As pesquisas em erosão do solo realizadas pelo IAPAR entre 1975 e 1999

May 30, 2017 | Autor: C. Neves | Categoria: History, História, Paraná, Solos, Conservação E Manejo De Recursos Naturais
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As pesquisas em erosão do solo realizadas pelo IAPAR entre 1975 e 1999(1) Tiago Santos Telles(2); Rafael Fuente Llanillo(3); Carlos Eduardo das Neves(4); Graziela Moraes de Cesare Barbosa(5) (1)

Trabalho executado com recursos do CNPq. Pesquisador B, Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR, E-mail: [email protected]; (3) Agronômico do Paraná; Mestrando em Geografia, Universidade Estadual de Londrina; Agronômico do Paraná. (2)

RESUMO: Desde a sua criação, na década de 1970, o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), realiza atividades de pesquisa sobre o manejo e a conservação dos solos agrícolas no estado do Paraná, com destaque aos estudos sobre erosão. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é apresentar, através de um resgate histórico, as pesquisas e os programas realizados no estado do Paraná, que possibilitaram o desenvolvimento de tecnologias e medidas conservacionistas para o controle da erosão do solo. Para tanto, foram utilizados os relatórios técnicos anuais, os relatórios de experimentos do IAPAR e os boletins técnicos, empregando o método de pesquisa historiográfica. Um amplo trabalho de planificação de uso, manejo e conservação dos recursos naturais foi executado, com destaque nas microbacias hidrográficas, representando um feito pioneiro no Brasil, pelo seu enfoque, duração e dimensões. Termos de indexação: manejo e conservação do solo e da água, história, Paraná. INTRODUÇÃO O estado do Paraná ao longo dos séculos passou por ciclos econômicos de Mineração de Ouro, do Tropeirismo, de Erva-Mate, da Madeira e do Café até meados dos anos 1960. Com a crise cafeeira no Norte e a abertura de novas áreas no Oeste, o estado se incorporou ao processo da Revolução Verde da produção de grãos em sistemas intensivos de preparo de solo (Konzen & Zaparolli, 1990). No entanto, práticas agrícolas inadequadas advindas desse sistema contribuíram para o aumento dos processos erosivos e a consequente perda do potencial produtivo em muitas áreas agricultáveis, principalmente, pela perda de nutrientes, diminuição da matéria orgânica e aumento da acidez do solo (Derpsch et al., 1986; 1991). A preocupação com tecnologias para o controle do processo acelerado de erosão dos solos agrícolas,criou uma nova demanda de pesquisa. Assim, a partir dos anos de 1970, atividades de

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Pesquisador C, Instituto Pesquisador B, Instituto

pesquisa e de desenvolvimento sobre o manejo e conservação dos solos agrícolas, no estado do Paraná, com destaque aqueles diretamente relacionados a tema da erosão, foram realizados pelo IAPAR (Castro Filho et al., 1991). Nesse contexto, objetiva-se realizar um resgate histórico das pesquisas sobre erosão do solo realizadas pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados os relatórios técnicos anuais, os relatórios de experimentos, os boletins técnicos e as demais publicações sobre erosão do solo, do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Para realização do estudo foi empregado o método de pesquisa historiográfica. Para melhor visualização da espacialização dos experimentos em erosão do solo realizados pelo IAPAR, com o uso do software ArcGIS 9.1, efetuouse um mapeamento síntese das parcelas onde se realizaram os ensaios. Para isso, utilizou-se uma base cartográfica por municípios, referente ao estado do Paraná. RESULTADOS E DISCUSSÃO A execução dos programas e políticas públicas de conservação de solos e águas no estado do Paraná, contavam com o suporte técnico de pesquisas do IAPAR, tendo sido um dos motivos de sua criação em 1972, atender a sociedade paranaense no tocante ao controle da erosão. Como a erosão era um problema para o setor agrícola desde a ocupação do Norte, Oeste e Sudoeste do Paraná nos anos 1950 e com a intensificação da agricultura no modelo da Revolução Verde no fim da década de 1960 e no início da de 1970, foi feito um grande esforço de pesquisa no IAPAR através de seu Programa Manejo e Conservação de Solos na segunda metade dos anos 1970 e durante os anos 1980. Esse Programa chegou a contar com o envolvimento de 25 pesquisadores e da sua agenda de pesquisas foram originadas práticas integradas

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de manejo e conservação de solos inclusive o desenvolvimento do Sistema Plantio Direto que deram suporte técnico à implantação desses programas de desenvolvimento rural conservacionista já relatados. Um dos primeiros projetos de C&T executado no IAPAR pelo Programa Manejo e Conservação de Solos, foi realizado em pareceria com a GTZ, dentro de um projeto denominado “Minimização do processo erosivo pela identificação das causas e dos níveis aceitáveis de perdas do solo em diferentes sistemas de uso e manejo”. O referido projeto foi desenvolvido entre os anos 1975 e 1992 e teve como objetivo identificar sistemas de uso e manejo do solo que reduzissem as perdas de solo, água e nutrientes pelo processo erosivo em nível de estado. Também se destaca o projeto denominado “Controle da Erosão do Solo no Estado do Paraná”, o qual visou, entre 1977 e 1985, recuperar e preservar o potencial produtivo dos solos paranaenses que vinham sendo degradados com a expansão da agricultura na região (Derpch et al., 1991; 2010). Com essa rede de colaboração se avançou nas pesquisas acerca do SPD no estado do Paraná. Assim, a necessidade de informações acerca dos problemas da erosão rural no estado do Paraná, juntamente com a política nacional (PCNS) e estadual (PROICS) de conservação de solos, levou o IAPAR a desenvolver atividades de pesquisa em parcelas experimentais, visando avaliar os custos e a eficiência do controle da erosão sobre diferentes condições físico-geográficas (clima, solo e relevo) e de manejo. Buscou-se ainda, avaliar as perdas através de distintas parcelas, chuva natural e simulada, distintas culturas agrícolas, formas de preparo, tipos de solo e declividades, para que com isso, fosse possível estabelecer práticas conservacionistas e homogeneização de tecnologia, diminuindo praticamente metade das perdas de solo gerado pela erosão. Para tanto, a partir de 1975 foram instalados, pelo IAPAR, parcelas experimentais em diferentes municípios (Bela Vista do Paraíso, Campo Mourão, Cerro Azul, Cianorte, Ibiporã, Lapa, Londrina, Morretes, Paranavaí, Ponta Grossa e Rolândia) para avaliar as perdas por erosão (Figura 1). As primeiras parcelas de erosão, com 11 m x 3,5 m (38,5 m²) e de 22 m x 3,5 m (77 m²), foram instaladas em Londrina, no ano de 1975, em Latossolo Vermelho distrófico (LVd) antigo Latossolo Roxo distrófico (LRd), com 6% de declividade. Os experimentos foram realizados entre 1976 e 1999, conduzidos tanto com chuva natural quanto com chuva simulada, em solo sem cultura (solo descoberto) e com as culturas de algodão, café,

milho, pousio, soja e trigo, em preparo convencional (PC) e SPD. Os tratamentos ocorreram em cafeeiro plantados com espaçamento 4 x 2 m e em solo sem cultura a partir de duas repetições, que foram sulcadas e escarificadas todos os anos e dispostas no sentido do declive.

Figura 1 – Parcelas experimentais para pesquisa em erosão do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Em Londrina delimitou-se parcelas por meio de chapas galvanizadas de 0,30 metros de altura por 2,50 metros de comprimento, cravadas no solo. Na parte inferior das parcelas foram instaladas calhas coletoras, conectadas a um conjunto de tangue, dotados de divisores de vazão. O tratamento com cafeeiro foi conduzido por dois ciclos de cultivo: 1) do plantio as 62º mês de cultivo, ou pleno estabelecimento após recepa, iniciado ao 99º mês e finalizado 182º mês de cultivo. Os estágios de cultivo do cafeeiro, do tratamento após recepa, foram determinados segundo as práticas culturais aplicadas assim distribuídas: arruação (marçoagosto) e esparramação (setembro-fevereiro). Em Bela Vista do Paraíso os experimentos ocorreram, na Fazenda Horizonte, entre 1976 a 1990, e foram conduzidos em parcelas de 38,5m² e 77m² montadas e plantadas no sentido do declive, sob condição de chuva natural, Argissolo VermelhoAmarelo distrófico (PVAd), 4% de declividade, rampa de 11 e 22 m de comprimento, com solo sem cultura, café (plantado no sentido do declive) em espaçamento 4 x 2, e através da rotação das culturas de algodão, arroz, aveia, , milho, soja, sorgo, tremoço e trigo (plantadas em nível), a partir de PC, SPD, plantio mínimo com grade (PMG) plantio mínimo com escarificador (PME). Os experimentos de Ibiporã foram realizados entre 1987 a 1991 em parcela de 11 m x 3,5 m (38,5 m²), rampa de 11 m de comprimento, 12% de

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declividade, sob Nitossolo Vermelho eutrófico (NVe), em condição de chuva natural. Os experimentos ocorreram sem repetições, com a sucessão aveia, soja, milho, algodão, a partir de PC, dispostos no sentido do declive. Entre 1981 a 1991 realizaram-se ensaios em Campo Mourão em parcela de 4% declividade, 77m²m e 38,5m², com rampa de 22 e 11 metros, respectivamente. Os mesmos ocorreram em condição de chuva natural, sob Latossolo Vermelho distrófico (LVd), com a sucessão das culturas do trigo e soja e solo sem cultura em PC e SPD. Em Paranavaí os experimentos ocorreram entre 1981 a 1991, em parcelas de 77 m² e 38,5m², com rampa de 22 m 11 m de comprimento, respectivamente, chuva natural, em solo sem cultura e com a rotação das culturas de amendoim, café, cana-de-açúcar, colonião, mamona, mandioca, milho e tremoço (Lupinus), sob Latossolo Vermelho distrófico (LVd), 4% de declividade e a partir do tratamento de PC, todos conduzidas no sentido do declive. No município de Rolândia os experimentos foram com chuva natural, tendo como culturas a sucessão soja e trigo a partir de PC e SPD. Os ensaios efetuados na parcela experimental de Ponta Grossa ocorreram entre 1977 e 1998 realizados a partir de chuva natural em parcelas padrão de 38,5m² e 77 m², em rampas de 11 e 22 metros de comprimento, respectivamente, declividade de 8%, sob Latossolo Vermelho distrófico (LVd). Houve também experimentos em duas macroparcelas de 5.000m² com rampa de 50 m, e declividade de 6,9% e 7,1%. Efetuou-se também, um experimento em uma macroparcela de 10.000m² com rampa de 100 m, declividade de 8,1% a partir de Latossolo Vermelho distrófico (LVd). Os experimentos que ocorreram na parcela padrão de Ponta Grossa dividiram-se em duas fases. A primeira corresponde ao período de 1977 a 1990, onde se estabeleceram quatro tratamentos. Em dois mensuraram-se a sucessão trigo e soja e os demais se mantiveram sem cultura, cultivados com SPD e PC. Na segunda fase, entre 1990 e 1998, passou-se a trabalhar com seis parcelas, avaliando-se a sucessão das culturas da aveia, soja, ervilhaça, milho, trigo e soja, sendo as demais mantidas sem cultura, sendo utilizados PC, SPD, preparo com escarificação com duas gradagens leves (PEGL), dispostos no sentido do declive. Já os experimentos em macroparcelas, ocorreram entre 1981 e 1991, a partir de três distintos sistemas de sucessão de trigo e soja e em rotação para as culturas de adubo verde, aveia preta, milho, soja, tremoço e trigo, através do preparo com arado de disco hidráulico reversível (PADHR), preparo mínimo (PM), grade pesada (GP), PC e SPD,

dispostos em nível. Os ensaios efetuados na parcela experimental de Lapa ocorreram entre 1985 e 1994 dispostos em parcelas de 38,5m² e 77 m² com rampa de 11 e 22 m de comprimento, respectivamente, em declividade de 24%, em Cambissolo Háplico (CX) a partir de chuva natural. Os experimentos realizados em solo sem cultura ocorreram a partir do PC, dispostos morro abaixo para os anos de 1986 a 1991. Os experimentos realizados a partir de 1989 ocorreram com a cultura da aveia, batata, feijão, forrageira perene (coast-cross), gramínea (pensacola), mandioca, milho, laranja-ponkan e tremoço, através de plantio em nível e morro abaixo sob o tratamento de PC. Os tratamentos com repetição, na sucessão das culturas de milho e feijão, foram cultivados com tração animal e em solo sem cultura nas parcelas de 38,5 m². Em Cianorte os experimentos ocorreram entre 1985 e 1994 a partir de chuva natural, em solo sem cultura e nas culturas de milho, soja e trigo, através de PC e SPD, dispostos no sentido do declive. Em Morretes os experimentos ocorreram entre 1985 a 1994 em parcela de 77 m² com rampa de 22 m de comprimento, a partir de chuva natural e preparo de solo sem cultura, através de PC disposto morro abaixo, declividade de 36%, sob Argissolo Vermelho-Amarelo (PVA). Em Cerro Azul os experimentos de perda de solo e água ocorreram entre 1985 e 1994 em parcela de 38,5m² com rampa de 11 m, declividade de 34%, sob Argissolo Amarelo distrófico (PAd), e a partir de chuva natural, correspondente às culturas de laranja-ponkan com espaçamento 3 x 3 m, através de sistema tradicional de preparo e em solo sem cultura. Também ocorreram ensaios em parcela de 77 m² com rampa de 22 m, declividade de 27%, em Cambissolo Háplico (CX) e através de solo sem cultura, por meio do tratamento de PC, disposto perpendicular à curva de nível. CONCLUSÕES No estado do Paraná, a pesquisa realizou um excelente trabalho de planificação de uso, manejo e conservação dos recursos naturais renováveis, em microbacias hidrográficas, representando um feito pioneiro no Brasil, pelo seu enfoque, duração e dimensões. No entanto, os problemas de degradação ambiental por meio da erosão e os prejuízos a ela associados são prementes, ao passo que na atualidade o não atendimento aos parâmetros e indicações estabelecidos pelas pesquisas, gerados nos sistemas de manejo do solo, podem representar o retorno de processos erosivos severos.

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REFERÊNCIAS CASTRO FILHO, C.; Henklain, J. C.; VIEIRA, M. J. & CASÃO JÚNIOR, R. Tillage methods and soil and water conservation in southern Brazil. Soil & Tillage Research, 20:271-283, 1991. DERPSCH R.; FRIEDRICH, T.; KASSAM, A. & LI, H. Current status of adoption of no-till farming in the world and some of its main benefits. International Journal of Agricultural and Biological Engineering 3:1-25, 2010. DERPSCH, R.; ROTH, C.H.; SIDIRAS, N. & KÖPKE, U. Controle da erosão no Paraná, Brasil: Sistemas de cobertura do solo, plantio direto e preparo conservacionista do solo. Eschborn, GTZ/IAPAR, 1991. 272p. (Sonderpublikation der GTZ, 245) DERPSCH, R.; SIDIRAS, N. & ROTH, C. H. Results of studies made from 1977 to 1984 to control erosion by cover crops and tillage techniques in Paraná, Brazil. Soil & Tillage Research, 8:253-263, 1986. KONZEN, O. G. & ZAPAROLLI, I. D. Estrutura agrária e capitalização da agricultura no Paraná. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, 28:155-173, 1990.

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