As intervenções de António José Landi na igreja de Santo Alexandre e no colégio dos jesuítas de Belém do Pará

August 14, 2017 | Autor: I. Mendonça | Categoria: Jesuítas, Arquitetura Brasileira, Belém do Pará, António José Landi
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As intervenções de António José Landi na igreja de Santo Alexandre e no colégio dos jesuítas de Belém do Pará

- Isabel Mayer Godinho Mendonça

A

NTÓNIO

José Landi (1713-1791), 1791), o arquitecto bolonhês

bem conhecido em Belém do Pará pelos numerosos monumentos que projectou para a cidade 1, foi

responsável por duas intervenções no edifício construído pela Companhia de Jesus para sua sede no Estado do Grão-Pará Grão e Maranhão: a decoração ainda existente do tecto da capela-mor capela mor da igreja de Santo Alexandre, realizada em e 1756,, e o já desaparecido Armazém das Armas,, edificado entre 1760 e 1762 no piso térreo do colégio da ordem, anexo à igreja.

A decoração da falsa abóbada da capela-mor capela mor teve lugar em meados de 1756, durante um curto período de permanência do artista artista em Belém, onde se deslocara a pretexto de tratar do seu casamento com a filha de João Baptista de

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Oliveira . Landi integrava-se então, como desenhador, na Comissão de Demarcação de Fronteiras 3,

sediada

desde

1754 em Barcelos, a principal povoação do futuro Estado do Rio Negro. A 7 de Novembro de 1756, o padre Francisco Wolf referia a intervenção de Landi na decoração da abóbada da capela-mor: O esplendor da nossa igreja obteve este ano um ornamento não medíocre por O tecto da capela-mor da igreja de Santo Alexandre, concebido por Landi.

substituição da velha abóbada, na capela do altar principal, por

uma nova abóbada dourada com ornamentos acrescentados, elaborada pelo arquitecto director italiano Landi, que comunica um melhor brilho e maior majestade ao altar 4.

A decoração da velha abóbada era provavelmente idêntica às pinturas que ainda podemos apreciar em algumas das capelas laterais da nave, no tecto da sacristia e numa das salas do piso superior da igreja, realizadas na tradição da chamada “pintura de brutescos”, tão comum na arte portuguesa barroca 5. A nova abóbada dourada com ornamentos acrescentados da autoria de Landi, que ainda hoje podemos admirar no tecto da capela-mor da igreja, constituiu certamente uma novidade no panorama da arte local e por isso é referida de uma forma tão encomiástica pelo padre jesuíta. Nela o artista utilizou um esquema compositivo provavelmente inspirado na tratadística maneirista italiana 6: a repetição de diferentes figuras geométricas, conjugadas com grande sentido estético. As molduras destas figuras geométricas, em talha dourada, são constituídas por fiadas de óvulos, motivo que Landi também empregou noutras obras em talha - por exemplo, nas molduras das telas dos altares laterais da sé 2

ou nos púlpitos da igreja do Carmo - ou mesmo em pintura de quadratura, como na capela-mor da igreja matriz de Barcelos, conhecida através das ilustrações oferecidas pelo artista ao naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira 7. A composição entalhada e dourada está aplicada sobre uma falsa abóbada em madeira pintada de branco, inicialmente também dourada, se fizermos fé nas palavras do jesuíta.

Projecto para o Armazém das Armas em

(A.H.U., Cartografia manuscrita, Brasil, Pará, cx. 395, nº 800).

A segunda intervenção de Landi no edifício dos jesuítas teve lugar após a expulsão da companhia do Pará, existindo ainda o projecto por ele assinado 8, enviado a 18 de Junho de 1761 pelo governador Mello e Castro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado 9, acompanhado da legenda: Planta dos armazéns das armas e apetrechos de guerra pertencentes ao almoxarifado. O projecto destinava-se a uma adaptação, realizada a pedido do governador, em parte do piso térreo do antigo colégio dos jesuítas, apesar de aquele espaço ter sido destinado para instalação do Seminário, conforme era referido em carta régia de 11 de Julho de 1761. O resto do edifício - ou seja, a igreja e a zona conventual - fora já entregue ao bispado, a 10 de Abril de 1760. A 11 de Novembro de 1763, o governador justificava a anexação desse espaço, em carta enviada ao Conselho Ultramarino. Pretendera evitar o dispêndio anual por parte da Fazenda Pública no aluguer de armazéns destinados a guardar os armamentos novos e velhos dos dous Regimentos 3

pagos, como tãobem as muitas armas dos povoadores, petrexos, muniçõens, ferramentas, e mais cousas pertencentes à Real Fazenda 10, e por isso mandara fazer os repartimentos e obras necessarias [numas] cazas continuadas com communicação humas com as outras em que se podião fazer a dita acomodação, com serventia, tanto para o terreiro da Sé, como para a praya, sem causar empedimento de serventia actual, e principal do dito Colegio, por ser separado, para evitar a perpetua, e annual despeza (...) 11. O afastamento do bispo D. frei João de S. José Queirós, chamado a Lisboa a 24 de Novembro de 1763 12, e o longo período de vacância da sé de Belém terão certamente evitado qualquer movimento de contestação por parte da cúria. O novo bispo do Pará, D. frei João Evangelista Pereira, investido a 28 de Novembro de 1772, só viria a levantar a questão após a morte de D. José e a consequente queda em desgraça do marquês de Pombal. A 28 de Março de 1778 enviou uma carta a D. Maria, queixando-se da usurpação de parte das suas instalações pelo governador João Pereira Caldas, que então dirigia os destinos do Estado do Pará: Só o Governador actual, João Pereira Caldas, sem attenção à mercê, que Vossa Magestade tinha feito, se attrevêo a tornar para a Fazenda Real duas Casas e varios commodos, que estão dentro do Pateo do mesmo Collegio, em que assistião os escravos, que servem o Seminario, mandando fechar a porta, que sahe do Collegio para o ditto Pateo, pondo por este modo o Reitor do Seminario na consternação de allugar Casas fora para assistirem os dittos escravos (...). Ainda segundo o bispo, o mesmo governador mandou pôr por terra o muro da referida Cêrca, que he o unico desafogo, que tem os Seminaristas nos dias e horas de Sueto, tomando um pedaço della, (...) afim de endireitar, largar hum caminho, que vai para o mar 13. Curiosamente, o bispo desconhecia (ou pretendia desconhecer) que fora Manuel Bernardo de Mello e Castro quem desanexara a ala noroeste do colégio para a adaptar a Armazém das Armas, chegando mesmo a afirmar não ter havido qualquer ocupação desse espaço pelo Estado durante os governos de Mello e Castro e de Fernando de Ataíde e Teive. João Pereira Caldas defendeu-se das acusações do bispo, enviando à corte a cópia de um ofício do governador Mello e Castro, datado de 1763, acompanhado da já referida planta assinada por Landi, cujo original fora 4

remetido à corte em 1761 14. Embora se tenha defendido da acusação de “usurpador”, não conseguiu provar que o espaço ocupado pelo armazém das armas pertencesse à Fazenda Pública. A contenda viria a resolver-se a favor do bispado. Apesar de desaparecida a obra projectada por Landi, dela ficaram interessantes testemunhos gráficos e documentais que permitem uma reconstituição precisa da sua localização, da sua função, do tipo de decoração realizada e, inclusivamente, dos materiais utilizados na construção. A sobreposição da planta já referida, assinada por Landi, à planta do colégio jesuítico, depois de reduzidas à mesma escala, permitiu detectar sobre que zona incidiu tal adaptação: o piso térreo do corpo terminal da ala sudoeste, onde hoje funciona a galeria de exposições temporárias, e de uma antiga ala, entretanto demolida, em frente ao forte de Santo Cristo 15. Este espaço foi adaptado por Landi a Sala de Armas (correspondente à actual galeria de exposições do Museu), com ligação através de um corredor a uma sucessão de vários pequenos compartimentos intercomunicantes, destinados a armazém das armas do Almoxarifado (na ala demolida). A entrada para este espaço fazia-se pelo lado da fortaleza através de uma portaria, também assinalada na planta.

A galeria de exposições temporárias do colégio de Santo Alexandre, no espaço da antiga Sala de Armas.

A Sala de Armas, de planta quadrangular, compreendia três tramos (dois destinados a armazenar armas e o terceiro a corredor de comunicação com a ala lateral) indicados na planta com as seguintes legendas: A. Caza das Armas, B. 5

Caza das patronas e mais Armamento Militar, C. Passagem para hir aos outros armazéns. Na zona reservada a armazenagem está desenhado um corte transversal, legendado como Elevação entrior da Caza de Armas, mostrando uma estrutura de sete arcos redondos apoiados em colunas ou pilares; na planta estão assinaladas sete divisórias longitudinais em correspondência com os vãos dos arcos. Essas divisórias destinavam-se, segundo uma minuciosa relação dos edifícios reais do Pará em 1774, a guardar cabides 16, ou seja, suportes para as armas. A arcaria pensada por Landi – com o aspecto de uma erudita loggia – veio claramente nobilitar este espaço meramente funcional. Em 1783, uma descrição dos mesmos edifícios reais do Pará tinha certamente esta decoração presente ao referir a vistosa salla de armas 17 do armazém militar. A adaptação realizada no antigo colégio jesuítico foi cuidadosamente descrita na documentação que consultámos, fornecendo curiosas informações sobre o progresso da obra, os materiais utilizados, os oficiais e mestres que nela se empregaram e ainda os montantes despendidos 18. As obras começaram a 1 de Novembro de 1760 e terminaram a 30 de Abril de 1762, sendo ainda feitos pagamentos pelo trabalho do ferreiro a 12 de Maio de 1762. Na relação dos materiais consta, além da cal da terra 19, grandes quantidades de ripas, muitos tipos de pregos (pregos caybraiz, de galiota grande, de galiota, de meya galiota, de caverna, de meya caverna, de rebite, taxas de meya cabeça), fechaduras mouriscas, argolas, e algumas ferramentas (limas e pincéis para caiar), com a indicação por várias vezes expressa de se destinarem ao preparo dos Armazenz e Cabides das Armas. A ausência de referências ao pagamento de pedra ou tijolo parece mostrar que se tratou de uma mera adaptação das estruturas de alvenaria e taipa do antigo colégio, tendo apenas sido criadas divisórias em madeira no interior do espaço - uma verdadeira “adaptação efémera” 20. O que vem explicar por que razão a equipa de arqueologia que aqui recentemente trabalhou nada encontrou dessas obras, certamente destruídas depois de esse espaço ter sido integrado no Palácio Episcopal, no seguimento da longa polémica que opôs o bispo do Pará aos governadores do Estado, tentando provar que aquele espaço lhe pertencia.

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As duas intervenções de António José Landi no edifício que pertenceu à Companhia de Jesus, embora sem a importância dos edifícios por ele projectados para a cidade, revelam facetas curiosas da obra deste artista, aluno e professor da Academia Clementina, uma instituição de ensino empenhada em preservar a tradição da escola de cenografia e de pintura de quadratura bolonhesa. No tecto da capela-mor da igreja, Landi deixou assinalada a sua formação académica num desenho de grande simplicidade e rigor geométrico, inspirado nos tratadistas italianos, que serviu de base à obra em talha dourada que ainda se preserva. Para o interior do colégio projectou uma eficaz adaptação a armazém de armas, realizada com materiais efémeros, há muito desaparecidos, e decorou a zona reservada a Sala de Armas com uma aparatosa estrutura em madeira, recriando uma erudita loggia, como se de um verdadeiro cenário se tratasse.

NOTAS 1

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Entre os edifícios projectados por Landi para Belém do Pará, ainda existentes, contam-se a igreja de Santa Ana, a capela de S. João e o palácio dos Governadores; o arquitecto bolonhês interveio ainda na igreja da sé (acrescentando os anexos da capela-mor) e na igreja do Carmo (para onde projectou a nova nave e o transepto e a anexa capela da Ordem Terceira); de sua autoria são certamente a capela Pombo, na trav. Campos Sales, e o sobrado que pertenceu a Manuel Raimundo Alves da Cunha, na esquina para o largo das Mercês. Realizou ainda obras de adaptação a hospital no sobrado comprado pelo Estado a Domingos da Costa Bacelar, na confluência do rio Guamá com a baía do Guajará. Outros edifícios por ele projectados para a cidade desapareceram, como os quartéis e a capela de Santa Rita e os sobrados de António de Sousa de Azevedo e de João Manuel Rodrigues. A Landi devem-se também desenhos para obras em talha, estuque e pintura de quadratura, algumas das quais se encontram ainda em igrejas e capelas de Belém. Sobre a obra de Landi em Belém, vide Isabel Mayer Godinho Mendonça, António José Landi (1713-1791) – um artista entre dois continentes, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2003. A 1 de Junho de 1756 o governador dizia ao bispo do Pará, D. Frei Miguel de Bulhões: Ultimamente foy José Antonio Landy a quem eu não pude negar licença por me dizer que estava ajustado a casar, e queria ir comprar o que lhe era necessario para aquela função (B.N.L., Colecção Pombalina, Códice 161, fl. 83v). Esta comissão integrava vários técnicos e militares, na sua maioria estrangeiros contratados a seguir à assinatura do Tratado de Madrid, em Janeiro de 1750, entre Portugal e Espanha, visando a delimitação dos territórios das duas nações ibéricas na América do Sul.

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Ecclesiae nostrae Splendor non mediocre hoc anno incremetum sumpsit a substituto veteri, in capella arae principis novo fornice parergis auro obductis praedivite directore architecto italo Landio elaborato, qui meliorem lucem majorem que magestatem arae communicat, cit. em Serafim Leite, S. J., História da Companhia de Jesus no Brasil, vol. VII, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1949, p. 342. Agradecemos à Dra. Carolina de Azevedo e Silva a tradução para português. O padre Francisco Wolf foi procurador da Companhia de Jesus em Roma – vide Serafim Leite, op. cit., p. 137. Segundo informação oral do restaurador João Veloso, a pintura inicial mostrava restos de policromia, em tudo semelhante às pinturas de brutescos existentes na igreja. Numa das propostas do conhecido tratado de Serlio, Regole generali di architettura sopra le cinque maniere degli edifici, cioè toscano, dorico, jonico, corinthio e composito, con gli essempi dell’antiquità che per la mayor parte concordono con lo detto di Vitruvio, repete-se um esquema compositivo com um espírito idêntico, embora utilizando figuras geométricas distintas. B.N.R.J., Manuscritos, Colecção Alexandre Rodrigues Ferreira – Prospectos de cidades, villas, povoações, Edeficios, Rios, Cachoeiras, Serras, etc., da Expedição Philosophica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuyabá, desenho de Codina, B.M.N., Colecção Alexandre Rodrigues Ferreira – Prospectos de cidades, villas, povoações, Edeficios, Rios, Cachoeiras, Serras, etc., da Expedição Philosophica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuyabá, copiados no Real Jardim Botânico, desenho copiado por Tavares. A.H.U., Cartografia manuscrita, Brasil, Pará, cx. 395, nº 800. A.H.U., Brasil, Pará, cx. 21; transcrito por Isabel Mayer Godinho Mendonça, op. cit., vol. III, documento 77 Idem, cx. 25; transcrito por Isabel Mayer Godinho Mendonça, op. cit , vol. III, documento 90. Veja-se o documento anexo. Ibidem. A Fazenda pagava anualmente 774$756 réis pelo aluguer de armazéns. O bispo acabaria os seus dias desterrado no convento de S. João do Ermo, na diocese do Porto. A.H.U., Brasil, Pará, cx. 38; transcrito por Isabel Mayer Godinho Mendonça, op. cit, vol. III, documento 117. Idem, cx. 104. A sobreposição da planta de Landi à planta do colégio jesuítico foi realizada em computador pela equipa responsável pela prospecção arqueológica recentemente realizada no pátio do colégio, antes do derrube da ala onde foram construídos e posteriormente alterados os armazéns das armas. Veja-se Fernando Luiz Tavares MARQUES, Prospecção no pátio do Palácio Episcopal de Belém, exemplar policopiado, Belém, Instituto do Serviço do Património Histórico Nacional, Maio de 1997. A.H.U., Brasil, Pará, cx. 35; transcrito por Isabel Mayer Godinho Mendonça, op. cit., vol. III, Documento 113. O armazém das armas é pormenorizadamento descrito, sendo referidas as dimensões e as funções de cada uma das salas: Nos Quartos baixos do Palacio Episcopal, que hera Colegio dos Jezuitas expulços, e extinctos, se achão na parte do Edifficio novo do mesmo Colegio, nove cazas destinadas para muniçoens de Guerra, todas de pedra, e cal, como he todo o edifficio, e Cazas que se achão nelle, e dentro da sua cerca, com as dimençõens seguintes. A 1ª com 57 palmos de comprido, 23 de largo, e 24 de pé direito, serve de Caza de Armas; cujo arranjamento de cabides, e mais necessario para o mesmo fim foi mandado fazer pello Illustrissimo e Excelentissimo Senhor Manoel Bernardo 8

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de Mello e Castro. A 2ª com 52 palmos de comprido, 32 de largo, e 24 de pé direito serve de guardar os mais Armamentos. A 3ª que hé um corredôr com 154 palmos de comprido, e 17 de largo, e 15 de pé direito, em que se guardão differentes muniçoens. A 4ª com serventia para o mesmo corredor, com 20 palmos de comprido, 19 de largo, e 15 de pé direito, destinado para o mesmo fim. A 5ª com a mesma serventia para o corredôr com 20 palmos de comprido, 19 de largo, e 15 de pé direito, servindo para o mesmo. A 6ª com a mesma serventia, e dimençõens destinada ao mesmo fim. A 7ª com a mesma serventia para o corredôr, e dimençõens servindo para o mesmo. A 8ª com 42 palmos de comprido, 19 de largo, e 15 de pé direito aplicada para a arrecadação dos fardamentos. A 9ª com 20 palmos e comprido, 19 de largo, e 15 de pé direito onde se limpão as Armas, e mais petrechos dos Armazens. Nas officinas baixas do Collegio dos Jesuitas o General do Estado fez apromptar varios armazéns para as munições de guerra e boca, e huma vistosa salla de armas. B. A., 54-XI-27, Memória das pessoas que desde o princípio da conquista governaram as duas capitanias do Maranhão e Grão-Pará, anno de 1783, fl. 19. A.H.U., Brasil, Pará, cx. 25; transcrito por Isabel Mayer Godinho Mendonça, op. cit., vol. III, documento 90. Veja-se o documento anexo. Feita a partir de cascas de sernambi, um molusco muito comum na região. Certamente por isso, este armazém irá sofrer por duas vezes obras de manutenção de montantes avultados - a 9 de Fevereiro de 1768 já era assinalada a ruína dos Armazéns das Armas - A.H.U., Códice 594, carta 249; em 1775 são gastos 9$280 réis em reparos na casa da arrecadação dos armazéns - A.H.U., Brasil, Pará, Cx. 38A - e em 1778 são dispendidos 1.424$007 réis na reedificação do armazém das armas e munições - Ibidem, cx. 31.

Abreviaturas utilizadas Carta do governador e capitão-general do Estado do Pará, Manuel Bernardo de A.H.U. – Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa B.A. – Biblioteca da Ajuda, Lisboa B.M.N. – Biblioteca do Museu Nacional, Rio de Janeiro B.N.L. – Biblioteca Nacional de Lisboa B.N.R.J. – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Anexo Documental [ I ] Carta do governador e capitão-general do Estado do Pará, Manuel Bernardo de Mello e Castro, dirigida a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, escrita em Belém a 11 de Novembro de 1763, sobre as obras realizadas no piso térreo do extinto colégio jesuítico, para adaptação a armazém das armas, acompanhada dos dois documentos seguintes: [ II ] Uma certidão emitida pelo escrivão da Fazenda Real, a 3 de Novembro de 1763, sobre as despesas feitas com o arrendamento de armazéns, antes da obra realizada; e [ III ] Uma relação pormenorizada de todas as despesas efectuadas na obra, datada de 6 de Abril de 1763 e assinada pelo almoxarife da Fazenda Real (A.H.U., Brasil, Pará, cx. 25). 9

[I] Illustrissimo e Excelentissimo Senhor Não tendo a Fazenda Real desta cidade armazens proprios para estarem em devido resguardo, e aseyo os armamentos novos, e velhos dos dous Regimentos pagos, como tãobem as muitas armas dos povoadores, petrexos, muniçõens, ferramentas, e mais couzas pertencentes à Real Fazenda, Se fazia anualmente a consideravel despeza de cento, e setenta e quatro mil reis em aluguel das logeas de Filipe Coelho, Agostinho Dominguez de Sogueira, Francisco Aranha Guedez, João Furtado de Vasconcelloz para o dito comodo como consta da certidão Nº 1º Vagando o Colegio da Rezidencia dos Regularez da Companhia chamada de Jezus, vendo que nas logeas havia humas cazas continuadas com communicação humas para as outras em que se podião fazer a dita acomodação, com serventia, tanto para o terreiro da sé, como para a praya, sem cauzar empedimento de serventia actual, e principal do dito Colegio, por ser separado, para evitar a perpetua, e anual despeza, mandei contestar as ditas cazas, e fazer os repartimentos e obras nesseçarias, em que se despenderão settesentos, setenta e quatro mil, settecentos cincoenta e seis reis, como se vé da certidão Nº 2º que em menoz de cinco annoz, ficão salvos nos alugueres que se havião de pagar, ficando a Real Fazenda com duas utilidades grandez, e manifestas de evitar nos outros annos o pagamento dos aluguerez, e ficar de propriedade com hus excelentes armazens, que reprezento a Vossa Excelencia que mandara o que for servido. Para 11 de Novembro de 1763 Illustrissimo e Excelentissimo Senhor Francisco Xavier de Mendonça Furtado (Ass.) Manuel Bernardo de Mello e Castro

[ II ] Nº 1º Claudio Antonio de Almeyda Escrivão da Fazenda Real nesta cidade de Bellem do Parâ etc. Certifico aos que a prezente Certidão virem que revendo as despezas que se achão neste Almoxarifado de que he Almoxarife Bento Figueiredo Tenrreyro consta que por não haverem armazens proprioz da Fazenda Real se tomarão por aluguel para o dito Minizterio duas logeaz que forão das cazas de Felippe Coelho onde se recolheo as armas, e mais petrexos pertencentes a Sua Magestade per presso de sessenta mil reiz por anno e asim maiz consta que por nas ditas logeaz haverem bastante currusão se tomarão as de Agostinho Dominguez e Siqueyro que servio de armazem de armas as quaiz forão avaliadas em quarenta mil reiz por anno, e tambem consta que para os maiz petrexos pertencentes a Fazenda Real como farinhas, azeytes, mantegaz, sal, ferramentaz novas, e velhas e breu e estopa, e maiz moniçoiz se tomarão trez logeaz das cazas que forão do Sargento Mor João Furtado de Vazcomselloz que todoz forão avaliados em trinta e nove mil reiz per anno e as que forão do defunto Francisco Aranha Guedez se avaliarão em trinta e sinco mil reiz e depoiz somente existem servindo de armazens as logeaz que forão do dito Sargento mor João Furtado, e as de Francisco Aranha Guedez com menoz sete mil reiz do presso em que forão avaliadaz por tudo o mais ter passado para os armazens novoz que se fizerão no Collegio dos Regularez chamadoz Jezuitas. O referido passa na verdade em fé de que mandei passar a prezente per mim asignado Parâ 3 de Novembro de 1763 (Ass.) Claudio Antonio de Almeyda 10

[ III ] (Fl. 1) Nº 2 Conta de toda a dezpeza que fes o Almoxarife da Fazenda Real Bento de Figueiredo Tenreiro na factura de Armazens das Armas feyto em huma das logeas do Collegio desta cidade que foy dos Regulares da Companhia chamada de Jezuz Despendeo por ordem de 21 de Novembro de 1760 para o cayamento do dito armazem 4 pinceiz $960 4 servidorez $320 2$240 3 barriz $960 Ordem de 24 de Novembro de 1760 para as obras que se fizerão nas Cazas das Armas que recebeo o ajudante Deziderio Correa ----------30 alqueires de cal da terra ----------Ordem de 13 de Janeyro de 1761 pella qual despendeo para se continuarem as obras do concerto do Armazem das Armas, com o seguinte 30 alqueyres de cal da terra -----------Ordem de 19 de Janeyro de 1761 pella qual se despendeo para se continuarem as obras do dito armazem o seguinte 80 alqueyres de cal da terra -----------6 potes para agoa $600 Ordem de 6 de Fevereyro de 1761 pella qual despendeo para o perparo dos Armazenz e Cabides das Armas que se fazem no armazem do Colegio desta Cidade 500 pregos caybraiz 3$500 500 duzias de galiota grande 1$250 50 duzias de caverna 1$500 7$850 800 duzias de ripas 1$600 500 taxas de meya cabeça -------Ordem de 14 de Fevereyro de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem das Armas de Sua Magestade o seguinte 80 alqueyres de cal da terra --------300 pregos caybraiz 1$800 150 duzias de galiota grande $300 2$700 300 duzias de ripas $600 Ordem de 28 de Fevereyro de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem e Cabides das Armas o seguinte 60 pregos de meya caverna -------200 pregos caybraiz 1$280 1$520 150 duzias de ripas $240 ____________ 14$910 (Fl. 1v) Soma a lauda retro 14$910 Ordem de 12 de Março de 1761 pella qual despendeo para o Armazem das Armas o seguinte 500 tachas de meya cabeça ---------

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Ordem de 27 de Abril de 1761 pella qual despendeo para se acabar de preparar o Armazem das Armas de Sua Magestade O Seguinte 80 alqueyres de cal da terra --------900 pregos de meya galiota 1$800 900 pregos caybraiz 3$000 4$800 50 pregos de meya caverna -------Ordem de 5 de Março de 1761 se pagou ao mestre ferreiro Luiz Froyes como consta da folha do ultimo de Abril do dito anno de obras que fes para o Armazem das Armas o seguinte 10 limas grandes de rabo 12$000 50 pregos de rebite 1$000 3 feyxos pedreyros grandes 1$200 16$200 2 fichaduras mouriscas 1$600 25 argollaz grandez $400 Ordem de 19 de Mayo de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem das Armas 100 pregos caybraiz $640 150 ditos de meya galiota $240 $880 Ordem de 30 de Mayo de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem das Armaz o seguinte 200 pregos caybraiz 1$280 200 pregos de galiota grande $400 400 ditos de meya galiota $640 2$320 2000 taxas de meya cabeça -------Ordem de 18 de Junho de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem das Armaz o seguinte 400 pregoz caybraiz 2$560 700 pregos de meya galiota 1$120 3$680 Ordem de 13 de Junho de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem das Armas de Sua Magestade 250 pregos caybraiz 1$600 300 pregos de meya galiota $480 2$080 _______________ 44$870 (Fl. 2) Soma a lauda infronte 44$870 Ordem de 16 de Julho de 1761 pella qual despendeo para as obras do Armazem das Armas de Sua Magestade o seguinte 200 pregos de galiota $400 150 pregos de meya galiota $240 1$920 200 pregos caybraiz 1$280 Pella folha de pagamento do primeyro mes de Novembro de 1760 the o ultimo de Abril de 1761 consta pagar-çe por ella aoz officiaez que trabalharão no Armazem das Armaz que se deve em conta ao Almoxarife pello mandado de despeza de 15 de Setembro de 1761 que importa 3498106 2/3 Pello mandado de 10 de Outubro de 1761 consta pagarce 17 dias a Antonio Joze Lisboa oficial de pedreiro trabalho que fez no Armazem das Armas a 400 reis por dia 8$600 12

Pella folha de pagamento do 1º de Mayo de 1761 the o ultimo de Abril de 1762 Se ve della ter-ce pago por ella a quantia de 362$880 reis que se acha junto a dita folha mandado de pagamento de 2 de Junho de 1762 362$880 Pello mandado que se passou de pagamento ao mestre ferreiro Luiz Froes de 12 de Mayo de 1762 se acha a elle junto hum recibo do alferes Francisco Xavier de Brito que consta do seguinte para o Armazem das armaz Varriz grandez 2$400 Escapolas $900 3$300 774$756 2/3 _________________ Rezumo Emporta em dinheiro com se ve a margem 774$756 2/3 Em generos Cal da terra alqueyres 300 Taxas de meya cabeça 7500 Pregos de meya caverna 110 Todo o contindo asima examiney peloz mandadoz que se achão em poder do almoxarife da Real Fazenda Bento de Figueiredo Tenrreiro em cuja mâo me rreporto Bellem do Para 6 de Abril de 1763 (Ass.) José Antonio Viegaz ----------------------------------------------------------

[Isabel Mayer Godinho Mendonça]

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