As negociações para o início da Base das Lajes

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JORNAL DA PRAIA | EFEMÉRIDE

19 | Agosto | 2016

AS NEGOCIAÇÕES PARA O INÍCIO DA BASE DAS LAJES HISTORIADOR FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRIA

Há exatos 73 anos, a 17 de agosto de 1943, era assinado o Acordo das Lajes, depois de meses de negociação entre uma Inglaterra ansiosa e um Portugal Salazarista fechado, em plena II Guerra. A 1 de setembro de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polónia, Portugal declarou a sua neutralidade, mas confirmou a manutenção da velha Aliança com a Inglaterra. Neste período, a 1ª fase da guerra, a neutralidade portuguesa interessava a todos os beligerantes. A 2ª fase da guerra caracterizou-se por uma significativa mudança no conceito de neutralidade portuguesa. Esta fase decorreu entre junho de 1940 e junho de 1941, marcando o período de maior perigo à manutenção da neutralidade de Portugal, com os alemães estacionados nos Pirenéus. Os comandantes alemães prepararam, por isso, a “Operação Félix”, que previa, entre outras coisas, a ocupação de Portugal, com o objetivo de isolar a Inglaterra, mas Adolf Hitler decidiu a viragem da Guerra a Leste, com a Operação Barbarossa, o que alterou a situação de Portugal. Neste período, a ameaça sob a nação portuguesa era forte, por isso Salazar constatou que era importante proteger os Açores, devido, essencialmente, à sua importância geográfica significava para as partes em conflito. Salazar começou a enviar, em maio de 1941, militares em massa para o Arquipélago açoriano. A construção do novo Aeródromo, nas Lajes, decorreu sob as ordens do Subsecretário de Estado da Guerra, Santos Costa, que enviou o então Major-Aviador Humberto Delgado para acompanhar o projeto, entregando ao capitão Magro Romão, a execução das obras. Este Aeródromo passou a chamar-se Aeródromo das Lagens, por determinação do Ministro da Guerra a 13 de junho de 1942. Entre abril de 1943 e junho de 1944, a II Guerra foi marcada pela expulsão das forças do Eixo do Norte de África e PUB

pela abertura de uma 2ª frente na Europa Ocidental, com o desembarque da Normandia. Neste período, a Batalha do Atlântico atingiu o seu apogeu, com perdas enormes para os comboios Aliados. A zona dos Açores era, por isso, apelidada de “Azores Gap”, de Black Hole ou Black Pit. Os Açores ganharam novo relevo quando se percebeu que esta zona permitia uma viagem mais rápida entre as duas margens do Atlântico. Na Cimeira de Trident, em maio de 1943, discutiu-se a possibilidade de invasão dos Açores. Nesta Cimeira, os britânicos pediram para que a invasão dos Açores fosse executada apenas por forças militares britânicas, a chamada Operação Brisk. Contudo, Anthony Eden, do Foreign Office (FO), defendia a via da negociação com Portugal, afirmando que o pedido seria feito em junho, e mesmo que a resposta fosse negativa, a Inglaterra tinha tempo s u f i ciente para preparar operação Brisk, que só estava prevista para agosto. Assim, obrigou Churchill a ceder. Assim, a 7 de junho de 1943, o FO estipulou que se apresentasse, um pedido para a cedência de bases nos Açores, apesar de se terem iniciado os preparativos militares para a Operação Lifebelt (nome dado à operação final de invasão dos Açores). O pedido oficial britânico para cedência de facilidades nos Açores foi efetuado pelo Embaixador da Inglaterra em Lisboa, R. H. Campbell, no dia 18 de junho. A Inglaterra solicitava a cedência de Bases nos Açores para o emprego de aviões e de navios de superfície. O pedido britânico foi feito em nome da velha Aliança luso-britânica de 1373. Salazar sabia que a sua

recusa em negociar com os britânicos a cedência de facilidades nos Açores, poderia originar problemas para Portugal. A 23 de junho de 1943, Salazar aceitou iniciar as conversações, mas que estas só começariam com a promessa formal de retirada, logo no fim das hostilidades, das tropas britânicas que se encontrassem nos Açores, bem como garantias relativas à integridade territorial de todas as colónias portuguesas. Assim, em julho, após as garantias dadas pelo Governo britânico, deu-se início às negociações, em Lisboa. Os britânicos perceberam, logo, que Portugal tinha uma visão muito limitada das negociações. C. E. H. Medhurst, Vice-Marechal do Ar e coordenador militar das negociações. Os britânicos estavam com medo das reticências de Portugal, que não se most r a v a disposto a abrir nenhum precedente. Contudo, as negociações começaram a 5 de julho, com um Portugal muito fechado, com medo de se envolver na guerra. Armindo Monteiro, Embaixador de Portugal no Reino Unido, foi essencial para se transpor os obstáculos levantados pelo Governo de Salazar. Os “Chief of Staff” (COS) britânicos viram com bons olhos, a atitude positiva do Governo português e, a 13 de julho, ordenaram que a Operação Lifebelt fosse desmobilizada e que se constituísse uma nova força para instalar dois esquadrões de Fortress nas Lajes. Com uma crescente atitude benevolente do Governo Português, o COS, a 26 de julho, alargou a data limite do desembarque britânico para 15 de setembro, dando mais espaço de manobra ao FO para negociar com Portugal. Contudo, Salazar assumiu uma

atitude de força e negou o desembarque na data prevista. Após pressão britânica, Salazar viu-se obrigado a ceder, contrapondo a data de 8 de outubro, imediatamente aceite pela Inglaterra. A concessão de facilidades nos Açores foi oficializada a 17 de agosto de 1943, através de uma troca de notas diplomáticas. O Acordo relativo ao uso de facilidades nos Açores, previa o desembarque a partir de 8 de outubro. Pelo Acordo dos Açores, a Inglaterra obtinha, entre outras coisas, a “utilização das facilidades do pôrto e baìas da Ilha Terceira, necessária ao abastecimento e manutenção do campo das Lagens. A protecção dos navios mercantes, britânicos ou Aliados, a êsse fim destinados, será dado por navios de guerra e aviões da Comunidade Britânica”. Além disso, foi permitido, a “utilização sem restrições do campo das Lagens, na Ilha Terceira, pela aviação da Comunidade Britânica” e que “o Govêrno Português continua a ter a seu cargo a defesa marítima, terrestre e aérea dos Açores, com excepção da defesa próxima do campo das Lagens, que será assegurada por fôrças britânicas”. Estava assim dado o mote para a presença britânica na Ilha Terceira. Como contrapartida do Acordo, Portugal receberia apoio para a sua defesa em caso de ataque (declaração de intenções), assim como armamento e proteção aos navios portugueses. A Base das Lajes foi um dos ex-libris económicos da Praia da Vitória durante décadas, agora com a diminuição da presença estrangeira na Ilha, o Concelho foi abalado na sua estrutura socioeconómica. O Governo Regional dos Açores criou o Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira (PREIT), que pretende fomentar a economia praiense e incentivar a evolução da sociedade praiense. É necessário que todos nós procuremos ter força e garra para apostarmos no futuro, em novos projetos, pois o município da Praia da Vitória precisa que todos os praienses não se escondam nas dificuldades que a crise apresenta, mas que procurem novos caminhos, pois remar contra a maré não é fácil, mas é preciso e possível! A Praia precisa de todos nós!

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