«As espécies animais e vegetais e a Mitologia».

June 3, 2017 | Autor: Filomena Barata | Categoria: Religião Romana
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«As espécies animais e vegetais e a Mitologia».

Data: 28 de Maio, pelas 15

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28MAIO


«As espécies animais e vegetais e a Mitologia».
Sáb 15:00 em UTC+01 · Belém
Pretende-se com esta visita temática, chamar a atenção para as peças expostas na Exposição «Lusitânia Romana», patente no Museu Nacional de Arqueologia, com representações animais e vegetalistas.

Através dessas representações tentaremos fazer a abordagem à Mitologia Romana, onde a relação com a Natureza é uma constante, pois, para os Romanos, não há Natureza, Divivindade e Humanidade separadas, fazendo todos eles parte de um TODO relacionável, ao ponto de haver divindades com representação meio-humana, meio animal, a exemplo do alado mensageiro dos deuses, Mercúrio, e outras que se transmutam mesmo em plantas ou animais.
Mas ainda encontramos estes elementos da fauna e flora como atributos de divindades, como é o caso da serpente do deus Esculápio, a águia do pai dos deuses, Zeus e ainda o galo, o animal do Tempo e da Luz, que se associa a Mercúrio, muitas vezes representado cavalgando um galo.

Lembraremos a Romã, um dos frutos cuja simbologia acompanha do o Mundo Mediterrânico, sendo já conhecida de sírios e fenícios, mas também de Hebreus, e que, na mitologia grega, passa a ser considerada um símbolo de fertilidade e, por isso a sua associação a Deméter, Afrodite, Atena.

Com Perséfone (a Prosérpina romana), surge associada a um dos mais belos mitos que a Antiguidade conheceu, para representar as estações do ano.

Recordaremos também Vénus, cujo atributo era a rosa, que com ele se fazia representar, no mês que lhe era dedicado, Abril, ou «mensis veneris».
Por sua vez, Maia, uma antiga divindade itálica, filha de Fauno e esposa de Vulcano, era a deusa da Primavera, dando o nome ao mês de Maio, que lhe era consagrado.
No primeiro dia de Maio, o flâmine de Vulcano sacrificava-lhe uma porca grávida. Esta divindade era essencialmente venerada por mulheres sendo os homens excluídos do perímetro sagrado dos seus templos.

Não é fácil falar da Religião Romana, pois nela coexistem tantas religiões: a do panteão oficial, grande parte derivada da herança grega, mas também de origem etrusca, e todas as outras com que Roma coexistiu e adoptou para si, não podendo esquecer que Roma deve muita da sua aceitação, junto das populações que dominou, ao facto de ter conseguido esse sincretismo religioso. Temos assim os que se designam genericamente por di indigetes, divindades originárias do território de Roma e os di novensides, cuja origem é estrangeira, ou seja, adoptados.
A religião em Roma tem uma multidão de deuses, muitos deles com carácter funcional, a quem se presta devocio, tentando assim obter a os seus favores. Existiam ainda os cultos domésticos (dirigidos pelo chefe de família) e os oficiais (regulamentados e dirigidos pelo Estado).

E, mundo mais complexo ainda, é o da magia, profundamente ligada à religião e que compreendia, tal como nesta, um conjunto de cerimónias e rituais. Os Romanos acreditavam que, tal como os sacerdotes, os magos tinham uma relação privilegiada com os deuses. Muitas vezes esses magos evocavam divindades de outras regiões com que iam tomando contacto, e o nome de algumas foram inscritos em talismãs e amuletos.

Poder-se-ia assim dizer resumidamente que Religião Romana se forma com as divindades «Maiores e Menores», designadamente as ligadas à Natureza, à Fauna e à Flora, pois o Universo Religioso romano integrava-as no seu Panteão, em relação estreita com a vida humana e os deuses.
Mas múltiplas são as divindades relacionadas com a Natureza. 

Associada à Primavera, por sua vez, é a ninfa de origem latina Flora, derivando da palavra latina flos (flores).
Flora era uma ninfa romana das flores, intimamente ligada à Primavera. 
Porque um novo ciclo começa com a entrada dessa estação, Flora surge ainda mencionada como deusa da fertilidade.
A Floralia era o festival romano realizado em honra à deusa Flora, para consagrar as florações da Primavera.
Sob a protecção do oráculo dos livros Sibilinos, em 238 a.C, foi construído um templo em honra de Flora, dedicado em 28 de abril. A Floralia foi instituída para pedir sua proteção, mas devido às más colheitas, as festas foram canceladas durante quase cem anos (de 240 a.C a 173 a.C).
Durante os festejos que lhe eram dedicados em Roma, atiravam-se sementes sobre a multidão para atrair a fertilidade e a abundância, situação em que podemos encontrar algum paralelismo no hábito de deitar arroz aos recém-casados.
Eram também sacrificadas ovelhas e ofertado mel e sementes de flores.
O mel era exactamente considerado um dos presentes que Flora tinha dado aos seres humanos, simbolizando a abelha a força feminina da natureza. 
Flora foi inúmeras vezes associada a Deméter, Ártemis e Perséfone e o poeta Ovídio chega mesmo a relacioná-la com a mitologia grega, identificando-a com a ninfa grega Cloris, embora a origem da divindade seja itálica. Segundo a versão do Mito de Ovídio, um certo dia de primavera, Zéfiro, o vento oeste, avistou a ninfa Cloris, apaixonou-se por ela e transformou-a em Flora.
Como prova de seu amor, Zéfiro nomeou a sua amada como rainha das flores das árvores frutíferas e concedeu-lhe o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais, entre elas o cravo.
Cibele era considerada, por sua vez, a «Mãe dos Deuses», tendo mesmo sido referida pelo poeta trágico grego Sófocles (495 a. C.-406 a. C.) como a «Mãe de Tudo».
Ao que se sabe o culto provém da Anatólia Ocidental e da Frigia, onde designada como "A Senhora do Monte Ida".
A montanha, a caverna, os ambientes rochosos são os ambientes escolhidos por essa Grande Mãe ou mesmo considerados a encarnação da Divindade. 
Cibele era normalmente representada como uma mulher madura, coroada de flores, nomeadamente rosas, aliás as flores utilizadas para venerar os mortos, e espigas de cereais, símbolo da vida, trajando uma túnica multicolorida e com um molho de chaves na mão. Não admira, portanto, a sua associação a uma actividade como a panificação, como o selo que vos apresentamos.
Em algumas representações, ela aparece cercada por leões ou segurando nas mãos várias serpentes.
Cibele era a deusa dos mortos, da fertilidade, da vida selvagem, da agricultura e da Caçada Mística. Nos seus rituais eram usados pratos e tambores. Mas também era associada à Grande Mãe Primordial origem de toda vida, vegetal, animal e humana. 
O culto de Cibele tornou-se tão popular que o senado romano, pese sua política de tolerância religiosa praticada, viu-se forçado a proibir os rituais da deusa-mãe. 
Tal como as deusas Perséfone e Deméter, Cibele pertencia à Religião dos Mistérios e os rituais que lhe dedicados em sua honra eram celebradas à noite, uma vez que ela era considerada a Rainha da Noite. Era-lhe reconhecida uma profunda sabedoria que era partilhada apenas com os seguidores dos seus «Mistérios».
Os que se dedicavam ao seu culto eram considerados como que encarnações de seu filho Átis, um deus lunar que usava a lua crescente como uma coroa, que tanto era tido como seu filho, como amante de Cibele, a deusa da Lua.





«Balsamario. Representa a Fauno. Base en forma de pedestal acampanado con molduras concéntricas. En la parte superior del cráneo tiene la tapadera, y en los lados de la cabeza conserva huellas del arranque de un asa. Está en vitrina de la sala IV de nuestra planta baja.
dimensiones 16 x 11 cm»
Imagem e legenda a partir de: Museo Museo Nacional de Arte Romano
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=675823335822376&set=a.678490968888946.1073741846.121327647938617&type=1&theater
Por sua vez, Fauna era a esposa de Fauno, deus dos bosques e planícies que protege os rebanhos e culturas, cujos oráculos se conhecem através dos murmúrios das árvores, Fauna, protectora das mulheres contra a esterilidade, é considerada pelos Romanos como a mãe do deus Latino, um dos reis lendários do Lácio, divinizado como Jupiter Latiaris. Nos lugares onde se faziam os oráculos de Fauno, os ritos observados foram minuciosamente descritos por Virgílio: um sacerdote oferecia uma ovelha e outros sacrifícios e a pessoa que consultava o oráculo tinha que dormir uma noite sobre a pele da vítima, dando então o deus uma resposta através de um sonho ou mediante vozes sobrenaturais. Ovídio descreve ritos parecidos celebrados sobre o Aventino.
Em Roma havia um templo de Fauno de forma redonda, rodeado por colunas, sobre o monte Celio, e construiu-se-lhe outro no 196 a. C. na Ilha Tiberina, onde lhe eram oferecidos sacrifícios em Fevereiro, dia em que os Fabii tinham morrido em Cremera.
O escritor cristão Justino Mártir identificou Fauno com Luperco ('o que protege do lobo'), o protector do gado, seguindo Lívio, originalmente adorado na Lupercalia, celebrada no aniversário da fundação de seu templo (15 de Fevereiro), quando seus sacerdotes (Luperci) levavam peles de cabra e golpeavam aos espectadores com cintos de pele de cabra.
No festival da Faunalia, que se celebrava a 5 de Dezembro, as pessoas do campo com grande alegria e banquetes, fazia referência a Fauno como deus da agricultura e do gado.

Recordemos ainda algumas das consideradas «divindades menores» que convivem com os deuses do Olimpo, a exemplo das ninfas (que se dividiam em vários tipos, de acordo com o local onde viviam ligadas à natureza, mas presentes em inúmeros mitos). As ninfas relacionavam-se com mortais e deuses, sendo mesmo consideradas mães de vários grandes heróis, como o famoso Aquiles. Eram representadas como mulheres belas e jovens, que muitas vezes atraiam o mundo dos homens.
Aparecem associadas a vários deuses como Apolo, Ártemis e Dioniso. Mas também as vemos surgir junto os sátiros, em zonas selvagens.
As Dríades eram ninfas das árvores, as Naiades eram ninfas da água doce, as Nereidas e Oceânides da água salgada e as Oréades habitavam montanhas. 

Havia também ninfas que se distinguiam pela origem familiar, a exemplo das Hespérides, filhas do titã Atlas.


Profundamente supersticiosa, a sociedade romana protegia-se com amuletos ou ídolos com carácter apotropaico, tendo em vista proteger quem o usava de espíritos malévolo. Com essa função foram também identificadas as figuras antropomórficas em osso, muito comuns na Lusitânia, como o exemplar que se publica, proveniente da Rua de Sembrano, Beja, se bem que novos estudos apontam para uma associação ao culto de Magna Mater ou Cibele, que tinha grande aceitação a ocidente da Península Ibérica (ARANDA CISNER et alii, 2012).





Lucerna com Diana dançando. Fotografia Guilherme Cardoso.
Imagem publicada em «A presença Romana em Cascais: Um território da Lusitânia Ocidental». 
Museu Nacional de Arqueologia.

Diana era entre os Romanos a deusa da lua e da caça, filha de Júpiter e de Latona, e irmã gémea de Febo, ciosa da sua castidade, ao ponto de transformar num cervo o caçador Acteão, apenas porque a observou nua durante o banho. Era acompanhada por um séquito de sessenta oceânidas e vinte ninfas que, como ela, renegaram a sexualidade.
Cedo foi associada a Ártemis ou Artemisa, deusa virgem da mitologia grega que foi romanizada, também protectora da vida selvagem e ma caça, igualmente considerada filha de Zeus e de Leto e irmã gémea de Apolo que os tempos quiseram associar à lua e à magia, bem como aos animais selvagens e à natureza, mas também à virgindade. Era ainda protectora das mulheres e dos partos. O cervo e o cipreste eram os seus atributos.
Lembramos que os Sátiros eram divindades menores da natureza com aspecto humano, mas com cabelos eriçados e grande cauda e orelhas bicudas de bode, pequenos cornos na testa, narizes achatados, lábios grossos, barbas longas e órgãos sexuais de proporções sobre-humanas, frequentemente mostrados em estado de erecção. Viviam nos campos e nos bosques, onde tinham relações sexuais frequentes com as Ninfas e as Ménades, que a eles se juntavam no cortejo de Dioniso, além de copularem com humanos, mulheres e rapazes, cabras e ovelhas. A embriaguês era a fonte inesgotável da sua perpétua jovialidade e lubricidade.


Balsamário representando Fauno. Museu Nacional de Arte Romano.
Fotografia gentilmente cedida por José Manuel Jérez Linde

Fauna era, por sua vez, a esposa de Fauno, deus dos bosques e planícies que protege os rebanhos e culturas, cujos oráculos se conhecem através dos murmúrios das árvores, Fauna é protectora das mulheres contra a esterilidade, considerada pelos Romanos como a mãe do deus Latino, um dos reis lendários do Lácio, divinizado como Jupiter Latiarus. Nos lugares onde se faziam os oráculos de Fauno, os ritos observados foram minuciosamente descritos por Virgílio: um sacerdote oferecia uma ovelha e outros sacrifícios e a pessoa que consultava o oráculo tinha que dormir uma noite sobre a pele da vítima, dando então o deus uma resposta através de um sonho ou mediante vozes sobrenaturais. Ovídio descreve ritos parecidos celebrados sobre o Aventino.
Em Roma havia um templo de Fauno de forma redonda, rodeado por colunas, sobre o monte Celio, e construiu-se outro no 196 a. C. na Ilha Tiberina, onde lhe eram oferecidos sacrifícios em Fevereiro, dia em que os Fabii tinham morrido em Cremera.
O escritor cristão Justino Mártir identificou Fauno com Luperco ('o que protege do lobo'), o protector do gado, seguindo Lívio, originalmente adorado na Lupercalia, celebrada no aniversário da fundação do seu templo (15 de Fevereiro), quando seus sacerdotes (Luperci) levavam peles de cabra e golpeavam os espectadores com cintos de pele de cabra. No festival da Faunalia, que se celebrava a 5 de Dezembro, as pessoas do campo com grande alegria e banquetes, fazia referência a Fauno como deus da agricultura e do gado.
Também o deus Silvano (lat. Silvanus) divindade das florestas (lat. silva – donde deriva o nome) mais tarde passou a ser identificado com o deus Fauno ou com o Pã grego.


Escultura do deus Silvano de Los Mártires, Talavera la Real, Badajoz. 
Desenho e fotografia de José Manuel Jerez Linde.



Na exposição, a primeira peça a que nos prenderemos é a estatueta de Minerva que se apresenta com um capacete coríntio.
Sobre o peito tem a representada a égide de pele de cabra, presa por duas correias, onde está representada a Medusa, a que nos referiremos de seguida, pois a sua cabeça foi oferecida a esta divindade. A divindade, nascida da cabeça de Zeus, faz-se representar com o capacete coríntio. Pela posição dos braços, seguraria a lança na mão erguida e uma pátera na mão estendida, para fazer uma libação sobre uma ara acesa 
Sobre o peito enverga a égide de pele de cabra, recordando a cabra Amaltéia que, segundo a lenda amamentou Zeus, presa por duas correias, e ao centro tem a Cabeça de Medusa, que, segundo a Mitologia, lhe foi oferecida.
Deusa da Sabedoria e da Razão, é também a deusa das artes da guerra, motivo pelo que se faz representar com uma lança, actualmente perdida.

Minerva é filha de Júpiter e de Métis, considerada a reflexão personificada, primeira esposa do pai dos deuses. 
Quando estava grávida, Métis anunciou a Júpiter que teria em primeiro lugar uma filha e, de seguida, um filho que se tornaria senhor do céu. 
O rei dos deuses, estupefacto com tal profecia, engoliu Métis. 
Passado algum tempo, foi acometido de fortíssima dor de cabeça, tendo pedido a Vulcano que lhe rachasse a cabeça com o machado.
Cumprindo a ordem, desferra-lhe o machado de ouro certeiro e todos se surpreendem ao verem sair do seu cérebro, imponente e armada, pronta para a guerra, com capacete e lança, a filha Minerva.
Será ela também a nova encarnação da sabedoria divina.

A Oliveira aparece associada a Atena, (Minerva) e a Júpiter.
Era a árvore da civilização, da fecundidade, da paz e da vitória sobre as forças obscuras, esterilizantes e injustas. O Triunfo da civilização. A deusa Atena fez brotar a oliveira por detrás do Erectéion, como o mais belo presente que podia oferecer aos Atenienses. Atena zela pelo Estado e pela prosperidade do mesmo. Vela também pela agricultura.
Na pátera do Tesouro da Lameira Larga (Ver Filomena Barata sobre o «Tesouro da Lameira Larga» publicado na Revista de Arqueologia, Madrid e com edição revista neste blogue) é bem visível a oliveira e o mocho, atributos de Atena. Junto a Pedras d'El Rei (Santa Luzia) existe uma oliveira com cerca de dois mil anos, uma das árvores mais antigas de Portugal. Catão considerava suficientes 13 trabalhadores para se ocuparem de uma propriedade de 240 judera (60 ha) de olival, número que para 100 jugera de vinha subia para 18. Segundo Plínio, «Há também azeitonas muito doces que se secam por si, mais doces que uvas passas; são bastante raras e produzem-se na África e próximo de Emérita, na Lusitânia» Plínio, NH, XV, 17. Este autor latino refere ainda que a Bética obtinha as suas mais ricas colheitas das oliveiras e que o solo cascalhoso era muito apto para plantar olivais. Apanha da azeitona (Cartago, Tunísia). Fot. André Martin É sabido que a oliveira, a par da videira, foi uma das primeiras árvores a ser cultivada, há mais de 5.000 anos, no Mediterrâneo Oriental e Ásia Menor, sendo os Fenícios, Sírios e Arménios os primeiros a consumir azeite.

Virgílio, o autor latino do século I que heroiciza o prestígio da vida agrícola, como um dos pilares da época de Augusto, n'«As Geórgicas» faz várias referências às oliveiras, afirmando logo no seu Livro I: «Tu, Minerva, que nos deste a oliveira; tu moço inventor do curvo arado; tu, Silvano, que usas em guisa de cajado um tenro cipreste arrancado com as raízes! E vós todos, deuses e deusas a quem cabe o cuidado de proteger os campos, que alimentais as plantas que o homem não semeou, e derramais do céu, sobre as que ele cultiva, a chuva benfazeja!» Também o geógrafo Estrabão se refere à riqueza agrícola e mineira da Turdetania do seguinte modo : « trigo, muito vinho e azeite; este de grande quantidade, e de qualidade insuperável» e adianta ainda que grande parte da costa atlântica e mediterrânica estava coberta de arvoredo: oliveira, vinha, figueira e outras árvores semelhantes e que a região entre o tejo e o Cantábrico "era naturalmente rica e frutos e gado" (3, 3, 5).



Estatueta de bronze de Minerva, procedente do acampamento romano de Cáceres el Viejo. 
Museo de Cáceres. Fotografia José Manuel Jérez Linde

A Cabra/bode


Par de machos caprídeos.

Medellín, Badajoz. Século I d. C.

Exposição A Lusitânia Romana. Museu Nacional de Arqueologia




Na mitologia, a cabra aparece associada a Zeus; Atena; Pã
Para os Gregos a cabra simboliza o relâmpago e é o animal que alimentou Zeus, a cabra Amalteia, sendo a sua pele usada no fabrico do cilicium, uma túnica usada em momento de oração, simbolizando a união com a divindade, cujo uso se prolongou até aos nossos dias em determinadas congregações ou seitas religiosas.
Nas orgias dionisíacas era também usada a pele de cabritos para cobrir as Bacantes.
Assim se refere Virgílio, nas suas Geórgicas «É para expiar essa culpa que se sacrifica o bode em todos os altares de Baco, e se celebram as tradicionais festas nos teatros; que os descendentes de Teseu instituíram dádivas aos génios em todas as aldeias e encruzilhadas, e que, jubilosos, bebem e dançam, em cima de odres untados de azeite, nos prados macios.» ) LIV: II 385
Num mosaico de Mértola, onde se identifica a cena mítica de Belefonte matando a Quimera, esta última tem representada nas costas a cabeça de uma cabra, saindo chamas de sua boca (Vergilio Lopes, 2001, Revista Municipal de Mértola).
Diz-nos ainda Virgílio: «Se é porém teu intento criar manadas de gado grosso, bezerros, ovelhas ou cabras de dente daninho, procura os bosques e as pastagens remotas da feraz Tarento, ou os campos como os que perdeu a malfadada Mântua, em que apascentam, no rio onde os juncos verdejam, cisnes cor de neve. Não faltarão aí aos rebanhos nem ervagem nem límpidas fontes: o pasto que eles roem num longo dia de verão, numa curta noite o repõe o gélido orvalho».
« Outra tarefa necessária é tecer sebes, que vedem a entrada a rebanhos, sobretudo enquanto a parra é mimosa e mal afeita a tratos duros. Não só a aspereza dos temporais e a tirania do sol lhe fazem dano; também o uro bravio e a cabra de teimoso dente se comprazem em a destruir, e a rilham as ovelhas e as gulosas bezerras».
As Geórgicas, Sá da Costa, Lisboa, 194 e 370
Referência BIBLIOGRÁFICA: BLANCHARD-Lemée, M. et alii

Segundo a Mitologia, Zeus, que havia esfolado a cabra Amalteia, que o amamentara quando Gea o escondeu de Cronos, e se serviu da sua pele para se proteger dos Titãs, tem como emblema a pele de cabra enfeitada, muitas vezes, com serpentes – a Égide. Atena também tem o mesmo emblema. 

Atributo de divindades, a Égide tornou-se, portanto, insígnia de reis e imperadores de Roma. Para os Gregos a cabra simbolizava o relâmpago. Pã, filho de Hermes, era o deus-cabra.
A cabra é um animal representado com frequência nas lucernas romanas, como são os exemplares provenientes de Miróbriga (CABRAL, nº 6, p. 457) ,e de Santa Bárbara (MAIA, 1997,98). Neste último Sítio apareceram ainda vários exemplares com as Cornucópias da abundância, que se trata do corno da cabra Amalteia (MAIA, 1997: 80).
No Museu Nacional de Arqueologia há uma estatueta de bronze, proveniente de Silves com a forma de cabrinha, datável dos séculos IV-II a. C. Também no Museu Nacional de Arqueologia há duas pedras de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresentam gravadas cenas campestres,constituída por um pastores com bordão e por uma cabras e árvores, bem como um camafeu com uma cena dionisíaca, onde um homem nu segura as pernas de uma cabra junto a uma árvore (ver «Um gosto privado – um olhar público», pp.130-133).
De assinar a representação de caprídeos na arte rupestre em território nacional, de que se pode citar a título de exemplo o Vale do Côa e do Vale do Tejo. Ver relação com a adivinhação em Tertuliano.25 Também no Museu Nacional de Arqueologia há duas pedras de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresentam gravadas cenas campestres, constituída por um pastores com bordão e por uma cabras e árvores, bem como um camafeu com uma cena dionisíaca , onde um homem nu segura as pernas de uma cabra junto a uma árvore (ver «Um gosto privado – um olhar público», pp. 130-133).
No célebre «Mosaico das Musas» proveniente de Torre de Palma e que se encontra no Museu Nacional de Arqueologia estão representados, entre as muitas figuras mitológicas, Sileno e Sátiro. O Sileno obeso apresenta-se nu, barba e cabelos com folhagem verde, e tem uma pele de cabra ou pantera à cintura. O braço esquerdo enlaça um Sátiro, também coroado de verdura.
Por sua vez, o Bode aparece ligado ao deus Pã (Lupércio ou Lupercus em Roma) é o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores, na mitologia grega. Vagueava pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas.
Normalmente é representado com orelhas, chifres e pernas de bode, trazendo consigo uma flauta, produzida com canas de vários tamanhos. Pelo seu aspecto terrífico era temido por todos aqueles que necessitam atravessar as florestas à noite, que assim podiam ser cometidos de pavores súbitos, de onde deriva o termo "pânico".
Também Sátiro, na mitologia grega era um ser com o corpo metade humano e metade de bode. Equivale na mitlogia romana ao fauno. 
Inúmeras são as referências nos escritores da Antiguidade a cabras e bodes, de que recordaremos:
Virgílio, As Geórgicas, Ed. Sá da Costa, Lisboa, 1948.pp. 73; 117; 119; 12; Plínio, NH, VIII, 199.; Tertuliano 


A Lusitânia
1 h · 
Na fotografia: Phanes Mitraico.
Cerro de San Albín.
Museo Nacional de Arte Romano, Mérida.
Actualmente em exposição em Lusitânia Romana, Origem de Dois Povos, no Museu Nacional de Arqueologia.
Fotografia: A partir do catálogo acima mencionado.
«Uma das peças mais enigmáticas e com maior impacto na exposição Lusitânia Romana. Origem de Dois Povos é a imagem de um jovem desnudado, enrolado por um enorme ofídio, com uma cabeça de leão no peito e outra de bode aos pés. Esculpida em mármore, à escala humana, apresenta algumas lacunas que terão implicado a perda de importantes atributos e dificultam a sua identificação. Embora dada como efígie de Mitra, não detém os elementos mais característicos desta divindade de origem oriental, ligada ao culto solar, nem parece ter integrado as cenas principais da sua iconografia no Ocidente. Com efeito, em termos visuais e simbólicos será mais próxima de Phanes (deus alado, da vida e da criação, referenciado no Eros grego e no Osíris-Chronocrator egípcio, e contemplado no culto órfico), de Arimanius (deus leontocéfalo, que poderá representar a faceta mais agressiva deste antropocéfalo e que era venerado no culto mitraico) e ainda de Aion (deus do tempo cíclico e eterno, que não seria estranho ao culto mitraico). Os atributos animais remanescentes reiteram-no como divindade temporal: o felídeo poderá indicar o tempo presente, solar; o ofídio o tempo eterno, lunar; o caprídeo o tempo cíclico, sobretudo se tiver estado em oposição a um ovídeo. Parecendo resultar de um sincretismo religioso, a figura provirá do Mithræum de Mérida e pertence ao Museo Nacional de Arte Romano».
Cátia Cat Mourão
Demorar-nos-emos depois sobre as restantes espécies animais figuradas nesta peça.
Mas, desde já, nos prenderemos ao simbolismo da Serpente.
Texto: Filomena Barata
A partir de:
Espécies animais de Miróbriga e suas referências bibliográficas e mitológicas
https://www.academia.edu/…/Esp%C3%A9cies_animais_de_Mir%C3%…
Fotografia: Catálogo da Exposição «A Lusitânia Romana: Origem de dois Povos».

Aparece associada a Apolo, Júpiter , Hermes; Esculápio, Mitra, Perseu e Medusa.
A Medusa que também significa 'sabedoria feminina', tem um simbolismo que ao que parece foi importado da Líbia, onde as amazonas a cultuavam como a Deusa Serpente.
Curiosamente, na Grécia Antiga, ela ganha outras conotações, e a serpente é dissociada de Atena, também divindade da Sabedoria, que aqui é transformada em inimiga da Górgona.
Ver: Virgílio, As Geórgicas, Sá da Costa, 1948 Lisboa.
Barata, Filomena, «O Tesouro da Lameira Larga», Revista de Arqueologia», Madrid.
Estr. III, 2, 6;
Ver: Montero Herrero, Santiago, Diosas y Adivinas
As Geórgicas: 33; LIV. II 101; 127; 127; 135 (ed.1948)
«Monstros e Mitos», Revista de Arqueologia, nº 207.
Apolo matou a serpente Píton que vivia numa caverna do monte Parnaso. Apolo também se transformou em serpente para se unir a Dríope, filha do rei Dríops.Apolo matou a serpente Píton que vivia numa caverna do monte Parnaso. Apolo também se transformou em serpente para se unir a Dríope, filha do rei Dríops.
Mas podemos referir ainda as serpentes enroscadas em Ixíon, de cujos amores com Hera nasceram os Centauros. Fruto desses amores Ixíon foi castigado e amarrado com serpentes a uma roda que gira, sem repouso, no fundo do Tártaro.
A serpente aparece ainda associada ao Génio, simbolizando a força espiritual e vivificante dos homens, pois todos se fazem acompanhar dessa divindade individual que o acompanha e protege até à morte, dos imperadores e dos deuses, a exemplo do Génio de Júpiter.
De Itálica provém um busto de Adriano que tem na couraça uma representação de uma Górgona (ver Pilar León, Esculturas de Itálica». De Tarragona provém um outro busto semelhante.
Ver «La Mirada de Roma», p. 12, e de Mérida há uma estátua onde está também representada na coraça.(idem, p. 186). Ver também «Sarcófago da vindima» do MNA. No Museu Nacional de Arqueologia há uma estatueta de bronze, proveniente de Ferragudo com a forma de serpente, datável dos séculos IV-II a. C. Também no Museu de Arqueologia há um pingente de vidro, proveniente de Comôros da Portela (Silves) com a forma da cabeça de uma serpente, datável dos séculos VII-V a. C. Ainda no Museu Nacional de Arqueologia há uma pedra de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresenta gravada a Medusa «Um gosto privado – um olhar público», p. 133.
A serpente simboliza a renovação pois muda a sua pele todos os anos.
Com motivos onde as serpentes estão representadas enroladas nos troncos de árvores, é um conjunto de lucernas provenientes de Santa Bárbara, bem como seis exemplares onde está representada a Medusa (MAIA, 1997, 61-62 e 74-75).
De Torre de Ares provém ainda uma lucerna de finais dos imperadores flávios, onde no disco aparece representado um altar ladeado por duas palmeiras com duas cobras enroladas nelas (NOLEN, 1994, 43, lu.40). Hermes usava um bastão com uma serpente enrolada. Ver Plínio III, 78; V, 15; XXXV, 202. «Estes animais (as lebres), como se alimentam de raízes, destróiem plantas e sementes». (…) uma invasão (de lebres) deste género ultrapassa as suas proporções habituais e propaga-se como uma peste, ao modo das pragas de serpentes ou de ratos campestres» Estr. III, 2, 66
As serpentes são marcantes nos mitos gregos muito arcaicos: o mito-elemento de Laocoonte, a antiga Hidra de Lerna, que lutou com Hércules, a serpente do mais velho oráculo de Delfos, etc… A serpente é um dos animais associados com o culto de Mitra, sendo também o que Esculápio tem a seus pés, motivo pelo que ainda hoje as farmácias tenham como símbolo este animal, pos Esculápio é a divindade da saúde.
Santuário pré-romano associado ao culto ofiolátrico (de serpentes) «No concelho de Torre de Moncorvo, no sítio arqueológico do Baldoeiro, sobre o Penedo do Corvo, existem algumas cavidades e entalhes picados na rocha que alguns autores de inícios do século XX (entre os quais Santos Júnior) compararam com o santuário de Panóias. Se bem que seja possível que estes entalhes possam corresponder a uma torre roqueira da Reconquista, eventualmente edificada sobre o penedo, há uma ou duas pequenas cavidades cuja função é inexplicável, pelo que poderá corresponder, efectivamente, a um santuário pré-romano associado ao culto ofiolátrico (de serpentes), devido a uns gravados serpentiformes que aí também existem. Pelos mistérios que estes sítios encerram, aqui fica uma proposta de visita. Se bem que o Baldoeiro não esteja devidamente valorizado para apresentação ao público. "Esta cobra que mede 1m 85 faz parte de um conjunto de seis, das quais, a maior mede três metros. Podem ser observadas no dorso da enorme rocha granítica conhecida localmente por Fraga do Corvo e, também, por Fraga ou Penedo do Cobrão. Santos Júnior adianta que poderá tratar-se de um vestígio reminiscente de algum culto ofiolátrico, mas, até ao momento, não se encontrou documentação que comprove a existência de tal culto nesta região. O que se pode afirmar é que se trata de uma zona riquíssima em vestígios arqueológicos que demonstram ter havido uma continuidade de ocupação do local, desde a Pré-História até à actualidade». in Civitas Baniensium – O culto da serpente. «Portugal Romano», Facebook. (ver Filomena Barata trabalhos sobre Mitra e Esculápio neste Site ….).
Os ofídios aparecem ínumeras vezes associados a Figuras Mitológicas, de que se destaca a FRAUDE, «uma divindade alegórica infernal, encarnação do perjúrio» que vivia nas águas do Cocito, onde escondia o seu corpo monstuoso em cauda de serpente. Só mostra o rosto hipocritamente amável e doce» (Diccionário de Mitologia Grega e Romana, Jel Scmidt), motivo pelo que a FRAUDE é muitas vezes representada com duas cabeças e a máscara do engano.
No Museu Nacional de Arqueologia há um «baixo-relevo de um homem nu, barbado, de pernas abertas levantando uma maça com a mão direita por cima da cabeça enquanto segura com a esquerda o corpo de uma serpente que se enrola na perna esquerda avançada. Trata-se, segundo descrição da peça do MNA, de um «fragmento de uma composição certamente mais vasta. A atitude, a musculatura, os vincos da face coberta de barba intonsa pretendem representar o vigor do personagem combatendo a serpente que o ataca. É a representação de Heracles ou Hércules em luta contra a Hidra de Lerna, a serpente de múltiplas cabeças que renasciam quando cortadas e cujo sopro mortal provocava devastações nas colheitas e nos rebanhos. Representa um dos "doze trabalhos" que o herói realizou com êxito às ordens do seu primo Eristeu. Pode tratar-se do fragmento de um sarcófago, peça que poderia reproduzir em relevo outros trabalhos de Hércules. Apesar de ser desconhecida a sua proveniência, as características patentes na execução da peça, as escaras e mutilações sofridas, a própria pátina, militam em favor da sua autenticidade». (Segundo ficha de Catálogo de Escultura Romana do MNA, da autoria de José Luís de Matos).
Segundo afirma Virgílio, em «As Geórgicas», «Aprende a queimar nos estábulos o oloroso cedro, e a enxotar as cobras malignas com o fumo do gálbano. É frequente esconder-se debaixo das manjedouras a que há muito se não deu volta uma víbora, perigosa quando se lhe toca, que foge, espavorida, da luz; ou uma cobra, inimiga cruel dos bois e portadora de venenos para o gado, useira em penetrar nos tectos escuros, anichar-se no chão. Se assim acontecer, pastor, deita a mão a uma pedra, deita a mão ao cajado, e prosta-a à pancada, quando ela se ergue ameaçadora e incha o colo, a sibilar. Já foge … já escondeu na terra a cabeça assustada … ainda as curvas do meio do corpo e da cauda se desenroscam …; numa convulsão final, arrasta lentamente os últimos aneis» (As Geórgicas: 420).
«Há também, nas charnecas da Calábria, uma serpente malfazeja que, erguendo o peito, rola um dorso revestido de escamas e um comprido ventre, sarapintado de grandes manchas. Quando os rios saem dos álveos e as terras estão encharcadas pela primavera húmida e pelos Austros pluviosos, frequenta as margens dos chaboucos: aí, insaciável, atafulha a negra guelra com peixes e palreiras rãs. Quando os charcos enxaguam e as terras abrem gretas com o ardor do sol, vai para os sítios, e, assanhada pela sede, exasperada pelo calor, lança-se furiosa pelos campos, revolvendo os olhos inflamados. Não seja eu nunca ter tentado a entregar-me a um sono ameno ou a reclinar-me na relva, na encosta de um bosque, na ocasião em que esta serpente, tendo largado a pele e a reluzir com um novo vigor, desenrola os anéis, e, deixando no ninho os filhos ou os ovos, se empina para o sol e dardeja a língua tri-furcada»!.
Ver: Virgílio, As Geórgicas, III, 425, Ed. Sá da Costa, 1948 Lisboa.
Sobre a Medusa ver ainda: Barata, Filomena, «O Tesouro da Lameira Larga», Revista de Arqueologia», Madrid. Estr. III, 2, 6; Montero Herrero, Santiago, Diosas y Adivinas As Geórgicas: 33; 101; 127; 127; 135;
No Museu Nacional de Arqueologia há ainda uma estatueta de bronze, proveniente de Ferragudo com a forma de serpente, datável dos séculos IV-II a. C. Também no Museu de Arqueologia há um pingente de vidro, proveniente de Comôros da Portela (Silves) com a forma da cabeça de uma serpente, datável dos séculos VII-V a. C. Ainda no Museu Nacional de Arqueologia há uma pedra de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresenta gravada a Medusa «Um gosto privado – um olhar público», p. 133.
A serpente simboliza a renovação pois muda a sua pele todos os anos.
Com motivos onde as serpentes estão representadas enroladas nos troncos de árvores, é um conjunto de lucernas provenientes de Santa Bárbara, bem como seis exemplares onde está representada a Medusa (MAIA, 1997, 61-62 e 74-75). De Torre de Ares provém ainda uma lucerna de finais dos imperadores flávios, onde no disco aparece representado um altar ladeado por duas palmeiras com duas cobras enroladas nelas (NOLEN, 1994, 43, lu.40). Hermes usava um bastão com uma serpente enrolada. Ver Plínio III, 78; V, 15; XXXV, 202. «Estes animais (as lebres), como se alimentam de raízes, destróiem plantas e sementes». (…) uma invasão (de lebres) deste género ultrapassa as suas proporções habituais e propaga-se como uma peste, ao modo das pragas de serpentes ou de ratos campestres» Estr. III, 2, 66
As serpentes são marcantes nos mitos gregos muito arcaicos: o mito-elemento de Laocoonte, a antiga Hidra de Lerna, que lutou com Hércules, a serpente do mais velho oráculo de Delfos, etc… A serpente é um dos animais associados com o culto de Mitra, sendo também o que Esculápio tem a seus pés, motivo pelo que ainda hoje as farmácias tenham como símbolo este animal, pos Esculápio é a divindade da saúde.
Santuário pré-romano associado ao culto ofiolátrico (de serpentes) «No concelho de Torre de Moncorvo, no sítio arqueológico do Baldoeiro, sobre o Penedo do Corvo, existem algumas cavidades e entalhes picados na rocha que alguns autores de inícios do século XX (entre os quais Santos Júnior) compararam com o santuário de Panóias. Se bem que seja possível que estes entalhes possam corresponder a uma torre roqueira da Reconquista, eventualmente edificada sobre o penedo, há uma ou duas pequenas cavidades cuja função é inexplicável, pelo que poderá corresponder, efectivamente, a um santuário pré-romano associado ao culto ofiolátrico (de serpentes), devido a uns gravados serpentiformes que aí também existem. Pelos mistérios que estes sítios encerram, aqui fica uma proposta de visita. Se bem que o Baldoeiro não esteja devidamente valorizado para apresentação ao público. "Esta cobra que mede 1m 85 faz parte de um conjunto de seis, das quais, a maior mede três metros. Podem ser observadas no dorso da enorme rocha granítica conhecida localmente por Fraga do Corvo e, também, por Fraga ou Penedo do Cobrão. Santos Júnior adianta que poderá tratar-se de um vestígio reminiscente de algum culto ofiolátrico, mas, até ao momento, não se encontrou documentação que comprove a existência de tal culto nesta região. O que se pode afirmar é que se trata de uma zona riquíssima em vestígios arqueológicos que demonstram ter havido uma continuidade de ocupação do local, desde a Pré-História até à actualidade». in Civitas Baniensium – O culto da serpente. «Portugal Romano», Facebook. (ver Filomena Barata trabalhos sobre Mitra e Esculápio neste Site ….).
Os ofídios aparecem ínumeras vezes associados a Figuras Mitológicas, de que se destaca a FRAUDE, «uma divindade alegórica infernal, encarnação do perjúrio» que vivia nas águas do Cocito, onde escondia o seu corpo monstuoso em cauda de serpente. Só mostra o rosto hipocritamente amável e doce» (Diccionário de Mitologia Grega e Romana, Jel Scmidt), motivo pelo que a FRAUDE é muitas vezes representada com duas cabeças e a máscara do engano.

Também a representação de Medusa, com serpentes na zona do cabelo, tinha carácter apotropaico, estando bastante bem atestado o seu uso, na Lusitânia. A Medusa era esse monstro de onde saiam serpentes da cabeça com poder de transformar em pedra todos aqueles que a olham directamente, fazia parte das Górgonas. A mitologia grega referia a existência de três : Medusa, Esteno e Euríale. Ao contrário das outras duas, Medusa era mortal e, por isso, foi decapitada por Perseu. Este utilizou a sua cabeça como arma que foi oferecida à deusa Atena, pelo que aparece representada no escudo da divindade. É também por esse mesmo motivo que a imagem da cabeça da Medusa surge representada nos amuletos e mesmo nos escudos de alguns imperadores com carácter apotropaico, ou seja, protector.
Mas também os clipei têm um poder de amparo, protegendo os lugares das forças malignas e aparecem associados ao poder imperial divinizado, porque o escudo é, no fundo, uma representação do Universo de que o guerreiro se serve para opor o cosmos à força do inimigo. Conhecido é o escudo de Aquiles: « Hefesto cria nele uma decoração múltipla, fruto dos seus sábios pensamentos. Desenha nele a terra, o céu e o mar, o Sol infatigável e a Lua Cheia, bem como todos os astros que coroam o céu ... Desenha nele também duas cidades humanas, duas belas cidades. Numa delas veêm-se umas núpcias, uns festins ... Em volta da outra cidade acampam dois exércitos, cujos guerreiros brilham sob as suas armaduras. Os atacantes hesitam entre duas decisões: a destruição da cidade inteira, ou a partilha de todas as riquezas que a agradável cidade guarda dentro dos seus muros ... ». (A Ilíada, 18, v. 478-492; 508-512). Mas para além de campos, de vinhedos, de animais de pastagem, também coloca a «força poderosa do rio Oceano, no bordo do sólido escudo».
Aproveitamos para destacar aqui uma peça sublime, a Pátera da Lameira Larga. Nela três personagens dominam a composição: Perseu que ocupa o lugar central, de espada empunhada e na direcção das Górgonas; Atena (Minerva), do lado esquerdo, e Hermes (Mercúrio), do lado direito.
Também deste lado, mas num lugar de menos destaque, estão representadas as três Górgonas, merecendo uma delas apenas uma representação muito ténue.
Os atributos dos deuses Atena e Mercúrio estão disseminados pela peça, situando-se, contudo, no lado correspondente de cada uma delas.
Uma oliveira, simbolizando a paz, estende-se no lado esquerdo, por trás de Atena/Minerva, coroado por uma coruja, ave consagrada à deusa e símbolo da sabedoria e da razão. Esta ave assume também, deste ponto de vista simbólico, o papel antagónico das forças do mal, materializado nas serpentes que nascem da cabeça das Górgonas, se bem que haja quem defenda que, tal como acontece com Eva, esses répteis não representem apenas as forças malditas e a líbido, mas também o Saber, a Sabedoria e a vitalidade cósmica e primordial e por isso são condenados. Sem entrar em delongas, refira-se apenas que a própria Atena, deusa da ciência, continua a ter nas mãos e no seu peito a serpente e que Esculápio a tem como atributo, motivo, aliás, porque ainda hoje é o símbolo da medicina.
A oliveira que sugere a árvore que a deusa oferecera, como narram alguns dos mitos, como um presente à cidade de Atenas, quando da sua fundação, pois Atena para além de ter podido dar origem ao nome da cidade (ou ter a cidade adoptado a deusa como sua patrona, como sugerem outras interpretações) é também símbolo da vitalidade da polis, e protectora dos seus produtos agrícolas mais importantes, designadamente o azeite. Diz a mitologia que a oliveira se tornou na imagem de renovação para os gregos, especialmente depois da guerra com os persas, quando a antiga oliveira sagrada da acrópole, saqueada e incendiada pelos inimigos, voltou a brotar.
Por sua vez a coruja que simboliza a clarividência, a reflexão que domina as trevas, é o símbolo do conhecimento.



Pátera da Lameira Larga.
Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa

Nesta pátera a única personagem representada no escudo é Perseu e não é visível a Medusa, o que confere a esta peça um carácter quase naif. Outros factores acentuam estas características: Medusa é representada não em alto-relevo, como os restantes personagens, mas gravada, merecendo, mais do que tudo, um tratamento mais esfumado do que o herói espelhado. Isto pode dever-se ao facto de que das três Górgonas apenas uma é mortal, Medusa, e o autor da peça valeu-se desse artifício para tornar mais expressiva a representação mitológica.
Hermes/Mercúrio é o mensageiro de Zeus e dos deuses e protector dos viajantes, mercadores e ladrões, tem como atributo o capacete, o bastão e as sandálias aladas. Ao longo do tempo o seu mito foi extensamente ampliado, tornando-se patrono da ginástica, dos diplomatas, da astronomia, da eloquência, para além de ser o guia dos mortos para do reino de Hades. Com o domínio romano da Grécia Hermes foi assimilado ao deus Mercúrio.
Vasco Mantas dedica um estudo atento ao «Mundo Religioso dos Viajantes e Comerciantes», nas Religiões da Lusitânia - Loquuntor Saxa» e as inúmeras divindades a que os Romanos invocavam a propósito das suas actividades, designadamente Hércules e o Hermes Grego que, em Roma, se denomina Mercúrio.
Hermes/Mercúrio pode também usar o capacete de Hades, o deus do mundo subterrâneo da mitologia grega, ou Plutão, na mitologia romana, que torna invisível quem o usa. É deste capacete - que também é símbolo da Morte - que Perseu se servirá para poder evadir-se depois da decapitação de Medusa. Neste mito Hermes desempenha portanto um papel fundamental como auxiliar de Perseu.
A espada é igualmente sua auxiliar pois é com ela que ele mata Medusa e que consegue penetrar as escamas do corpo da Górgona. Segundo a mitologia, a Medusa estaria esperando um filho de Poseidon, deus dos mares, quando é morta pelo herói Perseu, e diz a lenda que, quando foi morta, o cavalo alado Pégaso e o gigante Crisaor surgiram do seu ventre.
Tanto Hermes como Perseu são representados na Pátera da Lameira Larga em nudez heróica, numa atitude marcadamente helenística, da exaltação dos poderes naturais.
A única peça de vestuário que apresentam é um manto sobre os ombros seguro com fíbulas, sendo mais nítido no caso de Perseu. Este empunha na mão direita a espada emprestada Hades e usa o elmo que o torna invisível. Nos pés tem as asas que, por sua vez, Hermes lhe cedeu.
Em resumo, Perseu torna-se um herói com o auxílio de Atena, com o empréstimo do escudo espelhado, de Hermes, que lhe cedeu sandálias aladas, e ainda de Hades com o elmo de invisibilidade e uma espada. Na cabeça usa um barrete frígio, símbolo de virilidade.
O saco que muda de tamanho conforme o objecto que transporta e que serve para levar a cabeça de Medusa faz parte dos objectos que Perseu tem que utilisar. É possível que o manto que Perseu tem no dorso e que Hermes ajuda a segurar exerça também a função de saco, se bem que não seja muito clara a sua representação na pátera. Assim o herói cumpriu sua missão, matando a Górgona, apenas olhando para o seu inofensivo reflexo no escudo (se bem que, como já dissemos não seja visível a Medusa nesta pátera, tratando-se eventualmente de um lapso), evitando assim ser transformado em pedra e oferece a cabeça de Medusa a Atena.
Salientamos que alguns objectos representados na pátera são de difícil reconhecimento ou caracterização, tal como um de forma rectangular que está aos pés de Atena, mas que pode, contudo, tratar-se de uma tabella para escrever, embora não constituindo atributo das personagens representadas; outro por debaixo dos pés de Hermes, junto ao capacete, tem uma forma que se assemelha a um estilete, ou stylus, como a caracteriza José Cardim Ribeiro, ou talvez possa ser a bainha da espada que Perseu empunha.
As plantas que se encontram debaixo das Górgonas podiam ser dormideiras, pois é enquanto dormem no interior da gruta onde habitam que Perseu mata a Medusa.
O autor desta peça devia conhecer bem o mito grego, pois este tipo de iconografia mitológica foi comum no período imperial, fortemente marcado pela cultura helenística na sua fase inicial, embora se trate muito possivelmente de uma obra provincial. Encontra-se em pinturas, moedas, esculturas, cerâmicas e mosaicos.
Em Conímbriga, embora tratando-se de uma representação mais tardia, datando do último quartel do século II ou inícios do século III, há um mosaico com a mesma iconografia. Inscrita num círculo que serve de moldura a cena mitológica tem, não obstante, algumas diferenças: os elementos narrativos e simbólicos são menos e Perseu, usando o capacete alado, aparece com a cabeça de Medusa já cortada na mão. A espada que leva na mão é tratada quase como uma lança.


Mercúrio num vaso de Terra Sigillata Hispánica (Mérida).
Fotografia José Manuel Jérez Linde

Não esquecer ainda a ambivalente serpente bíblica, por uma lado símbolo malévolo e tentador ou a própria Sabedoria.
O envolvimento da Árvore da Vida pela serpente tem o mesmo significado simbólico do que o bastão de Esculápio onde se enrola o mesmo ofídio.
Seja qual a forma que adquira, a lenda da cidade de Lisboa que a relaciona com as serpentes e, mais especificamente com Ofiusa, a sua rainha, é comum a outros locais: «a rainha-serpente-réptil, representando a deusa-terra-mãe ser vencida por um herói, um Deus ou um Santo. É algo que os estudiosos da mitologia conhecem e que se aproxima do conhecido mito de Adão e Eva».
http://cronicas-portuguesas.blogspot.pt/…/etimologias-popul…




Selo de padeiro com representação de Júpiter.
Proveniência desconhecida.
Século II d. C.
Museo Nacional de Arte Romano, Mérida.
Fotografia de José Manuel Jerez Linde
Embora lhe tenha sido atribuída a função de selo, admite-se hoje que pudesse ter funções votivas.
Zeus segura o cetro com uma mão e noutra parece agarrar o feixe de raios.
Na parte superior da peça estão representados elementos fitomórficos, como que espigas.
Poderá ver esta peça na Exposição Lusitânia Romana, actualmente no Museu Nacional de Arqueologia.
«O trigo, para além de acompanhar Júpiter-Zeus, o pai dos deuses, aparece associado a Ceres, Deméter, mas também a Ísis, (ver Las Religiones mistéricas en la España Romana Bendala Gálan) Sub dirección General de Arqueologia del Ministerio Madrid 1981.
O Verão aparece também normalmente associado às espigas. Ver Mosaicos de Chipre. Revista de Arqueologia, nº 233, Madrid.
Deméter, filha de Crono e de Reia, parece ter dado os primeiros grãos de trigo a Céleo de Elêusis. O trigo é considerado o símbolo da Civilização, essa capacidade de os Humanos moldarem a Natureza.
Deméter, a deusa do trigo, ao qual facilita a germinação, e das colheitas, assegura o seu amadurecimento.
A papoila aparece também associada a Deméter, sendo a sua flor.

Como era a deusa da agricultura, fez muitas viagens em companhia de Dionísio, deus da vinha e do vinho, para ensinar os homens a cultivarem a terra e a cultivá-la.
No Museu Nacional de Arqueologia há uma pedra de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresenta gravada um busto de mulher com diadema (Ceres?) voltado à esquerda, que é sublinhado por uma espiga estilizada (ver «Um gosto privado - um olhar público», p. 130.
 Há inúmeras referências ao trigo quer em Virgílio, As Geórgicas (29; 31; 39; 45; 47; 73; 75; 95), Sá da Costa, 1948, Lisboa, bem como em Plínio, NH, XVIII,
São estas as palavras de Virgílio n'As Geórgicas, 73 «Terras anegradas, onde a relha escorrega quase sem esforço, mas que se esfarelam - para isso serve o charruar - são as melhores para o trigo; de nenhumas outras empostas verás recolher ao celeiro mais carros puxados por vagarosos bois».
Plínio informa-nos que na Hispânia o trigo se guarda em silos e que «assim, se não penetra qualquer ar no trigo, é seguro que não haverá qualquer dano» Plínio, XVIII, 306-307.
Segundo informação de Estrabão, «Da Turdetânia exporta-se trigo, muito vinho e azeite; este, para mais, não só em quantidade, como de qualidade insuperável» Estrb. III,2, 65.

No mês de Abril celebrava-se a "Cerialia" (ou "ludi ceriales"), um festival em honra de Ceres, a deusa da fertilidade da Terra e propiciadora da agricultura. Está ligada ao ciclo das estações do ano, uma vez que no inverno as culturas morrem por ser o período em que a sua filha, Prosérpina, se encontra longe, no submundo com Plutão.







Na fotografia; Garrafa de vidro proveniente do Campo da Trindade, Faro. MNA.«Tipo Isings 104. O reservatório é esférico, o gargalo é afunilado, o fundo é ligeiramente côncavo, o bordo é de arestas aparentemente polidas ao torno. O bojo apresenta decoração executada à roda por abrasão, composta por três medalhões circulares separados por elementos estilizados com braços curvilíneos. Cada um dos medalhões apresenta, no seu interior, a representação de um animal: urso, touro e javali. O primeiro virado à direita, os outros dois para a esquerda. Os contornos do urso e do javali são parcialmente desenhados por pequenas linhas oblíquas e os pêlos por linhas em ziguezague. O touro apresenta uma linha cruzada entre os chifres, tem uma coleira à volta do pescoço e três estrelas gravadas. Os olhos são representados por losangos atravessados por uma linha pelo diâmetro. (Segundo Alarcão, op.cit). Vidro verde com numerosas bolhas de ar, algumas impurezas negras e ligeiras estrias da soflagem».
http://www.mnarqueologia-ipmuseus.pt/?a=0&x=3

O javali aparece associado a Canente, Circe e Endovélico.
Canente era a esposa do rei Pico. O marido foi tranformado em javali e em picanço pela maga Circe. O javali está também ligado a Admeto, quer pela sua participação na caçada a estes animais, quer pela condição imposta por Alceste para o seu casamento, que exigia que Admeto atrelasse um destes animais ao seu carro. A captura do javali constitui um dos doze trabalhos de Héracles. No Museu Nacional de Arqueologia existe uma ara onde numa das feces laterais está representado, sob uma pequena árvore, um javali (MATOS, 1995: 92). Proveniente de S. Miguel da Mota, existe a estátua de um porco ou javali, associado ao culto de Endovélico (MATOS, 1995: 172).O javali era símbolo do mundo funerário. Endovélico também se fazia representar com a palma ou coroa de louros. Também proveniente de S. Miguel da Mota é uma ara com inscrição ao deus Endovélico numa das faces e, nas restantes, com relevos de uma palma, uma coroa e um javali (MATOS, 1995:176).
Proveniente de Vila do Bispo e pertencente ao acervo do Museu Nacional de Arqueologia, existe uma estatueta em bronze com forma de javali, datável dos séculos IV-II a. C. De Faro, provém um frasco de vidro com uma decoração zoomórfica, com a técnica de abrasão, representando um javali, datável de 2ª metade do século III- século IV.
De Torre de Ares é ainda uma lucerna onde está representado um javali a ser atacado por um cão, datável do século I (NOLEN, 40, lu-6).
Comentário: Filomena Barata.
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A Lusitânia
20/5 às 8:13 · 

Pormenor da estátua de Silvano. Cabeça de carneiro esfolado.

Exposição Lusitânia Romana. Museu Nacional de Arqueologia.

O gado ovino aparce associado a Pã, Ganimedes e Priapoas
Nota: Ganimedes era guardador de rebalhos nas montanhas à volta de Tróia quando o deus Zeus, em pessoa ou sob a foram de águia, o raptou e levou para o Olimpo, onde passou a desempenhar papel de escanção do néctar dos deuses. Cirene, uma ninfa caçadora, percorria as florestas do Pindo e matava todos os animais ferozes que se tentavam aproximar do rebanho do seu pai Hipseu, rei dos Lápidas. Em Santa Bárbara dos Padrões foi identificado um exemplar de uma lucerna com a representação de Ganimedes,caminhando sobre uma grinalda de folhagem (MAIA, 1997, 70).
Também nesse local apareceram dois exemplares de lucernas representado Sátiro, símbolo do poder vital da natureza. Por esse facto, as representações de Sátiros são sempre parcialmente zoomórficas, fazendo os cornos do bode parte integrante das figurações.
Pan, deus dos rebanhos e dos pastores, também filho de Hermes/Mercúrio, nasceu igualmente com cornos de bode e muito irrequieto.
Os Romanos identificaram esta divindade com Fauno, também com cornos e pés de bode (MAIA, 1997: 75).
Em Santana do Campo, Arraiolos, sobrevivem os vestígios de um templo consagrado a Carneus Calanticenses (IRCP 410-412),divindade possivelmente relacionada com a criação de gado (Mantas, 1998:50).52.
Existem inúmeras referências aos carneiros, nos escritores da Antiguidade, designadamente em Plínio, VIII, 199 e Estrabão, III, 2, 6, sendo também nomeado por Virgílio.
Do cabeço de Vaiamonte (Monforte) provém um pendente em pasta vítrea, datável dos séculos VII a V a. C., em forma de cabeça de carneiro, nas cores negra, branca e amarela. A sua presença deve-se, provavelmente, ao comércio fenício (ver «O Vidro em Portugal» e «De Ulisses a Viriato», p. 263).
Ainda nesse Museu existe a cabeça de um carneiro, provalvelmente de influência cultural tartéssico-oriental.Também de Ferragial d'el Rei, Alter do Chão, é proveniente uma estatueta em forma de carneiro.
Para além do seu uso alimentar, também é conhecido o seu uso sacrificial.


A Lusitânia
19/5 às 22:51 · 
Placa decorada, Villa romana de «El Hinojal», Mérida. Século IV. Museo de Arte Romano, Mérida.
De salientar a decoração vegetalista desta peça que, na zona inferior, está ocupada com um «cesto acantáceo de folhas - com marcada nervura central e digitações apontadas - que se encurvam nas pontas».
Para melhor conhecer poderá vê-la na mostra do Museu Nacional de Arqueologia e consultar o catálogo da Exposição «Lusitânia Romana, Origem de ois Povos».

Pormenor do Sarcófago das Estações, sendo visível um boi, em primeiro plano.
Monte da Azinheira, Évora
Século III d. C.
194 × 64 × 62 cm
Museu Nacional de Soares dos Reis,
Porto
Depósito da Câmara Municipal
do Porto
Ver: Catálogo da Exposição «Lusitânia Romana, origem de dois povos»
p. 236.
Fotografia (abaixo) Ana Maria




Refira-se que existem inúmeras referâncias aos bois e seu trabalho agrícola em autores da Antiguidade, designadamente em Columela , Livro IV da Agricultura e nas Geõrgicas de Virgílio.
Estrabão refere os sacrifícios de bois (III, 3, 7).
No Museu Nacional de Arqueologia há duas estatuetas de argila,uma proveniente da necrópole da Fonte Santa, Ourique com a forma de boi, datável da I Idade do Ferro (De Ulisses a Viriato, 1996, p. 218) e uma outra proveiniente da necrópole do Olival do Senhor dos Mártires, da II Idade do Ferro (idem, p. 254). Existe ainda uma estatueta de bronze,em forma de bovídeo deitado, proveniente de Mourão, datável da I Idade do Ferro (De Ulisses a Viriato, 1996, 247). De assinalar a representação de bovídeos (auroques) na arte rupestre em território nacional, de que se pode citar a título de exemplo o Vale do Côa. 52.
Sobre o boi há também inúmeras referências, quer em Virgílio, nas Geórgicas, como em Columela (Livro IV, Da Agricultura), onde são descritas as várias espécies, através da coloração das suas pelagens.
Não podemos esquecer o seu uso doméstico, na alimentação e na lavoura, mas também em contexto processional ou ritual, a exemplo da definição do perímetro das cidades, ou em sacrifícios, tal como refere Plínio (Plínio, NH, XXXI, 86) e Estrabão (III, 3, 7).
«Durante o ritual de fundação, o herói fundador da cidade circundava o território onde ela seria edificada, com o auxílio de um arado de bronze, puxado por um boi, representando a união do céu com a terra e cada vez que esta fosse cultivada a fertilidade da terra, mãe, era
ampliada. Acredita-se aos etruscos a influência desse rito sobre os romanos, mas não se descarta a possibilidade de que eles o tenham importado de algum outro povo com o qual tiveram contato (RYKWERT, Joseph. A ideia de cidade: a antropologia da forma urbana em Roma, Itália e no mundo antigo. São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 98)»


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Pia de purificação,
Villa romana de Torre de Palma
Séculos V-VI
Fotografia Ana Lourenço

«Fragmento de pia de mármore com decoração em baixo relevo de motivos vegetalistas constituídos por folhas de videira e cachos de uva. Investigação recente classifica esta pia de purificação, de função laica ou religiosa, evitando denominá-la como pia de ablução ou baptismal, ainda que a sua proveniência da «basílica» de Torre de Palma o pudesse sugerir».
Catálogo da Exposição « Lusitânia Romana, Origem de dois Povos».
Comentário de: Carlos Fabião e de Manuel Luís Real
Par de machos caprinos
Medellín, Badajoz
Século I d. C.
5 × 10 cm
Museo Nacional de Arte Romano,
Mérida
ce09989
Fotografia a partir do Catálogo da Exposição «Lusitânia Romana: Origem de dois Povos».



Comentário: Filomena Barata.
A partir de: Espécies animais de Miróbriga e suas referências bibliográficas e mitológicas
https://www.academia.edu/…/Esp%C3%A9cies_animais_de_Mir%C3%…
Na mitologia, a cabra aparece associada a Zeus; Atena; Pã
Para os Gregos a cabra simboliza o relâmpago e é o animal que alimentou Zeus, a cabra Amalteia, sendo a sua pele usada no fabrico do cilicium, uma túnica usada em momento de oração, simbolizando a união com a divindade, cujo uso se prolongou até aos nossos dias em determinadas congregações ou seitas religiosas.
Nas orgias dionisíacas era também usada a pele de cabritos para cobrir as Bacantes.
Assim se refere Virgílio, nas suas Geórgicas «É para expiar essa culpa que se sacrifica o bode em todos os altares de Baco, e se celebram as tradicionais festas nos teatros; que os descendentes de Teseu instituíram dádivas aos génios em todas as aldeias e encruzilhadas, e que, jubilosos, bebem e dançam, em cima de odres untados de azeite, nos prados macios.» ) LIV: II 385
Num mosaico de Mértola, onde se identifica a cena mítica de Belefonte matando a Quimera, esta última tem representada nas costas a cabeça de uma cabra, saindo chamas de sua boca (Vergilio Lopes, 2001, Revista Municipal de Mértola).
Diz-nos ainda Virgílio: «Se é porém teu intento criar manadas de gado grosso, bezerros, ovelhas ou cabras de dente daninho, procura os bosques e as pastagens remotas da feraz Tarento, ou os campos como os que perdeu a malfadada Mântua, em que apascentam, no rio onde os juncos verdejam, cisnes cor de neve. Não faltarão aí aos rebanhos nem ervagem nem límpidas fontes: o pasto que eles roem num longo dia de verão, numa curta noite o repõe o gélido orvalho».
« Outra tarefa necessária é tecer sebes, que vedem a entrada a rebanhos, sobretudo enquanto a parra é mimosa e mal afeita a tratos duros. Não só a aspereza dos temporais e a tirania do sol lhe fazem dano; também o uro bravio e a cabra de teimoso dente se comprazem em a destruir, e a rilham as ovelhas e as gulosas bezerras».
As Geórgicas, Sá da Costa, Lisboa, 194 e 370
Referência BIBLIOGRÁFICA: BLANCHARD-Lemée, M. et alii
Segundo a Mitologia, Zeus, que havia esfolado a cabra Amalteia, que o amamentara quando Gea o escondeu de Cronos, e se serviu da sua pele para se proteger dos Titãs, tem como emblema a pele de cabra enfeitada, muitas vezes, com serpentes – a Égide. Atena também tem o mesmo emblema.
Atributo de divindades, a Égide tornou-se, portano, insígnia de reis e imperadores de Roma. Para os Gregos a cabra simbolizava o relâmpago. Pã, filho de Hermes, era o deus-cabra.
A cabra é um animal representado com frequência nas lucernas romanas, como são os exemplares provenientes de Miróbriga (CABRAL, nº 6, p. 457) ,e de Santa Bárbara (MAIA, 1997,98). Neste último Sítio apareceram ainda vários exemplares com as Cornucópias da abundância, que se trata do corno da cabra Amalteia (MAIA, 1997: 80).
No Museu Nacional de Arqueologia há uma estatueta de bronze, proveniente de Silves com a forma de cabrinha, datável dos séculos IV-II a. C. Também no Museu Nacional de Arqueologia há duas pedras de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresentam gravadas cenas campestres,constituída por um pastores com bordão e por uma cabras e árvores, bem como um camafeu com uma cena dionisíaca, onde um homem nu segura as pernas de uma cabra junto a uma árvore (ver «Um gosto privado – um olhar público», pp.130-133).
De assinar a representação de caprídeos na arte rupestre em território nacional, de que se pode citar a título de exemplo o Vale do Côa e do Vale do Tejo. Ver relação com a adivinhação em Tertuliano.25 Também no Museu Nacional de Arqueologia há duas pedras de anel da colecção Bustorff Silva, de proveniência desconhecida, que apresentam gravadas cenas campestres, constituída por um pastores com bordão e por uma cabras e árvores, bem como um camafeu com uma cena dionisíaca , onde um homem nu segura as pernas de uma cabra junto a uma árvore (ver «Um gosto privado – um olhar público», pp. 130-133).
No célebre «Mosaico das Musas» proveniente de Torre de Palma e que se encontra no Museu Nacional de Arqueologia estão representados, entre as muitas figuras mitológicas, Sileno e Sátiro. O Sileno obeso apresenta-se nu, barba e cabelos com folhagem verde, e tem uma pele de cabra ou pantera à cintura.O braço esquerdo enlaça um Sátiro, também coroado de verdura.
Por sua vez, o Bode aparece ligado ao deus Pã (Lupércio ou Lupercus em Roma) é o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores, na mitologia grega. Vagueava pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas.
Normalmente é representado com orelhas, chifres e pernas de bode, trazendo consigo uma flauta, produzida com canas de vários tamanhos. Pelo seu aspecto terrífico era temido por todos aqueles que necessitam atravessar as florestas à noite, que assim podiam ser cometidos de pavores súbitos, de onde deriva o termo "pânico".
Também Sátiro, na mitologia grega era um ser com o corpo metade humano e metade de bode. Equivale na mitlogia romana ao fauno. 
Inúmeras são as referências nos escritores da Antiguidade a cabras e bodes, de que recordaremos:
Virgílio, As Geórgicas, Ed. Sá da Costa, Lisboa, 1948.pp. 73; 117; 119; 12; Plínio, NH, VIII, 199.; Tertuliano

Pormenor do Sarcófago das Estações. Erotes pisando as uvas.
Monte da Azinheira, Évora
Século III d. C.
194 × 64 × 62 cm
Museu Nacional de Soares dos Reis,
Porto
Depósito da Câmara Municipal
do Porto
Ver: Catálogo da Exposição «Lusitânia Romana, origem de dois povos»
p. 236.
A Vinha
«Musgosas fontes, vós, e tu, ó relva mais repousante que o melhor dos sonos, e tu, ó verde arbusto que proteges, que a vós protege com a breve sombra, defendei o meu gado do calor pois chega o Verão, tórrido tempo, e já nas vinhas, nas tão tenras vinhas incham rebentos». Bucólicas, Virgílio Ver ainda: Virgílio, As Geórgicas; Estrabão, Geografia; Plínio, N.H., XIV, 29-30, 41, 71, 91, 97 127; XV, 25; XVII, 170 ; XVIII, 336; XXXVII, 203 Espasa-Calpe. S.A., Madrid, 1947; Catão, De Agricultura; As Geórgicas, Sá da Costa, Lisboa, 1948. As Geórgicas, 47 65; 67; 73; 77; 79; 81; 85; 89; 95. Associada a Liber Pater e sua divina esposa Libera, gradualmente estas duas divindades relacionadas com a fertilidade e o vinho foram assimiladas por Dionysus/Bacus.
Festa dies Veneremque vocat cantusque merumque. [Ovídio, Amores 3.10.47]
O dia de festa convida Vénus, o canto e o vinho.
Associada a Liber Pater e sua divina esposa Libera, gradualmente estas duas divindades relacionadas com a fertilidade e o vinho foram assimiladas por Dionysus/Bacus. Mas a vinha também aparece associada a Saturno; Priapo. Saturno parece ter sido o responsável por ter ensinado aos habitantes da Itália a cultura da vinha. Saturno era deus das Sementeiras e dos Grãos, por vezes mesmo da Vinha. É representado com a foice do ceifeiro e a podoa do vinhateiro. Os Antigos viam na vinha e em Dionísio - deus do vinho, rodeado por um conjunto de divindades alegres e ébrias - a imagem simbólica da força da natureza cheia de seiva. Baco é a divindade romana do Vinho e da Vinha, do Deboche e da Licenciosidade. Segundo informação de Plínio-o-Velho, o pintor grego Zeuxis ou Zeuxippos (464 a.C. - 398 a.C) , natural de Heráclea, mas que viveu grande parte da sua vida em Atenas, considerado um dos principais pintores da Grécia Antiga terá disputado com outro pintor, Parraso. «Para a disputa, Zeuxis pintou um cacho de uvas. Quando mostrou o quadro, dois passarinhos imediatamente tentaram bicar as frutas. Zeuxis então pediu que Parraso desembrulhasse seu quadro. Este então revelou que na verdade era a pintura que simulava a embalagem do quadro. Zeuxis imediatamente reconheceu a superioridade de Parraso, pois se tinha enganado os olhos dos passarinhos, este tinha enganado os olhos de um artista». (Plínio, o Velho, História Natural, Livro XXXV, IV). No Museu Nacional de Arqueologia existem vários bustos de Dióniso ou Baco com o cabelo ornado de uma grinalda de cachos de uvas e parras, provenientes respectivamente da uilla de Milreu, datável do século II, e de Mértola (MATOS, 1995: 5659). No «sarcófago da vindima» , proveniente de Castanheira do Ribatejo, que tem forma de cuba de vinificação, o retrato de uma jovem inscrito num medalhão centra-se na peça. O medalhão está assente sobre um vaso com duas asas, donde saiem ramos de oliveira, parras e cachos de uvas e, entre as ramagens, aparecem pequenos cupidos, cestas de vidima, aves e animais campestres, como coelhos, cobras, escorpiões, lagartos, caracóis e gafanhotos (MATOS, 1995:100). No Sarcófago da Vindima de «pequeno tamanho, com as extremidades arredondadas e a forma geral de uma cuba de vinificação (lenós) mostrando a face principal o retrato de uma jovem no interior de um medalhão assente sobre um vaso biansado, donde saem ramos de oliveira, parras e cachos de uvas que vão preencher todo o espaço da face principal e principalmente das laterais. A peça foi concebida para ficar encostada a uma parede, razão pela qual a face oposta ao frontal não mostra qualquer escultura. O busto representa uma menina vestida de um "colobium", uma túnica pregueada, sem mangas, presa aos ombros por duas fíbulas, cabelos em bandós e atados na nuca, olhos com marca da pupila, estando o busto e a pequena peanha em que assenta inseridos num medalhão côncavo que lhe serve de moldura. Entre as ramagens que saem do vaso, ornado de parras, aparecem pequenos cupidos, cestas de vindimas, aves e animais campestres como coelhos, cobras, escorpiões, lagartos, caracóis e gafanhotos. Por cima do medalhão corre uma fieira de pérolas sobrepujada por uma outra de ovas. É evidente o significado báquico ou dionisíaco de toda a composição, relacionado com a felicidade da vida além-túmulo. O sarcófago, um trabalho cuidadoso feito talvez em oficinas do oriente mediterrânico, foi certamente importado com o medalhão por acabar tendo-se no termo da viagem esculpido a efígie da menina depositada no túmulo, o que explicaria também que o retrato se apresente esteticamente menos conseguido que o belo conjunto escultórico envolvente. O penteado da menina e os elementos decorativos, permitem, do ponto de vista técnico e temático, datar de meados do século III d.C. o fabrico da peça». (Segundo ficha do Catálogo de Escultura Romana do MNA, da autoria de José Luís de Matos).
"...Tradicionalmente considerado como uma produção escultórica do oriente mediterrânico, tende-se hoje a procurar a sua filiação numa oficina ocidental, provavelmente itálica". (Segundo ficha de Catálogo da Exposição "Religiões da Lusitânia", da autoria de José Cardim Ribeiro). Museu Nacional de Arqueologia proveniência: Castanheira do Ribatejo. Vila Franca de Xira. Lisboa cronologia: Época Romana. Séc. III d.C. tipologia: Sarcófago em mármore
Os temas báquicos eram muito comuns na decoração das lucernas, como se pode verificar, apenas a título de exemplo, nos exemplares provenientes de Balsa (NOLEN, 40, 94, lu. 2 , 4 e 8), datáveis dos séculos I e II e em Santa Bárbara (MAIA, 1997: 45). Deste último local provêm duas lucernas com a representação de Sileno (MAIA, 1997:77). «Mas, antes de tudo, venera os deuses e oferece à magna Ceres os sacrifícios anuais devidos, celebrando-os nos prados ridentes, quando o inverno chegou ao seu termo e a primavera serena já se anuncia. Nessa ocasião estão nédios os cordeiros e os vinhos têm o melhor sabor». Virgílio, 47.
Recordo ainda o trabalho publicado por Justino Maciel já aqui citado «A propósito de um mosaico egitaniense, dionisismo, geometrismo e cristianismo» que:«dois filetes ondulados, linhas sinusóides ou espirais enquadram a figura de (uma) silhueta humana. E um pequeno ramo com frutos de oliveira, hera ou loureiro torna presente a simbologia vegetalista já sugerida pela ambiguidade dos hexafólios», bem como outros mosaicos, como o exemplar báquico de Torre de Palma, considerado uma obra de arte de referência entre os mosaicos dionisíacos na Lusitânia (Lancha, 2000, 197-205).
Segundo Estrabão, grande parte da costa mediterrânica e atlântica estava coberta de arvoredo : oliveira, vinha, figueira e que a região entre o Tejo e o Cantábrico «era rica em frutos e gado» (3,3,5). Plínio, por sua vez, informa-nos sobre a qualidade da vide «coccolobis» na Hispânia, cujo vinho «sobe à cabeça» e que existem duas variedades, uma de bago alargado e outra de bago redondo. «Dizem que beber vinho destas uvas uvas é um bom remédio para as "ddolencias de vejida"» (Plínio, XIV, 29-30).
Informa ainda que quando da vitória de César sobre a Hispânia «consta que pela primeira vez se beberam quatro qualidades de vinho» Plínio, XIV, 97 Estrb. III, 2, 612 Azeite. Paz; fecundidade; Força; Vitória; Glória; Purific.Virgílio, pp.51; 91; 95; Plínio, XV, 1; XVIII, 306; Estrab. III, 2, 6.; III, 3, 1; III, 3, 6; III, 3, 7; III, 3, 7; III, 4, 16 Sá da Costa, Lisboa 1948 Ver oliveira. Ver : Plínio XV, 1; XVIII, 306; XXXIV, 95; XXXVII, 203.
Segundo informação de Estrabão, «Da Turdetânia exporta-se trigo, muito vinho e azeite; este, para mais, não só em quantidade, como de qualidade insuperável», bem como cera, mel, pez .....Estrabão III, 2, 613. São estas as palavras de Virgílio n' «As Geórgicas»: "Deitai-vos pois ao trabalho, ó lavradores, e aprendei a arte de cultivar de modo apropriado, amansando à fora do engenho, os frutos bravios. Não deixeis as terras maninhas: é obra deleitosa plantar vinhas no Ismaro e vestir de oliveiras o grande Taburno». (Sá da Costa: p. 63). E ainda mais: "As oliveiras respondem melhor à esperança do agricultor quando provêm de tanchoeiras, as vinhas quando procedem de alporques, a murta de Pafos quando se planta um tronco inteiro". Segundo este autor latino «Terra que exala um vapor ténue e neblinas fugazes, que absorve a humidade, mas, quando quer, a lança para fora de si; terra que sempre verdejante, se reveste de ervagem que ela própria cria, que não ataca o ferro com sal ou ferrugem, eis a que te convém para entretecer com os olmos as ridentes videiras; será, também fértil para a oliveira: amanha-a bem, e verás como é propícia para os gados, e como é dócil para a curva relha» (Sá da Costa, 1948: 75). «A árvore que nasceu de sementeira cresce lentamente; não dará sombra senão aos nossos netos remotos. Os frutos degeneram, esquecem os primitivos sucos; a vinha, essa acaba por só dar míseros cachos que se deixam ás aves. Assim, a todas as árvores se tem que dispensar cuidados; todas se tem de alinhar em valas e de tratar sem fugir a despesas. As oliveiras respondem melhor à esperança do agricultor quando provêm de tanchoeiras, as vinhas quando se planta um tronco inteiro»(Sá da Costa, 1948: 75, ver ainda pp: 67; 73, 79; 81)». Citando Hernâni Matos, num belíssimo artigo «O Vinho na mitologia Greco-Latina », em http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/…/o-vinho-na-mito…»
Comentário: Filomena Barata
A partir de:
Espécies vegetais de Miróbriga (em construção)
http://mirobrigaealusitania.blogspot.pt/…/especies-vegetais…



Mosaico com representação do Triunfo Indiano de Baco. Torre de Palma. Fotografia Ricardo Cabrita
Ver: http://www.museuarqueologia.pt/?a=2&x=3&i=33


Terra sigillata em forma de romã.
«Esta será de origem africana mas as produções hispânicas (TSH) deste tipo de cerâmica seriam as mais comuns. Não existe, no entanto, um claro testemunho de que a produção de TSH fosse originária da província da Lusitânia, conhecendo-se antes concentrações de oleiros nas províncias Tarraconense e Bética.
Em termos de forma, conhecem-se até à data apenas 2 peças em "terra sigillata" em forma de romã e uma outra peça de paredes finas, o que faz deste exemplar um objecto único. Foi encontrado em Mérida, num enterramento de inumação, podendo ter contido unguentos propiciatórios de uma boa viagem para a outra vida»
Fotografia e legenda: Lusitânia Romana, Museu Nacional de Arqueologia.

A Romã aparece associada a Afrodite (Vénus), Hera e Perséfone
A romã já era conhecida dos hebreus nos tempos bíblicos, sendo referida uma pintura dessa fruta nos pilares do templo de Salomão. De acordo com as Sagradas Escrituras, o Rei Salomão falava de um pomar de árvores de romã, e quando os filhos de Israel vagueavam pelo deserto, recordavam-se das refrescantes romãs do Egipto. A sua simbologia tem analogias com o figo em termos místicos e bíblicos.
Entre os Muçulmanos Maomé incitava que esta fruta fosse comida para protecção contra o ódio e a inveja.
Na Mitologia Grega foi usada para simbolizar a alegoria das estações do ano e do ciclo anual das colheitas. A fertilidade está simultaneamente ligada à morte, uma vez que incontáveis 'mãe-deusas' também foram adoradas como governantes do mundo dos mortos e senhoras da guerra. Ainda segundo a mitologia, Perséfone passava forçadamente quatro meses de cada ano com Hades, porque tinha comido algumas sementes de romã durante o tempo em que vivera com ele no mundo dos infernos, quando fora raptada pelo deus. O acordo que Zeus havia feito com Hades pressupunha que Perséfone/Properpina regressasse sem nada ter comido. Assim, Perséfone passava metade do ano junto dos pais, assumindo-se como Koré, a eterna adolescente, e o restante com Hades, quando representava a Perséfone das profundezas.
Também Hera, esposa de Zeus, ostentava na sua mão uma romã, simbolizando aqui a fertilidade, o sangue e morte.
O seu sumo é considerado o sangue do deus Dionísio e segundo a mitologia Afrodite, a deusa do amor, havia-a plantado na terra, como acima mencionámos.
Mas a Romã simboliza ainda a ideia de união e da solidariedade na individualidade de cada grão e é enquanto tal que é usada em muitos rituais mistéricos e iniciáticos. No fundo, o "Unir o disperso".
A romã era já conhecida de sírios e fenícios, mas é na mitologia grega que passa a ser considerada um símbolo de fertilidade e, por isso a sua associação a Demeter, Perséfone, Afrodite, Atena.
Ao que diz a Mitologia, Afrodite tê-la-á plantado em Chipre e Odisseu encontrou-a no palácio de um rei fenício. A fertilidade está curiosamente associada à sua antítese, a morte, pois são inúmeras as 'deusas-mãe' também adoradas como senhoras do mundo dos mortos e da guerra.
«Uma história sobre a romã emana de um grupo de divindades orientais, Dionísio e Cibele, que fala sobre Agdistis, uma criatura com traços de ambos os sexos. Dionísio castrou Agdistis, que adormeceu bêbedo. Uma árvore de romã cresceu de seu sangue e o seu fruto provocou a gravidez de Nana e Átis. Os romanos importaram a romã principalmente a partir duma colónia fenícia de Cartago, no norte de África e, é por isso que eles a chamam de maçã fenícia (punicum Malum), ou de maçã semente (granatum Malum), a partir das sementes dentro do fruto. O adjectivo 'punicus' refere-se normalmente aos fenícios da Ásia Menor, mas também era usado pelos romanos para identificar os fenícios na colónia de Cartago, no norte de África. O nome botânico de uma espécie 'punica' é uma forma feminina desse adjectivo. O adjectivo latino 'puniceus' significa rosa. Em Roma, o fruto da romã na mão da deusa Juno foi um símbolo de união. Esta árvore, por causa das suas flamejantes flores vermelhas, representava o amor, o casamento e a fertilidade. As noivas usavam guirlandas feitas com galhos de romã em flor. Os persas, depois seguidores de uma religião iraniana do fundador Zaratustra, construiram vassouras sagradas feitas de galhos de árvores da romã. Este fruto também era importante no nascimento e na morte. Os recém-nascidos eram agraciados com um cordão para acompanhá-los durante toda a vida. Durante esta cerimónia, as sementes de romã eram atiradas ao ar. E, no leito de morte, sumo de romã era dado de beber aos moribundos persas. Ardvi Sura Anahita, a deusa iraniana de todas as águas e da fertilidade, é apresentada com uma flor de romã sobre os seios. Também no Budismo, a romã é considerada como um dos frutos sagrados. Na alquimia, ela foi considerada como uma fruta que prolonga a vida. Para os representantes da alquimia chinesa, este sumo avermelhado brilhante era 'alma concentrada' e trouxe longevidade e até mesmo imortalidade».
Cit. in http://elixirderoma.com/historia.html
Assim nos esclarece Beatriz Montoito «Muitas coisas a acrescentar sobre a Romã tal é a sua simbologia e importância para o povo judeu. Mas vou fazer apenas um comentário dela na história. É sobre o ponto limite que levou os judeus ao levante e que culminou na Primeira Rebelião. E dos romanos me diga se eu estiver errada a cerca dos detalhes. Pois bem, a rebelião foi contra os residentes gregos de Cesaréia. Nela os romanos perdem o controle de grande parte de zonas rurais e da cidade de Jerusalém. A indiginação na Judéia, após aquela trégua do reinado de Agrípa, recomeçou pq Calígula queria profanar o Templo de Jerusalém. Depois Pilatos mandou cunhar uma moeda com o símbolo pagão do bastão arqueado, o que foi tb estopim para a rebelião, pois representava o emblema do áugure romano. Mas e ai onde entra a romã? Já chego lá, mas não antes da outra humilhação que provocaram romanos aos judeus cunhando a "moeda do triunfo" sobre a Judéia. Nela Roma era representada por um romano de pé, simbolizando a vitória, e a Judéia por um judeu em posição inferior para demonstrar a derrota. E a romã? Bem...a romã é uma das 12 frutas especiais para o povo judeu. Ela faz parte da mesa do sêder em datas tb especiais porque ela possui 613 sementes lembrando que "uma pessoa tem falhas mas tb tem méritos". No contexto da Primeira Rebelião, a Romã representa a Santidade da Terra. Aparece cunhada num belo siclo de prata um ramo com três Romãs (um nº significativo Filomena) numa face e na outra um cálice. Nele estão as palavras "Jerusalém é Santa". Assim a Romã é de importância na refeição entre os judeus e oferecida num sêder de uma data festiva. Um outro simbolismo é o de que o homem ao degustar os frutos de uma árvore deve aprender com ela, pq sempre há espaço para crescer e sempre é hora de amadurecer».
Beatriz Montoito
A romã já era conhecida dos hebreus nos tempos bíblicos, sendo referida uma pintura dessa fruta nos pilares do templo de Salomão. De acordo com as Sagradas Escrituras, o Rei Salomão falava de um pomar de árvores de romã, e quando os filhos de Israel vagueavam pelo deserto, recordavam-se das refrescantes romãs do Egito. A sua simbologia tem analogias com o figo em termos místicos e bíblicos.
Entre os Muçulmanos Maomé incitava que esta fruta fosse comida para protecção contra o ódio e a inveja.
Na Mitologia Grega foi usada para simbolizar a alegoria das estações do ano e do ciclo anual das colheitas. Ainda segundo a mitologia, Perséfone passava forçadamente quatro meses de cada ano com Hades, porque tinha comido algumas sementes de romã durante o tempo em que vivera com ele no mundo dos infernos, quando fora raptada pelo deus. Assim, Perséfone passava metade do ano junto dos pais, assumindo-se como Koré, a eterna adolescente, e o restante com Hades, quando representava a Perséfone das profundezas.
Também Hera, esposa de Zeus, ostentava na sua mão uma romã, simbolizando aqui a fertilidade, o sangue e morte.
O seu sumo é considerado o sangue do deus Dionísio e segundo a mitologia Afrodite, a deusa do amor, havia-a plantado na terra.
Mas a Romã simboliza ainda a ideia de união e da solidariedade na individualidade de cada grão e é,enquanto tal, que é usada como símbolo de rituais mistéricos e iniciáticos. No fundo, o "Unir o disperso".
«Muitas coisas a acrescentar sobre a Romã tal é a sua simbologia e importância para o povo judeu. Mas vou fazer apenas um comentário dela na história. É sobre o ponto limite que levou os judeus ao levante e que culminou na Primeira Rebelião. E dos romanos me diga se eu estiver errada a cerca dos detalhes. Pois bem, a rebelião foi contra os residentes gregos de Cesaréia. Nela os romanos perdem o controle de grande parte de zonas rurais e da cidade de Jerusalém. A indiginação na Judéia, após aquela trégua do reinado de Agrípa, recomeçou pq Calígula queria profanar o Templo de Jerusalém. Depois Pilatos mandou cunhar uma moeda com o símbolo pagão do bastão arqueado, o que foi tb estopim para a rebelião, pois representava o emblema do áugure romano. Mas e ai onde entra a romã? Já chego lá, mas não antes da outra humilhação que provocaram romanos aos judeus cunhando a "moeda do triunfo" sobre a Judéia. Nela Roma era representada por um romano de pé, simbolizando a vitória, e a Judéia por um judeu em posição inferior para demonstrar a derrota. E a romã? Bem...a romã é uma das 12 frutas especiais para o povo judeu. Ela faz parte da mesa do sêder em datas tb especiais porque ela possui 613 sementes lembrando que "uma pessoa tem falhas mas tb tem méritos". No contexto da Primeira Rebelião, a Romã representa a Santidade da Terra. Aparece cunhada num belo siclo de prata um ramo com três Romãs (um nº significativo Filomena) numa face e na outra um cálice. Nele estão as palavras "Jerusalém é Santa". Assim a Romã é de importância na refeição entre os judeus e oferecida num sêder de uma data festiva. Um outro simbolismo é o de que o homem ao degustar os frutos de uma árvore deve aprender com ela, pq sempre há espaço para crescer e sempre é hora de amadurecer».





Terra sigillata em forma de romã.






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 http://mirobrigaealusitania.blogspot.pt/…/especies-vegetais…


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