As referências directas ao ethne dos galaicos no livro III da Geografia de Estrabão. Luis Magarinhos Iglesias
[email protected] 14 de Jan de 2016
Resumo: Neste trabalho realizamos uma recompilação comentada das referências directas ao ethne dos galaicos que encontramos no livro III da Geografia de Estrabão. Tags: ethne, populi, povo, galaicos, geografia, estrabão
A Geografia (em grego: Γεωγραφικά, em latim: Geographica) de Estrabão [63/64 a.C. - 24 d.C.] é uma obra em grego de dezassete volumes que reúne todos os conhecimentos geográficos da época refletindo em boa medida a visão greco-latina do mundo. O terceiro livro desta obra monumental é dedicado por inteiro à Península Ibérica e nele encontramos diversas referências aos povos no NW entre os quais se encontra o ethne dos galaicos (em grego: Καλλαϊκοὶ) A seguir iremos indicar as diversas referencias concretas que aparecem no texto partindo das traduções utilizadas1 e indicando por sua vez o texto original em grego antigo. 2 Começando pola referência directa mais completa e rica que segundo nosso parecer encntramos no texto [Geografia 3.3.2], e que diz o seguinte: "os galaicos ocupam grande parte da zona montanhosa. Por isso e por serem os mais difíceis de combater deram o sobrenome a quem vencera os lusitanos, e fizeram que a maioria de lusitanos sejam conhecidos actualmente como galaicos." "Καλλαϊκοὶ δ' ὕστατοι, τῆς ὀρεινῆς ἐπέχοντες πολλήν· διὸ καὶ δυσμαχώτατοι ὄντες τῷ τε καταπολεμήσαντι τοὺς Λυσιτανοὺς αὐτοὶ παρέσχον τὴν ἐπωνυμίαν, καὶ νῦν ἤδη τοὺς πλείστους τῶν Λυσιτανῶν Καλλαϊκοὺς καλεῖσθαι παρεσκεύασαν."
Comprovamos aqui como Estrabão destaca em grande medida o ethos guerreiro dos galaicos no seu combate contra as tropas romanas de Décimo Júnio Bruto que após decisão senatorial no 136 a.C. seria credor do Cognomina ex Virtute de Callaicus. Justo um ano depois da Batalha do Douro que segundo Paulo Orosio confrontou 60.000 galaicos com as tropas romanas comandadas polo próprio Bruto.3 No mesmo livro terceiro temos outra referência explícita a esta questão em 3.3.1: "Bruto, o denominado galaico, utilizou esta cidade como base de operações" "Ταύτῃ δὲ τῇ πόλει Βροῦτος ὁ Καλλαϊκὸς προσαγορευθεὶς ὁρμητηρίῳ χρώμενος ἐπολέμησε πρὸς τοὺς Λυσιτανοὺς καὶ κατέστρεψε τούτους"
Outra referência directa encontrámo-la em 3.3.3 quando Estrabão afirma que os galaicos são um povo de elevado renome:
1
Ver bibliografia.
Texto em grego tirado de STRABON, Geographica, livre III in Itinera Electrónica, HODOI ELEKTRONIKAI: http://hodoi.fltr.ucl.ac.be/ [acesso 19-01-2016] 2
Sobre esta batalha nas proximidades do rio Douro, cujo lugar exacto desconhecemos, Publio Ovidio Nasón, atreve-se a datá-la (Fastos VI.12) o 9 de Junho [137 a.C.]. Ver também a interessante referência de Paulo Orosio em Historiae Adversus Paganos. Livro VII.5.5. 3
2
"A norte do Tejo, Lusitânia é o mais grande dos povos de Ibéria e o que mais tempo tem sofrido a guerra por parte dos romanos. Delimitam este território polo lado sul do Tejo, polo ocidental e polo septentrional o oceano e polo oriental os carpetanos os vetões e os galaicos são os povos mais conhecidos; os demais não são dignos de menção devido ao seu reduzido tamanho e falta de renome; ao dos contemporâneos, algúns denominam lusitanos também a estes povos" "Τοῦ δὲ Τάγου τὰ πρὸς ἄρκτον ἡ Λυσιτανία ἐστὶ μέγιστον τῶν Ἰβηρικῶν ἐθνῶν καὶ πλείστοις χρόνοις ὑπὸ Ῥωμαίων πολεμηθέν. Περιέχει δὲ τῆς χώρας ταύτης τὸ μὲν νότιον πλευρὸν ὁ Τάγος, τὸ δ' ἑσπέριον καὶ τὸ ἀρκτικὸν ὁ ὠκεανός, τὸ δ' ἑωθινὸν οἵ τε Καρπητανοὶ καὶ οἱ Ὀυέττωνες καὶ Ὀυακκαῖοι καὶ Καλλαϊκοί, τὰ γνώριμα ἔθνη· τἆλλα δὲ οὐκ ἄξιον ὀνομάζειν διὰ τὴν μικρότητα καὶ τὴν ἀδοξίαν· ὑπεναντίως δὲ τὰ νῦν ἔνιοι καὶ τούτους Λυσιτανοὺς ὀνομάζουσιν."
No mesmo epígrafe um pouco mais embaixo encontramos: "Polo lado oriental os galaicos partilham fronteiras com o povo dos astures e com os celtíberos, enquanto os demais só partilham com os celtíberos" "ὅμοροι δ᾽ εἰσὶν ἐκ τοῦ πρὸς ἕω μέρους οἱ μὲν Καλλαϊκοὶ τῷ τῶν Ἀστούρων ἔθνει καὶ τοῖς Κελτίβηρσιν, οἱ δ᾽ ἄλλοι τοῖς Κελτίβηρσι"
E também em 3.3.7: "Esta é a forma de vida dos habitantes das montanhas, como já expus, refiro-me aos que bordeam o canto norte de Ibéria: galaicos, astures e cántabros até os vascões nos Pirineus" "Ἔστι δὲ τῶν ὀρείων ὁ βίος οὗτος, ὧνπερ ἔφην, λέγω δὲ τοὺς τὴν βόρειον πλευρὰν ἀφορίζοντας τῆς Ἰβηρίας, Καλλαϊκοὺς καὶ Ἄστουρας καὶ Καντάβρους μέχρι Ὀυασκώνων καὶ τῆς Πυρήνης·"
Já no capítulo quarto do livro terceiro encontramos as seguintes referências, assim em 3.4.3 o autor diz: "entre los galaicos habitaran algunos de entre los que marcharam en campaña con Teucro" "ν Καλλαϊκοῖς δὲ τῶν μετὰ Τεύκρου στρατευσάντων τινὰς οἰκῆσαι, καὶ ὑπάρξαι πόλεις αὐτόθι, τὴν μὲν καλουμένην"
E por último destacarmos a referência que Estrabão faz em 3.4.16 às convicções religiosas dos galacios: "algúns dizem que os galaicos não têm deuses" "Ἔνιοι δὲ τοὺς Καλλαϊκοὺς ἀθέους φασί,"
Neste ponto destaca que os galaicos não tinham Deuses e que era um povo praticamente ateu o que nos leva a pensar que provavelmente Estrabão não comprendia ou não tinha informação suficiente sobre o panteão politeista galaico, ou que simplesmente aplicava o preconceito negador derivado da cosmovisão grego-latina. 3
Quanto à localização geográfica dos galaicos, o texto também nos oferece uma informação relevante quando em 3.4.20 os situa a norte do rio Douro: "Um destes,4 com duas legiões, mantêm a vigia sobre todo o território situado mais além do Douro, cara o norte, que uns chamavam anteriormente lusitanos e outros na actualidade chamam de galaicos, pois estão limítrofes com estes as regiões que limitam no norte com astures e cántabros" "ὁ μὲν, δύο ἔχων τάγματα, παραφρουρεῖ τὴν πέραν τοῦ Δουρίου πᾶσαν ἐπὶ τὰς ἄρκτους, ἣν οἱ μὲν πρότερον Λυσιτανοὺς ἔλεγον, οἱ δὲ νῦν Καλλαϊκοὺς καλοῦσι· συνάπτει δὲ τούτοις τὰ προσάρκτια μέρη μετὰ τῶν Ἀστύρων καὶ τῶν Καντάβρων."
Tendo em conta as fontes e também as representações iconográficas do chamado escudo da caetra do labirinto (MAGARINHOS 2016) tanto em moedas como em petrificações (MAGARINHOS 2016; POLITO 2011, 2012) realizadas polos romanos na Itália, todo nos leva a apontar que a conquista do NW foi uma tarefa complicada para o Império, tendo em conta também o tempo que demorou de mais de um século desde as primeiras campanhas de Quinto Servílio Cepião (139 a.C.) e Décimo Júnio Bruto Callaicus (137 a.C.) até a conquista definitiva do NW por Cesar Augusto no primeiro quarto do S. I d.C.
Refere-se a um governador consular romano que conta com três legados, sendo um deles o que se indica na referência. 4
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BIBLIOGRAFIA ESTRABÓN. Geografía de Iberia / Estrabón ; traducción de Javier Gómez Espelosín ; presentaciones, notas y comentarios de Gonzalo Cruz Andreotti, Marco V. García Quintela y Javier Gómez Espelosín. Madrid: Alizanza Editorial. 2007 ESTRABÓN. Geografía. Libros III-IV / traducciones, introducciones y notas de Mª José Meana y Félix Piñero. Madrid: Gredos. 1992 MAGARINHOS, L. (2016). O símbolo do labirinto na Caetra das estátuas de Guerreiros Galaicos da Idade do Ferro e as suas diversas representações iconográficas. Inédito. Acessível em Academia.edu: https://goo.gl/VYExcD [acesso 19-01-2016] POLITO, E. (2011) La pietrificazione delle armi conquistate, D. Loscalzo and C. Masseria (eds.). Miti di Guerra, riti di pace, Atti del Convegno, Bari, pp. 259-266. POLITO, E. (2012) Augustan triumphal iconography and the Cantabrian Wars: Some remarks on round shields and spearheads depicted on monuments from the Iberian Peninsula and Italy. Archivo Español de Arqueología 2012, 85, pp. 141-148 ROMERO MASIA, A. M.; POSE MESURA, X. M. (1998) Galicia nos textos clasicos. Ed. do Padroado do Museu Arqueolóxico Provincial. Concello da Coruña. STRABO, Geography H.C. Hamilton, Esq., W. Falconer, M.A., Ed.in Perseus: http://www.perseus.tufts.edu/ [acesso 19-01-2016] STRABON, Geographica, livre III in Itinera Electrónica, HODOI ELEKTRONIKAI: http://hodoi.fltr.ucl.ac.be/ [acesso 19-01-2016]
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