AS INFLUÊNCIAS E A IMPORTÂNCIA DO PÓS-ESTRUTURALISMO E DO PÓS-MODERNISMO NA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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AS INFLUÊNCIAS E A IMPORTÂNCIA DO PÓS-ESTRUTURALISMO E DO PÓS-MODERNISMO NA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.


Gabriela Alves de Borba



RESUMO

O presente artigo propõe situar as teorias pós-estruturalistas e pós-modernista dentro da narrativa teórica das Relações Internacionais, visto que o debate teórico dentro da disciplina vêm incorporando influência cada vez maior de outras áreas do conhecimento e outras tradições teóricas. Assim a intenção do artigo é discutir os princípios de cada teoria, distinguindo suas diferenças teóricas; as influências dos principais autores dentro da Teoria de Relações Internacionais, além de analisar a importância da incorporação das teorias no campo do debate internacional. Por fim, vale ressaltar que a pesquisa utiliza do método bibliográfico descritivo baseado nas produções empíricas já produzidas.

ABSTRACT

The present article looks to place post structuralism and post-modernism theories within the theoretical narrative of international relations, as the political debate within the discipline has been incorporating an increasing influence of other areas in knowledge and other theoretical traditions. Thereby the article discusses the principles of each theory, distinguishing their theoretical differences; the influences of the main authors in the international relations theory and analysing the importance of incorporating the theories into the international debate field. Finally, the research uses the descriptive-bibliographic method based on the empirical productions already produced.



INTRODUÇÃO

A intenção deste texto é discutir, de forma objetiva, os principais conceitos e a importância das ideias Pós-Estruturalistas e Pós-Modernistas dentro da Teoria de Relações Internacionais, entender de que maneira a própria disciplina vem condensando essas novas intervenções alternativas de explicações da realidade internacional dentro de suas prerrogativas teóricas, além de compreender os pontos que esse novo movimento de autores propõem à desconstrução das tradicionais linhas de pesquisa nesta área.


1. AS PREMISSAS DAS TEORIAS PÓS-ESTRUTURALISTA E PÓS-MODERNISTA.


Faz-se necessário nesta seção ressaltar as diferenças entre o pós-estruturalismo do pós-modernismo. Embora haja sobreposições filosóficas e históricas entre os dois movimentos, é importante distingui-los para que possamos avaliar suas respectivas genealogias, trajetórias e aplicações. Cada um desses movimentos constitui uma tentativa de superar, sob vários aspectos, aquilo que o precedeu.
O pós-estruturalismo deve ser visto como um movimento que, sob a inspiração de Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e outros, buscaram descentrar as "estruturas" e a pretensão científica do estruturalismo, criticando a metafísica que lhe estava subjacente, preservando, ao mesmo tempo, os elementos centrais da crítica que o estruturalismo fazia ao sujeito humanista. Já a pós-modernidade, nos dizeres de Lyotard (1984) seria a desconfiança, a recusa na crença das metanarrativas, e no sujeito emancipado através de uma progressiva consolidação da razão.

1.1 As Premissas da Teoria Pós- Estruturalista.

O pós-estruturalismo é uma corrente filosófica que tem como característica singular a desconstrução de ideias e teorias estruturadas. Peters (2000) analisa tal vertente de um modo geral, como um movimento que não abandona por completo os pressupostos da abordagem estruturalista, por partirem do pressuposto que produzir conhecimento significa revelar estruturas de significados presentes nos fenômenos analisados. Entretanto, ao contrário dos autores estruturalistas, para essa verte produzir conhecimento significa denunciar as condições e intenções estruturais do discurso e apresentar alternativas a estas perspectivas tradicionais.
Chama-se a atenção para o fato de que toda a análise empreendida pelo pós-estruturalismo necessita, de forma intrínseca, a aceitação de elementos já estabelecidos para então ser possível a desconstrução dos fatores em questão. Para isso, dentro da teoria leva-se em conta que todas as abordagens partem do pressuposto que os fenômenos são passíveis de compreensão e que estão em constante movimento. Ou seja, aquilo que no presente gera determinada resolução, transformar-se-á constantemente, adquirindo, um novo tipo de sentido e nova forma de interpretação dependendo da perspectiva de quem analisam. Desta forma, somente é possível dizer que algo permanece, de forma atemporal, se ignoramos as mudanças que ocorrem a todo o momento.
Assim, o Pós-Estruturalismo, como será aprofundado no capítulo seguinte, tem como objetivo, a partir da desconstrução e da transvaloração, questionar a legitimidade do discurso pré-estabelecido.

1.2 As Premissas da Teoria Pós-Modernista.

A teoria pós-moderna segundo Nogueira e Messari, caracteriza-se pela desconfiança dos pensadores e pela descrença desses de reformar o projeto iluminista e de recuperar o compromisso com a autonomia e liberdade humana. Ou seja, a teoria se solidifica na convicção de que não há a possibilidade de uma narrativa objetiva onde se possa falar e nomear o mundo fora da história, da linguagem, das construções discursivas, das identidades e experiências, já que não existe verdade em si, mas verdades, e as suas interpretações, múltiplas, criam a realidade. Nessa visão, entende-se que o pós-modernismo privilegia a heterogeneidade, valoriza a indeterminação, sem pretender definir critérios de valor universais transcendentais.
Assim, pode-se analisar que o Pós-Modernismo como teoria aplicada no âmbito das Relações Internacionais tenta demonstrar que as teorias dominantes, especialmente as tradições realista, idealista e liberal de análise científica, que são aquelas que consolidaram como as principais dentro desta área de conhecimento criaram toda a sua estrutura teórica sobre bases arenosas.

Quer dizer que a tríade racionalismo-cientificismo-positivismo, típica da Modernidade inaugurada no Iluminismo, hoje encontra limites claros para sua sustentação, e produziu, durante muito tempo, conclusões parciais sobre o internacional. É preciso, portanto, repensar estas bases, criar novas, admitindo discursos alternativos em seu interior, e tirando as amarras que limitam a sua evolução enquanto área de conhecimento. (BRAGANÇA, 2014. p1)



2. A influência do Pós-Estruturalismo e Pós-Modernismo na teoria das Relações Internacionais.


Em vista que o campo de estudo das Relações Internacionais teve início na segunda metade do século XX, com o intuito de explicar as causas e as origens dos conflitos, até então os debates eram limitada à teorias tradicionais próprias da área. No entanto, com a evolução da disciplina, inúmeras correntes de outras áreas, particularmente filosofia política e economia, reforçaram a elaboração do estudo, não mais focadas apenas no fenômeno da guerra, mas nas mais diversas interações possíveis entre os atores da comunidade internacional.
Dessa forma, o novo contexto teórico e prático das Relações Internacionais conseguiu incorporar na análise tópicos anteriormente restritos a áreas específicas, como o estruturalismo, pós-estruturalismo, modernismo, pós-modernismo, e consequentemente conseguiu obter resultados mais consistentes e abrangentes dentro da área de estudo internacional.

2.1. A Influência do Pós-Estruturalismo na Teoria das Relações Internacionais.

O pós-estruturalismo foi incorporado ao espectro das teorias de Relações Internacionais a partir da década de 1990. Autores como Rob Walker, Cynthia Weber e Lene Hansen buscam através da desconstrução semântica dos conceitos das teorias convencionais e do estudo histórico-genealógico compreender as condições que possibilitam a construção do conceito de internacional, trabalhando com narrativas sobre a soberania, identidades e contradições. Estes autores, portanto, buscaram questionar a legitimidade do discurso pré-estabelecido neste campo de conhecimento.
A principal contribuição do Pós-Estruturalismo no campo de estudo das Relações Internacionais foi o estudo das categorias aparentemente opostas - dentro/fora, comunidade/anarquia, eu/outro - para assim mostrar como, ao mesmo tempo, elas são mutuamente constitutivas e, ainda assim, estão sempre em processo de fusão, por parte do teórico Walker.
Vale destacar no presente trabalho que as abordagens de cunho pós-estrutural partem do pressuposto de que os fenômenos estão em constante transformação. Portanto, para os autores dessa teoria, ao levar em consideração que tudo está em constante movimento, significa dizer que o pós-estruturalismo é impossível classificar o fenômeno analisado.


Neste sentido, toda a análise pós-estruturalista se recusa a estar tanto "dentro" das teorias convencionais de Relações Internacionais, quanto "fora" das estruturas científicas propostas pelas mesmas. Do mesmo modo em que evitam as práticas metodológicas convencionais, a teoria em si não se constitui de uma negação ou contraposição às mesmas. O que se busca é os limites do pensamento político-filosófico, as margens da historicidade que tangenciam os aspectos da política internacional. (FLORÊNCIO, 2015, p. 267)


Os teóricos dessa linha de pensamento também sinalizam falhas dentro das teorias tradicionais, apontando principalmente a manobra de argumentação incondicional e extrema e a sua reprodução à exaustão da sua verdade que desse modo as legitimam. Logo, conceitos como Estado, Soberania, Fronteira, Anarquia do Sistema Internacional, e outros, carregados destas criações de verdade são frontalmente atacados, criando uma firme objeção às teorias dominantes. Importante ressaltar que no caso, por exemplo, do conceito de Estado, a maior parte, senão todas, das teorias dominantes de Relações Internacionais tem o Estado como o único ator autônomo, independente de si, autossuficiente, o que é rejeitado pelos pós-estruturalistas. Neste ínterim, pela complexidade e indeterminação das relações humanas na arena internacional torna-se evidente para essa linha de pensamento que as teorias convencionais não oferecem todas as soluções.

2.2. A Influência do Pós-Modernismo na Teoria das Relações Internacionais.

O Pós-modernismo surge no contexto dos estudos acerca das Relações Internacionais como forma alternativa de explicação da realidade internacional a partir do fim da Guerra Fria, desafiando a construção positivista do conhecimento. Essa corrente tem como expoentes, conforme citado em Sarfati (2005), sua argumentação na afirmação que não existe um modo neutro de se realizar uma pesquisa, mas sim métodos de acordo com o pensamento do observador, o que torna toda e qualquer pesquisa parcial. Sendo assim, o que é tido como verdade depende diretamente de diversos fatores, como a vivência de quem analisa e do seu período histórico.
A origem deste debate é atribuída ao pensador como Michel Foucault. O que está implícito na sua contribuição, principalmente, é a crítica ao racionalismo da Modernidade que vem fundamentando as conclusões de analistas das teorias realista, idealista e liberal das Relações Internacionais.

O objetivo, portanto, é desfazer estas narrativas, trazer à superfície os objetivos complementares destes discursos, que variam do interesse político à criação de uma verdade que acaba por fundamentar a análise social em valores comprometidos, parciais. (BRAGANÇA, 2014, p.11)


O desafio para a compreensão, na teoria de Foucault é definir em que condições históricas o fenômeno observado foi produzido, e aprofundar a análise dentro do contexto e do objetivo que este foi criado pelo discurso vigente. Seguindo essa lógica, para Foucault, um dos objetivos deste discurso vigente é manter a ordem de poder que sustenta este pensamento, o que indicaria uma parcialidade à construção de uma análise mais adequada das relações entre os vários atores internacionais. A própria determinação daquilo que é correto é parte desta estrutura de poder, assim aceitar determinada lógica de pensamento como verdade é reforçar, portanto, esta estrutura, que se configura como um instrumento de poder.
O resultado deste método de análise histórica e contextual do elemento observado, para Foucault é o resgate de visões excluídas pela teoria dominante, dando às Relações Internacionais uma multiplicidade produtiva de discursos diferentes, conflitantes.


CONCLUSÃO

Dito isto se pode afirmar, portanto que Relações Internacionais é uma área do conhecimento que vem incorporando contribuições de diversas áreas do conhecimento - como da Ciência Política, da Filosofia, da Economia, do Direito, das Ciências Sociais, Psicologia, Antropologia, e várias outras fontes de conhecimento - que dão ao debate dos estudos internacionais uma possibilidade de um vasta evolução.
No entanto, as influências positivistas ainda não estão intrínsecas ao estudo das interações internacionais, apesar de em outras áreas da ciência os debates pós-estruturalistas e pós-modernistas já estarem consolidados, nas Relações Internacionais ainda são vistos como um desvio teórico das abordagens hegemônicas, assim não obtendo grandes espaços dentro do estudo.
Porém, ao fim desse trabalho percebe-se a importância da análise Pós-Estruturalista e Pós-Modernista no âmbito das Relações Internacionais ao apresentarem, ambas as teorias, uma nova vertente totalmente crítica da teoria dominante, onde nos guia para uma análise mais minuciosa e detalhada, tentando estabelecer a genealogia do discurso dominante, apontar suas falhas e desconstruí-la. Fazendo com que o campo de debate internacional entre em análises mais aprofundadas, além de contribuir para que o estudo da àrea não acabe por entrar na estagnação e nos conceitos que as teorias tradicionais legitimam com verdade no debate internacional.




REFERÊNCIAS


BEGNIS, Heron Sérgio Moreira et al. Pós-Modernismo e as relações internacionais: uma análise sob a ótica da complexidade. Proceedings of the 3rd ENABRI 2011, 2011.

BRAGANÇA, Danillo Avellar. A TEORIA PÓS-MODERNA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA DISCUSSÃO. In: I SEMANA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA, 2014, São Carlos. Disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2016.

FLORENCIO, Felipe . Pós-Estruturalismo e Neorrealismo: Críticas e perspectivas nas Relações Internacionais. Conjuntura Global, [S.l.], v. 4, n. 2, p. 262-273, maio. 2015. Disponível em: . Acesso em: 27 dez. 2016

LOPES, Alice Ribeiro Casimiro. Teorias pós-críticas, política e currículo. Educação, Sociedade & Culturas, nº 39, 2013.

MENDES, Cristiano. Post-structuralism and criticism as repetition. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 30, n. 88, p. 45-59, 2015.

MENDES, Cristiano; FURTADO, Henrique. TEMPO E REPETIÇÃO NA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Revista Debates, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p.201-216, maio 2012.

MESSARI, Nizar; NOGUEIRA, João Pontes. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. Rio de Jaaneiro: Elsevier, 2005.

PETERS, Michael. Pós-estruturalismo e filosofia da diferença. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

RIBEIRO, Márden de Páuda; VELOSO, Silene Gelmini Araújo; ZANARDI, Teodoro Adriano Costa. Fim da Teoria Crítica? Crítica aos extremos pós-modernos e pós-estruturais da teoria curricular. Currículo sem Fronteiras, v. 16, n. 2, p. 255-282, maio/ago. 2016. Disponível em: . Acesso em: 28/12/2016

Pontos:

Fazer uma introdução
Melhorar a conclusão (mais aprofundada)


Acadêmica do 5º semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.



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