As Vias da Corrupção, do Fascismo e da Democracia.

June 6, 2017 | Autor: Antonio Gasparetto | Categoria: Fascism, Democracy
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17/03/2016

As vias da corrupção, do fascismo e da democracia | Tribuna de Minas

ARTIGO DO DIA 17 de março de 2016 ­ 07:00

As vias da corrupção, do fascismo e da democracia POR ANTONIO GASPARETTO JÚNIOR, HISTORIADOR

Qualquer que seja a forma como será lembrada, a manifestação de rua do dia 13 de março de 2016 será um marco histórico na política brasileira. Diversos institutos de pesquisa atestam que os manifestos espalhados pelo país reuniram mais de um milhão de pessoas e superaram as manifestações das “Diretas Já”. Independentemente da precisão desses números, é claro e notório que as ruas foram tomadas por enormes multidões. Para entender o que aconteceu, no entanto, é preciso um grande exercício de sensatez e cautela. Em primeiro lugar, é salutar que pessoas de diversas idades estejam envolvidas por assuntos políticos, muito embora isso apresente muitas outras questões que serão indicadas posteriormente. A rua é do povo, e o despertar político é valioso. Contra essa perspectiva otimista, contudo, existe uma ameaça extremista muito grave. Assim como existe um grande despreparo que faz de milhares simples marionetes. O mote principal do manifesto foi a corrupção. Uma causa evidentemente nobre para se protestar contrariamente. Some­se a isso a insatisfação com a condução da economia brasileira, que apresenta seguidos resultados insatisfatórios. Dois elementos que carecem de defesas, mesmo para aqueles que votaram e defendem o atual Governo. Mas se a crise econômica é ampla e afeta vários segmentos da sociedade, de qual corrupção estamos falando? Este é o primeiro ponto­chave que mina os manifestos. Que se mantenha a cautela, contudo. Boa parcela desses manifestantes associa imediatamente corrupção ao Partido dos Trabalhadores ou, pior, somente a ele. O que é fruto de uma extensiva campanha midiática e de oposição que o coloca nos centros das atenções. Por outro lado, se esquecem de outros vergonhosos atos de partidos com tradição mais longeva, inclusive, de corrupção, como PSDB, PMDB, DEM (antigo PFL) e outros. E é neste sentido que milhares se tornam marionetes, quando acreditam que a purificação do país passa pela exclusão do PT do cenário político. Enquanto a realidade está longe de ser esta, caberia, na verdade, uma pergunta mais honesta: contra qual corrupção se concentram as indignações? Seria inocência infantil dizer que não há corrupção envolvendo membros do PT, assim como é inocência negar que elas existem de igual forma nos outros partidos e eximi­los das críticas, ou deixando­os em segundo plano. Por isso, não foram manifestos pelo fim da corrupção, mas manifestos que permitem vazão para certo tipo de corrupção velada. A oposição, que tanto almeja a saída de Dilma e a desconstrução da imagem do PT, está atolada em casos horrendos de corrupção, oportunamente esquecidos pela mídia e, por http://www.tribunademinas.com.br/as­vias­da­corrupcao­do­fascismo­e­da­democracia/

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consequência, pelo povo. Caso houvesse realmente uma grande e honesta empreitada contra a corrupção neste país, seria preciso reconstruir o Congresso. Mas continuemos pautados pela sensatez. O que se pode constatar do manifesto é que ele se revelou heterogêneo. Muito embora algumas pesquisas tenham demonstrado que a composição socioeconômica tenha um perfil mais abastado, as aspirações passam por caminhos diversos. De um modo geral, os envolvidos estavam insatisfeitos com o Governo Dilma, o que é natural e justificável. Mas se o esperado era o benefício da direita aflita pelo poder, isso, em parte, também foi desconstruído. Aécio e Alckmin (símbolos do PSDB desesperado para assumir o poder) foram expulsos da manifestação, xingados e acusados de oportunistas. Ou seja, há uma parcela dessas pessoas nas ruas ciente de que a sujeira está por todos os lados, como demonstram alguns cartazes que igualavam a corrupção de todos os partidos. Ponto positivo e enunciador de uma esperança para a democracia brasileira. No entanto, o ponto negativo foi marcado pela extrema direita. Este é o segundo ponto que mina as manifestações e revela um risco seríssimo de radicalização. A extrema direita é liderada por indivíduos como Bolsonaro, Malafaia e Feliciano, que se expressam sempre aos gritos ou com feições enfurecidas e destilam ódio e intolerância por todos os lados. Essa é a ala dos manifestantes que inclui a vergonhosa desinformação e mesmo a burrice. Eles pedem intervenção militar (não legalmente aplicável), querem a eliminação de petistas (em manifestações muito parecidas com as atribuídas aos judeus na Alemanha), só enxergam a corrupção do PT (imaturamente), acreditam que o comunismo está em andamento no Brasil (argumento esquizofrênico), lutam contra a “ditadura gayzista” (algo tão estúpido que só deve servir para esconder alguns desejos reprimidos) e querem vincular religião com tudo (um retrocesso para a Idade Média). Em suma, estamos frente a três vias: a que faz escolhas entre as corrupções toleradas e repugnadas, a fascista e a democrática. Desta forma, é equívoco julgar que os manifestantes do 13 de março de 2016 são todos golpistas. Infelizmente, o despreparo para as questões em pauta é decorrente de um problema educacional que é estrutural e não curiosamente é esquecido. Os componentes dessa parcela dos manifestantes servem como massa de manobra para outros projetos ilícitos. Mas existe uma pequena chama de esperança no fortalecimento da democracia que toda essa insatisfação pode nos oferecer como crescimento. É esse o caminho que precisamos valorizar e nos apegar, enunciador de uma ampla reforma política. Colocando em destaque na pauta o modo como a coisa pública é gerenciada em nosso país e o modo como os políticos em geral exercem seus cargos em função de causas próprias. Almejando efetivamente o fim da segregação racial, social, de gênero e também política em nosso país, assim como o fim dos privilégios de múltiplas expressões. Só que isso demanda enorme sensatez e preparo crítico, dois elementos que estão em latente carência. O que devemos esquecer, no entanto, é a via da extrema direita, esta que nos envergonha. Ou estaremos condenados a repetir a história como tragédia.

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