AS MUDANÇAS NAS CAPAS DO JORNAL TRIBUNA SANJOANENSE NOS ÚLTIMOS 40 ANOS

June 6, 2017 | Autor: Alessandra de Falco | Categoria: Mídia Impressa, Imprensa regional, Planejamento Visual Gráfico
Share Embed


Descrição do Produto

AS MUDANÇAS NAS CAPAS DO JORNAL TRIBUNA SANJOANENSE NOS ÚLTIMOS 40 ANOS1 GAMA, Danielle da 2 - Graduanda em Comunicação Social - Jornalismo FALCO, Alessandra de 3 - Doutoranda em Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) – MG

Resumo Ao longo de toda a História da Imprensa podemos perceber a evolução da importância do Planejamento Visual Gráfico nos veículos noticiosos. Acompanhando os avanços tecnológicos e artísticos e as evoluções de ordem econômica e cultural, e ainda com as mudanças de perfil do público leitor, o design passou a receber crescente atenção por parte dos profissionais dos meios impressos. Este artigo busca ilustrar de que forma se deu a evolução do Planejamento Visual Gráfico nas capas do jornal Tribuna Sanjoanense, da cidade de São João del-Rei, durante cerca de 40 anos de sua circulação, considerando a crescente importância do design para os veículos de comunicação. Com base nas teorias do Planejamento Visual, o breve estudo mostra o uso dos recursos gráficos utilizados pelo jornal ao longo de sua existência. O trabalho se dirige a estudantes de Comunicação Social e busca ser uma contribuição na pesquisa no âmbito da imprensa local quanto aos usos e tendências do Planejamento Visual Gráfico. Palavras-chave: História da Mídia Impressa – Planejamento Visual Gráfico – Imprensa Regional.

1

Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013.

2 Estudante de Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Contato: [email protected].

3 Doutoranda em Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professora de Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Mestre em Comunicação pela Metodista. Contato: [email protected].

INTRODUÇÃO

Vasta literatura busca compreender e explicar os significados e usos que podem ser dados ao design. Para Newark (2009, p.6), o design gráfico “atua em nossas emoções e ajuda a dar forma a nossos sentimentos em relação ao mundo que nos cerca”. Samara (2010, p. 6) afirma que “o design também é comentário, opinião, ponto de vista e responsabilidade social. É acrescentar valor e significado”. O design também envolve uma área extremamente técnica, portanto sua evolução está diretamente ligada à aplicação de novas tecnologias. Assim, acompanhando a evolução tecnológica e as mudanças no perfil do público leitor, as teorias e técnicas do Planejamento Visual Gráfico aplicadas a veículos impressos foram sendo aprimoradas, de forma a dar à mensagem novos caminhos, em formatos inteligíveis, agradáveis e atrativos. Seguindo as tendências dos grandes jornais metropolitanos, também os jornais locais e de pequenas tiragens buscam se atualizar quanto às novas técnicas para atrair um público específico, frente a um acirramento da concorrência, tanto com jornais de circulação nacional ou regional, como com jornais locais. O jornal Tribuna Sanjoanense, nome fantasia da Editora Publicidade Sanjoanense Ltda., é um semanário editado e publicado na cidade de São João del-Rei - MG, circulando atualmente nas terças-feiras com tiragem de 8.000 exemplares, sendo 30% de vendas oriundas de assinaturas e 70% dos exemplares que são distribuídos gratuitamente. A Tribuna Sanjoanense foi fundada em 21 de março de 1969, no período da Ditadura Militar, e nasceu como órgão independente como se declara até hoje. Seus fundadores eram alunos do antigo Ginásio Santo Antônio, liderados por Eduardo de Araujo Brito, hoje jornalista responsável pela publicação. Este grupo lançou o periódico inicialmente com o nome Jornal de Minas, mas como havia um jornal homônimo em Belo Horizonte passou a adotar o nome de Tribuna Sanjoanense a partir de sua centésima edição4. Ao longo do tempo, o jornal buscou acompanhar a evolução do setor, em termos de 4

Informações disponíveis em: . Acesso em: 26/03/2013.

tipografia e uso de computação gráfica, investindo inclusive em uma versão online. Algumas edições do jornal hoje circulam em cores, sem uma periodicidade fixa.

METODOLOGIA

Segundo Robert Yin (2005) há três condições básicas para a escolha de uma estratégia de pesquisa: o tipo de pesquisa, extensão de controle que o pesquisador possui sobre os eventos e grau de enfoque dos acontecimentos contemporâneos em oposição a acontecimentos históricos. Para o autor, o estudo de caso é a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, e quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. Essa estratégia “permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real” (YIN, 2005, p.20), entre eles ciclos de vida, mudanças ocorridas, maturações, o que pode incluir alterações no planejamento visual gráfico de veículos de comunicação. Yin (2005) ressalta ainda que a investigação de estudo de caso, por ter muito mais variáveis de interesses, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta, mantendo prioridades à análise de dados. Daí vemos a importância da revisão da literatura aplicada a esta estratégia de pesquisa. Conforme Severino (2007), no estudo de caso a pesquisa se concentra na análise de um caso particular, considerado representativo de um conjunto de casos análogos (ou seja, que autoriza inferências). Já na pesquisa bibliográfica, o pesquisador trabalha a partir das contribuições de outros autores. Ainda segundo Severino, a pesquisa documental inclui os jornais, que “são ainda matéria-prima, a partir da qual o pesquisador vai desenvolver sua investigação-análise” (SEVERINO, 2007, p.123). Este trabalho visa responder a questão: Como se deu a evolução do Planejamento Visual Gráfico nas capas do jornal Tribuna Sanjoanense? De acordo com as características do corpus de análise, as versões impressas do jornal disponíveis no acervo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d’Almeida, a pesquisa é realizada com foco em

fenômenos reais. Por isso, foi selecionado o método de estudo de caso amparado por pesquisas bibliográficas e pesquisa documental, representadas pela análise de exemplares do jornal publicados durante o período de 21/03/1969 até os dias atuais, além de entrevista com profissional que representa o veículo noticioso.

REFERENCIAL TEÓRICO

JORNALISMO REGIONAL

A imprensa no interior apresenta algumas singularidades que precisam ser levadas em conta em uma análise, como critérios de noticiabilidade próprios, modos de operação distintos dos propagados na academia e limitações econômicas. Muitas vezes, ela apresenta ainda limitações políticas, pelo seu vínculo direto ou indireto com a esfera do poder público municipal, reproduzindo em seu microcosmo a estrutura de dominação às vezes mascarada que existe mesmo nos grandes veículos de massa. Conforme Pacheco (2009, p. 31), “em um cenário basicamente globalizado, parece contraditória a ideia da regionalização jornalística, mas foi exatamente a partir da instalação da ‘aldeia global’ que o Jornalismo Regional encontrou estímulo”. Nogueira (2009, p.8687) afirma: “O importante é ser capaz de participar de forma direta e indireta do desenrolar dos fatos cotidianos (do local onde vivem). E foi com esse intuito que empresas jornalísticas se instalaram nos interiores do país”. Apontando as limitações da imprensa local, no entanto, Martins e Silva (2009, p.111) afirmam: “O jornalismo de interior ainda está preso à promiscuidade entre imprensa e poder, tendendo a ser opinativo e pouco imparcial”. Além disso, há, segundo os mesmos autores, uma resistência dos proprietários dos veículos em contratar profissionais formados, o que impediria a mudança de perfil do jornalismo regional, que permanece amador. Ainda assim, conforme ressalva Pacheco (2009), o jornalismo regional tem um caráter de extrema importância por assumir a identidade de um determinado grupo, mobilizar a comunidade em torno de problemas, convidar e incentivar a participação em eventos e decisões, e servir como registro histórico da comunidade, devido a sua

proximidade dos moradores, abordando os temas que lhes interessam diretamente, incluindo e não se esgotando em: festas e manifestações culturais, decisões políticas, oportunidades e contextualização local de fatos nacionais. Silva e Oliveira (2009, p.167) também apontam a séria responsabilidade e importância dos jornais regionais, atestando a relevância de estudo deste âmbito da Comunicação Social: o jornalismo regional torna a cidade verdadeiramente conhecida pelos próprios habitantes. Faz com que os leitores conheçam a história e a importância do município em relação às outras regiões do país. Preservar costumes e culturas é um papel a ser desempenhado pela mídia regional. (...) a valorização da produção regional é mais do que a preservação da cultura, é uma estratégia de fomento à democracia cultural e respeito às características regionais.

PLANEJAMENTO VISUAL GRÁFICO

A importância do Planejamento Visual Gráfico na imprensa se relaciona diretamente à hierarquia da informação e sentidos das mensagens informativas. Segundo Lupton (2006, p.63): os designers abrem caminhos para dentro – e para fora – do fluxo de palavras, quebrando o texto em partes e oferecendo atalhos e rotas alternativas através da massa de informação. De um simples recuo (que sinaliza a entrada para uma nova ideia) a um link destacado (que anuncia um salto para outro local), a tipografia auxilia os leitores a navegarem pela correnteza do conteúdo.

A hierarquia “ajuda os leitores a localizarem-se no texto, sabendo onde entrar e sair e como selecionar algumas de suas ofertas”. (LUPTON, 2006, p. 94). Conforme Hurlburt (1986, p. 94), “o conceito, a ideia, ocupa a posição central da síntese do design” e juntos, todos os demais elementos, “constituem a base sobre a qual as palavras e as imagens podem ser organizadas de modo a ser obtido um layout de real valor”. Assim, a organização do material – o design – agrega significado e inteligibilidade às palavras e imagens. É como um grande quebra-cabeça. “Todos os elementos do design –

o tamanho da página, o espaço, o folio, a legenda, a passagem de texto, a imagem – tornamse repletos de significados à medida que são organizados, peça por peça” (NEWARK, 2009, p.100). A evolução do design é indissociável da evolução tecnológica. Segundo Cardoso (2008), o design é fruto de três grandes processos históricos que ocorreram de modo interligado e concomitante em escala mundial: a industrialização, como reorganização da fabricação e distribuição de bens para abranger um leque cada vez maior e mais diversificado de produtos e consumidores; a urbanização moderna e a globalização. “Esse grande meta-processo histórico pode ser entendido como um movimento para integrar tudo com tudo” (CARDOSO, 2008, p.22-23). Com isso, seguiu-se uma aceleração da modernização dos veículos noticiosos. “Entre as mercadorias cujo consumo mais se expandiu no século XIX estão os impressos, pois a difusão da alfabetização nos centros urbanos propiciou um grande aumento de número do público leitor” (CARDOSO, 2008, p. 47). Ainda conforme Cardoso (2008, p.108), no início do século XX a renovação e o dinamismo da imprensa coincidiram com os esforços oficiais pela modernização do país: Com o crescimento das metrópoles brasileiras surgiu um novo público consumidor para impressos de todos os tipos. Além da expansão do mercado e sua reorganização empresarial, a década de 20 também foi palco de importantes transformações tecnológicas que acarretaram a atualização do parque gráfico.

Nas décadas seguintes e até a metade do século passado, o surgimento de novas mídias como rádio e cinema forçou a imprensa a dar uma maior atenção ao planejamento visual de veículos de comunicação. Os textos passaram a demandar o complemento de fotografias, para se tornarem mais atrativos. Além disso, a lógica do “novo jornalismo” postulava a objetividade como máximo valor e a fotografia era considerada a melhor forma de retratar fielmente uma realidade. Nas últimas décadas, segundo Cardoso (2008, p.240), presenciamos a evolução das tecnologias digitais e as alternativas que estas trouxeram com relação à diagramação e à tipografia:

Com o aparecimento de plataformas operacionais, como os sistemas Macintosh e Windows, tornou-se não somente possível, como simples e barato, manipular fontes, espacejamento, entrelinhamento e uma série de outros elementos gráficos que antes eram domínio quase exclusivo do tipógrafo profissional.

ELEMENTOS DO DESIGN

1) Imagem

Conforme Cardoso (2008), a fotografia começou a ser utilizada na imprensa na década de 1880 e a suplantar a gravura como método de reprodução de imagens em jornais na década seguinte. Mas ela só veio a se tornar normativa em pleno século XX. Já o uso da fotografia colorida em jornais só se tornou corriqueiro nos últimos 10 a 15 anos. Para Freund (2008) foi a mecanização da reprodução e o aperfeiçoamento das objetivas que abriram o caminho para a fotografia de imprensa, mudando a visão das massas. Para a autora, até então o homem comum só podia visualizar os acontecimentos que ocorriam em sua rua e comunidade, já a partir do uso da fotografia na imprensa abriuse uma janela para o mundo. O uso da fotografia em grande destaque e o uso da cor foram possibilitados em suma pelas melhorias técnicas ocorridas na transição entre os séculos XIX e XX, tornando os jornais mais versáteis e as narrativas mais ricas em diagramação. Nas décadas de 20 e 30 o advento do “novo jornalismo” e a busca pela “objetividade jornalística” deram ainda mais destaque para as fotografias como imagens muito próximas dos acontecimentos. “A fotografia se ajustou a uma nova necessidade ideológica e teórica. Era despersonalizada e oferecia objetividade”, porém, esta “objetividade’ e a ‘autenticidade’ da fotografia são exageradas, já que descobrimos que ela pode ser tão subjetiva e emotiva quanto qualquer desenho” (NEWARK, 2009, p.90). Após a segunda metade do século, essa importância cresceu ainda mais, e textos passaram a “precisar” de fotos, sendo que a fotografia chegou a um nível de técnica que passou a ressignificar o texto com imagens poderosas, com a informatização trazendo

novas linhas e uma diagramação mais limpa para as páginas. De acordo com Samara (2010), quando se conjugam imagens-fotografias e texto, através das palavras são apresentadas ao observador novas experiências, e o significado da imagem será o significado composto que inclui todas as informações adquiridas ao longo da sequência. Para Newark (2009), o grande salto no uso da fotografia moderna foi a montagem, que intervém na imagem. A versão atual disto é o recorte, “que tira a fotografia do seu fundo, tornando-a um elemento que pode ser combinado com outros elementos gráficos equivalentes como tipo, fios e formas, e imbuindo-a de potência gráfica” (NEWARK, 2009, p.92).

2) Tipografia

A tipografia é elemento essencial no Planejamento Visual Gráfico. Atualmente muitas empresas jornalísticas utilizam de tipos personalizados para caracterizar ainda mais suas publicações dentre todas as outras. Este processo não é novo. Newark (2009) afirma que as primeiras fontes eram uma forma de marca. No decorrer da história, o uso da tipografia ganhou sofisticação. Lupton (2006) aponta como primórdios da atividade tipográfica os caracteres que eram recolhidos de pesadas gavetas cheias de unidades manufaturadas, comparando-os ao acesso dos caracteres pelo teclado e mouse na era digital. Nessa linha evolutiva, “o espaço tornou-se mais líquido e menos concreto e a tipografia evoluiu de um corpo estável de objetos para um sistema flexível de atributos” (LUPTON, 2006, p.69). Essa flexibilidade permite aos designers manipularem e planejarem o uso de fontes de forma a melhor aderir à mensagem pretendida às características do público leitor. O estudioso de comunicação Walter Ong, citado por Lupton (2006, p.67), frisa a importância subjetiva da tipografia: a impressão tipográfica do alfabeto, no qual cada letra era moldada em uma peça isolada de metal (o tipo) foi uma revolução psicológica de primeira ordem. A impressão situa as palavras no espaço com uma fixidez

que a escrita nunca atingiu. Se a escrita transportou as palavras do mundo do som para o mundo do espaço visual, a impressão fixou sua posição nesse espaço.

Ainda segundo Lupton (2006, p. 73), “ao redefinir a tipografia como ‘discurso’, implicou-se a dicotomia entre ver e ler”. No final dos anos 90, surge o leitor usuário, a partir das interações homem-computador, e com sua habituação à linguagem não linear, leitura de ícones e novos padrões, o uso do texto tornou-se mais importante que seu significado.

3) Recursos

Além dos elementos básicos apresentados, há uma ampla gama de recursos que podem ser utilizados no Planejamento Visual Gráfico de um veículo impresso. Jornais utilizam de recursos como Cabeçalhos, Boxes, Chapéus, Bigodes, Legendas, Fios, Colunas, além das escolhas essenciais quanto a alinhamento, brancos e posicionamento dos elementos visuais, dentre outros. “Fios, barras, caracteres, ornamentos e outros dispositivos são usados para auxiliar na organização e no esclarecimento de divisões e associações dentro de um texto” (NEWARK, 2009, p.82). Hurlburt (1986, p.94) afirma que: “o processo de design e de layout é algo um pouco mais amplo do que simples arranjo de elementos na página impressa. Um design só pode ter resultado feliz se constituir a síntese de todos os dados úteis, traduzidos em palavras e imagens e projetados de forma dinâmica”. Esse resultado bem elaborado sempre tem um significado intencional. Segundo Samara (2010), os formatos, linhas, palavras e imagens, não importa o quão abstrato sejam, transmitem significado. Quanto ao layout de uma página, expõe que a organização do conteúdo deve estar de acordo com o formato e os requisitos das informações apresentadas. A seleção das imagens e dos estilos de tipografia devem combinar em termos de estilo; a organização de tipografia e imagens deve estar relacionada visualmente; e sua composição dentro do espaço do formato deve fortalecer as associações mais aparentes no conteúdo das imagens e do texto.

Conforme Hurlburt (1886, p. 67), “o design é tanto um ato de marcar como de espaçar”, lidando não apenas com a textura positiva das letras, mas com os espaços negativos entre elas e ao seu redor.

ANÁLISE

Até 1996 a Tribuna Sanjoanense foi impressa no local onde funciona hoje a redação do jornal. Hoje ele é impresso em Petrópolis – RJ. Na redação do veículo em São João delRei o seu editor e jornalista responsável, Eduardo de Araujo Brito, confecciona o espelho e o envia, junto dos textos prontos, para a uma empresa de Juiz de Fora – MG que elabora o projeto gráfico. Algumas edições são publicadas em cores, mas sem regularidade. O jornalista responsável informa que isso só é possível quando a receita de publicidade permite, já que 70% dos exemplares da Tribuna são distribuídos gratuitamente. Esta análise se deu a partir dos exemplares disponíveis no acervo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano D’Almeida, sendo assim possível expor as considerações de forma cronológica. Em suas primeiras edições é possível notar um texto denso, em uma página com poucos brancos e letras grandes. Não há fios para separar colunas e a página abriga por vezes até 9 manchetes, sem anúncios. Há fotos desde o primeiro número. Há variações na tipografia, dentro de uma mesma edição, como estratégia de diferenciação: itálicos, negritos e tamanhos de fontes são usados para destacar as diferentes matérias.

Imagem 1 – Primeira edição (ainda como Jornal de Minas)

Não há uma regularidade em relação ao grid de colunas, de uma edição para outra. Em junho de 1970 ocorre mudança na gráfica, conforme anunciado no próprio jornal. É nítida a mudança gráfica, quando nota-se a inserção de fios e boxes separando anúncios e destacando colunas. Começa a haver uma maior clareza, com uso de tipos de forma mais regular, inclusive sem haver tanta variação nos tipos utilizados nos títulos, como havia nas primeiras edições. A distribuição de colunas também passa a ser mais regular. Já no fim da década de 70, é possível perceber um padrão constante na distribuição das colunas na página: é inserida ilustração do tipo charge, na parte inferior da página, onde também se encontram anúncios. Na parte superior, a página é dividia em 5 colunas. Esta regularidade só será quebrada no fim de 1979, quando são retiradas as charges, permanecendo a coluna “Última Hora”, sempre à esquerda da página, colocada na direção vertical, e mais quatro colunas verticalmente, com pequenos boxes na parte inferior. O que é possível ressaltar é que há uma grande quantidade de notícias na capa, o que ocasiona uma confusão visual. Além da coluna fixa “Última Hora”, há mais quatro colunas.

Imagem 2 - Padrão da página entre 1977 e 1978 (com uso de charges)

A década de 80 é a que ilustra uma maior regularidade no Planejamento Gráfico da Tribuna. Permanece a coluna fixa à esquerda, sendo a seção superior da revista reservada para manchetes e a inferior para anúncios. Reduz-se o número de manchetes e cresce o número de anúncios, sempre separados por fios e boxes. No fim da década, fios grossos e finos separam manchetes, e há menos anúncios. Há em uma mesma edição até 10

manchetes. Ocorre nesta década um padrão nas fontes utilizadas dentro da mesma edição, o que imprime uma maior harmonia à página. Não há a miscelânea de antes, e o negrito é usado como diferenciação para os títulos. Comparando os textos condensados das primeiras décadas com uma distribuição mais clara na década de 80 podemos verificar como é importante o uso equilibrado de brancos, a regularidade na distribuição das colunas e a parcimônia no uso das fontes para uma leitura mais agradável e melhor guiada, muito embora em grande parte das edições ainda tenha ocorrido um excesso de informações na capa. Por ser um jornal de reduzido número de páginas (de 4 a 6), a Tribuna acaba por veicular muitos anúncios e matérias na capa, tirando desta página sua função de orientar uma leitura que se encontre dentro do veículo. Já na década de 90, percebemos um uso maior de brancos. Embora haja o mesmo número médio de manchetes da década anterior, o texto é menos denso e são mais destacados uns dos outros, quer seja pelos brancos da página, quer seja pelo uso de fios. Tal disposição facilita a identificação e leitura dos conteúdos. A partir de julho de 1991 há uma modernização do design, com imagens de perceptível maior qualidade. Ainda nesta década, há mais fotos e ocorre significativo aumento no tamanho das fontes. É de se destacar o anúncio, na edição de março de 1991, de uma mudança editorial devida ao aumento no número de assinantes. Já em 1992, reduz-se o tamanho das fontes, o que dificulta a leitura. Há grande quantidade de manchetes, em grid de 6 colunas dispostas verticalmente, sendo até 7 matérias e 5 notas ou propagandas distribuídas na página em tamanhos e alturas diferentes. Imagem 3 - Padrão de páginas na década de 90

No entanto, não há uma regularidade na diagramação das capas desta década. Alguns exemplares apresentam letras muito pequenas, e o texto apresenta-se denso. Em fins da década de 90, a Tribuna volta a fazer uso de diferentes fontes nas manchetes de uma mesma edição e vemos pela primeira vez o uso de gráficos. Há uma menor quantidade de informações na capa, a coluna “Umas e outras” está agora dentro do jornal e ele passa a ter 6 páginas. Usam-se também bigodes em itálico. Em maio de 2000 temos uma edição em cores, noticiando as comemorações do Descobrimento do Brasil, e há outras edições em cores a partir de então. Atualmente a Tribuna apresenta capas de grande qualidade visual. A parte inferior em geral é utilizada para anúncios e a parte superior para as matérias, com manchetes em negrito e textos que utilizam o mesmo padrão de fontes. Fotografias aparecem em cores em algumas edições. Nota-se a busca de uma padronização em todas as edições e um layout mais claro: usa-se brancos, intertítulos, e quando ocorre mais de duas manchetes são usados fios par compor boxes para as matérias mais curtas, de modo a não sobrecarregar visualmente a página.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível perceber nessa análise alguns pontos que ilustram os usos possíveis dos recursos gráficos e a melhora na qualidade visual da construção de uma página de capa. A regularidade no uso de recursos nas versões mais modernas da Tribuna tornam o jornal mais organizado, limpo e arejado. Segundo Freire (2009) recursos como alinhamento, repetição, proximidade, contraste e balanço trazem à página uma hierarquia mais nítida e maior visibilidade. Para Samara (2010), com o uso dos tipos e alinhamentos, criamos ritmo e sequência, que devem ser coerentes à hierarquia das informações, marcando pontos visuais que mantenham a atenção do leitor. O uso de diferentes tipos de fontes, com o intuito de destacar as manchetes entre si e entre elas e os demais textos, no intuito de demarcar e atrair, torna a página confusa. Segundo Freire (2009), a mistura de fontes e tamanhos não se dava apenas por escolha do

tipógrafo mas por limitações técnicas, como a falta de letras de mesma fonte. O autor explica que os caracteres, após impressão, seriam reutilizados em outras páginas e se mais de uma página fosse composta ao mesmo tempo, isso obrigava à variação das fontes, principalmente nos títulos, já que as demais páginas podiam ser impressas por linotipos. Hoje há uma maior parcimônia no uso das fontes na Tribuna, proporcionando maior legibilidade. As capas tornam-se visualmente mais harmônicas quando apresentam menos informações, com grids de colunas regulares, e visualmente atrativas com o uso de fotografias. Segundo Ribeiro citado por Lima e Falcão (2010, p.8), a capa é o “cartão de visitas” da publicação, oferecendo “ao público o primeiro elemento de atração e de julgamento”. Por fim, considera-se que o estudo dos aspectos do Planejamento Visual Gráfico e o uso apropriado de seus recursos é importante por permitir sobremaneira aumentar a qualidade da leitura do veículo, com melhor identificação do seu conteúdo e seus diferentes pesos, portanto de forma mais funcional.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à História do Design. 3 ed. São Paulo: Blucher, 2008. FREIRE, Eduardo Nunes. O design no jornal impresso diário: do tipográfico ao digital. Revista Galáxia. São Paulo, n. 18. P. 291-310. Dez. 2009. Disponível em: . Acesso em: 15/04/2013. FREUND, Gisele. La fotografía como documento social. Barcelona: Gustavo Gilli, 2001. HURLBURT, Allen. Layout: o design da página impressa. São Paulo: Nobel, 1986. LIMA, Lídia Farias; FALCÃO, Norton. A Ilustração no projeto gráfico das capas da revista Piauí. Universidade Federal de Fortaleza (UFC) - Fortaleza, 2010. Disponível em: Acesso em: 29/04/2013. LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: Guia para designers, escritores, editores e estudantes.

São Paulo: Nobel, 2006. MARTINS, Salvador Lopes; SILVA, Esdras Domingos da. A cara do jornalismo no interior. In: BOMFIM, Filomena Maria Avelina; PACHECO, Roni Petterson M. (Org.). Tom Regional: a voz dos filhos da terra. Arcos: Centro-Oeste, 2009. NEWARK, Quentin. O que é design gráfico? Porto Alegre: Bookman, 2009. PACHECO, Roni Petterson de Miranda. A importância dos jornais laboratório da PUC Minas para o exercício do jornalismo regional. In: BOMFIM, Filomena Maria Avelina; PACHECO, Roni Petterson M. (Org.). Tom Regional: a voz dos filhos da terra. Arcos: Centro-Oeste, 2009. SAMARA, Timothy. Elementos de Design: Guia de Estilo Gráfico. Porto Alegre: Bookman. 2010. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007. SILVA, Claudia Cristina da; VIEIRA, Susana Oliveira. Cartas do leitor: o caráter histórico da revista “a par” em revista. In: BOMFIM, Filomena Maria Avelina; PACHECO, Roni Petterson M. (Org.). Tom Regional: a voz dos filhos da terra. Arcos: Centro-Oeste, 2009. YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman. 2005.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.