As Oito Cruzadas

May 30, 2017 | Autor: Silas Carmo Teixeira | Categoria: Medieval History, Historia, Historia Medieval, As Cruzadas
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As Oito Cruzadas
Silas Carmo Teixeira
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Resumo:
Segundo a definição tradicional, as cruzadas foram expedições organizadas com o objetivo de reconquistar Jerusalém das mãos dos "infiéis" (que encontrava sobre o domínio dos turcos) que antes do século Xl era cidade de constante peregrinação pelos cristãos; essas expedições tinha caráter militar e ocorreu especialmente nas regiões da Síria e Palestina, entre os séculos Xl e XlI, e na Península Ibérica, entre os séculos VIII e XV; no total foram oito cruzadas, ambas organizadas em épocas e por pessoas diferentes, muitas vezes quase todos com o mesmo objetivo de reconquistar Jerusalém, expandir a fé cristã e lutar contra o inimigo da fé.
Levando em conta todo o contexto da época, quais foram os motivos iniciais para causar essa mobilização? Havia outros motivos além da conquista de Jerusalém que moviam as pessoas a se juntarem em tais expedições? E quais tipos de grupos militares atuavam nessas cruzadas? Para responder a essas perguntas e preciso entender e conhecer melhor o que ocorria na Europa nesse momento e as motivações que impulsionaram os cristãos a se envolverem neste fato. Assim iremos analisar dentro desse contexto, os motivos que levaram a igreja e os nobres a mobilizarem essas expedições, e se essas expedições tiveram os mesmos objetivos; iremos usar como base os artigos "Cruzadas na idade média" Fatima Regina Fernandes; "O discurso da dissensão e da união nas cruzadas no oriente" de João Vicente de Medeiros e André Luiz Bertoli; "Cruzadas" de Onéas Sales, Fábio Silveira e Joaldo Moraes além do discurso do papa urbano ll para a convocação das cruzadas.

Palavras chave: Cruzadas, Cristianismo, Guerra.

Os motivos
Antes do século Xl os cristões eram "livres" para peregrinações em Jerusalém, mesmo as terras não sendo pertencentes a igreja e a Europa, mas no final do mesmo século essa liberdade havia mudado, no ano de 1701 a terra santa foi tomada por turcos otomanos que apesar de serem muçulmanos, eram intolerantes com a fé cristã, não permitindo peregrinações e cultos cristãos em suas terras. Como consequência a igreja teve que intervir, o Papa Urbano ll teve um dos papeis fundamentais para mobilização dessas pessoas, o mesmo fez um discurso com intenção de impulsionar e incentivar a população a tomarem alguma providência, a lutarem contra os infiéis e recuperar a terra santa; no discurso ele fala com desprezo dos povos orientais ajudando a criar uma certa rivalidade da população para com eles (esse desprezo já havia tomado forma antes mesmo das cruzadas, por parte dos mesmos com o povo judeu, o antissemitismo era frequente nessa época), nesse discurso o papa monta um argumento maniqueísta, pondo os orientais como inimigo da fé cristã (o bem) pondo eles como o mau;
"Ouvimos sobre uma raça de homens saídos de presença profana e falta de fé. Turcos, Persas, Árabes, amaldiçoados, estranhos a nosso Deus, que devastam por fogo ou espada as muralhas de Constantinopla, o Braço de São Jorge." (Fragmento do discurso de Urbano II no Concílio de Clemont, 1095).
No mesmo discurso o Papa fala com indignação da invasão de Constantinopla pelos turcos;
"Até hoje, por misericórdia do Supremo, Constantinopla foi nossa pedra, nosso bastião de fé em 3 território infiel. Agora essa sagrada cidade encontra-se desfigurada, ameaçada. Quantas igrejas esses inimigos de Deus poluíram e destruíram? Ouvimos de altares e relíquias sendo dessecrados por sujeira produzida por corpos Turcos." (Fragmento do discurso de Urbano II no Concílio de Clemont, 1095).
Em seguida o papa também fala especificamente dos horrores que se passa no solo santo ao comando dos turcos, os demonizando, tornando-os inimigos da fé cristã, transformando eles em inimigos dos europeus;
"Turcos abrem com lâmina da espada as barrigas dos verdadeiros seguidores, em busca de peças de ouro ingeridas e assim escondidas. Espalham e retalham entranhas mostrando assim o que a natureza manteria secreto. Tudo a procura de riquezas ou por prazer insano. Turcos perfuram os umbigos dos fiéis, amarram suas tripas a estacas e afastam os Cristãos, prendendo-os com cordas a outro poste, de forma a que vejam suas próprias entranhas endurecendo ao sol, apodrecendo e sendo consumidas por corvos e vermes. Os Turcos perfuram irmãos na fé com setas, fazem dos mais velhos alvos móveis para seus malditos arcos. Queimam os braços e pernas dos mártires até o negro e soltam cães famintos para os devorar, ainda vivos." (Fragmento do discurso de Urbano II no Concílio de Clemont, 1095).
No final do discurso o Papa convoca a população a participarem da peregrinação, montando o argumento de que os verdadeiros cristãos lutaram contra os infiéis obtendo assim a gloria de Deus, legitimando a guerra contra os turcos como justa, pois os mesmos são uma ameaça a fé.
"Aproximem-se guerreiros abençoados. Os que dentre vocês roubaram tornem-se agora soldados, pois a causa é suprema. Aqueles que cultivam mágoas juntem-se aos seus causadores, pois a irmandade é essencial ao objetivo. Aproximem-se os que desejam vida eterna, aproximem-se os que desejam absolvição no sagrado." (Fragmento do discurso de Urbano II no Concílio de Clemont, 1095).
"Ó Francos,ouçam! Deixem a chama sagrada queimar em seus corações! Levem justiça em nome do Supremo! Francos! A Palestina é lugar de leite e mel fluindo, território precioso aos olhos de Deus. Um lugar a ser conquistado e mantido apenas pela fé. Pois chamamos por suas espadas! Lutem contra a amaldiçoada raça que avilta a terra sagrada, Jerusalém, fértil acima de todas outras. Glorifiquem suas peregrinações para o centro do mundo, consagrem-se em Sua paixão! Alcancem a redenção pela Sua morte! Glorificado pelo Seu túmulo! O caminho será longo, a fé no Onipotente tornar-lhe-á possível e frutífera. Não temam Francos! Não temam tortura, pois nela reside a glória do martírio! Não temam a morte, pois nela reside a vida eterna! Não temam dor, pois serão resignados!" (Fragmento do discurso de Urbano II no Concílio de Clemont, 1095).
O discurso do Papa Urbano ll foi um dos motivos, que impulsionaram e deram entusiasmo a essas pessoas irem à peregrinação, mas até antes disso outros motivos (internos) na própria Europa causaram tal "necessidade" de mobilização; além de motivos econômicos como veremos mais a frente havia outro motivo para tal expedição, O populacional. Segundo James Bure (pesquisador de História Medieval da Universidade de Ohio – EUA), além do objetivo religioso e econômico as cruzadas tinham como objetivo o de escoar o excesso de mão de obra ociosa na Europa, A Europa do século XI prosperava economicamente, mas com o fim das invasões bárbaras, ouve um período de estabilidade e um crescimento do comércio. Consequentemente, a população também cresceu; além disso no sistema feudal, apenas o primogênito herdava os feudos, que ocasionava no excesso de homens para pouca terra. O esgotamento do solo, no que se refere a produção agrícola, e a diminuição das guerras dentro da própria Europa também justifica o crescimento populacional em poucos séculos, como consequência, muitas vezes os homens, sem terra para tirar seu sustento, se lançaram a criminalidade, roubando, saqueando; sendo assim, a peregrinação foi uma forma de conter o crescimento populacional na Europa e de expandir o império, pois haveria mão de obra para manter a expansão, havia aqueles também que iam em busca de redenção, de novidades entre outros motivos diversos;
"A diversidade de motivações que levavam os homens a participar desse movimento é bem ilustrada na passagem do cronista anônimo de Würzburg, comentando a Segunda Cruzada: [...] as intenções dessas várias pessoas eram diferentes. Algumas, na realidade, ávidas de novidades, iam para saber coisas novas sobre as terras. Outras eram levadas pela pobreza, por estarem em situação difícil na sua casa; estes homens foram combater, não apenas os inimigos de Cristo, mas mesmo os amigos do nome cristão, onde quer que vissem a oportunidade de aliviar sua pobreza. Houve os que estavam oprimidos por dívidas para com outros, ou que desejavam fugir ao serviço devido aos seus senhores, ou que estavam mesmo esperando o castigo merecido pelas suas infâmias. " (REGINA, Fatima Fernandes. "Cruzadas na idade média", Pag. 109)
Então podemos concluir que as cruzadas não só tinham apenas aspectos e objetivos finais religiosos, mas também econômico e político; reabrir as rotas comerciais fechadas com o domínio dos turcos otomanos também não era descartado, alcançando assim os interesses dos nobres e da população.
As Cruzadas
A prerrogativa de convocação das cruzadas inicialmente foi do clero, porem a organização ficava a cargo dos reis que atendesse ao pedido do mesmo, tal mobilização exigia muito preparo, recursos e organização; o financiamento muitas vezes vinha das duas partes, os reinos buscavam recursos pedindo empréstimos conseguidos pela banca italiana, e o clero muitas vezes desviava tributos eclesiásticos para os organizadores das expedições. As cruzadas não eram elaboradas apenas por nobres e clero; em 1096 uma "pessoa comum", Pedro, o Eremita, passou a reproduzir o discurso da importância da peregrinação contra os infiéis, e a ameaça a fé cristã; Por onde ele passava as pessoas começavam a segui-lo, reunindo camponeses mendigos e pessoas que levavam as próprias famílias mesmo sem preparo militar e provisões; essa falta de preparo ocasiono em saques pelas cidades por onde esse grupo passava, por último os mesmos se depararam com o exército turco (sendo massacrados), tendo o fim dessa peregrinação "Cruzada dos pobres" em 1099.
A primeira cruzada organizada por nobres foi feita também no mesmo ano, constituída por nobres franceses liderados por Godofredo de Bulhão, duque de Lorena, Hugo de Vermandois, irmão do rei da França, e Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse, no ano seguinte em 1097 a expedição já estava em Constantinopla com Roberto rI, duque da Normandia.
Em 1099 os cruzados começavam seus ataques a Jerusalém, sendo facilmente repelidos pelos turcos; no dia 15 de julho do mesmo ano os cruzados conseguem escalar as muralhas de Jerusalém abrir os portões e invadir e conquistar a Terra Santa. Com os territórios conquistados, os cruzados cristãos formariam quatro unidades políticas independentes em relação ao Império Bizantino, os chamados reinos francos da Síria e Palestina, constituídos pelo Reino de Jerusalém (que durou de 1099 a 1187), Principado de Antioquia (1098-1268), Edessa (1098-1144) e Condados de Trípoli (1098-1289). Com estabelecimento desses reinos uma certa parcela de cristãos conviviam com povos originários das terras orientais, esse convívio muitas vezes não era pacifico causando vários problemas, por outro lado, o mesmo também geraria uma mistura de culturas por parte das pessoas que "aceitavam" a permanência dos ocidentais nessas terras, cria-se um clima de convivência e interação entre as comunidades cristãs e as populações nativas dessas regiões, isso foi relatado por Foucher de Charrres em "História das Cruzadas":
"(...) nós, que éramos ocidentais, chegamos a ser orientais; aquele que era romano ou franco, chegou, aqui, a ser Galileu ou habitante da Palestina; quem habitava em Reims ou Charttes, fez-se cidadão de Tiro ou de Antioquia (...) aquele outro se casou com uma mulher que não é de sua origem, uma síria ou uma armênia, ou inclusive uma sarracena que recebeu a graça do batismo; outro rem aqui genro ou nora, sogro e descendência (...) falam línguas diferentes e rodos já se emendem. Os idiomas mais diversos são agora comuns a rodas as nações e a confiança aproxima povos tão diferentes. " (REGINA, Fatima Fernandes. "Cruzadas na idade média", Pag. 114)
A segunda cruzada (cruzadas dos reis) começou em 1147 e foi Pregada por Eugênio III e São Bernardo; com a Queda de Edessa, Luis VII (Rei da França) e o imperador germânico Conrado III viram a importância de uma nova cruzada. Em 1147, os exércitos reunidos partiram em direção a Constantinopla, mas tal cruzada não teve sucesso devido a uma serie de estratégias fracassadas, forçando os saldados a voltarem para a Europa em 1149. A terceira cruzada teve seu início em 1189 e seu fim em 1192, a quarta em (1202-1204), a Quinta Cruzada entre (1217-1221) ambas não tiveram sucesso a não ser pela sexta cruzada em 1228, em que uma série de acordos de paz acalmaram a guerra. Por fim a sétima (1248-1250) e a oitava e última cruzada em 1270 também não tiveram sucesso a recuperar a terra santa, a última ao contrário das outras tinha um objetivo diferente, o de converter Emirde de Tunis para o cristianismo, essa tentativa falha tendo o final das cruzadas quando o filho do Rei Filipe "o audaz" firma um tratado de paz encerrando as expedições.
As Cruzadas que inicialmente tinha o objetivo de retomar a terra santa trouxeram grande desenvolvimento em outros setores, por mais que seu objetivo inicial tenha mudado com o tempo o mesmo trouxe uma serie de consequências positivas e negativas, tais consequências atingiram a sociedade e a economia da época. Mesmo as cruzadas tendo falhado com o objetivo da retomada da terra santa, ele conseguiu de alguma forma alcançar outros objetivos, a relações com os novos territórios de alguma forma mudou o modo de produção feudal, dando espaço para o fim da Idade Média e iniciando talvez a Idade Moderna.

Bibliografia:
REGINA, Fatima Fernandes. "Cruzadas na idade média", 2006;
MEDEIROS, João Vicente; BERTOLI, André Luiz. "O discurso da dissensão e da união nas cruzadas no oriente";
SALES, Onéas; SILVEIRA, Fábio; MORAES, Joaldo; "Cruzadas"
Fragmento do discurso de Urbano II no Concílio de Clemont, 1095.

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