As mulheres e a pré-história

Share Embed


Descrição do Produto

Publicado em A mulher rupestre, Representações do feminino nas cenas rupestres de São Raiumundo Nonato – Piauí, Michel Justamand, Embu, Alexa Cultural, 2014, ISBN 9788563354290, pp. 11-12. As mulheres e a Pré-História

A História foi definida, por muito tempo, como o registro escrito do passado. A História, portanto, estava fundada nos relatos e narrativas preservadas pela escrita. Desde sua invenção, há mais de cinco mil anos, a escrita foi o apanágio de poucos letrados, algo que só mudou nos tempos mais recentes, com a generalização da escola. Quem escrevia eram apenas os varões abastados, de início só os escribas. Mesmo no mundo romano, o mais alfabetizado antes do século XIX, calcula-se que menos de dez por cento da população soubesse escrever. O Iluminismo, desde o século XVIII e a criação do moderno estado nacional viria almejar a alfabetização de massa, mas foi apenas no século XX que isso se tornou realidade na maioria dos países. No Brasil, por diversos motivos, tardaria até meados do século XX para que mais da metade da população soubesse ler e escrever. Isso tudo significa que o registro histórico foi muito seletivo até pouco atrás e exclui grandes maiorias. A Arqueologia, por outro lado, surgiu para registrar o que foi produzido e usado por todas as pessoas, da mais poderosa à mais humilde. A Arqueologia, neste aspecto, desde seus começos, no século XIX, estava propensa a dar voz àqueles que não conseguiam acesso ao registro escrito. A Arqueologia permitiu, também, o acesso a um passado muito mais distante no tempo, sem a limitação do registro escrito. Por convenção universal, esse passado sem registros escritos foi denominado de Pré-História, a partir da definição tradicional da História ligada à documentação escrita. Esse passado sem limitações no tempo e no espaço e livre dos constrangimentos da escrita permite tratar de temas variados e amplos em todos os sentidos. Este volume procura, à sua maneira, tratar do passado mais antigo, por meio da Arqueologia, e o faz também a partir de um tema da mais alta relevância: as mulheres. Elas estiveram, desde sempre, no cerne da sociedade humana, mas foi apenas a partir dos movimentos pelos direitos das mulheres e, depois, do feminismo, que elas passaram a figura como objeto de estudo valorizado. As pinturas rupestres de São Raimundo Nonato, no Piauí, constituem um tesouro único. Graças à atuação ousada e pioneira da Niède Guidon e seus associados, desde a década de 1970 há um estudo dessas representações que atestam o imenso poder simbólico dos antigos habitantes do que viria a ser o Brasil. Michel Justamand dedica-se ao estudo das pinturas rupestres de São Raimundo Nonato, tema do seu doutoramento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação de Edgar de Assis Carvalho. Brinda-nos, neste volume, com um estudo monográfico sobre as representações antropomórficas do feminino no Piaui. O leitor acompanhará uma narrativa empolgante, salpicada por imagens marcantes. Leitura que a todos beneficiará.

Pedro Paulo A. Funari Professor Titular do Departamento de História Coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais – Nepam

Unicamp

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.