As publicações ilustradas com retratos fotográficos e a renovação da iconografia oitocentista em Portugal

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WORKSHOP FOTOGRAFIA INVESTIGAÇÃO ARQUIVO

MUSEU NACIONAL DO TEATRO 7-8 MAIO 2014

Estrada do Lumiar, 10 1600-495 LISBOA Email: [email protected] Telefone: 217 567 410

NACIONAL DO

TEATRO

Workshop Fotografia-Investigação-Arquivo programa 7 de Maio Manhã 9h20 - Abertura dos Trabalhos

11h30 - José Oliveira

9h35 - José Carlos Alvarez

Doutorando em História da Arte Contemporânea (UNL-FCSH), bolseiro FCT e investigador do IHA da FCSH da UNL. Colaborador externo do CAMJAP da FCG e docente de fotografia e cultura visual no IADE. Co-fundador do projecto de curadoria independente “interface/arte contemporânea”, comissariando exposições.

Director do Museu Nacional do Teatro Artes do espectáculo e memória: a importância da fotografia no MNT A complexidade orgânica dos elementos que constituem um espectáculo cénico pode ressurgir através dos materiais, documentos e objectos que lhe sobrevivam. A fotografia tem um papel fundamental nesse processo porque, para lá do documental, possui uma dimensão de representação que profundamente se articula com a própria representação teatral, na pose e na imagem artística do actor. 9h45 - Clara Carvalho Professora auxiliar no Departamento de Antropologia do ISCTE-IUL (Lisboa), responsável pelo ramo de Saúde Global do Mestrado de Estudos de Desenvolvimento e diretora do Centro de Estudos Africanos do mesmo instituto (2007-2013) Género e Colonialismo nos arquivos fotográficos No caso português e, em particular, do colonialismo tardio (pós-1945), a imagem fotográfica revelou-se um elemento essencial na elaboração de um imaginário sobre a nação e o projecto colonial. Estas imagens encerram significantes expressivos da aplicação de um discurso de poder. Olhando para os arquivos coloniais, dois referentes surgem como óbvios, a classificação tipológica e racial, por um lado, e a diferenciação de género, por outro lado. Nesta comunicação procuram-se expor as continuidades encontradas nas fotografias coloniais sobre Africa nas útimas décadas do Estado Novo e questionar o seu papel na elaboração de um discurso sobre a diferença e alteridade.

Ernesto de Sousa: Fotografia, Escultura e Fenomenologia Uma abordagem à edição de Para o Estudo da Escultura Portuguesa (1965), de Ernesto de Sousa, que constitui uma obra de referência e pioneira na abordagem fenomenológica da utilização da fotografia no estudo e caracterização da escultura. 11h40 - Natasha Revez Mestre em História da Arte, com a dissertação “Os álbuns “Portugal-1934” e “Portugal 1940”. Dois retratos do país no Estado Novo”. Doutoranda em História da Arte na FCSH UNL Os álbuns Portugal 1934 e Portugal 1940, imagens do país no Estado Novo Os álbuns Portugal 1934 e Portugal 1940 como ponto de partida para uma reflexão sobre a necessidade de estudar as imagens fotográficas e sobre o significado de fazer a sua história no presente. 11h50 - Teresa Meruje Mestre em Património Europeu, Multimédia e Sociedade de Informação, doutoranda em História da Arte e professora do Ensino Secundário. Colaborou em jornais, revistas e antologias, com artigos e ensaios sobre arte e literatura, e é Membro do Conselho Redactorial da revista AVE AZUL – Arte e Crítica [Viseu].

9h55 - Inês Vieira Gomes

Do auto-retrato da artista ao retrato da actriz – inclusão e asserção

Doutoranda em História no ICS da UL, com projecto de tese sobre fotografia em contexto colonial português. Investigadora bolseira no projecto “Conhecimento e Visão: Fotografia no Arquivo e no Museu Colonial Português (1850-1950)”. Licenciada e mestre em História da Arte, colaborou com o CAMJAP da FCG

O auto-retrato feminino apresenta a artista, despojada de adereços, no exercício da sua profissão. O retrato da actriz traz, nos atavios, o encanto como aura dominante. Cotejaremos quanto, um e outro, denunciam o anseio de auto-afirmação e ganho de credibilidade.

Os fotógrafos no Arquivo do SNI. Um estudo de caso a partir de fotografias das ex-colónias portuguesas O Arquivo Fotográfico do SNI possui c. 2000 fotografias das ex-colónias portuguesas. Pretende-se, a partir de uma visão de conjunto, abordar a autoria destas fotografias e questionar o papel que os fotógrafos tiveram na produção de uma propaganda colonial em imagens. 10h05 - Filomena Serra Doutorada em História da Arte Contemporânea, Membro integrado do Instituto de História da Arte FCSH-UNL Vitoriano Braga, homem de teatro e fotógrafo amador Vitoriano Braga (1888-1940) foi uma figura sobejamente conhecida pelos seus dramas teatrais, alguns dos quais como Octavio, mereceram os melhores elogios de Fernando Pessoa. Foi também tradutor e crítico de teatro, mas a sua faceta de apaixonado da fotografia é, talvez, a menos conhecida. Todavia, a ele se devem algumas das imagens fotográficas importantes do princípio do século XX ao ter retratado as principais figuras do grupo de Orpheu. É sobre essas imagens que incidirá a comunicação. 10h15 - Filomena Chiaradia Doutorada em Artes Cênicas com tese sobre Iconografia Teatral. Investigadora do Centro de Documentação e Informação/Fundação Nacional de Artes/ Ministério da Cultura do Brasil Uma experiência produtiva entre investigação e acervos fotográficos: a fotografia de cena para além do registo A fotografia de cena na escrita da narrativa historiográfica de companhias teatrais responsáveis pela constituição de coleções fotográficas e a oportunidade de organização de acervos em diálogo entre investigação científica e processamento técnico.

12h00 - Nuno Borges de Araújo Arquitecto, doutorando em Ciências da Comunicação pela UM, com projecto de tese “Fotografia e cultura visual em Braga, 1853-1910”. Investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, do Departamento de Ciências da Comunicação da UM. Tem várias obras sobre fotografia editadas e colaborou em diversas exposições de fotografia. As publicações ilustradas com retratos fotográficos e a renovação da iconografia oitocentista em Portugal As publicações ilustradas com retratos fotográficos colados, surgem em Portugal a partir da década de 1860, constituindo um caso particular da história da ilustração, contemporâneo de um período de expansão da técnica fotográfica. Tiveram o seu auge no final da década de 1870 e início da de 1880, desaparecendo gradualmente com o aparecimento de novas técnicas de ilustração. No caso das publicações periódicas, constituíram verdadeiras «galerias biográficas» que tiveram um papel importante na renovação da iconografia, na difusão de novos modelos e valores, durante a monarquia constitucional. Estas publicações constituem uma importante fonte de documentação iconográfica oitocentista, ainda hoje não inventariada e pouco acessível à consulta generalizada. 12h10 - Carmen Almeida Mestre em Museologia com a dissertação Objectos Melancólicos… Fotografia , Património e Construção da Memória, A Colecção do Grupo Pró-Évora (1890-1920). Doutoranda em História e Filosofia da Ciência no CHEFci-UE; projecto de dissertação “A Divulgação da Fotografia no Portugal Oitocentista-Protagonistas , Práticas e Redes de Circulação dos Saber”. A divulgação da fotografia no Portugal Oitocentista: Autonomia e dependência-protagonistas e primeiras participações em redes internacionais do saber

Se os dispositivos estabelecem e gerem relações, se são mecanismos de auto-controle, a finalidade da arte é des-naturalizar essa ação reguladora. Por via da fotografia e do teatro é proposta uma alternativa contrária à do dispositivo através da construção de algo de “artificial”.

Os primeiros casos de participação portuguesa em inventos ou redes internacionais de fotografia, na primeira metade do séc. XIX (1839-1860), foi efectivada quase inteiramente por fotógrafos/amadores ingleses ou de ascendência inglesa, se bem que se possam apontar alguns casos de fotógrafos portugueses ou franceses ou de outra nacionalidade residentes em Portugal, na sua maior parte, fotógrafos comerciais. Assim, Porto e Madeira, locais com fortes comunidades inglesas residentes, foram seguramente o cenário dos primeiros intercâmbios fotográficos com o exterior, de inserção em redes de comunidades fotográficas/científicas internacionalmente reconhecidas. Joseph James Forrester (Porto), durante a década de 1850, e Russel Manners Gordon (Ilha da Madeira), durante a década de 1860, constituem exemplos paradigmáticos da prática e aprofundamento do estudo do novo invento durante as décadas de 1840 a 1860, a maior parte das vezes desenvolvido à margem geográfica dos convencionais centros de saber. Paralelamente, Forrester e Gordon constituem exemplos concretos do paradigma de comunicação de ciência então vigente, aspecto determinante para entender a produção do saber fotográfico e o seu entendimento/apropriação popular.

10h35 - Debate

12h10 - Debate

11h10 - Intervalo

12h40 - Encerramento da sessão da manhã

10h25 - Miguel Proença Fotógrafo independente, Lisboa. Mestre em História da Arte Contemporânea pela Universidade Nova com a dissertação, “Fernando Lemos: Eu sou a fotografia”. Doutorando na Faculdade de Belas Artes de Lisboa em Fotografia com projecto de tese: Fotografia e dispositivo Arte, Fotografia e Teatro versus dispositivo

Workshop Fotografia-Investigação-Arquivo programa 7 de Maio Tarde 14h15 - Alexandra Encarnação

15h55 - Guida Cândido

Responsável pelo Arquivo de Documentação Fotográfico da DGPC. Licenciada em História pela FCSH da UNL, especializou-se em conservação de fotografia com formação e estágio nos Arquivos Fratelli Alinari, Florença, Itália.

Coordenadora do Arquivo Fotográfico Municipal da Figueira da Foz, mestrando em Alimentação - Fontes, Cultura e Sociedade e licenciada em História da Arte pela FLUC. É responsável pelo estudo dos fundos fotográficos da coleção, organização de exposições, concursos, workshops e outras atividades culturais do Arquivo Fotográfico Municipal da Figueira da Foz. É autora de livros e publicações científicas na sua área de investigação em Alimentação e, com isso, alimenta o hiperespaço na condição de food blogger

Fotografia e Memória Patrimonial A Arquivo de Documentação Fotográfico da DGPC tem como missão o registo fotográfico e a sua salvaguarda documental dos bens móveis e imóveis dos Museus, Palácios, e outros imóveis da DGPC no Inventário Fotográfico Nacional. A ação do Arquivo articula-se em 4 eixos fundamentais: 1. Levantamentos fotográficos patrimoniais, segundo critérios técnicos internacionais; 2.Inventário, digitalização e disponibilização pública dos registos fotográficos, através de plataformas online; 3.Salvaguarda, conservação e estudo dos espólios fotográficos antigos à sua guarda; 4.Formação e aconselhamento técnico na área da fotografia técnica patrimonial e da conservação de fotografia. 14h25 - Luís Pavão e Paula Figueiredo Cunca Técnicos Superiores no AMLx/Fotográfico. Luís Pavão, fotógrafo e mestre em Conservação de Fotografia (Rochester/EUA), responsável pela Conservação e Restauro no AMLx/ Fotográfico e Paula Figueiredo Cunca, licenciada em Filosofia pela UCP/FCH e mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação (ISCTE) tem desenvolvido trabalhos de investigação sobre fotografia privada O Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico - 20 Anos de portas abertas ao público O AMLx/Fotográfico celebra 20 anos de existência nas atuais instalações. Em 1994 apresentou um novo conceito de arquivo fotográfico, de portas abertas ao público com a exposição Provas Originais 1858 – 1910 - 20 anos depois, apresentamos um olhar retrospetivo sobre o trabalho desenvolvido a partir desta exposição.

A Figueira na “boca de cena”: O teatro na coleção do Arquivo Fotográfico Municipal da Figueira da Foz O Teatro Príncipe Carlos, reduzido a cinzas em 1914, não ditou o fim da actividade teatral na Figueira. Atores, alçados neste e noutros palcos, construíram o imaginário duma cidade com tradição nesta arte. Eis as imagens que contam essa história. Abram as cortinas! 16h05 - Abel Rodrigues Licenciado em História e mestre em História Moderna e Contemporânea de Portugal, pela UM. A concluir o curso de especialização em Ciências da Informação (variante Arquivos). Investigador em arquivos sociais e familiares e em história social e cultural. O Arquivo Fotográfico da Casa de Mateus (1844-2014) Apresentação do tratamento arquivístico que está a ser aplicado ao Arquivo Fotográfico da FCM, composto por 9806 imagens, que se encontra integralmente digitalizado. Trata-se de um acervo riquíssimo, no qual a História da Família, da Casa (monumento nacional) e da Fundação se confunde com a História do País 16h15 - Luísa Baeta e Anabela Bravo

Técnica superior no Arquivo Histórico Municipal do Porto. Licenciada em Filosofia e pós graduada com o Curso de Especialização em Ciências Documentais pela FLUC.

Técnicas da Widegris/ AFotMMontemor-o-Novo; Anabela Bravo é licenciada em Artes Plásticas, mestre em Arte Multimédia e pós-graduada em Arquivos. Desenvolve trabalho em arquivos de artista com enfoque na fotografia e nos audiovisuais; Luísa Baeta é antropóloga, com especialização em gestão do património e acção cultural e fotógrafa, mestre em arte multimédia

O Porto e os seus fotógrafos : o acervo do Arquivo Histórico Municipal do Porto

Começar pela Reforma Agrária

O arquivo fotográfico do AHMP detém um valioso acervo com interesse para a história do país no final do séc. XIX. e início do séc. XX. A sua divulgação permitirá realçar o contributo dos fotógrafos portuenses no desenvolvimento da fotografia em Portugal

Contribuir para que as estruturas estatais tratem, a nível arquivístico, o documento fotográfico com a mesma importância que o documento escrito. O fundo audiovisual sobre Reforma Agrária do Arquivo Fotográfico Municipal de Montemor-o-Novo.

14h45 - Ana Barata

16h25 - Teresa Barreto Borges

Bibliotecária de referência da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, mestre em História da Arte pela FCSH da UNL.

Coordenadora do Centro de Documentação e Informação da Cinemateca Portuguesa. Licenciada em Comunicação Social pela FCSH da UNL, pós-graduada em Ciências Documentais pela FLUL.

14h35 - Maria do Rosário Guimarães

As colecções fotográficas da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian Apresentação e caracterização das colecções fotográficas da Biblioteca de Arte; recuperação da informação, formas de acesso e disponibilização 14h55 - Paulo Simões Rodrigues Director do CHAIA e professor auxiliar da UE A Operacionalidade da Fotografia ou a Fotografia como Arte da Memória A Arte da Memória, ou Ars Memoriae, ou Ars Memorativa, remonta à antiga retórica grega e consistia num conjunto de técnicas de memorização e de organização de ideias e palavras através da sua associação a imagens. A imagem fotográfica, enquanto produto de civilização, é essencialmente mnemónica. Uma das valências da fotografia é a preservação da memória da imagem dos índividuos, das paisagens, dos edifícios e das mais variados manifestações da acção produção humana. Tendo como exemplos as colecções fotográficas da BA-FCG, focar-nos-emos na abordagem do registo fotográfico enquanto fonte documental da investigação da memória da imagem em áreas relacionadas com o património cultural e arquitectónico. Isto é, de uma memória que, quando fixada, não se quis neutra, mas visualização de uma determinada ideia acerca de uma determinada realidade, configuradora de uma determinada inteligibilidade. 15h05 - Debate 15h35 - Intervalo

O caso da UFA: fotografias de cena e de rodagem de filmes com múltiplas versões Descrição do trabalho de indexação de provas fotográficas de filmes produzidos em multiversões linguísticas pela UFA (Universum Film AG) no início dos anos 30. Identificação da versão retratada (fotografias de cena e de rodagem) a partir dos elementos presentes na imagem. 16h35 - Beatriz Neves e Paulo Baptista MNTeatro. Beatriz Neves é licenciada em História Contemporânea de Portugal ISCTE A vida nos palcos: Palmira Bastos, projecto de fotobiografia (1890-1915) Processos de investigação fotobiográfica no Museu Nacional do Teatro. Alguns aspectos e imagens da actividade teatral em Portugal através da carreira de uma das mais destacadas intérpretes, Palmira Bastos, e do seu percurso em palco de 1890 a 1915. 16h45 - Carmen Almeida Coordenadora do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Évora desde 2000•. O Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Évora – 12 Anos de actividade O Arquivo Fotográfico da CME foi aberto ao público em Novembro de 2001. Possui actualmente mais de 450 000 espécies fotográficas para além de um pequeno “ núcleo museológico”. O seu acervo reúne as colecções dos mais importantes fotógrafos locais dos séculos XIX e XX de Évora , permitindo documentar os aspectos mais diversos da vida local e regional. Doze anos depois apresenta-se uma reflexão sobre o trabalho desenvolvido, identificando as principais potencialidades e debilidades. 16h55 - Debate 17h20 - Encerramento da sessão da tarde • Ver detalhes comunicação 7 Maio Manhã

Workshop Fotografia-Investigação-Arquivo programa 8 de Maio Manhã 9h30 - Pedro Aboim Borges

11h10 - Ana Duarte Rodrigues

Doutorado em História da Arte Contemporânea (Fotografia e Património) e mestre em História da Arte (Fotografia) pela FCSH da UNL. Professor-adjunto na Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Estoril.

Professora Universitária, Doutorada em História da Arte pela FCSH da UNL, investigadora do CHAIA da UE e do CHAM da FCSH da UNL, Investigadora (Fellow) na Universidade de Harvard (2013). Editora da revista Gardens & Landscapes. Autora de numerosos livros e artigos científicos sobre jardins e paisagem e escultura.

O Arquivo Marques Abreu O arquivo do fotógrafo e editor José Antunes Marques Abreu, funcionário da DGEMN (Monumentos do Norte) documenta sobretudo a arquitectura românica, mas também a arquitectura gótica, renascentista e barroca, e mesmo a pintura e a escultura. Comporta provas e negativos fotográficos, equipamento fotográfico, correspondência, documentação técnica e divide-se por dois espólios, o de Marques Abreu pai e o de Marques Abreu Jr., que acompanhou o pai em múltiplas campanhas para prossecução dos projectos editoriais. É um arquivo imprescindível para o entendimento da historiografia sobre a Arte Românica em Portugal e determinantn e para o estudo da edição e da protecção patrimonial entre 1900 e 1935. 9h40 - Jorge Custódio Doutorado pela UE, investigador integrado do IHC e docente de Arqueologia Industrial e de Museologia Industrial na FCSH da UNL. Dirigiu o Projecto Municipal Santarém a Património Mundial (1994-2002), o Convento de Cristo (2002-2007) e o Museu Nacional Ferroviário (2009-2011). A Fotografia como Documento da Rede Ferroviária Nacional: O caso de Emílio Biel Análise do modelo descritivo de levantamento da estrutura ferroviária portuguesa por via do registo fotográfico sistemático da circulação de material circulante e de obras de arte das primeiras linhas ferroviárias portuguesas, nomeadamente do Leste e do Douro, do Minho, da Beira Alta e do Vouga, trabalhos de excelência de Emílio Biel. Significado da publicação das imagens da ferrovia no desenvolvimento do turismo em Portugal, chamando a atenção, por via da fotografia, da litografia ou da impressão fotográfica para a paisagem que o turista podia observar circulando pelas regiões atravessadas pelos caminhos-de-ferro. 9h50 - Filipe Figueiredo Investigador do CET (FL/UL), integra o projecto OPSIS, doutorando em Estudos Artísticos – fotografia de teatro (bolseiro FCT). O arquivo de fotografia e a construção da memória A partir da análise dos Livros de Registo de Repertório da companhia Rey Colaço–Robles Monteiro (1821-1974), na Biblioteca-Arquivo do TNDM II, esta comunicação visa abordar a possibilidade de construção da memória através da colecção de fotografias. 10h00 - Paulo Baptista Investigador do MNT, doutorando em História da Arte Contemporânea, Investigador do IHA da FCSH-UNL, co-editor da revista Gardens & Landscapes of Portugal. O retrato modernista: a contribuição da fotografia A fotografia desempenhou um papel fundamental na afirmação da imagem moderna em Portugal. O estudo sistemático do espólio da Fotografia Brasil (Arquivo Fotográfico da DGPC/Museu Nacional do Teatro) contribuiu, de forma determinante, para um entendimento formal e cronológico dessa afirmação modernista no retrato fotográfico. 10h10 - Cosimo Chiarelli Historiador da fotografia italiana, especialista das relações entre fotografia e teatro. Docente de Historia da Fotografia na Universidade de Pisa, actualmente a investigar as coleções do Departamento das Artes do Espectáculo da Biblioteca Nacional Francesa. É director do “Centro per la fotografia dello spettacolo di San Miniato” (Pisa) e organizador (até 2011) do “Occhi di scena”, o único Festival Europeu dedicado à fotografia do espectáculo, com mostra de exposições originais de arquivos teatrais. Corpo, imagem, arquivo: a fotografia e o mimo Uma investigação sobre as relações entre fotografia e mimo, realizada nos arquivos da Biblioteca Nacional Francesa: materiais, perguntas, resultados e perspectivas. (intervenção em língua inglesa). 10h20 - Debate 10h50 - Intervalo

Sintra’s privileged picturesque landscapes offered by 19th century photography Sintra’s landscape photography in the 19th century clearly remains encoded within academic painting composition. In this paper I seek to analyze the construction of Sintra’s landscapes idealized image through a comparative approach with other media. (intervenção em língua portuguesa). 11h20 - João Paulo Machado Técnico Superior da DGPC, exerce funções na Divisão de Património Imóvel, Móvel e Imaterial, gestor do Sistema de Informação “Matriz”. Licenciado em História, foi técnico de documentação fotográfica do arquivo da DGEMN e técnico responsável pelo estudo do espólio San Payo do AFDGPC. A Persistência da memória: retratos da Coleção San Payo A coleção de retratos de San Payo como exemplo de espólio de atelier fotográfico. Chamar a atenção para a sua fragilidade de suportes e dificuldade de identificação. A abordagem arquivística. A urgência do levantamento dos espólios fotográficos na luta contra a perda da memória. A necessidade de digitalização como forma de preservar e divulgar para auxiliar na identificação. 11h30 - Fernando Costa e Paulo Tremoceiro Técnicos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Documentos fotográficos na Torre do Tombo: tratamento e acesso I Condições de acesso: O acervo fotográfico do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) foi enriquecido com a fusão do ex. - Arquivo de Fotografia de Lisboa em 2007. Tornou-se, assim, num acervo bastante diversificado e com uma grande multiplicidade de tipologias documentais. Dada a sua magnitude, apenas parte da documentação fotográfica se encontra, atualmente, disponível aos mais variados utilizadores. A pesquisa fotográfica obedece a determinadas especificidades que a tornam singular dentro do ANTT. Não obstante, o acesso às imagens poderá ser condicionado pelas restrições de comunicabilidade previstas na lei. 11h40 - Fátima Ó Ramos e Paulo Leme Técnicas do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Documentos fotográficos na Torre do Tombo: tratamento e acesso II Tratamento técnico e apresentação de conteúdos: A fotografia, enquanto documento de arquivo, toma sentido no contexto documental a que pertence. Ela apresenta, todavia, características muito próprias, que se refletem na sua descrição, instigando, a todo momento, o diálogo interativo entre as diferentes normas disponíveis. O estado da questão no ANTT. 11h50 - Anabela Ribeiro e Carla Lobo Técnicas do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Documentos fotográficos na Torre do Tombo: tratamento e acesso III Conservação, transferência de suporte e disponibilização. No ANTT, seguimos uma metodologia de identificação dos processos fotográficos, estado de conservação e proposta de intervenção. O nível de tratamento nestes materiais depende de um conjunto de fatores. Contudo, a intervenção é sempre mínima, o suficiente para garantir o acesso ao documento original, bem como à reprodução em segurança. No âmbito da política de disponibilização online e de preservação, os documentos fotográficos depois de tratados do ponto de vista físico e intelectual, são reproduzidos/digitalizados de acordo com normas internacionais para serem associados aos registos descritivos. 12h00 - Debate 12h30 - Encerramento da sessão da manhã

Workshop Fotografia-Investigação-Arquivo programa 8 de Maio Tarde 14h15 - Marina Figueiredo

16h00 - Luís Montalvão

Técnica do Arquivo Histórico Parlamentar.

Técnico superior, bibliotecário e documentalista do MNAA.

Estratégias para a incorporação nos arquivos fotográficos digitais: o caso do Arquivo Fotográfico Parlamentar

O arquivo fotográfico do MNAA

Caracterização do acervo fotográfico do Arquivo Fotográfico Parlamentar e o problema da incorporação de fotografia digital num cenário de aumento exponencial da produção de documentos fotográficos que carateriza o contexto digital”. 14h25 - Leonor Sá Directora do Museu de Polícia Judiciária, doutoranda na FCH da Universidade Católica. O Arquivo Histórico Fotográfico do Museu de Polícia Judiciária O Arquivo Histórico Fotográfico do Museu de Polícia Judiciária: desafios passados, presentes e futuros. 14h35 - Susana Rodrigues, Tânia Marques e Vasco Duque Susana Rodrigues, técnica superior do Arquivo da PR. Licenciada em História e pósgraduada em Ciências Documentais, variante Arquivo, pela UAL e pós-graduada em Ciências Documentais, variante Biblioteca, pela FLUL.; Tânia Marques, técnica superior do Arquivo da PR. Licenciada em Estudos Europeus pela FLUL. Pós-Graduada em Ciências Documentais pela ULHT. Mestre em Ciências Documentais, pela ULHT; Vasco Duque, técnico superior do Arquivo da PR. Licenciado em Design e Produção Gráfica – ISEC. A fotografia institucional no Arquivo Histórico da Presidência da República O Arquivo Histórico da Presidência da República está a proceder à integração e tratamento da documentação fotográfica produzida pela instituição. Trata-se de um conjunto documental composto por milhares de fotografias, ilustrativo da atividade presidencial e, como tal, incontornável para o estudo da História Contemporânea Portuguesa. 14h45 - Ana Marta Lopes Guerreiro Técnica superior do Arquivo do Museu da PR. Anteriormente foi responsável pelo levantamento do arquivo da Valorsul. Mestre em Ciências da Informação e Documentação (arquivo) pela FCSH da UNL. Licenciada em Estudos Portugueses pela FLUL. Formadora da BAD em Norma internacional para a descrição de funções (2012). A indexação como estratégia para a recuperação de informação nos arquivos fotográficos: os arquivos do órgão de soberania, o Presidente da República As coleções fotográficas do Museu da Presidência da República representam um testemunho único para o estudo da história contemporânea. A criação de uma lista especializada de assuntos para indexação é fundamental como estratégia para uma política de acesso documental. 14h55 - Catarina Miranda Basso Marques Mestre em História da Arte, é investigadora do CITCEM e doutoranda na UM (bolseira FCT) com o projecto de tese “Usos privados e públicos da fotografia na sociedade bracarense (1910-1945)”. Fotografia & Investigação Histórica – estudo de caso do Arquivo Aliança.

O arquivo fotográfico do MNAA documenta a evolução do Museu, desde 1882, até as obras de 1992. É também um inventário fotográfico das colecções do MNAA, e um repositório de imagens de obras de arte de colecções portuguesas e estrangeiras. 16h10 - Sandra Garrucho Mestre em Fotografia – perfil Conservação de Fotografia, Escola Superior de Tecnologia de Tomar/Instituto Politécnico de Tomar . Intervenção sobre uma Coleção Fotográfica do Arquivo Histórico Ultramarino - Conservação e Acesso A documentação fotográfica, depositada no AHU, era constituída por vários tipos de suporte (vidros, películas, provas em papel e álbuns fotográficos). Referia-se a várias missões do Instituto de Investigação Científica Tropical (nomeadamente a Missão Geográfica de Cabo Verde, 1926-1932 e a Missão de Delimitação de Fronteira LusoBelga em Angola, 1901), à Sociedade Agrícola Colonial (referente à Roça Porto Real na Ilha de Príncipe) e a Companhias coloniais (p.ex. Companhia da Zambézia, Moçambique, 1892-1920). O núcleo fotográfico é de enorme importância dos pontos de vista histórico, cultural e patrimonial. O objetivo da intervenção visou a preservação e o tratamento da documentação fotográfica, tornando-a acessível ao público. 16h20 - Teresa Alexandra da Silva Ferreira Laboratório HERCULES, Herança Cultural, Estudos e Salvaguarda, professora auxiliar da UE. Caracterização material de fotografias e negativos: casos de estudo Caracterização material de fotografias e negativos: casos de estudo. 16h30 - Ana David Mendes Técnica superior do M|i|mo (museu da imagem em movimento). Responsável pela “Qualidade, Certificação e Redes”, coordenadora da gestão das colecções. Foi coordenadora do museu até 2013. Arquivos fotográficos: o que se esconde dentro da Caixa? Os arquivos são memorias escondidas no tempo. Pequenas descobertas, grandes avanços. Do numero do chapa ao titulo do envelope - como se revela a informação, como se comunicam conteúdos, e como podem decorrer os processos de apropriação, como uma forma de valorização? O M|i|mo integrou a RPM em 2004 e teve uma nomeação honrosa para “melhor museu do ano” em 2010. 16h40 - Mafalda Lourenço e Paulo Baptista Museu Nacional do Teatro. Mafalda Lourenço é pós-graduada em Jardins e Paisagem pela FCSH da UNL e licenciada em Agronomia pelo ISA. Fotografia e movimento Bailarinos, dançarinos e fotografia de espectáculo (1890-1930) na colecção fotográfica do Museu Nacional do Teatro e na imprensa periódica ilustrada portuguesa.

O Arquivo Aliança compreende o espólio de um estúdio fotográfico, a Photographia Alliança, que existiu em Braga entre 1910-1980. A comunicação centra-se na abordagem do arquivo fotográfico como forma de aceder ao universo da fotografia e ao conhecimento da realidade histórica que dele transparece.

16h50 - Alexandre Pomar

15h05 - Debate

A Exposição-Feira de Angola 1938, a exposição como mecanismo de investigação e conhecimento

15h40 - Intervalo

Jornalista, crítico de arte e galerista da fotografia, tem numerosos artigos e escritos sobre fotografia contemporânea e História da Fotografia

A partir da recentíssima exposição da Pequena Galeria, intitulada Exposição-Feira de Angola 1938, reflecte-se ácerca de um enigmático objecto da História da Fotografia em Portugal e do processo de investigação/aprendizagem multidisciplinares que a referida exposição constituiu 17h00 - Debate 17h30 - Encerramento da sessão da tarde

Workshop Fotografia Investigação Arquivo Museu Nacional do Teatro 7-8 Maio 2014

Ficha Técnica Coordenação

José Carlos Alvarez (Director do Museu Nacional do Teatro e da Dança) Paulo Baptista (Museu Nacional do Teatro) Paulo Simões Rodrigues (CHAIA U\Évora)

Secretariado

Mafalda Lourenço (Museu Nacional do Teatro e da Dança) Manuela Gomes dos Santos (Museu Nacional do Teatro e da Dança) Sofia Patrão (Museu Nacional do Teatro e da Dança)

Apoio

Sónia Dias (Museu Nacional do Teatro e da Dança) Rui Mourão (Museu Nacional do Teatro e da Dança)

Design e Paginação Francisco Baptista

ISBN 978-989-8052-86-5 [Título: Actas do Workshop Fotografia-Investigação-Arquivo, Museu Nacional do Teatro e da Dança Maio de 2015]; Alvarez]; Eletrónico];

[Autor: José Carlos

[Co-autor(es): Paulo Ribeiro Batista]; [Suporte: [Formato: PDF / PDF/A]

As publicações ilustradas com retratos fotográficos e a renovação da iconografia oitocentista em Portugal

Nuno Borges de Araújo ISBN 978-989-8052-86-5

Resumo As publicações ilustradas com retratos fotográficos colados, surgem em Portugal no século XIX, a partir da década de 60, constituindo um caso particular da história da ilustração, contemporâneo de um período de expansão da técnica fotográfica. Tiveram o seu auge nos finais da década de 70 e inícios da década de 80, e desapareceram gradualmente com o aparecimento de novas técnicas de ilustração. No caso das publicações periódicas, constituíram verdadeiras “galerias biográficas” que tiveram um papel importante na renovação da iconografia e na difusão de novos modelos e valores, durante o período da monarquia constitucional. Estas publicações constituem uma importante fonte de documentação iconográfica oitocentista, ainda hoje não inventariada e pouco acessível à consulta generalizada. Palavras-chave: imagem fotográfica, iconografia, Portugal, século XIX Artigo Em 1844, cinco anos após a divulgação pública das primeiras técnicas fotográficas, surgiu em Londres a primeira publicação ilustrada com fotografias, com o título The Pencil of Nature. Foi editada em seis partes até ao ano de 18461. A técnica utilizada para executar as fotografias foi a calotipia, processo negativo-positivo inventado por William Henry Fox Talbot, que permitia imprimir vários positivos em papel a partir de uma fotografia negativa no mesmo suporte2. Apesar das potencialidades desta ideia inovadora, a produção de publicações ilustradas com fotografias coladas não foi significativa até à década de 1860. A fotografia era muito dispendiosa e apenas acessível a uma reduzida elite. Com a difusão do formato carte de visite fotográfico (cerca de 6,3 x 10,2 cm) a partir do final dos anos 50 e, sobretudo a partir de 1862 com a introdução da máquina múltipla com quatro lentes pelo fotógrafo francês Disdéri, a fotografia, que até aqui era feita imagem a imagem, sofreu uma importante redução dos custos. O novo aparelho permitia fazer oito exposições diferentes na mesma chapa fotográfica, imprimir os positivos e depois cortar as várias imagens impressas na mesma folha e colá-las em cartões um pouco maiores. A economia devia-se sobretudo à redução significativa do tempo gasto e ao menor desperdício de materiais no processo de produção de várias imagens (fig. 1). Duas impressões da mesma chapa bastavam para obter mais de uma dúzia de retratos em poses diferentes do mesmo cliente. O novo formato foi rapidamente adoptado pelos fotógrafos na Europa e noutros continentes3.

1 Frizot, Michel (ed.) (1998) A New history of photography, Köln: Köneman, p. 62; National Media Museum, ‘P is for The Pencil of Nature... a wonderful illustration of necromancy’, National Media Museum blog, 27 Mar. 2014, [http://wp.me/p2gWss-1ap]. 2 Gernsheim, Helmut (1982) The origins of photography, New York: Thames and Hudson, pp. 181-232; Frizot, 1998, pp. 58-90; CartierBresson, Anne (dir.) (2008) Le Vocabulaire technique de la photographie, Paris: Marval / Paris Musées, pp. 56-58. 3 Eder, Josef Maria (1978) History of photography, New York: Dover Publications, pp. 351-352; Darrah, William C. (1981) Cartes de visite in nineteenth century photography, Gettysburg, Pennsylvania: ed. do autor, p. 4; Gernsheim, Helmut (1988) The rise of photography, 1850-1880: The age of the collodion. London: Thames and Hudson, 1988, pp. 189-203; Sagne, Jean (1998) ‘All kinds of portraits: the photographer’s studio’ in Frizot, Michel (ed.) A new history of photography, Köln: Konemann, pp. 109-114; Gustavson, Tod (2009) Camera: A history of photography from daguerreotype to digital, New York: Sterling Publishing, pp. 64-65.

Esta inovação na técnica de produção de imagens fotográficas foi acompanhada pelo desenvolvimento da produção de papel albumina a uma escala industrial. O papel produzido na França, Reino Unido e Alemanha era exportado para toda a Europa a preços inferiores aos do custo da produção artesanal. No essencial foram estes os principais motivos da enorme redução do preço de um retrato fotográfico. Agora, além de ser um retrato verosímil, uma “cópia da natureza”, também passou a ser acessível a uma faixa mais alargada da população. No século XIX teve um significativo impacto possuir o retrato fotográfico de uma figura representativa do poder instituído, ou dos seus Fig. 1. Disdéri, André-Adolphe-Eugène (Paris), Infante D. Augusto, Duque de opositores, que a maioria da população, mesmo Coimbra, 1867. Impressão de um negativo com oito retratos no formato carte de visite. as classes mais privilegiadas, raramente podia ver. Col. George Eastman House, Rochester, N.Y. A Rainha Vitória e Napoleão III, entusiastas da fotografia, usaram-na de forma consciente como propaganda do regime na figura da família real, documentando os principais momentos das suas vidas e reforçando, através da divulgação dessas imagens, um elo com a população que favorecia a adesão à instituição monárquica4. As famílias reais europeias seguiram o seu exemplo (fig. 2). No caso dos reis, que constituíam um símbolo representativo da nação, era mesmo comum a sua presença nas casas particulares, emolduradas e expostas num móvel ou na parede. D. Pedro V, no seu diário de viagem a França, regista no dia 6 de Junho de 1855: «fomos ver a oficina fotográfica de Mayer et Pierson, onde mandei copiar o meu frontespício, para satisfazer os que pedem retratos»5. Este rei tirou o seu retrato no fotógrafo lisboeta Francisco Augusto Gomes e pouco tempo depois encontramos algumas das principais figuras da política e da cultura da época a retratarem-se no mesmo fotógrafo, e, tal como eles, a alta sociedade da capital. Assim, a circulação das cartes de visite foi, talvez, a forma mais eficaz de representação, numa sociedade dividida entre a perpetuação dos regimes vigentes e o desejo de mudança. Se a aristocracia viu nestas imagens uma forma que contribuía para a consolidação da sua posição hierárquica, quer sob a forma de retratos oficiais quer numa aparente esfera de intimidade, reforçando os laços que sustentavam o seu poder, a burguesia viu nelas uma forma de se elevar e perpetuar a sua memória. Em pouco tempo os amantes da fotografia viam-se confrontados com uma quantidade significativa de retratos familiares, de amigos, dos artistas favoritos e de personalidades contemporâneas. Como guardar e organizar tudo isto? Numa época em que os diários e os álbuns pessoais eram um hábito frequente, a resposta surgiu naturalmente: criar e comercializar álbuns fotográficos6. Fig. 2. Fotomosaico da família real portuguesa, 1864. Montagem de António da Fonseca (Lisboa), composta com imagens de vários fotógrafos, incluindo dele próprio. Carte de visite. Col. do autor.

É neste contexto europeu que se desenvolve a edição de publicações ilustradas com fotografias coladas7. Os modelos estrangeiros foram rapidamente seguidos por editores portugueses. Monografias ilustradas

4 Frizot, 1998, p. 123. 5 Leitão, Ruben Andresen (ed.) (1970) Diário de viagem a França del-Rei Dom Pedro V, 1855, Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais, p. 178.

6 Sagne, 1998, p. 120. 7 Id. nota 4.

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com retratos do autor, biografias ilustradas com o retrato do biografado, e periódicos de carácter temático ilustrados com retratos fotográficos colados de figuras representativas dessas áreas. Dada a economia da sua produção, o formato das fotografias coladas usado nestas publicações foi dominantemente o das cartes de visite, em Portugal designadas por bilhetes de visita. Na sua maioria eram impressas em papel albumina extremamente fino, o que facilitava a sua inserção em livro ou periódico. No caso das monografias, normalmente eram coladas numa cartolina inserida como folha à parte, antes da folha de rosto, por vezes com um papel vegetal que protegia a imagem. Exceptuando o caso pontual da monografia Relation des objects expediés à l’Exposition Universelle de Paris, de Joseph James Forrester (Barão de Forrester)8, datada de 1855, as publicações ilustradas com retratos fotográficos colados, surgiram em Portugal a partir da década de 60 do século XIX, constituindo um caso particular da história da ilustração, contemporâneo de um período de expansão da técnica fotográfica. Tem o seu auge nos finais da década de 70 e inícios da década de 80, e desapareceram gradualmente com o aparecimento de novas técnicas de ilustração. No mesmo período, embora em menor número, foram publicados vários periódicos e monografias ilustrados com originais fotográficos de paisagens urbanas, monumentos e obras de arte. Das 44 monografias portuguesas ilustradas com originais fotográficos colados que inventariamos, podemos afirmar que aproximadamente 68% são ilustradas com retratos fotográficos dos seus autores ou dos biografados, cerca de 15% são ilustrados com fotografias de espaços urbanos, edifícios e monumentos, e apenas 11% com outras temáticas. Das 33 publicações periódicas portuguesas ilustradas com originais fotográficos colados que inventariamos, cerca de 63% são ilustradas com retratos fotográficos dos seus autores ou dos biografados, cerca de 24% são ilustrados com fotografias de espaços urbanos, edifícios e monumentos e apenas 15% com outros temas (fig. 3). Estas publicações são, portanto, na sua maioria ilustradas com retratos e constituem um acervo iconográfico oitocentista de grande valor documental.

Fig. 3. Gráfico provisório das publicações ilustradas com originais fotográficos (monografias e periódicos) em Portugal.

Até ao início dos anos 60 as publicações eram ilustradas com diversas técnicas de gravura e litografia, por vezes executadas a partir de registos fotográficos. A partir desta década, a utilização de fotografias como registo base e aide-memoire para a execução das gravuras e litografias que ilustraram as publicações periódicas tornouse uma prática corrente. Pela economia de tempo de desenho no local, uma vez que a fotografia registava os mais pequenos detalhes que podiam escapar ao desenhador, porque era mais fácil adquirir um retrato de uma personalidade e passá-lo a gravura do que procurá-la e conseguir que ela posasse o tempo necessário para a execução do desenho, e porque, cada vez mais, o leitor tinha uma exigência de rigor. Ao contrário do desenho feito do natural, que frequentemente traduzia uma realidade “alterada”, a fotografia supostamente garantia uma reprodução fidedigna. Esta aura de credibilidade da fotografia relativamente aos processos de registo manual, justifica que a partir dos anos 60 seja frequente nas publicações a indicação de que a gravura era feita a partir de uma imagem fotográfica. Apesar da evolução técnica, a industrialização da produção e a racionalização dos processos fotográficos ter reduzido significativamente os seus custos, o preço das fotografias continuava a ser elevado para ao custo de vida da época e, se as fotografias não eram acessíveis a todos os bolsos, menos eram as publicações ilustradas com fotografias coladas. As publicações periódicas normalmente eram adquiridas através de assinatura, embora 8 Porto: ed. do autor. 49

também fossem vendidas avulsas em diversas localidades, nos estabelecimentos indicados pelo editor. Curioso é que nalguns casos se podia adquirir a publicação sem fotografia, o que reduzia o seu preço para cerca de metade. De uma maneira geral os principais fotógrafos de Lisboa e do Porto eram contratados para produzir as imagens para estas publicações e, com frequência, sobretudo quando retratavam personalidades significativas da política, cultura, etc., comercializavam as mesmas imagens no formato carte de visite, rentabilizando assim o trabalho que tinham produzido. Como já dissemos, os fotógrafos podiam tirar numa mesma chapa vários retratos da mesma pessoa. Mesmo nos casos em que apenas faziam uma imagem em cada negativo sobre vidro, era normal numa sessão fotográfica tirar mais do que um retrato de cada pessoa. Por este motivo, é frequente encontrarmos em exemplares diferentes da mesma publicação fotografias diferentes do retratado.

Fig. 5. O Contemporaneo, 2.ª ed., Lisboa: João d’Almeida Pinto & C.ª, 1.º ano, n.º 11 [s.d.]. Col. do autor.

Fig. 4. Os Contemporaneos: Dr. João Clemente Mendes: Esboço biographico, Lisboa: Empreza dos Contemporaneos, 2.ª série, n.º 10 [s.d.]. Col. do autor.

Os mentores destas publicações provinham maioritariamente dos sectores liberais da política portuguesa, e denunciaram nos seus textos e na selecção dos biografados uma perspectiva que é própria de uma sociedade em renovação. Estas publicações, em particular as periódicas, tiveram um papel importante na renovação da iconografia, na difusão de novos modelos e valores, durante o período da monarquia constitucional. Nelas é valorizado o mérito pessoal do indivíduo, independentemente da sua proveniência social, incluindo nas suas páginas pessoas notáveis e outras até aí praticamente desconhecidas, cujas qualidades pessoais, traduzidas em actos, justificavam a sua promoção como exemplo de conduta. Indubitavelmente, a selecção das pessoas a biografar também desempenhou um papel na recondução daqueles que, tradicionalmente ligados às classes dominantes, perfilharam as novas ideologias. No caso das publicações periódicas constituíram verdadeiras “galerias biográficas”, de largo espectro sóciocultural e de ambos os sexos, em que encontramos aristocratas, comerciantes, industriais, políticos, escritores, actores, cantores, toureiros, militares, religiosos e beneméritos. 50

Mencionaremos, a título de exemplo, Os Contemporaneos (ca. 1866-1867), publicado em formato de bolso (fig. 4), O Contemporaneo (1874-1886), inicialmente ilustrado com retratos do fotógrafo Alfred Fillon9, e posteriormente da Photographia Contemporanea (fig. 5)10, o Commercio e Industria (1880-1910), ilustrado com retratos da Photographia Contemporanea11, O Toureiro (1876-1892), com retratos de Alfred Fillon, José Carlos da Rocha e Maria Eugénia Reya Campos, todos de Lisboa, a Galeria Republicana (1882-1883), com fotografias de António Maria Serra, a Semana Illustrada, de que só se conhecem seis números, com fotografias de José Carlos da Rocha, e a Galeria Republicana (1882-1883), com fotografias de António Maria Serra. Em 1879, a empresa da Galeria Militar imprimiu e distribuiu convites aos futuros biografados para se irem retratar no fotógrafo Damião da Graça, em Lisboa. A eficácia destas publicações, de modelo inovador, na renovação das ideias e da iconografia da sociedade oitocentista portuguesa, é confirmada pela edição pontual de publicações semelhantes por sectores mais conservadores da sociedade, nomeadamente o dos defensores de um regresso ao antigo regime, como foi o caso da monografia biográfica Dom Miguel II, filho primogénito de D. Miguel, de que em 1870 se publicou a nona edição. Nele depositavam os miguelistas a esperança de um regresso a uma monarquia tradicional. Este Fig. 6. Ecclesiasterium: Jornal literario luso-brasileiro, Lisboa: [s.n.], retrato do filho primogénito de D. Miguel, provavelmente 1.ª série, n.º 10 (Maio 1879). Col. do autor. tirado no estrangeiro, foi reproduzido e comercializado em Portugal por alguns fotógrafos e distribuidores de imagens fotográficas, no acessível formato de cartão ou bilhete de visita. Anos mais tarde, entre 1885 e 1890, foi publicado o periódico Album Legitimista, com biografias de apoiantes da causa miguelista e dos seus parentes ideológicos estrangeiros, ilustrado com retratos do fotógrafo lisboeta Ricardo Pereira de Melo Bastos. O clero, apesar de estar fortemente vinculado por laços de sangue e ideológicos à antiga nobreza, receoso da laicidade advogada alguns membros do Estado liberal, e ainda traumatizado pela extinção e expropriação dos bens das ordens religiosas masculinas em 1834, também se apercebeu da importância social destas iniciativas editoriais, e aderiu pontualmente ao novo modelo iconográfico. É o caso do periódico Ecclesiasterium (18781879), ilustrado com fotografias do retratista lisboeta José Carlos da Rocha (fig. 6). Do primeiro número desta publicação extraímos os seguintes fragmentos do editorial: «Vemos por ahi expostos em amplas galerias os retratos de varões notáveis de todas as classes sociaes. Celebram os memoristas as suas prendas, exaltam-lhes os meritos, preconizam-lhes as excellencias. / E são, geralmente, bem aceitas aquellas homenagens prestadas aos que lograram distinguir-se por feitos não vulgares. / De proveitosa influencia reputamos estes quadros, porque servem de poderoso incentivo á imitação de todas as grandezas moraes. / Ha, todavia, uma grande família, em cujo gremio se comprehendem innumeros indivíduos, ecclesiasticos ou simples fieis, que podem correr o pareo com os insignes das demais classes, e que, sem embargo, conta muitos dos seus membros, que vivem na obscuridade. Referimo-nos á familia catholica. / [...] Jornaes sem escrúpulos, infamam, bastas vezes, os individuos d’essa família para tornal-a odiosa e a sua doutrina. Attribuemlhes escandalos, exageram-lhes os defeitos, como se podessem lograr, absolutamente, o privilegio de isenção 9 Pontualmente com retratos da autoria de Alexandre Solas e de Martin Fritz, reproduzidos por Fillon.

10 Cerca de 1880 a empresa deste periódico abriu em Lisboa um atelier próprio denominado Photographia Contemporanea, onde os biografados eram convidados a retratar-se gratuitamente. Nele foram realizadas as fotografias a partir do n.º 78 (ca. 1880), e as reedições de números anteriores. Nesta altura era seu director João d’Almeida Pinto, que mais tarde será proprietário e director do periódico Commercio e Industria (1880-1910). 11 Este periódico publicou-se durante décadas e, no seu percurso, ilustra inovações nas técnicas de ilustração, introduzindo pontualmente a fototipia colada em substituição da fotografia, entre 1887 e ca. 1889, e a fotogravura a partir de ca. 1903.

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das miserias humanas e fossem pelo seu estado, mais que os outros, impeccaveis. / [...] / Dos assumptos, que tractarmos, expurgaremos tudo que possa excitar polemicas. Seremos completamente estranhos a debates políticos. / [...] / Vingando a idéa, como é de esperar, não obstante a culpavel indifferença que ha por tudo quanto é serio e de interesse commum, teremos conseguido abrir um congresso, onde, para estreitarem os laços da fraternidade christã, comparecerão todos aquelles que prezam a união e trato fraternal. / [...] é assim que póde tornar-se puro e salutifero o ambiente em que vivemos, para não succumbirmos ás influencias mefiticas, que, adrede e pensadamente, são preparadas para nos asfixiarem. [...]».12 Mesmo no exército que, apesar de ter sido o motor de algumas iniciativas revolucionárias da nossa história política, é uma organização estruturalmente autocrática, podemos detectar sintomas de abertura a uma nova mentalidade. Do programa editorial da Galeria Militar Contemporanea (1878-1879), publicada em Lisboa e ilustrada com fotografias de José Carlos da Rocha e Damião da Graça, extraímos o seguinte fragmento de texto: «[...] Dizer sciencia hoje em dia é dizer verdade; e a verdade auxiliada pela sciencia esmigalhou o immenso poderio do absurdo, divisa sympathica dos que perfilham o irracional principio do direito da força e despresam a força do direito. / [...] Publicar o retrato do militar, sem distincção de cathegoria ou de classe, que mais se tenha distinguido nas armas, nas sciencias nas letras ou por outra qualquer fórma, digna de memorar-se, e a respectiva biographia, eis um dos principaes fins da «Galeria Militar Contemporanea». / Parece-nos que esta idéa não poderá encontrar obstaculo em qualquer espirito ainda o mais comesinho, desde que nos compromettemos a enfileirar n’esta «Galeria» os homens de reconhecido merito cujos feitos possam vir a servir de incentivo áquelles que nada hajam praticado em prol do progresso, brio e honra militar. / [...]»13 e ainda, do n.º 8 desta publicação, relativamente aos «Retratos da Galeria»: «No escriptorio da direcção d’este jornal não existe uma rigorosa escala de merito para os vultos que devam illustrar a Galeria á semilhança da escalla de promoções, por antiguidade, fabricada nos gabinetes das secretarias de estado. [...] dir-nos-hão, podem evitar-se as differenças sensiveis na classificação de merito entre o militar A e o militar B, o primeiro reconhecidamente mais digno de figurar antes do segundo. / [...] fique assente o seguinte princípio que é o nosso guia: - o n.º 24 da Galeria Militar, ultimo de cada anno da sua publicação, ha de ter para nós o mesmo valor moral do que o numero 1.»14 Estas afirmações são tão mais reveladoras quanto na ordem de publicação se verifica um claro respeito pela hierarquia militar, apenas aqui ou ali entrecortada por casos excepcionais.

Fig. 7. Branco, Camilo Castelo [1870] A Mulher fatal, Lisboa: Livraria de Campos Junior. Col. do autor.

Fig. 8. Ratazzi, Maria (1881) Portugal de relance, Lisboa: Livraria Zeferino. Col. do autor.

12 Ecclesiasterium: Jornal literario luso-brasileiro, 1.ª série, n.º 1 (Ago. 1878), p. 2. 13 Galeria Militar Contemporanea, 1.º ano, n.º 1 (1 Jan. 1878), p. 11. 14 Galeria Militar Contemporânea, 1.º ano, n.º 8 (16 Abr. 1878), p. 72.

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Fig. 9. Mello, Antonio Pusich de (1878) Oito de Setembro: Marcha grave para piano dedicada ao Ill.mo e Ex.mo Sr. Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello em memoria do seu anniversario natalicio, [S.l.: s.n.]. Col. do autor.

Durante os anos 60 e 70 também foram publicadas muitas monografias ilustradas com retratos fotográficos colados. Citaremos, por exemplo, as duas primeiras edições da obra Camillo CastelloBranco: (noticia da sua vida e obras) (1861 e 1862), de José Cardoso Vieira de Castro, com um retrato do biografado da autoria do fotógrafo Horácio Aranha, do Porto, o Tratado theorico e pratico de photographia (1866), de José António Bentes, A Mulher Fatal (1870), de Camilo Castelo Branco, com um retrato do autor em que, excepcionalmente, a fotografia, da autoria de Francisco Augusto Gomes, não é colada mas constitui folha à parte inserida na brochura (fig. 7), a Homenagem a Taborda (1871), de Júlio César Machado, o curioso Tratado de Partos (1874), de Justa Matilde de Carvalho e Costa, com um retrato da autora por Alfred Fillon, o texto e fotografia anónimos intitulado Emilia das Neves (1875), a Historia do Marechal Saldanha, por D. António da Costa, de que só chegou a sair o primeiro volume (1879), a segunda edição do controverso Portugal de Relance (1881), da princesa Maria Letizia Ratazzi (fig. 8), e o Original discurso sobre o governo liberal da Carta Constitucional da monarchia portugueza (1874), de Jaime José Ribeiro de Carvalho. Entre os casos singulares referiremos a partitura musical Oito de Setembro: Marcha grave para piano dedicada ao Ill.mo e Ex.mo Sr. Antonio Maria de Fontes Pereira de Mello em memoria do seu anniversario natalicio (1878), de Antonio Pusich de Mello (fig. 9), e a monografia científica Materiaes para o estudo anthropologico dos povos açorianos: observações sobre o povo michaelense (1884), de Francisco de Arruda Furtado. Nos anos 80 surgiram novos modelos gráficos de publicações periódicas ilustradas com fotografias coladas, de que são exemplo os periódicos Perfis Artisticos (1881-1883) e o Porto Elegante (1889-1890) Fig. 10. O Porto elegante, Porto: Cruz & Morgado, 2.ª série, n.º 9 (1889). (fig. 10). Apesar do formato de impressão das imagens Col. do autor. já não ser a carte de visite, continuamos a verificar o aparecimento de fotografias diferentes em diferentes exemplares dos mesmos números. Na sequência da introdução da fototipia em Portugal em 1874-1875, um processo fotomecânico de matriz fotográfica, assistimos a uma lenta mas progressiva substituição da fotografia por esta técnica de impressão em publicações ilustradas. Rapidamente adoptada por algumas empresas fotográficas do Porto e de Lisboa, que a começaram a usar na ilustração de publicações desde o início dos anos 80, esta técnica permitia a impressão de texto e de imagens de matriz fotográfica no mesmo papel, com uma excelente reprodução dos meios-tons, Fig. 11. Archivo Democratico, Lisboa: Victor de Sousa & C.ª, ano 1, n.º 1 evitando assim a necessidade de colagem das imagens15. (Ago. 1907). Col. do autor. 15 A variante técnica da fototipia do impressor alemão C. H. Jacobi foi introduzida em Portugal em 1875, a solicitação e expensas do

fotógrafo amador Carlos Relvas, que tornou a sua aprendizagem acessível aos interessados. José Júlio Rodrigues afirmou ter experimentado

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A partir de meados dos anos 90 foram introduzidos em Portugal processos fotomecânicos tramados, em relevo e em oco, de menor qualidade na reprodução dos meios tons mas economicamente mais acessíveis do que a fototipia e, sobretudo, do que a colagem de originais fotográficos, que vieram contribuir para o declínio do uso destas técnicas em publicações16. No século XX ainda foram editadas algumas publicações periódicas biográficas, ilustradas com retratos fotográficos soltos incluídos em cada número, de forma a poderem ser encaixilhadas, como foram os casos do Archivo Democratico (1907-1911) (fig. 11) e do Archivo Republicano (1910-1913), e outras com fotografias coladas, como a primeira edição do livro de poesias Despedidas, de António Nobre (1902), a segunda edição das Canções de António Botto (1922), mas constituem casos excepcionais, numa época em que formas de ilustração mais económicas como a fototipia e, sobretudo, os processos fotomecânicos de trama, dominavam a prática da ilustração nas artes gráficas nacionais. Parece-me desnecessário justificar a importância das imagens na comunicação, pela simples constatação do aumento progressivo do seu uso ao longo dos séculos XIX e XX. Apesar disso, será difícil fazer uma história consistente da ilustração em Portugal, incluindo a das publicações ilustradas com fotografias coladas. A catalogação efectuada nas bibliotecas públicas portuguesas relegou para um segundo plano as ilustrações das publicações, que não foram convenientemente descritas, pelo que é impossível fazer o seu levantamento sistemático com base nas existências dessas instituições. Na maioria dos casos as fichas das publicações apenas indicam se a obra é ilustrada, e noutros se é ilustrada com gravuras, litografias ou fotografias. Neste último caso, regra geral, foi designado por “fotografia” um amplo leque de processos que vai desde o original fotográfico colado aos inúmeros processos de impressão fotomecânica, executados com base numa matriz fotográfica, como a fototipia e as variantes técnicas da fotogravura, alguns dos quais são difíceis de distinguir de um original fotográfico num exame macroscópico por um técnico não informado. Assim, a identificação das publicações ilustradas com fotografias coladas tem vindo a ser feita lentamente por alguns interessados na área da história da fotografia, procurando-as nos alfarrabistas e nas bibliotecas, embora nestas de forma menos significativa pelos motivos apontados. Temos consciência de que vão continuar a aparecer publicações de que actualmente não temos conhecimento. Não queria terminar sem constatar a utilidade de os investigadores, professores e estudantes da área de História e de outras Ciências Sociais, poderem dispor de uma base nacional de dados iconográficos acessível na internet, que incluísse as imagens destas publicações. Nuno Borges de Araújo Investigador colaborador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, doutorando em Ciências da Comunicação na mesma universidade, bolseiro da FCT (apoio POPH/FSE)Bibliografia Bibliografia Araújo, Nuno Borges de (2006) As publicações ilustradas com retratos fotográficos e a renovação da iconografia oitocentista em Portugal. Comunicação ao 1.º Congresso Internacional de História, realizado pelo Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, Braga, 07 Dez. 2006. Resumo disponível em www.hist.ics.uminho.pt/agenda/.../ livro_resumos_1CIH.pdf Baptista, Paulo Artur Ribeiro (1994) A Casa Biel e as suas edições fotográficas no Portugal de Oitocentos, Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Dissertação de mestrado em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa.

o processo da fototipia na Secção Photographica da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos no ano anterior (Baptista, 1994, pp. 84-88, 151-152; Sena, 1998, pp. 70-78). 16 Sougez, Marie-Loup (1989) ‘La imagen fotográfica en el medio impreso: desarrollo de la fotomecánica y aproximación a los inicios en España’ in Kurtz, Gerardo F. & Ortega, Isabel (dir.) 150 años de fotografía en la Biblioteca Nacional, Madrid: Ministerio de Cultura / Ediciones El Viso, pp. 64-85.

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Cartier-Bresson, Anne (dir.) (2008) Le vocabulaire technique de la photographie. Paris: Marval / Paris Musées. Darrah, William C. (1981) Cartes de visite in nineteenth century photography, Gettysburg, Pennsylvania: ed. do autor. Eder, Josef Maria (1978 [ed. original 1945]) History of photography, New York: Dover Publications. Gernsheim, Helmut (1982) History of photography, vol. I: The origins of photography. 3.ª ed. [1.ª ed. rev. e ampliada, 1969], New York: Thames and Hudson. Gernsheim, Helmut (1988) History of photography, vol. II: The rise of photography, 1850-1880: The age of the collodion, London: Thames and Hudson. Gustavson, Tod (2009) Camera: A history of photography from daguerreotype to digital, New York: Sterling Publishing. Kurtz, Gerardo F. & Ortega, Isabel (dir.) (1989) 150 años de fotografía en la Biblioteca Nacional, Madrid: Ministerio de Cultura / Ediciones El Viso. Frizot, Michel (ed.) (1998 [ed. francesa 1994]) A new history of photography, Köln: Köneman. Sagne, Jean (1998) ‘All kinds of portraits: the photographer’s studio’ in Frizot, Michel (ed.) A new history of photography, Köln: Konemann, pp. 102-122. Sena, António (1998) História da imagem fotográfica em Portugal 1839-1997, Porto: Porto Editora. Sougez, Marie-Loup (1989) La imagen fotográfica en el medio impreso: desarrollo de la fotomecánica y aproximación a los inicios en España in Kurtz, Gerardo F. & Ortega, Isabel (dir.) 150 años de fotografía en la Biblioteca Nacional, Madrid: Ministerio de Cultura / Ediciones El Viso, pp. 64-85.

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