AS GEOCIÊNCIAS AO SERVIÇO DO ENSINO E DA INVESTIGAÇÃO EM ANGOLA. QUE LUGAR PARA A GEOGRAFIA?

July 11, 2017 | Autor: I. Santo | Categoria: Geography
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AS GEOCIÊNCIAS AO SERVIÇO DO ENSINO E DA INVESTIGAÇÃO EM ANGOLA. QUE LUGAR PARA A GEOGRAFIA? Isaac Simão Santo1

O presente estudo, de carácter introdutório, deriva de uma actual preocupação sobre o futuro que se reserva à Geografia, dado o facto de, cada vez mais, se estar a registar uma ligeira diminuição não só na capacidade de oferta de vagas nas instituições escolares do ensino médio e superior, como também da fraca procura por candidatos em qualquer um dos níveis de escolaridade apontados. Palavras-chave: Geografia, Geociências, Plano Curricular. INTRODUÇÃO O texto que se apresenta tem como objectivo discutir a importância da Geografia, enquanto disciplina e ciência que requer aplicação e a sua valorização. É ai, em nosso entender, que está marcada a "condenação" desta cadeira nos Planos Curriculares em favor de outras que, no essencial, são uma forma mínima de olhar para o espaço geográfico, objecto de estudo da Geografia. Longe de se pretender esmiuçar o carácter histórico da Geografia, é fundamental recuperar o que a ideia de que, antes da sua (re)definição como ciência, a Geografia carecia de sistematização. No entanto, as várias discussões que se foram mantendo entre académicos, políticos e não só, trouxeram à lume a necessidade de aceitação e de implementação de uma disciplina escolar cujo objectivo era preparar o cidadão para a defesa da pátria.

GEOGRAFIA. CIÊNCIA E ENSINO Ora, o seu carácter científico, apesar de apelado e reservado e alguns países, tem vindo a ser negligenciado por outros, que mais não fazem se não dar ênfase ao aspecto formativo (formar professores de Geografia) e não ao aspecto criativo, como tal.

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Licenciado em Geografia (ISCED de Benguela, Angola), especialista em Geociências (ISPTundavala, Angola) e Mestre em Ambiente e Ordenamento (Universidade de Coimbra)

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Uma das raízes do problema reside no facto de, em alguns países subdesenvolvidos, não ser dar o devido valor à prática investigativa, seguindo-se um pacote deixado algures por alguns países mais desenvolvidos. Resulta, em nosso entender, da importação de curriculas, que pouco ou nada se adequam a realidade angolana. Cabe a quem estudo Geografia o único e cada vez mais aplaudido papel de transmitir e não de ensinar dialogando. Não se coloca aqui o facto de ensinar, pois tal deve pressupor a vontade de quem o faça e nem de quem tem a missão de aprender, a qual se deve motivar e ser motivado. O que se aponta vai no sentido dado por Vesentini (2008, p. 31) segundo o qual (...) a escola contribui para a reprodução do capital: habitua os alunos à disciplina necessária ao trabalho na indústria moderna(...), a respeitar a hierarquia (...), segurando contingentes humanos ou jogando-os no mercado de trabalho, de acordo com as necessidades do momento.

Ora, para o caso de Países em Vias de Desenvolvimento (PVD), como é o caso de Angola, ainda se assiste a absorção de quadros formados em escolas onde a Geografia é curso. No entanto, a prioridade a cadeiras prática, como se a Geografia não fosse vão dando espaço a uma decadência desta área do saber. Com efeito e, tal como apontram alguns especialistas brasileiros, a crise da Geografia é a crise da escola. E quando a escola está em crise, a sociedade está condenada. Assim, o sucesso do curso de Geografia passa pela sua operacionalização, isto é, o torná-la mais crítica perante os problemas actuais, os quais carecem de resolução e não o pensar na Geografia do antigamente, aquela Geografia que o professor aprendeu na sua formação, cuja actualização não é nem por si feita, nem tão pouico por quem deve fazê-la, enquanto órgão com tal competência. A praticidade da Geografia não deve ser dita, ensinada, mas sim vivida pelos próprios alunos e professores, de modo a se garantir o gosto pela disciplina e o aumento do número de investigadores. Deste passo resultarão ganhos para a ciência geográfica. O interesse é não ensinar factos mas, como trata Vesentini (2008, p. 37), "levantar questões, ou seja, negar o discurso competente". Persegue-se uma Geografia mais próxima das pessoas e dos seus problemas, especialmente para Angola, um país que viveu largos anos de conflito armado e que precisa desta ciência para o alcance de um desenvolvimento harmonioso. Como se pode perceber o ensino do litoral angolano a um estudante do interior se o que se fala de nada

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lhe serve? Pior ainda, o professor em causa não está preocupado em melhorar a capacidade de raciocínio do estudante através do recurso à novas fontes de conhecimento como por exemplo o Google Hearth2? Outro dado a ressaltar é a incapacidade de alguns gestores que, mais do que dar valor ao que se ensina, dão protagonismo ao "se se aprendeu!", que é provado não pelo saber em si, mas pelas muitas notas (positivas) que são publicadas. E como fica o que o estudante devia saber para poder aplicar? Surge um novo professor de Geografia que, por falta de bases, mutila os estudantes e afecta a sua paixão por este curso nos níveis médio ou superior. Conforme Vesentini (2008, p. 37)

o conhecimento a ser alcançado no ensino, perspectiva de uma geografia crítica, não se localiza no professor ou na ciência a ser 'ensinada' ou vulgarizada e, sim, no real, no meio onde o aluno e professor estão situados e é fruto da práxis coletiva3 dos grupos sociais.

Sob este ponto de vista, Vesentini (2008, p. 115) advoga que "O ideal, em nosso ponto de vista, seria o próprio professor elaborar seus textos a partir do conhecimento da realidade de seus alunos e procurar fazer com que estes sejam co-autores do saber". Um conceito

a

ensinar

em

países

que

têm

vindo

a

apostar

no

seu

crescimento/desenvolvimento é o de não se construir em valas, considerando os riscos que os seres humanos correm em época chuvosa (vede Fig. 1). Outro grande problema, em nosso entender, resulta da falta de bibliografia, inclusivamente ao nível do ensino superior. De acordo com Carvalho (2012) são estas algumas das lacunas ao nível do Ensino Superior em Angola e que podem explicar a abordagem sobre condenação social que se tem vindo que se pode dar à Geografia quando se discute sobre a sua utilidade:

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Quase total ausência de investigação científica, havendo casos individuais que demonstram que se chega mesmo a ignorar quem pretenda promover a investigação [cf. Silva 2012]; Despreocupação com a publicação dos poucos estudos que são feitos nas instituições de ensino superior;



Ausência de aposta na edição de livros e de revistas científicas, havendo a registar muito poucas excepções a esta regra [vide Silva 2012: 203];

Para sermos modestos. Conforme a fonte

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Deficiente aposta em bibliotecas e laboratórios, havendo mesmo a assinalar a criação de faculdades sem haver a preocupação com a criação destas infra-estruturas e sem a aquisição de meios de trabalho indispensáveis a docentes e estudantes;



Deficiente aposta na formação e actualização dos docentes

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, podemos considerar que a Geografia tem um longo caminho a percorrer e para atletas devem ser chamados todos os estudantes e instituições afins. O Estado sempre apostar em quadros apostados na formação de qualidade a todos os níveis, definindo ou, ao menos, acompanhando e assessorando as finalidades de formação profissional, social e política, cultural e humanística que são devidas à escola. Formar professores de Geografia é importante. No entanto, mais importante do que o Diploma é a certeza de que os que são formados estão em condições de olhar para o espaço geográfico como o seu campo de acção, sobre o qual deve incidir a sua reflexão e seja capaz de levar os estudantes a ter uma visão crítica relativamente àquilo que os circunda. Se se aposta na medicina preventiva, em nossa opinião também se devia reflectir sobre uma Geografia do bom senso, em que, mais do que se ensinar, se leve o estudante a pensar no espaço geográfico como a sua fonte de vida e de inspiração. Com vocação, empenho e um motivação passarão a engrossar o corpo de investigadores em Geografia à bem de uma carreira (geográfica) negligenciada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, Paulo de – Avaliação do ensino superior em Angola. (2012), p. 51-54. [Consult. 12.09.2014]. Disponível na internet: http://ras.revues.org./422 COSTA, F. Rodrigues da e ROCHA, M. Mendes - Geografia: Conceitos e paradigmas - apontamentos preliminares. [Consult. 12 09. 2014]. Disponível na internet: http://www.nemo.uem.br/artigos/geografia_conceitos_e_paradigmas_fabio_costa_marci o_rocha.pdf Decreto n.º 90/09 (10-03-07). [Consult. 12 09. 2014]. Disponível na internet: http://isced.ed.ao/assets/120/Normas%20Gerais%20Reguladoras%20do%20Ensino%20 Superior.pdf VESENTINE, José W. - O ensino da Geografia e luta de classes. In PARA ONDE VAI O ENSINO DA GEOGRAFIA? São Paulo: Editora Contexto. 2008. ISBN 85-85134-321.

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______- Geografia crítica e ensino. In PARA ONDE VAI O ENSINO DA GEOGRAFIA? São Paulo: Editora Contexto. 2008. ISBN 85-85134-32-1. Ilustração 1 - Destruição de residências no Lobito devido às chuvas de Março/2015

Fonte: Fotografia do autor

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