As transformações da riqueza em Franca, século XIX

May 25, 2017 | Autor: L. Oliveira | Categoria: Economic History, Historia Economica, História da escravidão no Brasil
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE HISTÓRIA , DIREITO E SERVIÇO SOCIAL CAMPUS DE FRANCA

AS TRANSFORMAÇÕES DA RIQUEZA EM FRANCA SEGUNDO OS INVENTÁRIOS (SÉCULO XIX)

Lélio Luiz de Oliveira Orientador: Prof. Dr. Lincoln Etchebéhere Júnior

Dissertação apresentada à Faculdade De História, Direito e Serviço social - UNESP - Campus de Franca, como parte da exigência para obtenção do título de MESTRE EM HISTÓRIA.

Franca 1995

Í N D I C E

Lista de Tabelas ......................................

03

Lista de Gráficos .....................................

06

Mapas .................................................

09

Abreviaturas ..........................................

10

Introdução.............................................

11

l. A economia do centro-Sul............................

24

2. A economia da região de Franca......................

52

3. A riqueza dos proprietários segundo os inventários..

96

3.l. A riqueza escrava.............................. 113 3.2. Os semoventes.................................. 160 3.3. Os bens de raiz................................ 170 3.4. Os bens pessoais............................... 175 3.5. As dívidas: ativas e passivas ................. 188

Considerações Finais................................... 198

Fontes e Bibliografia.................................. 2

LISTA DE TABELAS

1.Número de animais em trânsito por Sorocaba, segundo o Livro do Novo Imposto (1820-1822) e

registrados

nos livros da Barreira de Sorocaba (1826-1827)......

45

2.Número médio de animais e de muares chegados no mercado de Sorocaba - 1825 a 1880......................

47

3.Evolução demográfica da população de São Paulo, MojiMirim e do Sertão do Rio Pardo (1798 a 1824)........ 4.Demonstrativo da porcentagem de mineiros no total

60

da

população do Sertão do Rio Pardo e Vila Franca ......

60

5.Inventários que constam descrições sobre plantações de café (1878 a 1883) ...............................

84

6.Lançamento de Engenhos e máquinas de todas as espécies que são obrigados a pagar direitos no ano de 1890..... 87 7.Lançamento dos negociantes de todas as espécies, da cidade de Franca e seu município que são obrigados a pagar direitos no ano de 1890 .......................... 88 8.Lançamento de todas oficinas que são obrigadas a pagar direitos no ano de 1890................................90 9.População/Idades-Franca do Imperador - 1837 ...........93 10.Distribuição da Riqueza (por proprietário - em porcentagem - (1822/30 e 1875/85) .........................102 11.Quantidade de escravos possuídos por proprietário....114 12.Distribuição da propriedade escrava (proprietários

e

escravos possuídos, em porcentagem - São Paulo - 1872/ 80 e 1881/87)........................................121 3

13.Valor médio dos escravos por ano (masculinos + femininos) 1822/30 e 1875/85 ..............................125 14.Valor médio dos escravos por ano - masculinos/femininos 1822/30 .............................................129 15.Valor médio dos escravos por ano - masculinos/femininos 1875/85 .............................................132 16.Distribuição dos escravos, segundo a faixa etária (masculinos + femininos) ................................138 17.Distribuição dos escravos, segundo os sexos .........141 18.Distribuição dos escravos, segundo as faixas etárias e os sexos (em porcentagem)............................142 19.Distribuição dos escravos, segundo as faixas etárias e os preços mínimos e máximos (masculinos e femininos) 1822/30...............................................146 20.Distribuição dos escravos, segundo as faixas etárias e os preços mínimos e máximos - 1875/85 ...............147 21.Distribuição do escravos, segundo as faixas etárias e os preços médios ....................................149 22.Distribuição dos escravos, segundo as faixas etárias e faixas de tamanho dos plantéis - 1822/30 ............152 23.Distribuição dos escravos, segundo as faixas etárias e faixas de tamanho dos plantéis - 1875/85 ............154 24.Quantidades, porcentagens e valores médios dos semoventes - 1822/30 .......................................161 25.Quantidades, porcentagens e valores médios dos semoventes - 1875/85........................................165 4

26.Dívidas Ativas/Passivas - 1822/30 ...................189 27.Valor das dívidas ativas por proprietário - 1822/30..190 28.Dívidas Ativas/Passivas - 1875/85....................191 29.Valor das Dívidas Ativas por proprietário - 1875/85..192 30.Valor

das

Dívidas

Passivas

por

proprietário -

1822/30............................................. 194 31.Valor

das

Dívidas

Passivas

por

proprietário

-

1875/85............................................ 196

5

LISTA DE GRÁFICOS

1.

Número de eqüinos, muares e bovinos em trânsito por Sorocaba - 1820/22 e 1826/29.................

46

2.

Composição da riqueza - 1822/30 .................

99

3.

Composição da riqueza - 1875/85..................

99

4.

Distribuição dos animais - % - 1822/30 ..........

162

5.

Distribuição dos animais - % - 1875/85 ..........

166

6.

Porcentagem de Dívidas Ativas e Passivas - 1822/30. 188

7.

Porcentagem de Dívidas Ativas e Passivas - 1875/85. 191

6

ABREVIATURAS

AHMF

-

Arquivo Histórico Municipal de Franca "Capitão Hypólito Antônio Pinheiro"

MHMF

-

Museu Histórico Municipal de Franca "José Chiachiri"

APESP -

Arquivo Público do Estado de São Paulo

7

I N T R O D U Ç Ã O

Este trabalho tem como objetivo estudar as formas e os níveis de riqueza dos proprietários radicados em Franca1, situada no Nordeste da Província de São Paulo, no século XIX, comparando dois períodos: l822/30 e l875/80. O objetivo proposto alia-se à necessidade da identificação

das

conjunturais,

sob as quais os proprietários obtinham os

recursos

condições

necessários

à

econômicas

acumulação

regionais

da

riqueza

e

e

à

organização das estratégias de sobrevivência. Ao considerarmos a dinâmica da economia da região de Franca, e sua inserção no contexto da economia de subsistência do centro-Sul, é que analisaremos os níveis de riqueza

dos

proprietários

francanos.

Temos,

portanto,

o

intuito de investigar a capacidade da geração de riqueza da economia de subsistência na região em estudo, durante o século XIX.

Alguns idéias

que

artigo

de

compõem Alice

trabalhos este

Piffer

estudo;

serviram citamos

CANABRAVA:

1

de

suporte

especialmente

"Uma

economia

às o de

Franca "foi criada freguesia no ano de 1804 com este nome alusivo ao do capitão-general Antônio da Franca e Horta, elevada à vila em 1824 por decreto imperial e à cidade por lei provincial de 24 de abril de 1856." In: MARQUES, Manuel Eufrásio de Azevedo. Apontamentos da Província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, t.1., p.276.

8

decadência: os níveis de riqueza na capitania de São Paulo, 1765/67", que ao utilizar recenseamentos dimensiona

"os

níveis de riqueza na capitania de São Paulo em meados do século

XVIII"2

"Metamorfoses

e

a

da

tese

Riqueza:

de

Zélia

São

Cardoso

Paulo,

de

MELLO,

1845-1895",

que,

amparada em inventários, investigou "o movimento das formas de

riqueza

escravismo

como e

o

capitalista."3 que obra

expressão

do

surgimento

movimento da

de

economia

superação

do

exportadora

Sem nos esquecermos de Alcântara MACHADO,

preocupou-se com a composição e o nível da riqueza na "Vida

e

Morte

do

Bandeirante",

o

qual

tendo

inventários como subsídio, abriu caminhos para uma visão mais

realista

das

condições

econômicas

do

paulista

no

período colonial.4 2

CANABRAVA, Alice Piffer. Uma economia de decadência: os níveis de riqueza da Capitania de São Paulo, 1765/67. Revista Brasileira de História. Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, p. 105, out./dez. 1972. 3 MELLO, Zélia Maria Cardoso de. Metamorfoses da riqueza: São Paulo, 1845-1895. Contribuição ao estudo da passagem da economia mercantil-escravista à economia exportadora capitalista. São Paulo: Hucitec/Prefeitura Municipal de São Paulo/Secretaria Muncipal de Cultura, 1985. Ver também: CARDOSO JR., Hélio Rebello. A utilização da terra, da mão-de-obra e dos bens de produção na economia colonial brasileira - a evolução da unidade produtiva em Mariana (17101809). In: ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA - Cidade e Poder ANPUH, 5., 1986, Uberlância, Anais, Uberlândia, Universidade Federal de Uberlância, 1986, p.272-290. MONTEIRO, John. Distribuição da riqueza e as origens da pobreza rural em São Paulo (século XVIII). Estudos Econômicos. São Paulo, v. 19, n.1, jan./abr. 1989. 4 MACHADO, Alcântara. Vida e morte do bandeirante. São Paulo: Martins, 1972. "Alcântara Machado, num admirável ensaio econômico-social, em que não se sabe o que mais admirar, se a visão exata e sintética da vida do bandeirante seiscentista, se o estilo cristalino com que traduz o seu pensamento, fornece preciosos elementos à apreciação (...) da vida piratiningana". In: SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil(1500-1820). 3.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957. p.220.

9

Com

vistas

à

análise

da

economia

de

subsistência do centro-sul do Brasil, durante o século XIX, onde a região de Franca é parte atuante,

nosso subsídio

advém principalmente de autores como Maria Thereza Schorer PETRONE, Alcir LENHARO, Roberto MARTINS e Robert W. SLENES, que

empenharam-se em demonstrar o caráter dinâmico deste

seguimento da atividade econômica, afastando a idéia de um setor

modelado

pela

decadência,

estagnação

e

gerador

de

baixos níveis de renda e riqueza. PETRONE

dimensiona

o

comércio

do

gado

no

Centro-Sul do Brasil, que abastecia as áreas de economia de exportação, primeiramente a mineração e depois as lavouras de cana-de-açúcar e café, incluindo-se a cidade do Rio de Janeiro, como importante centro consumidor de gêneros de subsistência.5

A

autora

demonstra

a

importância

da

agricultura paulista como instrumento de desenvolvimento e como geradora de riquezas durante o século XIX.6 LENHARO

demonstra

o

caráter

aberto

e

mercantil da economia de subsistência do Sul de Minas com vistas

ao

abastecimento

implicações "formação 5

6

de

sociais setor

e

Rio

de

políticas,

ou

social

do

novo

Janeiro seja,

oriundo

da

e

suas

estudou

a

produção

e

PETRONE, Maria Thereza Shorer. O Barão de Iguape: um empresário da época da independência. São Paulo: Nacional, 1976. 177p. (Brasiliana, v. 361). PETRONE, Maria Thereza Shorer. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851), são Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968, p.21.

10

distribuição

de

gêneros

de

primeira

necessidade

para

o

consumo interno", e ainda explicita como "este setor da classe

proprietária

do

Centro-Sul

articulou-se

politicamente em nível regional, e projetou-se no espaço da Corte"7 O debate travado entre MARTINS e SLENES nos traz

novas

conclusões

complexidade manutenção Minas,

do

após

ressaltando destas

da

o a

acerca

economia

braço auge

mineira,

escravo. da

MARTINS

mineração,

importância

características,

da

a

dos

mercantilização

e

conjugada

com

a

economia

de



voltada

mercados

Província

a

para

dentro,

locais.

mineira

Apesar

era

grande

importadora de escravos, contradizendo a idéia convencional de que a ampla utilização da mão-de-obra escrava dava-se somente em atividades de exportação. Pondera ainda o autor, que o fator Wakefield - grandes extensões de terras a serem ocupadas não possibilitavam a criação de um mercado de mãode-obra

livre

-

contribuía

decisivamente

para

a

continuidade do uso do braço escravo na produção, mesmo que 7

LENHARO, Alcir. As tropas da moderação: o abastecimento da Corte na formação da política do Brasil, 1808-1842. São Paulo: Símbolo, 1979 (Coleção ensaio e memória, 21); Idem, Rota Menor: o movimento da economia mercantil de subsistência do Centro-Sul do Brasil, 1808-1831. Anais do Museu Paulista. v. XXIII, 1977/8. Outros estudos que tomam o abastecimento como objeto de investigação, ver: ZEMELLA, Mafalda, Abastecimento da Capitania de Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1990; ELLIS, Myrian. Contribuição ao estudo do abastecimento das áreas mineradoras do Brasil no século XVIII. Rio de Janeiro: MEC, 1960; LINHARES, Maria Yeda. O problema do abastecimento numa perspectivas histórica 1530-1918. Rio de Janeiro: 1978; MATTOSO, Kátia M. de Queiróz. Bahia: a cidade de Salvador e seu mercado no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1978.

11

esta

fosse

menos

mercantilizada

e

tivesse

níveis

de

rendimento menores que a de exportação.8 SLENES,

ao

criticar

MARTINS,

apresenta

um

"modelo alternativo" ao conjugar idéias revisionistas com a "historiografia tradicional", quando valoriza as atividades de exportação de Minas, que teria proporcionado um "efeito multiplicador", econômicas

ou

voltadas

seja, para

incentivador

o

de

considerável

atividades

mercado

interno

daquela Província.9 Os

historiadores

referidos

ressaltam

a

importância de Caio PRADO JÚNIOR10 que "apoiando-se em fontes primárias,



economia

de

apreendeu

o

notificara subsistência

seu

caráter

sobre

a

situação

mineira aberto

(...). para

específica O

mesmo

mercados,

da

autor

captando

também o movimento que a produção de subsistência realizou em busca de novos mercados após o refluxo da mineração."11 A tendência revisionista da historiografia que

procura

revelar

a

economia

8

de

subsistência

com

MARTINS, Roberto. A economia escravista de Minas no século XIX. Texto para discussão nº 10, Belo Horizonte: CEDEPLAR, 1982. 9 SLENES, Roberto W. Os Múltiplos de porcos e diamantes: a economia escravista de Minas Gerais no século XIX. Cadernos IFCH-UNICAMP nº 17, Campinas, junho, 1985. Sobre um complemento ao debate entre MARTINS e SLENES, ver também: LUNA, Francisco Vidal, CANO, Wilson. A reprodução natural de escravos em Minas Gerais (século XIX) - Uma hipótese. In: Economia escravista em Minas Gerais. Cadernos IFCH-UNICAMP nº 10, Campinas, outubro, 1983; BOTELHO, Tarsício Rodrigues. Famílias e escravarias: demografia e família escrava no Norte de Minas Gerais no século XIX. São Paulo: FFCL, 1984. 208p. (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo, 1984. 10 PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 20.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. 11 LENHARO, Alcir. op. cit., p. 34, nota 7.

12

características

mercantis,

dinâmica

e

capacitada

para

geração de riquezas - tem provocado um embate direto com a chamada "historiografia tradicional". Em razão desta tratar o setor de exportação como tema principal, à economia de subsistência eram atribuídas as seguintes características: a)

de

tendência

fechada

ou

de

influência

restrita

a

pequenas regiões; b) voltada para a auto-suficiência; c) baixa produtividade e rentabilidade; d) mínima ou nenhuma utilização de mão-de-obra escrava; e)

subsidiária

ou

sobrevive na periferia da economia mercantil.12 Autores

como

Roberto

SIMONSEN

e

Celso

FURTADO comungam com os princípios acima ao retratarem as atividades

econômicas

da

região

sudeste,

no

período

intermediário entre o declínio da mineração e a ascensão da lavoura cafeeira. SIMONSEN, entende como um período carente de

progresso,

de

vazio

de

História,

uma

tendência

que

somente seria revertida com a disseminação das lavouras de um novo produto de exportação: o café. Vê na pecuária uma atividade

de

pouca

significância.13

"desenvolvimento endógeno

FURTADO

cita

que

o

(...) foi praticamente nulo" na

região mineira, apesar de haver certas condições favoráveis 12

13

LENHARO, Alcir. op. cit., p. 33-37, nota 7. Sobre a crítica a história tradicional LENHARO utilizou-se dos escritos de MAXWELL, Kennet, A devassa da devassa. A inconfidência mineira: Brasil e Portugal - 1750-1808. Tradução de João Maia. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. (Estudos Brasileiros, v. 22); SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Nacional, 1974; GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo: Àtica, 1978. SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil 1500-1820. 6.ed. São Paulo: Nacional, 1969.

13

como: proporção maior da população livre e concentrada,

se

comparada

com

região

renda menos açucareira

do

Nordeste. Comenta que a tendência era de atrofiamento da economia

monetária

e

descapitalização,

o

que

provocou

a

decadência dos núcleos urbanos "dispersando-se grande parte de

seus

elementos

numa

economia

de

subsistência

(de

baixíssima produtividade), espalhados por uma vasta região em

que

eram

difíceis

as

comunidades

e

isolando-se

os

pequenos grupos uns dos outros"14 Nosso

trabalho

vincula-se

à

tendência

revisionista. O desenvolvimento da economia da região de Franca, durante o século XIX, é entendido como reflexo da ampliação

das

atividades

econômicas

voltadas

para

a

subsistência, exercidas em Minas Gerais e outras regiões de São

Paulo,

com

vistas

a

atender

os

mercados

locais

e

regionais, as áreas de plantation e os centros urbanos em crescimento.

A

economia

francana

e

a

riqueza

nela

produzida, no período em questão, só podem ser entendidas frente à integração desses mercados.15 A

escolha

das

balizas

para

nosso

estudo

seguiu alguns parâmetros, ou seja, a delimitação de dois períodos:

o

primeiro

-

1822/30

14

-

mais

no

início;

e

o

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 20.ed. São Paulo: Nacional, 1985, p. 79. 15 Amparado nos ensinamentos de Adeline DAUMARD não há como negar que os quadros econômicos são importantes pois permitem presumir o crescimento da importância de uma determinada camada social. Eles são os suportes para apreciar a evolução da fortuna e certos fatores da constituição e conservação dos patrimônios. DAUMARD. Adeline.Hierarquia e riqueza na sociedade burguesa. São Paulo: Perspectiva, 1985, p. 195.

14

segundo

-

facilitou

1875/85, a

próximo

análise

ao

do

fim

do

século

movimento

da

XIX.

Isso

riqueza

dos

proprietários francanos durante a centúria em questão. Outro fator de influência, foi a modificação dos

quadros

econômicos

do

Nordeste

paulista,

aliado

à

efetiva ocupação populacional a partir da década de 20. A região deixou de ser escassamente povoada por habitantes de origem paulista, que sobreviviam dos pousos às margens do "Caminho dos Goyazes", sua principal fonte de sustento. Os mineiros, desde os fins do século XVIII, ampliação

das

atividades

em decorrência da

econômicas

destinadas

à

subsistência16 e pela concomitante diminuição das atividades mineradoras17, região

que

foram

flanqueia

se a

estabelecendo serra

oeste,

em

"São

Paulo,

de

Franca

a

na

Moji-

Mirim".18 A expansão da população mineira foi acompanhada da pecuária,

sua

principal

atividade.

A

referida

expansão

atingiu a Comarca do rio das Mortes (Sul de Minas), o atual Triângulo Mineiro, acabando por ultrapassar a fronteira do Nordeste da Capitania de São Paulo. usado

para

designar

um

território

"O termo 'Sertão', escassamente

povoado,

pouco a pouco desaparecia à medida em que a paisagem se humanizava

16 17 18

com

a

fundação

dos

MARTINS, Roberto. op. cit. nota 8. FURTADO, Celso. op. cit., p. 85, nota 14. PRADO JR., Caio. op. cit., p. 198, nota 10.

15

arraiais,

sedes

de

Freguesias,

núcleos

primitivos

das

atuais

cidades

do

Nordeste Paulista."19 A atividades

ocupação

econômicas

da

região

permanentes

veio

acompanhada

de

com

características

mercantis, fortalecidas no decorrer do século. Dentre as mais dinâmicas destacamos: a) a pecuária, que favoreceu a constituição de vínculos comerciais com distantes centros consumidores; b) o comércio do sal, que desenvolveu-se com a ampliação do rebanho da região e com o abastecimento das regiões

de

Goiás

e

Mato

Grosso;

c)

a

agricultura

de

subsistência, menos desenvolvida, que atendia aos próprios produtores. O excedente era endereçado aos mercados locais para atendimento de viajantes que trafegavam pelos caminhos da região.20 Outras atividades serão tratadas no corpo do trabalho. Outra forte razão que nos levou a iniciar nossos estudos a partir do ano de l822, é que essa foi a época que apresentou maior volume

da documentação base de

nosso trabalho, os inventários. No l875/80

-

regionais,

segundo

ocorreu

a

sustentada

período,

ampliação nas

por das

nós bases

tradicionais

escolhido

-

produtivas atividades

econômicas e incrementada pelo crescimento do plantio das 19

20

CHIACHIRI FILHO, José. Do Sertão do Rio Pardo à Vila Franca do Imperador. Ribeirão Preto: Ribeira Gráfica e Editora Ltda, 1982, p. 207. CHIACHIRI, José. Vila Franca do Imperador: subsídios para história de uma cidade. 1.ed. Franca: O Aviso da Franca, 1967.

16

lavouras de café a partir da segunda metade do século XIX. Conjugado ao crescimento econômico, destaca-se a efetiva ocupação do território compreendido pelo Nordeste paulista.21 Ao embrenharmos pela História econômica

as

características do nosso trabalho diferenciam-se de outros de cunho acadêmico já realizados sobre a região de Franca. Como exemplo temos a tese de José CHIACHIRI FILHO, "um estudo

sobre

paulista

o

e,

povoamento

e

primordialmente,

a

população

sobre

a

do

Nordeste

participação

dos

mineiros na realização desse povoamento e na composição e crescimento desde

o

dessa

população.

desbravamento

do

Abrange

Sertão

até

um

período

que

a

criação

da

vai Vila

Franca do Imperador, em l824."22 Também com o objetivo de entender

a

ocupação

do

Nordeste

paulista,

citamos

um

excelente ótimo trabalho, de autoria de Lucila R. BRIOSCHI e equipe. Nele os autores procuraram "recuperar

a história

das migrações mineiras e a constituição de uma sociedade de criadores, localizada entre os rios Pardo e Sapucaí-Mirim, a oeste do Caminho de Goiás".23 Numa perspectiva demográfica, o

estudo

de

Aparecida

da

Glória

AISSAR

contribuiu

decisivamente para a História regional, quando analisou a natalidade e mortalidade em Franca no período entre l800 e l850.24 Sob a óptica política, ressaltamos os trabalhos de 21 22 23

24

CHIACHIRI, José. op. cit., nota 20. CHIACHIRI FILHO, José. op. cit., p. 18, nota 19. BRIOSCHI, Lucila R., BACELLAR, Carlos A. P., CHIACHIRI FILHO, José et alii. Entrantes do Sertão do Rio Pardo. O povoamento da freguesia de Batatais - séculos XVIII e XIX. São Paulo: CERU, 1991. AISSAR, Aparecida da Glória. Natalidade e mortalidade em Franca: um estudo de demografia histórica (1800-1850). São Paulo: FFLCH,

17

Mildred

Regina

ascensão

GONÇALVES,

que

enfocam

as

formas

de

política conjugadas com o coronelismo em Franca.25

estruturamos

Ao

procurar

nosso

trabalho

atender em

três

nossos partes.

objetivos, Na

primeira

apresentamos a face da economia do centro-Sul, durante o século XIX,

favorável ao desenvolvimento da economia de

subsistência, com fortes ligações mercantis. Na

segunda

parte, procuramos caracterizar e dimensionar as atividades econômicas exercidas na região de Franca, e demonstrar suas ligações com outros mercados. E como

base

pelos

os

inventários,

proprietários

de

na

terceira

demonstramos

Franca,

que

a

parte, riqueza

exerciam

tendo obtida

atividades

econômicas geradoras de bens destinados ao abastecimento das

populações

centro-Sul.

locais

e

Trataremos,

ao

atendimento

neste

capítulo,

de da

mercados

do

posse

dos

escravos por faixa etária, demonstrando seus respectivos valores e procedendo comparações com outras regiões. Após a apresentação

e

análise

quantificação dos itens:

destes

dados,

trataremos

da

bens móveis, semoventes (animais

de criar), e valores dos bens imóveis, procurando entender qual a participação de cada item no total da riqueza dos proprietários.

25

1980, 166p. Tese (Doutorado em História), Universidade de São Paulo, 1980. NALDI, Midred Regina Gonçalves. O Barão e o Bacharel (um estudo de política local no II Reinado), o caso de Franca. São Paulo: FFLCH, 1988, 183p. Tese (Doutorado em História), Universidade de São Paulo, 1980.

18

Nossa base documental está alicerçada em 96 inventários do Cartório do 2° Ofício Cível. Atualmente eles encontram-se arranjados em ordem cronológica, em bom estado de conservação, à disposição dos pesquisadores no Arquivo Histórico Municipal "Capitão Hipólito Antônio Pinheiro", de Franca-SP.

A

amostragem

foi

método

que

norteou

nossa

consulta aos dados escolhidos para este trabalho. Pretendemos

com

este

trabalho

de

história

econômica abrir um filão para o conhecimento do processo histórico transcorrido na Região de Franca. Este livro originou-se de uma dissertação de mestrado

defendida

na

Faculdade

de

História,

Direito

e

Serviço Social - UNESP - Campus de Franca, sob orientação do Prof. Dr. Lincoln Etchebéhere Júnior.

19

1. A ECONOMIA DO CENTRO-SUL

Nosso objetivo neste capítulo é apresentar as condições econômicas propícias para o desenvolvimento das

atividades

dedicadas

à

subsistência,

principalmente

aquelas relacionadas com a agricultura e a pecuária, no Centro-Sul,

durante

o

moldaram

economia

de

a

século

XIX.

subsistência

Condições com

estas

que

características

imbuídas de dinamismo e de tendência aberta, voltada para os mercados locais e regionais; contexto em que a região de Franca se insere e integra. Para que nossos objetivos fossem atingidos, trilhamos

o

seguinte

possibilidades

de

caminho:

produção

de

bens

reconhecimento

das

de

das

subsistência

diversas regiões do centro-Sul e verificação da capacidade de inserção desses produtos nos mercados. Reconhecemos a importância da econômica de exportação - a mineração e as lavouras:

de cana-de-açúcar e

aprofundaremos

na

dinâmica

e

de café, entretanto, não no

dimensionamento

do

seu

processo produtivo, ficando atentos somente nos reflexos desse setor, por tratar-se de importante incentivador da produção de gêneros de subsistência. A economia do Centro-Sul, à medida em que sentia

os

mineradoras,

reflexos passou

a

da

diminuição

consolidar 20

as

das

atividades

atividades

voltadas

para a produção de artigos de subsistência26, valorizando os mercados

locais

e

atendendo

a

ampliação

da

demanda

de

mercados consumidores como o do Rio de Janeiro, após a instalação da Corte, em l808.27 A cidade do Rio de Janeiro tem, no início do século XIX, "assegurado seu abastecimento de milho, feijão, arroz, trigo, cebola e farinha de mandioca, enviados por Santa

Catarina,

enquanto

outras

áreas

produtoras

também

comparecem com arroz, feijão, mandioca, milho, hortaliças, animais de pequeno porte, peixes, etc., sendo que de Minas Gerais vinham

para o Rio gado em pé, porcos, galinhas,

carneiros, toucinho, queijos, cereais, tecidos grosseiros de algodão, o que se completava com os produtos de São Paulo, Mato Grosso e Goiás."28 O Rio de Janeiro tornou-se, então, o centro consumidor e consequentemente incentivador da produção de gêneros de subsistência, principalmente no centro-sul do país. Em economia,

Minas

identificado

Gerais, por

o

SLENES

26

"setor como

as

dinâmico"29

da

atividades

de

Sobre o abastecimento das Minas Gerais no século XVIII ver: ZAMELLA, Mafalda P. O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1990; ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Nacional, 1967; LIMA JÚNIOR, Augusto de. A capitania das Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Universidade de São Paulo, 1978. 27 LENHARO, Alcir. As tropas da moderação: o abastecimento da Corte na formação da política do Brasil, 1808-1842. São Paulo: Símbolo, 1979, p.41. (Coleção ensaio e memória, 21) 28 LAPA, José Roberto do Amaral. O Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Brasiliense, 1982, p.51. 29 "Centro dinâmico" é frase de Celso FURTADO utilizada por Robert W. SLENES; veja: FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 15.ed. São

21

exportação

de

mercadorias

e

minérios

de

valor,

era

o

responsável pelo incremento do setor dedicado aos bens de primeira necessidade, pelo vigor da economia "vicinal" e pela manutenção de considerável quantidade de mão-de-obra escrava na província.30 Noutros termos, o vigor da economia mineira advinha do atrelamento da produção para exportação e para consumo interno. A economia interna era incentivada, entre outros fatores, pela produção de bens necessários ao sustento da massa de trabalhadores utilizada na produção para exportação, dos proprietários e seus familiares, dos homens dedicados ao transporte (tropeiros e peões) e de seus animais. O Norte de Minas, em fins do século XVIII, que mantinha relações comerciais com pontos extremos desta capitania,

como

Paracatu

e

mesmo

outros

fora

dela

como

Goiás, Bahia e Rio de Janeiro, fornecendo gado e peles31, passou,

em

meados

estreitas com

o

do

século

centro

XIX,

"a

ter

ligações

mais

e o sul da província, integrando-

se à sua economia".32 Os produtos que faziam parte destas ligações comerciais era "cachaça, doces, queijo de Minas,

Paulo: 1977, especialmente o capítulo 36 e SLENES, R. W. Os múltiplos de porcos e diamantes: a economia escravista de Minas Gerais no século XIX. Cadernos IFCH-UNICAMP nº 17, Campinas, junho, 1985, p. 17. 30 SLENES, R. W. op. cit., p.6, nota 4. 31 MATA-MACHADO, B. História do sertão noroeste de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1991, p.62. APUD BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. Família e escravarias: demografia e família escrava no Norte de Minas Gerais no século XIX. São Paulo: FFCLH, 1994. 208p. (Dissertação de Mestrado) Universidade de São Paulo, 1994; ZEMELLA, M. P. op. cit., nota 1. 32 BOTELHO, T. R. op. cit. p. 43, 45, 48, nota 6.

22

algodão da zona de Montes Claros, fibras de linho do Rio Grande e do Rio das Mortes".33 Na localizada ligações

mais

mesma ao

centro

mercantis

continuava

a

época,

com

exportar

da

o

região

província,

Rio

seus

a

de

minerais

mineradora,

mantinha

Janeiro em

fortes

para

onde

quantidades

bem

menores que no século XVIII.34 Além do ouro e das pedras preciosas o crescente volume de gêneros de abastecimento dá importância a este comércio. As comarcas de Ouro Preto, Sabará

e

Serro

Frio

exportavam

fazendas de algodão, oriundas,

toucinho,

gado

principalmente,

vacum

e

da região

de Minas Novas, localizada mais ao Norte.35 O Sul de Minas, região comprometida com o abastecimento

das

Gerais,

"reconheceu

um

reforço

em

sua

estrutura econômica, já alicerçada na produção mercantil de gêneros de subsistência. Atividades de produção, portanto, que

não

se

relacionavam

com

tendências

de

involução

ou

regressão econômica; pelo contrário, tratava-se de produção mercantil

(...)

voltada

para

fora,

em

busca

de

novos

mercados."36 Tanto que São João Del Rei, sede da Comarca do Rio das Mortes, "transformara-se em 'distrito cerealista' e produzia milho, feijão e um pouco de trigo em suas terras 33 34 35

36

LIMA JÚNIOR, A. de. op. cit., p. 200-1, nota 1. FURTADO, Celso. op. cit., nota 4. MATOS, Raimundo José da Cunha. Corografia histórica da Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Universidade de São Paulo, 1981, v.2, p.78 (Reconquista do Brasil; nova série, v. 62). LENHARO, Alcir. op. cit., p. 73, nota 2.

23

férteis, além de exportar para o Rio de Janeiro e outras comarcas, queijo, banha, aves, açúcar, algodão e cachaça."37 A

localidade

servia

de

entreposto

de

mercadorias,

principalmente gado bovino, cavalar e cerdal, oriundas de Paracatu (Oeste mineiro), de onde saía também algodão em rama; de outras regiões como o Sul de Goiás e do Sertão da Farinha Podre (atual Triângulo Mineiro), dos distritos de Araxá

e

Desemboque,

de

onde

originavam

toucinho,

couro,

peles e sola, tendo como destino final o Rio de Janeiro.38 AIRES DO CASAL visitou, no início do século XIX, as últimas localidades citadas e nos presenteou com relatos. arraial cabeça

Conforme de

de

São

declarações

Domingos

Julgado

do

possuí[a]

deste

autor,

Araxá, poços

o

"abastado

modernamente

de

água

erecto

salobre,

que

poupa[vam] os criadores o dispêndio do sal para os animais, e

os

grandes

pedaços

de

terra

fértil,

onde

pod[iam]

florescer vários ramos da agricultura, hão convidado muitas centenas

de

famílias

Geralistas

a

mudar

para

alí

seus

estabelecimentos; o que vai fazer desta freguesia em poucos anos uma das mais populosas da província. Fabrica[vam]-se

37

38

MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979. BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico e geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971, p. 4349, 160-162. SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem às nascentes do Rio São Francisco. Tradução de Clara Ribeiro Lessa. São Paulo: Nacional, v.1, 1937, p. 205 (Brasiliana, 68). MATOS, Raimundo José da Cunha. op. cit., p. 78, nota 10.

24

já bons tecidos de algodão, e começa[va]m-se os de lã. Cria[vam]-se grande quantidade de porcos e gado vacum".39 No que se refere a Desemboque, o entusiasmo do relator não foi o mesmo; contudo, evidenciou a relativa importância

daquela

povoação,

quando

menciona

que

"o

arraial (...), cabeça de Julgado, tem uma igreja paroquial de

Nossa

Senhora

do

Desterro,

e

fica

sobre

a

margem

esquerda do rio das Velhas, obra de dez léguas arredado da raia de Minas. O povo do seu distrito cria[va] gado vacum, e recolh[ia] abundância de víveres do país"40 39

CASAL, Aires de. Corografia Brasílica ou Relação Histórico Geográfica do Reino do Brasil. 2.ed. São Paulo: Cultura, 1945. 40 Até 1816 os Julgados de Araxá (hoje cidade de Araxá) e Desemboque pertenciam a Capitania (e Prelazia) de Goiás, quando, cumprindo o Alvará de 4 de abril de 1816, desagregaram-se desta, sendo o território incorporado a Minas, sob a jurisdição da Comarca do Rio Paracatu do Príncipe, criada no ano anterior. O Julgado de Desemboque abrangia o atual Triângulo Mineiro e todo o Sul de Goiás, menos o Julgado de Santa Luzia. Em 1850 tal julgado foi elevado a Vila. "Depois de 1862 esta regalia foi revogada e o Desemboque passou a ser, daí por diante, um distrito, como até hoje é, do município de Sacramento. Atualmente com pouco mais de uma dúzia de casas velhas. (...) Por ato de 20 de dezembro de 1811, a freguesia de São Domingos do Araxá e os arraiais do Salitre (atual Patrocínio) e São Pedro de Alcântara se destacaram do julgado do Desemboque e se erigiram em julgado de São Domingos Araxá". In: PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a civilização do Brasil central. Uberaba: Edição Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Editora Vitória Artes Gráficas Ltda, 1970. O trajeto realizado pelos entrantes e comerciantes, desde os tempos colonias, na estrada São Paulo-Goiás, era geralmente desviado fazendo passar por Desemboque para fugir do fisco, "aliás, em Documentos Interessantes, vol. II, com data de 1789, há interessante mando do governado José de Lorena, de São Paulo, proibindo a utilização da 'Picada do Desemboque' antes utilizada apenas pelas carregações de gêneros, pelos viandantes que, desviando-se do registro do Rio das Velhas, iam ter ao Desemboque, ali forjavam guias falsas e seguiam para Goiás. que passava por Desemboque. NABUT, Jorge Alberto (org.) Desemboque documento histórico e cultural. Uberaba: Fundação Cultural de Uberaba, Arquivo Público de Uberaba, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1986. Sobre as divisas da região em questão ver: MARQUES, Azevedo.Apontamentos da Província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, v. 1.; DOCUMENTOS INTERESSANTES PARA HISTÓRIA E COSTUMES DE SÃO PAULO. v.11, n.6, 1896.

25

A dinamização das atividades agropastoris da bacia do Rio Grande, direcionadas para mercados ávidos de consumo, somado à abundância de terras dotadas de condições naturais

favoráveis

e

melhor

organização

da

produção,

proporcionou a absorção de levas de imigrantes livres e cativos, oriundos dos centros de mineração em decadência. Processo de ocupação que, em meados do século XIX, superou as fronteiras da província mineira atingindo São Paulo.41 O Sul de Minas era responsável pela produção do

tabaco

e

do

café,

tendo

este

último

produto

sido

disseminado durante todo o século XIX pela Zona da Mata e pelo vale do Paraíba. As áreas de plantation, incluindo-se os

núcleos

urbanos,

configuravam-se

como

importantes

centros consumidores dos mantimentos.42 Tal desenvolvimento provocara um impacto favorável à consolidação e ampliação da

estrutura

produtiva

de

Minas

Gerais,

incentivando

inclusive a manutenção do uso do escravo na produção.43 Além

das

criações

de

bovinos,

eqüinos,

porcos, carneiros e aves, a agricultura de subsistência tem seu valor destacado por Caio PRADO Jr., quando atesta que Minas

conseguiu,

"desenvolvimento 41

42 43

de

desde

os

certa

forma

tempos apreciável

coloniais, de

uma

LENHARO, Alcir. op. cit., p. 74, nota 2. PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 57. 162, 197-8. LENHARO, Alcir. op. cit., p. 93, nota 2. SLENES, R. W. op. cit. p. 17-18, nota 4.

26

agricultura voltada inteiramente para a produção de gêneros de consumo local, o acentuado que chegou a causar alarmes na

administração

metropolitana

que

queria

a

população

voltada para as lides extrativas.”44 O

consumo

interno

atendido pela produção local. custos

do

transporte

de

era,

em

grande

parte,

Conforme SLENES "os altos

mercadorias

vindas

do

litoral

funcionavam como tarifas protecionistas, permitindo que a agricultura

e

a

manufatura

doméstica

(de

produtos

metalúrgicos e pano de algodão, por exemplo) expandissem sua produção

para o mercado a fim de atenderem à demanda

do setor exportador e das atividades ligadas a esse setor", ou

seja,

a

economia

caracterizava-se

por

mineira ser

do

período

"'fechada'

-

em

à

questão

maioria

das

importações, [mas] não à possibilidade de exportação (...)"45 O

modo

de

ganhar

a

vida

com

o

estabelecimento de pousos ao longo do caminhos (por onde transitavam as mercadorias), dedicados ao fornecimendo de mantimentos

para

o

consumo

dos

inúmeros

tropeiros,

boiadeiros e seus animais, respondia como um incentivo não desprezível à agricultura de subsistência.46 Dentro deste contexto não há como negar o valor

do

consumo

logicamente, 44 45 46

não

interno.

destinava-se

O

resultado

somente

PRADO JR., Caio. op. cit., p.162, nota 16. SLENES, W.R. op. cit., p. 58, nota 4. PRADO JR., Caio. op. cit., p. 162, nota 16.

27

ao

da

produção,

mercado.

"Todo

mineiro tinha que vestir; mesmo assim, para cada dois ou três metros de pano de algodão produzidos para o consumo interno, fabricava-se também um metro para exportação".47 A alimentação cotidiana

("o mineiro tinha

que comer"48) nos indica os produtos consumidos nos mercados locais. Eduardo FRIEIRO, ao utilizar relatos de viajantes do século XIX, comenta que em Ouro Preto, o "administrador, o intendente e os feitores comiam conjuntamente o trivial, a saber, ao almoço: feijão preto com farinha de milho e um pouco

de

jantar:

toucinho um

pedaço

frito de

ou

de

porco

carne

assado;

de

sol

à

ceia

cozida;

ao

hortaliças

cozidas e um bocado de toucinho para lhes dar gosto e água, como bebida comum. Em dias de festa, ou quando recebiam pessoas estranhas, servia-se às refeições galinha cozida".49 Longe viajante

João

dali

Emanuel

em

POHL

Paracatu

observou

que

do "a

Príncipe comida

o dos

abastados não era nada seleta nem sequer digerível, não passando

de

arroz,

toucinho,

legumes

lenhosos,

carne

de

vaca fresca ou seca ao vento, lingüiça, bacalhau, queijos,

47

48 49

SLENES, R.W. op. cit. p.55, nota 4. MARTINS, Roberto B. A indústria têxtil doméstica em Minas Gerais no século XIX. In: CEDEPLAR, Seminário sobre a economia mineira II. Diamantina, 1983, p. 88. SLENES, R.W. op. cit., p. 55, nota 4. FRIEIRO, Eduardo. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. Belo Horizonte: CEM, 1966, p.79. PRADO JR., Caio. op. cit., p. 197-98, nota 16. Ver também: SCARANO, Julieta. Cotidiano e solidariedade - vida diária da gente de cor nas Minas século XVIII. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.38 e 81.

28

frutas em conserva e doces (...). Os pobres enganavam a fome com feijão preto, peixe 'ceco' e farinha de 'Minho'".50 Os

escravos

não

tinham

a

mesma

sorte,

"alimentavam-se (...) ao almoço e à ceia com farinha de milho misturada com água quente, o angu, propriamente dito, no qual punham um naco de toucinho; ao jantar davam-lhes feijão".51 Com relação a São Paulo, esta Capitania no século Alice

XVIII P.

sofreu

CANABRAVA,

uma

profunda

indenticou

decadência

no

neste

econômica.

período,

três

padrões bem definidos de atividade econômica: l) economia de

auto-suficiência

familiar:

caracterizada

pela

lavoura

dos "sítios volantes", que 50% da população se dedicava, vivendo

dispersa

deslocando-se

de

modo

continuamente

irregular, pelas

em

florestas

área

imensas,

virgens,

sem

bens de raiz e, de modo geral, 'sem móvel que perder'"; 2) a economia de subsistência propriamente dita: "difícil de ser avaliado numericamente, mas que se supõe constituir a maior

fração

da

outra

metade

(...)

[voltada]

para

o

abastecimento dos pequenos centros de população (...)."; 3) o

comércio

de

onde

os

mercadores

e

homens

de

negócio

retiravam seus lucros; principalmente do comércio interno, pela falta de um produto de alta rentabilidade no comércio 50

51

FRIEIRO, Eduardo. op. cit., p. 83, nota 24. POHL, João Emanuel. Viagem ao interior do Brasil, empreendida nos anos de 1817 e 1821. Tradução do Instituto Nacional do Livro da edição de Viena. Rio de Janeiro. I.N.L., 1951. FRIEIRO, E. op. cit., p. 84, nota 24.

29

exterior.

Neste

(principalmente), escravos

quadro, o

do

"o

sal,

constituíam

os

o

negócio

das

do

manufaturas,

setores

dos

gado o

dos

investimentos

lucrativos que permitiam acumulação de capital."52 SIMONSEN, capitania

paulista,

caracterizou

em

1780,

ao

a

pobreza

descrever

o

da

marasmo

econômico de algumas localidades: "... as vilas de Mogi das Cruzes, Vila

Jacareí,

Nova

de

Taubaté,

São

Luís

Pindamonhangaba,

do

Paraitinga,

as

Guaratinguetá, freguesias

da

Conceição e Facão (atual cidade de Cunha) e as aldeias de São Miguel, Escada e Nazaré (...) todas muito pobres e na maior parte miseráveis porque os seus efeitos, que são os mantimentos,

apenas

dão

para

vestirem

e

comerem

o

sal

(...)"53 O mesmo autor, contudo, não nega a tendência mercantil que tinha a minguada economia daquela capitania, quando admite que na cidade de São Paulo, os habitantes viv[iam] de várias negociações "indo à cidade do Rio de Janeiro buscar as fazendas para nela venderem" ou "a Viamão buscar tropas de animais cavalares ou vacum para venderem, não



aos

moradores

da

mesma

cidade

e

seu

continente

(...)”54 52

53

54

CANABRAVA, Alice Piffer. Uma economia de decadência: os níveis de riqueza na Capitania de São Paulo, 1765/67. Revista Brasileira de História. Rio de Janeiro, v.26, n.4, p. 105, out./dez. 1972, p.103, 119 e 121. SIMONSEN, Roberto S. História econômica do Brasil - 1500-1820. 6.ed., São Paulo: Nacional, 1985, p.79. Idem, p. 232.

30

A precária estrutura econômica paulista do século XVIII modificou-se ao atingir a centúria seguinte. O progresso veio devido à expansão constante dos canaviais e cafezais, que faziam movimentar outras atividades como a produção de gêneros de subsistência e o comércio do gado bovino e muar. A beneficiava

a

privilegiada

capitania

paulista

posição

geográfica

(província

a

partir

de

1822), por onde convergiam as rotas de comércio - do sul para

as

caminhos centros

Gerais

e

do

"implicavam de

litoral no

para

o

aparelhamento

reabastecimento

e

de

pouso

Centro-Oeste55

Os

de

sistema

de

estimulou

a

um

que

prestação de serviços e de alguma produção local, tanto agrícola

como

artesanal,

enfim

de

numerosas

atividades

subsidiárias."56 Maria

Thereza

Shorer

PETRONE

reconhece

a

importância da agricultura como uma das alavancas para o desenvolvimento econômico de São Paulo, citando que "se as

55

"O isolamento de Piratininga aos poucos se atenuou e desapareceu; por meados do século XVIII a cidade de São Paulo era o centro de uma estrela irradiando em todos os quadrantes. Cinco grandes estradas ligavam-na ao resto do país, além do Caminho do Mar, cuja decadência seguiu a sorte Capitania. Para leste, a estrada do Paraíba para as Minas Gerais e Rio de Janeiro; em rumo do Norte, demandando os sertões do Camanducaia e do Sapucaí, a estrada do Sul de Minas; a Noroeste, buscando Goiás, o velho caminho das bandeiras do Anhanguera, passando por Campinas e Franca. Em direção ao Centro-Oeste, pelo vale do Tietê, abria-se a estrada das monções, e, finalmente, para o Sul, o caminho que conduzia aos campos de Curitiba, das Lajes e Missões". SIMONSEN, R.S. op. cit., p. 238, nota 28. 56 CANABRAVA, A. P. op. cit., p.117, nota 27.

31

fontes,

no

início

deixaram

de

ser

econômica

de

São

da

última

década

pessimistas Paulo,

a

a

do

século

respeito

partir

da

da

segunda

XVIII, situação

década

do

século XIX, tornaram-se francamente otimistas. Cria-se no progresso,

cria-se

agricultura, oferecer.

nas

possibilidades

principalmente

(...)

A

a

da

agricultura

ilimitadas

cana-de-açúcar,

seria

a

que

a

podiam

responsável

pelo

aumento da população e pelo acúmulo de capitais, permitindo primeiro

o

aparecimento

de

grandes

engenhos,

depois

de

grandes fazendas de café."57 No início do século XIX, o Governador Melo Castro

e

Mendonça

enumerou

os

produtos

que

mantinham

o

círculo

do comércio em São Paulo: "cana de açúcar, arroz,

algodão,

café,

fumo,

farinha

de

mandioca

(...),

porcos,

bois, cavalos, e bestas muares".58 LAPA confirma os produtos comercializáveis e nos indica as direções do comércio: "De São Paulo seguiam ainda

mercadorias

barricas

cheias

como

de

carne

banha,

de

sendo

porco

que,

conservada

via

Paranaguá,

em se

exportava farinha de mandioca para a Colônia do Sacramento, bem

como

para

o

Rio

de

Janeiro

e

até

para

a

Bahia

e

Pernambuco. No mais, o que se concede aos moradores do planalto é a intensa exportação de marmelada (...)"59 57

58

59

PETRONE, Maria Thereza Shorer. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968, p.21. DOCUMENTOS INTERESSANTES PARA HISTÓRIA DE SÃO PAULO, 30, p. 164-165, Ofício de 22 de abril de 1802. LAPA, José Roberto do Amaral. op. cit. p. 52, nota 3.

32

Os aguardente

engenhos

espalharam-se

produtores

por

grande

de

parte

açúcar

da

e

Província.

Além da região litorânea e do vale do Paraíba, antigas regiões produtoras, foi no centro da Província que esta atividade

econômica

mostrou

maior

vigor,

no

chamado

"quadrilátero do açúcar" formado por Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí, destacando-se também Itú e Campinas.60 Nestas

áreas

proprietários

concentravam-se de

escravos

as

maiores

e

os

porcentagens

maiores

de

plantéis;61

excetuando-se as regiões produtoras de café, a partir de meados do século XIX. As

plantações

de

algodão

também

ocupavam

espaços em São Paulo. Caio PRADO JÚNIOR, ao citar SAINTHILAIRE, observa que "no vale do Paraíba (...) enquanto o açúcar é uma produção dos ricos, o algodão pertence aos lavradores domésticos".62 Visto que os engenhos necessitavam de

uma

organização

complexa

e

dispendiosa,

e

que

necessitava de uma quantidade maior de braços, enquanto as plantações de algodão requeriam menores investimentos. A

cultura

do

algodão,

antes

limitada

ao

abastecimento dos teares domésticos, ampliou-se na segunda 60

61

62

PETRONE, M. T. S. op. cit., p.32, nota 27. HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.)História Geral da Civilização Brasileira. 3.ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972, v.2, t.2, p. 419. LUNA, Francisco Vidal, COSTA, Iraci del Nero da. Posse de escravos em São Paulo no início do século XIX. Estudos Econômicos, São Paulo, v.13, n.1, p.211-221, jan./abr., 1983. PRADO JR., Caio. op. cit., p. 148, nota 16.

33

metade

do

século

vizinhos,

o

XIX.

algodão

"Em

havia

Itu,

sido

escala 'que chegava não só

como

nos

cultivado

municípios

em

tão

larga

para o vestuário dos pobres e

escravaria como mesmo para tecidos mais delicados e finos e exportação'".63 CANABRAVA

Iguape

como

plantações.

e

Paraibuna

localidades

"Mais

tarde

que,

em

são

em

l866,

lembradas

por

fizeram

suas

l862,

tornou-se

Limeira

um

grande centro de produção algodoeira (...), e no mesmo ano grande impulso foi dado à cultura no município de Jacareí, o

qual

se

Paraíba".64 animais,

tornou, Em

em

proprietários

então,

Sorocaba razão

a

da

reverterem

o

maior

produtor

decadência chegada seus

do

da

do

vale

do

com

os

comércio

ferrovia,

capitais

para

fez

cultura

os do

algodão com bons resultados. "Sua atividade como município produtor de sementes foi mais duradoura que os demais, e seu

campo

de

influência

nesse

sentido

fez-se

em

outras

províncias do Império ao raiar da década dos 70 do século XIX".65 Outras

localidades

que

diversificaram

sua

economia com a produção de algodão são também dignas de nota:

Santa

Branca,

Paraibuna,

São

José

de

Paratinga

(atual Salesópolis) e São Luiz de Paraitinga. Nos extremos da província, temos Batatais e Jaboticabal.66 63

64 65 66

CANABRABA, A. P. de São Paulo CANABRAVA, A. P. CANABRAVA, A. P. Idem, p. 82.

O desenvolvimento da cultura do algodão na Província (1861-1875) São Paulo, [s.c.p.] 1951, p.51. op. cit., p.54, nota 38. op. cit., p.55, nota 38.

34

Depois algodão

entra

em

do

plena

apogeu,

em

decadência

l870, na

a

cultura

província

de

do São

Paulo. As lavouras de café percorreram primeiro o vale

do

Paraíba,

proporcionando

novas

características

sociais e demonstrações de fortuna: "Antes um rancho de sapé e abrigo de escravos, anos mais tarde o pomar, a horta e a residência senhorial, com jardins, salões, espelhos de moldura dourada, lustres de cristal, serviços de porcelana, camas francesas, cortinado, prataria fina, móveis pesados de madeira de lei."67 Do

vale

do

Paraíba,

as

lavouras

de

café

seguiram em direção a Campinas e depois de l850 chegaram ao Nordeste paulista (Oeste novo), adaptaram-se à terra roxa, favorecendo a fundação de novas freguesias, como exemplo Ribeirão Preto68, em l870, onde a ferrovia chegou em l883.69 As áreas onde o desenvolvimento era sensível - conforme o quadro econômico acima delineado - tornaram-se

67

HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.) História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972, v.2, t.2, p. 85. 68 Ribeirão Preto foi criada freguesia com a denominação de São Sebastião do Ribeirão Preto por lei provincial de 2 de abril de 1870. Foi elevada à vila, desmembrando-se o seu território do município de São Simão a que pertencia, por outra lei de 12 de abril de 1871, de designou-lhe as divisas. A sua população pelo recenseamento de 1873 era de 5.552 habitantes, sendo 857 escravos; a paróquia dava 14 eleitores. In: MARQUES, Manuel Eufrásio de Azevedo. Apontamentos da Província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, t.2, p.209-10. 69 Ver: MILLIET, Sérgio. Roteiro do café e outros ensaios. São Paulo, [s.c.p.], 1941. (Coleção do Departamento de Cultura, v.25) LAPA, José Roberto do Amaral.A economia cafeeira. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Coleção Tudo é História, n.72).

35

mercados consumidores apreciáveis para o gado vindo do Rio Grande do Sul e dos Campos Gerais. Isso antes da chegada da ferrovia. A procura crescente de animais de carga muares - ampliou-se na medida da necessidade

dos donos de

engenhos e cafezais fluminenses, paulistas e mineiros, que utilizavam as bestas para a lida nas fazendas e para o transporte

de

seus

valiosos

produtos

destino a exportação. Os bovinos eram

que

tinham

como

destinados ao abate,

visando a promover o abastecimento: da população do Rio de Janeiro, principal mercado consumidor, e daqueles ocupados como trato dos produtos de exportação.70 A ampliação desses negócios foi incentivada inclusive por modificações nos costumes e no modo de vida dos

brasileiros,

influenciados

pela

presença

da

família

real. "De nível de vida melhor, mais exigente quanto aos padrões de conforto e de facilidades, o brasileiro dessa área (Côrte) tornou-se grande comprador de animais de carga e de corte".71 O gado era endereçado a Feira de Sorocaba72 e daí

aos

centros

consumidores:

70

o

muar

procedia-se

PETRONE, M. T. S. O Barão de Iguape: um empresário da época da independência. São Paulo: Nacional, 1976. 177p. (Brasiliana, v. 361), p.11. 71 Op. cit., p. 11, nota 45. 72 Com a feira e seu Registro, Sorocaba é uma decorrência do caminho do Sul e da circulação de animais. Em 3 de setembro de 1750 criou-se, por patente de Gomes Freire de Andrade, o Registro de Sorocaba, que visava, inicialmente, passar visto nas guias fornecidas em Curitiba, e confiscar os animais que vinham a mais dos notificados. A famosa feira de Sorocaba deve ter aparecido mais ou menos na mesma época, talvez em conseqüência do estabelecimento do Registro, passagem obrigatória das

36

principalmente do Rio Grande do Sul e, as reses, dos Campos Gerais de Guarapuava (situado no atual Estado do Paraná), que pertenceu à Província de São Paulo, até 1853.73 "Como assinalava

St.

Hilaire

em

1820,

a

riqueza

de

Sorocaba

provinha, não do tamanho da terra, mas dos negócios do gado, o que equivale à caracterização de toda a área, pois é atividade quase única dos grupos populacionais ao sul de Itapetininga,

cuja

lavoura

se

resumia

na

plantação

do

milho, alimento das tropas e tropeiros. A criação do gado não tem segnificado em toda a área, pois a grande maioria do muar vendido em Sorocaba se criava nos campos de Vacaria no

Rio

Grande

so

Sul

e

o

vacum

nos

Campos

Gerais

da

Curitiba e do Guarapuava, no atual Estado do Paraná."74 PETRONE,

na

obra

o

"Barão

de

Iguape:

um

empresário na época da Independência", nos dá a idéia do volume

de

animais,

oriundo

do

Sul,

em

trânsito

por

Sorocaba, nos anos vinte, do século em estudo, destinado a abastecer o Sudeste (tabela 1, à pág. 45 e gráfico 1, à pág 46):

o

número

cavalos e reses

médio

anual

de

animais,

somando

bestas,

era de 24.304, considerando os anos de

l820-22 e l826-29; utilizando estes dados, e discriminando tropas e boiadas. Sorocaba, graças aos campos que se estendem nas suas proximidades, facilitando, não só o descanso das tropas, como a fiscalização, conseguiu ser escolhida para sede do Registro, vencendo Itu, que no começo também atraia tropas de boiadas." In: PETRONE, op. cit., p.20, nota 45. 73 Idem, p. 21. 74 CANABRAVA, Alice Piffer. A repartição da terra na capitania de São Paulo, 1818. Estudos Econômicos. São Paulo, v. 2, n. 6, p.77129, dez, 1972.

37

as bestas, obtivemos a média de 13.730 animais. O ano de maior movimento foi o de l822, quando foram contados 30.474 animais, destes 20.76l eram bestas, 2.2l0 cavalos, éguas e potros e 7.503 eram reses. O pior ano foi o de l828 quando a conta dos animais foi de 2l.322, um número próximo à média geral. "Infelizmente não é possível lançar mão das cifras do triênio (...) 1823-1825, tendo em vista que Prado vendeu o centro a Tobias de Aguiar (...). No Arquivo do Estado, entretanto, existem os livros posteriores a 1826, quando o 'novo imposto' passou a ser cobrado pela Fazenda Nacional."75 A

mesma

autora

nos

esclarece

que

o

real

significado econômico do comércio do gado, tanto para a Província paulista como para o Sul do país, ainda não é conhecido de forma clara. Contudo, é possível fazer algumas suposições em relação ao volume de capital empatado nessa atividade. A partir do preço unitário - 6$000 para reses e de

14$000

quantidade chegou-se

a

20$000

desses à

para

animais

conclusão

que

bestas76 que

-

multiplicado

transitaram

o

capital

por

pela

Sorocaba,

empatado

foi

o

seguinte: l820 - entre 266:702000 e 363:308$000; 1821 entre 24l:454$000 e 325:340$000; e

460:235$000.

esclarecimento

1822 - entre 355:669$000

"Infelizmente

sobre

o

preço

75

dos

não

é

possível

cavalos".77

Os

um

números

Op. cit., p. 23, nota 45. Os preços apresentados para as reses eram os praticados nos Campos Gerais, e os indicados para as bestas eram os preços de venda na Feira de Sorocaba. PETRONE, M. T. S. op. cit. p. 29. nota 45. 77 Op. cit., p. 29, nota 45. 76

38

apresentados nos da uma idéia da importância das relações comerciais,

entre

as

áreas

do

Sul

e

Sudeste,

especificamente voltadas para o mercado interno. Tabela nº 1 Número de Animais em Trânsito por Sorocaba segundo o Livro de Novo Imposto (1820-1822) e registrados nos Livros da Barreira de Sorocaba (1826-1829). Ano 1820 1821 1822 1826 1827 1828 1829 Total

Bestas 20.051 13.981 20.761 14.409 12.268 10.014 8.663 87.567

Cavalos 2.858 1.919 2.162 2.994 3.206 5.226 7.400 24.865

Reses 97 42 46 6.431 6.943 6.082 5.754 25.395

Potros 485 48 2 144 679

Éguas 7.048 7.620 7.503 6 22177

Total 26.539 23.610 30.474 23.954 22.417 21.322 21.817 170.133

Fonte: PETRONE, Maria Thereza Shorer. O Barão de Iguape: um empresário da época da Independência. São Paulo: Macional, 1976 (Brasiliana, v. 361).

Gráfico nº 1 NÚMERO DE EQUINOS, MUARES E BOVINOS EM TRÂNSITO POR SOROCABA 1820-22 e 1826-29 25000

20000

15000

10000

5000

0

1820

1821

1822

1826

Muares

Eqüinos

1827

1828

1829

Bovinos

Fonte: PETRONE, Maria Thereza Shorer. O Barão de Iguape: um

39

empresário da época da Independência. São Paulo: Nacional, 1976 (Brasiliana, v.361).

Contudo,

os

números

mais

relevantes

do

comércio de muares procedentes da Província de São Paulo e das províncias platinas são aqueles referentes a meados dos século,

quando

mais

de

l00.000

bestas

passaram

pelo

registro sorocabano, contra cerca de 20.000 ao tempo da Independência.78 Tais números são confirmados por Herbert S. KLEIN. Este autor nos mostra a oferta de animais saídos do sul em direção ao sudeste registrados em Sorocaba, entre 1825 e 1880, com base

nos registros do "Novo Imposto de

Animais" ou "Imposto de Barreira", conforme a tabela nº 02 à página 47. A

demanda

por

animais

de

transporte,

principalmente por mulas, no avançar do século XIX é sempre explicado pelas "exigências da lavoura fluminense na era do café e com a procura crescente na Bahia e nas províncias do Norte". Com o aparecimento das ferrovias o comércio

desses

animais minguou, passando a ser insignificante depois de l897.79

Tabela nº 2 78 79

HOLANDA, Sérgio Buarque de. op. cit., p. 432, nota 42. HOLANDA, Sérgio Buarque de. op. cit. p.432, nota 42.

40

NÚMERO MÉDIO DE ANIMAIS E DE MUARES CHEGADOS NO MERCADO DE SOROCABA 1825-1880 Muares

Período

Média

Muares Mínimo 8.439

Muares Máximo 21.448

Todos os animais 21.488

Nº de anos do período (4)

18251829 18301839 18401849 18501859 18601869 18701880

10.702 19.308

11.382

27.967

29.706

(10)

26.429

20.779

29.626

32.261

(10)

40.917

40.944

57.698

48.152

(10)

39.871

26.424

55.426

48.881

(10)

17.259

5.188

37.688

36.138

(11)

Fonte: KLEIN, Herbert S. Oferta de Muares no Brasil Central: O Mercado de Sorocaba, 1825-1880. Estudos Econômicos. São Paulo, v. 19, n. 2, p.347-372, mai./ago. 1990.

transporte economia

e do

O

comércio

de

ao

consumo,

que

centro-Sul,

paralelas.

Em

qualificada

de

Sorocaba arreios

e

animais moviam

incentivava havia

a

chicotes,

destinados grande

outras indústria de

ótima

ao

parte

da

atividades bastante qualidade,

alguns chegavam a ser ornamentados com peças em prata. Os baixeiros, peças colocadas sob os arreios para proteger os animais, eram conhecidos em todo o império "pela perfeição e solidez com que eram tecidos". Na mesma localidade havia fábrica

de

chapéus

e

tecidos

para

fornecimento

aos

tropeiros.80

80

ZALUAR, Augusto-Emílio. Peregrinação pela Província de São (1860-1861). São Paulo: Livraria Martins Editora, [s/d.]

41

Paulo

É

evidente

que

os

pousos

-

locais

de

descanso e abastecimento dos peões e suas boiadas e tropas -

espalhados

consumidores condutores

pelos

caminhos

tinham

de

seu

animais

do

Sul81

dinamismo.

recebiam

até

Parte

os

pelos

centros

seus

do

que

os

serviços

era

gasto nas paragens, o que, consequentemente movimentava os negócios do lugar. PETRONE

nos

mostra

que

o

valor

pago

aos

condutores "devia variar conforme o tamanho da boiada e a distância percorrida." (...) "Numa boiada de 433 animais, os gastos totalizaram ll6$800, sendo portanto, a despesa por animal de 269 réis (dezembro de l820)". Em abril de l828, "referente a uma tropa de 80 bestas (...) o capataz e os

camaradas

que

a

conduziram

de

Sorocaba

até

Campos

receberam 169$000, mais 64$000 para as despesas durante a viagem." Os gastos mais comuns durante a viagem decorriam de alimentação, bebidas para os peões, uso das invernadas cedidas para alimentação e descanso do gado, sal, e de outros objetos como

laços, bruacas, cangalhas, caldeirões

e campanhias para pescoço das mulas.82 Quanto localidades

do

Sul,

aos havia

gêneros

de

diversidade

81

subsistência na

produção.

nas Os

"as principais balizas do caminho do Sul eram Sorocaba, Itapetininga, Jaguariaíava, Castro, Carambeí (fazenda Caranviy), travessia do rio Iguaçu, Curralinho, campos de Curitibanos, campos de Lajes, para depois da travessia do rio Pelotas, dirigir-se aos campos de Viamão atravessando o rio das Antas e o das Camisas." In: PETRONE, op. cit. p. 19, nota 45. 82

Op. cit., p. 82-83, nota 45.

42

curitibanos

"recolhiam

abundância

de

trigo

e

milho,

com

algum arroz", e como criavam "em grande quantidade o vacum (além

do

cavalar

e

muar)

de

cujo

leite

faziam

alguma

manteiga e bons queijos." Esta comunidade também exportava, por Paranaguá, "em sumacas farinha, arroz e café." A três léguas do registro de Curitiba junto à estrada real, em Vila

Príncipe

Nova

do

Príncipe

(atual

Lapa),

"seus

moradores criavam gado grosso e miúdo; e recolhiam trigo, centeio, milho, linho e diversidade de frutas."83 Mais ao Sul, na Província de Santa Catarina, nas localidades citadas por AIRES DE CASAL84, os víveres produzidos faziam

a

geralmente farinha,

hortaliças;

o

eram

arroz,

peixe

milho

feijão,

aparece

e

mandioca

favas,

sempre

dos

trigo,

citado

como

quais

linho base

e da

alimentação. Segundo nossas fontes, tais produtos parecem ser sempre destinados ao consumo local, não necessitando de importação;

em

contrapartida

era

insignificante

a

exportação. PRADO

JR,

ainda

referindo-se

ao

período

colonial, no início do século XIX, dá destaque à produção 83

AIRES DE CASAL, Manuel. op. cit. p. 157 e 161, nota 14. Sobre os Campos Gerais e especial sobre Curitiba ver: SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagens à Comarca de Curitiba. Tradução de Carlos da Costa Pereira. São Paulo: Companhia Editora Nacional (Brasiliana). 84 Vila de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis, situada no lado ocidental da Capital, (...) Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, a uma légua ao oriente da Capital; (...) Paróquia de Nossa Senhora da Lapa, obra de duas léguas ao Sul da Capital; (...) Laguna, situada sobre a margem oriental da lagoa que lhe empresta seu nome; Freguesia de Santa Ana, obra de quatro léguas ao Norte de Laguna". In: AIRES DE CASAL, M. op. cit., p. 135-137, nota 14.

43

de

trigo

"cultivado

no

Sul,

desde

São

Paulo,

particularmente nos Campos Gerais (...) até o Rio Grande. Neste,

sobretudo,

alimentação quantidade

onde

vegetal, para

constitui e

outras

donde

o

principal

se

capitanias.

exporta o

mesmo

gênero em

se

de

regular passa

em

Santa Catarina."85 Havia também o comércio realizado entre o Rio Grande do Sul e a Colônia do Sacramento, para onde seguia "entre outros produtos, o trigo, enquanto que para o Rio

de

Janeiro

eram

remetidos

carne-seca,

couros

secos,

sebo, farinha de trigo, peixes etc."86 Enfim, a economia do centro-sul do Brasil, no

século XIX, não vivia somente da exportação de metais

ou da plantation. Este capítulo serviu para identificar o vigor

da

embasada

economia na

consumidores paulista

de

subsistência

diversificação internos.

participava,

e

orientada

Conjuntura como

desta

será

em

vasta para

que

tratado

86

Nordeste

no

capítulo

PRADO JR., Caio. op. cit., p. 68, nota 16. LAPA, José Roberto do Amaral. op. cit., p. 52, nota 3.

44

mercados

o

seguinte.

85

região,

3. A ECONOMIA DA REGIÃO DE FRANCA

Nossa

preocupação

neste

capítulo

é

tratar

das transformações da economia do Nordeste paulista, onde a região de Franca se insere (território situado entre os rios

Pardo

e

Grande),

ocorridas

durante

o

século

XIX,

contextualizar demonstrando a integração desta região com Minas

Gerais

e

outras

áreas

de

São

Paulo.

Procuraremos

demonstrar a gradativa ampliação das atividades econômicas voltadas

para

mercantil,

a

subsistência,

ambiente

que

imbuídas

propiciava

aos

de

caráter

proprietários

francanos recursos necessários à acumulação de riqueza. A origem do povoamento do Nordeste paulista, deu-se através da estrada dos "Goyazes", caminho de São Paulo para as minas de Goiás, que possibilitou, durante o século

XVIII,

o

afluxo

de

imigrantes.

"Partindo

de

Mojimirim, o 'caminho dos Goyazes' cortava os territórios dos atuais municípios de Mojiguaçu, Casa Branca, Tambaú, Cajuru, Altinópolis, Batatais, Patrocínio Paulista, Franca, Ituverava, Igarapava, até chegar ao Rio Grande, a estrada tinha

uma

extensão

de

37

léguas

87

aproximadamente."87

O

CHIACHIRI FILHO, José. Do Sertão do rio Pardo a Vila Franca do Imperador. Ribeirão Preto: Ribeira Gráfica e Editora, 1986, p. 49. O Prof. Chiachiri aborda em seu trabalho o povoamento do Nordeste paulista e a influência dos entrantes mineiros que, nos primeiros anos do século XIX modificaram a paisagem regional plantando os primeiros arraiais que se transformaram nas cidades atuais. "As três grandes estradas que abertas na época colonial, ligavam a Capitania de São Paulo às regiões do Noroeste (Goiás, Mato Grosso), Leste (Minas Gerais) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul) passavam, respectivamente, a primeira por Campinas, Mojimirim, Sertão do Rio

45

povoamento comércio

regional

que,

em

está

fins

relacionado

do

século

com

XVIII,

a

"rota

de

atravessava

o

Nordeste do Estado de São Paulo e, por aí, atingia o Sul de Goiás, Mato Grosso; "era conhecida como 'Estrada do Sal' ou do 'Comércio', ou ainda 'Estrada Francana'"88, "por onde se procuravam escapar à obrigação de pagar impostos na divisa de Minas Gerais - São Paulo"89 A população pequena e dispersa, a princípio oriunda

de

São

constituindo-se

Paulo, os

fixou-se

pousos

que

ao

longo

serviam

da

aos

estrada,

viajantes

do

sertão.90 Estes primeiros núcleos de povoamento, geralmente constituídos agregados,

de

tiveram

sobrevivência principais

uma

e

família, na

na

pousada,

criação

atividades

mercantilização

poucos

devia-se

de

econômicas. ao

escravos na

alguns A

alguns

agricultura animais

pequena

fornecimento

e

de

de suas

parcela

de

mantimentos

àqueles que trafegavam pela estrada dos "Goyazes".91 Os pousos não foram "somente estalagens ou pensões, (...) localizados à beira da estrada, eram também Pardo, a segunda pelo Vale do Paraíba e a terceira por Sorocaba. A topografia do terreno terá uma influência fundamental na sua abertura e elas, por sua vez, serão fatores importantes no povoamento da Capitania". PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. 3.ed., São Paulo: Brasiliense, p. 107-8. 88 LIMA, Sílvia Maria Jacintho. Transformações na pecuária bovina paulista: o exemplo da região de Franca. Franca: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca, 1973. p.50-1. Tese (Doutorado em História). 89 GEIGER, Pedro P., DAVIDOVICH, Fany. Aspectos do fato urbano no Brasil. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v.15, n.2. p. 263-362, 1961. 90 CHIACHIRI FILHO, José. op. cit., nota 1. 91 CHIACHIRI FILHO, José. op. cit., nota 1.

46

fornecedores; vendiam o que produziam e produziam o que era necessário

e

procurado."92

CHIACHIRI

FILHO

ressalta

a

importância dos pousos na realização do comércio regional ao afirmar que "através da estrada fazia-se o escoamento econômico da região e era por ela é que os viandantes e comerciantes passavam com suas tropas comprando e trocando produtos, indo para Goiás, Minas, Mato Grosso ou retornando para São Paulo e era através dela que a administração e a justiça penetravam algumas das vezes naqueles sertões. É ela ainda que vai proceder a ligação entre os pequenos grupos sociais representados nos pousos."93 A denominação dos pousos, no sentido SulNorte, era a seguinte: Rio Pardo (localizado às margens do Rio Pardo),

Cubatão,

Lages,

Araraquara,

Batatais,

Paciência, Pouso Alegre, Sapucaí, Bagres, Posse, Ressaca, Monjolinho,

Ribeirão,

Calção

do

Couro,

Rio

das

Pedras,

Rossinha e Rio Grande. Os pequenos núcleos populacionais eram integrados entre si e com a Capitania, neutralizando o isolamento.94 Os

pousos,

dentro

de

suas

limitações,

tiveram sua importância no sentido de ativar a economia. Parte

do

lucro

dos

boiadeiros

e

comerciantes

que

transitavam pelo caminho dos "Goyazes" custeavam os gastos nas paragens ao pagarem um local para dormir, 92

93 94

alimentação,

CORREIA JÚNIOR, Carmelino. Os primórdios do povoamento do Sertão do Capim Mimoso. Monografia, Franca, 136p. Idem. CORREIA JÚNIOR, Carmelino. op. cit., nota 6.

47

bebida

e

aluguel

das

envernadas

para

o

descanso

dos

animais. Até baixo como

nível

de

"vicinal",

economias)

em

então,

a

economia

da

mercantilização

e

ou

economia

que

seja, a

"uma

produção

pôde

era

região

ser

caracterizada

(ou

voltada

possuía

conjunto

de

principalmente

para o consumo local e de povoações próximas."95 Contudo, século

XIX,

o

nas

panorama

duas

primeiras

econômico

do

décadas

Nordeste

do

paulista

alterou-se significativamente. Um fator contribuiu de forma decisiva para essas transformações: ampliação da economia de subsistência, principalmente a pecuária praticada no Sul de Minas atingindo a região em estudo, como afirma Caio PRADO JR.: "... os criadores mineiros começa[ram] a descer a Mantiqueira, indo estabelecer-se em São Paulo, na região que flanqueia a serra a oeste de Franca a Moji-Mirim. É o que

determinará

predominam

os

neste

campos

setor

de

naturais,

São uma

Paulo, zona

de

onde

também

criação

que

adotará os modelos de seus fundadores e organizadores."96 A mudança de atitude da economia mineira no sentido de tender para a ampliação das bases produtivas voltadas 95

96

ao

setor

de

subsistência,

é

ressaltada

por

SLENES, R. W. Os múltiplos de porcos e diamantes: a economia escravista de Minas Gerais no século XIX. Cadernos IFCH-UNICAMP nº 17. Campinas, julho, 1985 APUD MARTINS, Roberto B. "Growing in Silence: The Slave Economy of Nineteenth-Century Minas Gerais, Brasil." Vanderbilt University, 1980 (Tese de doutoramento). p.6. PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 20.ed., São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 198.

48

historiadores

que

historiografia naqueles

comungam ao

setores

não

com

essa

enxergarem

especializados

nova

tendência

importância na

da

somente

produção

para

exportação, como no caso do ouro e posteriormente,

do

café. Tais historiadores aceitam que em Minas já havia uma diversificação das atividades produtivas e que "a economia mineira voltou-se para 'dentro' [no sentido de ativar a economia

de

subsistência

frente

a

diminuição

das

exportações] com a crise da mineração na segunda metade do século

XVIII,

o

resultado

não

foi

aquela

involução

econômica extrema geralmente retratada nos estudos sobre a capitania/província.

Apesar

do

crescimento

do

setor

de

subsistência, a economia mineira no século XIX (...) ainda mantinha um grau significativo de mercantilização (embora um grau menor do que o de outras regiões). Além disso, e mais

importante,

não

era

uma

economia

decadente

ou

estanque; durante boa parte do século XIX estava em forte ritmo

de

expansão,

a

julgar

pelas

suas

importações

de

escravos."97 Dentro dessa tendência, acima delineada, em fins

do

século

XVIII

e

começo

do

XIX,

nova

leva

de

imigrantes de origem mineira atingiu a região de Franca, provocando

um

extraordinário

crescimento

populacional.

CHIACHIRI FILHO afirma que em 1779 o Sertão do Rio Pardo 97

Consta no resumo elaborado por Roberto W. SLENES sobre o trabalho de Amilcar MARTINS FILHO e Roberto Borges MARTINS "A escravidão numa economia não-exportadora: novas perspectivas sobre Minas Gerais no século XIX". In: SLENES, R. W. op. cit., p.5, nota 9.

49

contava com

apenas 174 pessoas, distribuídas em 17 pousos;

e, em 1824, passou a ter 5.827 (tabela 3). A

porcentagem

de

mineiros

que

compunha

tal

população cresceu com o passar dos anos: 1804 - 24,7%; 1813 - 59,7%; 1814 - 73,8% e 1824 - 75,0%. Mineiros arredados dos seus lugares pela decadência das minas e pela expansão da pecuária.98 Lembrando que entre os fatores de atração somavam-se

as

condições

do

solo,

que

propiciava

boas

pastagens, e do clima, parecidos com os lugares de origem. (tabela 4) TABELA 3 EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA DA POPULAÇÃO DE SÃO PAULO, MOJI MIRIM E DO SERTÃO DO RIO PARDO, 1798-1824.

Anos

São Paulo(a)

Moji Mirim(b)

1798 1804 1814 1818 1824

162.345 184.464 211.928 221.634 247.904

5.685 7.360 11.404 14.583 -

Sertão do Rio Pardo 549 843 2.832 4.510 5.827

Fontes: (a) MARCÍLIO, Crescimento Demográfico. P.300-301 (b)Chiachiri Filho, op. Cit., p. 142.

98

CHIACHIRI FILHO, José. op. cit. p. 141, nota 1. "A exportação de ouro cresceu em toda a primeira metade do século e alcançou seu ponto máximo em torno de 1760, quanto atingiu cerca de 2,5 milhões de libras. Entretanto, o declínio no terceiro quartel do século rápido e, já por volta de 1780, não alcançava um milhão de libras". FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 20.ed. São paulo: Companhia Editora Nacional, 1985, p.78.

50

TABELA 4 DEMONSTRATIVO DA PORCENTAGEM DE MINEIROS NO TOTAL DA POPULAÇÃO DO SERTÃO DO RIO PARDO E VILA FRANCA ANO 1804 1813 1814 1824

PORCENTAGEM 24,7% 59,7% 73,8% 75,0%

Fonte: CHIACHIRI FILHO, José. Do Sertão do Rio Pardo à vila Franca do Imperador. Ribeirão Preto: Ribeira Gráfica e Editora Ltda, 1982.

O dinamismo da economia da região de Franca, no início do século, estava no campo. "O poder, a riqueza, o 'status' estava (...) com os donos das criações e das lavouras."

No

arraial

da

Franca

"ficavam

os

padres,

os

artesãos, os negociantes e as meretrizes."99 Outros relatos mostram o mesmo quadro: "Com exceção de um pequeno número de operários e negociantes de comestíveis os demais eram todos agricultores, os quais, segundo o costume, não tinham casa na sede da comarca senão para nas mesmas passarem os domingos"100 A população do povoado em 1819 era de apenas 132

habitantes,

forma: 99 100

distribuídos

Componentes

das

em

23

famílias

fogos, cabeças

da

seguinte de

Idem, p. 61. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, [s.d.], p. 110.

51

fogos

(ou, dependendo do caso, só o chefe) - 59; Agregados - 16; Fâmulos - 14; Escravos - 43. As

profissões

apresentavam

os

seguintes

números: Padres - 04; Carpinteiros - 04; Jornaleiros - 02; Ferreiro - 01; Afaiates - 02; Taberneiro Taberneiro

e

ferreiro

-

01;

e alfaiate - 01; Negociante - 01. "Havia, além de dois doentes, 3 meretrizes

que

'viviam com geral escândalo'. Outras pessoas, cujas

profissões não foram especificadas (...), totalizavam 14."101 O

viajante

Auguste

de

SAINT-HILAIRE,

ao

passar por Franca antes de ter sido elevada à categoria de vila (1819), nos dá uma idéia das transformações por que passava

frente

progresso

a

imigração

econômico:

"Não

mineira

havia

ali,

e ao

o

conseqüente

tempo

de

minha

viagem, senão cerca de umas cinqüenta casas, mas já estavam assinalados os locais para a construção de um grande número delas, e era fácil de perceber que Franca não demoraria em adquirir

grande

importância.

Durante

o

tempo

em

que

permanecei nessa vila, era a mesma inteiramente habitada por mineiros que, pelo ano de 1804, tinham construído as primeiras espaço

casas

em

perseguições

sua da

da

localidade.

região justiça

Uns,

natal, e

de

sentindo

outros,

seus

falta

fugindo

credores,

tinham

de das se

deslocado para o oeste, chegando a uma região completamente 101

CHIACHIRI FILHO, José. op. cit., p.61, 77-9. O autor recolhe os dados através da Lista feita pelo Vigário da Freguesia de Franca, Joaquim Martins Rodrigues, em 1819 para o Governador e Capitão General da Capitania de São Paulo João Carlos Augusto Oeynhausen.

52

deserta,

onde

encontraram

terras

férteis

e

excelentes

pastagens, terras de que tomaram posse."102 A ocupação efetiva das terras do Nordeste paulista, como em outras regiões da capitania/província, deu-se

através

posse.

As

"Caminho

da

concessão

primeiras

dos

de

sesmarias

Goyazes"

datam

sesmarias

ou

da

concedidas

às

margens

de

1726,

coincidindo

simples

com

do a

descoberta das minas de Goiás. Com a afluência mineira, no começo do século XIX, um grande número de concessões de sesmarias

foram

efetivadas.

A

maioria

dos

primeiros

sesmeiros acabaram por não permanecer em suas terras ou estas talvez nem foram visitadas pelos donos.103 Grande parte das terras, supomos, foram apossadas, o que era costume, em razão do descaso e da incapacidade do estado em fiscalizar o uso das terras devolutas.104 No Brasil, até o ano de 1822, a forma de apropriação concessão

legítima

de

da

sesmarias

terra pelo

era

realizada

através

poder

público.

Obtinham

da o

benefício aqueles que provassem ter condições de ocupar e cultivar a área.

A concessão de sesmarias - aparelhamento

102

SAINT-HILAIRE, Auguste. op. cit. p.117, nota 14. CHIACHIRI FILHO, José. op. cit. p.51, 81-87, nota 1. 104 PETRONE, Maria Tereza S. Terras devolutas, posses e sesmarias no Vale do Paraíba paulista em 1854, São Paulo, Revista de História, n.103, jul/set, 1975, p. 378. GARCIA, Maria Angélica Momenso. A Legislação sobre apropriação de terras. In: Trabalho e resistência: os trabalhadores rurais na região de Ribeirão Preto (1890-1920). Franca: UNESP-FHDSS, 1993 (Dissertação de Mestrado). BRIOSCHI, Lucila R. [et al.] Entrantes do Sertão do Rio Pardo: o povoamento da Freguesia de Batatais século XVIII e XIX. São Paulo: CERU, 1991. 103

53

institucional utilizado desde os princípios da colonização - nunca obedeceu a critérios rígidos e bem definidos, legislação

sempre

confusa

e

contraditória

sua

facilitava

a

apropriação de áreas através da simples posse.105 A

posse

-

"ocupação

e

aproveitamento

com

culturas de área não incluídas em sesmarias" - muitas vezes era o recurso utilizado até à obtenção da sesmaria. Esta modalidade "tornou-se a única via de acesso a terra entre 17

de

julho

de

1822,

quando

se

proíbiu

a

concessão

de

sesmarias até 1850, depois de longos debates finalmente se publicou a famosa Lei de Terras" que definia o acesso à propriedade

da

terra

somente

pela

compra.106

"A

lei

de

terras, decretada no Brasil em 1850, proibia a aquição de terras

públicas

através

de

qualquer

outro

meio

que

não

fosse a compra, colocando um fim às formas tradicionais de adquirir terras através de posses, e através de doações da Coroa".107 A Lei de 1850 deu prazo de quatro anos para o registros

das

incentivou

o

posses

na

apossamento

paróquia de

mais

várias

próxima,

regiões

com

o

que certa

rapidez. Como exemplo citamos casos de mineiros que rumaram em direção onde hoje está situada São José do Rio Preto, suas posses foram registradas na atual Jaboticabal, fundada em

1828.

Dentro

deste

contexto,

mineiros

fundadaram

localidades como São Simão e Santa Rita do Passa Quatro. 105 106 107

Idem. Idem. COSTA, Emilia Viotti da. Da monarquia à República: momentos decisivos. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1985, p.40.

54

A

ocupação

do

Nordeste

paulista

pelos

mineiros, oriundos da Comarca do Rio das Mortes (sul de Minas),

que

antes

ocuparam

o

Sertão

da

Farinha

Podre

(região entre o Rio Paranaíba e Grande), veio acompanhada de

atividades

econômicas

permanentes

com

características

mercantis, fortalecidas no decorrer do século. A principal delas era a pecuária. Percebemos região

quando

a

notamos

que

proprietários,

declarada

referente

primeiro

ao

importância

da

17,1%

nos

pecuária

da

riqueza

inventários

período

estudado

na dos

consultados -

1822-30,

constituíam-se de bens semoventes, ou seja, gado bovino, eqüino e muar. Os bens imóveis, como as fazendas - parte de terras

-

eram

utilizadas

principalmente

para

criação

do

gado e somavam 41,2% do total dos bens. No segundo período - 1875-85 - os semoventes subiram para 28,8% do valor total dos bens, e 53,9% os bens de raiz. (vide gráfico à pág. 99) Desde fins do século XVIII, entrando pelo século

XIX,

a

criação

de

gado,

fatia

mais

dinâmica

da

economia, favoreceu a constituição de vínculos comerciais da

região

como

São

ora João

mercadorias,

estudada Del

com

Rei,

principalmente

outras

que o

distantes

servia gado

de

localidades

entreposto

bovino,

cavalar

de e

cerdal, que tinham como destino o Rio de Janeiro. Eram os "marchantes" de Formiga e São João Del Rei que compravam o gado criado nas margens do Rio Grande (Sertão da Farinha 55

Podre e Sertão do Rio Pardo). A economia dessa zona "estava intimamente ligada à do Rio das Mortes que, por sua vez, relacionava-se

grandemente

com

a

cidade

do

Rio

de

Janeiro."108 Luiz D'ALINCOURT ao viajar pela estrada dos "Goyazes" em 1818, percebeu a ocupação da população com a pecuária. O viajante seguiu até o pouso de Cubatão, que ficava a três léguas do Rio Pardo, chegando até a Fazenda das

Lages

que

"pertenc[ia]

a

seis

irmãos

unidos,

que

faz[iam] um grande negócio em gado", seguindo viagem após passar pelo pouso de Araraquara e "passando o ribeiro da Bela

Vista,

a

poucos

passos

se

apresenta

aos

olhos

um

quadro encantador: extensos campos, semeados de gado. (...) Depois

de

Batatais.

uma Este

descida lugar

fácil

é

muito

chega-se

ao

alegre,

seu

morador dono

dos

Manoel

Bernardo do Nascimento, ajudado de seus filhos, (...) faz muito bom negócio em gado vacum, e em queijos. Afastados do caminho menos

há,

nestas

distantes

uns

paragens, dos

muitos

outros,

vizinhos,

que

mais,

possu[iam]

ou

grande

quantidade de gado." Adiante já na "Fazenda das Macahubas, junto à qual se passa o ribeiro Sapucahy, o dono, natural de Guimarães, (...) faz o seu maior negócio em gado." Ao chegar

em

Franca

comenta

que

"sua

principal

exportação

consta de gado vacum, porcos, e algodão, que leva[vam] a 108

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem às nascentes do Rio São Francisco. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1937, v.1 (Coleção Brasiliana, n.68).

56

Minas;

planta[vam]

milho,

feijão,

e

outros

legumes

para

consumo do país."109 Por outro lado, a economia paulista antes decadente, nas primeiras décadas do século XIX, dá claros sinais de vigor ancorada na agricultura. Os engenhos de açúcar

começam

a

se

proliferar

na

região

de

Sorocaba,

Piracicaba, Mojiguaçu e Jundiaí. Cria-se um novo mercado para

os

produtos

portanto, importância

cria

do

Nordeste

novas

da

paulista.110

perspectivas

Estrada

dos

e

"O

refaz

"Goyazes",

a

como

açúcar, antiga via

de

comunicação e circulação de riquezas. O comércio com os negociantes da Comarca do Rio das Mortes talvez não tenha desaparecido totalmente. Todavia, a povoação de mineiros que se forma no sertão do Rio Pardo liga-se à economia paulista e em função dela se desenvolve".111 O novo movimento da economia regional foi percebido por SAINT-HILAIRE, que em 1819, ao transitar pelo caminho

entre

o

rio

Grande

e

Franca

observou

que

um

proprietário do "sítio denominado Pouso Alto, próximo ao qual foi construído um vasto barracão para os viajantes (rancho), um agricultor verdadeiramente branco, nascido em Minas

Gerais,

(...)

vendia

o

milho

que

cultivava

aos

viajantes, e, uma vez por ano, ia à cidade de São Paulo, 109

110

111

D'ALINCOURT, Luiz. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Universidade de São Paulo, 1975. (Reconquista do Brasil, v.25) PETRONE, Tereza Schorer. A lavoura canavieira em São Paulo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968, p.16, 18 e 24. CHIACHIRI FILHO, José. op. cit. p. 37, nota 1.

57

com um carro de bois carregado de toucinho e de algodão, e dali regressava transportando sal e artefatos de ferro."112 Apesar de encontrarmos afirmações de que as atividades

voltadas

para

o

abastecimento

"não

teriam

merecido do Estado uma política específica"113, havia pelo menos algum reconhecimento da sua importância, como atesta o memorial do secretário do governo de São Paulo em 1814, Coutinho governador

Souza da

Chichorro

ao

província:

Conde

de

"distando

Palma,

aquela

então

freguesia

[Franca] 79 léguas desta cidade e 90 do Porto de Santos, o seu

comércio

fábricas,



aqueles

deve

consistir

porque

se

em

movem

gados a

si

e

gêneros

mesmos

e

de

estes

porque são gêneros de muito valor."114 Mesmo aqueles autores que não deram a devida relevância à pecuária destacaram em seus estudos as áreas nas quais este setor da economia fincou raízes, conforme o o trabalho de Roberto SIMONSEN115, onde o Nordeste paulista tem destaque. Fernando NOVAIS ao fazer um paralelo entre o setor exportador e o setor de subsistência comenta que o primeiro,

desenvolvido

Colonial,

regia

112 113

114

115

a

nos

quadros

dinâmica

do

do

Antigo

conjunto

da

Sistema economia

SAINT-HILAIRE, A. op. cit., p.116, nota 22. LAPA, José Roberto do Amaral. O antigo sistema colonial. São Paulo: Brasiliense, 1982. BOURROUL, Estevan Leão. Um episódio da anselmada. A tribuna da Franca. Franca, n.88. SIMONSEN, Roberto. História econômica do Brasil. 1500-1820. 6.ed. São Paulo: Nacional, 1969, p.238.

58

brasileira.

Contudo,

paralelo ao sistema de plantation

desenvolveu-se

o

setor

circunstâncias

e

áreas

de

subsistência

determinadas

que

(...)

"em

pôde

certas

adquirir

certo vulto, como no caso da pecuária"116 Os números nos mostram de forma mais clara a importância

da

criação

do

gado

bovino

na

região

ora

estudada. "De acordo com o Livro de Assentamentos de Gados, em 1829 os 688

criadores registrados possuíam um rebanho

de 37.768 cabeças.117 Até

o

final

suporte da economia trazia atividade

"influiu

nos

do

século

XIX,

o

gado

como

prosperidade às fazendas. Tal costumes,

no

linguajar

e

no

comportamento de todo um povo. Possibilitou a conquista e o enriquecimento do Grande Sertão."118 Os subprodutos do gado eram de grande valor, pois

transformavam-se

em

bens

comercializáveis

ou

em

objetos necessários ao cotidiano dos indivíduos. "Além da carne, que o sol e o sal incumbiam-se de conservar, o gado bovino

fornecia

o

couro

(cujas

técnicas

de

curtimento

foram-se evoluindo ao longo dos anos), donde se tiravam os arreios, as selas, os forros de catres e dos bancos, as botas e as botinas. Dos chifres faziam-se as guampas de água, os pentes, caixinhas de rapé. Do leite fazia-se o

116

117 118

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial. (1777-1808). 4.ed. São Paulo: Hicitec, 1986, p. 106. BRIOSCHI, Lucila R. op. cit., p. 51, nota 18. Idem, p.52.

59

queijo que era mais uma fonte de rendas para os moradores das freguesias."119 A quantidade,

criação

teve

sua

de

outros

importância

animais,

relativa

na

em

menor

economia

regional. Os outros animais mantidos pelos criadores, além do gado vacum, eram os animais cavalares, muares, suínos, carneiros, cabritos e até pavões. O destaque fica para os suínos

que

tinham

criação

bastante

desenvolvida.

Sérgio

Buarque de Holanda reconhece que, por volta de 1820, Franca "era um dos maiores produtores da capitania".120 A posse dos animais

pelos

proprietários

será

tratada

em

capítulo

específico. Uma das atividades derivadas da criação de gado foi o comércio do sal, tido como "uma das grandes forças econômicas da Vila Franca (...) do século passado. Era um comércio tão desenvolvido, que o sal transportado de Santos, via Campinas, era conhecido no Nordeste paulista, Sul de Minas, Goiás e Mato Grosso como 'sal francano'"121 O

comércio

do

sal

foi

incrementado

no

decorrer do século XIX. Apesar de não ser um fruto da terra "o

sal

trouxe

muitas

riquezas

para

a

região.

Sua

importância econômica foi tão grande que se refletiu na mudança

de

denominação

da

grande

via

de

comunicação

de

transporte e circulação de riquezas: de Estrada de goiases 119 120

121

BRIOSCHI, L. R. op. cit., p.51, nota 31. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. CHIACHIRI, José. Vila Franca do Imperador (Subsídios para a História de uma cidade). 1.ed., Franca: O Aviso da Franca, 1967, p.104-5.

60

passou a ser chamada Estrada do Sal." Para termos uma idéia da quantidade

consumida e/ou comercializada nas primeiras

décadas do século, Lucila R. BRIOSCHI nos informa que "os 370

alqueires

comprados

em

1814

aumenta[ram]

para

1033

alqueires em 1824. Com pequenas oscilações no período, o movimento

é

de

alta.

A

venda

do

sal

em

Batatais

era

proporcionalmente maior do que o consumo, o que não corria em Franca, onde em 1824, essas vendas correspondiam a 14,7% da compra efetuada."122 O sal era consumido principalmente pelo gado e na conservação da carne - a carne ceca.

O transporte das mercadorias pela "Estrada dos Goyazes" era realizado por carros de bois, aproveitando a

topografia

que

facilitava

o

uso

deste

instrumento.123

Segundos os inventários, 16,3% de todo o rebano bovino era composto de "bois de carro", animais usados no transporte de mercadorias, sobrepondo os muares, estes sempre em menor número. "No caso do comércio do sal, as Atas da Câmara nos mostram que o fazendeiro adquiria o produto quase sempre arcando

com

necessário

todas para

as o

despesas

de

transporte.

próprio

consumo

e

o

Tirava

o

restante

redistribuía, vendendo-o na região e províncias vizinhas."124 Na

região,

o

sal

era

provavelmente

distribuído

em

localidades próximas a Franca como Carmo da Franca (atual 122

BRIOSCHI, Lucila R. op. cit., p. 51, nota 18.

123

CHIACHIRI FILHO, José, op. cit., p.50, nota 1. NALDI, Mildred Regina, op. cit., p. 38, nota 37.

124

61

Ituverava), Santa Bárbara de Macaúbas (de onde originou a atual Patrocínio Paulista), Santa Rita do Paraíso (atual Igarapava), Santo Antônio da Rifaina (atual Rifaina), Bom Jesus da Cana Verde de Batatais (atual Batatais), Cajuru, entre outras localidades. A

agricultura

de

subsistência

atendia

aos

próprios produtores, endereçando o excedente aos mercados locais para atendimento dos viajantes que trafegavam pelos caminhos

do

"Sertão

do

Rio

Pardo".

Nos

inventários

encontramos com freqüência descrições de "ferramentas de roça", descritas como enxadas, enxadões e foices, sempre em pouca

quantidade

e

em

estado

precário,

o

que

denota,

provavelmente, o pequeno desenvolvimento da agricultura em relação

as

outras

atividades

produtivas.

Os

principais

produtos agrícolas, em 1837, eram milho, algodão, mandioca, fumo, feijão, arroz e em menor quantidade a mamona e o trigo.125 É comum entre os historiadores que trabalham com a região enfatizarem o dinamismo e a diversidade das atividades que movimentavam a economia francana na centúria estudada: "Concomitantemente com a agropecuária, o comércio do

sal

e

'gêneros

diversos'

praticados

na

estrada

dos

"Goyases", dá a Franca a importância de grande 'entreposto comercial' (...)."126 125

126

MÜLLER, Daniel Pedro. Ensaio d'um quadro estatístico da Província de São Paulo: ordenado pelas leis municipais de 11 de abril de 1836 e 10 de março de 1837. 3. ed. São Paulo: Governo do Estado, 1978. MÜLLER, Daniel Pedro. op. cit., p.37-38, nota 42.

62

Notícias sobre essa diversidade na economia surgem desde 1818, pelos escritos que deixou D'ALINCOURT sobre Franca: "Os habitantes do lugar são industriosos, e trabalhadores;

fazem

diversos

tecidos

de

algodão;

boas

toalhas, colchas e cobertores; fabricam pano azul de lã muito sofrível; chapéus; alguma pólvora; e até já têm feito espingardas".127 Outras notícias referentes aos anos próximos a meados do século em questão, mantêm a mesma idéia de diversidade: "Os francanos cultivavam, fabricavam em suas propriedades tecidos de algodão e de lã, e aplicavam-se especialmente

à

criação

de

gado

vacum,

de

porcos

e

de

carneiros. (...) a criação de gado vacum, no distrito de Franca, tomou grande incremento, e, em 1838, esse distrito era um dos que forneciam mais gado bovino."128 A

tecelagem

era

outro

setor

da

economia

nunca desprezível. Em 1835 Franca contava com "um total de 16 tecelões (...). Pelo número de operários ocupados tal indústria francana

já não seria exclusivamente doméstica,

ao contrário ocorria em toda a região, tendo razoável capacidade de produção." Os teares eram sustentados pelo "algodão plantado próximo que nas colheitas era preparado em ramas, e pela lã, que após a tosquia dos carneiros era arrumada em novelos. Depois vinha o tingimento dos fios e,

127

D'ALINCOURT, Luiz. op. cit. p.71, nota 23.

128

SAINT-HILAIRE, A. op. cit. p.119, nota 14.

63

após, a fiação"129 Os

inventários consultados nos mostram

que entre 1822-30 os carneiros e ovelhas compunham 7,8% do rebanho

dos

proprietários,

e

entre

1875-85

os

mesmos

animais somavam com 4,1% dos rebanhos. No

século

XIX,

mineração é comum na região.

também

a

atividade

da

Franca recebeu, entre 1804 e

1824, migrantes de localidades que tinham como atividade

a

mineração,

os

a

exercê-la,

se

quais não,

muito

pelo

provavelmente

menos

difundiram

continuaram suas

técnicas.

Como é o caso de 79 indivíduos oriundos do Julgado de Nossa Senhora do Destêrro do Desemboque130, povoado que em fins do século

XVIII

"ofereceu

aos

desbravadores

da

região

(Triângulo Mineiro) ouro em abundância".131 Localidades próximas a Franca exerceram (e ainda exercem) a mineração, como é o caso de Santa Bárbara de

Macaúbas

(atual

Patrocínio

Paulista):

"Por

volta

de

1830, famílias de garimpeiros, atraídas pela abundância de diamantes existentes nos rios Santa Bárbara e Sapucaizinho, acomodaram-se

nas

proximidades

da

confluência

daqueles

cursos d'água, dando origem a um povoado que em 1833 já era elevado à freguesia sob denominação de Nossa Senhora do Patrocínio de Santa Bárbara das Macaúbas132. Entretanto em 129

130

MULLER, Daniel Pedro. Ensaio dum Quadro Estatístico da Província de São Paulo em 1835. APUD CHIACHIRI, José. op. cit. p.43, nota 38. CHIACHIRI Filho, José. op. cit., p.44, nota 1.

131

FERREIRA, Jurandyr Pires. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1957, v. 23. 132 "em 1833 (...) o número de pessoas em Santa Bárbara já era suficientemente grande para justificar a criação do Distrito, o segundo da Vila Franca, instalado em 1º de julho. In: MATOS, Carlos Alberto

64

1850, por iniciativa de João Cândido dos Reis e outros proprietários de terra, requisitou-se do Governo Provincial uma

tropa

de

garimpeiros, população

100

homens

para

indevidamente

completamente

efetuar

fixados

sem

em

abrigo

e

a

explusão

terras

dos

alheias

apavorada

com

à a

violência empregada, embrenhou-se pelas matas, subiu o rio Sapucaizinho indo instalar-se onde hoje situa-se a cidade de Patrocínio Paulista"133 Ainda sobre a mineração temos o exemplo de Claraval, localidade próxima a Franca, que "já nos fins do século XVIII (...) era habitada por elementos civilizados, existindo diversas fazendas, com seus senhores e escravos. A

agricultura

era

na

época,

a

principal

atividade.

Foi

aproximadamente em l864 que o garimpeiro João Tertuliano Pinto Bispo, natural de Diamantina, vindo Sul

para

o

Sêrro,

ao

atravessar

a

região

de Estrela do claravalense,

encontrou diamantes, dando início ao garimpo, nas águas do rio das Canoas. A notícia espalhou-se rapidamente e dentro em

breve

grande

possibilidade estabeleceram.

de

número ganhos

Formou-se,

de

aventureiros,

rápidos assim,

no um

atraídos

garimpo, pequeno

pela

ali

se

núcleo

às

margens do rio Canoas, tomando maior impulso quando, em 1885, pelo fazendeiro José Garcia Lopes da Silva, foi feita Bastos de, COSTA, Alfredo Henrique (Orgs.), Almanaque Histórico de Patrocínio Paulista 1885-1985. Patrocínio Paulista: Prefeitura Municipal, 1986, p.85. 133 FERREIRA, Jurandyr Pires. op. cit., v.24, nota 48. Ver também: MATOS, Carlos Alberto Bastos de, COSTA, Alfredo Henrique (orgs.), op. cit., p.80, nota 49.

65

doação de terras para o futuro patrimônio de Claraval. De início

o

povoado

posteriormente Canoas,

isto

edificou-se

chamou-se

a

Divino

porque, uma

Garimpo

Espírito

em

capela

terras em

das Santo

doadas

honra

do

Canoas, do por

passando

Garimpo José

Divino

das

Garcia

Espírito

Santo."134. Nos

textos

sobre

a

economia

francana

do

século XIX são comuns as citações referentes ao garimpo como uma atividade de importância como as demais, conforme a

frase

(Subsídios

retirada para

do a

livro

"Vila

história

de

Franca

uma

do

cidade)",

Imperador de

José

CHIACHIRI: "Já se cogitava, portanto, ao lado do intenso comércio do sal, o garimpo em larga escala, da pecuária, e do incremento à lavoura (...)."135 Em função dos comentários acima, a figura do ourives inseria-se no rol de profissões dos francanos. Isso é

confirmado

por

fontes

como

a

"Lista

popular

dos

habitantes da lª Companhia de Ordenanças da Vila Franca do Imperador Constitucional do ano de 1830 e 1831" e pelos inventários por nós pesquisados, que indicam a existência de profissionais ligados a ourivesaria. Na primeira fonte citada consta que "Francisco de Paula, de 46 anos, oriundo de

Minas

Gerais,

casado,

pai

de

três

filhos,

tinha

um

agregado e quatro escravos, era 'oficial de ourives'." O 134

Atualmente uma pequena cidade situada no Estado de Minas Gerais, na divisa com o Estado de São Paulo e com o município de Franca. 135

CHIACHIRI, José. op.cit. p.37, nota 38.

66

mesmo documento menciona que: "Antônio Francisco Macedo, de 40 anos, natural de Minas Gerais, casado, pai de uma filha, possuía

três

escravos,

tinha

profissão

de

'Oficial

de

ourives'."136 Nos inventários do primeiro período - 1882/30 encontram-se registros de balanças de pesar ouro. As

atividades

relacionadas

à

mineração

continuaram no decorrer do século XIX, tanto que na tabela 8

(pág 91) constam entre as oficinas que deveriam pagar

impostos,

três

"oficinas

de

ourives",

que

pertenciam,

respectivamente, a José Rozindo da Silva, Joaquim Izaias da Silva e José Luiz Fontoura.137 No

"Almanaque

Histórico

de

Patrocínio

Paulista" há relatos sobre o valor de diamantes encontrados na região: "Foi no Santa Bárbara que apareceram os maiores carbonados, isto é, carbono puro, não cristalizado, cuja dureza é superior do diamante: três deles com mais de 100 (cem)

quilates;

entretanto,

no

Sapucaizinho

saíram

os

maiores diamantes. Palmira Novato e Oswaldo M. Ravagnani no trabalho 'Documentos sobre a dispersão do Arraial de Santa Bárbara' transcrevem vários ofícios de Antônio Ribeiro S. Porto ao Vice-Presidente da Província de São Paulo, onde se afirma que 'em apenas cinco meses sairam diamantes novalor de Rs.10.000$000 (dez contos de réis) ... não falando-se em 136

137

A.P.E.S.P. Lista popular dos habitantes da lª Companhia de Ordenanças da Vila Franca do Imperador Constitucional do ano de 1830 e 1831, cx. 47. M.H.M. "José Chiachiri". Franca. Lançamento contribuintes: 1890-1891, Livro nº 1.

67

de

negociantes

e

algumas pedras de vulto'. Logo a seguir em outro ofício: 'Não tendo por ora que informar a V.Excia sobre riquezas diamantinas ... ratifico que é certeza a extração de uma pedra com o peso de 5 oitavas', dizendo constar que essa pedra foi para Paris (o que também aconteceu com o diamante 'vermelho' do Santa Bárbara). (...) Contava nosso pai que, por volta de 1890, apareceu na Fazenda Barranco Alto, de nosso avô, um garimpeiro do Santa Bárbara pedindo ao velho Goulart que lhe pesasse uma pedra, mas adiantou que os pesos da sua balança de diamantes não dariam para o tamanho da pedra, ao que nosso avô respondeu que inteiraria com os da balança de pesar toucinho. Realmente a pedra era grande e boa, pois o Goulart ofereceu por ela 8:000$000 (oito contos de réis), quantia que na época dava para comprar uma pequena fazenda."138 Uma atividade que mereceu destaque pela sua importância

e

que

exerceu

grande

influência

na

economia

regional, foi o café. As

plantações

de

café

se

avolumaram

na

região estudada, por volta de 1870. Contudo, prevendo a importância do produto para a riqueza regional a "Câmara Municipal, através de sua Comissão de Posturas, já em 1834 determinava o seguinte, com referência à plantação de café: 'Todo o proprietário será obrigado a plantar e conservar 25 pés de Café correspondente a cada braça - nunca para menos, 138

MATOS, Carlos Alberto Bastos de, COSTA, Alfredo Henrique (orgs.) op. cit., p. 71, nota 49.

68

e todos aquelles, ou estes q. o contrario fizerem pagarão 2$rs para as Dispeza do Conselho, e na falta 2 dias de prizão, e doplo na reincidencia - devendo os officiaes dos respectivos respectivo Villa

Quarteiroens com

Franca

as

do

dar

mesmas

conta

penas

Imperador,

21

aos

fiscaes

declaradas de

Julho

de

a

no

tempo

aquelles 1834

(aa)

-

Joaquim da Rocha Neiva - Thomaz Correa de Souza - Joze Teixeira Alvarez.'"(sic)139

Norma que parece não ter sido

cumprida de forma muito rígida. Segundo Sílvia Jacintho LIMA, a partir de 1850, o café passou a ter prioridade nos investimentos na região em detrimento da pecuária. A mesma autora afirma que "talvez desestimulados pelos resultados insatisfatórios da criação de gado, talvez contaminados pela febre do café, já então

avassalante,

cultura

cafeeira,

secundário.

Esse

os

criadores

colocando fato

é

da

região

iniciaram

aquela

atividade

evidenciado

pela

em

a

plano

ausência

de

citações sobre a pecuária local em documentos e jornais, antes tão fartas aliada à frequência crescente de opiniões sobre o plantio, a produção ou a crise do café."140 Entre os inventários consultados, referentes ao segundo período

-

1875/85, encontramos várias descrições

atinentes às plantações de café, o que não foi encontrado

139

CHIACHIRI, José. op. cit., p. 37, nota 38.

140

LIMA, Sílvia Maria Jacintho de. op. cit., p. 55, nota 2.

69

nos documentos estudados do primeiro período - 1822/30 estudado (ver tabela 5, à pág. 84). Nos inventários pesquisados, entre 1875/85, todos

os

proprietários

de

lavouras

de

café

eram

também

criadores de gado. Apenas 50,0% dos proprietários possuíam escravos. Tabela nº 5 INVENTÁRIOS QUE CONSTAM DESCRIÇÕES SOBRE PLANTAÇÕES DE CAFÉ 1878-1883 ANO

INVENTARIADO

DESCRIÇÃO

Nº de pés de café

Valor

1878

Joaquim Ant. Natalino Maria Silveira de Oliveira

plantações de café quintal c/ café plantados

-

-

-

José Joaquim Teixeira Cândida Maria de Jesus Mª Cândida de Jesus Francisco de Paulo e Melo

plantações de café peqª plantação de café pequeno cafezal pés de café cafés menores

-

200 mil réis -

-

-

-

-

-

Joaquim Francisco Machado José Antônio Franco Antonio Ferreira da Silva

quintal cafeeiro

-

alguns pés de café quintal cultivado de cafeeira em bom estado pés de café

-

1 conto e 600 mil réis 250 mil réis -

-

-

-

2 contos de réis

1879

1880 1881 1881 1882

1882

1882 1883

1884

Anna Cândida de Jesus

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 02 a 04, 1822/30

70

As descrições das plantações são encontradas em inventários onde havia valores diferenciados de riqueza, conforme dois exemplos a seguir: l) Candida Maria de Jesus que possuía uma "pequena plantação de café", seus Bens de Raiz,

Bens

Móveis

e

Semoventes

foram

avaliados

em

2:506$000141; 2) Joaquim Francisco Machado que tinha um total de

bens

no

valor

de

13:982$000,

incluindo

"um

quintal

cafeeiro avaliado em 1:200$000".142 Conforme os dados obtidos por José Francisco de CAMARGO, a produção de café, somente no município de Franca, foi de 211 arrobas em 1836 e de 60.000 arrobas em 1886, demonstrando um crescimento de 28.336,0%.143 Ao longo do século XIX, a economia da região de Franca foi sofrendo modificações, no sentido de ampliar as

atividades

comércio,

e

atividades,



existentes:

permitindo como

a

uma

agricultura, maior

instalação

de

pecuária

diversificação alguns

e nas

experimentos

industriais; tanto que, em 1837, Franca contava com "11 engenhos

de

fazendas

de

açúcar, criar,

34 2

destilarias

fazendas

de

de

café

aguardente, e

8

engenhos

176 de

serrar".144

141 142

143

144

AHMF. Inventário de Cândida Maria de Jesus, Proc. 500, cx. 30, 1881. AHMF. Inventário de Joaquim Francisco Machado, Proc. 515, cx. 31, 1882. CAMARGO, José Francisco de. Crescimento da população no Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos. São Paulo: Instituto de Pesquisas Econômicas, 1981, v. 2 (Ensaios Econômicos, 14). MÜLLER, Daniel Pedro. op. cit. p. 131, nota 42.

71

As descrições do "Almanak da Província de São Paulo para 1873", nos dá idéia da gama de atividades profissionais

envolvidas

no

contexto

econômico

francano.

Contavam-se, no dito ano, 84 fazendeiros, 6 advogados, 2 farmaceuticos, 2 professores particulares, 3 alfaiates, 2 caldeireiros, 4 carpinteiros, 2 ferradores, 4 ferreiros, 2 fogueteiros,

2

marcineiros,

1

padeiro,

6

sapateiros,

4

seleiros, 2 açougueiros. Entre os indivíduos dedicados ao comércio

contavam-se

15

"negociantes

de

fazendas,

ferragens, armarinho, molhados e louça"; 6 proprietários de "armazéns de sal"; 8 donos de "armazéns de molhados"; e 17 proprietários de "armazéns de molhados e gêneros do paiz".145 Outros documentos, de cunho fiscal, como o "Livro nº 1 - Lançamento de negociantes e contribuintes: 1890-1891" arquivado no Museu Histórico Municipal de Franca "José Chiachiri", nos indica o considerável desenvolvimento econômico comparado

enfrentado com

desenvolvimento

o

pela

região

início

amparava

um

na

do grande

década

século leque

de

1890,

tratado. de

se Tal

atividades,

conforme nos mostram as tabelas 6, 7 e 8.

145

LUNÉ, Antônio Batista de. Almanak da Província de São Paulo para 1873. Ed. fac-similar. São Paulo: Imesp, 1985. 180p.

72

Tabela 6 "Lançamento de engenhos e máquinas de todas as espécies que são obrigadas a pagar direitos no corrente ano de 1890" Espécie de Engenhos e obrigadas a pagar Direitos Engenho de cilindros Engenho de terra Machina de beneficiar café Fábrica de tijolos

Número de Contribuintes 07 23 15 01 02 TOTAL .................................................... 48 FONTE: MHMF - “Livro nº 1 - Lançamento de negociantes e Contribuintes: 1890-1891”.

Não importância

dos

seria

Máquinas

prudente

engenhos

deixarmos

(tabela

6)

de

citar

produtores

a de

aguardente que a maioria dos comerciantes tinham em seus estabelecimentos (tabela 7, à pág. 88). Outros derivados da cana-de-açúcar, muito provavelmente, eram produzidos, como o

próprio

açúcar

e

a

rapadura.

Um

dos

produtores

era

Christino de Paula e Silva, um dos proprietários mais ricos da região, cujos bens somavam 55:024$600. No rol de bens do seu inventário consta que em suas terras tinha um "canavial grande", avaliado em 1:000$000, e entre as benfeitorias um engenho.146

146

AHMF. Inventário de Christino de Paula e Silva, Proc. 513, cx. 31, 1882.

73

Tabela 7 "Lançamento dos negociantes de todas as espécies, da cidade de Franca e seu município que são obrigados a pagar direitos no corrente ano de 1890" Espécie de artigos que pagam direitos

Nº de Negociantes

Gêneros do pais, aguardente e molhados, ferragens, sal, corte de sapatos, drogas, fazendas, café, açougue de gado, bilhar, víspora..................................................... 114 Armarinho............................................... 2 Botica...................................................... 4 Fábrica de cerveja.................................... 1 Venda de sola........................................... 1 Hotel........................................................ 1 Restaurante............................................... 1 TOTAL.................................................... 124 FONTE: MHMF - "Livro nº 1 - Lançamento de negociantes e contribuintes: 1890-1891".

O

comércio

local

oferecia,

segundo

os

registros de comerciantes (tabela 7, à pág. 88), "vários tipos de mercadorias: 'molhados do mar', 'molhados de fora' e

'efeitos

estoque

da

muito

terra'. variado

Esse onde

tipo se

de

'loja'

encontravam

possuía

de

tecidos

um a

ferragens. Outro tipo de comércio é o de couro, arreios e curtumes (...)."147 O da

147

economia

crescimento,

regional

diversificação

facilitaram

o

e

integração

aparecimento

AHMF. Inventário de Christino de Paula e Silva, Proc. 5l3, cx. 31, 1882.

74

de

profissões tabela relação

8

que nos

a

atendiam mostra

outros

a

novas

e

antigas

preponderância

oficiais.

Franca

necessidades.

das

era

"seleiros"

servida

por

A em 17

selarias no ano de 1890, ou seja, 28,3% dos contribuintes arrolados entre as "Oficinas obrigadas a pagar direitos". Tais oficinas dedicavam-se à confecção de selas, arreios, laços e outros bens manufaturados em couro, que atendiam aos

fazendeiros.

Os

sapateiros

também

tiveram

destaque,

eram nove oficinas (15% do total de oficinas). Incluindo os curtumeiros, todos mantinham suas atividades profissionais em

virtude

da

criação

de

bovinos

que

lhes

forneciam

matéria prima. Tabela nº 8 "Lançamento de todas officinas que são são obrigadas a pagarem direitos no corrente anno de 1890" Espécie de oficinas que pagavam direitos

Nº de contribuintes Oficina de seleiro...................................... 17 Oficina de folheiro.................................... 07 Oficina de ferreiro.................................... 05 Oficina de retratista.................................. 01 Oficina de ourives..................................... 03 Oficina de sapateiro.................................. 09 Oficina de relojoeiro................................. 01 Oficina de barbeiro................................... 02 Oficina de marcineiro............................... 06 Oficina de curtume de couros.................... 01 Oficina de padaria.................................... 02 Oficina de alfaiate.................................... 02 Oficina de fogos....................................... 02 Oficina de alcozoeiro................................ 01 Oficina de concertos................................. 01 TOTAL.................................................... 60 FONTE: MHMF - "Livro nº 1 - Lançamento de negociantes e contribuintes: 1890-1891".

75

a

Considerando-se profissional

em

substancial

de

cada

que

trabalhava

"oficina",

trabalhadores

houve

artesanais

mais

uma em

de

um

ampliação Franca,

se

compararmos com o primeiro período - 1822/30 (vide pág. 61 e 62). E logicamente um crescimento dos produtos vindos das "oficinas" atendendo as demandas do mercado regional. No século XIX já é percebida a vocação de Franca para tornarse um grande centro produtor de calçados. A outras

praças

últimos

tradição distantes

decênios

do

das

ligações

ficou

século

comerciais

fortalecida

passado.

com

durante

os

"Geralmente,

os

comerciantes estabelecidos em Franca tinham ligações com a Praça de São Paulo, onde estava localizado o maior número de seus fornecedores, e também as praças do Rio de Janeiro, Campinas,

Ribeirão

outras".148

Nota-se

ligações

comerciais

Preto, que

nos

Itajubá, finais

priorizaram

a

Pedregulho, do

século

província

Cássia

e

tratado

as

paulista

em

detrimento a Minas Gerais. Sendo a economia francana geradora de tantas atividades

e

produtos,

e

aberta

para

os

mercados,

a

necessidade de boas estradas para o escoamento da produção parece ter sido uma preocupação constante, conforme consta nos

Relatórios

de

Presidente

de

Província

da

década

de

1870: "A Câmara Municipal de Franca pediu ultimamente a quantia de 1:483$000 rs. para concertos que diz precisos 148

NALDI, Mildred Regina Gonçalves. op. cit., p. 46, nota 37.

76

atender na estrada próxima aquela cidade, mas pelo oficio que dirigiu à V.Ex. pedindo essa verba, e o qual era assaz escasso

em

esclarecimentos,

não

pude

conhecer

quais

as

obras que desejava realizar, e portanto exige-lhe detalhes a respeito, e os aguardo para deliberar o que entender conveniente."149 Ainda relatórios

nos

descrições

relativas

com

relação

apresentam, a

às

entre

Franca:

estradas



outras,

as

disposição

os

ditos

seguintes da

Câmara

Municipal de Franca está desde 28 de fevereiro a quantia de 1:405$000

para

empregar

em

vários

melhoramentos

dessa

estrada na parte que vai dos portos do Rio Grande até a cidade (...)."150 No econômico

foi

decorrer

acompanhado

do pelo

século, crescimento

o

crescimento populacional.

Segundo Daniel Pedro MÜLLER (tabela 9), Franca do Imperador tinha, em 1837, 10.664 pessoas, distribuídas em 885 fogos. Os indivíduos livres eram 7.224, sendo 3.689 homens e 3.535 mulheres. Os escravos totalizavam 3.443, divididos em 1920 homens e 1.523 mulheres. Entre os livres 90,9% tinham até 50 anos e e os escravos nesta mesma faixa etária somavam 85,1% do total. Havia uma grande porcentagem de crianças 0-10 anos: 29,7% livres e 25,7% escravos, o que denota que 149

A.P.E.S.P. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de S.Paulo pelo Presidente da Província. O Exmo. Sr. Dr. Antônio Candido da Rocha, no dia 2 de fevereiro de 1870. São Paulo. Typografia Americana Rua das Flores, n.47, 1870. 150 Idem, p.

77

a população fracana, já em meados do século XIX, aumentava não só em virtude da imigração para região, mas também em função de um crescimento vegetativo vigoroso.

Tabela nº 9 População/Idades - Franca do Imperador 1837 LIVRES CATIVOS Homens Mulheres Idades Homens Mulheres 1.148 998 De 0 a 10 436 430 884 1.068 De 10 a 20 400 344 521 574 De 20 a 30 489 352 416 397 De 30 a 40 294 198 321 246 De 40 a 50 156 92 188 120 De 50 a 60 62 45 121 74 De 60 a 70 40 28 44 24 De 70 a 80 20 14 26 20 De 80 a 90 12 9 20 14 De90 a 100 11 11 Nº de fogos: 885 Total: 10.664 FONTE: MÜLLER, Daniel Pedro. Ensaio d'um quadro estatístico da Província de São Paulo. 3.ed. São Paulo: Governo do Estado, 1978.

Para apresenta

novos

o

ano

números

de

sobre

1876, a

Azevedo

população

MARQUES francana.

nos As

paróquias de "Senhora da Conceição da Franca, Senhora do Carmo da Franca, Santa Bárbara de Macaúbas, Santa Rita do Paraíso Município

e

Santo de

Antônio Franca,

da

Rifaina",

possuíam

pertencentes

21.419

ao

habitantes.

Considerando somente a paróquia de "Senhora da Conceição da Franca" os habitantes somavam 8.248, sendo 6.818 livres e 1.430 escravos.151

151

MARQUES, Manuel Eufrásio de Azevedo. Apontamentos da Província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, t.II, p. 185.

78

Em

1886

a

população

de

Franca

e

de

Patrocínio do Sapucaí juntas atingiam de 12.288 habitantes. As

variações

explicadas

encontradas

pelos

na

população

desmembramentos

do

francana

território

entre

são os

anos de 1874 e 1886.152 Do município de Franca foram desmembrados os seguintes municípios: 1) BATATAIS, pela lei nº 07 de 14 de março de 1839, abrangendo o povoado de SÃO BENTO DO CAJURU, atual CARURU e território dos futuros povoados: SANTANA DOS OLHOS D'ÁGUA, atual IPUÃ; SÃO JOSÉ DO MORRO AGUDO, atual MORRO AGUDO; ESPÍRITO SANTO DE BATATAIS, atual NUPORANGA; PIEDADE

DO

CRUZEIRO, BRODOSQUI;

MATOGROSSO

atual

SANTO

ORLÂNDIA;

DE

BATATAIS,

ANTÕNIO SÃO

DA

JOAQUIM

atual

ALEGRIA; DA

BARRA

ALTINÓPOLIS; JARDINÓPOLIS; e

SALES

DE

OLIVEIRA. 2) SANTA RITA DO PARAÍSO, pela lei nº 05, de 24 de abril de 1873. Foi posteriormente denominada IGARAPAVA, abrangendo a povoação de SANTO ANTÔNIO DA RIFAINA, atual RIFAINA e território do futuro PEDREGULHO; 3) PATROCÍNIO DO SAPUCAÍ, pela lei nº 23, de 10 de março de 1885. Foi depois denominada, PATROCÍNIO PAULISTA, abrangendo território da futura povoação de NOSSA SENHORA APARECIDA, atual ITIRAPÚA. 4) CARMO DA FRANCA, pela lei nº 24, de 10 de março de 1885. Foi depois denominada ITUVERAVA, abrangendo o território futuro de GUARÁ e de SÃO MIGUEL, atual MIGUELÓPOLIS.153

152

153

CAMARGO, José Francisco de. Crescimento da população no Estado de São Paulo e seus aspectos econômicos. São Paulo: IPE, 1981, v.1. SANTOS, Wanderley dos. Banco de dados. mimio.

79

Em durante

o

suma,

século

diversificação

a

XIX,

das

atividades

comércio,

experimentos

industriais -,

e

da

região

caracterizava-se

agricultura,

aguardente

economia

como

atividades

Franca,

sobretudo

econômicas

tecelagem,

de

-

pecuária,

minegração,

engenhos

de

artesanais

-

pela

alguns

açúcar

e

selarias

e

sapatarias. Dentre as atividades produtivas, a criação de animais,

principalmente

bovinos,

teria

sido

o

setor

de

maior vigor - “o centro dinâmico” - que exercia um “efeito multiplicador”, ou seja, incentivador de outras atividades. Na verdade a economia da região ampliou-se constantemente, movida

por

atividades

correlatas,

tendo

a

pecuária

à

frente. A

economia

francana,

no

período

tratado,

manteve um considerável nível de mercantilização, se bem que ditado pelo limitado vigor do setor de subsistência, que se diferenciou do setor exportador, próprio de outras regiões do centro-sul do Brasil. Dentro das condições econômicas apresentadas que

os

proprietários

francanos

obtinham

recursos

necessários à organização das estratégias de sobrevivência, à

acumulação

crescimento

e

reprodução

econômico

da

contínuo

riqueza, e

vigoroso,

alicerces da economia da região de Franca.

80

consolidando formando

um os

3. A RIQUEZA DOS PROPRIETÁRIOS SEGUNDO OS INVENTÁRIOS

Nesta fase do nosso trabalho demonstraremos a riqueza obtida pelos proprietários da região de Franca, envolvidos nas atividades produtivas inseridas no contexto econômico

delineado

possíveis riqueza

nos

transformações ocorridas

capítulos no

durante

volume o

anteriores; e

na

século

e

as

diversidade

XIX.

Para

da

tanto,

selecionamos dois períodos: 1822/30 e 1875/85, frente aos quais procederemos constantes comparações. Nossa inventários

do

encontram-se

base

documental

Cartório

arranjados

do



em

constituiu-se

Ofício

ordem

de

96

Cível,

os

quais

cronológica,

em

ótimo

estado de conservação e à disposição dos pesquisadores no Arquivo Histórico Municipal "Capitão Hipólito Pinheiro", em Franca-SP. É

necessário

ressaltarmos

que

os

bens

avaliados a partir dos inventários, são fruto da acumulação no decorrer de uma vida ou de várias gerações, estando a análise

da

composição

das

fortunas

sujeitas

a

questionamentos, quando encarado somente como reflexo das atividades

econômicas

do

considerado é que parte

período.154 da

Outro

fator

a

ser

riqueza em análise, muito

provavelmente, foi gerada em outras áreas do centro-Sul, como Minas Gerais, e transportada por indivíduos que se 154

DAUMARD, Adeline. Hierarquia e riqueza na sociedade burguesa. São Paulo: Perspectivas, 1985, p.195.

81

fixaram no Nordeste paulista, principalmente no primeiro período

do

geração

estudo

e/ou

-

1822/30.

reprodução

da

Contudo, riqueza

entendemos dos

que

a

proprietários

francanos só se tornou possível graças a contexto econômico com vocação mercantil, caracterizado pela produção de bens de subsistência endereçados aos mercados locais e a outras regiões do centro-Sul do Brasil. O conceito de riqueza, por nós adotado, foi o seguinte: "a totalidade dos haveres ou bens, possuídos pela família, tais como objetos, móveis, tapetes, jóias, utensílios e implementos, escravos, animais com valor de troca, propriedades rurais e urbanas, títulos de crédito, não se incluindo, portanto, alimentos, bebidas, salários, que

significam

CANABRAVA

rendimentos",

formulado

por

Alice

P.

no seu artigo "Uma economia de decadência: os

níveis de riqueza na Capitania de São Paulo, 1765/67".155

A COMPOSIÇÃO DA RIQUEZA

O levantamento e quantificação dos bens e seus valores foi realizado segundo os itens que constam nos inventários:

155

CANABRAVA, Alice Piffer. Uma economia de decadência: os níveis de riqueza na Capitania de São Paulo, 1765/67. Revista Brasileira de História, Rio de Janeiro, v.26, n.4, p. 105, out./dez. 1972.

82

1) Bens Móveis

-

subdividido em: imagens,

trastes de casa, louças, roupas de uso, armas de fogo, ferramentas de ourives, roça e carpintaria, arreios, carros de boi, peças em ouro, prata, cobre, ferro, metal amarelo e estanho; 2) Bens de Raiz - casas, terrenos, partes de terras (fazendas e chácaras) e lavouras; 3)

Semoventes

-

subdividido

em

bovinos

a

receber

eqüinos, muares, caprinos, ovinos e aves; 4) Escravos; 5)

Dívidas

Ativas:

valores

referente empréstimos em dinheiro ou venda de bens. 6)

Dívidas

Passivas:

valores

a

pagar

referente empréstimos ou compra de bens.

Conforme o Gráfico 2 à pág. 99, a composição da riqueza dos proprietários do Termo de Franca, no período correspondente

a

1822/30,

em

ordem

decrescente

era

a

seguinte: Escravos - 37,1%, Bens de Raiz - 33%, Semoventes - 13,7%, Dívidas Ativas - 10,2% e Bens Móveis - 6,0%.

83

Gráfico 2 COMPOSIÇÃODARIQUEZA- 1822/30 Bens Móveis 6,0% Semoventes 13,7% Escravos 37,1%

Bens deRaiz 33,0% Dívidas Ativas 10,2%

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 02 a 04, cx. 27 a 32, 1822/30

No segundo período - 1875/85, a composição da

riqueza

alterou-se,

passando

a

ser:

Bens

de

Raiz

-

53,4%, Escravos - 26,7%, Semoventes - 11,9%, Bens Móveis 4,2% e Dívidas Ativas - 3,8%. (gráfico 3) Gráfico 3 COMPOSIÇÃODARIQUEZA- 1875/85 Bens Móveis 4,2% Semoventes 11,9%

Escravos 26,7%

Dívidas Ativas 3,8%

Bens deRaiz 53,4%

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 02 a 04, cx. 27 a 32, 1822/30

84

Ao

observamos

os

dados

mencionados

é

possível tecer algumas conclusões preliminares referentes as variações da composição da riqueza dos proprietários do Nordeste paulista durante o século XIX. Os comentários a seguir logicamente serão complementados por análises mais detalhadas de cada grupo de componentes do patrimônio dos proprietários. Os

itens

que

compunham

a

riqueza

dos

proprietários do Nordeste paulista sofreram as seguintes variações durante o século XIX: l)

Decadência

do

peso

relativo

do

item

escravos, que passou de 37,l% para 26,7% da riqueza. De um período para o outro, a posse de escravos deixou de ser disseminada

entre

concentração

da

96,8%,

dos

período

os

proprietários,

propriedade

proprietários

1875/85,

somente

escrava.

possuíam 53,3%

Se

o

havendo entre

item

deles

uma

1822/30

escravo,

tinham

esse

no bem.

Contudo, a média de escravo por proprietário aumentou de 4,8 para 5,3. Durante o século em questão, a queda do peso relativo do item escravos, no total da riqueza, só não foi maior devido a uma grande valorização desse bem. O preço médio

de

um

cativo

em

1828

era

de

218$638,

passando

a

1:471$428 em 1880.156

156

Esta variação de preço será por nós analisada quando tratarmos a respeito do preço dos escravos.

85

2)

O acréscimo na participação dos bens de

raiz no volume da riqueza, que no início do século era de 33% passando para 53,4% nas últimas décadas. A ocupação efetiva dos terrenos do Nordeste paulista e a dinamização da economia regional favoreceram a valorização deste item. 3)

O

peso

dos

semoventes

(gado

bovino,

principalmente) permaneceu quase que inalterado. Nos anos 20 participava com 13,7% da riqueza, passando na década de 1875/85 para 11,9%. A permanência do peso deste item na riqueza dos proprietários em um contexto de economia em expansão,

justifica-se

pela

possível

diversificação

de

investimentos nas últimas décadas do século em engenhos de açúcar e nas plantações de café. 4)

Se comparados ao total da riqueza, os

bens móveis, sempre escassos, não contribuíam com grande fartura

para

a

riqueza

dos

proprietários.

No

primeiro

período, quando os mínimos pertences dos inventariados são partilhados pelos herdeiros, os bens móveis contribuíam com 6,0% dos bens. No segundo período, quando somente os bens pessoais de maior valor entravam na partilha, tais bens participavam apenas com 4,2% da riqueza. 5) As dívidas ativas entraram em declínio no decorrer do século, passando de consideráveis 10,2% para somente

3,8%.

Diminuiu

a

quantidade

de

credores

e

as

dívidas que originavam-se até de empréstimos de escravos "jornais

de

escravos"

-

passaram 86

a

ser

quase

que

exclusivamente de empréstimos em dinheiro, o que denota um aumento na circulação da moeda como meio de troca.

DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA Para percebermos a distribuição da riqueza entre

os

proprietários

da

região

de

Franca,

nos

dois

períodos estudados, efetuamos a soma dos valores de todos os

bens

de

cada

inventário.

O

agrupamento,

segundo

os

valores obtidos, pode ser visualizado na tabela 10. Tabela 10 Distribuição da Riqueza (por proprietário - em porcentagem) Contos de Réis Até 1 conto de 1 a 2 contos de 2 a 3 contos de 3 a 4 contos de 4 a 5 contos de 5 a 6 contos de 6 a 7 contos de 7 a 8 contos de 8 a 9 contos de 9 a 10 contos mais de 10 contos

1822/30 % de proprietários 35,3% 22,6% 9,7% 19,4% 6,5% 6,5% -

1875/85 % de proprietários 9,2% 26,2% 15,3% 7,7% 6,1% 1,5% 3,1% 1,5% 3,1% 26,2%

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30 e cx. 27 a 32 - 1875/85.

No primeiro período - 1822/30, a soma dos

bens

de

cada

proprietário,

na

sua

grande

maioria

(86,9%) não ultrapassava quatro contos de réis, sendo que dentre estes 35% não chegavam a ter um conto. 87

O perfil do proprietário possuidor de até um conto de réis ficava próximo ao do inventariado Aleixo Alves Borges. Casado com Maria Felícia de Almeida157, pai de dois filhos e tinha um escravo de nome João, de 40 anos, avaliado em 110$000. Era dono de "uma parte de terras de matos", com a benfeitoria de "uma casa de morada de capim de um só lanço" no valor de 236$400. Seus animais consistiam de um boi, 17 novilhas e 16 vacas, que valiam 178$000.

Possuía

(12$080),

além

também dos

peças

"trastes

em de

ouro,

cobre

e

casa"

(5$000)

vidros e

das

"ferramentas de roça" (2$400). Era pouco valor em dívidas a receber (dívidas ativas): 15$960. Por ocasião do início do inventário devia (dívidas passivas) a Manoel Alves Borges e ao Capitão Martinho Alves da Silva o total de 19$320. O total geral dos seus bens era: 559$940.158 Cabe a nós destacarmos que outra parte dos proprietários

(22,6%) possuía entre um e dois contos de

réis. Um exemplo significativo é de Martinho Moreira de Carvalho, que foi marido de Emerenciana Maria de Jesus, com quem

tinha

oito

filhos,

sendo

quatro

homens

e

quatro

mulheres. Era dono de três escravos: Domingos de 27 anos, Antônio

de

18

e

Perpétua

de

20;

todos

juntos

valiam

700$000. Seus bens imóveis foram descritos como "uma parte de terras, uma casa de morada coberta de telhas, e uma casa 157

As mulheres no período colonial e imperial não assinavam o sobrenome do esposo, a obrigação do uso do sobrenome veio com a República. 158

AHMF - Inventário de Aleixo Alves Borges, Proc. 52, cx. 03, 1825.

88

na esquina da rua do Adro com final ao sul com a Praça da Aclamação", avaliados em 320$000. Em animais possuía cinco vacas, seis novilhas, um boi e três cavalos, avaliados em 107$000. Era proprietário de vários bens móveis: imagens (46$800), peças em prata, cobre e metal amarelo (49$680), armas de fogo (4$480), roupas de uso (18$480), ferramentas de roça e de carpintaria (6$220) e arreios (16$800). Além de criador de animais era, provavelmente, um comerciante de salitre,

cujo

estoque

tinha

o

valor

de

230$000.

Outro

indicativo da suas atividades comerciais eram as quantias a receber

(dívidas

ativas)

e

a

pagar

(dívidas

passivas)

constantes em seu inventário. Tinha a receber a quantia total

de

768$785,

devedores.

Devia

a

ser

um

paga

pouco

aos

menos:

herdeiros 663$835.

por

As

sete

dívidas

passivas eram pulverizadas entre l7 pessoas, em quantias diferenciadas. O valor total dos bens era: 2:308$285.159 Podemos até

quatro

Vicente

contos

Ferreira

de

incluir

de

réis

Faria

entre

(19,4% Leite

e

os do sua

proprietários total

de

pesquisado)

esposa

Feliciana

Alves de Faria (inventariada). Possuíam cinco filhos, ainda crianças (em 1830), entre eles apenas um homem, de cinco anos. Mantinham seis escravos, três do sexo masculino e três

do

sexo

feminino,

a

saber:

Francisco

(160$000),

Theodoro (200$000), ambos de 50 anos; Gaspar (60$000), sem idade declarada, provavelmente mais velho em razão do valor 159

AHMF - Inventário de Martinho Moreira de Carvalho, Proc. 52, cx. 03, 1828.

89

a ele atribuído; Maria, de 32 anos de idade (400$000), Florentina,

de

18

anos

(450$000)

declarada (300$000). O valor de

1:730$000.

Seus

bens

e

Rita,

sem

idade

total do valor escravos era

imóveis

constituíam-se

de

"uma

parte de terras na fazenda denominada Ribeirão (75$500) e de um sítio (250$000)". Nestas propriedades eram criados: 10 bois de carro, dois bois reprodutores, 30 vacas, 40 novilhas,

quatro

cabritos,

um

cavalo

e

sete

éguas,

que

valiam 893$300. Os bens pessoais eram divididos em imagens (14$900); peças em ouro, cobre e ferro (48$020); trastes de casa,

47$780;

ferramentas

de

roças,

de

carapina

(carpintaria) e de tropa, 24$480; armas de fogo, 4$000; arreios, 15$700; e dinheiro, 105$600. Era credor de 197$540 e

devia

um

pouco

menos:

136$700.

Incluindo

as

dívidas

ativas deste proprietário, seus bens valiam: 3:248$820.160 Entre os mais abastados do primeiro período, ou seja, aqueles proprietários em que a soma dos bens dos inventários ficava entre seis e sete contos de reis (6,5% do total), tiramos como exemplo o inventário de Rosa Maria de Viterbo, que tinha nove filhos, e destes, apenas uma mulher já casada. Tinha l5 escravos, a maior quantidade possuía por um proprietário do primeiro período. A idade dos cativos variava entre 11 e 29 anos, e os preços ficavam entre

40$000

e

250$000.

Cabe

a

nós

citarmos

que

o

inventário em pauta iniciou-se em 1822, quando os preços 160

AHMF - Inventário de Feliciano Alves de Faria, Proc. 68, cx. 04, 1830

90

dos escravos eram bem inferiores aos do final do primeiro período - 1830. A maior parte da riqueza de Rosa vinha dos bens de raiz. Possuía "uma fazenda denominada Monjolinho com lanços de casas cobertas de palha com portas", avaliada em 3:286$400. As benfeitorias da propriedade consistiam de "moinho, dois monjolos e paiol". O rebanho constituído de 104 cabeças era dividido em: 36 vacas, 16 garrotes, 04 bezerros, 10 novilhas, 03 touros, 24 bois de carro, 02 cavalos, 04 éguas, 02 potros e um muar, que valiam juntos a soma

de

512$000.

Entre

os

bens

pessoais

são

citados:

imagens (25$800); peças em ouro, prata, cobre, ferro, metal amarelo, estanho, louças e vidros (105$560); ferramentas de roça e carpintaria (350$260); e armas de fogo (10$000). A inventariada

devia

a

quantia

de

449$000

em

dinheiro,

a

Joaquim Vieira, João Gonçalves Gomes e Quintiliano Gomes Pinheiro e esposa. Não consta que tivesse algo a receber. Todos seus bens valiam: 6:798$660.161 Apesar da grande variação de preços dos bens móveis

e

imóveis,

ocorrida

durante

o

século

XIX162,

(ver

adiante análises e comparações de preços) e das mudanças da economia

regional,

grande

parte

161

dos

proprietários

do

AHMF - Inventário de Rosa Maria de Viterbo, Proc. 20, cx. 02, 1822. "A taxa de inflação para o século XIX foi calculada por Mircéa Buescu, que tomou o ano de 1826 como base de seu índice. Entre 1826 e 1850, a variação em porcentagem da inflação foi de 48,5% e de 70,2% entre 1851 e 1887 (300 Ano de Inflação, Rio de Janeiro, APEC, 1973, p.223). Por outro lado, Oliver Onody demonstrou que o índice do custo de vida passou de 100 (ano base 1850) a 191, em 1889 (ONODY, Oliver. A Inflação Brasileira. Rio de Janeiro, 1960, p. 25) In: MATOSO, Kátia de Queiróz, A riqueza dos bahianos no século XIX. In: Clio. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, n.11, p.61-75 162

91

segundo período pesquisado - 1875/85 - acumularam riqueza que oscilava

mostram

que

entre um

e cinco

Os

dados

da

no

segundo

contos

tabela período

de réis.

10

à

mais

pág. da

102,

nos

metade

dos

proprietários (64,5%) tiveram seus bens avaliados entre um e cinco contos de réis e 9,2% deles possuíam bens que iam de

cinco

a

dez

contos.

As

maiores

riquezas

(26,2%)

ultrapassavam os dez contos, conforme os relatos que se seguem. Alguns proprietários não chegavam a possuir um

conto

de

réis,

um

exemplo

característico

era

do

inventariado João Vicente de Magalhães Portilho, que foi casado com Rita Prudencia do Evangelho. O casal tinha nove filhos, sendo cinco mulheres; destas, duas casadas e mais quatro homens menores e solteiros. Não possuía escravos. Quanto aos bens imóveis era proprietário de dois terrenos e uma casa de morada localizados na sede do termo (710$000). Seus bens semoventes constituíam-se de apenas seis cavalos (117$000) e os poucos bens pessoais valiam 44$300. O total geral de seus bens era de 871$300, sem contar o valor de 56$870 que deveria receber a título de dívida passiva.163 Dentro do maior grupo de proprietários, ou seja, aqueles que possuíam de um a cinco contos (55,3%) estava

Joaquim

inventariante 163

José

Maximina

Ferreira, P.

de

que

Jesus.

foi O

casado casal

não

com

a

tinha

AHMF - Inventário de João Vicente de Magalhães, Proc. 459, cx. 27, 1875.

92

filhos. Possuía quatro escravos, dois em idade produtiva e duas crianças: José de 32 anos, Thereza de 30 anos, parda, ambos solteiros; Joana de 10 anos, parda e Vicente de 08 anos,

pardo.

As

crianças

eram

filhas

de

Thereza.

Todos

valiam 2:500$000. Possuía também duas partes de terras, uma denominada "Fazenda Capivary" avaliada em 700$000 e outra chamada

"Fazenda

Ribeirão

Corrente",

provavelmente

bem

menor que a primeira tendo em vista o valor: 15$000. Seu rebanho era composto de quatro éguas, dois burros, três cavalos, três bois, 22 porcos e 15 carneiros que, somados, atingiam a quantia de 760$000. Os seus bens móveis valiam 413$700. Joaquim José Ferreira deixou um volume grande de dívidas

tendo

em

vista

seu

patrimônio

avaliado

em

4:088$700. Em seu inventário constam dívidas no valor de 1:111$409 rateadas entre treze credores, inclusive o padre da Franca que deveria receber a quantia de 168$000. Não há dados sobre dívidas a receber.164 Manoel L. de Santa Anna integrava o grupo de proprietários que possuía um patrimônio avaliado entre seis e sete contos de réis (3,l% dos inventariados). Era casado com Joaquina Rosa Duarte, com quem teve dez filhos, cinco homens e cinco mulheres, oito deles casados e dois menores Tertuliano, de nove, e Francisco de oito anos. Possuía três escravos: Joana de 55 anos, de origem africana (60$000), Anna de 26 anos, doentia (800$000) e Benedito de 25, pardo 164

AHMF - Inventário de Joaquim José Ferreira, Proc. 468, cx. 027, 1876.

93

(1:000$000), os últimos nascidos em Franca. Seus bens de raiz compunham-se de "duas fazendas, a primeira denominada Bom Jardim, com destaque para a benfeitoria de uma casa" que valia 1:200$000 e a outra chamada "Fazenda do Salgado" no preço de 1:100$000. Era detentor de sete porcos, 17 carneiros, dois cavalos, um potro, uma égua, 20 bois de carro e 11 vacas, todos avaliados em 1:380$100. Os bens móveis com valor de 481$000, incluiam objetos de prata no valor de 14$400. Não foram identificadas dívidas ativas ou passivas. O valor total dos bens era de 6:035$500.165 Havia

grandes

diferenças

de

valores

e

no

peso de cada ítem da riqueza entre aqueles proprietários que detinham acima de 10 contos de réis. Maria Silveira de Oliveira possuía bens pouco acima desse valor (inventário de 1879). Quase metade dos seus bens originava-se dos 14 escravos

que

variados.

O

possuía, de

menor

os

quais

valor

tinham

era

idades

denominado

e

preços

José,

recém

nascido, avaliado com apenas cinco dias: 50$000. Os preços das outras crianças ficavam entre 400$000 e 650$000. Os demais, em idade produtiva, masculinos ou femininos, valiam em torno de 1:000$000. O mais velho deles e o de menor preço entre os adultos era Domingos, de 52 anos: 500$000. Juntos riqueza

somavam era

11:400$000.

composta

dos

Outra

bens

de

grande raiz:

parte "uma

da

sua

casa,

uma

fazenda denominada Pouso Alegre e outra parte de terras 165

AHMF - Inventário de Manoel L. de Santa Anna, Proc. 519, cx. 31, 1882.

94

localizada valor

de

59$900.

na

área

conhecida

14:318$600, Contraiu

sendo

dívidas

por os

com

Ribeirão

da

semoventes quatro

Onça",

no

avaliados

em

credores

no

valor

300$497. Excluídas as dívidas passivas, a soma dos seus bens atingiam a quantia de 14:389$900.166 Outro grande proprietário foi José Bernardes Pinto; seus bens valiam 42:971$400, assim distribuídos: 23 escravos

de

diferentes

preços

e

idades

(masculinos

e

femininos), com preços variando entre 100$000 e 1:500$000, dependendo da idade, do sexo e do estado físico dos mesmos. Bens imóveis: "uma casa no Largo do Theatro (1:500$000), duas casas na rua Cubatão (800$000), uma sorte de terras na Fazenda Matta (8:200$000) com a benfeitoria de uma casa assobradada

(6:000$000)

e

outra

fazenda

denominada

Bom

Jardim (5:200$000)." Os semoventes - animais de criar constituíam-se (1:060$000),

de um

26 boi

bois

de

carro

reprodutor

(960$000),

(150$000),

17

24

vacas

novilhas

(515$000), 10 cavalos (580$000) e 25 pavões (250$000). Os bens móveis valiam 506$400, estando aí incluídos relógio, talheres e espora. Era credor de José Francisco Pereira que lhe devia a quantia de 650$000. Totalizando seus bens em 42:971$400.167 José Bernardes da Costa Junqueira possuía o maior volume de riqueza, entre os proprietários em análise: 166

167

AHMF - Inventário de Maria Silveira de Oliveira, Proc. 487, cx. 29, 1879. AHMF - Inventário de José Bernardes Pinto, Proc. 456, cx. 27, 1875.

95

87:465$000.

Tinha

apenas

três

filhos,

oriundos

de

dois

casamentos. Detinha oito escravos, sendo seis homens e duas mulheres.

Entre

os

masculinos

Lourenço

de

53

anos,

de

origem africana, tinha o menor valor: 100$000; e o mais caro era João de 28 anos, nascido em Franca: 2:000$000. O preço

dos

outros

escravos

masculinos

variavam

entre

1:500$000 e 1:600$000; as mulheres eram: Luzia de 32 anos (800$000) e Anna de 20 (1:000$000). Todos juntos valiam 8:700$000. A base de toda a riqueza do proprietário José Bernades estava na terra. Possuía uma "fazenda denominada Bebedor, com as benfeitorias: uma casa de morada, paiol, moinho, engenhos de socar e de cana, currais e engenho de serra

(utilizado

para

serrar

madeira)",

avaliada

em

65:000$000, além de "uma casa na cidade de Franca em frente ao Largo da Matriz" que valia 3:000$000. Seu rebanho era composto de 95 vacas, 48 novilhas, 63 bezerros, 32 bois de carro, 06 bois reprodutores, 03 jumentos, 05 cavalos, 02 mulas e 02 burros. O conjunto de animais valia 9:990$000. Os bens móveis atingiam a cifra de 1:166$000. Não consta que possuía dívidas ativas nem passivas.168

168

AHMF - Inventário de José Bernardes da Costa Junqueira, Proc. 494, cx. 29, 1879.

96

3.1. A RIQUEZA ESCRAVA

Das Colônia

e

no

relações

Império,

de

a

propriedade

que

tinha

vigentes

função

na

econômica

principal e decisiva era a propriedade de escravos e não a propriedade da terras.169 Essa afirmação é verdadeira

frente

às

terras

possibilidades

de

ocupação

das

abundantes

devolutas, a partir da simples posse ou pela concessão de sesmarias, fato que depreciava o valor da terra em relação ao escravo. Após a Lei de Terras de 1850, que definiu o acesso a terra apenas pela compra, dificultou a apropriação deste, o que contribuiu para sua valorização. O fator

de

escravo

produção

importância

no

e

foi, um

estoque

sem dos

da

dúvida,

um

componentes

riqueza

dos

relevante de

grande

proprietários

francanos durante o século XIX. "Trata-se do componente que pode

ser

medido

com

mais

precisão

(...)."170

Conforme

os

gráficos apresentados à página 99, grande parte do capital dos senhores estava investido no escravo.

169 170

GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 2.ed. São Paulo: Ática, 1978. LEWKOWICZ, Ida. Vida em família: caminhos da igualdade em Minas Gerais (séculos XVIII e XIX). São Paulo: FFLCH-USP, 1992 (Tese de Doutoramento).

97

A POSSE DOS ESCRAVOS Com posse

da

o

objetivo

mão-de-obra

dividimos

o

número

de

escrava

de

estudar dos

escravos

a

estrutura

senhores

possuídos

de

francanos, por

faixas,

indicando a seguir, a porcentagem de proprietários segundo a quantidade de escravos(tabela 11). Tabela nº 11 Quantidade de escravos possuídos por proprietário Quantidade de escravos

1822 - 1830 % de proprietários

1875 - 1885 % de proprietários 1a5 73,4 64,8 6 a 10 20,0 20,6 11 a 15 3,3 8,8 16 a 20 3,3 2,9 21 a 25 2,9 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30 e cx. 27 a 32 - 1875/85.

No primeiro período - 1822/30 - apenas 3,2% dos

inventários

consultados

não

registravam

o

item

escravos, embora cada proprietário possuisse em média, 4,8 cativos.171 Mais

da

metade

dos

proprietários

(73,4%)

possuíam em seus quadros de um a cinco escravos e

entre

estes,

mesma

13,4%

porcentagem dois 171

possuíam

um



cativo;

e

essa

(13,4%) era atribuída a senhores com apenas

escravos

e

outros

10%

tinham

três

escravos.



OLIVEIRA, Lelio Luiz de. A posse de escravos em Franca - SP, segundo os inventários (1822-30). Estudos de História. Revista do curso de Pós-Graduação em História. Franca, v.1, p.173-186, dez. 1994.

98

registros

ainda

de

senhores

(16,7%)

que

possuíam

quatro

escravos, sendo que a maior porcentagem dos proprietários (20,3%), mantinha plantéis de cinco cativos. Nas

faixas

seguintes,

à

medida

em

que

aumenta a quantidade de escravos possuídos, inversamente, diminui a porcentagem de senhores detentores dos maiores planteis. Na segunda faixa - seis e dez escravos encontramos 20% dos dos proprietários capazes de adquirir e manter

esses

cativos.

Dentre

estes

proprietários,

6,6%

eram detentores de seis escravos. A maioria (10%) possuía sete

cativos.



registros

de

que

3,3%

dos

senhores

deixaram aos seus herdeiros a quantia de nove escravos. Não detectamos nos os inventários consultados, referentes ao período em estudo, proprietários com posse de oito ou dez escravos. Nas faixas seguintes - 11 a 14 e 16 a 20 cativos - a porcentagem de senhores é a mesma, a 3,3% para cada uma delas; tendo um grupo a posse de 15 e o outro a posse de 17 escravos. Em

resumo,

79,5%

dos

escravos

estavam

distribuídos entre 90,4% dos proprietários, possuidores de um

a

nove

escravos.

E,

o

restante,

20,4%

dos

cativos,

pertencia a 6,6% dos senhores, que possuíam de 15 a 17 escravos. Os

dados

apresentados

nos

mostram

uma

distribuição bastante diferenciada da riqueza escrava entre 99

os

proprietários,

sendo

a

grande

maioria

dos

senhores

detentora do bem escravo, ao passo que a maior parte deles possuía

pequenos

plantéis,

ou

seja,

uma

supremacia

dos

senhores com cinco ou menos escravos. O resultado dos nossos dados ampliam para o Nordeste COSTA,

paulista

quando

as

evidências

estudaram

a

apresentadas

posse

de

por

escravos

LUNA

em

e

outras

localidades da Província de São Paulo, no início do século XIX

(1804),

Iguape,

Itú,

como

Campinas,

Jacareí,

Curitiba172,

Lorena,

Mogi

Guaratinguetá,

das

Cruzes,

São

Sebastião e Sorocaba, regiões que concentravam "um grande número

de

proprietários

e

uma

reduzida

quantidade

de

senhores com muito escravos".173 Diferente

de

Franca,

onde

a

atividade

econômica predominante era a criação de gado, seguida pela agricultura

de

excetuando-se

Curitiba,

escravos

subsistência,

voltavam-se

a

maioria

naquelas dos

primordialmente

localidades,

proprietários para

"as

de

lides

agrícolas - dominantes na economia paulista de então."174 Os dados relativos às localidades citadas, nos mostram que 85,8% dos proprietários detinham entre um e dez 172

173

174

escravos,

destes,

69,7%

possuíam

entre

um

e

cinco

Até 1853 a Comarca de Curitiba integrava-se ao território da Província de São Paulo. Naquele ano desmembrou-se da mesma, pois foi criada a Província do Paraná com sede naquela cidade. LUNA, Francisco Vidal e COSTA, Iraci del Nero. Posse de escravos em São paulo no início do século século XIX. Estudos Econômicos. v.13, n.1., p.211-221, jan./abr.,1983. LUNA, F.V. e COSTA, Iraci del Nero. op. cit. p. 216, nota 19.

100

cativos e a expressiva porcentagem de 26% mantinha apenas um escravo. O restante dos proprietários, ou seja, 14,2%, eram possuidores de onze escravos ou mais, características dos senhores de engenho.175 Para

o

caso

específico

de

Jacareí,

no

período de 1777-1829, ocorreu a elevação do tamanho dos plantéis,

e

inversamente

diminuiu

a

porcentagem

de

proprietários com até cinco cativos, que em 1804 era de 79%,

passando

mudanças

na

para

71,1%

economia

em

1829.

regional,

Fato

explicado

"primeiro

por

com

o

fortalecimento do açúcar e posteriormente com a introdução do café, que se fixou rapidamente pelo Vale do Paraíba."176 Em

localidades

onde

encontravam-se

"criadores de animais" a média de escravos por proprietário não

era

muito

homogênea,

mas

não

chegando

a

ser

tão

distoante da média encontrada em Franca. Em Guaratinguetá, a média no começo do século XIX chegava a 7,0, em Itu diminuiu para 2,0, aumentando para 12,0 em Sorocaba.177 No caso de Curitiba, que destacava-se pela pecuária, 19% dos proprietários detinham 35% dos cativos. Nessa

localidade,

os

proprietários

criadores

de

animais

tinham em média 9,2 cativos, contra 3,9 dos agricultores. 175 176

177

Idem, p.217. LUNA, Francisco Vidal. Estrutura de posse de escravos e atividades produtivas em Jacareí (1777-1829) Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. n.28, 1988. Conforme mostra a Tabela 7 - Proprietários: segundo o nº médio de escravos e atividades. IN: LUNA, Francisco Vidal e COSTA, Iraci del Nero da. op. cit., p.218, nota 8.

101

Os "Campos Gerais" ou "Continente de Curitiba" - onde seus habitantes "quase não possu[iam] outras idéias além das que se relacionam com a criação de gado"178 - era, no início do século XIX, fornecedor de muares e bovinos para feira de Sorocaba, "lugar de destaque com relação à circulação de tropas e boiadas."179 Parece

que

as

atividades

econômicas

de

Franca assemelhavam-se mais com às de Curitiba do que com as de outras localidades citadas. Apesar das semelhanças, a média

de

escravos

possuídos

pelos

criadores

na

região

paranaense - 9,2 - era mais que o dobro da encontrada em Franca - 4,8. Em Capitania

de

1804,

Minas

na

Gerais,

região mais

aurífera

da

especificamente

então

em

Vila

Rica, Francisco Vidal LUNA nota a "absoluta preponderância do conjunto de senhores com cinco ou menos escravos."180

O

mesmo autor apresenta dados que denotam a predominância da imensa

maioria

de

proprietários

-

95,4%

-

daquela

localidade, que mantinham em seus quadros entre um e dez escravos,

178

179

180

sobrando

apenas

4,4%

dos

proprietários

que

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Comarca de Curitiba, p. 20. APUD PETRONE, Maria Thereza Shorer. O Barão de Iguape: um empresário da época da independência. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1976, p.38. (Brasiliana, v.361) PETRONE, Maria Thereza Schorer. O Barão de Iguape: um empresário da época da independência. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1976, p.15 (Brasiliana, v.361). LUNA, Francisco Vidal. Estrutura da posse de escravos. In: Minas Colonial: economia e sociedade. São Paulo: FIPE/Pioneira, 1982, p.38 (Estudos econômicos).

102

possuíam de 11 a 20 cativos, e uma minoria, 1,1%, detinha acima de vinte e uma unidades desse bem.181

No segundo período

-

1875/85

-

percebemos

que modificou-se consideravelmente a estrutura de posse dos escravos, se comparada com o primeiro período analisado 1822/30.

No

final

do

século

XIX,

entre

os

inventários

consultados, 53,3% dos proprietários eram possuidores de escravos contra 46,7% que não possuíam este bem. Notamos, então,

que

a

posse

de

escravos

deixou

de

ser

tão

disseminada entre os senhores; contudo, a média de escravos por

proprietário

passou

a

ser

de

5,3.

Houve

uma

concentração da riqueza medida pela propriedade escrava. Conforme

a

tabela

1

à

página

114,

os

planteis de 64,8% dos proprietários deste segundo período tinham

entre

um

e

cinco

cativos.

Entre

estes,

14,8%

possuíam apenas um escravo; 23,6% dois; 17,8% três e 8,9% dos

senhores

possuíam

5,8

escravos.

Não

encontramos

proprietários com plantéis constituídos por cinco escravos. Na segunda faixa - entre seis e dez escravos - encontramos 20,6% dos proprietários capazes de adquirir e manter plantéis com a quantidade referida. Dentre estes, 5,8% detinham seis escravos; (11,8%),

possuía

oito

2,9% sete cativos e a maioria escravos.

Não

encontramos

proprietários donos de nove ou dez peças deste item. 181

Idem, p.38.

103

Nas faixas seguintes, onde os plantéis são maiores, diminuem a porcentagem de proprietários. Na faixa de 11 a 15 escravos temos 8,8% de proprietários, sendo que 2,9% dos senhores possuíam 11 escravos e 5,8%

14. Não

encontramos detentores de 10, 12, 13 ou 15 cativos.

Nas últimas faixas - de 16 a 20 e de 21 a 25 escravos

-

encontramos

2,9%

dos

proprietários

com

17

escravos e com a mesma porcentagem (2,9%) aparece o maior plantel: 23 escravos. Nossos daqueles

dados

apresentados

não

por

se

Zélia

diferenciaram Cardoso

de

muito MELLO,

referentes à região da cidade de São Paulo no período de 1845/87182, apesar da autora ter pesquisado maior quantidade de documentação e, pelas condições econômicas diferenciadas existentes

entre

as

duas

pesquisas.

Após

essas

considerações, verificamos que as semelhanças aparecem de modo considerável nas posses entre um e trinta escravos.

182

MELLO, Zélia Cardoso de. Metamorfoses da riqueza: São Paulo, 18451895. Contribuição ao estudo da pssagem da economia mercantilescravista à economia exportadora capitalista. São Paulo: Hicitec/Secretaria Municipal de Cultura, 1985.

104

Tabela 12 Distribuição da propriedade escrava (Proprietários e escravos possuídos, em porcentagem - São Paulo, 1872/80 e 1881/87) Número de 1872/80 1881/87 Escravos Proprietários % Proprietários % 1a5 73,33 73,32 6 a 10 11,67 11,42 11 a 20 6,6 6,66 21 a 30 3,34 3,33 31 a 40 1,67 41 e mais 1,67 3,33 Fonte: MELLO, Zélia Cardoso de. Metamorfoses da Riqueza: São Paulo, 1845-1895.

Ao pela

mesma

1881/87,

selecionarmos

autora,

(Tabela

com

12,

os

relação

aos

pág.

121)

à

dados anos

apresentados de

anos

1872/80

próximos

e ou

coincidentes com o segundo período do nosso estudo, temos: 1872/80

-

"73,33%

escravos,

11,67%

senhores

possuíam

dos

senhores

detinham mais

de

entre 30

detinham 6

a

escravos

10

entre

1

escravos.

(...).

No

e

5

Dois

último

subperíodo fixado [1881/87], (...) 83,32% dos proprietários detinham de 1 a 10 escravos", 6,66% mantinham de 11 a 20 cativos, 3,33% possuíam entre 21 e 30, e o restante 3,33% tinham um grande plantel acima de 41 escravos."183

183

MELLO, Z. C. de. op. cit., p.107, nota 28.

105

OS ESCRAVOS E OS PREÇOS

Durante

o

século

XIX,

vários

fatores

influenciaram as alterações dos preços do ítem escravos, dentre os quais citamos: em 1850 proibiu-se a importação de escravos africanos; Lei do Ventre Livre de 28 de setembro de 1871; aprovação pela Assembléia Provincial de São Paulo em 1881, o imposto de 2:000$ sobre novos escravos averbados na

província;

Lei

dos

Sexagenários

em

1885,

vindo,

a

seguir, em 1888, a abolição da escravatura. Segundo Mircea BUESCU o aumento dos preços dos escravos, antes de 1850, "foi efeito da procura. Numa sociedade escravocrata não se podia imaginar outra solução que

não

a

principal

da

mão-de-obra

"foi

do

lado

escrava".

da

oferta

-

Após e

1850,

deve

a

ter

causa sido

o

período mais crítico. (...) Depois do impasse criado pela abolição [do tráfico], os preços dos escravos não acusam mais altas substanciais."

O menor crescimento do

preço do

negro escravizado, na segunda metade do século XIX, teria algumas hipóteses: l) o preço do escravo deveria estar em harmonia

com

o

produto

que

dele

tira,

pois

uma

super

valorização inviabilizaria a utilização dessa mão-de-obra; 2)

"a

elevação

vegetativo substituição 184

da

da

taxa

população do

de

crescimento

escrava";

trabalhador

escravo

BUESCU, Mircea. História econômica do Brasil: Rio de Janeiro: APEC, 1970, p.247-49.

106

3)

demográfico "a

paulatina

pelo

livre".184

pesquisas e análises.

Provavelmente

a

explicação

está

na

interrelação

dessas

hipóteses. No nosso estudo, os preços dos escravos nos interessam se inseridos dentro de cada período estudado, possibilitando-nos perceber a participação relativa deste bem

no

total

alteração

dos

da

riqueza

preços

dos

dos bens,

proprietários. ocorrida

Sabendo

durante

todo

da o

século XIX frente a toda sorte de influências, os preços nominais não serão comparados em outros períodos, senão nos dois determinados por nós. No decorrer do primeiro período - 1822/30 houve uma valorização apreciável do item escravos (Tabela 13,

à

pág.

125).

O

preço

médio,

somados

os

escravos

masculinos e femininos, passava de 149$000 para 331$200, tendo um acréscimo de 122%. Considerando ainda os preços médios, a variação anual mínima foi de 2,2% ocorrida entre 1822 e 1825; entre 1825 e 1826 houve um decréscimo de 10%, quando os preços encontrados foram de 152$347 e 137$142, respectivamente. Entre os anos 1826/27 houve a maior das valorizações: 36,1%; em 1826, um escravo valia em média 137$142 e em 1827 passou a valer 186$666; a partir daí houve uma valorização praticamente estável em torno de 16% e 17%, mas, entre 1829 e 1830 ocorreu nova alta surgindo um Sobre o crescimento vegetativo da população escrava ver: LUNA, Francisco Vidal, CANO, Wilson. A reprodução natural de escravos em Minas Gerais (Século XIX) - uma hipótese. In: Economia escravista em Minas Gerais. Cadernos IFCH - UNICAMP, nº 10. Campinas, out., 1983.

107

crescimento

de

29,7%

nos

preços,

e

em

1830

foi

que

encontramos o maior valor do período, ou seja, 331$200.

Tabela 13 Valor médio dos escravos por ano (masculino + femininos) 1822/30 e 1875/85 1º Ano 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830

Fonte:

Período: 1822/30 Valor Médio 149$000 152$347 137$142 186$666 218$638 255$333 331$200

1º Período: 1875/85 Ano Valor Médio 1875 985$714 1876 625$000 1877 781$818 1878 966$474 1879 837$173 1880 1.471$428 1881 598$333 1882 1.010$400 1883 700$000 1884 322$000 1885 548$000 AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30 e cx. 27 a 32 - 1875/85.

Durante

o

segundo

período

-

1875/85

-

(Tabela 13) o preço dos escravos não sofreu uma valorização continuada. Na verdade, os preços oscilaram "para cima" e "para baixo" ano a ano. Ao

utilizarmos

a

média

unificada

-

considerando escravos masculinos e femininos, verificamos que este bem, no ano de 1875, valia 985$714, terminando 1885 com o preço de 548$000, havendo uma depreciação de 55,6%. Ressaltmos, nos entanto, que nos anos intermediários do período em questão, os preços atingiram o seu pico, pois

108

em

1880

um

escravo

chegou

a

ter

o

preço

médio

de

aproximadamente, um conto e quinhentos mil réis. Em função das variações bruscas encontradas nos

preços,

que

decorrer

do

período,

é

que

faremos

a

análise dos dados ano a ano. Ao compararmos os preços empregados nos dois primeiros

anos

do

segundo

período,

percebemos

uma

queda

igual a 63,5%, quando os valores passaram de 985$714 para 625$000. A partir daí, os preços reagiram até 1880 com as seguintes variações: entre 1876 e 1877: +25%; entre 1877 e 1878: +23,6%; entre 1878 e 1879: ocorreu uma queda de 13,4%.



variação

entre

positiva

1879 foi

e

de

1880

os

75,7%.

preços

Em

1880

dispararam, o

preço

de

a um

escravo atingiu a cifra de 1:471$428. Lembramos que, no momento,

trabalhamos

com

preços

médios,

pois

em

valores

unitários, neste mesmo ano, um escravo do sexo masculino chegou a ser avaliado em 2:000$000 (vide adiante análise dos

preços

mínimos

e

máximos).

Seguindo

as

entre os anos de de 1880 e 1881, a tabela nos

mostra

uma

queda

vertiginosa

de

comparações,

13 à pág. 125

-59,4%

atribuídos aos cativos. Logo em seguida

-

nos

valores

1881/82

-

os

preços reagiram e apresentaram o resultado de +68,9%. O preço médio voltou a superar um conto de réis, atingindo exatamente

1:010$400.

Daí

em

diante

ele

não

atingiu

os

valores de 1880. Entre 1882 e 1883, houve nova queda nos preços, ficando os mesmos em torno de -30,8%. A tendência de

queda

persistiu

entre

1883/1884, 109

com

uma

porcentagem

ainda maior:

-46,0%. Em 1883 um escravo valia em média

700$000 e em 1884

322$000. Entre os dois últimos anos do

período em questão - 1884/85 - a tendência se inverteu, houvendo

um

crescimento

de

70%.

Sendo

a

abolição

da

escravatura uma questão de tempo, ninguém queria empregar o capital que seria confiscado, daí a queda nos preços. Os preços dos escravos encontrados na região de

Franca

pesquisa

não

diferiram

realizada

por

muito

daqueles

Mircea

identificados

BUESCU,

em

na

anúncios

classificados do Jornal do Commércio do Rio de Janeiro. Esse autor encontrou, em 1835, um preço médio de escravos em torno de 367$000, e em 1875 de 1:181$000.

110

OS PREÇOS DOS ESCRAVOS DISTINGUINDO OS SEXOS

Ao preços

médios

percebemos

analisarmos

do

item

diversas

as

variações

escravos,

anuais

distinguindo

modificações

em

dos

os

sexos,

à

média

relação

unificada. Com

relação

ao

preço

médio

do

elemento

masculino, no primeiro período do estudo (Tabela 14 à pág. 129), que no ano de 1822 era 173$888, passou para 360$769 em 1830, indicando a maior variação encontra, 107,4. As variações foram da seguinte ordem: entre 1822-25 houve uma retração de 3% no preço, conhecendo os valores passou de 173$888

para

168$615.

Entre

1825-26

aconteceu

retração, ficando a mesma em 23% e foi no ano de 1826 o

preço

médio

contrapartida, 1827-28,

atingiu

sua

comparando-se

encontramos

uma

menor os

marca:

preços

variação

que

130$000.

entre

crescente

nova

Em

1826-27 de

36,3%

e e

29,%, respectivamente; entre os anos de 1828-29 os preços voltaram a cair em torno de 20,6%, em 1829 o preço médio de um

escravo

chegava

a

182$000.

A

recuperação

se

deu

rapidamente, como é possível perceber pela comparação entre os anos de 1829-30, quando os preços reagiram em torno de 98,2%. No final do período, um escravo masculino valia em média 360$769.

111

Tabela 14 Valor médio dos escravos por ano Masculinos / Femininos 1822 - 1830 ANO 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 Fonte:

VALOR MÉDIO Masculino Feminino 173$888 111$666 168$615 131$200 130$000 150$000 177$142 195$000 229$211 204$500 182$000 293$000 360$769 299$166 AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 02 a 04 - 1882/30

No mesmo período os preços das escravas são distintos dos escravos. Para o componente feminino o preço médio aplicado, em 1822, era de 111$666, sofrendo uma alta de 168% até 1830, quando o mesmo passou para 299$166. As variações positivas nos preços anuais foram contínuas, como passamos a revelar: entre 1822-25: 17,5%; 1825-26: 14,3%; 1826-27: 30%; 1827/28: 5,0%; 1828-29: 43,2%; e, finalmente, entre 1829-30 houve uma variação de apenas 2,1%. O subperíodo com maior valorização foi o de 1822

l827, quando

os preços médios passaram de 111$666 para 195$000, com um crescimento de 74,6%. Durante todo o período em estudo, enquanto os preços médios dos escravos do sexo masculino oscilavam, escravas tiveram somente variações positivas. Se

compararmos

apenas

os

anos

de

1822

e

1827, notaremos que os preços dos escravos masculinos são 112

quase

equivalentes:

173$000

e

177$142,

respectivamente.

Nesses mesmos anos, os preços das escravas dispararam de 111$666 para 195$000, ocorrendo um crescimento de 74,6%. É 1827

e

1829

os

em

15%,

escravos anos,

os

importante

preços

notar

que

nos

anos

preços

das

escravas

10%

e

60%,

respectivamente.

dos

escravos

do

de

superaram

sexo

1826,

os

Em

dos

outros

masculino

foram

superiores, tendo começado o período (1822) valendo 35,7% mais

que

as

mulheres,

e

terminaram

(1830)

com

preços

superiores em 17%. Os preços dos escravos, tabulados em nossa pesquisa, são inferiores aos descritos por Roberto Borges MARTINS,

referentes

a

primeira

metade

do

século

XIX,

quando assinala que "fontes mineiras contemporâneas afirmam que, em 1810, não se podia comprar um escravo por menos de 240

a

280

mil-réis,

enquanto

uma

amostra

de

vendas

de

cativos no Rio de Janeiro, entre 1807 e 1812, fornece os preços médios de 145 mil-réis para os homens e de 123 milréis

para

as

mulheres.

A

'Saint

John

del

Rey

Mining

Company' se dirigia sistematicamente ao mercado do Rio de Janeiro pra suas maiores compras de escravos, na década de 1830 e no início da década de 1840. E tinha boas razões para fazê-lo: em 1835, a empresa comprou um lote de 42 cativos no Rio a 500 mil-réis cada, enquanto l7 outros comprados na vizinhança de Morro Velho custaram em média 574 mil-réis. Noventa escravos adquiridos no Rio em 1839 custaram 478 mil-réis em média, ao passo que o preço de 36 113

cativos comprados na própria região da mina custaram 600 mil-réis por cabeça em 1841."185 Apesar dos dados divulgados por MARTINS não coincidirem

com

os

registrados

em

nossa

pesquisa,

percebemos um aumento no preço dos cativos, no decorrer da primeira

metade

do

século

XIX,

tendência

também

identificada na década de 20, na região de Franca. A

tabela

15

à

página

132,

referente

ao

segundo período, nos mostra constantes variações no preço médio do elemento masculino. O preço dos escravos no início do período, no

ano

de

em 1875 era de 1:300$000, caindo para 750$000 1885.

O

valor

final

passou

a

ser

57,6%

do

inicial, tendo uma desvalorização de 42,4%.

185

MARTINS, Roberto Borges. Minas Gerais, século XIX: tráfico e apego à escravidão numa economia não-exportadora. Estudos Econômicos. v.13, n.1, p.181-209, jan./abr., 1983, p. 185

114

Tabela 15 Valor médio dos escravos por ano Masculino / femininos 1875 - 1885 ANO

VALOR MÉDIO Masculinos Femininos 1875 1:300$000 640$000 1876 650$000 600$000 1877 850$000 750$000 1878 1:216$752 541$000 1879 916$551 701$764 1880 1:760$000 750$000 1881 520$000 637$500 1882 1:337$500 708$461 1883 800$000 600$000 1884 410$000 190$000 1885 750$000 413$333 Fonte: AHMF - Processos de Inventário - 2º Ofício Cível, cx. 27 a 32 - 1875/85.

Ano a ano ocorreram variações positivas e negativas nos preços dos escravos, com oscilações as mais variadas,

como

apresentados.

pudemos

Se

constatar

compararmos

os

pelos

anos

de

dados 1875

e

já 1876

perceberemos uma queda considerável de 50%, nos preços do sexo

masculino

que

passaram

de

1:300$000

para

650$000.

Entre os anos de 1876 e 1878 houve uma ascendência nos preços, basta observarmos a comparação entre os anos de 1876

e

1877

para

visualizarmos

uma

reação

positiva

nos

preços da ordem de 26,1%, de 650$000 subiram para 820$000. Entre 1877 e 1878 ocorreu nova valorização da ordem de 48,3%, subindo de 820$000 para 1:216$752. A partir de 1878 até

1885

os

preços

sofreram

acréscimos

e

decréscimos

anuais. Ao compararmos os anos de 1878 e 1879 é visível a 115

queda de 24,6%. Em 1880, há registro do maior preço médio entre

os

escravos

masculinos:

1:760$000,

quando

no

ano

anterior seu preço era de 916$551. Esse valor tão alto nos revelou

um

acréscimo

de

91,9%,

e,

posteriormente,

não

tivemos alta tão significante até o final do período. Entre 1880 e 1881, o preço baixou para 520$000, ocorrendo a maior queda: 70,4%. Os preços voltaram a reagir no ano de 1882, quando os cativos declarados nos inventários tinham o valor de 1.337$500, valendo mais 157% que no ano anterior (1881). Entre 1882 e 1883 o bem escravo teve uma desvalorização de 40,2%, sendo que no último ano o preço foi de 800$000. No ano

de

cativo

1884

registramos

atingiu

nova

410$000,

queda,

sofrendo

quando

uma

o

preço

do

desvalorização

de

48,7%. Entre os últimos dois anos do período (1884/1885), os preços reagiram em 82,2%, passando o escravo masculino a valer, em média, 750$000. Ainda voltamos

nossa

componente 640$000,

com

base

atenção

feminino, caindo

para

em

para

na os

1875,

tabela preços tinha

413$333,

em

15

à

das como

1885,

pág.

132,

escravas. preço

ou

O

médio

seja,

uma

depreciação de 35,4%. Excetuando o ano de 1884 quando o preço "cima"

médio e

foi

para

190$000,

"baixo"

nos

foram

demais,

as

variações

para

menores,

se

comparados

aos

preços dos escravos do sexo masculino. O maior preço para uma

escrava

750$000.

De

foi 1875

encontrado para

1876

nos o

anos preço

de

1877

mostrou

e

1880:

uma

queda

mínima: 6,2%. Se compararmos 1876 e 1877, quando os preços 116

eram 600$000 e 750$000, respectivamente, verificamos uma variação positiva de 25,0%. A seguir, em 1878, veio uma queda de

-27,8%, passando uma escrava a valer em média

541$000. Entre 1878/79 a queda inverteu-se no sentido da valorização:

29,7%.

Comparando

1879/80

veremos

que

a

tendência de aumento persiste, pois de 701$764 o preço da escrava foi para 750$000, ou seja, +6,9%. No ano de 1881 o preço do elemento feminino regride para 637$500, uma queda de -15,0% em relação ao ano anterior e observando os anos de 1881 e 1882, verificamos que houve um crescimento de 11,1%; neste último ano o valor atribuído a uma escrava passou para 708$461, em média. De 1883 para 1884 a queda foi

vertiginosa,

pois

entre

1882

e

1883

tivemos

uma

desvalorização da ordem de 15,3%. Neste último ano, uma escrava valia 600$000 passando para 190$000 em 1884, ou seja -68,3% em relação ano anterior. Entre os últimos dois anos pesquisados, 1884/85,

o mercado sofreu uma reação da

ordem de +117,8%, isto é, os preços que eram de 190$000 subiram para 413$333, mas mesmo assim ficou inferior ao atribuído no início do período. Apenas no ano de 1881 o preço do elemento feminino superou o masculino; época em que o primeiro valia 520$000 e o segundo 637$500. Nos demais anos os preços dos escravos

do

sexo

masculino

foram

consideravelmente

superiores aos das escravas. A desvalorização

dos

coincidência preços,

não 117

entre nas

valorização

mesmas

e

porcentagens,

ocorreu nos anos de 1876, 1877, 1880, 1882, 1883, 1884 e 1885. A análise das variações anuais de preços dos escravos

para

nós

necessariamente,

o

valiosa,

montante

modificações

decorrentes

flutuações

do

envelhecimento

de

das

da

plantéis,

indica

fortunas

várias

mercado dos

pois

passava

razões,

entre

mão-de-obra doenças

que,

que

por elas:

escrava,

atingiam

os

cativos depreciando-os, ou ainda a inserção de crianças e adolescentes no processo produtivo. Ao pesquisados referente diferenças

com

a

compararmos aqueles

cidade no

que

do

os

preços

apresentados Rio

de

tange

às

dos

por

Janeiro,

inventários

Mircea

BUESCU186

respeitadas

atividades

as

econômicas,

percebemos que o preço dos escravos masculinos são quase equivalentes: Preço médio do escravo - masculino (1875): Nordeste paulista:

1:300$000

Rio de Janeiro:

1:256$000



a

escrava

na

Capital

do

Império

tinha

preço consideravelmente superior à região em estudo: Preço médio do escravo - feminino (1875): Nordeste paulista: Rio de Janeiro:

186

640$000 1:181$000

BUESCU, Mircea. História econômica do Brasil: pesquisas e análises. APEC: Rio de Janeiro, 1970.

118

Não

havia

muito

distanciamento

entre

os

preços médios da região de Franca (principalmente àquele relativo ao ano de 1877: 820 mil-réis) com os apresentados por

MARTINS,

referentes

ao

"preço

médio

dos

escravos

libertados pelo Fundo Imperial de emancipação" entre 18751880, para as seguintes Províncias: São Paulo - 954 milréis, Rio de Janeiro - 887 mil-réis, Minas Gerais - 976 mil-réis, e para a região Sul - 784 mil-réis.187 Ainda com intuito de compararmos os preços dos escravos do Nordeste paulista com os de Minas Gerais, apresentamos

outro

relevante

comentário

de

MARTINS:

"em

dezembro de 1880, a Assemblélia Provincial de Minas Gerais, temendo

que

a

excessiva

concentração

dos

escravos

no

Centro-Sul pudesse alienar o apoio do resto do Império à instituição servil, aprovou lei impondo severas restrições à importação de cativos. Cada escravos trazido de outra província para Minas foi taxado em dois contos de réis (mais do que o preço de mercado de um jovem escravo adulto do sexo masculino) enquanto o imposto sobre a venda

de

escravos e a licença para esse comércio foram aumentados."188

187 188

MARTINS, Roberto Borges. op. cit. p.203, nota 32. Idem, p. 205

119

A IDADE DOS ESCRAVOS

Os escravos foram divididos em três grandes grupos segundo a idade: 0-15, 16-40 e mais de 40 anos. As idades atribuídas ao agrupamento ora realizado eqüivalem ao período

de

vida

do

cativo

em

que

lhe

foram

atribuídos

valores mais ou menos homogêneos pelos avaliadores. Foram considerados também os fatores de risco do investimento e a produtividade esperada pelos proprietários no trabalho dos cativos;

"crianças

apresentando

maior

risco

e

os

velhos

menor expectativa de rendimento valiam menos relativamente aos

escravos

em

idade

ativa,

prontos

para

trabalhar",

geralmente aqueles do grupo de 16 a 40 anos. Com relação ao primeiro grupo - 0-15 anos - há que se ponderar que "os custos

de

manutenção

e

alimentação

incorridos

até

que

pudessem começar a produzir deveriam ser considerados; é bem possível que não fossem objeto de comércio, subordinada sua presença ao nascimento ou à compra de escravas com seus filhos"189 A princípio, a análise engloba tanto cativos masculinos quanto femininos, para, em seguida, confrontar o peso proporcional entre os dois sexos. A tabela 16 à pág. 138 nos mostra que 25,7% do total dos escravos do primeiro período possuíam entre 015 anos, indicando um alto índice de natalidade, sendo que, 189

MELLO, Zélia Cardoso de. op. cit., p.16, nota 27.

120

deste grupo, 19,3% deste grupo encontravam-se na faixa de 0-10 anos. O grupo intermediário, 16-40 anos, contava com 47,9% do total de cativos, sendo sem dúvida o grupo com maior

quantidade

de

indivíduos.

Dentro

deste

grupo,

a

maioria (38,9%) encontrava-se na faixa de 16-30 anos de idade.

Aqueles

incluídos

no

subgrupo

31-40

anos

somavam

apenas 9,0%.

O restante, incluído no grupo de "mais de 40 anos", era apenas 14,7% do total. Destes, 11,9% estavam no subgrupo 41-60 anos. Acima dos 60 anos havia uma pequena minoria, ou seja, 3,1%. É necessário esclarecermos que nos inventários não foi declarada a idade de 11,7% dos cativos. Tabela nº 16 Distribuição dos escravos segundo a faixa etária (masculinos + femininos) Faixas Etárias 1822/1830 1875/1885 0 - 15 25,7% 16,7% 16 - 40 47,9% 50,8% 41 e + 14,7% 19,7% Não declarado 11,7% 12,5% TOTAL 100,0% 100,0% Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 1822/30 e cx. 27 a 32 - 1875/85.

A população de escravos com idade de até 15 anos, na região em análise, era inferior àquela encontrada por Horário GUITIÉRREZ na área onde atualmente se situa o atual estado do Paraná. No período compreendido entre 1800121

1830, a população de cativos dentro desta faixa etária, inserida

numa

"economia

seguintes

porcentagens

não-exportadora",

em

relação

aos

atingiu

demais

as

escravos:

1810: 39,8%; 1824: 39,6%; 1836: 37,0%.190

Nosso dados referentes à idade dos escravos de 0-15 aproximam-se daqueles mostrados por LUNA e COSTA, em algumas localidades de São Paulo, do início do século XIX

(1804),

época

"em

que

havia

um

contingente

relativamente alto de senhores de engenho", as porcentagens para essa faixa etária eram as seguintes: Campinas: 28,0%; Guaratinguetá: estudadas

29,9%;

pelos

Itú:

mesmos

21,5%.

Em

outras

autores,

com

localidades as

mesmas

características econômicas, as porcentagens do contingente 0-15

eram

mostramos,

superiores a

seguir

aos -

da

região

Iguape:

de

41,9%,

Franca,

Jacareí:

como 39,8%;

Lorena: 35,0%; Mogi das Cruzes: 33,7%; São Sebastião: 32,5% e Sorocaba: 33,5%.191 Em relação ao segundo período a tabela 16 à pág. 138 nos mostra que 16,7% do total de escravos tinham entre

0-15

anos,

sendo

que

10,7%,

quase

a

maioria,

encontravam-se na faixa entre 0-10 anos.

190

GUTIERREZ, Horácio. Demografia escrava numa economia não-exportadora: Paraná, 1800-1830. Estudos Econômicos. São Paulo, v.17, n.2, p.297-3l4, mai./ago., 1990.

191

LUNA, Francisco Vidal, COSTA, Iraci del Nero da. Posse de escravos em São Paulo no início do século XIX. op. cit., nota 18.

122

Na estavam

50,8%

faixa

dos

intermediária

escravos,

com

a

-

16-40

seguinte

anos

-

subdivisão:

37,1% tinham entre 16 e 30 anos de idade e o restante, 13,7%, entre 31 e 40 anos. Na última faixa, + de 40 anos, enquadravamse 19,7% do total dos escravos. Destes, 15,5% tinham entre 41 e 60 anos. Acima dos 60 anos encontramos apenas 4,2% deles. Nos inventários desse período não foram declaradas as idades de 12,5% dos escravos. Comparando-se os dois períodos notamos que houve da

diminuição do contingente infantil

população

mais

porcentagem

da

encontravam-se

idosa, faixa

os

e

mantendo-se

quase

intermediária,

indivíduos

em

crescimento estável

aquela

idade

de

a

onde maior

produtividade. Ao

somarmos

os

escravos

registrados

nos

inventários (Tabela nº 17 à pág. 141) obtivemos um total de 155

escravos

(56,7%)

e

67

no

primeiro

femininos

período,

(43,3%).

No

sendo

88

segundo

masculinos período,

o

montante de escravos descritos nos documentos não foi tão superior: 167, sendo 92 masculinos (55,0%) e 75 femininos (45,0%). Há que se notar que em ambos os períodos havia uma supremacia masculina. Não houve na região, no decorrer do século

XIX,

segundo

nossos

levantamentos,

uma

variação

expressiva nos pesos dos dois segmentos, houve sim quase que uma coincidência nas porcentagens destinadas a ambos os sexos. 123

Tabela nº 17 Distribuição dos escravos segundo os sexos Sexos

1822/30 1822/30 Quant. % Quant. % MASC. 88 56,7% 92 55,0% FEM. 67 43,3% 75 45,0% 155 100,0% 167 100,0% Totais Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30 e cx. 27 a 32 - 1875/85.

Ao inventários

somarmos

(Tabela



os

17)

escravos

obtivemos

registrados um

total

de

nos 155

escravos no primeiro período, sendo 88 masculinos (56,7%) e 67 femininos (43,3%). No segundo período, o montante de escravos

descritos

nos

documentos

não

foi

tão

superior:

167, sendo 92 masculinos (55,0%) e 75 femininos (45,0%). Há que se notar que em ambos os períodos havia uma supremacia masculina. Não houve na região, no decorrer do século XIX, segundo nossos levantamentos, uma variação expressiva nos pesos

dos

dois

segmentos,

houve

sim

quase

que

uma

coincidência nas porcentagens destinadas a ambos os sexos.

124

Tabela nº 18 Distribuição dos Escravos segundo as faixas etárias e os sexos (em porcentagem) Faixas Etárias 0 - 15 16 - 40 41 e + Não Declarado

1822 / Masc. 23,8 45,5 17,0 13,7

1830 Fem. 28,3 50,7 12,0 9,0

1875 / Masc. 21,2 45,7 19,5 13,0

1885 Fem. 10,7 57,3 20,0 12,0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30 e cx. 27 a 32 - 1875/85.

Conforme a tabela nº 18, no período 1822/30, 23,8% dos escravos masculinos encontravam-se no primeiro grupo de 0-15 anos; destes, 18,3% tinham entre 0-10 anos. No segundo grupo de 16-40 anos, encontravam-se a maioria dos

cativos:

45,5%.

Dentro

deste

mesmo

grupo,

36,3%

pertenciam à faixa de 16-30 anos. Os outros 9,1% restantes estavam incluídos com aqueles que tinham entre 31-40 anos. O último grupo de 41 anos em diante era composto de 17% do total de cativos. Ao dividirmos este último segmento em subgrupos, notamos que 12,5% tinham entre 41-60 anos e os demais, 4,5%, inventários

acima de 60 anos de idade. Não consta nos

estudados

a

idade

de

13,7%

do

contingente

masculino. No segmento feminino, o grupo de 0-15 anos englobava

28,3%

encontravam-se

na

das

escravas.

idade

entre

Deste 0-10

grupo,

anos.

No

19,3% grupo

intermediário, 16-40 anos, estavam 50,7%, ou seja, mais da metade de todo o segmento feminino. Neste grupo percebemos 125

que a faixa de idade correspondente a 16-30 anos absorvia 41,7%, enquanto que o restante, 31-40 anos, somava somente 9,1%. O contingente feminino, incluído no grupo de "mais de 4l anos" contribuía com 12% do total. Os dados confirmaram que

o

subgrupo

41-60

anos

era

constituído

por

10,5%,

ficando somente 1,5% para os de idade mais avançada. Não há declaração de idade de 8,9% das escravas na documentação consultada. Quanto ao segundo período, no que se refere ao segmento masculino, considerando os grandes grupos de idades, os dados foram quase que coincidentes com os do primeiro período. As diferenças ocorreram somente quando analisamos as porcentagens distintas dentro de cada grupo. No

grupo

0-15

retirando

daí

anos

encaixavam-se

aqueles

que

21,2%

possuíam

dos

entre

escravos 0-10

e

anos,

obtivemos 13,1%, sobrando apenas 8,7% para a faixa entre 11-15 anos. No segundo grupo, 16-40 anos, encontrava-se a maioria dos cativos masculinos: 45,7%, faixa praticamente idêntica aos números encontrados no no primeiro período. A maioria deste grupo, 30,4%, ficava entre 16-30 anos. Os outros 15,2% estavam incluídos na faixa de 31-40 anos. O último grupo de mais de 40 anos, continha 19,5% do total de escravos.

Ao

observarmos

os

subgrupos

deste

último

segmento, notamos que 15,3% tinham entre 41 e 60 anos e os demais 4,2% eram a parte idosa dos plantéis com idade acima de 61 anos. Não consta nos inventários a idade de 13,0% do contingente masculino. 126

Entre as escravas, a parte mais jovem, 0-15 anos, somava 10,7% do total. Deste grupo, 8,0% estavam na faixa de idade entre 0-10 anos. O grupo intermediário, 1640

anos,

englobava

57,3%

delas,

a

maioria

do

segmento

feminino. A faixa etária 16-30 anos somava 38,3%, enquanto o

restante,

31-40

anos,

contava

exatamente

com

12,0%

delas. No último grupo, de mais de 40 anos, ficavam 20,0% das escravas e o subgrupo 41-60 anos atingia 16,0%; aquelas com

mais

de

61

anos

somavam

4,0%.

Na

documentação

consultada não constava a idade de 12,0% das escravas.

A IDADE E OS PREÇOS DOS ESCRAVOS

Os variações

que

preços

entre

as

dos

escravos

diferentes

sofriam

faixas

muitas

etárias,

quer

dentro do mesmo grupo etário, como já vimos. Procurando entender tais variações, conheceremos os preços mínimos e máximos, e também os preços médios adotados, distinguindose os sexos. Os inventários, na grande maioria dos casos, não indicam as razões de avaliações com preços muito baixos ou

muito

altos

em

relação

à

média.

Quando



alguma

indicação, esta é no sentido de justificar os preços baixos fazendo referências às más condições físicas dos escravos: "doente da bexiga, doente da barriga, doente de uma perna, 127

doente de ar, quebrado de uma virilha, atacado do estômago, cego, mudo ou tolo". Mas nem sempre os escravos portadores de alguma enfermidade atingiam os menores preços, como é o caso da escrava Rosa, de 35 anos, "cega e com moléstia", avaliada por 60$000 no inventário de Maria Barbosa de Jesus iniciado

em

1826.

Na

mesma

faixa

etária

encontramos

escravas talvez com preços inferiores - 40$000, não havendo qualquer

descrição ou comentário a respeito de seu estado

de saúde.

128

Tabela 19 Distribuição dos escravos segundo as faixas etárias e os preços mínimos e máximos (masculinos e femininos) 1822 - 1830 Faixa Etária

MASC. FEM. Preço Preço Preço Preço Mínimo Máximo Mínimo Máximo 0 - 15 60$000 350$000 50$000 520$000 16 - 40 40$000 550$000 30$000 550$000 41 e + 45$000 200$000 22$000 180$000 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30.

De acordo com a Tabela 19, o menor preço encontrado entre o grupo de escravos do sexo masculino, durante o período de 1822/30, foi de 40$000 na faixa que compreendia 16-40 anos. Com relação aos cativos com mais de 40 anos o menor preço declarado foi de 45$000. Na primeira faixa,

0-15,

avaliado

por

o

escravo

60$000.

Os

com

preço

preços

mais

depreciado

máximos

ficaram

foi

entre

200$000 para aqueles com idade mais avançada, "+ de 40 anos", e 550$000 para os pertencentes à faixa dos 16 aos 40 anos. O preço máximo foi de 350$000 identificado no grupo dos mais jovens - 0-15 anos, do sexo masculino. No

contingente

feminino

deparamos

com

o

preço mínimo de 22$000 na faixa etária "+ de 40 anos"; preço

inferior

ao

encontrado

entre

os

homens

na

mesma

faixa. O preço de 30$000 ficou na faixa intermediária, 1640 anos. Entre os mais jovens constatamos o preço mínimo de 129

60$000. Os preços

máximos

encontrados nas três faixas

etárias foram os seguintes: 0-10 anos: 520$000, 16-40 anos: 550$000 e, na última + de 40 anos: 180$000. Tabela 20 Distribuição dos escravos segundo as faixas etárias e os preços mínimos e máximos 1875 - 1885 Faixa Etária

MASC. FEM. Preço Preço Preço Mínimo Máximo Mínimo 0 - 15 50$000 1:800$000 300$000 16 - 40 300$000 2:000$000 380$000 41 e + 30$000 1:600$000 30$000 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30.

Preço Máximo 1:000$000 1:100$000 900$000 2º Ofício

No segundo período (Tabela 20) identificamos o escravo José, que na época de sua avaliação tinha apenas cinco dias de vida recebendo o valor de 50$000; o menor preço inserido na faixa 0-15 anos. Na faixa seguinte,

16-

40 anos, anotamos várias avaliações no valor de 300$000 para o contingente masculino, sendo esta a avaliação mínima para este grupo. Nos outros, "+ de 41 anos", encontramos o preço mínimo de 30$000, porém tal quantia era praticada para os cativos mais idosos, com o caso do escravo José, de origem

africana,

casado,

que

em

1880

tinha

71

anos

aproximadamente. Os escravos avaliados pelas maiores quantias chegavam a valer 2:000$000, estando estes entre 16 e 40 anos de idade. O maior valor

encontrado na faixa dos 0-10

foi o de 1:800$000, para o sexo masculino. 130

Entre as escravas, os preços mínimos eram superiores aos dos escravos nas duas primeiras faixas e identico na última.

O menor

valor de uma escrava na faixa

0-10

300$000.

O

anos

situado

era

entre

de 16

a

40

anos

elemento

recebia

feminino

um

preço

adulto

mínimo

de

380$000. A maior desvalorização se aplicava às idosas em até 30$000. Em contrapartida, na última faixa, + de 41 anos, encontramos preços máximos que chegavam a 900$000. O maior preço encontrado ficou na faixa intermediária de 1640

anos:

1:100$000.

Na

primeira

faixa

a

escrava

melhor

avaliada atingiu a quantia de 1:000$000. Em confronto com os preços acima, a tabela 21 à pág. 149 nos apresenta os preços médios em relação às idades

dos

cativos,

distinguindo-se

períodos.

131

os

sexos,

nos

dois

Tabela 21 Distribuição dos escravos segundo as faixas etárias e os preços médios Ano 1822 - 1830 Faixa Masculinos Femininos Etária 0-10 149$210 210$526 16-40 280$128 250$857 41 e+ 119$461 80$200 Fonte: AHMF - Processos de Civel,cx. 02 a 04 - 1875/85.

1875 Masculinos

1885 Femininos

931$578 738$888 1:258$251 764$000 4494375 307$142 Inventário, 2º Ofício 1822/30 e cx. 27 a 32

No primeiro período, os escravos masculinos na idade de 0-15 valiam em média 149$210, 30% menos que o preço do elemento feminino, que era de 210$526. Na faixa etária

intermediária

a

relação

de

valores

se

invertia.

Entre 16-40 anos um escravo valia 280$128, enquanto o preço da escrava era menor, 250$857. Comparando esses dados, os homens

eram

Acima

dos

mais 41

valorizados

anos,

os

que

preços

as

mulheres

entravam

em

em

10,4%.

declínio,

principalmente entre as escravas. Os homens tinham o preço de médio 32,8% maior que das mulheres; pois eles valiam 119$461 e elas 80$200. No faixas

etárias

os

segundo

preços

dos

período, escravos

em do

nenhuma sexo

das

feminino

superaram os do masculino. Foram superiores na faixa 0-10 anos

em

20,6%,

quando

um

escravo

valia

931$578

contra

738$888 do valor de uma escrava; na faixa 16-40 anos, o índice foi de 39,1% valendo um escravo 1:258$251 e uma 132

escrava 764$000; e na faixa + de 40 anos a porcentagem chegou a 31,6%, pois os cativos masculinos tinham valores médios de 449$375 e os femininos de 307$142. A exemplo do primeiro

período,

os

preços

despencaram

entre

os

mais

velhos.

OS ESCRAVOS E O TAMANHO DOS PLANTÉIS

Quanto

à

distribuição

dos

escravos

pelas

faixas etárias relacionando-as com as faixas de tamanho dos plantéis, no primeiro período - 1822/30, a tabela 22 à pág. 152

nos

escravos;

evidencia com

6

a

o 10

seguinte: e

acima

em de

plantéis 10,

não

com

1

havia

a

5

grande

variação de porcentagem entre os mesmos na faixa etária 015 anos, correspondendo a: 33,3% (1 a 5); 30,4% (6 a 10) e 29,0% (acima de 10 escravos). Porém, em números absolutos, ainda na faixa etária 0-15 anos, detectamos grandes variações, a saber:

o

grupo de plantéis constituídos de 1 a 5 escravos tinha um total de 15 cativos. A maior quantidade deles (21 unidades) pertencia

ao

grupo

de

plantéis

constituídos

de

6

a

10

escravos. A menor quantidade de crianças, em número de 4, estava nos maiores plantéis, os que possuíam acima de 10 escravos. Tal tendência se explica pelo fato de a grande maioria dos plantéis (93,4%) ser constituída de 1 a 10 escravos, destes, 73,4% tinham entre 1 e 5 cativos e o 133

restante, 20,0%, tinha de 6 a 10. Somente 6,6% dos plantéis mantinham uma variação de 11 a 20 escravos, tendência que também

vai

interferir

nas

análises

seguintes.

(com

referência a quantidade de escravos por proprietário vide tabela 11, à pág. 114) Nos porcentagem etária

maior

plantéis de

com

cativos

1

a

estava

5

escravos

inserida

na

a

faixa

16-40 anos, onde eram considerados mais produtivos:

62,2% ou 28 unidades. Os outros grupos com 6 a 10 e acima de

10

escravos

tinham

as

seguintes

porcentagens

de

indivíduos em cada faixa etária: 50,7% ou 35 unidades e 54,3% ou 12 unidades, respectivamente. Nos

menores

plantéis,

com

1

a

5

cativos,

encontramos uma pequena porcentagem de indivíduos, todos com idade acima de 40 anos: 4,5% ou apenas 2 escravos, destoando

dos

outros

dois

grupos

que

tinham

l8,9%

(13

unidades) e 16,7% (8 unidades) de escravos dentro desta mesma faixa etária.

134

Tabela nº 22 Distribuição dos escravos segundo faixas etárias e faixas de tamanho dos plantéis 1822/30 Faixas Etárias dos Escravos Tama-

0 - 15 anos

nho

16 - 40 anos

+ de 40 anos

TOTAIS

dos plantéi s Nº de escravos

M

F

T

%

M

F

T

%

M

F

T

%



%

8

7

15

33,3

13

15

28

62,2

1

1

2

4,5

45

100,0

11

10

21

30,4

20

25

35

50,7

7

6

13

18,9

69

100,0

1

3

4

29,0

7

5

12

54,3

5

3

8

16,7

24

100,0

1 a 5 escravos 6 a 10 escravos +

de

10 escravos

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30.

135

O pág.

154),

segundo

não

período

demonstrou

-

1875/85

grande

(tabela

variação

23

quanto

à à

quantidades de escravos dentro de cada grupo de plantéis. O primeiro grupo, com 1 a 5 escravos,

tinha ao todo 45

cativos; no segundo com 6 a 10 escravos, totalizavam 52, e no último grupo, com mais de 10 escravos, havia 46 cativos. Isso

indica

que

as

números absolutos,

porcentagens

são

mais

próximas

dos

e não destoam tanto quanto no primeiro

período. No

segundo

período,

a

medida

em

que

aumentava a quantidade de escravos por plantel aumentava também o número de indivíduos com idade entre 0-15 anos. O grupo de plantéis com maior número de indivíduos na faixa de

entre

0-15

anos

era

constituído

escravos", cuja porcentagem

com

"mais

de

10

foi de 28,3% (13 cativos). O

grupo de plantéis constituídos com 6 a 10 cativos tinha 17,3% de indivíduos (9 cativos) na citada faixa etária. O grupo com menor número de escravos na fiaxa etária de 0-15 anos era justamente o grupo formado de pequenos plantéis, com 1 a 5 escravos: 12,5% (6 cativos). Ao etária

16-40

anos

analisarmos a

as

tendência

porcentagens

da

faixa

inverteu.

Havia

mais

se

escravos dentro desta faixa de idade, com dando

uma

porcentagem

números estão

de

64,6%

ou

3l

1 e 5 cativos, unidades.

Esses

muito próximos dos plantéis constituídos com

6 a 10 escravos: 63,5% ou 33 unidades. Localizamos a menor 136

porcentagem (45,7% ou 21 individuos) nos plantéis formados por mais de 10 escravos. Nossos dados apresentam um equilíbrio, pelos menos numérico, entre os grupos de plantéis com escravos com mais de 40 anos. O primeiro grupo de plantéis com 1 a 5 escravos tinha 22,9% ou 11 cativos na citada faixa etária; o segundo grupo com 6 a 10 escravos, tinha 19,2% ou 10 indivíduos e o terceiro grupo de plantéis, com mais de 10 escravos,

tinha

um

conjunto

de

26,0%.

137

12

indivíduos,

ou

seja,

Tabela nº 23 Distribuição dos escravos segundo faixas etárias e faixas de tamanho dos plantéis 1875/85

Faixas Etárias dos Escravos Tama-

0 - 15 anos

nho

16 - 40 anos

+ de 40 anos

TOTAIS

dos plantéi s Nº de escravos

M

F

T

%

M

F

T

%

M

F

T

%



%

3

3

6

12,5

15

16

31

64,6

7

4

11

22.9

45

100,0

8

1

9

17,3

19

14

33

63,5

4

6

10

19.2

52

100,0

9

4

13

28,3

8

13

21

45,7

7

5

12

26,0

46

100,0

1 a 5 escravos 6 a 10 escravos +

de

10 escravos

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 27 a 32 - 1875/85.

138

O ESTADO CIVIL DOS ESCRAVOS

Os

inventários

referentes

ao

primeiro

período pesquisado revelaram poucos dados sobre o estado civil

dos

escravos sobre

cativos.

Omitem

o

estado

civil

de

92,9%

dos

(masculinos e femininos) e há referência somente

7,1%

deles,

sendo

que

apenas

2,6%

descritos

como

casados e 4,5% solteiros. Ao

separarmos

os

escravos

por

sexo,

observamos que 93,2% dos masculinos aparecem sem referência quanto

ao

estado

consta

somente

civil.

que

Do

total

somente

2,3%

de

cativos

eram

masculinos

casados

e

4,5%

solteiros. Entre elementos femininos, os dados também são escassos, sobre

a

ou

seja,

92,5%

formalização

das

não

possuem

uniões

somente 3,0% eram casadas e 4,5%

qualquer

conjugais.

refência

Consta

que

solteiras, não havendo

qualquer referência sobre a viuvez. Em segundo

período

compensação, nos

trazem

os uma

dados idéia

inerentes aproximada

famílias escravas constituídas formalmente.

ao das

Do total de

cativos (masculinos e femininos), 15,6% foram declarados casados; mais da metade (55,0%) solteiros; e 3,6% viúvos. O restante (25,8%) não apresentava qualquer indicação sobre o estado civil. Ao

considerarmos

em

separado

os

escravos

masculinos, os dados evidenciam que 16% deles eram casados, 60,0% descritos como solteiros e apenas 1,0% viúvos. Não há 139

nenhuma descrição sobre o estado civil de 23% do segmento masculino. No que se refere às escravas, encontramos que

11,7%

delas

eram

casadas,

49,3%

solteiras

e

6,7%

viúvas. Não há qualquer referência sobre 29,3% das cativas, no que tange ao estado civil. No segundo período, onde os dados são mais esclarecedores não há grande disparidade entre o número de casamentos de escravos em relação às escravas; apesar de haver mais homens casados. O número de solteiros do sexo masculino também supera o feminino. A viuvez atingiu mais as mulheres. Contudo,

deveria

ser

prática

comum

entre

eles a manutenção de uniões conjugais informais192, e comum também encontrar escravas solteiras com filhos,

visto que

a porcentagem de cativos em idade tenra era alta, conforme já mencionado anteriormente. A OCUPAÇÃO DOS ESCRAVOS

Não havia muita preocupação dos escrivães em identificar Supomos,

as

frente

profissões às

ou

atividades

192

ocupação econômicas

dos

escravos.

encontradas

na

As Constituições do Arcebispado da Bahia, datada de 1707, determinavam o casamento dos escravos, responsabilizando seus senhores pelo amancebamento, proibindo a separação dos casados. As referidas Constituições eram válidas para todo o Brasil. As observações nem sempre eram seguidas, às vezes com conivência dos vigários. In: TERRA, J. E. M. Biblia, Igreja e escravidão. São Paulo: Loyola, 1983, p.70.

140

região, que a grande maioria deles dedicava-se às lidas da criação de animais; no trato com as roças ou dedicados aos serviços

domésticos.

Havendo,

provavelmente,

poucas

oportunidades, além das especificadas. No primeiro período, encontramos um escravo que pertencia a Antônio Vieira Velho, de nome Olivério, de 21

anos

alfaite",

de

idade,

que

valia

mulato,

descrito

380$000,

um

preço

como

"oficial

bastante

de

alto

em

relação a outros escravos de idade equivalente.193 Outro Joaquim,

sem

650$000,

que

exemplo

idade era

é

o

do

declarada,

escravo

crioulo,

"carpinteiro".

A

de

nome

avaliado

descrição

consta

em do

inventário de Feliciano Carlos de Souza, iniciado em 1830.194 O preço desse escravo era o dobro da média encontrada para outros, no mesmo ano. A

super-valorização

dos

escravos

descritos

vinha, consequentemente, das suas qualificações.

No encontradas mínimas,

sobre

cerca

de

segundo as

período,

profissões

89,2%

dos

dos

as

descrições

escravos

inventários

também

nada

dizem

são a

respeito. Dentre os 65 inventários pesquisados, relativos ao

193 194

segundo

período,

encontramos

entre

os

escravos

AHMF - Inventário de Rosa Maria de Viterbo, Proc. 20, cx. 02, 1822. AHMF - Inventário de Feliciano Carlos de Souza, Proc. 63, cx. 04, 1830.

141

masculinos

02

identificados

como

"carreiros"

e

07

"roceiros". A

identificação

da

profissão

não

tinha,

neste período - 1875/85, uma ligação direta com o preço, como parece ter ocorrido entre os anos 1822/30. As grandes variações

de

preços

idênticas

ou

com

entre

os

profissões

escravos

com

diferentes

profissões

confirmam

isso.

Vejamos as descrições que se seguem: entre os dois escravos descritos idade:

como

"carreiros"

Manoel,

inventariado enquanto

que

43

José

quase

anos,

casado,

Bernardes

Antônio,

de

não

43

havia que

Pinto, anos,

diferença pertenceu

de ao

valia

1:000$000195,

também

casado,

de

propriedade de Antônio Ferreira Coelho, valia 1:600$000, ou seja, 60% a mais.196 Valores detectados

para

menos estava

os

aproximados

"roceiros".

e/ou

Entre

inferiores

aqueles

que

foram valiam

Benedito, de 46 anos, com preço de 500$000 e

João, de 45 anos, avaliado em 400$000, ambos "roceiros", casados,

de

origem

africana

e

pertencentes

ao

mesmo

proprietário.197 Entre os mais valorizados estavam Cypriano, de 18 anos, solteiro, nascido em Franca198, e Pedro, 31 anos,

195 196

197

198

AHMF - Inventário de José Bernardes Pinto, Proc. 456, cx. 27, 1875. AHMF - Inventário de Antônio Ferreira Coelho, Proc. 478, cx. 28, 1878. AHMF - Inventário de José Bernardes Pinto, Proc. 456, cx. 27 - 1875. Idem.

142

solteiro, originário da Bahia199, vendo entre 1:500$000 e 1:600$000, aproximadamente. As

anotações

pesquisadas

com

relação

às

profissões das escravas, foram as seguintes: 05 fiadeiras, 01 tecedeira, 01 cozinheira e 02 lavadeiras. Nestes casos os

preços

também

variavam

idênticas. Vejamos: a

mesmo

entre

as

de

profissões

escrava Celestina, fiadeira, de 40

anos, casada, valia 800$000 e sua companheira de profissão, de nome Rita, 48 anos, valia apenas 400$000, a metade do preço;

a

escrava

identificada

como

"tecedeira"

era

Severina, de 29 anos, casada, avaliada em 800$000; Maria, cozinheira, de 25 anos, casada, recebeu como avaliação a quantia de 800$000; e a lavadeira Mariana, jovem de 17 anos, porém viúva, valia bem menos, 400$000.200

199

200

AHMF - Inventário de Antônio Ferreira Coelho, Proc. 478, cx. 28, 1878. AHMF - Inventário de José Bernardes Pinto, Proc. 456, cx. 27,1875.

143

3.2. OS SEMOVENTES

No primeiro período - 1822/30, os animais semoventes

-

proprietários

participavam francanos

Constituindo-se,

sem

com

(ver

dúvida,

17,1% Gráfico

em

um

da

riqueza



fator

2, de

dos

p.99). peso

na

somatória dos bens. Além disso, a pecuária teria sido a principal

peça

na

engrenagem

da

economia

da

região,

principalmente na primeira metade do século XIX, fazendo movimentar

ao

seu

redor

outras

atividades

geradoras

de

riquezas. Ao observarmos os dados relativos ao item animais na Tabela nº 24 e gráfico 4, a seguir, referentes ao primeiro período - 1822-30, percebemos que 77,5% de todo o

rebanho

era

composto

de

bovinos,

assim

distribuídos:

vacas - 28,5%; novilhas, bezerros e garrotes - 33,5%; bois reprodutores (touros) 2,2%, e o restante

(12,5%) de bois

de carro. Os animais cavalares [cavalos, éguas, potros(as)] atingiam 7,0% do rebanho e os muares contribuíam com apenas 0,5%. A

porcentagem

de

suínos

era

de

7,5%.

Completavam o rebanho os carneiros/ovelhas, juntamente com os cabritos/cabras. Os primeiros eram 7,3% e os outros 1,0% do rebanho.

144

Tabela nº 24 1º PERÍODO - 1822/30 Descrição dos animais Vacas

Quantidade total 459

Porcentagem 28,5

Média p/ proprietário 22,9

3:514$500

6$656

175$725

539

33,5

24,5

2:332$100

4$326

106$004

35

2,2

3,2

290$400

8$297

26$400

202

12,5

12,6

2:152$200

10$654

134$512

113

7,0

4,7

1:202$000

10$637

50$083

08

0,5

1,3

189$800

23$725

31$633

Suínos

121

7,5

2,6

365$620

3$021

8$124

Carneiros Cabritos

116

7,3

14,5

107$240

$924

13$405

16

1,0

8,0

15$920

$995

7$960

Pavões

-

-

-

-

-

-

TOTAI S

1.609

100,0

-

10:169$780

6$320

-

Novilha s Garrotes Bezerro s Bois reproduto res Bois de carro Cavalos, Éguas, Potros Maures

Valor Total

Valor Médio

Valor Médio por proprietário

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30.

Gráfico 4 Distribuição dos animais - % 1822/30 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00%

Semoventes Bovinos Suínos

Equinos Ovinos

Muares Caprinos

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 02 a 04 - 1822/30.

Com

base

nos

dados

obtidos

é

notória

a

preponderância dos bovinos em relação aos outros animais. A 145

média de bovinos possuídos por proprietário era de 46,9/ animais. Cada proprietário possuía em média 4,7 equinos, 1,3 muares, 3,9 suínos, 3,7 carneiros e 0,5 cabritos. Os bovinos atingiam o valor médio de 6$711, sendo 6$656 para vacas, 4$326 para novilhas, garrotes e bezerros, 8$297 para bois reprodutores, e 10$654 para bois de carro. Para somamos

a

conseguirmos

quantidade

de

esses

animais

de

os

valores

cada

médios

espécie

e

a

dividimos pelo número de proprietários que possuíam tais animais.

Constatamos

carneiros

e

cabras,

que o

animais

por

cabras,

provavelmente,

domésticas

que

proprietário.

não

poucos fez As

atendiam

servindo

ao

proprietários

aumentar

a

média

tinham destes

criações

de

carneiros

somente

as

necessidades

grande

comércio

como

o

e

gado

bovino. Os muares valiam consideravelmente mais que os cavalares. Os primeiros atingiam preços médios de 23$725 e os outros menos da metade deste valor, ou seja, 10$637. A maior resistência dos muares no transporte de mercadorias poderia explicar sua valorização superior em relação aos cavalares. Os outros animais criados na região atingiam os seguintes valores médios: suínos: 3$021; carneiros: $924 e cabritos: $995. Apesar bastante

do

diferenciados,

preço foi

a 146

dos

animais

quantidade

de

mostrarem-se bovinos

que

determinou um peso maior dos semoventes na composição das fortunas pessoais. Contudo,

a

posse

de

animais

não

era

tão

eqüitativa, como ilustram os exemplos a seguir. A grande maioria dos proprietários (92,5%) possuía

bovinos

e

eqüinos;

37,0%

dos

mesmos

criadores

mantinham também em suas propriedades outros animais como suínos, caprinos e ovinos, sendo que 14,8% deles possuíam somente eqüinos e/ou muares, e 2,8% não criavam animais. Margarida Francisca, viúva de Antônio José de Souza, era considerada uma grande criadora, se comparada aos

demais

proprietários.

Possuía

um

rebanho

com

297

cabeças assim discriminadas: 46 bois de carro (23 juntas de bois); 11 bois de corte; 98 vacas; oito bois reprodutores; 21

novilhas;

76

garrotes;

08

carneiros;

02

muares;

02

cavalos e 25 éguas, totalizando 2:271$000, ou seja, 42,6% do valor de seus bens, avaliados em de 5:324$946.201 Como considerando-se

os

exemplo parâmetros

de

um

criador

regionais,

médio,

encontramos

o

inventário de Ana Rita de Paiva, com registro de 52 bovinos e 08 eqüinos, num total de 385$900, correspondentes 28% de todos

os

bens

deixados

aos

herdeiros,

avaliados

em

1:352$280.202 Um pequeno criador, frente aos demais, era João Dias Pereira que tinha apenas 02 eqüinos e 01 muar, 201 202

AHMF - Inventário de Margarida Francisca, Proc. 54, cx. 04, 1829. AHMF - Inventário de Ana Rita de Paiva, Proc. 48, cx. 03, 1828.

147

avaliados em 32$000. A soma de seus bens atingia 352$670, incluindo um escravo no valor de 170$000. No segundo período - 1875/85, os semoventes representavam 12,7% do patrimônio constante nos inventários (vide gráfico 3, à pág.99). Tabela nº 25 1º PERÍODO - 1822/30 Descrição dos animais Vacas

Valor Médio

Valor Médio por proprietário

17:334$000

30$953

509$823

17,7

8:417$000

13$981

6,2

5,6

5:097$000

33$532

188$777

403

16,5

14,9

19:636$000

47$235

727$259

226

9,2

4,6

6:900$000

30$530

140$816

29

1,1

2,4

1:740$000

60$000

145$000

Suínos

350

14,4

23,3

2:037$500

5$821

135$833

Carneiros Cabritos

102

4,1

20,4

179$500

1$759

35$900

-

-

-

-

-

-

Pavões

25(*)

-

-

250$000

10$000

-

TOTAI S

2.441

100,0

-

61:591$000

25$231

-

Novilha s Garrotes Bezerro s Bois reproduto res Bois de carro Cavalos, Éguas, Potros Maures

Quantidade total 560

Porcentagem 22,9

Média p/ proprietário 16,4

602

24,6

152

Valor Total

247$558

(*) apenas um proprietário possuía 25 pavões. Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 27 a 32 - 1875/85.

148

Gráfico nº 5 Distribuição dos animais - % 1875/85 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00%

Semoventes Bovinos Suínos

Equinos Ovinos

Muares Aves

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Civel, cx. 27 a 32 - 1875/85.

Conforme a Tabela 25 à pág. 165 e gráfico 5, referente ao segundo período,

os bovinos continuaram com

predominância

os

pelos

de

70,2%

proprietários.

sobre

Destes,

outros

22,9%

eram

animais

criados

descritos

como

vacas; 24,6% garrotes; 6,2% bois reprodutores; 16,5% bois de carro; 9,2% eqüinos e 1,1% muares. Além destes, 14,4% eram suínos; 4,1% carneiros e 1% pavões. Não havia registro de nenhum cabrito. A média de bovinos por proprietário chegava a 36,5. Os detentores de animais possuíam ainda, em média, 4,6 equinos; 2,4 muares; 23,3 suínos (15 proprietários); 20,4 carneiros (5 proprietários). Somente um proprietário criava pavões, tendo 25 aves.203 A criação de pavões talvez destinava-se ao embelezamento da propriedade.

203

AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício, cx. 27 a 32, 1875/85.

149

Os preços médios dos animais eram: para os bovinos: vacas - 30$953; novilhas/garrotes/bezerros 13$981; bois reprodutores 33$532; bois de carro 47$235; para os equinos:- 30$530; muares:- 60$000. Os suínos e carneiros foram

avaliados,

respectivamente,

em

5$821

e

1$759,

enquanto os pavões valiam, em média, 10$000. Tomando que,

em

média,

cada

por

base

nossos

proprietário

dados,

imobilizava

afirmamos 947$553

em

animais. Separando

as

espécies

de

animais,

verificamos que cada proprietário tinha aplicado 776$676 em bovinos; 132$923 em eqüinos e muares; 31$346 em suínos e 2$761 em carneiros. Ao

dar

outro

enfoque

quanto

à

posse

dos

animais, os dados nos esclarecem que 7,5% dos proprietários de bens inventariados mantinham bovinos, eqüinos e maures em suas terras, destes 21,5% ainda criavam outros animais, principalmente os suínos. Os possuidores somente de eqüinos eram 7,7%. Já outro segmento (1,5%) possuía apenas eqüinos e suínos. Um grupo de 15,3% de proprietários não possuía animais de criar de grande porte. Entre

os

detentores

de

maiores

rebanhos

destacavam-se Cristino de Paula e Silva204, que criava ao todo 342 animais, sendo: 41 bois, provavelmente de corte; 36 bois de carro; 104 vacas; 28 novilhas; 04 garrotes; 32 204

AHMF - Inventário de Cristino de Paula e Silva - Proc. 513, cx. 31, 1882

150

bezerros e 05 bois reprodutores, totalizando 254 bovinos. Possuía

ainda

carneiros.

05

Juntos

muares; os

04

animais

eqüinos; valiam

58

suínos

8:776$000,

e

os

25

quais

correspondiam a 15,9% da sua fortuna de 55:024$600. Um

pecuarista

mediano,

em

relação

aos

demais, foi Antônio Martins de Barros205. Seu rebanho era composto

de

29

bovinos

e

sete

eqüinos,

com

valor

de

1:0008$000. A maioria das cabeças, em número de 20, eram bois de engorda para corte. O gado correspondia a 15,2% de seus bens avaliados em 6:650:500. Neste total incluíam-se as terras - bens de raiz - e os bens móveis. Rosa

Margarida

de

Jesus206,

uma

modesta

criadora, tinha somente 04 bovinos: 02 vacas, 02 bezerras, e 01 cavalo, avaliados em 129:000 ou 11,6% do total dos seus bens. Entre

os

que

não

possuíam

animais,

exemplificamos o caso de José Rodrigues. Foi declarado no inventário deste proprietário apenas uma casa avaliada inventário

em

1:200:000, não

consta

e a

bens

móveis

atividade

de

na cidade, 57$500.

econômica

que

No ele

exercia.

205

206

AHMF - Inventário de Antônio Martins de Barros, Proc. 514, cx. 31, 1882. AHMF - Inventário de Rosa Margarida de Jesus, Proc. 484, cx. 29, 1879.

151

OS BENS DE RAIZ

No

decorrer

do

século

XIX,

houve

um

acréscimo na participação dos bens de raiz no volume da riqueza, pois início do século estes bens somavam apenas 33%,

passando

para

53,4%

nas

últimas

décadas.

(vide

gráficos 2 e 3, à pág.99) A ocupação efetiva dos terrenos do Nordeste paulista e a dinamização da economia regional favoreceram a valorização deste item. Nos inventários, os bens imóveis ou de raiz eram descritos como casas, terrenos, chácaras e fazendas. Não havia nenhuma referência às metragens dessas terras mas somente

algumas

citações

dos

confrontantes;

muitos

dos

inventariados possuíam tanto imóveis rurais quanto urbanos. Com relação ao primeiro período - 1822/30, as descrições das casas da vila indicavam os materiais que as

constituíam

Josefa

Gomes

ou

seu

Moreira

estado deixou

de aos

conservação. seus

Vejamos:

herdeiros

"duas

moradas velhas na Praça da Aclamação na Villa Franca do Imperador", no valor de 145$000207 e a inventariada Maria Barbosa de Jesus deixou para partilhar, além da fazenda, "uma morada sita na Villa Franca do Imperador, de madeira, coberta Martinho

207 208

de

telhas,

Moreira

de

com

portas",

Carvalho

no

tinha

valor

de

"uma

casa

325$000.208 sita

na

AHMF - Inventário de Josefa Gomes Moreira, Proc. nº 25, cx. 2, 1825. AHMF - Inventário de Maria Barbosa de Jesus, Proc. 30, cx. 02 - 1826.

152

esquina da rua do Adro com final ao sul com a Praça da Aclamação." no valor de 20$000.209 As chácaras situadas nos arredores da Vila, continham

descrições

semelhantes

a

esta:

"uma

chácara

cita(sic) nas cercanias da Villa Franca", de propriedade de Felipe José dos Santos, avaliada em 160$000.210 As descritas

como

terras, sítios,

propriedades

fazendas

ou

rurais,

parte

de

foram terras.

Encontramos referências sobre a qualidade da terra (campos, cerrados ou cultura);

as benfeitorias nelas existentes e a

denominação da propriedade e nalguns casos são citados os confrontantes.

Vejamos,

então,

as

descrições

a

seguir:

Antônio Borges de Gouvêa possuía "um sítio com cêrcas e quintal" no valor de 40$000.211 O Vieira

Velho

e

seus

filhos

inventariante herderam

de

Rosa

Antônio Maria

de

Viterbo "uma fazenda denominada Bebedorzinho, com lanças de casas

cobertas

de

palha,

com

portas",

incluindo

as

benfeitorias constituídas de "um moinho, dois monjolos e um paiol",

tudo

no

valor

de

3:260$000.212

No

inventário

de

Joanna Bernarda de Freitas há a descrição de "uma fazenda de terras de cultura e campos, denominada Campo Belo, no termo

da

1:800$000213. 209

210 211 212 213

Villa Maria

Franca Barbosa

do de

Imperador.", Jesus

foi

no

valor

proprietária

de de

AHMF - Inventário de Martinho Moreira de Carvalho, Proc. 52, cx. 03, 1829. AHMF - Inventário de Felipe José dos Santos - Proc. 45, cx. 03, 1828. AHMF - Inventário de Antônio Borges de Gouveia, Proc. 44, cx. 3, 1828 AHMF - Inventário de Rosa Maria de Viterbo, Proc. 20, cx. 02, 1822. AHMF - Inventário de Joanna Bernarda de Freitas, Proc. 26, cx. 02, 1825.

153

"terras de cultura e campos, sita na paragem denominada (...)

da

Marques

Canoa, de

benfeitorias:

divisando

Carvalho", "paiol

com

terras

juntamente

coberto

de

do

Alferes

com

capim

as

e

um

Manoel

seguintes monjolo",

a

propriedade toda foi avaliada em 1:200$000.214 No segundo período - 1875/85 - as descrições eram mais simples, indicando apenas o tipo do imóvel, sem grandes caracterizações. Nalguns casos há referências sobre a

denominação

e/ou

localização

o

que

nos

permitiu

a

distinguir o imóvel rural do urbano. Com relação a descrições de casas, temos a do inventariado Christino de Paula e Silva dono de "duas casas na Rua do Comércio", ambas avaliadas em 5:000$000.215 Já Antônio Joaquim da Silva aparece como proprietário de várias fazendas além de "uma casa na Rua Direita", no valor de 200$000.216 Para termos idéia do preço dos terrenos na cidade,

analisamos

o

inventário

de

João

Vicente

de

Magalhães Portilho, que era proprietário de "uma morada" no valor

de

50$000

e

de

"dois

terrenos",

um

no

valor

de

350$000 e o outro de 300$000.217

214 215

216

217

AHMF - Inventário de Maria Barbosa de Jesus, Proc. 30, cx. 02, 1826. AHMF - Inventário de Christino de Paula e Silva, Proc. 513, cx. 31, 1882. AHMF - Inventário de Antônio Joaquim da Silva, Proc. 483, cx. 29, 1876. AHMF - Inventário de João Vicente de Magalhães Portilho, Proc. 459, cx. 27, 1875.

154

No

inventário

de

José

Bernardes

Pinto,

encontramos as descrições de alguns imóveis, o que ilustra nosso trabalho: "uma casa no largo do Theatro", no valor de 1:500$000,

"duas

casas

na

rua

Cubatão",

no

valor

de

800$000, "uma casa assobradada na Fazenda Matta", avaliada em 6:000$000, "uma sorte de terras, na Fazenda da Matta", no valor de 8:200$000 e "uma fazenda no Bom Jardim" com o preço de 5:200$000."218 Mais um exemplo sobre as fazendas fica no processo consta

de

inventário

"parte

de

terras

de

Joaquim

na

Fazenda

José

Ferreira,

Ribeirão

onde

Corrente"

avalida somente em 15$000 e "parte no sítio da Fazenda Capivary" com o preço de 500$000.219

218 219

AHMF - Inventário de José Bernardes Pinto, Proc. 456, cx. 27, 1875. AHMF - Inventário de Joaquim José Ferreira, Proc. 468, cx 27, 1876.

155

OS BENS MÓVEIS

Os expressiva primeiro

da

Bens

riqueza

período

Móveis dos

consistiam

na

proprietários

contribuíam

com

6,0%,

fatia

menos

francanos.

No

diminuindo,

no

segundo período, para 4,2%. (vide gráficos 2 e 3, à pág.99) A parte da riqueza definida como bens móveis era sempre proporcional ao volume de bens, ou seja, quando havia uma quantidade maior de bens imóveis, de semoventes e de

escravos,

quantidade

de

o

conforto

ferramentas

no

interior

destinadas

das

à

casas

e

a

produção

também

1822/30

-

cresciam. O inverso também era verdadeiro. No

primeiro

período

-

as

descrições relativas aos Bens Móveis são mais detalhadas quanto à sua natureza e ao estado de conservação do bem. Estão relacionados carros de bois, ferramentas e arreios, bens

necessários

ao

trabalho

cotidiano

das

fazendas

até

bens pessoais como móveis, imagens, pratos, garfos, peças em

vidro

e

roupas

de

vestir,

cada

um

com

a

devida

avaliação. As descrições a seguir foram extraídas dos processos de inventário de Rosa Maria de Viterbo, Joanna Bernarda de Freitas

e de Domingos Martins de Brito, três

processos que espelham os demais do primeiro período no que se refere às descrições e aos valores dos bens. Para os avaliadores os preços das imagens, supomos, variavam de acordo com seu estado e o tamanho. 156

Seis mil réis (6$000) era o preço de "uma imagem de Nosso Senhor crucificado", a mais cara encontrada no processo de Rosa Maria de Viterbo. As outras do mesmo processo tinham as seguintes descrições e valores: "uma imagem de Nossa Senhora do Carmo: 2$000, uma imagem de São José: 1$800, uma imagem de Santo Antônio: 3$000, e uma imagem de Santa Rita: 1$000."220 Cabe

aqui

ressaltar

que

desde

os

tempos

coloniais havia um vigoroso comércio de imagens entre as província produtoras, principalmente Bahia e Minas Gerais, e demais compradoras. "Pela centralização do poder político em

Salvador,

capital

primeira

da

Colônia,



também

se

sediou o centro do poder religioso do Brasil Colônia. Houve nesta região uma convergência de artistas que por todo o século XVIII e XIX supriram o Brasil com sua imaginária erudita. As grandes peças barrocas das igrejas do interior da

Colônia

era

transportadas

nas

caravanas

de

escravos

vindos da Bahia (...). O intenso comércio com as minas de ouro

incluiu

o

comércio

de

imagens.

Essa

necessidade

comercial propiciou a adaptação dos artistas e das oficinas de

arte

religiosa.

resistente

que

Executaram

melhor

o

suportava

lenho, os

material

azares

de

uma

leve

e

longa

viagem em lombo de burro, a quase totalidade das imagens de Pernambuco, da Bahia e mais tarde do Rio de Janeiro. (...) O Barro queimado, pelo seu grande peso e fagilidade, foi 220

AHMF - Inventário Rosa Maria de Viterbo - Proc. 20, cx. 02, ano 1822.

157

circunscrito necessitavam

às de

peças

de

transporte

consumo a

local,

longas

que

distâncias;

não

daí

a

presença de imagens de terracota em São Paulo (...). A imaginária paulista é basicamente de barro por uma tradição formada nos interesses modestos do comércio colonial. São minoria as imagens eruditas de madeira encontradas em São Paulo,

importadas,

seja

da

Metrópole,

seja

dos

centros

artísticos da costa, sobretudo da Bahia, ou ocasionalmente de Minas Gerais."221 As primeiro mineira.

imagens,

período, Foram

citadas

muito

trazidas

nos

inventários

provavelmente

pelos

entrantes

tiveram mineiros

do

origem que

se

fixaram no Nordeste paulista. "Minas Gerais (...) foi pólo interiorano de atração para os bons artistas que lá

se

concentraram criando peças ricas e pobres, suprindo não só a

província

como

Goiás

e

Mato

Grosso.

Estas

últimas

regiões, de fugaz riqueza aurífera, não tiveram condições sócio-econômicas que pudessem sustentar manufatura própria. O mesmo se pode dizer das províncias do Sul que, pobres e escassamente povoadas, receberam suas peças geralmente dos centros

mais

à

mão,

antes

Salvador

e

depois

o

Rio

de

Janeiro."222

221

ETZEL, Eduardo. Imagem Sacra Brasileira. São Paulo: Edições Melhoramentos/Editora da Universidade de São Paulo, 1979 (Série Arte e Cultura), p. 37. 222 ETZEL, Eduardo. op. cit., p. 81, nota 68.

158

Os processos que continham maior quantidade de bens móveis registravam objetos em ouro e prata. Em ouro eram

geralmente

brincos

de

6$400."223

Em

jóias

ouro

que

prata

de foi

havia

pequeno visto objetos

e

tamanho: avaliado

como

"um no

esporas,

par

de

valor

de

garfos

e

colheres assim descritos: "uma espora de prata de mulher com peso de quarenta e uma oitavas, avaliada em 4$100; uma espora de prata de homem com peso de oitenta oitava, no preço de 8$000; um garfo e uma colher de prata: 1$200." Há, também, descrições de garfos feitos em metal amarelho224, bem menos valiosos: "3 pares de garfos e colheres de metal amarelo, no valor de $320."225 Feitos do mesmo material: "um par de esporas de latão amarelo: $500 e um ferro estrangeiro aparelhado de latão."226 Os objetos em cobre eram, na maioria, tachos usados

para

o

cozimento

de

alimentos,

objetos

caros

se

comparados a outros bens. "Um taxo (sic) de cobre em bom uso com peso de nove libras" valia 3$000, "um taxo (sic) grande de cobre em bom uso" avaliado em 17$000. Outro bem mencionado e confeccionado do mesmo material foi "um forno de cobre em bom uso com peso de 19 libras" valendo 6$880.227 223

224

225 226 227

AHMF - Inventário de Joanna Bernarda de Freitas. Proc. 26, cx. 02 1825. Não há nos inventários uma descrição mais precisa do que seria "Metal amarelo". Op. cit. nota 57. Op. cit. nota 58. Idem.

159

Os pratos eram feitos de estanho ou louça. Um lote de "sete pratos de estanho foram vistos e avaliados em

2$240;

onze

libras

de

estanho

em

pratos

velhos,

a

quatrocentos e vinte a libra: 4$620."228 Os objetos feitos louça mencionados receberam as seguintes descrições:

"17

pratos fundos de louça: 1$700, 3 pratos pequenos: $240, 2 tijelas e nove pires de louça: $320".229 Além

dos

objetos

de

uso

doméstico,



citados, encontramos os vidros. Por uma copo de vidro davase $480, por 12 garrafas de vidro 1$600; por "uma garrafa de vidro branco pequena: $120."230 Os chamados trastes de casa eram geralmente poucos em cada inventário. As descrições, na maioria das vezes, identificavam os objetos, seu tamanho, se eram novos ou velhos, seu estado de conservação e os preços. Um

"catre

usado

"catre

forrado

de

taboas(sic)"

valia

3$600;

outro

pequeno e torneado" 3$500. Os valores das caixas variavam: "uma

caixinha

com

fechadura:

1$200,

uma

caixa

grande

e

velha: 2$000 e um caixão grande e velho: 3$000." Mesas e bancos eram objetos comuns: "uma mesa velha de 12 palmos de comprimento: 1$600; um banco de encosto: $640; um banco liso velho: $320; uma potrona de molla: $480." Entre os mais caros "um armário com fechadura nova que foi visto e 228

229 230

AHMF - Inventário de Joanna Bernarda de Freitas. Proc. 26, cx. 02, 1825. AHMF - Inventário de Rosa Maria de Viterbo, Proc. 20, cx.02, 1822. Idem.

160

avaliado

por

7$000".

Haviam

ainda

outros

objetos:

"uma

colher de ferro" avaliada em $320, "um barril com quatro arcos de ferro: $480" e "10 táboas(sic) pequenas: 1$480."231 Em alguns inventários as roupas de vestir foram incluídas nos trastes de casa, noutros aparecem como item independente. Entre as roupas descritas constavam: "um vestido

de

pano

vestia(sic)

de

fino pano

azul azul

em

bom

inferior

uso:

4$000;

uma

velha:

$800;

uma

vestia(sic) de chita em bom uso: $840; um par de calças de pano

em

bom

uso:

2$400;

um

par

de

calças

de

paninho,

usadas: $320; um collete de seda preta, em bom uso: 1$500; uma camisa de morim com fafados nova: 1$200; um lenço de pescoço

de

chita,

usado:

$100;

um

lenço

preto

de

seda

usado: $300; uma toalha de mão de algodão: $320; um par de botinas de couro, em bom uso: 2$000; um par de sapatos de couro usados: $160; uma escova de escovar botas usada: $060 e 15 sacos de algodão grosso, pequenos: $900."232 Incluídos nos trastes de casa estavam também alguns objetos próprios dos serviços da fazenda como: "2 laços novos de laçar animais: 1$920; 3 libras e meia de ferro em pregos de pregar: $640; um couro de boi: 1$600".233 Os transporte

de

carros

mercadorias

de

bois,

na

principal

região,

também

meio

para

constava

o do

item trastes de casa. "Um carro (de boi) em bom uso" valia 231 232

233

Idem. AHMF - Inventário de Domingos Martins de Brito. Proc. 50, cx. 3 1828. Op. cit. nota 57.

161

em média 16$000. Os carros vinham acompanhados de cangas (peças

para

atar

valiam

1$600.234

É

os

bois):

necessário

"cinco

cangas

ressaltar

que

muito nem

velhas" todos

os

processos onde constam "bois de carro", haviam "carros de boi", o que pode indicar que alguns fazendeiros criavam e treinavam estes animais não somente para uso próprio, como também para comercialização. Nos separados

as

carpintaria.

inventários,

ferramentas As

de

primeiras

encontramos roça

são

em

itens

e

ferramentas

de

assim

descritas:

"6

enchadas(sic) em bom uso: 5$760; 4 enchadas velhas: 2$560; 4 foices em bom uso: 6$400; 3 foices cegadas (sem corte): 3$600; um machado cegado: 1$280

e um machado velho para

rachar lenha: $480."235 As ferramentas de carpintaria mais comuns eram: "duas enchóz(sic) chatas, cegadas: 1$280; um formão grande em bom uso: $600; 2 formãos(sic) pequenos: $400; uma serra de mão, de palmos: $640; uma serra pequena com armação: $360

um martelo: $480236; duas limas muito

velhas: $640 e um compaço(sic) de ferro: $280."237 Alguns processos citavam armas de fogo. Para termos uma idéia "uma espingarda" nova valia 6$000.238

234

235

236 237 238

AHMF - Inventário de Joanna Bernarda de Freitas. Proc. 26, cx. 01 1825. AHMF - Inventário de Jonna Bernarda de Freitas. Proc. 26, cx. 01 1825. Idem. Op. cit. nota 58. Op. cit. nota 57.

162

Arreios

ou

selas,

incluindo

outras

peças

próprias para montaria dos eqüinos ou muares, eram peças de partilha: "uma

sela velha" tinha o valor de 4$600; "um

lombilho com freio" era 2$400; somente o "freio: $200."239 A descrição dos bens móveis encontrados nos inventários do segundo período - 1875/85 - diferenciavam-se um pouco daqueles referidos no primeiro período tratado. Contudo,

cada

proprietário

passou

a

possuir

uma

maior

quantidade de bens desta espécie, fruto do dinamismo da economia. Mesmo assim os bens móveis continuaram a ser a parte que menos contribuía no total dos bens. Sua fatia, nessa época, era de apenas 4,2%. As

imagens

passaram

a

aparecer

em

menor

quantidade e o seu valor, às vezes, aparecia inserido no valor do móvel oratório, como demonstra a citação: "por um oratório com imagens o valor de 10$000."240 As

jóias

pessoais

continuavam

a

merecer

destaque entre os bens móveis, principalmente objetos de ouro e prata: "um rozário de ouro com cruz: 10$000; um par de agulhas pequenas de ouro: 2$000; uma verônica de ouro: 2$000; um relógio de prata: 30$000 e um par de esporas de prata: 30$000"241 239 240 241

Op. cit. nota 58. AHMF - Inventário de Joaquim José Ferreira, Proc. 468, cx. 027, 1776. AHMF - Inventário de Christino de Paula e Silva, Proc. 513, cx. 31, 1882. "Os oratórios são produto mineiro do fim do séxulo XVIII até o primeiro quartel do século XIX. Peças hoje raras traduzem em Minas Gerais uma tentativa industrial para atender à grande demanda. Pelo sucesso que tiveram chegaram a ser exportados para

163

Os

móveis

domésticos,

como



comentamos,

aparecem em maior quantidade. Os mais comuns eram assim avaliados: cadeiras, uma dúzia delas valia 70$000; quatro cadeiras de palhinha: 16$000; os "catres de pés altos", sendo meia dúzia, no valor de 30$000; mesas - "uma grande de duas bancas: 15$000; uma pequena: 5$000; armários - um deles

"com

Outros eram

chaves

móveis,

velho"

menos

"canastras

"frasqueiras",

e

comuns,

pequenas

uma

caixa

foi

avaliado

usados

com desta

em

pelos

14$000."242

proprietários

fechadura"

(2

espécie

valia

=

10$000); 1:200;

ou

ainda os "caixões grandes" 8$000 cada.243 Havia, nos inventários, os objetos próprios da

cozinha,

assim

descritos:

"uma

escumadeira

de

cobre

pequena: 2$000; uma chaleira de ferro: 2$000; uma panela grande de ferro: 3$500; uma menor: 2$000; uma quebrada: 1$000; uma bandeja grande: 5$000; três gamelões pequenos: 12$000. E os vidros também mereciam atenção: "uma garrafa pequena

empalhada"

valia

2$000;

um

"garrafão

pelado

pequeno" 1$500; "um copo de vidro grande: 1$000." As louças recebiam

as

seguintes

avaliações:

uma

"bacia

de

louça

pintada" 2$000, um prato $500; dois "calex(sic) para vinho" 1:000.

Quanto

aos

talheres:

"5

colherinhas

de

metal":

outras capitanias, encontrando-se hoje com certa abundância em museus da Bahia. In: ETZEL, Eduardo. op. cit., p.102, nota 67. 242 243

AHMF - Inventário de José Bernardes Pinto, Proc. 456, caixa 27, 1875. Op. cit nota 75.

164

2$000244; "uma dúzia de colheres e garfos marca Chistafle": 40$000.

Os

tachos

de

cobre,

como

citamos

anteriormente,

eram peças imprescindíveis: "um taxo(sic), velho, pequeno foi

visto

e

avaliado

por

3$000,

um

taxo(sic)

grande:

28$000, um dito furado: 10$000."245 As novidades ficam para os teares, mostrando que a tecelagem, atividade que teve muito vigor nos anos 30 e

40,

continuava,

no

final

do

século

XIX,

como

uma

atividade ainda viva entre os francanos. Uma roda de fiar foi avaliada em 4$000, enquanto um tear e seus pertences em 35$000246,

um

outro

"tear

muito

velho"

tinha

um

preço

inferior: 20$000 e um descaroçador de algodão velho valia: 1$200.247 A máquina de costura, item também comum nos processos de inventário do segundo período, tinha um preço razoável: 80$000.248 Da mesma forma que no primeiro período, nos inventários constavam poucas ferramentas, e pela descrição, parte

delas

foram

descritas

como

velhas.

Segundo

nossas

fontes, mesmo os proprietários que possuíam vários escravos não tinham grande aparato de ferramentas, quer sejam de roça quer de carpintaria. No segundo período, um "serrote 244

Op. cit nota 76.

245

AHMF - Inventário de Firmiano Barbosa de Avelar, Proc. 474, cx. 28, l877. Op. cit. nota 75. AHMF - Inventário de Maria Lima Rodrigues de Freitas, Proc. 470, cx. 28 - 1877. Idem.

246 247

248

165

grande" valia 8$000; "dois machados velhos": 5$000, "uma enxó":

2$000

Laport"

foi

e

um

"compasso"

avaliada

por

$500.

1$000;

Uma

"duas

"enxada

ditas

marca

grandes

e

velhas por 2$000"; duas foices por 5$000. Uma "alavanca comprida" tinha preço bem superior ao das enxadas, valia 5$000.249

Entre todos os inventários o de Christino de Paula

e Silva era o que tinha o maior valor em "ferramentas de roça": 65$000, porém, não há discriminação de quais sejam.250 Além

dos

objetos

citados,

descritos

e

avaliados havia ainda facas de todos os tipos, cujos preços eram: "3 facas em bom uso"

3$000; uma "faca de cabo de

prata, velha" 3$000; um "facão, também de cabo de prata, velho: 6$000.251 Os tinham

preços

bens

próprios

discrepantes,

do

"um

trato

com

lombilho

os novo"

animais valia

12$000, "um freio velho" 2$000, "arreios para quatro juntas de bois" 20$000.252 Os

bois

de

carro

foram

os

que

receberam

entre os chamados bens móveis. "Um carro ferrado em bom uso" era avaliado no ano de 1877 em 200$000 e "um carretão velho"

em

12$000.

Para

termos

uma

idéia,

o

carro

de

Firmiano Barbosa de avelar era 46% do valor de todos os seus bens móveis.253 249 250 251 252 253

Op. cit. Op. cit. Op. cit. Op. cit. Idem.

nota nota nota nota

80. 76. 80. 97.

166

O único exemplo encontrado de um bem móvel de grande valor, além dos carros de boi, foi um "alambique de cobre novo" pelo preço proprietário

de 250$000, que pertencia ao

Christino de Paula e Silva, com certeza, um

produtor de aguardente.254 Se

compararmos

os

bens

móveis

dos

dois

períodos pesquisados, nota-se que houve diferenciações. No primeiro

período

-

1822/30

não

havia

tantos

objetos

no

interior das casas, significando uma vida mais simples. No segundo

período

-

1875/85,

os

objetos

indicam

maior

conforto, maiores comodidades. Com a chegada da ferrovia (em 1882 a Mogiana atinge a cidade de Ribeirão Preto) é facilitada a importação de objetos de uso doméstico. Tais modificações, logicamente, são propiciadas pelo crescimento econômico verificado na região em estudo durante todo o século XIX.

254

Op. cit. nota 76.

167

3.5. AS DÍVIDAS: ATIVAS E PASSIVAS

AS DÍVIDAS ATIVAS

No primeiro período Ativas,

ou

seja,

os

valores

-

1822/30, as Dívidas

que

os

herdeiros

dos

inventariados tinham a receber era 10,2% do patrimônio dos proprietários. (gráfico 2 à p.99) Tais valores superavam as dívidas passivas (quantias a serem pagas) (ver gráfico 6) Conforme a tabela 26 à pág. 189, o valor total das dívidas relacionadas nos inventários pesquisados era de 7:771:509 de

dívidas

valores

ativas

médios

por

e

5:152$311

de

proprietário,

dívidas de

passivas.

dívidas

ativas

Os e

passivas eram de 323$812 e de 245$348. Para encontrarmos tais

valores,

dividimos

o

total

da

dívida

ativa

dos

inventários pelos número de proprietários credores, fazendo o mesmo com os valores da dívida passiva.

168

Gráfico 6 % DE DÍVIDAS ATIVAS E PASSIVAS-1822/30

Dív.Passivas 40%

Dív.Ativas 60%

Fonte: AHMF-Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx.02 a 04 - 1822/30

Tabela 26 Dívidas ATIVAS / PASSIVAS 1822/30

Dívidas Ativas

Dívidas Passivas

7:771$509

5:152$311

Total Média p/ Proprietário

323$812 245$348 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx.02 a 04 1822/30.

Conforme a tabela 27 à pág.190, no primeiro período dívidas.

25,8% A

dos

inventários

maioria,

isto

é,

não

tinham

61,2%

dos

declaração

de

inventariados

possuíam dívidas ativas que oscilavam de alguns réis até 499$000;

outros

6,4%

tinham

a

receber

entre

500$000

e

999$000, e o restante, 6,4%, constavam como credores das maiores quantias a receber: de 1:000$000 a 3:000$000. As dívidas ativas consistiam, na sua grande maioria, de empréstimos em dinheiro, mas também originavam169

se

da

venda

eqüinos

e

de

terras,

suínos.

Além

espingardas, disso

havia

animais dívidas

bovinos, a

receber

originadas da venda de escravos ou da cessão destes para prestação de serviços em propriedades alheias, o que era declarado como dívidas de "jornais de escravos".

Algumas

das dívidas ativas foram contraídas com herdeiros: filhos, genros e noras.

Tabela 27 Valor das Dívidas Ativas por proprietário 1822-30 % de Valor das Dívidas Ativas em proprietários Contos de Réis 25,8% sem dívidas / não declarado 61,4% até 499$000 6,4% de 500$000 a 999$000 6,4% de 1:000$000 a 3:000$000 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx.02 a 04 - 1822/30

O processo de Maria Barbosa de Jesus nos dá a idéia de um inventário com baixos valores a receber e nos mostra a diversidade da origem das dívidas ativas. Maria Barbosa, Severiana

ao

falecer,

referente

a

tinha

a

venda

de

receber uns

$960

"capados"

de

Maria

(suínos);

8$000 de um potro e 6$000 de uma vaca, vendidos a João da Silva venda

Santos de

(herdeiro)

uma

escrava

e a

a

José

Albino

Joaquim; Rodrigues

125$000 de

pela

Barros

(herdeiro); o restante da dívida era pelo empréstimo de dinheiro a José Gonçalves Cintra e aos herdeiros Joaquim e Francisco no valor de 8$040. A dívida total era de 149$600. 170

No

segundo

período,

as

dívidas

ativas

participavam com 3,8% do patrimônio dos inventários. (vide gráfico nº 3, à p.99) Tabela 28 Dívidas ATIVAS / PASSIVAS 1875/85 Dívidas Ativas

Dívidas Passivas

21:409$275

6:710$161

Total Média p/ Proprietário

1:427$285 479$297 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 27 a 32 1875/85

Da mesma forma que no primeiro período, as dívidas ativas superavam as passivas. A soma dos valores das primeiras era de 21:409$175 e as outras 6:710$161. O valor médio por proprietário de dívidas a receber (ativas) era

de

1:427$285

e

a

pagar

(passivas)

era

de

(tabela 28 e gráfico 7). Gráfico 7 % DÍVIDAS ATIVAS / PASSIVAS - 1875/85

Div.Passivas 24%

Div.Ativas 76%

Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 27 a 32 - 1875/85

171

479$297.

A tabela 29 esclarece que mais de 3/4, ou 77,1%

dos

inventários

consultados

referentes

ao

segundo

período não mencionavam dívidas ativas. Somente 6,1% deles registravam quantias a receber, que variavam

de alguns

poucos réis até 499$000; e que 7,7% dos senhores contraíram dívidas ativas entre 500$000 e 999$000, e que 9,2% tinham de 1:000$000 a 5:000$000 para receber. A (77,1%)

não

inventários

maioria

esclarece onde



a

dos

inventários

natureza

descrições

de

das

desse

dívidas.

dívidas

período Naqueles

predominam

os

empréstimos em dinheiro.

Tabela 29 Valor das Dívidas Ativas por proprietário % de Valor das Dívidas Ativas em proprietários Contos de Réis 77,1% sem dívidas / não declarado 6,1% até 499$000 7,7% de 500$000 a 999$000 9,2% de 1:000$000 a 3:000$000 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 27 a 32 1875/85

Como exemplo de pequenas quantias a receber, localizamos o inventário de Antônio Ferreira da Silva255. Este proprietário concedeu empréstimos a seus herdeiros em quantias que iam de 2$000 (confiado a José Moreira) até 65$000 255

(cedido

a

Joaquim

Lopes

de

Carvalho).

Os

outros

AHMF - Inventário de Antônio Ferreira da Silva, Proc. 520, cx. 31, 1883.

172

herdeiros, Ferreira

em

número

valores

em

de

sete,

torno

emprestaram

de

40$000.

de

Ao

Antônio

todo,

os

empréstimos somavam 355$000. No

rol

de

inventários

analisados,

com

dívidas maiores, ressaltamos o do Capitão Marco Ferreira Cândido256 com valor registrado de 5:292$850, quantia devida por trinta pessoas. As dívidas pessoais variavam de um para ouro, entre 7$680 até 2:200$000.

AS DÍVIDAS PASSIVAS

No

primeiro

período

32,3%

dos

inventários

não mencionavam dívidas passivas. A maioria (61,3%) citava dívidas de até 500$000; acima deste valor até no máximo 2:000$000, somente 6,4% dos proprietários puderam contraílas, conforme motra a tabela 30. Os (dívidas

passivas)

débitos

contraídos

originaram-se

de

pelos

proprietários

vários

compromissos,

sendo os mais comuns de empréstimos em dinheiro, compra de escravos e bovinos.

256

AHMF - Inventário de Capitão Marco Ferreira Cândido, Proc. 409, cx. 28, 1875.

173

Tabela nº 30 Valor das Dívidas Passivas por proprietário 1822-30 % de Valor das Dívidas Ativas em proprietários Contos de Réis 32,3% sem dívidas / não declarado 61,3% até 499$000 3,2% de 500$000 a 999$000 3,2% de 1:000$000 a 3:000$000 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível,Cx.02 a 04 - 1822/30

Os padres eram credores bastante citados. Os religiosos deveriam receber dinheiro devido a

realização

dos ofícios durante os funerais, e também pela celebração periódica de missas encomendadas. Outros

credores

sempre

lembrados

são

as

confrarias, ordens e irmandades religiosas, sediadas ou não em Franca. Houve casos de senhores que deviam ou deixaram herança a ordens sediadas em Ouro Preto o que confirma mais uma

vez

a

origem

mineira

dos

povoadores

do

Nordeste

paulista. Encontramos vários

inventários

como

a o

comprovação de

Josefa

desses

Gomes

fatos

Moreira,

em que

possuía dívidas (passivas) assim discriminadas: a quantia de 57$670 devida ao vigário referente ao funeral; 16$800 a serem pagos a Domingos Alves e Josepha Gomes de Assumpção (herdeiros); 4$320 para Alferes Joaquim Rocha Neiva; 25$000 a por direito ao Coral da Arqui Confraria da Vila Franca; e, 48$000, em dinheiro para o Coral da Ordem Terceira de 174

São

Francisco

atingiam

de

151$790

Ouro

Preto.

Somadas

ou

apenas

2,7%

as do

dívidas,

elas

patrimônio

da

inventariada, que totalizava 5:654$403.257 Dos

inventariados

pesquisados

no

primeiro

período, 25,0%, não deixaram dívidas aos seus herdeiros. Entre

os

que

deixaram

dívidas

de

pouca

monta

estavam

Antônia Ignácia T. Evangelho258 e João Paulino de Souza259. O primeiro

devia

7$600

a

José

Pires

Monteiro

referente

a

compra de duas bruacas; o segundo devia a quantia de 4$800 referente empréstimos em dinheiro a João Carvalho, morador de Jacuhi. Tabela 31 Valor das Dívidas Passivas por proprietário 1875/85 % de Valor das Dívidas Ativas em proprietários Contos de Réis 78,6% sem dívidas / não declarado 15,3% até 499$000 3,0% de 500$000 a 999$000 3,1% de 1:000$000 a 3:000$000 Fonte: AHMF - Processos de Inventário, 2º Ofício Cível, cx. 27 a 32 1875/85

257

258

259

Sobre as motivações para integrar às irmandades religiosas do século XVIII em Minas Gerais ver: FREITAS, Nainôra Maria Barbosa. O Rosário de Mariana e suas irmandades - segunda metade do século XVIII. Franca: FHDSS-UNESP, 1991 (Dissertação de Mestrado; MARTINO, Vânia de Fátima. A Irmandade de São José dos Homens Pardos ou bem casados. Vila Rica (1725-1790). Franca: FHDSSUNESP, 1993. (Dissertação de Mestrado) AHMF - Inventário de Antônio Ignácia T. Evangelho, Proc. 37 - cx. 03, 1827. AHMF - Inventário de João Paulino de Souza, Proc.66, cx. 04,1830.

175

No

segundo

período,

15,3%

dos

inventários

0incluíam dívidas de até 500$000; 6,1% dos proprietários firmaram empréstimos com dívidas entre 500$000 e 2:000$000, e

em 78,6% dos inventários não consta dívida de qualquer

natureza (tabela nº31). Entre os maiores devedores estava Francisco de Paulo e Melo260, que devia a quantia de 1.326$775 a várias pessoas.

O

mesmo

proprietário

tinha,

em

contrapartida,

478$175 em dívidas ativas, sendo seus bens de raiz, móveis e semoventes avaliados em 3:885$500.

260

AHMF - Inventário de Francisco de Paulo e Melo, Proc.509, cx. 30.

176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região

de

riqueza

Franca,

originava-se

da

obtida

durante

economia

pelos

grande de

proprietários

parte

do

subsistência

século

da XIX,

integrada

aos

mercados do centro-Sul do Brasil. A região em estudo sofreu um crescimento econômico gradativo durante todo o século passado,

sendo

mercantil,

sua

econômica

ambiente

que

favorecida

propiciava

francanos recursos necessários a

aos

pelo

caráter

proprietários

acumulação de riqueza.

A expansão da economia mineira favoreceu a ocupação efetiva das terras do Nordeste paulista e criou vínculos comerciais desta região com a Província de Minas e como o Rio de Janeiro. A dinamização da economia de São Paulo

revitalizou

as

relações

comerciais

do

Nordeste

paulista com outras regiões da província, inclusive com a cidade de São Paulo. O crescimento econômico da região em estudo foi acompanhado do crescimento populacional.

A era

a

diversificação

característica

das

predominante

atividades na

região

econômicas de

Franca:

pecuária e seus derivados, comércio do sal, agricultura de subsistência, engenhos de açúcar e aguardente, tecelagem, garimpo,

atividades

artesanais

e

plantações

de

café.

A

pecuária parece ter sido o motor da economia do Nordeste 177

paulista, durante grande parte do século XIX, exercendo um efeito multiplicador gerando outras atividades correlatas.

Tendo regional, riqueza período,

nosso entre a

em

vista

trabalho os

soma

panorama

identificou

proprietários

dos

o

bens

de

a

distribuição

francanos.

cada

econômico

No

proprietário,

da

primeiro na

sua

grande maioria (86,9%) não ultrapassava quatro contos de réis, sendo que dentre estes 35% não chegavam a ter um conto. Não havia proprietários com riqueza acima de dez contos. No segundo período, levando em conta a evolução dos preços durante o século XIX, grande parte dos proprietários (64,5%) acumularam riqueza que oscilava entre um e cinco contos réis. Apenas 9,2% dos proprietários tinham bens que valiam entre seis e dez contos de reis. Contudo, neste segundo

período,

26,2%

dos

proprietários

tinham

fortuna

acima dos dez contos. Dado que caracteriza uma concentração de riqueza.

Dentro do mesmo contexto foram identificados os principais bens que compunham o estoque desta riqueza, percebendo as variações do peso relativo de cada item, a partir das comparações dos dados obtidos nos inventários nos períodos: 1822/30 e 1875/85.

A riqueza escrava foi conhecida através da análise

da

posse

(quantidade de 178

escravos

possuídos

por

proprietário), dos preços, da distinção entre os sexos, das faixas etárias, do estado civil e da ocupação dos escravos. Este bem perdeu gradativamente que

o

século

avançava,

a importância na medida em

apesar

da

crescente

valorização

nominal. No primeiro período estudado o escravo era o bem de

maior

valor

na

maioria

dos

inventários.

No

segundo

período perde a posição para os bens imóveis. De um período para outro percebemos que a posse de escravos deixou de ser disseminada entre os proprietários havendo uma concentração da

propriedade

escrava.

Nosso

estudo

identificou

que

a

maioria dos planteis eram de pequeno porte, constituídos de poucos escravos: entre um e cinco cativos. Tais dados são próximos outras

àqueles

regiões

subsistência.

apresentados

do

centro-Sul

Houve

um

por

autores

movidas

que

estudaram

pela

econômica

de

dos

planteis,

ou

envelhecimento

seja, um crescimento no número de escravos adultos e idosos e uma conseqüente diminuição de crianças e adolescentes.

Os

bens

semoventes

-

animais

bovinos,

eqüinos, muares, suínos, ovinos e caprinos - contribuíam com

significativa

parte

da

riqueza

dos

proprietários.

O

destaque está para os bovinos que atingiam 70% de todo o rebanho. Em segundo lugar a criação de suínos que ganha importância com o passar o século, passa de 7,5% do rebanho no

primeiro

período

para

14,4%

no

segundo.

animais ocupam posição de menor significância. 179

Os

outros

A ocupação efetiva das terras do Nordeste paulista, durante o século em questão, favoreceu para o acréscimo

na

participação

dos

bens

de

raiz

(partes

de

terras (fazendas, sítios, chácaras), terrenos e casas) no volume da riqueza. Do primeiro para o segundo período os valores chegam

nominais na

década

foram de

multiplicados.

1880

como

item

Os de

bens

de

maior

raiz

valor

na

peso

na

riqueza dos proprietários, superando os escravos.

Os

bens

móveis

tinham

o

menor

riqueza dos proprietários francanos. A análise dos objetos pessoais

indicou

para

o

primeiro

período

uma

vida

mais

simples, sem conforto, com poucos objetos no interior das casas. Não havia, inclusive, grandes recursos para compra e reposição

de

necessárias frente

ao

"ferramentas

às

lidas

crescimento

das

de

roça

fazendas.

econômico

e

No

carpintaria"

segundo

empreendido

na

período, região,

servida até com a ferrovia que chegava em 1882 próximo ao município

de

Franca,

os

objetos

indicam

maior

conforto

doméstico, maior quantidade de meios de produção (exemplo: ferramentas,

máquinas

de

costura

e

teares)

e

meios

de

transporte de mercadorias: carros de bois.

As constituíam

dívidas

parte

ativas,

importante

no do

primeiro

período,

patrimônio

dos

proprietários: 10,2%. No segundo período perde importância, passa a ser somente 3,8% dos patrimônios. 180

Comparando os dois períodos, percebemos que: a) houve um redução expressiva das dívidas passivas e um crescimento

das

dívidas

ativas;

b)

houve

um

decréscimo

considerável na porcentagem de proprietários que contraiam dívidas

ativas

ou

passivas;

c)

ocorreu

um

pequeno

crescimento no número de negociantes que adquiriam dívidas ativas com valores mais expressivos; d) permaneceu estável a

porcentagem

de

proprietários

que

contraíam

dívidas

passivas relacionados aos maiores valores; e) as dívidas ativas e passivas, do primeiro período, originavam-se de pequenos negócios como a compra de poucos animais, cessão de escravos para prestação de serviços, sendo que grande parte das transações eram realizadas entre familiares; f) no segundo período, os empréstimos em dinheiro passam a predominar

a

realização

de

dívidas;

g)

as

doações

post

mortem para irmandades religiosas ou paróquias são muito comuns

no

primeiro

praticamente

período,

desapareceram

nos

sendo

que

inventários

tais

doações

do

segundo

período. Os dados acima são indicadores de que o dinamismo econômico

regional,

ocorrido

durante

o

século

XIX,

incentivou a circulação monetária, favoreceu transações de maior vulto e reduziu os endividamentos negativos (dívidas passivas) favorecendo o crescimento patrimonial via dívidas ativas.

181

A predominância do setor mercantil explica a relativa durante

importância os

períodos

da

riqueza

estudados.

declarada

Franca,

em

Franca,

favorecida

pela

situação geográfica - estrada de Goiás, foi sempre voltada para

os

provisão

mercados,

quer

para

marchantes,

os

seja

regionais ou

de

como longa

local

distância

participando do eixo econômico do centro-sul do país.

182

de

F O N T E S

E

B I B L I O G R A F I A

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