Assassinato de Cistac não \"beliscou\" relações entre Paris e Maputo, diz analista

June 9, 2017 | Autor: Paulo Mateus Wache | Categoria: International Relations, European Foreign Policy, Mozambique, France, Politica Exterior
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Deutsche Welle

Moçambique Autoria Nádia Issufo Data 12.03.2015

Assassinato de Cistac não "beliscou" relações entre Paris e Maputo, diz analista O chefe da diplomacia moçambicana, Oldemiro Balói, está em França, onde abordou com o seu homólogo francês o homicídio do constitucionalista. Autoridades francesas dizem estar determinadas a ajudar no processo judicial.

Paulo Mateus Wache, docente no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) em Maputo Depois do assassinato do constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac, na última semana, como ficam as relações entre Moçambique e a França? A Embaixada francesa em Maputo, ao condenar o crime, pediu um inquérito policial rápido e que os culpados sejam detidos e levados à justiça.

Na altura, as autoridades moçambicanas realizaram um encontro com representantes da comunidade internacional e esta semana o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicano, Oldemiro Balói está em Paris, onde esta quinta-feira (12.03) participou num encontro sobre oportunidades de investimentos em Moçambique, organizado pelo Senado e pela Business France, agência governamental francesa especializada em desenvolvimento internacional. França determinada a ajudar A agenda da visita do chefe da diplomacia moçambicana incluiu também, na tarde desta quinta-feira (12.03), uma reunião de trabalho com Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros e Desenvolvimento Internacional francês, durante a qual foi abordado o homicídio do constitucionalista moçambicano de origem francesa, Gilles Cistac.

Oldemiro Balói, chefe da diplomacia moçambicana As autoridades francesas dizem estar determinadas a ajudar no processo judicial que Moçambique deverá levar a cabo para a responsabilização dos autores do assassínio. A DW África entrevistou Paulo Mateus Wache, investigador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CEEI). O também chefe do Departamento de Relações Internacionais e Política Externa e docente de Geopolítica e Estudos de União Europeia no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI) em Maputo garante que as relações entre as partes não ficaram “beliscadas”. DW África: O assassinato de Gilles Cistac põe em perigo as relações entre Paris e Maputo? Paulo Wache (PW): Poderiam estar em perigo se o Governo moçambicano não tivesse cooperado com as autoridades francesas. Mas a minha percepção é que, desde que ocorreu a morte de Cistac, o Governo tem estado a cooperar para que o caso seja esclarecido. Inclusive o chefe da diplomacia moçambicana viajou para a França para, entre outros temas, tratar deste assunto e, provavelmente, para solicitar às autoridades francesas mais cooperação no sentido de esclarecer o caso. Penso que há um maior interesse também do Governo em querer saber os mentores e os autores deste crime.

Gilles Cistac, de 53 anos, foi assassinado em Maputo no dia 03.03

Olhando nessa perspetiva e olhando para a cooperação que está a acontecer entre os dois países, a forma como o Governo de Moçambique está a interagir com o Governo francês, do ponto de vista de quem observa de fora, acho que continuando neste ritmo não haverá nenhum problema nas relações entre a França e Moçambique. DW África: O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Oldemiro Balói, está em Paris, onde participou num colóquio sobre oportunidades de investimentos em Moçambique. Como vê o interesse da França de fazer investimentos na área dos recursos naturais em Moçambique? PW: A França não só faz investimentos na área dos recursos naturais, mas está também a investir em muitas áreas, inclusive na área da tecnologia de informação, para além de manifestar interesse em muitos outros setores. Cada vez mais descobre-se em Moçambique outros recursos energéticos, principalmente o gás, que é uma das fraquezas da União Europeia (UE) no sentido de fornecimento de gás fiável, uma vez que atualmente vemos a fricção existente entre a UE e a Rússia, que é o maior fornecedor de gás. A UE precisa de fontes alternativas de energia e isso está também no quadro das preocupações da França, como líder da UE juntamente com a Alemanha e o Reino Unido.

Assassinato de Cistac não "beliscou" as relações entre Paris e Maputo, diz analista É justo que os europeus estejam interessados em investir na área dos recursos naturais que será uma alternativa, um balão de ar fresco para o fortalecimento da economia da UE e, ao mesmo tempo, a redução da dependência em relação à Rússia. Por outro lado, para Moçambique é uma oportunidade para a diversificação dos atores que vão interagir com o nosso país e para tirar mais proveito e aprender com os atores que estão há muito tempo no mercado energético internacional. DW África: O último grande negócio que Moçambique fez com a França foi a compra de barcos para a empresa EMATUM. Esse negócio não será posto em causa deste assassinato? PW: Não vejo nada disso, enquanto o Governo continuar a cooperar. Só se por alguma razão os dois países pararem de cooperar. Mas acredito que não há risco de o negócio parar por

causa de um mau entendimento. Já ouvimos o Governo a pronunciar-se que os atores do assassinato terão de ser encontrados, já vimos o chefe da diplomacia moçambicana viajar para a França para também pedir a cooperação neste caso. Então, não se pode concluir que o assassinato vai afetar as relações enquanto não virmos o tal mau entendimento ou procedimentos que possam ser considerados riscos entre as partes. A morte de cidadãos acontece em qualquer parte. A situação muda de figura se ficar provado que os atores que cometeram o crime são pessoas ligadas ao Governo. Caso contrário é preciso percebermos que o crime é transnacional e acontece por várias razões. Nesse sentido, acho que a cooperação que existe entre os dois Governos é fundamental e deve continuar assim para que os ânimos se levantem e para que, de facto, não ocorra cancelamento de investimentos e baixas no relacionamento existente entre os dois Estados.

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