Ascetismo e a Vontade de Nada em Nietzsche

May 31, 2017 | Autor: Colunas Tortas | Categoria: Friedrich Nietzsche, Nietzsche, Ascetismo, Vontade de poder
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A vontade de nada em Nietzsche

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ASCETISMO E A VONTADE DE NADA EM NIETZSCHE NIETZSCHE

Por Vinicius Siqueira

O que é a “vontade de nada” em Nietzsche? Como ela se relaciona com o ressentimento? De certa forma, Nietzsche responde à filosofia de Schopenhauer quando formula os caminhos da vontade até chegar ao nada. É necessário começar pela terceira dissertação da

Genealogia da Moral, O que significam ideias ascéticos. O texto revela diversos significados que os ideais ascéticos podem tomar, as diversas formas que ele pode ter,

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A vontade de nada em Nietzsche

O que significam ideais ascéticos? — Para os artistas nada, ou coisas demais; para os filósofos e eruditos, algo como instinto e faro para as condições propícias a uma elevada espiritualidade; para as mulheres, no melhor dos casos um encanto mais de sedução, um quê de morbidezza na carne bonita, a angelicidade de um belo e gordo animal; para os fisiologicamente deformados e desgraçados (a maioria dos mortais) uma tentativa de ver-se como “bons demais” para este mundo, uma forma abençoada de libertinagem, sua grande arma no combate à longa dor e ao tédio; para os sacerdotes, a

característica



sacerdotal,

seu

melhor

instrumento de poder, e “suprema” licença de poder; para os santos, enfim, um pretexto para a hibernação,

sua

novissima

gloriae

cupido

[novíssima cupidez de glória], seu descanso no nada (“Deus”), sua forma de demência. Porém, no fato de o ideal ascético haver significado tanto para o homem se expressa o dado fundamental da vontade humana, o seu horror vacui [horror ao vácuo]: ele precisa de um objetivo — e preferirá ainda querer o nada a nada querer. 1 1

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica. Lelivros,

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A vontade de nada em Nietzsche

É importante entender esta última frase que irá compor, inclusive, o último aforisma da dissertação: o homem “preferirá ainda querer o nada a nada querer”. O nada representa algo de última importância, um

faute de mieux (algo como aquilo que está lá pela falta de algo melhor)2. Ele é a última salvação, é o último lugar para o qual o querer pode apontar. O ascetismo, assim, é a maneira de apontar um objeto para o querer, neste caso, o próprio nada, afinal, para Nietzsche, não há vida fora do querer: é possível querer o nada, mas não é possível deixar de querer. Para

indicar

como

funciona

esse

querer-nada,

Nietzsche indica três “palavras de pompa” do ideal ascético, “humildade, pobreza, castidade”3. O

autor

revela

que

é

possível

assumir

as

características acima sem se dedicar ao ideal ascético, Kindle Edition, locations 1429-39. 2

BRUSOTTI, M. Ressentimento e Vontade de Nada. Cadernos Nietzsche

8, 2000, p. 6. 3

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1631.

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é possível simplesmente se dedicar inteiramente a um objetivo que, por ser grande e importante, pede dedicação, observemos de perto as vidas dos grandes espíritos fecundos e inventivos — todas as três serão sempre encontradas até certo grau. Não, entendese, que sejam talvez “virtudes” suas — que tem essa espécie de homens a ver com virtudes! — mas as condições mais próprias e mais naturais de sua existência melhor, de sua fecundidade mais bela. Nisto, é bem possível que sua espiritualidade dominante tivesse primeiramente de pôr freios num orgulho indomável e suscetível e numa sensualidade caprichosa, ou que tivesse a custo mantido sua vontade de “deserto” diante de um pendor ao luxo e ao rebuscamento.4

Este deserto, por sua vez, é a solidão de poder se concentrar num objetivo específico e perder-se na

4

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1631-

1637.

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A vontade de nada em Nietzsche

irrelevância do restante das coisas, é onde os espíritos fortes, os homens cultos, precisam se isolar, Uma obscuridade voluntária, talvez; um evitar a si mesmo; uma aversão a barulho, veneração, jornais, influência; um emprego modesto, um cotidiano, algo

que

esconda

mais

do

que

exponha;

ocasionalmente, contato

com bichos e aves

inofensivos

cuja

e

alegres,

visão

distraia;

montanhas como companhia, mas não mortas, e sim com olhos (ou seja, lagos); até mesmo um quarto numa pensão sempre lotada, onde se esteja seguro de ser confundido com outros, e de poder falar impunemente com qualquer um — isto é “deserto”: oh, é solitário o bastante, creiam-me!5

Esta parcela de ascetismo faz parte das condições propícias para a melhora do homem, se trata de uma “dura e serena renúncia” que abre caminho para a

5

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1639-

1647.

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A vontade de nada em Nietzsche

elevação do espírito6. E é por isso que filósofos o abraçaram com carinho – como Schopenhauer, que será exposto mais à frente. No entanto, este abraço carinhoso não torna o ascetismo menos contraditório. A vida ascética é dominada pelo ressentimento, é uma maneira de utilizar a “força para estancar a fonte da força”, um desejo de dominar a vida como um todo, não somente alguns objetos, ou seja, o desejo de dominar a própria vontade e, a partir disso, se voltar contra o próprio florescimento

fisiológico,

quando

práticas

de

autoflagelo, perda voluntária e autossacrifício trazem satisfação. O paradoxo da vida ascética é este, portanto: quanto mais o corpo desvanece, quanto mais a vitalidade é perdida, maior é o domínio sobre a vida por completo e, assim, mais triunfante é o ascetismo7. 6

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1690-

1693. 7

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1797-

1805.

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A vontade de nada em Nietzsche

Mas porque o homem se rebaixaria ao ascetismo que claramente lhe causa a morte, a dor e o sofrimento? Pela busca do sentido. Segundo Nietzsche, o homem é um animal doente e sua doença é a falta de sentido no mundo. Este sentido, por sua vez, é aquilo que irá dar razão para o sofrimento. O sentido que o sofrimento adquire, não obstante, anula o sofrimento causado pela falta de sentido que ele tinha. O homem precisa de um sentido, de todo modo, para poder querer algo e o ideal ascético põe um fim ao sofrimento pela ausência de sentido. O homem também precisa de um sentido, para afirmar o sofrimento como um todo; e todo ideal suprime o sofrimento sem sentido [...]O sofrimento torna-se,

então,

realmente

questionável

e

insuportável, se ele é desprovido de sentido. O ideal ascético dá a cada sofrimento um sentido; e se um sentido é dado a ele, o homem pode até mesmo querer e procurar o sofrimento [...] Deste modo,

o

ideal

simplesmente,

as

ascético duas

supera,

formas

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pura

e

principais

de

8

A vontade de nada em Nietzsche

sofrimento insuportável – o sofrimento pela ausência de sentido e a “ausência de sentido do sofrimento”8

O homem é doente, sofre, o ascetismo é uma tentativa de cura, o ideal ascético nasce do instinto de cura e proteção de uma vida que degenera, a qual busca manter-se por todos os meios, e luta por sua existência; indica uma parcial inibição e exaustão fisiológica, que os instintos de vida mais profundos, permanecidos

intactos,

incessantemente

combatem com novos meios e invenções. 9

Assim, o ascetismo é a tentativa do sofredor manterse vivo, criando algum significado para o mundo que o cerca. O ascetismo diz para o sofredor que o sofrimento é sua vitória, que a morte da vitalidade é o destino desejável. No entanto, Nietzsche, ao escrever

8

BRUSOTTI, M. Ressentimento e Vontade de Nada... p, 6-7.

9

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1843-

1846.

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A vontade de nada em Nietzsche

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sobre a vontade de nada, responde diretamente à Schopenhauer e seu Mundo como Vontade e

Representação.

Vontade e ascetismo em Schopenhauer Para Schopenhauer, a vontade é a coisa em si de Kant, a substância dos fenômenos10. Segundo o autor alemão, a vontade é livre, mas qualquer objeto, qualquer fenômeno, é determinado por causas e efeitos. [A pessoa humana] não é nunca livre. Embora seja o fenômeno da vontade livre, por isso que é precisamente um fenômeno já determinado por esta vontade livre; submetendo-se à forma de todo objeto, ou seja, ao princípio da razão, ela desenvolve, é verdade, a unidade da vontade em ações inumeráveis, mas tal pluralidade de ações

10

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação.

Rio de Janeiro: dições de Ouro, 19--?. Coleção Universidade, p, 44.

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A vontade de nada em Nietzsche

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conserva o rigor de uma lei natural, por causa da unidade extratemporânea desta vontade em si. 11

Para Schopenhauer, assim como Nietzsche, primeiro há o querer, depois o objeto de desejo. No entanto, diferente de Nietzsche, o primeiro propõe que a maneira de alcançar a verdadeira liberdade (ou seja, fugir do determinismo causado pela vontade, que é livre, mas que determina nosso conhecimento e nosso caráter) está na negação da vontade, porém, esta negação não acontece sem uma percepção diferente do mundo, A vida pode ser comparada a um caminho circular, coberto, salvo poucos espaços livres, de chamas ardentes, caminho que o homem deve percorrer sem trégua. O solo frio que, num dado momento, sente sob os pés, ou que vê próximo, a tal ponto o garante, que se nutre ainda de ilusões e continua o caminho. Mas aquele que, por haver penetrado o princípio da individuação, vê a natureza verdadeira

11

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…

p,46.

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e o conjunto das coisas, já se não torna acessível a tais consolações. Ele se vê ao mesmo tempo em todos os pontos do caminho e prefere abandonálo. A vontade se lhe transforma. No lugar de afirmar, nega a própria essência da qual o corpo não é senão reflexo.12

Para se ver em todos os pontos do caminho e preferir abandoná-lo, sugere Schopenhauer, é necessário fugir da vontade e sentir indiferença em relação a tudo, é necessário ter uma vida ascética. “Uma castidade voluntária e absoluta é o primeiro passo para uma vida ascética”13. A pobreza com fim em si mesma também é um passo necessário para a vida ascética, é essa pobreza que ajuda a mortificar a vontade. Esta resolução parte do princípio de que é possível eliminar a vontade (pelo menos em sua maior expressão, afinal, Schopenhauer admite que a vontade 12

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…

p,158. 13

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…

p,159.

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ainda permanece viva na vida ascética o suficiente para manter o organismo vivo), O que eu entendo num significado mais restrito por ascetismo, palavra que até aqui tenho usado com frequência, é precisamente o aniquilamento intencional da vontade, obtido com a renúncia de tudo quanto agrada, ou com a procura de tudo aquilo que não agrada, com a prática voluntária de uma vida de penitência ou de mortificação, com o fim de suprimir, sem trégua, o querer. 14

A discussão de Nietzsche na Genealogia da Moral toma como interlocutor Schopenhauer e pretende desacreditá-lo naquilo que diz sobre o ascetismo e a vontade. Ao contrário de Nietzsche, que afirma a possibilidade de se querer o nada, Schopenhauer compreende que é possível nada querer. O ascetismo para Nietzsche é a tentativa do animal doente dar sentido a sua vida,

14

SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação…

p,173.

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A vontade de nada em Nietzsche

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mesmo que este seja ilusório, já em Schopenhauer, é a reação esclarecida quando se percebe penetra o princípio de individuação e o princípio da razão, quando a vontade é suprimida e a liberdade é alcançada. O ponto alto, objetivo central das elucubrações de Schopenhauer, portanto, é, em Nietzsche, um dos pontos mais baixos que o homem pode alcançar: querer o nada para dar um sentido à vida e, assim, não conseguir valorá-la por si próprio. Isso porque, na filosofia do primeiro, o nada é a libertação do sofrimento e única possibilidade de liberdade (já que o conhecimento não seria mais determinado pela vontade), enquanto, para o segundo, o asceta se trai quando deseja a liberdade se aproximando da morte, da cessação de qualquer satisfação da vontade, porque o ideal ascético é um movimento de preservação da vida, uma forma de mantê-la em pé apesar da fraqueza do indivíduo.

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A última vontade do homem O que é de temer, o que tem efeito mais fatal que qualquer fatalidade, não é o grande temor, mas o grande nojo ao homem; e também a grande compaixão pelo homem. Supondo que esses dois um dia se casassem, inevitavelmente algo de monstruoso viria ao mundo, a “última vontade” do homem, sua vontade do nada, o niilismo15.

O mundo não faz sentido, é dor e sofrimento. Não há razão para sua existência, não há sentido para que haja a existência em vez do nada tomar conta de tudo. Não há sentido claro para se manter vivo e a própria natureza – que é imoral – mostra o absurdo do mundo, entende Schopenhauer16. A vontade, que é a força de impulso para viver, é a única coisa que mantém as presas e caçadores vivos, pois, caso 15

NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – Uma Polêmica... L, 1875-

1878. 16

CONSTÂNCIO, João. “A última vontade do homem, a sua vontade do

nada”: pessimismo e niilismo em Nietzsche. Revista Trágica: estudos sobre Nietzsche – 2º semestre de 2012 – Vol. 5 – nº 2, p.46-70.

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pudessem pensar sobre si no mundo, também não veriam nenhum sentido na existência. Nietzsche concorda, de fato, a natureza, do ponto de vista da moralidade cristã, é imoral, no entanto, nem mesmo a moral é algo absoluto, “quer a ‘verdade’, quer a ‘moral’ são criações interiores a um mundo fenomênico que é intrinsecamente enigmático”17. Daí, vem o primeiro passo para não cair no niilismo schopenhaueriano. Se a vida não pode ser medida pela moral, porque a moral é uma criação humana e não um conjunto absoluto de valores, então não se pode afirmar que a vida é ruim (ou má) por não obedecer a critérios morais que humanos criaram. Nietzsche nega este critério ao dizer que “Toda e qualquer posição naturalista na moral, isto é, toda e qualquer moral saudável, é dominada por um instinto

17

CONSTÂNCIO, João. “A última vontade do homem, a sua vontade do

nada”: pessimismo e niilismo em Nietzsche... p.53.

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de vida”18. Por sua vez, contraria diretamente Schopenhauer, A moral, tal como foi entendida até aqui - como por fim foi ainda formulada por Schopenhauer, como "negação da vontade de vida" -, é o próprio instinto da décadence que se transforma em imperativo. Ela diz: "Pereça!" ela é o juízo dos que foram condenados...19

O doente passa a ser o pecador. Assim o cristianismo, por exemplo, faz o sofrimento ter um sentido na vida. Sabemos que o mundo ser imoral, em Nietzsche, não faz diferença para a relação do indivíduo com o mundo, pois a moralidade é uma invenção e, portanto, não pode servir de fundamento para se concluir se a vida vale ou não à pena. Ao mesmo tempo, sabemos que o moral, o bom, para Nietzsche, é aquilo que

18

NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos. Lelivros, Kindle Edition,

locations 280-281. 19

NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos Ídolos... l. 293-297.

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A vontade de nada em Nietzsche

corresponde à vida, que dê vazão para a vontade de potência, esta, o eterno criar do mundo. A vida ela própria é, para mim, um instinto para o crescimento, para aduração, para a acumulação de forças, para [mais] poder [ou mais potência, Macht]: onde falta a vontade de poder, há declínio [ou decadência — a palavra aqui é Niedergang]. O que eu afirmo é que falta a todos os valores mais elevados da humanidade esta vontade — que os valores

decadentes,

os

valores

niilistas

são

dominantes, ainda que sob os nomes mais sagrados.20

Também

entendemos

que

o

ressentimento,

a

crueldade introjetada e transformada em culpa, dão possibilidade para a satisfação metafísica do homem através do ideal ascético: ele lhe dá sentido, dá sentido ao seu sofrimento e faz o sofrimento presente ter um sentido.

20

NIETZSCHE, Friedrich. Anticristo, § 6. Apud CONSTÂNCIO, João. “A

última vontade do homem, a sua vontade do nada”: pessimismo e niilismo em Nietzsche... p,54.

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A vontade de nada em Nietzsche

A vontade de nada, assim, a última vontade do homem, é a vontade apontada para o nada, para o ideal ascético, para a realização de si por meio da negação da vida: a sobrevivência do eu através do sofrimento, a vitória do ressentimento. É

necessário

pormenorizar:

a

má-consciência,

segundo Nietzsche, surge quando a crueldade não pode ser descarregada para fora. Ela é introjetada para dentro, se descarrega para o indivíduo e produz, assim, sofrimento. Logo em seguida, a consciência passa a ser formada com a introjeção da crueldade. É necessário

um

segundo

movimento,

o

de

exteriorização da consciência da dor, que foi causada pelo primeiro movimento (de interiorização da dor). Este

segundo

movimento

é

chamado

de

ressentimento e utiliza da vontade de potência movida por forças reativas para valorar21. Num

sistema

de

interpretação

ascético,

ressentimento, crueldade e vontade recebem um 21

BRUSOTTI, M. Ressentimento e Vontade de Nada... p, 21-22.

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sentido, um guia para sua existência. Em Nietzsche, a vontade de nada é uma resolução de um problema fisiológico (porque diz respeito aos afetos), ela é o “fracasso do desejo”, parte da decadência do homem. É o niilismo. A vontade de nada, sendo assim, aponta para uma resposta ilusória, a do ideal ascético. A resposta possível no ideal ascético é o sentido do sofrimento, portanto, querer o nada é o mesmo que querer a abdicação do querer para justificar a existência. Querer o nada é investir na negação, não na afirmação. É o inverso da moral natural de Nietzsche, é o inverso da vida, ainda assim, uma afirmação de que é melhor sobreviver a permanecer doente.

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A vontade de nada em Nietzsche

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Edição e revisão do e-book: Vinicius Siqueira

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