As uma lulik de Ainaro. Identidades sociais e rituais em Timor-Leste

May 18, 2017 | Autor: A. Fidalgo Castro | Categoria: Timor-Leste Studies, East Timor, House Societies
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As Uma Lulik de Ainaro ntidades sociais e rituais em Timor-Leste

Exposicdo Casa Europa, 6 a 10 de Abril de 2010 Dili, Timor-Leste www.anthroponet.org/umalulik

As Uma Lulik de Ainaro Identidades sociais e rituais em Timor-Leste

CREDITOS COMISSARIA DA EXPOSIcAO: Marfa Jesus Pena Castro COORDENA00 CIENTIFICA: Marfa Jesus Pena Castro (Universidad de Salamanca) e Luis Garate Castro (Universidade da Coruna) AP010 LOGISTICO: OTC AECID Timor-Leste COORDENA4A0 TECNICA: Laura Sanchez Perez (Espanha) e Demetrio de Amaral do Carvalho (Timor-Leste) TEXTOS: Maria Jests Pena Castro e Luis Garate Castro, corn a colaboracio especial de Alberto Fidalgo Castro IMAGEMGRAFIAS: Rafael Estevez Saavedra (exceto lmagemgrafias 36 e 38, de David Palazon) DESENHOS: Elena Tognoli INSTAL/00 TECNICA E MAQUETAS (UMA LULIK E Al -T0'05): Haburas Foundation DESENHO E MAQUETA4A0 EDITORIAL: Proxectos Graficos Aldine Ferrol. SERVIcOS INFORMATICOS E WEB: Ignacio Serantes Iglesias, Servicos Informaticos de ALGA IMPRESSAO IMAGEMGRAFICA: Cal 3 Fotografia ISBN: 978-84-936916-6-0 DEP. LEGAL: C 2757-2010

Capa (imagem 35): abObadas das uma lulik Marobo e Biluha. Contracapa (imagem 19): cemiterio em Mankati Hali Laran

AGRADECIMENTOS: Excelentissimo Sr. D. Virgilio Smith, Secretario de Estado da Cultura Excelentissima Sra. D. Aurora Bernaldez Dicenta, Embaixadora de Espanha em Timor-Leste Excelentissimo Sr. D. Juan Carlos Rey, embaixador da Una, Europeia em Timor-Leste Excelentissima Sra. D. Cecilia de Assis, Diretora Nacional da Cultura Excelentissimo Sr. Dr. Benjamin de Ara*, e Corte-Real, Reitor da UNTL Excelentfssimo Sr. D. Manuel Tilman Excelentissimo Administrador do Distrito de Ainaro, Sr, D. Manuel Pereira Chefes de subdistrito, suco e aldeia de Ainaro Sr. D Francisco de Asis Lopez Sanz Sra. D. Sofia Martins, Cooperac;io Portuguesa Sr. D. Alberto Fidalgo Castro, Universidade da Coruna Sr. Dr. Nuno Vasco de Oliveira, Dire* Nacional da Cultura Sr. D. Eugenio do Sagrado Corack de Jesus Sarmento, Direcki Nacional da Cultura Sr. D. Nuno Bianco de AraUjo, Dire* distrital da Cultura de Ainaro Sr. D. Lucas Serr5o Lopes, Secretaria de Estado da Cultura. Secretaria de Estado da Cultura do Governo de Timor-Leste Dire* Nacional da Cultura de Timor-Leste Embaixada da Espanha em Indonesia e Timor-Leste Embaixada da Uniao Europeia em Timor-Leste Embaixada da Portugal em Timor-Leste Embaixada da Franca em Indonesia e Timor-Leste Agencia Espanola de CooperaciOn Internacional pars el Desarrollo (AECID) Instituto Portugues de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) OTC- AECID em Timor-Leste Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL) Universidad de Salamanca (USAL) Universidade da Coruna (UDC) Haburas Foundation

NOTA DOS COORDENADORES Os contaidos desta exposick sk resultados cientifico-antropologicos de diferentes projetos e linhas de trabalho: 1°) Por urn lado, o projeto desenvolvido em parceria entre a Universidade da Corunha corn a Secretaria de Estado da Cultura sobre as uma lulik, corn colaborack tambem da ALGA e da Fundaca-o Haburas. Este projeto permitiu a realizack de trabalho de campo em Ainaro em Novembro e Dezembro de 2009 e foi uma iniciativa cultural europeia lancada pela Oficina Tecnica de Cooperacion espanhola em TimorLeste e enquadrada no contexto da Presidencia espanhola da UE. Foi urn projecto de apoio a revalorizack e a conservack da cultura nacional timorense e a projecck internacional da mesma, contando corn financiamento da Secretaria de Estado da Cultura do Governo de Timor-Leste, da Agencia Espanola de Cooperacion Internacional para el Desarrollo, da

Embaixada da Franca em Indonesia e TimorLeste, da Unia-o Europeia e do Institute Portugues de Apoio ao Desenvolvimento. A direck do projeto esteve a cargo de Cecilia Assis (Diretora Nacional da Cultura de Timor-Leste) e de Luis Garate, Professor da Universidade da Coruna. A equipa de investigack de campo foi constituida por Luis Garate, Eugenio do Sagrado Corack de Jesus Sarmento, Alberto Fidalgo Castro, Nuno Bianco de Ara* e Demetrio de Amaral do Carvalho, incorporando-se posteriormente Maria Jesus Pena Castro na investiga45o documental e analise de dados. Explicitamente mostramos o nosso agradecimento aos investigadores de campo deste projeto; e de forma especial agradecemos ao Senhor Virgilio Smith e a Senhora Cecilia de Assis o seu apoio e ao senhor Lucas Serrk Lopes pelo trabalho logistic° e a amizade demonstrada.

2°) Por outro lado, os diferentes projetos de investigacao social sobre a realidade social e cultural de Timor-Leste desenvolvidos desde o ano 2006 ate a atualidade por investigadores da Universidade da Coruna e da ALGA (Asociacion Luso-Galega de Antropoloxia Aplicada) em parceria corn a UNTL (Universidade Nacional de Timor-Leste). Estes projetos foron desenvolvidos corn financiamento da Universidade da Coruna (UDC), Cooperacion Galega e ALGA, no ambito do acordo de parceria assinado pelos reitores da UNTL e da UDC. Por este motivo, ademais dos reconhecimentos mencionados na pagina anterior, mostramos o agradecimento a todos os investigadores e investigadoras da UNTL e da UDC que durante estes anos participaram em pesquisas conjuntas no quadro do acordo de parceria cientifica entre a UNTL e a UDC; especial mencao ao professor Benjamin de Araujo e Corte Real e ao professor Miguel Maia. Explicitamente agradecemos ao Padre Dr. Filomeno Jacob a sua ajuda e apoio que facilitou a ligacao entre UNTL e UDC. Agradecemos

tamben ao senhor Benardino da Costa o seu apoio logistico e a senhora Maria de Fatima da Concepcao Soares do Externato Sao Jose a sua amizade e apoio para corn as equipas da UDC deslocados em Timor neste period°. Finalmente mostramos o nosso reconhecimento ao senhor Francisco de Asis Lopez , pelos seus conselhos e apoio, bem como pela sua visa° da relacao entre Cultura e Desenvolvimento.

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Imagem 1. Porta (odamatan / salmatan) da uma lulik Darlau, suco Nunumogue.

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Au hoda ba tad, ada ba tad Au usa ba tad, leola ba tad Au keo foro lelo Au noir sai ada

Nao conheco nem o dia nem a noite Nao conheco nem a chuva nem a seca Rezo pelos dias que passaram Preservo a tradick para os dias que virk

Au inan ba debi selun id Au aman ba fahe knair id Au tuir ni oe haita Au dad ni kneora Au hoda ba tad Au ada ba tad Au keo foro leo Au noir sai ada

Minha m'ae nao transladou coisas diferentes Meu pai nao transmitiu coisas alteradas Sigo na pegada Sigo a pista da erva Nrao conheco a noite N5o conheco o dia Rezo pelos dias que passaram Preservo a tradick para os dias que virAo

Poemas mambae (transcritos por Elizabeth Traube, Cosmology and Social Life. Ritual Exchance Among the Mambai of East Timor, Chicago: University of Chicago Press, 1986).

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Visa° global da exposicao na Casa Europa.

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APRESENTA00: 0 QUE E A UMA LULIK? ORGANIZA00 DA EXPOSIcA0 As uma lulik ou casas sagradas sho bem mais do que uma edifica* formalmente simples. As uma lulik sho a expresso materializada do grupo familiar que representam, constituem a natureza do culto tradicional dos antepassados como cenario privilegiado da praxe ritual e das cerimonias. Alern disso condensam, no espaco da sua estrutura arquitectonica, o entendimento do mundo dos timorenses, os valores sociais que presidem a vida da comunidade e a ordenacao cultural da realidade. Como vestigio do passado particular no Estado democratic°, as uma lulik encarnam uma estrategia activa de definicao da identidade nacional. As casas sagradas simbolizam a nova liberdade, a democracia e a sustenta* da lndependencia sobre a historia e a tradicho. Sao o emblema da continuidade entre passado, presente e futuro e a Integra* dos mundos ritual, sensivel e social na concep* do espaco e da estrutura grupal. A uma lulik representa a continuidade no tempo da uma lisan, a familia no sentido amplo ou a linhagem na linguagem antropologica. Expressa o vinculo entre os antepassados, a geracao actual e as geracoes futuras. E o espaco para a celebra* dos rituals e cerimonias que oferecem coerencia interna aos grupos sociais. Tambern é o 'ambito adequado para a comunica* e comunhao corn os antepassados. Mas em si mesma, é a representacho da ordem cosmovisiva. Trata-se de uma construcho, mas sobretudo de urn conceito ou ideia, aglutinadora de simbolos, matriz de significados transcendentes e materializa* de conteildos espirituais.

0 acesso ao interior da casa costuma estar condicionado a uma serie de regras fundamentais que devem ser observadas cuidadosamente, de aplicack ao estranho ou aos proprios membros da familia. Estes requesitos, aplicados corn maior ou menor flexibilidade, no marco sempre de uma casuistica muito ampla, o que vern sublinhar e enfatizar a ideia de tabu como elemento consubstancial da uma lulik. De facto a traducAo da palavra lulik como tabu é a mais adequada para a compreensao do mundo das uma lulik, j6 que estas girarn em torno de um conjunto normativo de proibi(oes e preceitos que devem regular a vida social. A exposic5o centra-se nas uma lulik do distrito de Ainaro. Estrutura-se em cinco secciies que contemplam as diferentes dimens5es das casas sagradas. Na primeira secck explora-se a ubiquac5o na geografia das casas sagradas e tambem a arquitectura exterior e interior, mostrando a variedade de morfologias presentes em Ainaro. Na segunda secc5o apresenta-se a cosmovis5o timorense materializada nas uma lulik, a partir da ligack entre Cultura e Natureza, a devocAo pelos antepassados e o culto tradicional. A terceira sec(ao dedica-se ao entorno das uma lulik, onde hali e ai-to'os projetam a binornia simbOlica pedra e madeira. Na sec* quarta revisan-se as estruturas arquitetonicas das uma lulik. E por ultimo, na quinta secck, contempla-se as uma lulik no contexto da arquitectura tradicional. 0 itinerario da visita proposto avanca linearmente por estas cinco secoes conforme o seguinte piano:

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Modulos de contido e itinerario aconseihado para ver a exposicao Itinerario aconseihado Apresentacao. 0 que e a uma lulik? Localizacao no espaco e morfologia exterior e interior Cosmovisao Elementos adjetivos ("pedra e madeira" na uma lulik) Estruturas A uma lulik no contexto da arquitectura tradicional 111

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LOCALIZA00 NO ESPAc0 E MORFOLOGIA EXTERIOR E INTERIOR Despregadas no alto das montanhas (foho em tetun) e outeiros as uma lulik erguem-se grandiosas como emblemas culturais imersos na Natureza. Nestes lugares sagrados localizam-se com frequencia em conjuntos de duas ou mais casas sagradas. Estes nucleos relacionam-se corn os demais conjuntos numa rede ordenada de distribuica'o espacial, ritual e funcional, numa logica coerente de organizac5o social dos grupos humanos de Ainaro. Neste distrito diferenciam-se dois tipos basicos de uma lulik, partindo da forma do telhado que condiciona o resto da estrutura: o modelo de abobada ou telhado conic° e o modelo de telhado a quatro Aguas ou vertentes formado por quatro pendentes ascendentes. 0 primeiro apresenta uma planta circular e é exclusivo do norte do distrito (subdistrito de Maubisse). 0 modelo de quatro vertentes apresenta uma planta cuadrangular e e exclusivo dos subdistritos de Ainaro e de Hatu-Udo — no centro e sul — e do suco Mau-Chiga de Hatubuilico. A transi45o entre os dois modelos encontra-se nos sucos Mulo e Nunomogue (subdistrito de Hatubuilico), onde se podem observar uma lulik de uma ou outra tipologia. Um elemento muito caracteristico e visualmente espetacular é o uma kakuluk, peca que remata o telhado. A simplex ou a dupla cabeca segundo um modelo ou outro, identificam cada casa e constituem urn importante simbolo lulik que a diferencia.

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.Modelo de abobada • Modelo de quatro aqua,. in ZOIli, .I.• i ransitao

I

Fatu

Aileu Maubisse Liurai orai-Quic

Maulau

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Manelobas

Maubisse Manetti Mut°

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Distribuicao de modelos de Uma Lukik em Ainaro Mapa: distribuicao espacial dos tipos de uma lulik.

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PAINEL 2. Localizacao no espaco A localizac5o das uma lulik na natureza, no alto dos outeiros e montanhas ou sobre pequenas saliencias das suas encostas, outorga-Ihes uma grandiosidade e beleza que cativa o olhar. A sua situack particular sobre a orografia expressa a comunhk existente entre Cultura e Natureza, entre o homem e o seu meio, entre a ecologia, criatividade e imaginack cultural. A uma lulik emergindo do seu meio escreve uma partitura em que a lirica adquire a sua maxima densidade expressiva. E a metafora viva do cordk umbilical que une a tradicao corn a terra, o passado corn o futuro, a permanencia dentro da mudanca.

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Imagem 2. Uma lulik Tau Udi e uma liras Pertai, suco Fatu Besi, aldeia Kasindei.

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Imagem 3. Conjunto de Bere Dato, Leo Naru, Laku Dato e Mau Dato, suco Nunumogue, aldeia Nunumoguelau.

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PAINEL 3. Agrupamentos de uma lulik Na sua distribuick espacial na topografia de Ainaro as uma lulik localizam-se corn frequencia em conjuntos de duas ou mais casas, corn os seus correspondentes elementos adjectivos, como hali, aito'os e oratorios. As casas sagradas de urn conjunto estAo ligadas entre si por rela45es que se sustentam na distribuicAo de funcoes, o parentesco e as hierarquias sociais.

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Imagem 4. Conjunto de Kufti-Darufti, suco Nunomogue, aldeia Lebo-Lau.

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Imagem 5. Conjunto de Bere Dato, Leo Naru, Laku Dato e Mau Dato, suco Nunumogue, aldeia Nunumoguelau.

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PAINEL 4. Exterior do modelo de ab6bada ou telhado conic() Exibindo a sua monumentalidade a quilometros de distancia o modelo de telhado conic° apresenta um perhetro exterior em forma circular ou ligeiramente ovalada. Em alcado o modelo articula-se em tres niveis espaciais: A) a parte inferior ao res-do-ch5o e por baixo da coberta do espaco interior é onde se localizam os pilares da casa; este espaco, pelo menos na zona norte de Ainaro, recebe o nome de liu suan lalan. B) a uma laran ou espaco interior junto de uma especie de varanda (lako tete), atraves da que se acede ao interior da casa. C) o espaco existente debaixo da coberta, formado por uma complexa estrutura de pilares, vigas e colunas que configuram dois ou tres andares segundo os casos. 0 telhado esti rematado por uma peca chamada uma kakuluk, sendo de cabeca simples neste modelo.

Imagem 6. Uma lulik Tau Udi, suco Fatu Besi.

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Imagem 7. Uma lulik Biluha, suco fatu Besi.

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PAINEL 5. Exterior do modelo de telhado a quatro Aguas Este tipo de casa é caracterizada por uma grande espacialidade, superficie e volume interiores. As uma lulik do complexo de Nunomoguelau, do Kabalake ou do suco Suro-Craic, s5o possivelmente as de major tamanho dentro deste modelo. 0 perimetro exterior descreve uma forma quadrangular. Apresenta uma dupla varanda ou laku tete: varanda homem e varanda mulher (isto é, respectivamente lakolau umulu/lakolau apmata em mambae e homaul/hoto alan em bunak). Cada porta — uma por varanda — categoriza-se tambem em fun45o do genero atribuido a varanda: odamatan mane (salmatan umulu e tasu guidal humaul em mambae e bunak respectivamente) e odamatan feto (em mambae salmatan apmata e em bunak tasu guidal hoto alan). 0 uma kakuluk apresenta uma morfologia de dupla cabeca unidas por uma peca de madeira que costuma talhar-se e decorar-se, ou com elementos no figurativos e geometricos, ou corn elementos zoomorficos como passaros, cAes, etc.

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Imagem 8. Uma lulik Koli Tara, suco Mau-Chiga.

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Imagem 9 Uma lulik Bere Dato, suco Nunumogue

As Irma lulik de Ainam Identidades snciais e rituals em Timor-Leste

PAINEL 6. Interiores Diferentes estruturalmente, os dois modelos de uma lulik compartem a espetacularidade e amplitude do espaco interior. Ainda que o interior da uma laran parecesse ser urn espaco continuo, diferentes elementos vem diferenciar lugares de marcada expresividade ritual: portal, vigas, pilares, fog'oes... Cada esquina da uma lulik esta significada ritualmente e semantizada segundo os codigos culturais locais. No modelo das uma lulik de abobada arnica o andar (uma laran em tetun e fad lala em mambae) constitui urn espaco quadrado ou ligeiramente retangular em tres de cujos lados se dispaem uma especie de tarimas (ai-rab laun em mambae). No centro da uma laran em paralelo corn a fachada (uma-oin) dispoem-se uma estrutura rectangular de madeira (helia teten em mambae) em cujos extremos dispoemse dois fogoes (helia) ou lareiras; uma delas é utilizada quotidianamente para cozinhar ou para aquecer a casa e a outra enquanto a outra so se acende em ocasioes cerimoniais e corn funcoes rituals. Neste modelo o kabi'uda e uma peca saliente dos pilares e colunas interiores da casa que desempenha uma funck de cabide. 0 kabi'uda localizado no pilar central do extremo oposto da fachada, tern caracter lulik e forma uma especie de altar, constituindo o polo mais sagrado no microespaco da uma lulik, o lugar idoneo para se dirigir aos antepassados. A frente deste pilar colocam-se as cestas (mama fatin) que guardam oferendas para os antepassados. Sobre este poste colocam-se tambern as cornamentas dos animais sacrificados nas cerimonias e, corn assiduidade, o seu carkter lulik reforcase corn a colocack no mesmo de outros objectos ou elementos lulik: surf, manu fulun, etc.

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No modelo das uma lulik de telhado a quatro aguas o tipo de fogk do modelo anterior é substituido por outro diferente situado na lateral, desaparecendo tambem as ai-rab laun enquanto que o kabi'uda lulik se substitui por urn elemento muito caracteristico deste modelo: o ai-sara (tetun) ou sasa (mambae). Esta peca tern urn papel analog() ao do kabi'uda das casas do Norte. Consiste numa bandeja quadrada ou rectangular de madeira que se pendura no uma kakuluk directamente ou indirectamente atraves de uma peca circular chamada lilat. 0 ai-sara ou sasa serve de bandeja ritual, ern que se depositam oferendas em forma de alimento para os antepassados.

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Imagem 10. Uma lulik Bere Dato, suco Nunumogue. No centro o ai-sara. ;(1

Imagem 11. Uma lulik Biluha, suco Fatu Besi. Primeiro piano: o helia teten; laterais: os ai-rab laun; fundo centro: kabi'uda lulik.

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COSMOVISAO A cosmovisAo timorense ordena-se sobre a ideia do equilibria entre o passado e o futuro, os antepassados e as geracoes que virk, os poderes sobrenaturais e os humanos, o mundo dos vivos e dos mortos... Este equilibrio deve ser renovado, fortalecido e restaurado periodicamente no ciclo ritual. Na celebra45o colectiva de cerimonias e dos rituais actualizam-se e interpretam-se os vinculos da comunidade e a sua comunhk corn a natureza e corn os antepassados. As uma lulik sao o cenario privilegiado e obrigado destas celebracoes como espaco ritual essencial. Estas cerimonias funcionam como vinculo e como recordack do passado, da historia compartilhada, e da inerente rela45o dos vivos corn os antepassados falecidos e as geraccies futuras neste entendimento global do tempo e do devir da linhagem. A religi5o tradicional gravita sobre a vincula* entre todas as entidades da Terra, animadas e inanimadas, vivas e mortas, que procedem todas da mesma origem mitica, urn deus originario, o primeiro motor do mundo em sentido aristotelico, que criou as deidades originarias, o Pai Sol e a Mk Terra, origem de todos os demais. Desta maneira, a rela* entre os vivos e os mortos, os antepassados, e a vincula* entre todos os seres humanos e os entes naturais e sobrenaturais é a base de urn culto tradicional promovido sobre a propicia* da fertilidade como elemento constitutivo essencial para a vida humana. Nesta disposi45o, a adorack produz-se no ambito familiar, a uma lisan, entendida no sentido da linhagem extensa a qual sao adstritas as pessoas por nascimento ou por casamento, e da qual tambern fazem parte os antecedentes e os ainda nao nascidos, na reuniao dos diferentes niveis da realidade: o ultramundo e o mundo sensivel. Portanto, a uma lulik é o emblema da continuidade entre todos os ambitos da realidade e entre os diferentes tempos que estabelecem o continuum da existencia.

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PAINEL 7. Natureza e Cosmovisho A continuidade ontolOgica entre o mundo natural, humano e sobrenatural constitui urn principio fundamental do entendimento da vida local. Temporariamente estabelece-se uma rela45o conceptual que incorpora passado, presente e futuro e que se localiza na sacralizac5o de espacos naturals emblematicos, essencia da permanencia, para alem da fugacidade da vida humana. As montanhas s5o simultaneamente antepassados e destino temporario das almas dos mortos. Assim, o nome traditional do Monte Ramelau era Tatamailau, o primeiro de todos os avos, e a montanha a que v5o todos os avos.

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Imagem 12. A montanha sagrada do Ramelau, em Hatubuilico.

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MacIco do Kabalake

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PAINEL 8. 0 culto tradicional aos antepassados A contemplack metaffsica da natureza complementa-se corn a devocAo pelos antepassados, aos quaffs se venera numa contiguidade consagrada entre os vivos e os mortos. A relack entre os vivos e os mortos, os antepassados, e a vincula(k entre todos os seres humanos e os entes naturals e sobrenaturais sk a base dum culto tradicional promovido sobre a propicia45o da fertilidade como elemento constitutivo essencial para a vida humana.

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Imagem 14. Representacao dos primeiros antepassados. Uma lulik Loko Meta.

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Imagem 15. Representacao dos primeros antepassados e lugar de oracao. Uma lulik Darlau.

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PAINEL 9. Especialistas rituals 0 culto produz-se no ambito familiar, celebrado pelos especialistas em rituals tradicionais, lulik-na'in ou kuko. Esta ()rack tira a sua essencia dos discursos e da narrativa oral, na voz daqueles que possuem o conhecimento privilegiado e o dom da oratoria.

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Imagem 16. Uma lulik Loko Meta. 40

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PAINEL 10. A vida ceremonial

Imagem 17. Mulheres com instrumentos musicais tradicionaia em uma cerimonia em Hatubuilico..

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PAINEL it Vida, morte e antepassados Na tradick timorense a vivencia e a percep45o da morte n5o constituem urn elemento negativo nem temido. Vida e morte sao duas caras da mesma moeda. Nesta conviv8ncia de vida e morte, os antepassados sao reverenciados na uma lulik e a devock pelos mortos complementa-se corn o proprio enterro dos falecidos no perimetro tanto das caras sagradas como das proprias moradias.

Imagem 18. Uma lulik e cemiterio em Tau Udi.

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Imagem 19. Uma lulik e cemiterio em Mankati Hall Laran 44

PEDRA E MADEIRA (FATUK HO AI) NA UMA LULIK A uma lulik estende a sua sacralidade ao espaco em que se localiza. Situados no contorno das casas sagradas, os elementos adjetivos funcionam como vinculos entre os espacos humanos e os espacos naturais e sobrenaturais, as dimensoes sensivel e nao sensivel da realidade. Hali e ai-to'os representam a pedra e a madeira, icones de devoc5o, que foram entregues aos antepassados pelas deidades originarias e constituem fonte de poder e representacao da comunhao de todos os seres. A pedra e madeira sao elementos naturais reificados na praxe ritual como distintivos da relack corn o meio ambiente e os antepassados.

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PAINEL 12. 0 Hali 0 hali é urn tipo de ficus considerado sagrado e objecto de veneracao, associado a cerimonias e rituais, marcador territorial e identitario da comunidade. Simbolo do antecessor fundador da uma lulik, uma das suss funcoes é dar sombra (hamahon), conceito associado a protecao, refilgio e seguranca. A tala e a poda do hali estao proibidas e so aqueles ramos que caem de forma natural podem ser retirados. Mesmo assim, esta proibido o use da sua madeira. NA° é a imica das arvores que se considera sagrada, ainda que seja a que corn maior enfase se marca a sua sacralidade e a mais associada a cerimonias e rituais — entre as que destacam as vinculadas producao agricola, caso do Sau batar ou do Ai-hulun -. Cada hali recebe urn nome proprio, exclusivo e diferente a outros hali, nome que corn frequencia é tambern lulik. Sem cliivida urn dos exemplares mais espetaculares dos que podemos encontrar ern Ainaro é pelo triplo hali do cemiterio de Suro-Craic (Imagem 21). Trata-se de tres exemplares que brotam do mesmo lugar e que tem crescido entrelacando as suas rafzes e os seus ramos.

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Imagem 20. Hali de Luha Fere, no suco Horaiquic.

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Imagem 21. Triplo hall no cemiterio do suco Suro-Craic.

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PAINEL 13. 0 Ai-to'os 0 ai-to'os é a combinac5o simbolica de pedra e madeira. A forma mais conhecida de representar a madeira é urn tronco de arvore do que sobressaem na parte superior as suas respectivas seccoes laterais, dando a aparencia de figura antropom6rfica corn os bravos estendidos para cima. A tarima de pedra, fatuk-bossok, é urn altar traditional. A comunh5o de pedra e madeira (fatuk ho ai) enraiza as praticas humanas no mundo natural. As func"oes que cumpre urn ai-to'os s5o complexas. Uma destas funcoes tern a ver corn a seguranca, corn a protec45o do proprio a frente do alheio. As vezes o seu significado pode estar relacionado corn a fertilidade, tanto humana como da terra; naqueles ai-to'os deste tipo relacionados corn cerimonias de produ45o, costuma ser habitual pendurar-se no mesmo uma macaroca de milho. Ern algumas concepcoes miticas manifesta-se a ideia de que o ai-to'os é urn simbolo de uma antiga corda que unia no passado a Terra e o Sol, permitindo a comunicac5o entre ambos. Noutras visoes apresenta-se como o lugar em que os antepassados de uma casa estao representados e sao fonte de suporte das geracoes vivas da mesma casa. A tarima de pedra onde se coloca corn frequencia o ai-to'os recebe o nome especifico de fatukbossok. Pode conter urn ai-to'os, uma pedra considerada lulik, uma planta... 0 fatuk-bossok e sempre urn lugar de adora45o nas cerimonias tradicionais. A importancia do ai-to'os na cultura timorense reflecte-se nos usos sincreticos que recebe atualmente no contexto da Religik Catolica. Por isso é frequente encontrar urn ai-to'os na entrada de algumas igrejas (como por exemplo, a de Maubisse) ou perto das capelas da Cruz Jovem.

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lmagem 22. Ai-to'os na uma lulik Marobo.

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Imagem 23. Fatu Bosok na uma lulik Fad Tuto.

ESTRUTURAS A arquitectura da casa sagrada baseia-se num complexo esqueleto de traves, colunas e pilares. A uma lulik a uma vigorosa estrutura de coberta ab6bada conica num caso e telhado de quatro vertentes noutro que abriga no seu interior urn espaco habitacional ou andar levantado sobre o solo. Todos os elementos de sustentacAo — sabaribis, ai-riin mane, ai-riin feto, ai soba, surf manu — estAo em funcAo deste telhado, exceptuando aqueles cuja funcAo e suportar o andar. Mesmo o modelo de andar e de estrutura do espaco interior est5o estreitamente relacionados corn o tipo de telhado, já que as exigencias tectonicas da cobertura — o tipo de tensoes e a distribuicao progressiva ate a base — implicam estruturas de suporte diferentes em cada caso.

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PAINEL 14. Telhados Nas uma lulik de abobada (imagem 24) urn dos elementos de sustentacao e estabilizack do tecto é constituido por uma serie de traves e de pilares aereos que formam uma especie de quadriculas unindo diferentes pontos do telhado, oferecendo o reforco definitivo para estabilizar e fixar esta estrutura. Esta parte e denominada ai-bata. Nas uma lulik de telhado a quatro Aguas e frequente encontrar o ai-sara (imagem 25), 0 ai-sara ou sasa serve de bandeja ritual, em que se depositam oferendas para os antepassados no piano sobrenatural ou lulik inerente a casa.

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Imagem 24 AbObada da uma lulik Biluha.

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Imagem 25. Teito da uma lulik Bere Dato.

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PAINEL 15. Estruturas interiores e exteriores Os sabaribi — nome mambae - sao o conjunto de pilares perimetrais da casa (imagem 27). Estao unidos entre si atraves de uma serie de traves que tambern rodeiam todo o perimetro, chamadas leter leun. Alern destes outro tipo de pilares corn urn papel fundamental na sustentacao sao os ai-riin mane e ai-riin feto (pilar homem e pilar mulher). Aparecem geralmente formando pares e simbolizam a dupla simbiose do homem corn a mulher no sustento da casa. Urn deles é mais curto e tern como funcao suportar o andar ou estrutura habitacional (ai-riin feto). 0 segundo (ai-riin mane, imagen 26) é mais alto e prolonga-se a traves do andar ate o nivel medio do telhado, servindo de apoio ao tecto e a armacao interior de traves.

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Imagem 26. Estrutura de Coli Gatal — casa em construicao-. 57

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Imagem 27. Estrutura exterior perimetral de Pertai 58

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PAINEL 16. Representacoes graficas de estruturas Representa(oes graficas de interiores e de estruturas, elaboradas pela artista italiana Elena Tognoli.

Imagem 28. Representacao grafica de Fad Locar

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Imagem 29. Representacao grafica de Mane Hito

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Imagem 30. Representacao grafica de Mau-Ulo

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Imagem 31. Representacao grafica de Biluha (1)

Imagem 32. Representacao grafica de Biluha (2)

A UMA LULIK NO CONTEXTO DA ARQUITECTURA TRADICIONAL Na sua aparencia tangivel, a uma lulik nao e muito diferente as "uma adat" ou casas tradicionais de Timor. Estabelece uma continuidade formal e estrutural entre a uma lulik e as construcoes mais complexas da arquitectura tradicional domestica, que carecem de uma funck lulik relevante. As uma lulik representam urn ideal de construca'o domestica tradicional. As diferencas radicam no piano funcional, simbolico-ritual e em certos detalhes formais. Nas imagens 33 e 34 reproduzimos diferentes modelos de uma adat.

Imagem 33. Conjunto de uma adat em Maubisse.

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Imagem 34. Uma adat em Luha Fere. 64

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PAINEL 18

Imagem 36. 0 deska e uma peca de madeira disposta sobre as molduras que formam o espaco (helia teten) onde ficam os fog6es da casa; apresenta diferentes buracos onde se depositam oferendas aos antepasados. Imagemgrafia de D. Palazon.

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Imagem 37. 0 kabi'uda lulik caracteristico das casas do norte de Ainaro 6 o polo mais sagrado dentro do microcosmos que configura a uma lulik. Imagemgrafia de R. Estevez. 66

Imagem 38. Criancas em uma lulik. Imagemgrafia de D. PalazOn.

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Buti nor meta Timor nor Fortukes Austali nor Alimau Olandes nor Safones Ro inan id Ro aman id Mor buti nor meta Mor Malai nor Timor

Brancos e pretos Timorenses e Portugueses Australianos e Alem5es Holandeses e Japoneses Tern uma m5e Tern urn pal Quem deu a Iuz o branco e o preto Deu a luz o Malai e o Timorense

Poemas mambae (transcritos por Elizabeth Traube, Cosmology and Social Life. Ritual Exchance Among the Mambai of East Timor, Chicago: University of Chicago Press, 1986). 68

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Imagem 35. AbObadas das uma lulik Marobo e Biluha. 69

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Modelos de Ai-to'os e Uma lulik ab6bada.

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