As Tendências Demográficas No Arquipélago Dos Açores Ao Longo Da Primeira Década Do Século XXI. Análise a Partir Dos Dados Provisórios Dos Censos Da População De 2011

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AS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES AO LONGO DA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI. ANÁLISE A PARTIR DOS DADOS PROVISÓRIOS DOS CENSOS DA POPULAÇÃO DE 2011. Paulo Espínola CEGOT - Universidade de Coimbra/Bolseiro de doutoramento da FCT [email protected] Luís Silveira CEGOT - Universidade de Coimbra [email protected] Resumo Em 2011 cumpriu-se o XV Recenseamento Geral da População portuguesa. Com base nos seus dados provisórios, esta comunicação procura discutir a evolução demográfica ocorrida na Região Autónoma dos Açores entre 2001 e 2011. Procurase estabelecer tendências demográficas conjugando as diferentes escalas territoriais (intrarregional e inter-regional), na busca de padrões comuns, e a partir daqui determinar causas e consequências resultantes das diferentes evoluções demográficas intrarregionais. Palavras-chave: Açores; Ilhas; Demografia; Censos da População. Abstract The demographic trends in the Azores throughout the first decade of the 21st century. Analysis based on the provisional data from the census of the population from 2011. In 2011 the general Portuguese population census took place. Based on the provisional data this communication intends to discuss the demographic development occurred in the autonomous region of the Azores between 2001 and 2011. It is intended to establish demographic trends combining the different territorial scales (intra-regional and inter-regional), in search of common standards and from there to determine causes and consequences resulting from the different intra-regional demographic developments. Keywords: Azores; Islands, Demography; Census of Population.

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1. NOTA INTRODUTÓRIA Os censos da população são habitualmente momentos marcantes na vida de qualquer país e das suas respetivas regiões, constituindo-se por excelência uma ferramenta eficaz para repensar a reestruturação dos territórios em função dos seus quantitativos demográficos, bem como das suas características dominantes. Os Açores, enquanto região insular não foge à regra, até porque as suas especificidades geográficas (nomeadamente ao nível da distância aos continentes, a reduzida dimensão das superfícies e a significativa dispersão inter-ilhas) frequentemente são um obstáculo a um desenvolvimento autossustentado, daí que as alterações demográficas, no sentido de reforço ou retrocesso, assumirem um papel determinante na vida económica e social das suas unidades insulares. Ao nível da administração do território, o arquipélago dos Açores é uma das duas regiões portuguesas dotadas de um governo regional autónomo1, encontrandose, presentemente, dividido em 19 municípios e 156 freguesias2, que se repartem pelas nove ilhas que compõem o arquipélago (Figura 1). Os concelhos de Ponta Delgada, Ribeira Grande, Angra do Heroísmo, Vila Praia da Vitória e Horta apresentam cariz mais urbano, pois as suas sedes de concelho são as únicas cidades dos Açores. Figura 1. A divisão administrativa do arquipélago dos Açores a nível concelhio.

Fonte: Diogo Azevedo, 2008 O arquipélago da Madeira é a outra região portuguesa que possui um governo autónomo regional. Os dois governos regionais foram resultado da entrada em vigor da constituição portuguesa de 1976. 2 Registou-se um acréscimo de 6 freguesias relativamente ao censo da população de 2001, uma vez que desde então oito freguesias foram criadas, enquanto duas foram extintas. 1

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Esta comunicação tem por base uma análise estatística dos dados já publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (de Portugal) relativos aos resultados principais dos censos da população 2011. Incidindo com destaque sobre a região dos Açores, o trabalho agora apresentado procura estabelecer uma tendência evolutiva centrada na última década. No entanto, como os dados utilizados na análise são provisórios, alertamos para o facto de ainda existirem algumas limitações, pois nem todo o tipo de informação está disponível, bem como a que já existe, na sua maioria, não se encontra desagregada ao nível de freguesia. Por conseguinte, este trabalho deverá ser entendido somente como um estudo introdutório aos censos da população 2011 no arquipélago dos Açores. 2. A EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO AÇORIANA Nos últimos 50 anos, a evolução da população dos Açores registou dois tipos de tendências principais (Figura 2). Por um lado, observa-se uma vertiginosa queda demográfica entre 1960 e 1991, embora perdendo expressão na última década. Com efeito, ao longo do período referido o arquipélago perdeu cerca de 27,4% por cento da sua população (aproximadamente 90 mil habitantes). Por outro lado, a região obteve ganhos populacionais entre 1991 e 2011, no entanto durante estes 20 anos o acréscimo demográfico foi moderado, mantendo-se muito abaixo do valor de 1960. Figura 2. A evolução da população dos Açores entre 1960 e 2011.

Fonte: Elaborado a partir do INE, «site» da Web.

Relativamente ao último decénio, em particular, a taxa de crescimento da população açoriana rondou os 2,06% (na década precedente foi de 1,7%), ligeiramente acima do valor nacional, que se cifrou nos 1,98%, mas muito distante

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das regiões3 que obtiveram um acréscimo populacional superior: Algarve (14,12%), Madeira (9,3%) e Lisboa (6,01%). 1.

Repartição Intra-regional

Entre 2001 e 2011, 6 das ilhas açorianas verificaram uma diminuição populacional, enquanto a ilha de São Miguel foi a única com capacidade para superar a média de crescimento regional, o que significa que a maior ilha dos Açores contribuiu de forma determinante para o aumento populacional revelado pelo arquipélago, mesmo quando comparada com as outras ilhas com taxas de crescimento positivas, Terceira e Corvo. Por oposição, surge a ilha Graciosa com o decréscimo demográfico mais acentuado, seguida pelas descidas também significativas de São Jorge, Flores e Pico. Por sua vez, Santa Maria e Faial, embora apresentando evolução negativa entre os dois censos, registam perdas muito ligeiras, pelo que se pode falar de uma certa estabilização das suas populações (Quadro 1). Quadro 1. Síntese da evolução demográfica nos Açores, por ilha.

Fonte: Elaborado a partir do INE e do SREA4, «sites» da Web.

Característica importante também revelada pelos censos 2011 está relacionada com o facto de 5 ilhas (Santa Maria, Graciosa, São Jorge, Pico e Flores) terem atingindo o seu mínimo demográfico ao longo dos 15 recenseamentos gerais da população realizados oficialmente em Portugal, sem que o arquipélago tenha registado o menor valor em termos de população total. Não se trata de um dado surpreendente, pois já tinha sido observado por ESPÍNOLA (2010: 118) em relação ao censo 2001, e que é preocupante para os territórios insulares em questão. Na realidade, esta é uma tendência que se vem acentuando há cerca de 30 anos e que 3

A nível nacional a divisão territorial utilizada foram as NUT II (Nomenclatura de Unidades Territoriais, nível II): Norte, Centro, Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira. 4 Serviço Regional de Estatísticas dos Açores.

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somente as ilhas do Faial e do Corvo têm sido, por vezes, capazes de inverter o retrocesso populacional, face à progressiva concentração demográfica nas ilhas Terceira e São Miguel, as que apresentam de forma indiscutível maior dinamismo económico e social. Ambas, em conjunto, detêm cerca de 79% dos habitantes dos Açores, concentrados em 49,2% da superfície do arquipélago. Ao nível das restantes subdivisões regionais, conclui-se que menos de metade dos concelhos e freguesias dos Açores viram aumentados os seus quantitativos populacionais, 36,8% e 40,7%, respetivamente. De salientar que a nível concelhio é sem surpresa que as ilhas de Santa Maria, Graciosa e Faial apresentam apenas variação negativa, uma vez que os limites de ilha e (do único) concelho coincidem. No entanto, nenhum dos concelhos das ilhas de São Jorge e Pico conseguiram inverter a regressão populacional, enquanto na ilha das Flores, o concelho das Lajes obteve somente mais 1 habitante entre os 10 anos considerados, mas que lhe valeram uma evolução positiva. Por sua vez, o Corvo detém características singulares no contexto açoriano, uma vez que devido à sua diminuta dimensão (tanto em temos de área como de população), os limites de ilha, concelho e freguesia são idênticos, daí que valores de ambas as divisões administrativas coincidirem sempre com os resultados da própria ilha, e por isso, surgem neste censo num contexto favorável. Somente três concelhos possuem evoluções demográficas superiores à média regional, dois localizam-se em São Miguel, Ribeira Grande (12,8%) e Ponta Delgada (4,5%), e outro situa-se na ilha Terceira, Vila Praia da Vitória (3,9%), que é o único que contribuiu para o acréscimo de habitantes nesta ilha, uma vez que Angra do Heroísmo, o mais populoso, registou um decréscimo. Ainda em relação à ilha de São Miguel, dois concelhos apresentaram variações negativas consideráveis, Nordeste (-6,7%) e Povoação (5,9%). No entanto, é Santa Cruz das Flores que alcançou a evolução mais negativa, perdendo 8,2% dos habitantes residentes em 2001, seguido de perto por Santa Cruz da Graciosa (-8,1%) e Calheta, na ilha de São Jorge (-7,3%). A nível de freguesia, entre o ano de 2001 e o ano de 2011, as variações demográficas, tanto positivas como negativas, foram muito acentuadas. Assim, 35 freguesias tiveram uma variação positiva igual ou superior a 5% e 61 freguesias apresentaram uma variação negativa igual ou inferior na mesma percentagem. Os dois grupos detêm 66,2% do total de freguesias dos Açores. A Graciosa foi a única ilha que registou variação negativa em todas as suas freguesias, acontecendo o oposto na ilha do Corvo, pelas razões que já referidas. Com exceção desta ilha, apenas São Miguel e Terceira apresentaram mais de metade das freguesias com acréscimos demográficos, embora se verifique um certo equilíbrio entre os dois grupos em ambos os casos.

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3. AS COMPONENTES NATURAL E MIGRATÓRIA NA EXPLICAÇÃO DA EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA Os dados provisórios relativos aos censos 2011 disponibilizados pelo INE ainda não incluem informações sobre os movimentos migratórios, por isso utilizou-se a clássica equação de concordância demográfica para estimar este tipo de dados. 2.

O Crescimento Natural e o Saldo Migratório

Na primeira década do século XXI os Açores assistiram a um aumento populacional próximo dos 5000 habitantes, no qual o crescimento natural assumiu-se como a variável que maior contribuição prestou. No entanto, relevante foi o facto de o crescimento migratório, embora ligeiro, também tenha colaborado no acréscimo registado, uma vez que desde a década de (19) 30 que tal não se verificava, aliás nos últimos 110 anos o saldo migratório apenas foi positivo nestes dois períodos. Através da observação da figura 3 é possível concluir que a ilha de São Miguel obtém uma taxa de crescimento efetivo substancialmente superior à região autónoma no seu conjunto, sustentada em exclusivo por uma alta taxa de saldo fisiológico, uma vez que o crescimento migratório foi ligeiramente negativo. Numa análise intra-ilha, nota-se que foram os concelhos de Ribeira Grande (7,9‰) e Lagoa (6,6‰) que maiores taxas de crescimento natural apresentaram, tanto ao nível de ilha como do arquipélago. Porém, dois concelhos apresentaram variação negativa ao nível da componente natural, Povoação (-1,1‰) e Nordeste (-1,9‰). No que se refere à taxa do saldo migratório, surpreende o facto de o maior concelho – Ponta Delgada – apresentar um valor tão reduzido, somente 0,3‰. No entanto, apenas é ultrapassado por Ribeira Grande (3,7‰), enquanto os restantes concelhos de São Miguel registam taxas de migração negativas. Com efeito, conclui-se que na maior ilha açoriana o concelho da Ribeira Grande é o que revela maior vigor em relação às dinâmicas naturais e migratórias, por isso apresenta um acréscimo demográfico mais pronunciado.

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Figura 3. As taxas brutas de crescimento natural e crescimento migratório nas ilhas dos Açores, no período 2001 – 2011.

Fonte: Elaborado a partir do SREA, «site» da Web.

Considerando as outras ilhas, nota-se que apenas Santa Maria (0,1‰) e Terceira (0,3‰) surgem com saldos naturais positivos, embora muito próximos do nulo. No extremo oposto encontramos a Graciosa (-8,1‰), Corvo (-5,6‰) e Flores (-5,2‰) com os ritmos de crescimento natural mais negativos. Ao nível da taxa de crescimento migratório é o Corvo que se destaca com 6,8‰, no entanto, em termos absolutos foi a ilha Terceira que registou a maior entrada de população residente não natural, cabendo-lhe a segunda taxa mais elevada (0,8‰). Santa Maria, Pico e Faial também apresentaram balanços migratórios positivos. No entanto, foi São Jorge (-1,2‰) e a Graciosa (-0,7‰) que revelaram as taxas de migração mais desfavoráveis. Deste modo, chegamos à conclusão que São Miguel é o grande responsável pelo aumento demográfico açoriano, mas somente pela via natural. 3.

Os Movimentos Externos: a Emigração e Imigração

Impossibilitados de aceder aos dados sobre as mudanças de residência relativas ao censo 2011, por razões já salientadas anteriormente, limitamo-nos a efetuar considerações genéricas em relação aos movimentos da região com o exterior, uma vez que estes sempre se revelaram importantes na região açoriana. «A história dos Açores, como a de muitos outros espaços insulares, é profundamente marcada pela emigração» (FONSECA, 2011: 23). De facto esta é uma realidade inegável, tendo sido o arquipélago ao longo dos tempos sido um espaço que alimentou diversas correntes emigratórias que deixaram marcas profundas

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na população açoriana. No entanto, este tipo de fluxo migratório, embora sem cessar, atingiu níveis muito baixos no período em estudo. Segundo a informação do SREA, estima-se que a média anual de emigrantes entre 2001 e 2009 não tenha ultrapassado os 290 indivíduos, quando em igual período do decénio anterior, o valor cifrou-se nos 655 emigrantes por ano. Por outro lado, assistiu-se a uma alteração importante ao nível do destino da emigração que passou a dirigir-se maioritariamente para as Bermudas, que embora se tenha constituído como um espaço de acolhimento tradicional dos açorianos, anteriormente foi sempre largamente suplantado por países como o Brasil, Estados Unidos da América e Canadá. Contudo, segundo ROCHA e FERREIRA (2011: 58) trata-se de um destino com características próprias e muito diferentes dos restantes países de emigração açoriana, nomeadamente no que se refere à promoção de um tipo de fluxo laboral temporário com permanências no estrangeiro em média de 2 anos, em que o regresso aos Açores é frequente, mas igualmente temporário, uma vez que esta rede de trabalhadores gera habitualmente um processo de re-emigração. Não entanto, «se a emigração foi e é determinante para a compreensão do evoluir da população dos Açores, do mesmo modo a imigração, fenómeno mais recente, tem hoje uma importância que não pode ser negligenciada» (ROCHA e FERREIRA, 2008: 582). Estes mesmos autores referem no mesmo trabalho em relação aos Açores que «de região de emigração passou a ser, fundamentalmente, de imigração» (2008: 594). Com efeito, no final do decénio em análise antevia-se um desfecho que acabou por ser confirmado nos censos 2011, isto é, um saldo migratório finalmente positivo. Alterou-se assim a configuração das relações migratórias dos Açores com o exterior, pois para além de «porto de partida» de emigrantes, o arquipélago atualmente também é um «cais de chegada» para imigrantes estrangeiros5. Pese embora possamos especificar diferentes fatores que permitam compreender a inversão da tendência tradicional entre os dois fenómenos migratórios em questão, julgamos que podem ser globalmente explicados pelo crescimento económico que a região insular atravessou nos últimos 15 anos. Com efeito, segundo o último relatório das contas regionais editado pelo INE, os Açores que em 1995 detinham um PIB por habitante equivalente a 62% em relação à média da União Europeia (UE 27 = 100), em 2010, esse valor aumentou para 76%. Embora se trate de um valor ainda substancialmente inferior à média comunitária e mesmo nacional (81%), neste último ano os Açores apresentaram um PIB «per capita» superior às regiões do Norte, Centro e Alentejo, enquanto em 1995 ocupavam a última posição na hierarquia nacional. Deste modo, o crescimento generalizado do PIB regional permitiu a construção de novas e mais atividades económicas (principalmente na construção civil e nas atividades relacionadas com o turismo), aumentando o número de postos de trabalhos disponíveis, que por sua vez ofereciam níveis remuneratórios mais 5

Segundo o SREA, em 2010, residiam nos Açores cerca de 3461 estrangeiros.

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apetecíveis quer para imigrantes como para potenciais emigrantes, diminuindo (ou pelo menos adiando) a propensão para emigrar e atraindo novos interessados para se fixarem nos Açores. 2. A ESTRUTURA DA POPULAÇÃO POR IDADES E QUALIFICAÇÃO A repartição da população por idades e por níveis de instrução são características fundamentais que permitem perspetivar a capacidade futura de uma população em termos socioeconómicos como ao nível da própria vitalidade demográfica. Observando o quadro 2, tendo em conta o contexto nacional, nota-se que os Açores apresentam-se como a região com maior grau de juventude, não fosse a NUT II que regista a maior proporção de população com idades inferiores aos 24 anos. Além disso, o arquipélago surge em 2011 com a menor percentagem de idosos, o que lhe possibilitou manter o menor índice de envelhecimento de Portugal entre 2001 e 2011. No entanto, no mesmo espaço temporal, verificou-se um aumento do número de idosos por cada 100 jovens, o que aconteceu em todas as grandes regiões nacionais, sendo consequência direta da tendência de envelhecimento que o país atravessa. Quatro regiões apresentaram um índice de envelhecimento inferior à média nacional, porém apenas as regiões insulares é que possuem maior número de jovens em relação aos idosos. Do lado oposto, encontramos as regiões do Alentejo e do Centro, onde os índices de envelhecimento atingem já um nível preocupante. Quadro 2. Repartição da população por grandes grupos etários em 2011 e a evolução do índice de envelhecimento entre 2001 e 2011, por NUT II.

Fonte: Elaborado a partir do INE e SREA, «sites» da Web.

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Figura 4. A evolução do índice de envelhecimento da população nas ilhas açorianas, no período 2001 e 2011.

Fonte: Elaborado a partir do INE, «site» da Web.

Numa análise por ilhas, conclui-se que em 2011 a grande maioria surge com valores substancialmente mais elevados que os do arquipélago (Figura 4). Assim, nesse ano, apenas São Miguel regista um valor inferior à média regional, apesar de Santa Maria se encontrar muito próxima desse resultado. Somente outras três ilhas, Terceira, Faial e Corvo, verificam resultados inferiores ao valor nacional, pelo que as restantes fazem parte do «Portugal envelhecido». Neste último grupo, são as ilhas do Pico e da Graciosa que apresentam as populações mais envelhecidas, mas seguidas de perto por São Jorge e Flores. Em termos evolutivos, todas as ilhas registaram um aumento do índice de envelhecimento, com exceção do Corvo, baixando consideravelmente o seu valor em relação a 2001, quando atingiu cerca de 150 idosos por cada 100 jovens. Com efeito, o concelho do Corvo foi o único da região que diminuiu este índice. Porém, Ribeira Grande é o que no ano 2011 verifica o menor índice de envelhecimento, na ordem dos 37,2%. Aliás, é de destacar o facto de os 4 concelhos com menor número de idosos entre jovens localizam-se na ilha de São Miguel, e são os únicos que assinalam valor inferior ao da região, apenas Povoação e Nordeste não fazem parte deste grupo. Todavia, todos os concelhos desta ilha apresentaram mais jovens que idosos, o que somente aconteceu nos concelhos da Terceira, bem como na Horta e em Vila do Porto. Por outro lado, são dois concelhos da ilha do Pico que registam os índices de envelhecimento mais elevados, Lajes do Pico (167,3%) e São Roque (149,4%). Em síntese, constata-se que a população açoriana apresenta grandes contrastes regionais, existindo uma clara oposição geográfica entre as «jovens» ilhas orientais (Santa Maria, São Miguel e Terceira) e o envelhecimento dominante nas restantes.

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No que se refere ao nível de instrução da população açoriana concluída até 2011, nota-se que houve uma ligeira melhoria entre os habitantes que concluíram o nível de qualificação mais elevado (ensino superior), passando de uma percentagem de 7,9% em 2001 para 10,6% em 2011. No entanto, este é o valor mais baixo entre as grandes regiões portuguesas, mantendo-se consideravelmente inferior às restantes. No ensino secundário, o arquipélago ocupa a mesma posição a nível nacional, porém este tipo de população baixou em relação a 2001 (cerca de uma unidade percentual). Com efeito, os Açores continuam com grandes dificuldades ao nível de instrução, o que constitui naturalmente um grande problema em relação ao restante território português. Desta forma, é o ensino básico que domina ao nível da população instruída nos Açores, sendo o nível de habilitação de cerca de 75,5% dos açorianos. É o 1º ciclo que assume maior importância em todas as ilhas, sem exceção, seguido pelos outros dois ciclos do ensino básico. O ensino superior, por sua vez, surge sempre como o grupo de habilitação com menor percentagem de população, sobressaindo o Faial com a maior proporção de população que detém este nível de instrução. Por outro lado, é o Corvo que obtém a menor percentagem de população com o ensino pós-secundário. A nível concelhio, e ainda dentro deste nível de qualificação, é Ponta Delgada que apresenta maior população relativa, depois surgem Angra do Heroísmo e Horta. A ilha de São Miguel apresenta grandes disparidades a este nível, uma vez que enquanto Ponta Delgada é único concelho cuja população com ensino superior supera a que possui o ensino secundário, Nordeste, Povoação e Vila Franca do Campo são os que apresentam as menores percentagens com nível de qualificação superior. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na primeira década dos anos 2000, os Açores confirmaram a recuperação demográfica iniciada nos finais do século anterior, sem contudo estarem livres de uma série de ameaças demográficas associadas às sociedades contemporâneas mais desenvolvidas, uma vez que ROCHA e FERREIRA (2008: 581) colocam o arquipélago «definitivamente no grupo de regiões e países mais desenvolvidos». No entanto, o tipo de riscos referidos não atinge de igual forma todas as ilhas, pondo em evidência uma certa ambiguidade territorial. Com efeito, a ilha de São Miguel assume características muito próprias que a distingue das restantes, com elevadas taxas de crescimento natural e de crescimento efetivo, contrariando assim as outras unidades insulares. Além disso, dada a sua dimensão no contexto regional acabou por influenciar de forma decisiva os resultados finais do arquipélago, que surgem em 2011 como a região nacional com maior vitalidade demográfica, em consequência de possuir a estrutura etária mais jovem do país. Todavia, esta é uma característica que não reflete a situação demográfica da maioria das ilhas açorianas, que se apresentam com estruturas etárias idosas e saldos fisiológicos frequentemente negativos ou muito próximos do nulo. O último censo da população revelou também que os Açores

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obtiveram um saldo migratório positivo, mas este não teve a contribuição da sua maior ilha, o que demonstra que outras ilhas detém poder de atração, tal como acontece com a pequena sociedade insular do Corvo. Ao nível da divisão administrativa, o município da Ribeira Grande destaca-se claramente, pois registou sempre os valores mais favoráveis em todos os indicadores analisados. Pelo contrário, Santa Cruz da Graciosa obteve, no conjunto das variáveis, o pior resultado, que conduziu à maior regressão populacional (relativa) do arquipélago, sendo este um cenário que atinge a grande maioria dos concelhos das ilhas de pequena e média dimensão. Ironicamente foi detetada uma característica comum a todas as ilhas e que esta relacionada com o baixo nível de instrução da população açoriana, constituindo-se um obstáculo estrutural que poderá afetar o próprio desenvolvimento das mesmas, nomeadamente aquelas que atingiram o seu mínimo populacional em 2011. Por conseguinte, torna-se importante implementar estratégias que procurem inverter o retrocesso demográfico, a fim de evitar que se ultrapasse o mínimo populacional a partir do qual compromete-se a sustentabilidade das atividades privadas nestas sociedades, entrando deste modo num declínio ainda mais acelerado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESPÍNOLA, P. (2010): A Emigração na Ilha Graciosa, Ponta Delgada, Edições Macaronésia, 241 p. FONSECA, M. (2011): «Prefácio», em ROCHA, G. (coord.) Entre Dois Mundos. Emigração e Regresso aos Açores, Edição do Governo dos Açores, p. 49-67. Instituto Nacional de Estatística (INE): Censos 2011- Resultados Provisórios. www.ine.pt, [consulta: 7/12/2011]. Instituto Nacional de Estatística (INE): Recenseamentos Gerais da PopulaçãoVários. www.ine.pt, [consulta: 10/02/2012]. ROCHA, G. e FERREIRA, E. (2008): «População e Circulação de Pessoas», em MATOS, A., MENESES, A. e LEITE, J. (coord.) História dos Açores. Do descobrimento ao século XX, vol. 2, Instituto Açoriano de Cultura, p. 58-610. ROCHA, G. e Ferreira, E. (2011): «Traços Gerais da Emigração Açoriana da Segunda Metade do Século XX à Actualidade», em ROCHA, G (coord.) Entre Dois Mundos. Emigração e Regresso aos Açores, Edição do Governo dos Açores, p. 4967. Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA): Censos 2011 – Resultados Preliminares dos Açores. http://estatistica.azores.gov.pt, [consulta: 5/09/2011]. Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA): Movimento Fisiológico da População - Açores. http://estatistica.azores.gov.pt, [consulta: 3/06/2012].

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