As praças do projeto \" Vila Imperial de Petrópolis, 1846 \" – uma análise formal

May 20, 2017 | Autor: João Sêco Carmona | Categoria: Praças, Engenharia Militar, análise formal, Vila Imperial de Petrópolis, Elementos Urbanos
Share Embed


Descrição do Produto

3

Paisagens Culturais. A Paisagem Produtiva com Património

IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL ACADEMIA DE ESCOLAS DE ARQUITECTURA E URBANISMO DE LÍNGUA PORTUGUESA . AEAULP

A LÍNGUA r\TU ·E 25Belo> 28Horizonte· lnhotim Abri 1 2017 � HABITAMOS

3

Paisagens Culturais. A Paisagem Produtiva com Património

Paisagens Culturais. A Paisagem Produtiva com Património

A Apropriação do Patrimônio Histórico: A Pós-desativação da Estação Ferroviária de Goiânia ARIENE FERREIRA SILVA

A Arquitetura Modernista da Indústria Wallig Nordeste e seu legado: Resgate das fontes documentais do patrimônio industrial em Campina Grande SABRYNNA BARBOSA RENATA OLIVEIRA ALCILIA AFONSO

A casa Balatiponé/Umutina ME. JOÃO MÁRIO DE ARRUDAADRIÃO

A dialética materialista do Ecoturismo no Engenho II: O espaço turístico formando um novo espaço social TALITA XAVIER MABONI LIZA MARIA SOUZA DE ANDRADE

A Ferrovia Vitória a Minas e o crescimento da cidade de Colatina ALEXANDRE VALBUZA ALMEIDA

A mercadologia da imagem arquitetônica e cultural como cenografia para o turismo - do abandono a gentrificação dos centros históricos LAIS SOUTO NOVAES IANE FADIGAS

A mercantilização da cultura e o enobrecimento do patrimônio: a Ponte Metálica Euclides da Cunha NATALIA CAPELLARI DE REZENDE

A paisagem rural: Metodologias de análise e representação do território. RODRIGO PEREIRA DOS REIS

Apropriações artísticas contemporâneas no espaço público: diálogos com uma Lisboa turistificada RICARDO VENÂNCIO LOPES PEDRO COSTA

Arquitetura e artes visuais no Inhotim: um estudo sobre os projetos dos pavilhões para exposição permanente. ISAfAS DA SILVA RIBEIRO

Arquitetura Vernacular Praieira - Nordeste do Brasil GENIVAL COSTA DE BARROS LIMA JUNIOR

As praças de Teresina, Piauí: o diálogo com os edifícios históricos BRENNA CAROLLYNY CARVALHO MACEDO. ROBERTO DA SILVA SANTOS. FRANCISCA NEUZA DE ALMEIDA FARIAS.

As praças do projeto "Vila Imperial de Petrópolis, 1846" - uma análise formal JOÃO sfco CARMONA

Assimilação, Esquecimento e Perpetuação: A participação do negro na arquitetura brasileira TIAGO CUNHA THAIANE RODRIGUES

A sustentabilidade da memória através de eventos culturais no Centro Histórico de Manaus ANA LUCIA NASCENTES DA SILVA ABRAHIM ALCILÃNIA DA CUNHA LIMA SfRGIO ANDRf CORDEIRO DA COSTA

Avenida Paulista: Trianon e Masp como elementos de uma narrativa espaço-temporal. FABIOLA LOWENTHAL JANE VICTAL

Cidade Velha: paisagem arquitetônica e urbanística legítima da cultura cabo-verdiana IOLANDA SANTOS

Deriva do bem e a identidade da cidade: encontro, memória e fotografia. BRÃULIO VINfCIUS FERREIRA

Devires-outros - desterritorializações no patrimônio HELENA TULER CRESTON

Engenhos e a paisagem de Ilhabela BÁRBARA MARIE VAN SEBROECK LUTJJS SILVEIRA MARTINS

Estrada de Ferro Amapaense (EFA): a herança do minério no norte do Brasil. Projeto de requalificação da área da estação de trem e criação de um parque urbano no município de Santana/AP. LUIZA HELENA COSTA DA COSTA PEDRO TARCIO PER EIRA MERGULHÃO

Estratégias para um novo olhar sobre a história e memória do Aqueduto na cidade de Teresina - PI ANA GABRIELA SOUZA MIRANDA CAROLJNE DE ALENCAR CARVALHO LORENA COSTA LIMA NUNES

Intervenções espaciais: a crescente atenção ao meio ambiente e ao patrimônio cultural SÁVJO GUIMARÃES

Lugares sacros: o adro da igreja de São João Batista na Armação de Itapocorói, Penha, Santa Catarina ANDR! LUIS CORDEIRO DA COSTA J!SSJCA NEVES

Macau // Rio de Janeiro. Matriz urbana portuguesa de frentes marítimas em transformação MARGARETH DA SILVA PEREIRA FABIANA IZAGA

Memória Trilho: A Universidade Envolvida na Preservação do Patrimônio Ferroviário da Zona da Mata Mineira MARCOS OLENDER

Moinhos: Motores de ontem, história de amanhã JOCJL!JA PERETTI LARISSA CORR!A MAURfCIO DOS S.OZORJO

Normatizar o uso para ressignificar os espaços: O caso do sítio histórico do Complexo Ferroviário de Campo Grande-MS VINICIUS MARTINS DE OLIVEIRA

Ontem e hoje: uma análise dos sobrados de um Centro Histórico em transformação, o caso de João Pessoa, PB, Brasil PEDRO YAGO SANTOS DEYSE KELLY MEDEIROS SOUSA

Os desafios na preservação do Patrimônio Cultural da Saúde no Brasil: O modelo arquitetônico luso de assistência nas Santas Casas de Misericórdia ANDREIA DE FREITAS LOPES MARÍLIA MARIA BRASILEIRO TEIXEIRA VALE

O 'Vir-a-ser' dos Espaços - Semântica e Recortes Literários ANA LÚCIA REIS MELO FERNANDES COSTA

Paisagens culturais: o combate do campo patrimonial no século XXI ISA BELA CRISTINA DE ASSIS BERG

Paisagens Ibero-americanas: debatendo Paisagens Culturais e Paisagens Urbanas Históricas MARIA JOSt DE AZEVEDO MARCONDES

Patrimônio em questão: a saborosa prática de consumo no mercado Bolonha, Belém-Pará, Brasil LUIZ RABELO CYBELLE SALVADOR MIRANDA

Pelas linhas do trem. Pelas linhas do tempo. O pátio ferroviário da Estação nova de Campina Grande. ALCILIAAFONSO

Percursos e percepções - Olhares e relações de pertencimento construídos pela vivência urbana PAULA MARQUES BRAGA

Por um arquiteto: a defesa da classe profissional nas revistas especializadas entre 1923 e 1942 JULIANA CARDOSO NERY

Rua Primeiro de Março: Turismo e Patrimônio na Cidade do Rio de Janeiro JOÃO HENRIQUE DOS SANTOS MARIA CLARA AMADO MARTINS VERUSKA POBJKROWSKA TARDJVO NATHALIA BORGHJTOURJNO MARINS JESSJCA DE FÁTIMA ROSSONE ALVES EDITH MEDEIROS RODRIGUES

Terra e céu, pátio e terraço: a natureza idealizada em casas contemporâneas brasileiras ANA ELfSJA DA COSTA ANA CLARA MENUZZI CAROLINA AUBIN ONGARATTO BRENDA WOLFFENBÜTTEL THAIS GONÇALVES MANCJNJ

Transposições figurativas do Espaço em Piranesi e Hubert Robert CONCEIÇÁO TR JG UE! ROS ALEXANDRA AI QUINTAS

Um pedaço do Nordeste no Rio de Janeiro: Paisagem e arquitetura domesticando identidades ANDRt LUIZ CARVALHO CARDOSO

Vila Rubim, o Bairro Popular de Vitória - ES: da Cidade de Palha à Cidade de Tijolo LUCIANA NEMER

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

As praças do projeto “Vila Imperial de Petrópolis, 1846” – uma análise formal João Sêco Carmona * Resumo A Vila Imperial de Petrópolis foi fundada em 1846, embora a história da região esteja ligada a meados do século XVIII, por se encontrar no caminho de escoamento do ouro para a Metrópole portuguesa. A cidade foi a primeira cidade planejada na era Brasil Imperial. As características formais do projeto mostram critérios específicos para o projeto dos seus elementos. As praças pertencentes à Vila Imperial mostram um encadeamento de dimensão e proporção que caracterizam a utilização da progressão geométrica como opção de projeto. A análise alargada às praças das vilas coloniais mostra ligações formais com a sequencia deduzida em Petrópolis. Salienta-se assim, legados da engenharia miliar desenvolvidos na era colonial, que permanecem no urbanismo desenvolvido na era Brasil Imperial. Palavras-Chave: Análise Formal Urbana; Vila Imperial de Petrópolis; Elementos Urbanos; Praças; Engenharia Militar Abstract The Imperial Villa of Petrópolis was founded in 1846, although the history of the region is linked to the mid-eighteenth century. In eighteenth this place was on the path where the gold was transported to the Portuguese metropolis. The city was the first planned city in the Imperial Brazil. The formal characteristics of its project show specific criteria for the design of its elements. The squares belonging to the Imperial Village show a chain of dimension and proportion that characterize the use of geometric progression as a design option. The extended analysis of the squares in the colonial villages shows formal connections with the deduced sequence in Petropolis. Thus, legacies of military engineering developed in the colonial era, remain in urbanism developed in the Imperial Brazil.. Key-words: Formal Urban Analysis; Imperial Villa of Petrópolis; Urban Elements; Squares; Military Engineering * PROARQ - FAU - UFRJ

164

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Introdução .1 Petrópolis é uma cidade situada na região serrana do estado do Rio de Janeiro. O local da futura Vila ganhou protagonismo após a construção do “caminho novo”, no século XVIII, ficando a meio do trajeto “Rio-Minas”. O novo trajeto visava facilitar o escoar do ouro rumo à metrópole portuguesa, e facilitar também a melhor retenção do “quinto real”. Os laços entre a região e a corte remontam ao ano de 1822, quando D. Pedro I (1822-1831), a caminho de Minas Gerais, se alojou na região ficando agradado com o clima, e a natureza do lugar. Acabou por adquirir em 1830 uma propriedade, a Fazenda do Córrego Seco, atual centro histórico da cidade de Petrópolis, o nosso recorte espacial. Seus planos seriam a construção da sede do governo imperial no verão. Apesar disso, com a Abdicação os planos foram adiados, a cidade efetivamente só se desenvolveria com D. Pedro II (18401889). A metodologia utilizada para esta pesquisa foi o método histórico de pesquisa para entender a sucessão cronológica e as conexões históricas com outros acontecimentos. Levantamento em arquivo de documentação primária. Trabalho de campo para aferição de medidas dos elementos urbanos em estudo. Após a coleta de informação, foi elaborado um estudo geométrico que se pretendeu experimental, descritivo e sistemáticos sobre os elementos geométricos deduzidos das praças no projeto “à priori”, e levantados “in loco”. A análise dos resultados mostra o encadeamento sequencial das suas dimensões em “progressão geométrica” de constante √2, e na proporção 1:√2. Para melhor analisar este objeto foi feita uma revisão bibliográfica da tratadística da época, e anterior, dentro da área da arquitetura e urbanismo A pesquisa tem como eixo principal a análise formal do croqui da “Villa Imperial de Petrópolis” (1846), as praças daquele recorte espacial e a relação formal/geométrica com o Palácio Imperial de Petrópolis. A pesquisa evidencia um raciocínio geométrico/matemático que regula a forma das praças pertencentes ao projeto inicial, as praças construídas depois mas ligadas ao programa inicial, e a cristalização dessa regra de concepção no Palácio Imperial de Petrópolis, atual sede do Museu Imperial de Petrópolis. A regra que poderá ter estado como base na criação do projeto da “Villa Imperial”, ou uma das leituras geométricas possíveis que terá influenciado a execução das praças não integrantes do projeto com reflexo no Palácio Imperial, é a deduzível progressão geométrica de constante √2. A regularidade na arquitectura 1.1 A regra que sobressai desta leitura, nos direciona para o conceito de regularidade. Conceito legado pela tradição urbanística luso brasileira, onde se respalda esta pesquisa. A regularidade, o “desígnio de pré-concepção (...) [que] existiu ou não” (Rossa, Coelho, Coelho, Simões, & Brandão, 2002, p. 427) encontra lugar consistente – “existe” – neste estudo. A leitura da forma dentro da perspectiva da regularidade morfológica urbana, encontra natural lugar quando se constata em um conjunto urbano “existência de estruturas cadastrais moduladas, as quais em tese deverão surgir relacionadas com o próprio traçado e dimensionamento do espaço público”. As estruturas cadastrais estruturam o sistema urbanístico, o 165

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

conjunto edificado sobre essas estruturas de coerência geométrica e indutoras de proporcionalidade, necessariamente se constatará o reflexo na arquitetura existente, cristalizando as regras enunciadas no sistema de lotes. Essa decorrência do sistema cadastral para a arquitetura marca e caracteriza “as invariantes daquilo a que a disciplina designa por arquitectura de programa” (Rossa, Coelho, Coelho, Simões, & Brandão, 2002, p. 428). Conceito conforme Walter Rossa (2001, pp. 848-849) é: “A formalização edificada dos desígnios de ordem que sempre presidem a programação, estudo e formulação de um plano [...] o estabelecimento de uma matriz geométrica com a qual se administra a distribuição do espaço e [...] o estabelecimento do sistema construtivo [...] a estrutura conceptual implícita [tem] como ponto de partida o quadrado (e consequentemente o cubo), sendo também muito frequente a sua evolução para o retângulo através do rebatimento da sua diagonal - a proporção de 1:√2” Neste recorte da pesquisa, conjugaram-se elementos de tratados perfeitamente ligados à era Brasil Colonial, que requerem alguma elasticidade intelectual, já que o projeto da “Villa Imperial” data do meio do século XIX, pleno Brasil Imperial promove direcionamentos específicos para modernizar várias áreas, nomeadamente nas artes e especificamente na arquitetura que podemos objetivar na missão artística francesa. Relatos de época mostram uma aparente pressão para trazer novidades que, neste estudo o resultado direto seria novos critérios de projeto, onde se pode colocar a hipótese que poderiam vir para constituir uma nova identidade e esta passaria por contrariar metodologias que caracterizavam os modelos anteriores.

166

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Documentação primária 2 O mapa das sesmarias (1762) 2.1.

Figura 1 - Mapa das Sesmarias, análise formal.

O mapa das sesmarias (1762) existentes em terras onde se viria a localizar Petrópolis, observa-se que não existem mais terras devolutas entre a quadra do Itamarati e a de Secretário. As primeiras sesmarias do vale do Piabanha, eram inicialmente concedidas quadras de uma légua de lado, que foram reduzidas para quadras de meia légua. Este mapa desenha com muito rigor a “estrutura de drenagem do território colonial, cujo ordenamento sujeitava-se a uma linha de fluxos centrípetos em relação à colónia e centrífugos em relação à metrópole.” (Ambrósio, 138) O fluxo originado pela circulação sesmeira era escoado pelo rio Piabanha, “itinerário serrano de ligação entre o interior mineiro e o porto fluvial da Estrela no recôncavo guanabarino”. (Ambrósio, 138) (Ambrozio, 2008, p. 138) A cópia fiel do Quarteirão Villa Imperial de Petrópolis original de 1846 2.2

167

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Figura 2 - Croqui da Vila Imperial (Morley, 2001), constatação da progressão geométrica.

A consulta à cópia fiel do Quarteirão Villa Imperial de Petrópolis foi o que permitiu os primeiros indícios da existência de uma relação “tipo progressão” entre as praças deste projeto urbanístico. Pelo “croqui” se percebeu que haveria uma relação entre o lado menor da praça da Liberdade e o Lado maior da praça D. Pedro II e que, decrescendo em escala se cristalizaria no palácio Imperial. No lado inverso da progressão surgia a praça do Comércio de Lisboa, como referência de dimensão e proporção não construída, o “espaço vazio” da praça “de Goblenz” nutriu essa referência.

168

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Tratados 3 De Architectura Libri Decem (aprox. 27 a 16 a.C.) 3.1 Marcos Vitrúvio Polião (séc I a.c) foi o autor e veio a ser traduzido do latim e ilustrado por Cesare Cesariano (1475–1543). A implantação da nova cidade teria como uma das condicionantes o estudo dos ventos da região e isso se refletiria na implantação da cidade. O conhecimento dos ventos implica diretamente no entendimento da rosa dos ventos. O esquema geométrico que resulta para esse estudo é um círculo que contém dois quadrados inscritos rotacionados 45º graus entre si, definindo oito direções de ventos. Esse esquema geométrico, unindo os vértices dos quadrados, permite o desenho do octógono. A referência geométrica é usada também como suporte ao desenho da cidade, reforçando o uso da rosa dos ventos e “asseguram a referência ao homo ad circulum e ad quadratum, e perfazem as simmetrie euritmiate na cidade” (Pedro, 2014, pp. 239-243) Tratado de Arquitectura (1579) 3.2 De António Rodrigues (1520-1590), acerca das proporções derivadas do quadrado, expõe sobre como seriam “essenciais na composição harmónica de um edifício ou povoação, (...) apresentadas com base nas definições de Euclides, compiladas no Libro Primo...de Sérlio.” (Bueno B. P., 2011, p. 151) onde se identificam algumas proporções derivadas: 1) sexquiquarta – um quadrado + 1/4 ; 2) Sexquitertia – um quadrado e 1/3; 3) Deangular ou Diagonea – um quadrado + sua diagonal; 4) Sexquialtera – um quadrado + 1/2; 5) Superbipartiens Tertias – um quadrado + 2/3; 6) Dupla – soma de dois quadrados. Tratado de Ruação (1760) 3.3 De José Figueiredo Seixas (?-1773), acerca do quadrado ordenador do espaço para novas vilas, povoados e cidades. Figueiredo Seixas propõe a adoção de um traçado de uma rede ortogonal de paralelos e meridianos que alcancem todo o território, constituindo assim uma quadrícula cuja unidade tem meia légua de lado (3 km), similar ao que já havia proposto na quadriculação das abóbadas onde se estabeleceria “o sistema viário e as divisões administrativas, implantarem-se novas povoações, e corrigir as existentes. ” (Gomes, 2007, p. 80)) havia proposto também que “As províncias, comarcas e freguesias serão elas também quadradas, com as respectivas sedes cidades, vilas e lugares erguendo-se no seu centro geométrico. ” (Gomes, 2007, p. 80) Architettura Civile (1737) 3.4 De Guarino Guarini (1624-1683) entre vários assuntos o autor aborda a progressão geométrica. O autor desafia em seu tratado que os arquitetos utilizem as progressões geométricas na criação de seus trabalhos. Não é possível afirmar que para além do autor de VRSA outros autores tenham tido conhecimento, ou transmitido a outros uma metodologia de projeto que recorresse às progressões geométricas descritas no seu tratado. O que pode ser afirmado é que este livro fazia parte da biblioteca da Casa do Risco chefiada pelo Arquiteto Reinaldo Manuel dos Santos, entretanto também não se encontrou ainda documentos ou estudos históricos que permitam afirmar que este assunto tivesse sido ensinado ou divulgado. 169

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Após 40 anos da sua edição na Itália, Vila Real de Santo António incorpora essa teoria e a leva ao extremo na sua sistematização. (Horta, 2006)

170

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

O sistema octogonal de referência 4

Figura 3 – Sistema octogonal de referencia, análise da Rosa dos Ventos do Mapa das Sesmarias de 1722

A Rosa dos Ventos e Rumos, como ábaco. A pesquisa de João Gomes Horta (2006) permitiu-lhe encontrar – sobretudo em Portugal, séc. XVI-XVIII – o uso de “um ábaco gráfico auxiliar da regulação harmónica, rítmica e simbólica da morfologia arquitetônica, independentemente da orgânica funcional e do estilo”, a utilização deste ábaco gráfico na sistematização da edificação de Vila Real de Santo António funciona como matriz. Este “ábaco-matriz é o entrelaçado da rosa-dos-ventos-e-rumos que já servira de base à estruturação operativa das cartas náuticas que ajudaram e descreveram a expansão marítima portuguesa” (Horta, 2006) Com a política urbanizadora de Pombal em pleno, a Coroa portuguesa fundou cidades no novo mundo com base na quadrícula. As cidades colônias fundadas nunca foram maiores que as cidades da Metrópole, “Lisboa manteve-se como modelo hegemônico ao longo da segunda metade do XVIII e sua praça central – a Praça do Comércio apresentava o dobro da dimensão dos maiores exemplos da Colonia”. (Bueno B. S., 2012, p. 509)

171

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Figura 4 - Confronto Sistema de referencia octogonal e a dedução de forma e proporção das praças de Petrópolis, a partir da Praça do Comércio de Lisboa.

As praças centrais de vilas do Brasil e Portugal no século XVIII: 1) Núcleos pequenos (pequenos aldeamentos indígenas) – 53,9 x 53,9; 2) Núcleos médios (a maioria das vilas do Brasil sem importância específica) – 107,8 x 107,8; 3) Terreiro do Paço em Lisboa: 215,6 x (107,8 x √2); 4) Vila Real de Santo Antônio, Praça central – 53,9 x 53,9. (Bueno B. S., 2012, p. 510)

172

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

As praças de Petrópolis 5 Praça da Confluência 5.1 Antigamente denomina de Goblenz, em 29 de junho de 1846, teve seu primeiro acontecimento registado. Foi um culto católico, presidido pelo Mosenhor Caetano Bedini. Nesta missa estiveram presentes católicos e protestantes, para além de figuras importantes como D. Pedro II, D. Teresa Cristina, Paulo Barbosa e o Major Júlio Frederico Koeler. (DEISTER, 1949). Constatamos que no projeto inicial havia um arruamento que atravessaria a área não loteada, entre a Avenida Koeler e a praça da Confluência – hoje inexistente. Recorreu-se à terraplanagem dos terrenos, nesta foto sobre a praça da Liberdade. Em 1884, o local ganhou melhorias com a construção do palácio de Cristal. Conde d´Eu, encomendou uma estrutura de ferro prémontado a uma fundição francesa, e montada pelo engenheiro Eduardo Bonjean. A motivação do Conde, foi a de presentear a Princesa Isabel, para abrigo das exposições de pássaros e produtos hortícolas que já decorriam antes no local. Em 1888, foram libertados ali os últimos escravos na presença da Princesa. (ZANATTA) No estudo geométrico apresentado neste artigo, pela área não loteada, pelos limites dos arruamentos, pela centralidade que o nome da praça apresenta no desenho, partiu-se de uma hipótese que aquele espaço tivesse na memória do projetista a repetição do módulo praça de um núcleo urbano médio (107,8 x 107,8) do Brasil Imperial, ou seja 323,4 x 215,6, ou corresponderia à medida em relação à praça do Comércio em Lisboa (215,6 x 215,6), uma praça e meia. Praça da Liberdade 5.2 Área que antigamente correspondia ao largo D. Afonso, em homenagem ao filho prematuramente falecido de D. Pedro II. Em 1888, porque era ali que os escravos livres iam comprar a alforria dos escravos que ainda permaneciam nas senzalas. Em 1919, a área foi reformada adquirindo novos equipamentos urbanos, e em geral novo ajardinamento. Em 1923, seu nome passou para praça Rui Barbosa, que por não ter sido bem aceito, voltou a praça da Liberdade. Depois, em 1964, de novo uma reforma sem alterar suas características anteriores. Na segunda metade do século XIX, registado em fotografia, mostra a existência de um pelourinho nessa praça e no eixo do local projetado para a futura igreja em nome de “São Pedro de Alcântara”, situação que relembra modelos das antigas vilas coloniais. (Zanatta) O estudo acerca da geometria desta praça mostra que em seu espaço, e que a partir do desenho inicial de 1846 tem vindo a se consolidar a praça comporta um retângulo na proporção 1:√2, e que este retângulo deriva de um modulo praça de um núcleo urbano médio do Brasil Colonial, ou seja parindo do quadrado 107,8 x 107,8 obtemos a proporção 107,8 x 152,45. O mesmo será dizer que a partir as dimensões 215,6 x 152,45 da praça do Comércio em Lisboa, será o segundo da sequencia da progressão geométrica. A característica que observou também, e de alguma forma uma constante na progressão estudada, é que existe uma distancia entre o 173

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

retângulo admitido e a frente de rua, neste caso 8,6 metros em torno do alvo estudado, muito próximo ao perfil de rua que a contorna. Praça D. Pedro II 5.3 A sua primeira denominação, do período Imperial, era praça do Imperador. Na Republica passa a denominar-se praça de São Pedro de Alcântara, e em 1920, o nome atual. Nos primórdios da vila, entre os colonos, era denominada de largo do Palácio, largo da Bacia e, os que ainda utilizavam a língua mãe, Kaiserplatz. Até 1860, pouco mais era que um capinzal. A praça D. Pedro II já era desde então as duas áreas cortadas pelo rio Quitandinha e pelas vias da rua da Imperatriz. (Zanatta) No projeto de 1846, é de fácil leitura a pretensão de uma praça única. Entretanto como já descrito funcionou como duas praças dividias por um rio até meados do século XX. Com as obras levadas a cabo para erguer o obelisco (1957) a praça ganhou a conformação atual O estudo acerca da geometria desta praça mostra que seu espaço desde o projeto inicial comporta a proporção 1:√2 no contorno da praça e um perfil de rua até à frente dos edifícios que lhe fazem frente. Este retângulo em sequencia deriva do observado antes na praça da Liberdade, assim tem 107,8 x 76,23 com um perfil de rua contornando até aos edifícios de 11,38 m.

Praça Bosque do Imperador 5.4 praça localizada a nascente do palácio Imperial não existente no projeto inicial de 1846. Articula espaços pertencentes à corte, e por isso não se descartará a hipótese de que faria parte do projeto de Guilhobel para o palácio Imperial. Binot terá organizado o jardim, para que nele se criasse um bosque europeu, ambiente de lazer e privacidade para o imperador. A documentação existente, menciona que o executor do jardim, deverá seguir plantas previamente enviadas. Em 1966, as árvores são cortadas, em 1970, ganha a configuração atual. (Zanatta) (Lacombe, 2007) O estudo acerca da geometria desta praça mostra que seu espaço ainda que sem projeto oficial, pela documentação encontrada, tem proporção 1:√2 no contorno da praça e um perfil de rua até à frente dos edifícios que lhe fazem frente. Este retângulo em sequencia deriva do observado antes, da praça D. Pedro II, assim tem 76,23 x 53,11 com um perfil de rua contornando até aos edifícios de 10,5 m. A geometria desta praça, o quadrado antes de derivar para o retângulo 1:√2, tem dimensões 53,8 x 53,8, ou seja a dimensão atribuída a praças centrais de núcleos urbanos pequenos ou a praça central de Vila Real de Santo António em Portugal. Praça Princesa Isabel 5.5 É uma homenagem à segunda filha de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina. A princesa Isabel, a “Redentora”, foi três vezes regente do Império. No centro da praça está um monumento ao Major Júlio Frederico Koeler, o grande impulsionador da Vila Imperial de Petrópolis. (Zanatta) 174

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

A praça está prevista no programa inicial, mas o lugar não está explicito nos projetos. A fotografia aérea da praça do inicio do século XX, permite observar a sua proporção de acordo com o raciocínio desta pesquisa. Entretanto, a praça ganha nova conformação não perdendo o espaço original, e necessário para comportar a sequência que se defende. Curiosamente essa mesma dimensão/proporção será transportada para a praça que se analisará em seguida e que teve sua construção em pleno segundo quartel do séc. XX. Acerca da geometria inferida de fotos, e dimensão do local, parece-nos razoável afirmar que o espaço conteria uma praça de dimensão 53,9 x 38,11. Está alinhada em, na sequência, com a praça Bosque do Imperador. Permite também, sendo ela uma praça que resolve questões de circulação, uma via em volta de 10,8 m de largura. Praça Oswaldo Cruz 5.6 Está no lugar da antiga praça de Nassau, a antiga praça tinha lugar e forma determinada no projeto de 1846, que não se integrava na linha desta pesquisa. Acontece que no segundo quartel do século XX, inaugurada em 1934, ela gama a dimensão/ proporção da praça Princesa Isabel. A praça da Catedral, praça princesa Isabel, por essa época terá perdido a forma retangular observada em fotografia A geometria desta praça, acompanha naturalmente a praça descrita anteriormente 53,9 x 38,11, embora a rua que a contorna seja mais estreita, 7,46m de largura.

Figura 5 - A progressão geométrica deduzida das praças de Petrópolis, comparação com os modelos de praças do Portugal e Brasil na era colonial.

175

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Considerações Finais 6 Apesar da Vila Imperial de Petrópolis (1846) ter sua construção/fundação a meio do século XIX, a análise de seus fundamentos urbanísticos nos remetem para os tratados de arquitetura e engenharia utilizados pelos engenheiros militares portugueses e brasileiros da era colonial. A cidade planejada que tem na sua base o quadrado, ou uma conjugação de quadrados que nos leva ao octógono, remete para postulados de Vitrúvio e retomados por Cesare Cesariano. O quadrado e as proporções a partir do quadrado, nos fazem revisitar Sérlio, e Antonio Rodrigues. O tratado de Ruação, com sua “imposição” do uso do quadrado com uma légua de lado para a fundação de das novas vilas, conjugada com a leitura do tratado de Guarino Guarini onde se faz uma apologia ao uso de progressões geométricas, fez com que esta pesquisa, através da experimentação gráfica propusesse uma leitura a partir da Rosa dos Ventos e Rumos, que no final cristaliza praças com pontos comuns entre a sequencia encontrada em Petrópolis na era Imperial, e os modelos de praças do Brasil e Portugal, na era Colonial.

176

IV Seminário Internacional da Academia de Escolas de Arquitetura e Urbanismo da Língua Portuguesa - 25 a 28 de Abril de 2017 – Belo Horizonte

Bibliografia AMBROZIO, J. (2008). O Presente e o Passado no Processo Urbano da Cidade de Petrópolis (Vol. I). São Paulo. ARAUJO, R. M. (1998). As Cidades da Amazónia no Século XVIII (2ª ed.). (M. Mendes, Ed.) Porto: FAUP. doi:129.452/98 BUENO, B. P. (2011). Desenho e Desígnio: o Brasil dos Engenheiros Militares (1500-1822) (1ª ed., Vol. I). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp. BUENO, B. S. (2012). Particularidades do processo de colonização da América espanhola e portuguesa. Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo 4.3, pp. 505-514. DEISTER, J. C. (Junho de 1949). Primeira Missa em Petrópolis. Revista Ação, pp. 132-134. DELSON, R. M. (1997). Novas Vilas para o Brasil-Colônia: planejamento espacial e social no Século XVIII. (F. d. Pinto, Trad.) Brasília: ALVACIORD. GOMES, L. M. (2007). Geometria nos traçados urbanos de fundação portuguesa - O "Tratado de Ruação" de José Figueiredo Seixas. Lisboa: ISCTE. HORTA, J. M. (2006). Vila Real de Santo Antonio, Forma Limite no Urbanismo Histórico Português. Faro. LACOMBE, L. L. (2007). Biografia de um palácio. Petrópolis: Museu Imperial. MORLEY, E. J. (2001). A Forma da Utopia; o Plano Koeler e a Construção da Vila Imperial, Petrópolis. Rio de Janeiro: UFRJ, FAU. PEDRO, A. P. (2014). A ideia de ordem: symmetria e decor nos tratados de Filarete, Francesco di Giorgio e Cesare Cesariano. São Paulo: Fapesp. ROSSA, W. (2001). DiverCidade - urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade. Coimbra: FCTUC. ROSSA, W., Coelho, I., Coelho, A. R., Simões, N., & Brandão, P. (2002). Recenciando as Invariantes. Alinhamento de Alguns Casos de Morfologia Urbana de Padrão Geométrico. Em W. Rossa, A urbe e o traço. Uma década de estudos sobre o urbanismo português. (pp. 425-443). Coimbra: Almedina. doi:187092/02 ZANATTA, Á. (s.d.). Histórias e Lendas das ruas de Petrópolis.

177

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.