As Tecnologias de Informação e Comunicação na promoção da competência comunicativa intercultural e plurilingue

May 29, 2017 | Autor: Mário Cruz | Categoria: Language Technologies, Teaching English As A Foreign Language, Primary Education
Share Embed


Descrição do Produto

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14

As Tecnologias de Informação e Comunicação na promoção da competência comunicativa intercultural e plurilingue Marisa Marcelo Colégio do Sardão [email protected] Paulo Silva Colégio do Sardão [email protected] Mário Cruz Centro de Investigação em Didáctica e Tecnologia e Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro1 Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti [email protected]

Resumo As Tecnologias de informação e comunicação promovem a mobilidade online (Cruz & Melo, 2004) dos cidadãos europeus. Oferecendo um vasto leque de recursos multimédia, que incluem texto, imagens, áudio e vídeo, os quadros interactivos, aliados a uma ligação à internet e a diferentes recursos de videoconferência, dão a possibilidade aos alunos de fazerem encontros virtuais online, que por sua vez irão desenvolver as suas competências interculturais comunicativas (Byram, 1997) e plurilingues (Araújo e Sá, M. H. & Melo, S., 2004). Desta forma, o principal objectivo deste trabalho é a análise do quadro interactivo e do flashmeeting, como ferramentas de videoconferência, presente no ensino precoce da Língua inglesa, com o objectivo de desenvolver as competências interculturais dos alunos. Palavras-chave intercompreensão, competência comunicativa intercultural e plurilingue

Abstract Information and communication technologies fostered the online mobility (Cruz & Melo, 2004) of European citizens. By offering a wide range of multimedia resources, which include text, still images, audio and video, the interactive whiteboard, combined with an Internet connection and videoconferencing facilities, offers us the possibility to let young learners engage in online virtual encounters, which promote both their intercultural communicative (Byram, 1997) and plurilingual competences (Araújo e Sá, M. H. & Melo, S., 2004). In this way, the main aim of this paper is to analyze the use of interactive whiteboard and Flashmeeting, a videoconference tool, in the early teaching of English as foreign language to develop the intercultural communicative competence of young learners. Keywords intercomprehension, intercultural communicative competence, plurilingual competence

1 Mobilidade Online, Plurilinguismo e Comunicação Intercultural Presentemente, o ensino de línguas estrangeiras é considerado uma necessidade, tendo em conta a mobilidade global de pessoas, principalmente na Europa, onde este tema tem vindo a ser discutido desde o Tratado de Maastricht até à emergência das necessidades de comunicação e conhecimento da sociedade.

1 Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

1

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 Para além disto, esta deslocação física tem sido suportada através da criação de programas europeus, tais como: Erasmus e Comenius (cf. Melo, 2006; Cruz, 2005) que proporcionam a oportunidade aos estudantes de entrar em contacto com línguas, culturas e pessoas por toda a Europa. Assim sendo, entre outros, estes promovem a proximidade entre cidadãos europeus e a diversidade cultural e linguística com o objectivo de obter uma melhor formação da população ao nível intercultural e plurilingue. Entretanto, o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC) favoreceram o contacto com a diversidade, devido à variedade de língua e culturas que engloba. De facto, estas tecnologias permitem que os seus utilizadores se tornem membros da diversidade e pluralidade que circulam na internet. Segundo Cruz & Melo (2004), esta mobilidade online traduz-se na possibilidade de viajar no mundo virtual da internet, usando os seus dispositivos tecnológicos e ultrapassando as possíveis barreiras provocadas pela falta de conhecimento em relação a usos, códigos e línguas. De facto, o interesse do Conselho da Europa pela promoção da aprendizagem de línguas tem sido tão forte que se criou o “Quadro Europeu comum de Referência para Línguas”, para a construção de uma Europa plurilingue e pluricultural, onde a intercompreensão é a chave para a comunicação (cf. Cruz & Medeiros, 2007). Desde 1989 que se introduziu e se tem sentido no ensino precoce das línguas estrangeiras, por toda a Europa. Tendo ainda em conta as directrizes orientadoras deste e outros documentos do Conselho da Europa, existem dois conceitos muito complexos sobre os quais nos debruçaremos, sendo eles: a Competência Comunicativa Intercultural (CCI) e a Competência Plurilingue (CP). O primeiro tem que ver com a habilidade dos comunicadores construírem um conhecimento partilhado com o Outro, que representa identidades sociais e culturais muito diferentes e, ao mesmo tempo, relaciona-se com a capacidade de interagir com elas, trazendo para o encontro o seu próprio Weltwissen (cf. Byram, 1997). De acordo com Byram (1997), o comunicador intercultural é aquele que consegue estabelecer ligações culturais e interpretá-las na perspectiva do Outro em relação a si mesmo a sua comunidade. Este comunicador intercultural é também capaz de negociar conhecimento no encontro intercultural, ultrapassando os obstáculos que possam surgir. Neste encontro é extremamente importante que o comunicador intercultural tenha a “capacidade de usar línguas para estabelecer comunicação bem como para fazer parte da interacção intercultural, onde um agente social tem proficiência, a vários níveis, em diferentes línguas e contacto com diferentes culturas” (Andrade, Araújo e Sá, et al, 2003; Conselho da Europa, 1998). Esta CP é necessária para a comunicação intercultural porque envolve o relacionamento entre: predisposição social e afectiva, conteúdos de aprendizagem, conteúdos linguísticos e comunicativos e a própria interacção (cf. Andrade, Araújo e Sá, e tal, 2003). Segundo o Conselho da Europa, estas competências devem ser promovidas logo que possível, de maneira a dar aos cidadãos europeus a oportunidade de participar no discurso público europeu muito mais cedo possível. Segundo Cruz & Medeiros (2006), “o ensino precoce de uma língua permite a expansão dos horizontes dos alunos através do contacto com diferentes línguas e culturas, desenvolvendo uma consciência do Outro através da exposição à diversidade cultural e linguística da Europa (…)” e promovendo uma aprendizagem baseada na diversidade da Europa preparando o solo para um ensino plurilingue avançado, bem como promovendo a confiança no sucesso da aprendizagem de uma língua estrangeira, durante a vida de uma criança. Com a ajuda das TIC a negociação linguístico-cultural entre as crianças tornou-se muito mais fácil. Este desenvolvimento permitiu que as crianças viajassem por toda a Europa sem saírem de suas casas, tornando-se verdadeiros “cibercomunicadores interculturais” (Cruz, 2005), que são capazes de usar tecnologias e línguas num encontro virtual intercultural. Esta mobilidade online (cf. Cruz & Melo, 2006; Cruz, 2005) pode motivar a aprendizagem precoce de línguas, bem como motivar para aprendizagem de línguas europeias como chave de conhecimento profícuo e intercompreensão entre os povos europeus.

2 Internet Social Nos dias que correm, a maioria das crianças está exposta ao infindável e motivador mundo da tecnologia. As ferramentas Web 2.0 são a definição mais actual para esta nova forma de Internet, que criou comunidades baseadas na Web, bem como servidores actualizados que fomentam a partilha de informação e a socialização, permitindo aos seus utilizadores a troca de experiência, opiniões e interesses (cf. O’Reilly, 2005).

2

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 As ferramentas Web 2.0 têm características muito próprias e vantajosas, que se prendem com o facto de utilizarem software que está constantemente a ser actualizado, bem como permitir a troca de ficheiros entre as diferentes fontes. Para além disso, permite a sua utilização por outras pessoas, fazendo nascer uma “achitecture of participation”, onde todos participam na sua construção, mas também usufruem dela. (idem)

2.1 E-mail O E-mail é a ferramenta ou software Web 2.0 mais usado nos nossos dias. É uma forma rápida e segura de comunicar e trocar informações, ideias ou ficheiros. Segundo Lopez Alonso (2003,24) é "un sistema de intercambio de archivos entre usuarios que disponen de un buzón electrónico en el que se aceptan y almacenan los mensajes enviados a (e recebidos de) los diferentes emisores". O e-mail não surge como substituição da carta. Não é só uma forma de comunicação virtual. Este dispõe de fórmulas muito próprias de interacção entre os seus utilizadores. Devido à distância física entre os utilizadores, a interacção está sujeita e localizada a um espaço limitado pelo ecrã, construída de forma diferida, com finalidades comunicativas e esquemas textuais próprios (cf. Lopez Alonso: 2003b, 110).

2.2 O Blog Um Blog é, considerado por muitos autores, um espaço de reflexão pessoal, de divulgação, de opinião, de partilha de pensamentos, uma colecção de eventos. (cf. Ferreira, 2001/2005; Paquet, 2002) O Blog (Figura 1) surgiu no início desta década, mas já é utilizado muitas pessoas. O seu aparecimento e definição como género devem-se a Jorn Barger em 1997. No entanto a sua definição é “cada vez menos consensual em resultado da diversidade de formas, objectivos e contextos de criação bem como da diversidade e distinta natureza dos seus criadores" (Gomes, 2005: 312). Assim percebemos que um blogue é um registo publicado na Internet, com um tema definido e uma ordem cronológica inerente, tal como um diário, que está sujeito a actualizações, de acordo com os acontecimentos temporais. As funcionalidades e vantagens de um Blog permitem, segundo Ferreira (2001/05), publicar pensamentos, notícias e opiniões pessoais sobre determinado assunto; ter feedback, ou seja, receber comentários dos textos e/ ou opiniões que são publicadas e disponibilizadas no Blog; encontrar pessoas e adicionar recursos, sejam eles imagens, fotografias ou ficheiros audio (tipo MP3). Estas funcionalidades inerentes ao Blog são muitas vezes adoptadas pelo contexto ensino-aprendizagem, estando intrinsecamente relacionado com a criação de comunidades de aprendizagem

Figura 1 Exemplo de um Blog

3

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 2.3 A Vídeo-conferência A vídeo-conferência é uma forma de comunicação electrónica e interactiva bidireccional. Utilizadores provenientes de diferentes locais podem estabelecer uma comunicação face to face, sonora e visual, usando câmaras, monitores, projectores, quadros interactivos e software especializado (cf. Mason & Davis, 2000). No entanto, qualquer que seja o utilizador deste tipo de ferramenta deverá respeitar determinados padrões, para que se estabeleça uma correcta aplicação e uso da mesma. Assim sendo, a vídeo-conferência pode envolver não só o vídeo, mas também o aspecto sonoro e a troca de ficheiros. Consoante o tipo de vídeo-conferência escolhido, necessitaremos de determinados equipamentos que, trabalhando em conjunto, permitirão a comunicação. Esses equipamentos poderão ser de visualização, envio, controlo, processamento e ligação. A vídeo-conferência comporta vantagens para todos os utilizadores, pois permite um aumento da colaboração e apoio, cria momentos de partilha e união, facilita a visualização do parceiro, bem como a discussão de tópicos, em tempo real. (Mason & Davis, 2000). Este tipo de ferramenta pode ser utilizado para fins educativos, comerciais ou simplesmente por lazer. Na Internet temos à nossa disposição variadíssimas soluções em termos de software, que permitem o estabelecimento de comunicação através da vídeo-conferência. Podemos optar entre os de mensagens instantâneas, como é o caso do Messenger e do Skype, e os de comunicação colaborativa, como é o caso do Flashmeeting. O Flashmeeting está disponível à distância de um clique e só precisamos de ter instalados o Adobe Flash2 e o Flash Media Server 3. Ao usarmos esta ferramenta podemos experimentar, simultaneamente, emoções, vídeos e documentos, como por exemplo ficheiros do YouTube 4. Esta ferramenta facilita a comunicação entre as pessoas de diferentes países ou locais. Deste modo, conseguem gravar toda a interacção online e revê-la sempre que necessitarem. Segundo Marcelo, Silva & Cruz (2008), “this tool is a secure and reliable web-based application that can be quickly set-up for use, enabling users to record and playback conversations, gather information and review discussion. In fact, this tool includes features which support learning, such as: an easy to use broadcast button to start and stop recordings; a simple queuing system to indicate when it is the turn of someone to speak; an easy to use text chat facility to talk to others while watching a broadcast; a simple share an Internet address option to enable all users to view a webpage at the same time; a vote and ‘emoticon’ options to enable users to share their opinions or feelings; and, finally, a countdown timer to show the time remaining in the broadcast.”

Fig.2 Exemplo de conversação com Flashmeeting.

2 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.adobe.com/shockwave/download/download.cgi? P1_Prod_Version=ShockwaveFlash&Lang=BrazilianPortuguese. 3 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.adobe.com/support/flashmediaserver/downloads_updaters.html. 4 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.youtube.com/.

4

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 Por sua vez o Messenger, segundo a Microsoft 5 é “um programa de envio de mensagens instantâneas com diversos recursos que você pode instalar em seu computador ou em um computador no qual tenha permissão para a instalação (…) permite que você utilize de modo rápido e fácil alguns recursos de envio de mensagens instantâneas usando um navegador da Web em qualquer computador, sem a necessidade de instalar software.” Temos à nossa disposição diferentes tipos de software, como por exemplo: AOL Instant Messenger 6, BitWise IM7, Google Talk8, Miranda IM9,MSN Messenger 10, Windows Live Messenger 11, Windows Messenger 12, Yahoo! Messenger 13 e QQ14.

Figura 3- Imagem do Windows Live Messenger Para além do Windows Live Messenger também podemos descarregar gratuitamente do Skype. Este software tem funcionalidades muito semelhantes ao Windows Live Messenger, no entanto, distingue-se deste pela adição da possibilidade de fazer chamadas telefónicas para a rede fixa e rede móvel comportando, contudo, custos. Tanto o Messenger, como o Skype e o Flashmeeting, apesar de serem ferramentas distintas, permitem a comunicação através de chat. Como poderemos ver de seguida, também o chat se revela bastante importante durante a necessidade de comunicação à distância.

5 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://webmessenger.msn.com/?mkt=pt-br. 6 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://dashboard.aim.com/aim. 7 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.bitwiseim.com/. 8 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.google.com/talk/intl/pt-BR/. 9 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.miranda-im.org/. 10 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://webmessenger.msn.com/. 11 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://get.live.com/messenger/overview. 12 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.microsoft.com/windowsxp/using/windowsmessenger/default.mspx. 13 Para mais informações é favor aceder ao sítio:http://br.messenger.yahoo.com/. 14 Para mais informações é favor aceder ao sítio: http://www.qq.co.za/.

5

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 2.4 Chat Esta é uma forma de comunicação escrita e em tempo real(cf. Draelants, 2001). Para Portine (2001:183), os chats são “espaces sociaux d’expression” por excelência, dado que favorecem uma socialização espontânea por parte dos utilizadores, desfrutando da comunicação, no sentido da intercompreensão. Segundo Cruz (2005:10), “os chats são regidos por regras de compreensão que se vão (re) definindo ao longo da interacção”, permitindo aos próprios chatantes definirem e redefinirem as suas próprias estratégias comunicativas, percebendo aquelas que lhe são mais frutíferas na interacção com o Outro. Assim, segundo Steinig (2000), podemos entender os chats como sala virtual didáctica, na medida em que se podem desenvolver e integrar os objectivos definidos no ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, mesmo numa idade precoce. Assim, o professor assume um novo papel. Ele está incumbido de organizar a sessão e de mediar a conversação. Se numa aula tradicional o professor é um transmissor de informações e conhecimentos, numa sala de chat didáctica o professor assume um papel secundário, mas não menos importante do que o do aluno. O chat permite que haja uma descentralização da figura do professor, pois este passa a ser um parceiro de conversação, de quem os alunos podem dispor e negociar o saber. Neste tipo de aulas os alunos e o professor lucrarão muito com o intercâmbio realizado. Como Fróis (2002) afirma, ao participar em actividades colaborativas e dialógicas, como a escrita de e-mails, a participação em chats ou foruns, a criança “efectua opções, toma iniciativas, tem poder de decisão, assume posições, afirma-se, torna-se responsável…”. De seguida, poderemos observar um exemplo de comunicação através do chat, integrado no software Flasmeeting: 23:47: B: our sound is dead 23:49: A: try to broadcast 24:20: A: yes 24:40: A: repeat the name 25:10: A: branda?? 25:12: B: brenda 25:13: A: brenda?? 25:17: A: yessssssssssssss 25:23: A: nice to meet you 25:51: A: listening?? 26:31: B: no not yet

3 Quadros interactivos, Flashmeeting e o desenvolvimento de competências interculturais e plurilinguísticas: um estudo de caso Como podemos ver do quadro anterior, os quadros interactivos permitem promover a motivação e as competências multimodais. Tendo isto em consideração, tentámos estudar como é que os quadros interactivos, conjugados com a Internet, poderiam contribuir para o desenvolvimento intercultural e plurilingue num grupo de alunos. Neste projecto estabelecemos uma parceria entre duas escolas, Colégio do Sardão, uma escola privada portuguesa, e a Escola Primária de Sans Souci, uma escola pública situada na Ilha da Reunião. O grupo de alunos portugueses tinha entre 7 e 9 anos, cuja língua materna é o Português. O outro grupo de alunos tinha entre 9 e 11 anos e o Francês e Crioulo como línguas maternas. Em relação às estratégias que utilizámos neste estudo, concebemos alguns materiais a serem utilizados durante as 3 sessões. Durante estas 3 sessões e usando o quadro interactivo, os alunos tiveram a oportunidade de praticar actos de fala e de aprender novo vocabulário relacionado com os seguintes tópicos: identificação pessoal, actividades de tempos livres e actividades de escola. Com a ajuda das ferramentas dos quadros interactivos, os alunos puderam gravar o seu progresso digitalmente, contribuindo assim para a criação dum portfolio digital individual. Ao mesmo tempo, os seus professores, o professor do 1º ciclo e o professor de Inglês, desenvolveram actividades de pesquisa, pedindo aos alunos para investigar: a localização geográfica da Ilha da Reunião e de Portugal, as línguas faladas, o clima, as tradições e os costumes. Durante as sessões acima mencionadas, os alunos conseguiram falar das principais características da Ilha da Reunião e mais tarde escrever sobre as suas percepções da Ilha da Reunião, isto antes das duas vídeoconferências. Os alunos portugueses trocaram mensagens de e-mail, publicando-as ainda num blog, que pertence á mesma turma. 6

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 Para estabelecer um contacto virtual entre os 2 grupos, usámos uma ferramenta 2.0, o Flashmeeting, devido à facilidade e às características didácticas que mencionámos anteriormente. Estabelecemos 2 vídeoconferências, que tiveram lugar no dia 22 de Fevereiro e no dia 7 de Março de 2008. Na primeira vídeoconferência, os alunos puderam trocar informações pessoais. Na segunda, os principais temas de conversa foram, os hobbies e as actividades da escola. O Inglês foi a língua utilizada na conversação, mas outras línguas foram utilizadas como o Crioulo e o Português.

4 A utilização das TIC como forma de motivação: estudo de caso com crianças da Ilha de Reunião e Portugal. Como já referimos este estudo de caso foi desenvolvido com um grupo de 27 alunos do Colégio do Sardão, do 2º ano. Estes alunos têm idades compreendidas entre os 7 e 8 anos e encontram-se envolvidos em projectos de intercâmbio internacional há 2 anos. Esta foi uma das razões que nos levou a escolher este grupo. Passaremos agora à análise do discurso produzido durante a videoconferência. (Figura 4).

Figura 4 Participantes da Ilha da Reunião durante a videoconferência. Conseguimos distinguir duas sequências de análise, considerando que uma sequência é ‘un bloc d’échages reliés par un degré de cohérence sémantique et/ou pragmatique’ (Kerbrat-Orechioni, 1990:218). Estas sequências resultaram dos tópicos de negociação, previamente acordados entre os professores envolvidos. Durante estas videoconferências, os alunos tiveram a oportunidade de realizar actos discursivos numa situação virtual de comunicação, criando os seus próprios cartões de identificação digitais. No exemplo seguinte, poderemos verificar que os alunos tiveram a oportunidade de verbalizar os seus nomes, idades e local onde moram: AL1 Hi/ My name is Ashley/ I am eleven/ I live in SansSouci/ I come from Reunion Island/ (...) AL2 I am Zé Pedro/ I am seven years old/ I live in Vila Nova de Gaia/ I study in Colégio do Sardão/ (…) SQ1 Ao mesmo tempo os alunos tiveram oportunidade de falar sobre os gostos, referindo quais eram as suas actividades favoritas de tempos livres, como poderemos verificar no exemplo seguinte: AL5 Olá/ My name is Maiva/ I’m ten/ I live in Sans Souci/ I come from Reunion Island/ I like chocolate cake and I don’t like coke/ SQ2 7

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 Também surgiu alguma curiosidade em relação à localização dos países. Os alunos puderam mostrar a localização do local onde vivem e da escola que frequentam em mapas: AL9 Hello/ my name is Alov/ I am eleven/ I live in Sans Souci/ I come from Reunion Island/ I like mango/ I don’t like chocolate cake/ This is Reunion/ We live here/ (showing a map from Reunion Island) A curiosidade em relação ao Outro também é sentida em algumas questões feitas pelos alunos, como por exemplo: “What’s your name?” (SQ2:2). Nós podemos ver a CCI e a PC em acção quando os alunos trocam palavras na sua língua nativa: 3 AL10 Bonjour/ I am Sofia/ I am seven years old/ I study in Colégio do Sardão/ I like to play computer games/ Adeus/SQ2 O aluno já usa uma palavra em Francês para cumprimentar os seus colegas da Ilha da Reunião. Isto é resultados de outras intervenções, que podem ser encontradas nos exemplos SQ1:4-6 e SQ2:4.

Conclusões Com este projecto conseguimos concluir que com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) permitiu-se que os alunos envolvidos se tornassem membros da diversidade e pluralidade que circula na internet e ao mesmo tempo desenvolver e melhorar as Competências Comunicativas Interculturais e as Competências Plurilingues dos intervenientes. Mais, usando o Quadro Interactivo as crianças tiveram a oportunidade de treinar actos de fala relacionados com identificação pessoal, passatempos e actividades de escola. Isto resultou numa actividade muito interessante e útil. Motivação e inovação foram as palavras-chave usadas neste projecto, que traduziram o envolvimento dos alunos neste processo de aprendizagem de línguas sempre que se tratava de actividades activas com o envolvimento de tecnologias baseadas nas ferramentas Web 2.0. Assim, nesta nova sociedade da informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico. Acontece assim, uma mudança qualitativa no processo de ensino/aprendizagem, quando conseguimos integrar dentro de uma visão inovadora todas as tecnologias que hoje em dia temos ao nosso dispor. Com o parecer nº 2/98 do Conselho Nacional de Educação, sobre a Sociedade de Informação na Escola, realçamos a seguinte expressão “A longo prazo, as tecnologias da informação modificarão o papel do pedagogo sem, contudo, atingir a sua centralidade e essencialidade como conceptualizador de mensagens ou tutor de pessoas. Será pelos professores e em torno dos professores, que lenta e seguramente as TIC irão modificar, de forma visível e sensível, os métodos de ensino praticados na escola...”. Como vivemos na era da comunicação, da autonomia, do ensino colaborativo, vivemos também na era da democratização do saber através de uma única rede. O quadro interactivo abre uma janela para uma realidade mais ampla e global, permitindo que os olhos dos alunos estejam agora, e mais do que nunca, voltados para o mundo, com todos os seus contrastes, problemas e, melhor do que nunca, possibilidades de comunicar, interagir e mais importante de se relacionar e conhecer OS OUTROS.

Bibliografia Byram, M. & Fleming, M. (1998). Language learning in intercultural perspective. Cambridge: Cambridge University Press. Conselho da Europa (2001). Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas – Aprendizagem, Ensino, Avaliação, Porto: Edições ASA. Cruz, M. & Melo, S. (2005). Contributos da Competência de Comunicação Intercultural para a "mobilidade on-line” - potencialidades da comunicação plurilingue em chat". Saber Educar, 9. Porto: ESE de Paula Frassinetti. Cruz, M. (2005). O cibercomunicador intercultural: imagens das línguas em chat plurilingue. Dissertação de mestrado. Aveiro: Universidade de Aveiro. 8

ESE de Paula Frassinetti Revista Saber & Educar / Cadernos de Estudo / 14 Cruz, M. (2007). 2ndschool: a virtual learning platform for the promotion of intercultural communication. Projecto de Doutoramento. Aveiro: Universidade de Aveiro (Documento policopiado). Cruz, M.; et al (2006). As representações culturais das crianças e o papel do Educador Social, Cadernos de Estudo, 3, Porto: ESE de Paula Frassinetti. Cruz, M; Medeiros, P. (2007). A Intercompreensão em Chats no Ensino Precoce de Línguas Estrangeiras. Revista Intercompreensão, 13, Santarém: Escola Superior de Educação de Santarém. Draelants, H. (2001). Le "chat": un vecteur de lien social? Esprit critique, em www.espritcritique.org. Ferreira, J. (2001). Tecnologias da Internet, em http://www.eq.uc.pt/~jorge/aulas/internet/ti5blogger.html. Fróis, J. (2002). Brinco (com CDROMs), logo aprendo, Revista Educação e Comunicação, nº 7, Leiria: Escola Superior de Educação de Leiria. Gomes, M. (2005). Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. Actas do VII Simpósio Internacional de Informática educativa - SIIEO5 (CD-Rom, 311-315). Kerbrat-Orecchioni, C. (1990). Les interactions verbales, Paris: Armand Colin. Kerbrat-Orecchioni, C. (1996). La conversation. Paris: Editions du Seuil. López-Alonso, C & Séré de Olmos, A. (2003). Los textos electrónico: nuevos géneros discursivos. Madrid: Biblioteca Nueva. Mason, S. e Davis, M (2000). Videoconfering for teaching and learning, Digital Bridges, em http:// www.netc.org/digitalbridges/resources/. O’Reilly, T. (2005). What is web 2.0.?, em http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/ 2005/09/30/what-is-web-20.html. Portine, H. (2001). Chat sans socialisation-rationalisation n'amasse pas mousse, in Bouchard, R. & Mangenot, F. (ed.) (2001). Interactivité, interactions et multimédia, Notions en Questions, 5. Lyon: ENS Editions. Steinig, W. (2000). Kommunikation im Internet: Perspektiven zwischen Deutsch als Erst- und Fremdsprache. Zeitschrift für Fremdsprachenforschung, 11, pp. 125-156.

9

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.