Donald Trump na presidência dos Estados Unidos seriam ineficazes porque adotariam exclusivamente uma solução militar para o combate ao terrorismo islâmico. Para celebrar a paz no Oriente Médio, seria necessário, de um lado, aniquilar militarmente o Estado Islâmico e, de outro, promover o desenvolvimento dos países devastados da região com um programa similar ao Plano Marshall posto em prática na Europa devastada após a 2ª Guerra Mundial. O terrorismo como o praticado recentemente e o surgimento do Estado Islâmico no Oriente Médio fazem com que se torne um imperativo a criação de uma nova superestrutura jurídica e política internacional para tratar dessas novas questões, isto é, a estruturação de um governo mundial haja vista que nenhuma grande potência será capaz de derrotá-lo por mais poderosa que seja ou atue em coalizão com outras grandes potências. A preservação da paz é a primeira missão de toda nova forma de governo mundial. Ele teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta compatibilizando-o com os interesses de cada nação. O governo mundial trabalharia também no sentido de mediar os conflitos internacionais e construir o consenso entre todos os Estados nacionais, fazer com que cada Estado nacional respeite os direitos de seus cidadãos, além de buscar impedir a propagação dos riscos sistêmicos mundiais. Ações para constituir uma governança mundial foi objeto do Concerto das Nações em 1815, da Liga das Nações em 1920 e da Organização das Nações Unidas em 1945 que 2

foram em vão porque as grandes potências não abriram mão de impor suas vontades no plano mundial. Até o surgimento de um governo mundial, as relações internacionais serão regidas pela lei do mais forte. E este é o pior cenário porque nenhum país por mais poderoso que seja terá capacidade de construir a paz mundial nem solucionar os problemas do planeta. As crises econômica, financeira, ecológica, social e política, o desenvolvimento de atividades ilegais e criminosas atuais e o avanço do terrorismo mostram que elas são insolúveis sem a existência de um governo mundial. É preciso entender que os problemas que afetam a economia mundial e o meio ambiente global e contribuem também para o avanço do terrorismo só poderão ser solucionados com a existência de um governo mundial verdadeiramente democrático representativo de todos os povos do mundo. O Direito Internacional não pode ser aplicado e respeitado sem a presença de um governo mundial que seja aceito por todos os países e assegure sua governabilidade. *Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].

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