Aspectos da imigração alemã no sul do Brasil

June 30, 2017 | Autor: Cesar Sauer | Categoria: Antropología Social
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Aspectos da imigração alemã no sul do Brasil
O objetivo precípuo da política de atração de imigrantes estabelecida no Brasil Império se circunscrevia ao fornecimento de braços para a lavoura e o povoamento de áreas fronteiriças. Nesse sentido, a assimilação das colônias alemãs na sociedade brasileira foi extremamente dificultada pelo isolamento a que foram submetidas. Aos colonos não restou alternativa senão promover a autossuficiência em diversas áreas. Com o advento da República, a integração interétnica foi estimulada. A determinação dos teuto-brasileiros, porém, em preservar sua cultura original (germanismo) exacerbou antagonismos. A despeito desses conflitos, que se agravaram no contexto das duas Guerras Mundiais e nos períodos subsequentes, não se observou retrocesso no processo de assimilação dos teuto-descendentes na sociedade brasileira.

Palavras-chave: teuto-brasileiros; imigração; assimilação; colonos; germanismo.

Aspects of German immigration to Southern Brazil
The focus of the Brazilian Imperial Government's policy of attracting immigrants was circumscribed to provide laborers to plantations and populate border areas. In this sense, assimilation of German colonies into Brazilian society was sharply hindered by their geographical isolation. There was no alternative to German settlers than to develop self-sufficiency in a number of fields. From the early days of the Republican regime, interethnic integration was promoted. Nonetheless, German-Brazilians' determination to keep to their original culture (Germanism) aggravated ethnic antagonisms. Despite those conflicts, which were deepened during the two World Wars and in the subsequent periods, there was no throwback to German descendants' assimilation process in the Brazilian society.

Keywords: German-Brazilians; immigration; assimilation; settlers; Germanism.

Introdução
A emigração alemã para o Sul do Brasil inscreve-se no contexto dos grandes deslocamentos populacionais do século XIX, quando acordos diplomáticos e comerciais entre o Velho e o Novo mundo são realizados em favor de um reordenamento geográfico da população, levando a que uma massa de aproximadamente 56 milhões de pessoas se desloque de seus países de origem para outros continentes, sendo a América um dos mais destacados como região receptora.
O número total de imigrantes alemães que entraram no Brasil durante o período de 1820-1837 foi de 222.951. Essa informação dá somente uma ideia parcial da importância da colonização alemã, pois ela não leva em consideração a descendência desses imigrantes. Em 1940, estimam-se entre 700.000 e 900.000 indivíduos de origem germânica no Brasil. O Estado do Rio Grande do Sul recebeu mais de 50% da totalidade dos imigrantes alemães. Segue-se o Estado de Santa Catarina com mais de 20% do total. Assim, esses dois estados somam ¾ do conjunto da colônia alemã.
O contingente de imigrantes alemães para o Brasil não foi expressivo em termos numéricos se o compararmos aos de outras nacionalidades (cerca de 7% do total de imigrados entre 1850 e 1916). Contudo, o comportamento endogâmico, as altas taxas de natalidade e a concentração regional nos Estados sulinos conferem a esse grupo uma representatividade considerável, principalmente quanto à formação social e econômica daquela região. O ano de 1824 marca o início da colonização alemã no Brasil com a chegada e a instalação de 38 imigrantes às terras da Real Feitoria do Linho Cânhamo, posteriormente denominada São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. O empreendimento colonizador foi um dos objetivos mais perseguidos pelo governo imperial, que nele investiu enormes recursos, assegurando aos colonos o pagamento de transporte, facilidades de instalação e de manutenção e concessões de lotes de terra. Condições semelhantes jamais foram oferecidas às massas de nacionais marginalizados pelo latifúndio. A colonização oficial visava não só à garantia de posse de regiões menos povoadas, conturbadas por questões de limites, mas também à produção de gêneros alimentícios para consumo interno. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul situavam-se longe das zonas de influência da lavoura de exportação, o que veio a favorecer o estabelecimento e a expansão da pequena propriedade.
As colônias sulinas escapavam ao poderio e à arbitrariedade dos senhores de terra porque não confinavam com áreas de latifúndio pastoril ou agrário. Graças a esse isolamento, porém, formavam "quistos étnicos" implantados numa sociedade profundamente diferente, com a qual não mantinham convívio. Assim, puderam organizar autonomamente sua própria vida, instalar suas escolas e igrejas e constituir suas autoridades. Tal segregação afetou o próprio domínio da língua portuguesa.
A imigração alemã enfrentou sérias dificuldades. A primeira geração teve a dura tarefa de subsistir abrindo clareiras na mata selvagem, lutando, por vezes, contra índios hostis a fim de construir suas casas e estradas, vivendo uma existência trabalhosa e severa. Sua luta foi ainda mais dificultada pela inexistência de um mercado regular para a produção. Às dificuldades dessa ordem associavam-se outras como, por exemplo, as descritas por um viajante estrangeiro em 1891: "As condições de transporte são incrivelmente complicadas. O colono de Blumenau é obrigado a levar, de carroça, os seus produtos, em viagem de um a dois dias, à cidade; daí eles são transportados em um pequeno vapor fluvial ao porto de Itajaí. Segue outra baldeação e um navio leva os produtos à Capital, Desterro, onde há alfândega. Ali pagam-se os impostos aduaneiros e depois os produtos são carregados por outro vapor... Assim, as despesas até o Rio de Janeiro são duas ou três vezes mais do que as que se pagam da Europa ao Brasil". Também as fraudes em títulos de propriedade eram frequentes em algumas zonas do Sul, em razão das quais numerosas famílias perdiam sua terra e seu pecúlio. Somente a penúria que enfrentava os camponeses europeus, desarraigados do campo pelos efeitos reflexos da Revolução Industrial ou envolvidos nas crises do período de consolidação das nacionalidades europeias, explica a persistência com que suportaram tão difíceis condições. O Brasil, por sua vez, sendo país de religião católica, não reconhecia casamentos protestantes e criava problemas para a legitimação de heranças. É importante lembrar que os nãos católicos encontravam sérias dificuldades para ocupar cargos públicos. Havia, por outro lado, os defensores da imigração que justificavam a medida com base na "ideologia do branqueamento" da população. Vale lembrar que a elite do Império olhava com desconfiança os negros e mestiços que formavam a maior parte da população, aos quais imputava a causa do atraso socioeconômico do país. Sob a pressão desse complexo, puseram-se a campo para substituir aos seus próprios povos por gente eugenicamente melhor. A imigração também era conveniente porque garantia o progresso econômico, visto que a mão-de-obra europeia, e particularmente a germânica, era vista não apenas como mais qualificada, mas também como mais disciplinada e operosa do que a de origem negra.
Em virtude de não desempenhar o Sul um papel central na economia brasileira de exportação, esses imigrantes permaneceram isolados em suas colônias por várias décadas, o que lhes favoreceu a formação de uma sociedade à parte, com seus próprios valores e sistema produtivo. Esta é uma das razões pelas quais uma boa parte da Região Sul diferenciou-se, pelo menos até a década de 50 deste século, de outras regiões do Brasil, tanto em sua estrutura fundiária como em sua estrutura socioeconômica. Para os padrões brasileiros, grande parte da população sulina podia ser considerada como classe média, não ocorrendo diferenças expressivas entre os estratos superior e inferior. Também não se propiciou a existência de grandes centro urbanos, visto que estes só surgiriam muito mais tarde, se comparados às regiões Nordeste e Sudeste. Tratava-se de colônias agrícolas; os pequenos e médios municípios possuíam uma indústria modesta, ligada às necessidades básicas do seu contingente rural. Assim, verifica-se um desenvolvimento socioeconômico relativamente independente dos grandes centros, com uma capacidade razoável de auto sustentação.
As regiões de procedência dos imigrantes alemães também não eram as mesmas, como não o eram os dialetos e costumes. Em que pesem tais diferenças, o fato de serem percebidos pela sociedade receptora como um grupo homogêneo, lhes imprimia certo traço comum, o que foi em parte assumido por este segmento, contribuindo para a formação de sua identidade. "Alemães", "gringos", "colonos" enunciavam um determinado preconceito por parte das elites contra os trabalhadores braçais, preconceito que se estendia a todos os imigrantes. Tais discriminações, porém, não provocaram, de início, conflitos mais sérios. Os confrontos eram esporádicos e localizados.
Entretanto, no final do século XIX e início do século XX, esse quadro sofrerá transformações. Os esforços de integração, sobretudo no contexto da I Guerra Mundial, provocariam conflitos e tensões entre os teuto-brasileiros e as elites dirigentes.
Apesar da preferência dos imigrantes alemães pelo regime monárquico, a Proclamação da República lhes ofereceu algumas vantagens, das quais a liberdade de culto e a naturalização em massa são os exemplos mais importantes. Além disso, a influência do pensamento positivista, que exercia hegemonia particularmente entre a elite do Rio Grande do Sul, ao não admitir a interferência do Estado na vida intelectual da sociedade, facilitou aos imigrantes a difusão de sua literatura, escolas e igrejas. Por outro lado, o Governo, de acordo com o Regulamento de 1900, também pretendia exercer maior controle sobre os colonos: 1) evitar a concentração da propriedade, proibindo a concessão de mais de um lote à mesma pessoa e a transferência das glebas antes de seu pagamento efetivo; 2) as áreas concedidas deveriam ser efetivamente exploradas; 3) o colono deveria morar no seu lote de terra, explorando-o pessoalmente ou através da produção familiar.
A situação de marginalidade étnica dos núcleos de colonização, principalmente dos alemães, japoneses e italianos, foi explorada antes e durante a última guerra mundial pelos governos dos seus países de origem, criando graves conflitos de lealdade étnico-social. Com esse objetivo, os movimentos nazista e fascista montaram aparatosos serviços de propaganda e estimularam o surgimento de organizações de espionagem, que encontraram certas condições favoráveis para atuar, como a relativa segregação e o conservadorismo cultural e linguístico dos núcleos de colonos. Para fazer-lhes frente foi necessária uma rigorosa política de nacionalização oficial que agiu muitas vezes desastradamente, agravando ainda mais o conflito de lealdade dos teuto-brasileiros. Cumpriu, porém, função assimiladora decisiva, tornando obrigatório o ensino da língua vernácula nas escolas, quebrando o isolamento das comunidades e recrutando os jovens teuto-brasileiros para servir nas Forças Armadas.

O Governo alemão e a imigração
Ao contrário do que se acreditava na época no Brasil, v não houve um plano sistemático do governo alemão no sentido de colonizar o Sul, com a intenção de anexá-lo um dia à Alemanha. Pelo contrário, as autoridades alemãs estavam mais preocupadas em impedir que houvesse tal emigração, tanto que durante dezenas de anos teve vigência o Decreto van der Heydet (promulgado em 1859), que proibia a saída de alemães para o Brasil por causa das más experiências, especialmente nas fazendas de café em São Paulo. Os agenciadores de colonos foram inclusive perseguidos na Alemanha.
Os grandes latifundiários alemães ("Junker") não tinham o menor interesse em perder os camponeses, pois ficariam sem braços para o cultivo dos campos. A postura mais frequente do governo alemão quanto aos emigrantes era considerá-los praticamente como "traidores da pátria", pessoas que haviam abandonado o país a seu destino, não merecendo, portanto, qualquer acompanhamento.
As organizações de apoio à emigração foram basicamente organizações espontâneas da sociedade civil, bem como da Igreja Evangélica e da Igreja Católica. Algumas eram criadas por iniciativa privada de industriais, comerciantes, professores, engenheiros, advogados e políticos. Tais sociedades foram ativas não só na assistência ao emigrante, mas também na expansão e na conquista de novos mercados para a exportação. Preocupavam-se, igualmente, com que os emigrantes se mantivessem em grupos compactos, para não se diluírem logo em outras nacionalidades. Somente assim poderiam manter a integridade, a identidade étnica e a defesa de seus interesses. Uma das primeiras com atividades no Brasil foi a Associação Hamburguesa de Colonização de 1849. Alguns anos mais tarde surgiu o Comitê para os alemães protestantes no Sul do Brasil. Outras, com perfil diversificado, surgiram após a unificação alemã em 1871. Sem a atuação de algumas, não teria sido possível a manutenção da cultura e da língua alemãs no Brasil durante gerações. Reivindicaram junto ao governo alemão, durante décadas, a necessidade de organizar a emigração de modo sistemático e orientar o emigrante para áreas favoráveis à manutenção da cultura alemã. Os primeiros resultados dessa pressão só seriam sentidos a partir do período do Chanceler Caprivi, que substituiu Bismarck em 1890, quando as organizações passaram a receber alguma atenção por parte do governo, pois, graças ao crescente processo da industrialização, a Alemanha necessitava de novas áreas de exportação. Como a maioria dos emigrantes se dirigia para os Estados Unidos, país que passou a ser considerado concorrente, era conveniente apoiar a emigração para um país menos desenvolvido, mas que também fosse capaz de trazer vantagens econômicas.
Assim, embora as condições então oferecidas ao imigrante no Brasil não fossem melhores do que aquelas que tinham levado à proibição de emigrar ao País em 1859 (Decreto van der Heydet), levantou-se o impedimento. As organizações eram unânimes em elogiar as condições de prosperidade do Sul do Brasil, alertando contra a emigração para as demais regiões. Apontavam as boas condições existentes para a manutenção da língua e da cultura, que atendiam as preocupações do governo alemão com o destino de seus imigrantes. As organizações religiosas apoiaram os emigrados mediante o envio de pastores, professores, subvenção parcial de escolas de língua alemã, etc. Nem sempre a ajuda era em dinheiro. Havia envio de instrumentos de trabalho, livros, utensílios. Por outro lado, o próprio governo alemão não envidava grandes esforços no sentido de proteger o elemento alemão no Sul do Brasil. Prova disso foi a simples recusa de auxílio aos emigrantes quando das revoltas ocorridas na região durante o século XIX.

A assimilação
Imigrantes que se estabeleciam em determinados países, como nos Estados Unidos, em poucas décadas se assimilavam à sociedade nativa e podiam participar ativamente na formação de suas culturas. Na região Sul do Brasil, pelo contrário, eles se mantiveram fiéis ao país de origem, pelo uso da língua, costumes e tradições durante gerações, apesar de terem sofrido diversas formas de represálias.
Uma série de fatores que aparece na sociedade de adoção pode levar ao distanciamento do imigrante do grupo nativo e prejudicar, assim, o progresso de sua assimilação. Entre esses fatores, seis merecem ser destacados: a) o isolamento das colônias; b) a dificuldade de o imigrante se naturalizar; c) a religião diferente; d) a carência de escolas públicas próximas às colônias e a consequente falta de contato com o idioma português; e) o desprezo da elite do país pela cultura do imigrante e, finalmente, f) a convicção do imigrante da superioridade de sua cultura.
O isolamento dos núcleos rurais e também urbanos era quase completo nas primeiras décadas da imigração. No Rio Grande do Sul, esses camponeses viviam em pequenas colônias dependentes de centros comerciais, também inteiramente alemães, de dez a trinta mil habitantes. O relato seguinte dá ideia da separação então existente entre o imigrante e o nativo: "Na verdade, a não ser a Capital, outro ponto de contato não havia entre a população alemã e a população luso-brasileira (...) e a despeito de algumas manifestações da propaganda metropolitana alemã, os brasileiros puderam, realmente, ignorar durante a maior parte do século 19, esse mundo alemão que silenciosamente se desenvolvia em seu território".
Essas observações não valem somente para o Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, o isolamento dos imigrantes chega a ser mais severo. Desterro, atual Florianópolis, situada na Ilha de Santa Catarina, pequena e insignificante como centro comercial, não podia desempenhar a função integradora como aquela realizada por Porto Alegre ou por Curitiba. Acrescente-se a esse quadro a quase ausência de vias de comunicação. Assim, a falta de contatos sociais com a população nativa deve ser considerada como uma das características mais acentuadas das colônias germânicas do Brasil meridional: "As condições eram propícias à formação de uma sociedade nova e perfeitamente distinta do meio social metropolitano".
As colônias teuto-brasileiras, apesar do isolamento em que se encontravam, não formavam simples aldeias "transplantadas" da Alemanha para o Brasil. O isolamento social era duplo, ou seja, não desenvolviam contatos nem com a sociedade adotiva nem com a de origem; eram "ilhotas" com uma vida cultural relativamente autônoma. Além disso, quase todas as colônias se compunham de alemães provindos de regiões diferentes. Para ilustrar, pode-se citar o caso de Brusque que foi fundada por camponeses da Badênia (sul), de Oldenburgo (norte) e da Renânia (oeste). Nota-se, assim, que a imigração foi, ao mesmo tempo, dispersão. Dessa forma, não se admira que os imigrantes vindos posteriormente tenham "estranhado", a despeito de todas as afinidades, a sociedade teuto-brasileira que encontraram.
b) As dificuldades para o imigrante se naturalizar também retardou o processo de assimilação. Nesse sentido, a Lei de 24 de outubro de 1832, que foi a primeira a regular a naturalização dos estrangeiros, não exigia somente longo prazo prévio, mas também formalidades complicadas e dispendiosas. Poucos colonos procuraram utilizá-la. Em 1850, promulgou-se a Lei Geral 601 que concedia a naturalização aos imigrantes após dois anos de permanência, desde que residissem no seu lote e o cultivassem. A naturalização estava ligada a uma concepção essencialmente econômica da colonização e sujeita a exigências que eram a própria negação da igualdade com o resto do país. Com o Decreto n 1950, de 11 de julho de 1871, o Governo concede título de naturalização a todo estrangeiro menor de 21 anos que o solicitasse e tivesse residido no Brasil por mais de dois anos. Como ainda exigia do candidato a prestação de serviço na Guarda Nacional, poucos se valeram da medida. Vê-se, portanto, que durante o regime monárquico não foram dadas muita facilidades para o imigrante se naturalizar. Foi preciso esperar pela Proclamação da República para que a naturalização, a liberdade de culto e a igualdade cívica fossem concedidas aos imigrantes e seus descendentes. A lei da chamada "Grande Naturalização" permitia que os estrangeiros que não quisessem adotar a cidadania brasileira se manifestassem, num prazo de 6 meses, nas Embaixadas e nos Consulados dos seus respectivos países. A maioria dos teuto-brasileiros nos Estados do Sul, embora mantivesse a língua, os usos, os costumes e as tradições, acabou assumindo a cidadania brasileira. As Constituições de 1934 e 1937, porém, retiraram todos os direitos políticos passivos do brasileiro naturalizado. Assim, eram tratados como cidadãos de segunda classe numerosos alemães instalados no Brasil. A Constituição de 1946, pela primeira vez, não estabelece nenhuma diferença entre os naturalizados e os demais cidadãos (art. 129, IV).
c) O catolicismo permaneceu como religião oficial no Brasil durante a Monarquia. Com isso, embora os imigrantes alemães não católicos fossem em média melhor preparados em termos de escolaridade, acabaram não tendo condições de participar das atividades políticas daquele período. O fator religioso foi decisivo para a indiferença da comunidade alemã em relação à política nacional, mesmo durante os primeiros anos da República. A Igreja Católica era basicamente uma aliada da oligarquia. As comunidades protestantes alemãs constituídas na época imperial permaneciam como "corpos estranhos no País". A legislação resultante da união entre Estado e Igreja Católica colocava os matrimônios protestantes fora da lei e impedia o registro legal de óbitos e nascimentos fora das paróquias constituídas. Era de se esperar que essa atitude de oposição ao protestantismo, que permaneceu inalterada desde 1824 - quando começou a imigração alemã - até 1889, se fixasse na memória coletiva das comunidades evangélicas, contribuindo para a segregação social e o particularismo étnico de sua estrutura. À segregação causada pelo tratamento jurídico diferenciado, acrescentaram-se certas características dos grupos religiosos alemães. Assim, é importante considerar que, no protestantismo alemão, a ideia étnico-nacional está inseparavelmente ligada à ideia religiosa. Lembre-se, nesse sentido, que a Igreja Evangélica Alemã teve como chefe o próprio Imperador alemão. No Brasil, foram fundadas três instituições principais, além de algumas secundárias: a "Igreja Evangélica Alemã no Rio Grande do Sul", o "Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados" e o "Sínodo das Comunidades Evangélicas Alemãs do Brasil Central". A fusão da cultura alemã com a religião transparece nas palavras de um pastor da Igreja Evangélica Alemã: "O cultivo da germanidade está no sangue da Igreja Evangélica que, com razão, foi designada como fruto da união do Evangelho com o espírito germânico (...) quem deixa de pensar evangelicamente, deixa de ser alemão e vice-versa. Quem nega a língua e a índole alemã, também se perderá, muito possivelmente, para a nossa Igreja". Facilmente se percebe, assim, que o sentimento religioso dos colonos alemães, manifestado pelo credo evangélico, inspira uma fidelidade duplamente fecunda. Primeiro, por se diferenciar do da maioria, qual seja, o credo católico. Segundo, por ser uma confissão religiosa que se confunde com a própria noção de nacionalidade.
d) A carência de escolas públicas também contribuiu para o isolamento cultural dos teuto-brasileiros. Tanto o governo federal quanto o estadual pouco faziam em favor da escolarização da população em geral. A falta de investimentos públicos na área da educação servia para garantir a continuidade do domínio da oligarquia fundiária e comercial, que não estava interessada em facilitar processos de democratização nem de ascensão social através do sistema escolar. Nas regiões de colonização, a mentalidade era outra. A própria religião protestante considerava fundamental a alfabetização dos crentes a fim de que pudessem ler a Bíblia. Em muitos casos, a escola era mera dependência do núcleo paroquial evangélico e tinha orientação rigidamente germânica. Da mesma forma, criavam-se associações voltadas ao sustento das igrejas e escolas, assim como à recreação e ao auxílio mútuo. Tais associações procuravam preservar a cultura de origem por meio da edição de periódicos e do estímulo de atividades várias como leitura, canto, esportes e artes cênicas. Assim, uma vez chegados ao seu destino, "os imigrantes tratavam, ainda que de modo precário, de erigir escolas com os seus próprios recursos, para que seus filhos fossem alfabetizados, assumindo um dos imigrados o papel de professor".À exceção dos núcleos coloniais situados próximos às cidades, a educação era feita na língua do país de origem, o que veio a dificultar o contato com os luso-brasileiros. Nos núcleos rurais mais novos e isolados, a única língua conhecida era o alemão. O português, nesses locais, era quase uma língua "estrangeira". Quando as autoridades brasileiras, após a 1 Guerra Mundial, iniciaram a intervenção educacional, já encontraram um sistema de ensino consolidado entre os teuto-brasileiros. Começou, então, um processo competitivo entre a escola pública e a comunal. Segundo observações feitas in loco por Emílio Willems na década de 30, as escolas públicas, mesmo que ainda fossem em número relativamente pequeno, vinham ganhando espaço aceleradamente em Santa Catarina, principalmente entre as famílias campesinas e proletárias, por conta de sua gratuidade. Interessante registrar a avaliação de um ministro protestante alemão acerca da situação do ensino nas colônias em 1931:
Uma grande parte da população teuta não auxilia mais a manutenção das escolas alemãs. Mandam os filhos às escolas públicas brasileiras, nas quais o ensino é completamente gratuito, além das vantagens e privilégios de que gozam os alunos mais tarde, depois de diplomados. Recomenda-se naturalmente que todo alemão aprenda a língua oficial do país. Mas quem a adotar como familial tornando-a, desta maneira, língua maternal para seus filhos, efetuou um passo fatal para o enfraquecimento da etnia germânica na nossa pátria brasileira. Certamente, nossos filhos devem ter contato, nas escolas, com a língua e a história do país, mas antes de tudo eles devem aprender a língua e a história de seu próprio povo; e o que lhes deve ser transmitido da nossa religião cristã, da sua história, de sua doutrina e de seus dogmas, só lhes pode ser comunicado em alemão. Porque amamos o Brasil como sendo a nossa pátria, queremos servir-lhe, como até agora, de maneira germânica e com energia germânica.

Percebe-se o temor, pelo tom de seu discurso, de que a comunidade alemã perca sua especificidade cultural.
e) A maioria dos alemães que se dirigiram ao Brasil, ao contrário da maior parte da população brasileira, possuía razoável nível de escolaridade. Apesar disso, eram tratados com desprezo e desconfiança pela oligarquia fundiária. As sucessivas discriminações por conta do desconhecimento da língua portuguesa, da confissão de uma religião "estrangeira", bem como da sua condição de trabalhadores empurrava-os ao seu próprio "mundo interior", ou seja, da preservação de sua cultura, língua e tradições. Dessa maneira, consideravam-se étnica e culturalmente superiores à população nativa, não medindo esforços para transmitir aos descendentes a cultura da antiga pátria. Baseados no princípio jurídico de reconhecimento de nacionalidade do direito de sangue ("ius sangüinis"), os teuto-brasileiros propugnavam pela livre escolha de sua identidade cultural. Para a maioria deles, a confissão religiosa e o cultivo das tradições estavam ligados exclusivamente à esfera privada, embora tivessem consciência de que, como teuto-brasileiros, deviam lealdade e cooperação ao Estado. A absoluta predominância de casamentos intraétnicos nas zonas de colonização ocorria principalmente por causa do isolamento. Ainda assim, as diferenças quanto à alimentação, às atividades caseiras, à educação dos filhos e à participação da mulher no trabalho da lavoura e em diversas atividades de trabalho citadino foram outros argumentos desfavoráveis ao casamento misto.
Em resumo, pode-se dizer que o isolamento das colônias foi o fator mais prejudicial à assimilação dos imigrantes. Dessa situação resultaram conflitos até mesmo entre os teuto-brasileiros e as levas imigratórias mais recentes. Esse isolamento cultural das colônias teuto-brasileiras, no entanto, cedia a uma penetração lenta à medida que se garantia o acesso à escola pública, que os núcleos se expandiam economicamente, que os seus filhos procuravam sua formação intelectual nas cidades brasileiras e que funcionários do Estado (militares, magistrados, delegados, escreventes, etc.) e profissionais liberais (médicos, advogados, farmacêuticos, dentistas, agrimensores) iam fixando residência nas zonas de colonização germânica. O processo de assimilação, porém, é demorado; não é realizado por indivíduos, mas por gerações: implica a perda de uma identidade cultural para assumir outra. A própria concessão de cidadania aos imigrantes realizada pela República teve mais a função de estimulá-los a se integrar à sociedade nativa do que propriamente acelerar a assimilação. No caso do imigrante alemão, tratava-se de substituir a cultura europeia de um país luterano e mais desenvolvido social e economicamente pela cultura miscigenada com preponderância lusa de um país católico e de economia escravocrata.

O perigo alemão
Com o advento da República, observa-se a emergência de um ideário nativista, favorável à integração nacional e à formação de um povo identificado com os interesses do País. Considerava-se descabida a pretensão de um descendente de estrangeiros querer ser reconhecido como cidadão brasileiro e, ao mesmo tempo, reclamar para si o direito de viver segundo o estilo cultural de seus antepassados. Para os imigrantes, no entanto, a perda de sua especificidade cultural, com a imposição da identidade luso-brasileira, seria inaceitável. Em 1902, a Deutsch-Brasilische Korrespondenz, analisando a situação dos alemães na sociedade brasileira, afirmava:
Os luso-brasileiros se incomodam com o fato de que os imigrantes não abandonam de imediato a sua nacionalidade e não afundam na geleia geral, mantendo-se, porém, fiéis durante gerações à sua especificidade e aos seus costumes, esforçando-se na medida do possível em dominar a língua alemã. É ridículo colocar, por esse motivo, os teuto-brasileiros como inimigos de sua pátria brasileira.

Se considerações como essa eram apresentadas por teuto-brasileiros anos após a Grande Naturalização, percebe-se que muitos dentre eles aceitaram o título de cidadão brasileiro sem, no entanto, assumirem de modo imediato a fala, a cultura e o modo de ser da sociedade nativa. Para se entender o fenômeno, é preciso lembrar que a ideia de etnicidade, para os alemães, se baseia em sangue e língua. Assim, o germanismo ultrapassa as fronteiras do Estado e não tem relação com as convicções políticas e os direitos de cidadania. Alguns trechos do discurso publicado no diário Der Kompass n 87, em 1937, por ocasião do Dia do Colono, permitem melhor compreensão do conceito:
Falamos tanto de germanismo, da necessidade de conservá-lo na escola e em casa (...) Mas o que é germanismo ? Não é o lugar de nascimento, não é a cidadania que o definem, mas a grande família étnica, as tribos de que os homens procederam. Um cidadão russo ou americano de sangue germânico, sempre fará parte do povo alemão quanto à mentalidade e caráter; ele vive da etnia à qual pertence, mesmo se isso jamais lhe vier à luz da consciência. (...) cada etnia poderá realizar o melhor somente se desenvolver suas atividades dentro da sua mentalidade e disposição inata. (...) Juramos neste dia: queremos ser e permanecer homens alemães e bons cidadãos brasileiros. (...) Seria uma perda para o Brasil se os teuto-brasileiros abandonassem os seus traços característicos e o domínio da língua materna que significam um cabedal de importância vital. Os melhores cidadãos serão aqueles que cultivarem o sentimento familial e étnico herdando-o a seus filhos. Eles são os fatores sobre os quais se podem construir o progresso e a cultura da pátria...

Por outro lado, para o brasileiro de ascendência portuguesa é uma verificação dolorosa encontrar "intrusos" que desenvolveram, quase despercebidos ou esquecidos, uma cultura diferente. Ele não está inclinado a reconhecê-los como "patrícios", embora sejam nativos. Aparecem então expressões como "populações marginais" ou "quistos", focos de perigo para a solidariedade nacional, que precisavam ser combatidos, extirpados e eliminados. Assim, ainda que os teuto-brasileiros fossem juridicamente cidadãos brasileiros, eram vistos pelo elemento de ascendência lusa como estrangeiros, nunca como nacionais ou iguais.
A esse processo de "antagonização" coletiva, deve-se ainda adicionar as influências externas. A dificuldade de assimilação cultural por parte da maioria dos imigrantes alemães e seus descendentes na sociedade brasileira foi vista por jornais norte-americanos como um perigo para a estabilidade política da região Sul. O New York Journal of Commerce afirmava em 1906:
Atualmente 500.000 imigrantes alemães e seus descendentes residem no Brasil. A grande maioria adotou a cidadania brasileira, mas seus ideais e laços são essencialmente alemães. No Sul, tornaram-se o elemento predominante. Fábricas, casas de comércio, lojas, escolas e igrejas alemãs se encontram por toda a parte. A língua alemã ultrapassou aí a portuguesa, a língua oficial do país.

A elite política brasileira era influenciada por tais observações.
Ainda no que diz respeito às influências internacionais, deve-se lembrar que os primeiros anos do século são marcados pelas disputas coloniais entre as potências imperialistas. Na Alemanha, a Liga Pangermânica representava os interesses expansionistas alemães. Seus adeptos consideravam as comunidades de origem germânica no Exterior como representantes "voluntários" de seus interesses, quais fossem, fomentar a política colonial do Império Alemão e ampliar seu espaço vital. Para tanto, a Liga esforçava-se por introjetar um forte sentimento nacionalista nos "alemães do exterior", financiar empresas de seus compatriotas e colaborar para a manutenção de escolas, associações e igrejas, bem como ampliou a imprensa de língua alemã. Apoiava a endogamia, veiculando doutrinas de cunho racial. Às atividades colonialistas da Liga estiveram sensíveis franceses, ingleses e norte-americanos, os quais viam, na concentração demográfica de origem alemã no sul da América do Sul, uma ameaça de anexação, a médio prazo, dessas regiões. Serão estes discursos os responsáveis pela construção da ideia do "perigo alemão", incorporada quase que imediatamente pelos políticos brasileiros.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial, as discriminações contra os teuto-brasileiros são intensificadas. Há uma decisiva radicalização entre nacionalistas brasileiros e teutos. Da parte das elites intelectuais luso-brasileiras, observa-se um comportamento com fortes marcas de xenofobia. Após o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha (abril de 1917) e a declaração de guerra (outubro de 1917), o nacionalismo seria ainda mais intensificado. Medidas repressivas como boicotes às lojas dos teutos, quebra-quebras e agressões físicas se estenderam do sul do país até São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo proibiu o uso do idioma alemão em público e a publicação de impressos, além de ordenar o fechamento de associações e escolas. Muitos alemães e simpatizantes foram presos. Em 1918, 300 luso-brasileiros fundam a Liga de Resistência Nacional em Porto Alegre. Entre seus fins, destacam-se:
despertar o sentimento cívico dos brasileiros contra a Kultur germânica, intensificar a propaganda contra os inimigos da pátria (publicando uma lista negra das casas de comércio, por exemplo), lutar para a abolição da língua alemã e para que todos as denominações alemãs (ruas, cidades) sejam substituídas por nomes nacionais. Os luso-brasileiros são as sentinelas da soberania nacional no extremo sul do Brasil, encarregados de reprimir o perigo alemão nascido nos núcleos de imigração.

Por seu lado, a imprensa de língua alemã reage afirmando que os luso-brasileiros estão excessivamente comprometidos com o pan-americanismo. A repressão levada a cabo pelo Governo fez com que a maioria dos teuto-brasileiros se colocasse, mesmo sem possuir informações acerca dos motivos do conflito bélico, francamente a favor de seus compatriotas. Realizaram-se diversas manifestações públicas, como a entoação do hino nacional alemão em praças públicas, culto em favor dos combatentes e campanhas para arrecadar fundos para o exército alemão. Além disso, parte dos imigrantes começou a adotar a mesma linguagem da Liga Pangermânica. O termo usado para se auto referirem, "Deutschbrasilianer" (teuto-brasileiro), foi substituído pelo designado pela Liga, ou seja, "Auslanddeutschen" (alemães no exterior). Para muitos teuto-brasileiros, o Brasil não era mais designado como "Neue Heimat" (nova pátria), mas "Gastland" (país de hospedagem). A maioria dos colonos, porém, ainda que ressentidos, permaneceram leais ao Governo brasileiro. A propaganda de firmas de nome alemão desaparece da imprensa por razão de prudência. Quase todas as sociedades aportuguesam o nome e publicam seu estatuto em português.
Em que pese a gravidade dos acontecimentos acima descritos, as consequências do conflito depressa se apagaram. A imprensa e o ensino em alemão foram novamente permitidos logo após o término da guerra. O fim do Império Alemão pareceu enfraquecer o pangermanismo e turvar a imagem da antiga pátria que os colonos haviam criado. Em 1924, o centenário da colonização alemã no Rio Grande do Sul foi oficialmente comemorado e o governo estadual expressou seu reconhecimento aos colonos pela contribuição dada à exploração da região. Em 1935, decretava-se o dia 25 de julho, data da chegada dos primeiros imigrantes alemães, feriado estadual com o título de Dia do Colono. Entretanto, no plano local e individual, a guerra provocou ressentimentos graves, além de demonstrar claramente que o choque entre o germanismo e a cidadania brasileira não era somente uma teoria, mas uma realidade. Afinal, os teuto-brasileiros ainda se dividiam entre a dependência do Brasil e o apego à cultura alemã; por outro lado, os brasileiros sentiram afrouxar a solidariedade que os ligava aos pioneiros da agricultura no Sul porque estes representavam o germanismo inimigo.

Os teuto-brasileiros e o Nacional Socialismo
A política de industrialização do Estado Novo tornava o Brasil um cliente potencial importante para os países industrializados. A Alemanha compreendeu rapidamente os benefícios que poderia tirar da situação brasileira, tanto é assim que o Brasil foi considerado por Berlim, desde janeiro de 1935, como sendo o país de "futuro mais promissor" da América do Sul. No começo dos anos 30, as importações do Brasil perfaziam 1,7% do comércio exterior alemão; em 1935 passaram para 4,3%. O Brasil tornou-se a principal fonte de café e algodão para a Alemanha e esta substituiu os Estados Unidos como o maior fornecedor para o mercado brasileiro.
Após a eclosão da 2ª Guerra Mundial, a rivalidade entre a Alemanha e os países aliados, que até então era somente econômica, assume caráter político-militar. Com essa mudança, o Brasil passou a ter nova importância para os cálculos dos planejadores diplomáticos e militares alemães. O Nordeste brasileiro tinha significado estratégico como ponto de conexão para o tráfego aéreo entre a Europa, a África e a América do Sul e como base para operações aéreas e navais. O Brasil também detinha recursos estratégicos - minério de ferro, manganês, quartzo, borracha, algodão, óleo de babaçu, entre outros.
Além disso, a importância da América do Sul para o Abwehr aumentava sensivelmente graças a uma descoberta técnica feita no início da guerra: a comunicação radiotelegráfica era muito mais fácil na direção norte-sul do que no sentido Leste-Oeste. Em outras palavras, era mais fácil transmitir da América do Sul para a Alemanha do que diretamente dos Estados Unidos para a Europa. Informações sobre questões militares ou econômicas norte-americanas eram cruciais para Berlim; e a melhor maneira que os agentes alemães nos EUA tinham para fazer chegar suas informações à Alemanha era canalizá-las através de estações clandestinas na América do Sul. Na opinião do centro de comunicações alemão, o Brasil era a sede lógica para a rede de informações do hemisfério sul. O profundo interesse do Abwehr pelo Brasil se revelava pelo fato de haver dez postos de rádio clandestinos agindo no País em meados de 1941.
No final dos anos 30, a comunidade germânica no Brasil era considerável e influente. Em Santa Catarina, um em cada quatro habitantes era alemão nato ou teuto-brasileiro; no Rio Grande do Sul o número era de um em cada seis e, no Paraná, um em oito. A comunidade total no Brasil chegava a quase 900 mil membros.
Um dos aspectos mais interessantes da atividade da Alemanha no Brasil era a posição de Berlim perante a Ação Integralista (AIB). Os dirigentes políticos - tanto diplomáticos quanto do NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) - mantinham uma certa reserva em face a AIB. Evidentemente, o discurso integralista, bem como o aparato do partido de Plínio Salgado, lembrava vários aspectos da ideologia nacional-socialista. A atitude da Alemanha, porém, era de desconfiança, pois, apesar de uma inegável aproximação ideológica e tática entre os dois movimentos, o integralismo pregava o discurso de "um povo e uma língua", o que deixava prever dificuldades para a minoria alemã, caso o integralismo chegasse ao poder. Com efeito, as lideranças germanistas consideravam a teoria integralista da miscigenação como uma ameaça à preservação da etnia alemã. Os germanistas evangélicos acrescentavam que os fundamentos ideológicos e as relações do movimento com a hierarquia católica o tornavam perigoso para os não católicos. Parece claro que os interesses alemães, desejosos de fortalecer a cultura germânica no sul do Brasil, não encorajavam o integralismo. Pelo contrário, eram aliados apreensivos, embora menos enérgicos, dos governadores que faziam campanha para suprimir o partido.
O Nacional-Socialismo, baseado nas noções de nacionalidade ("Volkstum"), de comunidade nacional ("Volksgemeinschaft") e de superioridade étnica dos arianos, chamava à comunidade nacional alemã todos os descendentes de estrangeiros radicados no estrangeiro. No Brasil, os primeiros núcleos hitleristas surgiram em 1929, antes mesmo da subida de Hitler ao poder, e tiveram sua atuação marcada pela criação de organismos nacional-socialistas, pela infiltração de agentes nas sociedades teuto-brasileiras e pela propagação das ideias nacional-socialistas nas colônias alemãs. Depois da vitória nazista na Alemanha, esses núcleos são integrados à Organização do Exterior ("Auslandorganisation") do NSDAP e se tornam então numerosos e dotados de organização completa e autônoma, sob a direção de um 'chefe de círculo' não sujeito ao cônsul alemão. É importante notar que, no Brasil, há uma justaposição marcante entre as atividades da NSDAP e da Chancelaria alemã na tarefa de 'proteger' o elemento alemão.
É difícil dizer sobre o grau de penetração do NSDAP na colônia alemã. Levando-se em consideração tão-somente o número de seções locais que surgiram no sul do país entre 1932 e 1937 (83 seções), pode-se afirmar que a reação dos teuto-brasileiros foi relativamente favorável. Tanto mais que o número de membros do NSDAP atingiu cerca de 3.000 no início de 1937. Em compensação, os relatórios apresentados na época pelos órgãos de segurança brasileiros forneciam, com frequência, informações fantasiosas a respeito do número de nazistas no país e divulgavam dados distorcidos.
comerciais hostis, sessões de educação política, conferências, atos públicos por ocasião das grandes festas. Além dessas manifestações, a propaganda hitleriana manifestava-se pela imprensa dita teuto-brasileira, pela distribuição de documentos impressos na Alemanha, pela concessão de subvenções, pelo controle das escolas particulares e pelo desenvolvimento de uma rede de sociedades ideologicamente afins: Frente Alemã do Trabalho, Liga dos Antigos Combatentes, União das Mulheres Alemãs no Estrangeiro e, principalmente, o Círculo da Juventude Teuto-Brasileira ("Deutschbrasilianischer Jugendring"), que organizava sessões de formação de quadros, acampamentos e viagens à Alemanha, pagas pelo governo alemão.
A ação mais decisiva do nacional-socialismo, porém, foi o movimento de anexação das antigas sociedades teuto-brasileiras. Houve um aumento da atividade do partido nazista em torno daquelas sociedades, gerando atritos com os teuto-brasileiros oposicionistas. Assim, a resistência ao avanço do nazismo partiu do próprio meio teuto-brasileiro, conforme se observa de notícias de jornais da época:
A propaganda nacional-socialista não deixa de encontrar resistências em certos círculos germano-brasileiros da velha estirpe, particularmente nos das cidades. Descendentes de alemães, integrados na comunidade brasileira, inquietam-se com uma propaganda que quer obrigá-los a se excluírem deste. Essa resistência manifestou-se durante todo o ano de 1937 por um conflito permanente no seio das sociedades alemãs de esporte, de educação ou de assistência que são muito numerosas. As tentativas de "colonização" dessas sociedades por alemães recentemente chegados ao Brasil, que queriam submetê-las diretamente às ordens de Berlim, ao passo que seus fundadores queriam, mesmo servindo à cultura alemã, conservar sua autonomia e fazer uma política brasileira, produziram cisões...

Com relação aos teuto-brasileiros que se aproximaram dos núcleos nazistas, houve ainda outro problema; muitos se sentiram ofendidos pelo tratamento desigual dispensado, naquelas organizações, aos cidadãos alemães e aos teuto-brasileiros.
Como descendentes de alemães, sentiam orgulho de sua origem, língua e cultura; como brasileiros, contudo, queriam cumprir seus deveres para com a pátria e manifestar-lhe fidelidade.
Em 1937, um propugnador do germanismo cultural caracterizou a situação dos teuto-brasileiros:
A comunidade do povo alemão procura absorver-nos porque julga ameaçado, pelo nativismo, o nosso germanismo. Mas o nativismo redobra os seus ataques contra as nossas ideias étnicas porque ele considera a organização política estrangeira do partido nacional-socialista, com seus princípios totalitários e racistas, como forças que nos procuram integrar na comunidade étnica alemã, em detrimento da comunidade do povo brasileiro.

É preciso observar que as autoridades governamentais brasileiras, em especial federais, não estavam a par das atividades nazistas durante os anos de 1933-1937. Havia investigações policiais nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, mas nenhuma política visando à interrupção das atividades nazistas era perceptível. Tal posição foi estimulada pelos meios comerciais e econômicos brasileiros, interessados pelas perspectivas das relações entre os dois países. A influência nazista foi, assim, minimizada.
As primeiras reações brasileiras contra a propaganda nazista surgiram em 1938. O Interventor Federal no Rio Grande do Sul, Daltro Filho, confiou à polícia militar um amplo inquérito político-social sobre a atividade alemã, quando a Constituição de 1937 havia vedado qualquer atividade política. Embora proibida a propaganda aberta, ainda havia certa atividade do consulado e seus agentes. A expulsão de alemães e a prisão de alguns teuto-brasileiros indicavam o aspecto repressivo da política brasileira. Por outro lado, o Governo iniciou a implementação de uma série de medidas tendentes à integração cultural do teuto-brasileiro: a criação de mais escolas nas zonas de colônia, o aperfeiçoamento da rede escolar pública e a 'nacionalização' dos estabelecimentos particulares. A intenção do Governo não era destruir a obra realizada pela iniciativa particular, mas encaminhá-la no sentido da integração nacional. Compreende-se a atitude do Governo brasileiro quando se sabe que Hitler queria utilizar as escolas alemãs no Brasil não somente para promover a cultura e o espírito nacional, mas também para influenciar o imigrante a aceitar a ideologia nazista.
A eclosão da 2ª Guerra Mundial e a posterior declaração de guerra à Alemanha viriam aumentar ainda mais a tensão entre os nativistas e os membros da colônia. Embora, a princípio, o Presidente Vargas vacilasse sobre a quem apoiar, a enorme maioria da população e da imprensa foi favorável aos aliados. Dessa forma, os dossiês acumulados desde 1937 foram reabertos. As medidas de repressão multiplicaram-se: proibição de publicar jornais em alemão, proibição de falar alemão em lugares públicos, apreensão de documentos em alemão no próprio domicílio, destruição de bibliotecas alemãs, confisco de armas de sociedades de tiro, prisões e internamentos.
Como em 1917, o torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães gerou manifestações públicas e excessiva hostilidade popular contra os alemães e seus descendentes. Ocorreram, assim, os saques aos estabelecimentos comerciais e o incêndio de clubes e sociedades alemãs.
A maior parte dos resultados alcançados no domínio da assimilação individual e psicológica parecia perdida. Vários anos depois da guerra, apesar da abolição da maior parte das medidas de circunstância, os colonos guardavam a lembrança desse período de perseguições. O rancor era mais intenso ainda nas cidades. Os teuto-brasileiros tinham a impressão de serem tratados como estrangeiros ou como cidadãos de segunda classe, cujos direitos eram suspensos pela arbitrariedade da administração ou da polícia. Jamais sofrera a assimilação tal retrocesso e parecera tão ameaçada.
Por outro lado, o nazismo e a guerra serviram para mostrar os limites da questão teuto-brasileira. A guerra revelou, primeiramente, que a questão não era nacional, mas regional. Não se apresentou no Brasil inteiro, mas somente no Sul, onde os descendentes dos imigrantes viveram em núcleos isolados. Por outro lado, as medidas tomadas pelo Governo brasileiro durante o conflito não eram dirigidas em especial contra os descendentes de imigrantes, mas contra a ameaça de uma reivindicação do imperialismo alemão. Por fim, deve-se lembrar que a maioria dos teuto-brasileiros, mesmo aqueles seduzidos pelo nacional-socialismo, permaneceram leais ao Estado brasileiro. Embora conservassem como língua usual o alemão, não eram de modo algum alemães; não iniciaram movimento de volta à Alemanha quando esta vencia a guerra e cumpriram as obrigações da cidadania brasileira, inclusive o chamado às armas contra as forças do Eixo.
À medida que a lembrança da guerra foi se apagando e as novas gerações de origem germânica foram sendo educadas em escolas públicas, a tensão tendeu a diminuir. A multiplicação das aquisições linguísticas, a conservação dos costumes brasileiros adotados, a prosperidade por conta da alta dos preços agrícolas durante a guerra e no período imediatamente seguinte, a ascensão social da nova geração foram todos fatores muito importantes para o fortalecimento do sentimento de 'brasilidade' entre os colonos. Os brasileiros, por sua vez, voltaram gradativamente a apreciar, após finda a guerra, o papel econômico-social desempenhado pelos colonos; ainda mais naquele momento, quando a comunidade de origem germânica atravessava uma fase de prosperidade econômica que os elevava socialmente e lhes dava nova força política.

Conclusão
A imigração alemã atendeu aos interesses brasileiros na medida em que proporcionava mão-de-obra para a agricultura voltada para o consumo interno e que povoava regiões distantes dos grandes centros do País e próximas às fronteiras. Com relação aos interesses alemães, não se sustenta a assertiva de que o Império Alemão procurava "colonizar" o sul do Brasil com fins de anexá-lo no futuro. Prova disso é que, à exceção do período 1890-94, a política de apoio à emigração na Alemanha ficou sempre a cargo de organizações mantidas pela sociedade civil.
A assimilação das colônias alemãs na sociedade brasileira foi extremamente dificultada pela forma com que a imigração foi conduzida pelas autoridades nacionais. Como o objetivo precípuo da imigração era fornecer braços para a lavoura, os alemães permaneceram isolados em núcleos rurais, distantes dos centros urbanos, e sem assistência do Estado para o atendimento de necessidades básicas (educação, saúde, estradas de acesso, etc.). Alguns deputados da época queriam até mesmo proibir a migração interna desses colonos para as cidades, visto que o motivo de sua vinda era "trabalhar a terra". Dessa forma, não restou alternativa aos colonos senão promover a autossuficiência em diversas áreas. Assim, ergueram escolas e igrejas que acabaram por preservar a língua e a mentalidade originais. Por fim, deve-se salientar que o processo de naturalização durante o Império era lento e difícil. Enquanto o Governo e a sociedade permaneciam indiferentes às colônias do sul do País, formava-se uma sociedade nova e distinta da do meio nativo.
Se, por um lado, com o advento da República, a naturalização foi facilitada (favorecendo a integração), por outro, houve a emergência do ideário nativista. Os adeptos de tal corrente não aceitavam que o imigrante, como cidadão brasileiro, continuasse a preservar a cultura de seus antepassados (língua, religião, tradições). A mentalidade alemã, no entanto, não via relação direta entre Nação e Estado. Para eles, Nação referia-se ao povo, à etnia, à língua e às manifestações culturais; Estado, por sua vez, dizia respeito aos direitos e deveres decorrentes da cidadania. O germanismo, como era chamado o movimento de preservação da cultura alemã, entendia que os teuto-brasileiros só seriam bons cidadãos caso a mentalidade de sua etnia fosse mantida. Houve, como consequência, um processo de antagonização coletiva que a eclosão da 1ª Guerra veio intensificar.
A oposição entre teuto-brasileiros e nativos rapidamente transformou-se em conflito. Tanto o Governo quanto a sociedade se opõem radicalmente à existência dos chamados "quistos étnicos" no sul do País, considerados verdadeiros "focos de perigo" para a soberania nacional. A propaganda norte-americana ajuda a construir o mito do "perigo alemão". As drásticas medidas repressoras do Governo aliadas às reações exacerbadas da sociedade provocaram ressentimentos profundos na comunidade alemã. Muitos colonos aderiram, como forma de protesto, à Liga Pangermânica, entidade representante dos interesses expansionistas alemães. Após o fim da Guerra, embora as medidas discriminatórias tenham sido revogadas, o ressentimento dos imigrantes e seus descendentes permaneceu. Verificou-se que o choque entre cultura alemã e cidadania brasileira era uma realidade.
Com o Estado Novo, as relações Brasil-Alemanha intensificam-se, havendo forte incremento do intercâmbio comercial. O Brasil passou a ter nova importância para as autoridades alemãs. Tal importância cresceu ainda mais após o começo da 2ª Guerra, pois a Alemanha olhava com interesse para a produção brasileira de material estratégico; além disso, o Brasil poderia servir de base para a retransmissão de dados a partir de postos de rádio clandestinos. A Chancelaria alemã e o NSDAP dividiam a tarefa de divulgar as ideias nacional-socialistas no País. Embora seja difícil avaliar o grau de penetração da propaganda nazista nas colônias alemãs, pode-se dizer que a maioria dos teuto-brasileiros não se interessou em aderir ao movimento. Ademais, houve muito exagero por parte das autoridades policiais da época, que não sabiam diferenciar atividades nazistas de atividades germanistas.
Em 1938, porém, o Governo Vargas, pressionado pelos EUA, começou a reação contra o perigo da propagação nazista nas colônias mediante a 'nacionalização' das escolas alemãs. Após a entrada do Brasil na Guerra, tais medidas se intensificaram: proibição de publicar jornais em alemão, proibição de falar alemão em público, destruição de bibliotecas alemãs, prisões e internamentos.
Os teuto-brasileiros, tratados como estrangeiros ou como cidadãos de segunda classe em seu próprio país, guardaram, por longos anos após o fim da guerra, profundo rancor. A assimilação sofreu seu maior golpe e foi até ameaçada de retrocesso. Por outro lado, o conflito serviu para mostrar que a maioria dos teuto-brasileiros, mesmo que culturalmente fiéis a sua origem étnica, não estavam dispostos a aderir ao nacional-socialismo nem a iniciar um movimento de volta à Alemanha; permaneceram leais ao Estado brasileiro, respondendo inclusive ao chamado das armas contra as forças do Eixo. Restou claro que o germanismo não era incompatível com a cidadania brasileira.


A ausência de dados oficiais tornam muito difícil o cálculo do número exato de colonos alemães.
ROCHE, Jean. A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1962. p. 94.
BALLOD, Karl. Der Staat Santa Catarina. Stuttgart: J.G. Cotta, 1892, p. 59, 60. Apud WILLEMS, Emilio. A aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,1946.
Como propagandista mais importante da ideologia do branqueamento, cita-se comumente o antropólogo João Baptista Lacerda que, no Congresso Universal das Raças em Londres (1911), prognosticava que a população brasileira estaria a caminho de um embranquecimento que levaria consequentemente – num prazo de um século - à extinção da "raça negra".
Entre os objetivos da Associação Central para a Geografia do Comércio e Incentivo dos Interesses Alemães no Exterior, criada em 1878, constava: "(...) organizar e manter estreitas ligações dos alemães que vivem no exterior e a pátria. (...) a Associação deseja promover a emigração para países que ofereçam boas condições para o estabelecimento de alemães e nos quais o espírito do povo alemão possa manter-se vivo".
LAMBERT, Jacques. O Estado de São Paulo, 08 ago 1939.
WILLEMS, Emilio. Assimilação e populações marginais no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940, p.85.
FLEIUSS, Max. História Administrativa do Brasil. São Paulo: Editora Companhia Melhoramentos, 1925, p. 181. Apud WILLEMS, Emílio. A aculturação, op.cit.
Constituição do Estado de 14 de julho de 1891 (título IV, artigos 71, 4, 6, 7, 9, 11, 19, 20): as garantias concedidas a todos os cidadãos são a igualdade perante a lei, o concurso para o movimento dos cargos públicos civis, a liberdade de consciência, de culto, de sepultura, de associação, de opinião, etc.
WILLEMS, Emilio. A Aculturação. op.cit. p. 539.
WILLEMS, Emilio. Assimilação. op.cit. p. 229.
Wilhelm Rotermund fundou a Igreja Evangélica Alemã no Rio Grande do Sul em 1880 e permaneceu como seu presidente até 1919.
MAGALHÃES, Marionilde Dias Brepohl de. A questão da cidadania na França e no Brasil. In: I COLÓQUIO FRANCO-BRASILEIRO, 1990, Paris.
DEDEKIND, M. Der Deutsche Ansiedler, volume de março e abril de 1931. Apud WILLEMS, Emilio. A aculturação. op.cit.
KOTHE, Mercedes Gassen. Os imigrantes na América: isolamento e integração nacional. In: Relações internacionais dos países americanos. Brasília: UnB, 1994.
WILLEMS, Emilio. Assimilação. op. cit. p. 143,144,145.
WILLEMS, Emilio. A aculturação. op. cit. p. 126.
KOTHE, Mercedes Gasser. Os imigrantes na América: isolamento e integração nacional. In: Relações internacionais dos países americanos. Brasília: UnB, 1994.
ROCHE, Jean. op. cit. p. 716.
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. O Brasil perante os Estados Unidos e o Eixo. São Paulo: USP, 1993, p. 6.
O fornecimento de matérias-primas brasileiras à indústria alemã levou à aproximação econômica entre a Alemanha nazista e o Brasil. Em 1933, 11,95% das importações brasileiras vinham da Alemanha, em 1938 eram 24,99%. As exportações brasileiras para a Alemanha subiram de 8,12%, em 1933, para 19,06% em 1938.
A palavra significa 'defesa' ou 'resistência' como era chamado o Departamento do Exterior do Alto Comando das Forças Armadas da Alemanha.
HILTON, Stanley. A Guerra Secreta de Hitler no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, p. 17.
A AIB conseguiu ótimos resultados nas eleições municipais em Santa Catarina, em 1936. O cônsul alemão em Florianópolis, porém, enviou um relatório a Berlim considerando "extremamente lamentável o fato de elementos alemães, e mesmo nacional-socialistas, preencherem as fileiras do movimento integralista em Santa Catarina..." O cônsul alemão concluiu seu relatório dizendo que "um alemão vestido de camisa verde é, a longo prazo, o coveiro de seu próprio germanismo...". Um documento de 10 de julho de 1936, elaborado pela chefia brasileira do NSDAP, afirmava que "o partido considera a participação de teuto-brasileiros no movimento integralista como um grande erro".
A denominação "Auslanddeutscher" (alemães no estrangeiro) abrange todos os indivíduos de língua alemã, mesmo se fixados há séculos em países etnicamente diversos. O significado desse termo não admite a menor dúvida acerca da preponderância absoluta da concepção do "ius sanguinis" sobre a do "ius solis". Assim, a posição da Alemanha, em relação aos alemães que residiam no exterior, era bastante clara; uma lei de 21 de maio de 1935 obrigava todo cidadão alemão, qualquer que fosse o país que estivesse estabelecido, a cumprir suas obrigações militares na Alemanha. Tal lei seria motivo de longas negociações entre o Itamaraty e a Chancelaria alemã, sem que se chegasse a uma acordo.
Foi essencialmente no Estado de Santa Catarina que esses grupos se constituíram. Seu sucesso foi relativo, pois os imigrantes eram pouco sensíveis ao apelo nazista e o apoio de Berlim deixava a desejar.
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. O Brasil de Getúlio Vargas e a Formação dos Blocos (1930-1942). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1985. p. 101.
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. op. cit. p.97.
É preciso usar com cuidado os dados fornecidos pelas autoridades policiais brasileiras; um desses relatórios chegou-se a falar em 41.000 ativistas nazistas em meados de 1936. Essa observação também é válida para os dossiês elaborados por Aurélio da Silva Py, que costumava confundir atividades germânicas com atividades nazistas. Ainda que o nazismo muitas vezes tenha aproveitado as organizações alemãs para desenvolver sua ação subversiva, a maioria delas promovia atividades estritamente alemãs e apolíticas.
A criação de uma imprensa pró-nazista é uma das principais preocupações da embaixada e dos consulados alemães. Além da fundação de novos jornais em língua alemã, a embaixada tem um fundo anual para a imprensa de 10.000 RM.
ROCHE, Jean. op. cit. p. 718.
Havia jornais em língua alemã que eram abertamente hostis à Hitler e que desenvolviam uma campanha anti-nazista e pró-brasileira. A embaixada e os consulados procuravam calar esse tipo de imprensa por meio de campanhas de difamação.
O Estado de São Paulo, 13 jun. 1939.
METZLER, Franz. Apud WILLEMS, Emilio. A aculturação. op. cit. p. 113.
A nacionalização do ensino particular foi instituída pelo Decreto de 8 de abril de 1938. Determinava, entre outras coisas, a criação de um ambiente de 'brasilidade' nas escolas, a eliminação de símbolos políticos estrangeiros, a adoção da língua vernácula, o ensino da História e da Geografia do Brasil. Em caso de transgressão do decreto, as escolas seriam fechadas.
A publicação de jornais em língua estrangeira foi novamente autorizada a partir de 1946.

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