As influências da Espanha e Holanda na formação econômica do Brasil

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AS INFLUÊNCIAS DA ESPANHA E HOLANDA NA FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL THE INFLUENCES OF SPAIN AND THE NETHERLANDS IN THE ECONOMIC FORMATION OF BRAZIL

Roberto Rodolfo Georg Uebel

Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas. Universidade Federal de Santa Maria. Pesquisador do Laboratório de Estudos Internacionais – LEIn/CNPq Endereço: Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul - Caixa Estadual S.A, Superintendência de Operações do Setor Público. Rua General Andrade Neves, 175 13º andar Centro Porto Alegre, RS Cep: 90010-210 E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Influência Cultural; Espanha; Holanda; Exploração Econômica. Key-words: Cultural Influence; Spain; The Netherlands; Economic Exploration.

Resumo: O presente artigo visa apresentar um breve resumo das influências de duas nações europeias – Reino da Espanha e Reino dos Países Baixos – na formação econômica do Brasil desde os primórdios da sua colonização até a metade do século vinte, bem como as consequências provindas de tais influências nas relações comerciais do Brasil com a Espanha e Holanda após a expansão dos mercados internos brasileiros ante a globalização gerada pelo pós-guerra Fria. Sabe-se que Holanda – desintegrada neste presente artigo científico da totalidade compreendida do Reino dos Países Baixos, composto por Aruba, Curaçao, São Martinho e Holanda – e Espanha muito interferiram no desenvolvimento socioeconômico da América Latina, formando a posteriori soberanias independentes, porém, inexiste em níveis acadêmicos qualquer tipo de investigação científica sobre suas influências e inferências na formação econômica do Brasil. Sendo assim, investigar-se-á os motivos, causas e consequências que levaram tais países a inserirem seus complexos produtivos e explorativos no território brasileiro bem como a situação comercial trilateral entre ditos entes nacionais. O presente artigo acadêmico traz à tona as principais questões derivadas das influências neerlandesas e espanholas que influenciaram em

Recebido em: 14/03/2011 - Aprovado em: 17/08/2011

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todo o contexto da formação econômica brasileira até a contemporaneidade e permitiram o Brasil ser uma das maiores potências sul-americanas, graças aos incentivos e estabelecimento de complexos produtivos dessas duas nações em nosso território nacional. Tais influências também foram importantes para o crescimento econômico nacional no quesito desenvolvimento sustentável, refletindo os exemplos neerlandês e espanhol no que tange à responsabilidade ambiental econômica no complexo econômico brasileiro atual. Para a realização da pesquisa utilizou-se o método de pesquisa explicativa, estudando o fenômeno da influência de ambas as nações em nosso contexto sociocultural, e buscou-se a identificação das suas causas através da interpretação dos métodos qualitativos da Ciência Histórica e Econômica. Abstract:

Presenting a brief summary on the influences of two European nations – The Kingdom of Spain and the Kingdom of the Netherlands, in the economic formation of Brazil since the beginning of its settling up to half of the XX century is the aim of this work. It also views the consequences that arose from such influences in the commercial trade between Brazil, Spain and Holland after the expansion of the Brazilian home markets, with the globalization that came up by the after Cold War. Holland, which was disintegrated, in this article, from the entirety of the Kingdom of the Netherlands, made up by Aruba, Curaçao, San Martin, Holland, and Spain, interfered very much in the Latin America social – economy, and it formed, a posteriori, an independent sovereignty. However, in the academic area there is no scientific investigation on its influences and inferences in the Brazilian economic formation. Therefore, the reasons, causes and consequences that led such countries to insert their productive and exploring complexes into the Brazilian land are investigated, as well as the trilateral commercial situation among the mentioned countries. This article brings up the main questions that came from the Dutch and Spanish influences on the whole contextual formation of the Brazilian economy up to now and which allowed Brazil to be one of the greatest powerful South American nations, thanks to the tax incentives and the establishment of the productive complexes of these two nations in our land. The explanatory methodology was used in this paper, in order to study the phenomenon of the influence of both nations in our social cultural context, and it searched to identify its causes through the interpretation of the Historical and Economic Science qualitative methods. INTRODUÇÃO

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Quando Portugal iniciara-se na conquista e exploração dos recém-descobertos territórios americanos, sua hegemonia sobre o espaço colonial geográfico americano fora ameaçado por outras nações europeias. Mesmo com a implantação dos governos-gerais no ano de mil quinhentos e quarenta e nove e com a instauração do empreendimento do complexo açucareiro, as incursões estrangeiras tornaram-se cada vez mais frequentes e exploradoras ao longo dos séculos dezesseis e dezessete, principal-

mente por parte da Espanha – antes da União Ibérica –, França e Holanda. Vicentino e Dorigo definem com excelente exatidão tais incursões que a posteriori levaram a exploração econômica europeia no território brasileiro: Desde o século XVI, as elites políticas e econômicas europeias disputaram, em contínuos confrontos, a exploração das riquezas e dos espaços de exploração capitalista. Somente diante de ameaças e revoltas populares ou projetos antielitistas – inimigo número um a ser

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enfrentado – é que adiavam suas disputas internas e os confrontos. O desenvolvimento comercial dos Países Baixos e a adoção do protestantismo calvinista pela maioria da população, impulsionando ainda mais suas atividades econômicas, foram os principais fatores que levaram as elites mercantis neerlandesas a lutar pela autonomia política diante do domínio espanhol e católico. Em decorrência da União Ibérica, os Países Baixos estenderam sua inimizade pelos espanhóis ao Império Lusitano. Com a situação de status bellis iminente tanto no âmbito econômico e comercial como na situação política europeia, a Holanda fundara no ano de mil seiscentos e dois a Companhia das Índias Orientais, tendo como causa principal o mantimento das suas tradicionais relações comerciais com os domínios ibéricos. Tal atuação incluíra saques na costa brasileira e a conquista de domínios espanhóis na Ásia e África, assumindo grande parte do tráfico de mancípios africanos, que posteriormente injetariam maior mão de obra na produção açucareira brasileira. Na formação do povo brasileiro sempre existiu a influência da imigração espanhola. No entanto, sobre esta questão não houve nenhum estudo detalhado até o momento, abordando-se, superficialmente, o tema. Vale ressaltar que apenas a imigração espanhola não fora tratada com o mesmo interesse com que outros grupos foram, como os portugueses, italianos e alemães, entre outros, os quais podem-se encontrar grandes e extensas informações. A presença espanhola no Brasil é muito maior do que há se atribuiu desde os primórdios da colonização no território brasileiro. No presente artigo de revisão intentar-se-á explicar a influência da Espanha no Brasil distinguindo-se três etapas a partir da bibliografia disponível e encontrada: os primeros explora-

dores do Brasil (1500) e a colonização; a União Ibérica (1580-1640); relações hispano-brasileiras após a independência do Brasil; e a imigração espanhola na contemporaneidade. 1 INFLUÊNCIAS NEERLANDESAS Algumas décadas após o descobrimento, Portugal sentira-se pressionado a colonizar suas novas terras, pois outros países europeus também possuíam interesse no local recém-descoberto. Os portugueses decidiram, então, viabilizar a exploração do espaço colonial com o desenvolvimento da exploração açucareira. A escolha por esse produto se deu, inicialmente, em função da possibilidade de comercialização com o amplo mercado consumidor europeu e as condições climáticas que favoreciam seu plantio no Brasil, além do domínio português sobre eficientes técnicas de plantio. Contudo, apesar de tantas vantagens apresentadas pelo desenvolvimento dessa atividade, a produção açucareira exigia uma complexa infraestrutura que envolvia o uso de grandes propriedades, a farta disponibilidade de mão de obra, manutenção de pastos para animais de tração, extração de madeira e a construção de instalações apropriadas para o beneficiamento da cana-de-açúcar. Não tendo todo o capital exigido para o negócio, Portugal contou com o auxílio de banqueiros europeus que financiavam uma considerável parte deste empreendimento. Dentre esses financiadores se destacavam os banqueiros holandeses que, com o tempo, passaram, também, a intermediar a negociação do produto em diferentes pontos da Europa. O expressivo papel desempenhado pelos holandeses na consolidação da empresa açucareira foi de grande importância para a expansão da classe mercantil daquele país. Além disso, o ritmo de exploração e desenvolvimento dos centros de produção no Brasil provavelmente não teria alcançado o mesmo ritmo sem essa

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mesma participação do capital holandês. Apesar do bom relacionamento comercial que se desenvolvia entre Portugal e Holanda, essa parceria tomou outros rumos no final do século dezesseis. O rei de Portugal, dom Sebastião, tinha apenas vinte e quatro anos quando morreu em uma batalha que travava contra os mouros em Alcácer-Quibir, no Marrocos atual. O trono foi entregue, então, a um tio, o cardeal dom Henrique. Morto dois anos depois, o novo rei não deixou herdeiros. Depois de uma acirrada disputa entre vários pretendentes, a Coroa portuguesa acabou nas mãos do rei espanhol Filipe II (1556-1598). O novo monarca uniu as Coroas portuguesa e espanhola sob seu comando, dando início à fase chamada União Ibérica. Apesar das boas relações entre holandeses e portugueses, com a União Ibérica, tradicionais adversários da Espanha tornaram-se inimigos de Portugal. Durante algum tempo, a Holanda e outras províncias da região dos Países Baixos foram dominados pela Espanha. Em 1579, províncias do Norte entre as quais a Holanda, declararam sua independência inaugurando um período de conflitos com a Espanha que só terminaria em 1648. Por essa razão, em 1621 o governo da União Ibérica fechou seus portos e os de suas colônias aos navios holandeses. A decisão desagradou os comerciantes flamengos que, em represália, decidiram ocupar o nordeste da colônia portuguesa, principal centro açucareiro da América. O instrumento para isso seria a Companhia das Índias Ocidentais, fundada naquele mesmo ano. Após uma fracassada ação da Bahia em 1624, a Companhia das Índias ocidentais resolveu invadir Pernambuco em fevereiro de 1630. Soldados holandeses desembarcaram na costa pernambucana e apesar de terem encontrado resistência, acabaram por ocupar Recife e Olinda, sede da capitania. Com a derrota da resistência, os holandeses se apoderaram de Pernambuco.

Em 1637, a Companhia das Índias Ocidentais enviou a Pernambuco o conde João Mauricio de Nassau, com a missão de governar todo o nordeste holandês – que passou a ser chamado de Nova Holanda. Nassau estabeleceu leis, nomeou juízes e funcionários da justiça, implantou um sistema administrativo inspirado no modelo holandês, reprimiu abusos, assegurou liberdade de crença a todos, garantiu aos judeus proteção em suas sinagogas, estimulou a diversificação da produção agrícola e procurou recuperar a economia açucareira. Dentre as reformas de Nassau, estão a construção de uma cidade a qual foi nomeada Maurícia. Com as providências tomadas pelo governador holandês, Maurícia logo se tornou um centro urbano semelhante a uma cidade europeia. Nassau também mandou construir dois palácios para si onde montou um jardim botânico, um zoológico com espécies da região e um museu de artefatos indígenas. Durante seu governo, foi construído, em Pernambuco, o primeiro observatório astronômico da América. Além disso, ele trouxe da Holanda uma grande comitiva formada por pintores, astrônomos, botânicos e artífices, com a missão de catalogar, pintar, estudar e preservar as plantas e os animais da região. Sua intenção era fundar uma universidade aberta em Recife. O período Nassau, como se vê, foi sinônimo de boa administração: urbanização, construção de pontes e monumentos, o inédito estabelecimento de liberdade religiosa, volumoso e importante legado artístico e científico, financiamento e comercialização da produção de açúcar. Todavia, em meados de 1644 a produção açucareira de Pernambuco passava por sérias crises, provocadas por incêndios nos canaviais, epidemias entre os escravos e períodos de seca. Para agravar a situação, os preços do açúcar no mercado internacional caíram e os senhores de engenho ficaram sem recursos para quitar

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as dívidas contraídas com a Companhia das Índias Ocidentais. Nassau queria que a Companhia agisse com moderação em relação a essas dívidas. A Companhia, entretanto, não só exigiu a quitação imediata das dívidas, mas também aumentou os impostos sobre o açúcar. Devido a esse e a outros fatos, Nassau apresentou sua renúncia e regressou aos Países Baixos em maio de 1644. O Conde, um humanista que veio a ser Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico, permaneceu no imaginário brasileiro como o primeiro governante democrático, esclarecido e amigo das artes no País, criador de um projeto sem par na história colonial. Após 1644, o Príncipe de Nassau foi substituído por administradores pouco talentosos. Na Europa, Portugal recobrara, em 1640, sua independência da Espanha perdida em 1580. Os preços do açúcar na Bolsa de Amsterdam sofreram brusca queda. Os luso-brasileiros voltaram a empenhar-se em ações de guerrilha e finalmente formaram-se como exército. Todos estes fatores resultaram na expulsão dos holandeses consolidada com a rendição da Campina do Taborda, em 1654. Tropas compostas de soldados brasileiros e portugueses, índios, negros, mulatos e mamelucos, sem auxílio de Portugal, fizeram da vitória contra os batavos o que se considera ter sido a primeira manifestação de brasileirismo. Esta guerra configura o nascimento da Pátria: a data da primeira batalha dos Guararapes, 19 de abril, é até hoje o Dia do Exército do Brasil. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe. A partir desse momento, estaria perdido o monopólio, que nos três quartos de século anteriores se assentara na iden-

tidade de interesse entre os produtores portugueses e os grupos financeiros holandeses que controlavam o comércio europeu. Devido ao aumento da oferta, gerada pela produção caribenha, no terceiro quartel do século XVII o preço do açúcar se reduziria à metade e persistiria nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte, o que levaria ao fim dos gloriosos anos da empresa agrícola-colonial portuguesa. 1.1 Relações Comerciais Brasil-Holanda na Contemporaneidade Desde o período colonial, conforme se tem observado, a Holanda fora e ainda é um dos maiores parceiros comerciais e econômicos do Brasil, tanto na exportação como importação, muito influenciando em ambas balanças comerciais. Segundo os dados fornecidos pela Embaixada do Brasil em Haia (2010), no ano de 2007, a Holanda era o maior parceiro comercial e maior mercado no continente europeu de produtos brasileiros, sendo o quarto maior destino das exportações nacionais em âmbito mundial, ficando apenas atrás de Estados Unidos, China e Argentina. Nesse mesmo ano, o Brasil exportou para os Países Baixos US$ 8,84 bilhões em mercadorias. Entre os principais produtos exportados encontram-se, por ordem de valor: soja; pasta química de madeira; óleos brutos de petróleo; carne de frango; ligas de alumínio; ferronióbio; carne bovina; etanol; suco de laranja e frutas (uvas, maçãs e melões). Por outro lado, as importações brasileiras dos Países Baixos somaram no mesmo ano cerca de US$ 1,11 bilhões, o que permitiu à parte brasileira alcançar expressivo saldo comercial de US$ 7,73 bilhões. Entre os produtos comprados dos Países Baixos figuraram como principais, por ordem de valor: óleo diesel; medicamentos; preparações para ração animal; sulfato de amônio e outros produtos químicos.

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Tais dados representam que a Holanda contribui em 5,5% nas vendas externas brasileiras, tendo-se como as principais instituições investidoras no Brasil de capital neerlandês: Shell, Philips, TNT – Mercúrio e Unilever; que por sua vez muito contribuíram

para a industrialização tardia até os anos cinquenta e contribuem para a tecnologização pesada do setor industrial brasileiro. A tabela seguinte representa os investimentos recentes da participação neerlandesa na balança comercial brasileira:

TABELA 1: Investimentos neerlandeses Ano

Investimento em bilhões de dólares

Posição entre os países investidores

1998

US$ 3,3

3

1999

US$ 2,0

4

2000

US$ 2,2

4

2001

US$ 1,8

4

2002

US$ 3,3

1

2003

US$ 1,4

3

2004

US$ 7,7

1

2005

US$ 2,2

2

2006

US$ 3,5

2

2007

US$ 8,1

1

Fonte: Embaixada do Brasil em Haia (2010).

Analisando-se a tabela anterior, infere-se uma variação de 54% nas exportações de 2007 em relação a 2006, e segundo os dados da Embaixada do Brasil em Haia, houve uma variação nas importações, no mesmo período, de 40%. Há, portanto um superávit constante nas operações comerciais bilatePeríodo

rais em favor do Brasil. Nos últimos dez anos, o saldo acumulado ultrapassa de 50 bilhões de dólares. O comércio bilateral no período de 2005 a 2007 apresenta os seguintes números (dados do Ministério de Indústria e Comércio Exterior em milhões de dólares):

2005

2006

2007

Exportações brasileiras

5.283

5.749

8.841

Importações brasileiras

586

786

1.116

Saldo em favor do Brasil

4.697

4.963

7.725

Fonte: Ministério de Indústria e Comércio Exterior.

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São consideráveis igualmente os investimentos e reinvestimentos que a Holanda realiza no Brasil, sendo que várias empresas já operam no mercado industrial e de serviços brasileiros desde a década de quarenta. De acordo com os últimos dados do

Banco Central do Brasil (posição em final de 2007) e fazendo-se a distribuição dos investimentos por país de origem, a Holanda tem investido e reinvestido no Brasil um valor acumulado de US$ 45 bilhões. A Holanda ocupa, com isto, o segundo lugar entre os principais investidores, atrás

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dos Estados Unidos. No ano de 2007, a Holanda ocupou a primeira posição no rol dos investidores estrangeiros no Brasil com o montante de US$ 8,1 bilhões. Grande parte de todos os seus investimentos no país foi inicialmente realizada na indústria de transformação, porém, nos últimos anos, vultosas somas foram dirigidas para o setor de serviços financeiros e de comércio, consoante se observara. Tendo-se em vista a reestruturação industrial e de infraestrutura no território brasileiro promovida após a redemocratização do país nos anos oitenta, o capital holandês interessou-se mais por investir no território nacional, visto as facilidades e apoios institucionais concedidos pelo governo brasileiro, em especial nos estados da região sudeste e nordeste, não só pela prévia colonização holandesa, mas por aproximarse de portos estratégicos provindos das rotas de Roterdã e Amsterdã. 2 AS INFLUÊNCIAS ESPANHOLAS 2.1 Os Primeiros Exploradores do Brasil (1500) e a Colonização Para a historiografia portuguesa e oficialmente, o Brasil foi descoberto

em 22 de Abril de 1500 pelo navegador português Pedro Álvares Cabral, o qual chegou ao litoral sul da Bahia, na região da atual cidade de Porto Seguro, mais precisamente no distrito de Coroa Vermelha. No entanto, há inúmeros documentos1 que provam que os espanhóis, liderados por Vicente Yanez Pinzon e Diego de Lepe, foram os primeiros a descobrir o Brasil em janeiro de 1500, exatamente 83 dias antes da chegada dos portugueses. Eles foram ao longo do que é hoje o litoral do Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá e Amazonas. Com o descobrimento, prosegue-se a colonização. Neste proceso, não se deve esquecer de mencionar o Tratado de Tordesilhas (Fig. 1) que resolverá temporalmente as disputas surgidas pelas descobertas. O Tratado estabelecia a divisão das áreas pertencentes a Portugal e Espanha. Para Portugal serão dadas a terras “descobertas e por descobrir” situadas antes da linha imaginária que demarcava 370 léguas (1.770 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, e à Espanha as terras que ficassem além dessa linha. Após a assinatura do Tratado, as duas coroas levam à exploração, invasão, ocupação e colonização do Novo Mundo. E por trás deles seguirão Inglaterra, França e Holanda.

17 Figura 1: Mapa do Tratado de Tordesilhas. Fonte: Vicentino (1998).

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2.2 A União Ibérica (1580-1640)

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Nos séculos XVI e XVII, a Espanha tornou-se a primeira potência mundial, em concorrência direta primeiro com Portugal e depois com a França, Inglaterra e Império Otomano. É nesses séculos que aparece a União Ibérica, a integração das coroas espanhola e portuguesa. Logo, o Brasil une-se à coroa espanhola durante sessenta anos. Felipe II, rei da Espanha, herdou a coroa de Portugal. Este período de união dos dois reinos até 1640 foi marcado por agressões frequentes de britânicos e holandeses contra o Brasil. (Em alguns desses ataques discutimos na seção relativa às influências neerlandesas). Assim, em 1624, uma frota holandesa desembarcou em Salvador. Mas no ano seguinte a cidade foi tomada pelo exército de espanhóis, portugueses e indígenas brasileiros. Os ataques e invasões holandesas no nordeste brasileiro, como sequência da guerra entre a Espanha ea Holanda não foram as únicas conseqüências da União Ibérica. O Brasil passa a sofrer ataques de outros países adversários da Espanha, como Iglaterra e Holanda, quebrando-se, assim, a Linha Tordesihas, não tendo mais sentido tal divisão territorial. Outra das consequências é a divisão em dois estados do Brasil em 1661. Tal divisão foi feita pelo Estado do Maranhão e o Estado do Brasil. Conquências jurídicas e fiscais também começaram a implementar as Ordenações Filipinas (compilação juridica) e Criação do Conselho das Índias em 1604 para reforçar a fiscalização das colônias. Em 1640, após a separação das coroas ibéricas, o Brasil se tornou uma possessão de Portugal. Após esta separação, houve um período de paz entre a Espanha e Portugual na América do Sul. Época de paz e sossego até 1680, quando uma expedição de portugueses invade o sul da margem leste do Rio da Prata, onde fundaram uma colônia. Essa foi a causa de uma longa série de

problemas que não foram concluídos até 1828 com a criação da República Oriental do Uruguai. Este é um período importante para o desenvolvimento econômico e cultural dos territórios portugueses no Atlântico, até então ainda pouco conhecidos. 2.3 Relações Hispano-Brasileiras após a Independência do Brasil As relações entre Brasil e Espanha, como Estados soberanos, começou a tomar forma com a independência do Brasil, exatamente a 07 de setembro de 1822, mas não reconhecida oficialmente até 1834. Todavia, a demora para o reconhecimento de jure por parte da Espanha deu-se porque o governo espanhol temia que o Brasil, ao ser reconhecido oficialmente como um Estado soberano, afetaria a legitimidade dos movimentos de independência das antigas colônias espanholas. Durante a monarquia brasileira, a Espanha mantinha boas relações de solidariedade mais por intereses monárquicos do que pelos interesses latino-americanos naquele país. Quando D. Pedro II foi deposto e caíra a última monarquia americana, a questão então era: como reagiria a Espanha à república brasileira? Consoante mencionamos anteriormente, a Espanha demorou a reconhecer o novo governo. Isso chegara a causar uma ruptura, mas as relações opostas foram mantidas e melhoradas, retomando projetos já em andamento. No início do século XX, o Brasil foi considerado na Espanha um país com muitas possibilidades para o futuro. Sua enorme riqueza e falta de mão de obra especializada, principalmente, provocaram um fluxo de imigração espanhola para estas terras no Brasil. Mais tarde, na década de vinte, apareceu uma rivalidade entre os dois países ao atingir um assento permanente na recém-criada Liga das Nações, que deu origem à atual Organização das

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As influências da Espanha e Holanda na formação econômica do Brasil

Nações Unidas (ONU). Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foram muitos voluntários brasileiros à Espanha para apoiar a república espanhola. Em 1964, houve a relação de convergência de estratégias de desenvolvimento entre a ditadura militar brasileira daquele ano e os planos para o desenvolvimento da Espanha. O ano de 1979 também pode ser considerado uma data chave nas relações Espanha-Brasil. D. Adolfo Suarez (primeiro presidente no periodo democrático da Espanha) visita o Brasil. Isso “marca o início de uma nova fase de relações bilaterais entre esses países”. Outros eventos favoreceram as relações bilaterais e estabeleceram maiores laços entre os dois países: retorno à democracia no Brasil em 1984; as bases da nova política democrática da Espanha para a América Latina e à reconsideração do papel do Brasil; a adesão espanhola à União Europeia; a participação do Brasil no âmbito da iniciativa espanhola da criação e ao desenvolvimento do Mercosul. 2.4 Influências Contemporâneas A maior influência espanhola no Brasil se deu no estado do Rio Grande do Sul. Desde a formação deste estado tão singular, a participação espanhola terá importância na pecuária, no dialeto da fronteira e nas influências culturais. Analisando-se sob a ótica econômica, a introdução de bovinos durante o século XVII foi o mais destacado. O gado foi introduzido pelos jesuítas para garantir a alimentação de seus tutelados (os índios guaranis). Quando os jesuítas foram expulsos, o gado espalhou-se e se proliferou, tornando-se uma atração para portugueses e espanhóis. Os paulistas das bandeiras e os lagunenses que primeiro ingressaram em território gaúcho o faziam em busca de gado. A respeito à presença espanhola em terras brasileiras, em resumo, pode-

se ponderar que esta acontece desde o início da colonização do Brasil como se observou até o momento. Mas só se pode falar de uma efetiva imigração de espanhóis para o Brasil a partir do final do século XIX. Na década de 1880, chegaram os primeiros espanhóis no Brasil, sendo 75% com destino às fazendas de café em São Paulo. Até a década de 1950, período em que entraram cerca de 700.000 espanhóis no país (Galegos e Andaluzes) atraídos a fim de substituir a mão de obra italiana no café, os galegos se fixaram nas cidades e os andaluzes no campo, principalmente. Os maus-tratos contra espanhóis nas fazendas de café e o trabalho de semiescravidão fez com que Espanha restringisse a ida de seus cidadãos para a terra do café. Todavia, com a Guerra Civil se produziu um novo fluxo de imigrantes. Após a Grande Guerra, voltou a diminuir este fluxo pela recuperação econômica da Espanha. Atualmente, as relações entre os dois países passam por um momento excelente com grandes investimentos da Espanha no Brasil e a implementação de vários projetos em diferentes setores e domínios embora não possamos esquecer a “pequena disputa” que acontecera recentemente pela candidatura das Olimpíadas de 2016, trazendo-se potenciais investimentos ao Brasil e desviando-os da Espanha, que também era uma das candidatas a cidade-sede dos Jogos Olímpicos. A intensificação das relações representa para a Espanha a consolidaçao de uma estratégia de recuperação da sua presença na América Latina. A política espanhola, que visa a América Latina é basada em uma estratégia de investimento que colocou a Espanha (Fig. 2) como segundo maior investidor no Brasil em termos de investimento acumulado, atrás apenas de os EUA e os principais investidores da União Europeia, seguido pelos Países Baixos.

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Figura 2: Ranking das Potências Econômicas em 2008. Fonte: Fundo Monetário Internacional.

CONCLUSÕES E INFERÊNCIAS

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Consoante os dados observados durante a elaboração do presente artigo de revisão acerca dos principais fatos influenciadores na formação econômica do Brasil por parte da Espanha e Holanda, chega-se às inferências de que ambas nações foram e ainda são essenciais para a economia de dependência externa brasileira, e também para a formação social do povo brasileiro, visto seu considerável número de imigrantes vivendo em terras nacionais, desde o período colonial até o pós-guerra. A influência da Holanda na formação econômica do Brasil foi essencial para o desenvolvimento industrial, comercial e financeiro nacional. Além disso, a colonização e exploração neerlandesa muito contribuíram para a formação do pensamento e sociedade brasileira,

consoante se observa na formação da cultura nordestina. Como maior mercado europeu do Brasil e segundo maior investidor no país, trata-se de importante nação na formação da balança comercial brasileira anual, tendo as contribuições da Holanda no processo de industrialização e especificação de produção como essenciais para o desenvolvimento do parque tecnológico brasileiro no fim do século XX e início do século XXI. Para fins de análise, argui-se que a posteriori, a Holanda como maior mercado brasileiro na Europa e uma das maiores parceiras comerciais da América Latina, ficando atrás apenas da Espanha, tem como grande potencial e meta no Brasil o desenvolvimento do mercado comercial e de serviços, visto sua total imersão no setor industrial e tecnológico. Segundo estimativas do Consulado da Holanda em Porto Ale-

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As influências da Espanha e Holanda na formação econômica do Brasil

gre, o MERCOSUL deverá ser o maior alvo comercial da Holanda nos próximos dez anos, ultrapassando inclusive a liderança chefiada pela Espanha. Para concluir, consoante arguido nesta breve análise, houve grande influência da Espanha na formação econômica do Brasil. Ao longo do tempo, as circunstâncias de cada um dos países evoluíram. A Espanha viveu um forte crescimento econômico situando-se como a oitava potência mundial e a grande internacionalização de suas empresas possibilitou investimentos e presença no Brasil. Entretanto, com a chegada da crise de 2009, sua situação piorou bastante, situando-se atualmente na décima posição mundial das economias globais. O Brasil, pelo contrário, depois de passar pelo subdesenvolvimento, nos últimos anos está crescendo economicamente e diminuindo as disparidades sociais. Seu PIB supera o da Espanha e sua posição vai aumentando entre as economias mundiais. O País está alcançando um nível de protagonismo político e comercial na América Latina que é muito superior ao que a Espanha pode conseguir na União Europeia. Por conseguinte, as relações entre ambos os países devem se projetar no futuro considerando esta realidade. A influência espanhola no Brasil tem sido notável, especialmente no sul (Rio Grande do Sul). Contudo, ainda é lastimável que não seja dada a importância devida ao tema porque, hoje dia, existem mais de 15 milhões de brasileiros de ascendência direta espanhola. A colônia brasileira na Espanha é de cerca de oitenta mil pessoas, quarta da América Latina. Espera-se, assim, que isto mude com a aproximação dos dois países, não só econômica, mas cultural e socialmente.

NOTA: 1 Entre eles, a afirmação do navegador ante um juiz. Narra o seu caminho através da terra nova e aceitação que desde o “Tratado de Tordesilhas”, as terras descobertas passam ao controle da Coroa Portuguesa.

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São Camilo - ES Cadernos Camilliani, Cachoeiro de Itapemirim - ES, v. 12, n. 1, p. 11-22, jan./abr. 2011.

Roberto Rodolfo Georg Uebel

REFERÊNCIAS EMBAIXADA DO BRASIL EM HAIA. O Brasil holandês. Disponível em: . Acesso em: 11 nov. 2010. ______. Investimentos holandeses no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2010. ______. Relações comerciais. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2010. EMBAIXADA DO REINO DOS PAÍSES BAIXOS EM BRASÍLIA. Relações econômicas entre Brasil e os Países Baixos. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2010. VICENTINO, Cláudio. As disputas européias pela colônia portuguesa na América. In: VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para o ensino médio: história geral e do Brasil. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2006. cap. 17, p. 187. (Parâmetros). VICENTINO, Cláudio. História memória viva: pré-história à idade moderna. 9. ed. São Paulo: Scipione, 1998.

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São Camilo - ES Cadernos Camilliani, Cachoeiro de Itapemirim - ES, v. 12, n. 1, p. 11-22, jan./abr. 2011.

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