Assessoria de Imprensa legislativa estadual e o agendamento nos principais jornais paranaenses

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ASSESSORIA DE IMPRENSA LEGISLATIVA ESTADUAL E O AGENDAMENTO NOS PRINCIPAIS JORNAIS PARANAENSES Edson Gil Santos Júnior1 Maria Lúcia Becker2

RESUMO O presente estudo visa a analisar se a agenda da mídia dá conta de atender os diversos assuntos de interesse público produzidos pelas fontes governamentais. Para isso, utiliza-se da produção jornalística da Assembleia Legislativa do Paraná em análise de conteúdo comparativa e específica com os dois maiores jornais do estado, a Gazeta do Povo e a Folha de Londrina, para medir o quanto o órgão agendou a mídia no recorte temporal de uma semana, bem como, as modalidades de informação que tiveram mais destaque neste período. A pesquisa demonstra a importância dos veículos próprios da fonte, considerando que a agenda midiática não consegue incorporar todas as informações de interesse público.

Palavras-Chave: Agendamento Midiático, Comunicação Pública Legislativa. Jornalismo da Fonte. 1)

O agendamento

Diversos são os fatores que interferem no agendamento da mídia e, por consequência, na agenda pública. Utilizaremos, neste artigo, da produção de jornalismo do setor de Divulgação da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) cotejada com publicações da editoria de política de dois dos principais jornais paranaenses, para avaliar a incidência de conteúdos agendados na mídia. Este trabalho não trata, portanto, do agendamento de temas junto ao público. Localiza-se, teoricamente, no que McCombs chamou de “quarta fase” da Teoria da Agenda: A fase inicial, inaugurada pelo estudo de Chapel Hill, estava centrada na influência da agenda de assuntos da mídia na agenda pública de assuntos. A segunda fase desenvolveu esta influência da mídia noticiosa, explorando uma variedade de condições contingentes que estimula ou limita os efeitos do agendamento no público. A terceira fase expandiu o escopo da influência do agendamento pela mídia desde os efeitos na atenção – agenda de objetos – aos efeitos na compreensão – agenda de atributos. A quarta fase […] explora as origens desta agenda da mídia. (MCCOMBS, 2009, p. 182) 1

Jornalista. Mestrando em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Especialista em Gestão Pública (UEPG) e graduado em Comunicação Social - Jornalismo (UEPG). Email: [email protected] 2

Jornalista. Mestre em Multimeios pela Unicamp. Doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Professora do Mestrado em Jornalismo da UEPG. e-mail: [email protected]

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Nas três fases iniciais, portanto, o agendamento pode ser definido de um modo geral como a capacidade dos media de transferir a relevância de um assunto de sua agenda para a agenda da sociedade, por meio da sua publicização, ou seja, de sua colocação na esfera pública. Mas, para chegar à agenda pública, o tema deve, antes, constar na agenda da mídia, que segundo o pensamento dos precursores dos estudos da agenda setting, McCombs e Shaw, não pautam apenas o que os membros da agenda pública devem pensar, mas também, direcionam como estes membros devem pensar, influenciando desta forma na opinião pública, que devolve para a agenda da mídia a possibilidade de reagendamento do tema e em alguns casos em um sistema de retroalimentação se mantém em ambas as agendas. Isto é, da mesma maneira que a agenda da mídia pauta a agenda pública, em certos casos, a agenda pública pauta a agenda da mídia. Como no caso dos meta-acontecimentos explicados por (RODRIGUES, 1988, p. 29), ou o agendamento intermídia apontado por McCombs (2009, p. 174), que é o resultado do interagendamento entre os meios de comunicação. É o próprio discurso do acontecimento que emerge como acontecimento notável a partir do momento em que se torna dispositivo de visibilidade universal, assegurando assim a identificação e a notoriedade do mundo, das pessoas, das coisas, das instituições. Uma segunda categoria de acontecimento veio, por isso, alastrar no mundo actual, uma espécie de acontecimentos segundos, ou meta-acontecimentos pela própria existência do discurso jornalístico. (RODRIGUES, 1988, p. 29)

No entanto, os pensadores do agendamento apontam que a agenda pública é escassa, o que consequentemente limita também a agenda da mídia, gerando uma situação de competição entre os temas. Para McCombs, existe um estreito limite no tamanho da agenda pública tanto pela questão de tempo, quanto pela capacidade psicológica das pessoas, o que se reflete na agenda pública como um todo. Na agenda da mídia, o fator espaço é mais elementar e restrito ainda, considerando os tamanhos reservados para conteúdos dos assuntos nos jornais impressos, no rádio e telejornais, em constante competição com as publicidades, que custeiam os meios de comunicação , bem como, o leque de temas diferentes que competem por posições nesta agenda.

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Devemos considerar a capacidade da agenda pública e a competição entre os temas para ocupar um lugar nesta agenda, o período de tempo que está envolvido na evolução desta agenda pública e os papeis comparativos das notícias dos jornais e da televisão no processo de agendamento. (McCOMBS, 2009, p. 67)

O intuito deste artigo é quantificar o resultado do trabalho da agência de notícias da Alep em dois jornais com ampla distribuição em todo o estado do Paraná, determinando o que a instituição consegue agendar nestes veículos de mídia em informações a princípio de interesse público. Tanto a Teoria do Agendamento, como a Teoria do Gatekeeping, identificam a existência de um gerenciamento de informação em que os gatekeepers controlam, modelam, enquadram (framing) e sugestionam (priming) a opinião pública, por meio da definição do que terá visibilidade na mídia ou não. Segundo Shoemaker, são os gatekeepers que determinam aquilo que se torna a realidade social de uma pessoa, sua forma particular de ver o mundo. A metáfora do gatekeeper ofereceu aos primeiros pesquisadores em comunicação um modelo para avaliar a maneira que ocorre a seleção e a razão pela qual alguns itens são escolhidos e outros rejeitados. Ela também ofereceu uma estrutura para o estudo de outros processos além da seleção, como, por exemplo, a forma como o conteúdo é modelado, estruturado, posicionado e cronometrado. (SHOEMAKER, 2011, p. 23)

Esta subjetividade através do recorte também é apontada pela Teoria da Agenda, como forma de guiar a opinião pública. Ao se mapear o impacto da mídia nas opiniões, é crucial distinguir a contribuição da atenção geral da mídia para um tema, o agendamento de primeira dimensão, da maneira como um tema é enquadrado na mídia , o agendamento em segunda dimensão. Mais especificamente, em seu compreensivo exame do papel da televisão na sociedade [...] Conceitualmente, o sugestionamento (priming) e o enquadramento (framing) são subespécies dos efeitos do agendamento que influenciam a avaliação pública e a interpretação além da imputação de importância. (McCOMBS, 2009, p. 191)

Assim, podemos afirmar que tanto o agendamento quanto o gatekeeping são baseados no modus operandi desenvolvido pelo jornalismo, em que a seleção dos temas é fundamentada em critérios de valores-notícia,3 mas também, em valores pessoais dos profissionais, tanto como no perfil editorial do veículo. 3

Os valores-notícia são critérios para selecionar, do material disponível para a redação, os elementos dignos de serem incluídos no produto final. Em segundo lugar, eles funcionam como linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser enfatizado, o que deve ser omitido, onde dar prioridade na preparação das notícias a serem apresentadas ao público(...) Os valores-notícia são a qualidade dos eventos ou da sua construção

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As fontes e a agenda da mídia Nesta busca frenética por espaço nos veículos de comunicação estão as fontes de

informação, através das agências e assessorias de imprensa. Segundo Santos (2001, p.96), a assessoria de imprensa está diretamente ligada com o agendamento na mídia. É a assessoria, principalmente governamental, como demonstra Santos, quando cita pesquisas de Singal (1973 apud SANTOS 2001, p.96) e McQuail (1992 apud SANTOS 2001, p.96), que despontam entre 72% e 78% de fontes oficiais incidindo no agendamento da mídia. McCombs reforça esta ideia ao explicar que os jornalistas têm condições de observar somente frações de situações eventos diariamente. O autor comenta que, em virtude disso, os assessores de imprensa, que representam a fonte noticiosa, subsidiam as empresas de comunicação com informações enviadas de maneira organizada, preparadas no estilo das notícias jornalísticas, através do press release. Ele relata resultados de um levantamento que identifica cerca de 50% das matérias publicadas pelo New York Times e Washington Post como baseadas em releases e subsídios vindos das fontes. Cerca de 17,5% do número total de matérias aparecendo nestes jornais estava baseado, pelo menos em parte, em press releases. As entrevistas coletivas e briefings representavam outros 32%. O New York Times e o Washington Post são jornais importantes com grandes equipes e imensos recursos. Sua forte confiança em fontes de relações públicas revela o papel-chave que os subsídios de informação jogam na construção diária de todas as agendas dos veículos. (McCOMBS, 2009, p. 160)

No entanto, mesmo com a substancial importância das fontes para os meios, a disputa pelo espaço na mídia na maioria das vezes não contempla a quantidade de informação produzida pelas fontes. Ao final, os media satisfazem sua busca, mas as fontes produzem mais do que a mídia pode publicar. Chaparro aponta, em estudo feito há cerca de 20 anos, que a quantidade de material de assessoria de imprensa não utilizado pelos veículos de comunicação era muito grande, o que demonstra uma oferta de informações fornecidas pela fonte maior do que a capacidade de gerenciamento dos meios. jornalística, cuja ausência ou presença relativa os indica para a inclusão num produto informativo. Quanto mais um acontecimento exibe essas qualidades, maiores são suas chances de ser incluídos. (Golding e Elliot apud WOLF: 2003).

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De acordo com o autor, todo este esforço das assessorias, na maioria dos casos, não saia das redações e muito menos dos envelopes que eram enviados pelas fontes (CHAPARRO, 1996, p.132-154). Atualmente, a oferta de informações por parte das fontes continua expressiva, e considerando outros temas de interesse do público, a competição pelo espaço se torna mais acirrada, dificultando ainda mais os materiais enviados pela fonte de transpor o gatekeeper e agendar a mídia. A assessoria de imprensa se encontra em uma nova tendência na profissão jornalística, renovando-se o papel destes trabalhadores no cenário atual. Esse novo comportamento é fruto da própria transformação da sociedade que exige o amadurecimento de nossas organizações e impõe que se dê satisfação aos seus vários públicos e à comunidade em geral. A evolução também impulsiona o jornalista a buscar qualificação e competência para agir com sucesso num segmento cada vez mais competitivo (FENAJ, 2007, p. 7).

Nem sempre a relação entre a fonte e a mídia é harmoniosa, pois nem sempre os propósitos são os mesmos. A fonte de informação através de agência de notícia ou assessoria de imprensa, por um lado, trabalha para promover suas ações com interesses próprios, mas na comunicação pública, tem como compromisso contemplar os interesses da sociedade. Já a mídia também trabalha para promover ações que favoreçam o interesse público, mas que também torne o produto noticioso comercialmente viável. Neste contexto, a mídia contempla o interesse público, mas em certos casos em uma relação gratuitamente adversa a quem detém o poder, o veículo deixa de lado o interesse comum, utilizando seu espaço para disputas políticas e pessoais, ou mesmo para levar a público pequenos escândalos com o objetivo de aumentar a audiência. Visto desta maneira, uma abordagem dos meios de comunicação de massa procura não a realidade, mas os propósitos que estão subjacentes às estratégias de uma realidade em vez da outra. Para o cidadão ler o jornal com um catalogo dos acontecimentos importantes do dia, ou para o sociólogo utilizar o jornal para a selecção de tópicos de estudo, é preciso aceitar-se como realidade o trabalho político através do qual os acontecimentos são considerados por aqueles que realmente detém o poder. Só no acidente e, secundariamente no escândalo, é que o trabalho político de rotina é suplantado de modo significativo, permitindo assim, o acesso à informação que é directamente hostil a esses grupos que geralmente advêm da produção do acontecimento público. (HARVEY MOLOTCH & MARILYN LESTER, 1993, p.34)

Por outro lado, o trabalho efetuado pelo político, pelos servidores ou mesmo pela

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instituição pública em prol da população deve ser divulgado, pois a sociedade tem o direito de ter acesso às informações e os políticos têm o direito e o dever de dar transparência ao trabalho desempenhado. No entanto, na competição por um espaço na agenda midiática, estes assuntos acabam perdendo para temas que dão mais audiência.

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Perfil dos veículos analisados

3.1 A Agência Sinal

A Alep conta com a Agência Sinal de Notícias, que é o conjunto de mídias pertencentes ao Legislativo paranaense sob a coordenação do departamento de Divulgação da Casa. Ela é composta por quatro vertentes: notícias/releases; TV Sinal; Rádio Sinal e web/redes sociais.

3.2

A Gazeta do Povo e a Folha de Londrina

Entre os veículos analisados observou-se a produção do jornal Gazeta do Povo que foi fundada no dia 3 de fevereiro de 1919, e atualmente faz parte do Grpcom, juntamente com emissoras de rádio e a Rede Paranaense de Comunicação (RPC), antigo Canal 12, afiliada a Rede Globo de televisão. O Grpcom atende os mercados dos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. De acordo com os dados da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), em 2013 a Gazeta do Povo ocupava a 29ª posição entre os jornais mais lidos no Brasil, com uma circulação média de 41.235 exemplares, com uma variação negativa de 3,36% com o ano anterior.

Já a Folha de Londrina, de acordo com os dados contidos em seu site, conta com mais de 60 anos de história no Paraná, considerando sua fundação em 3 de novembro de 1948 . Atualmente circula em mais de 300 municípios dos 399 no Paraná, além de Mato Grosso e sul

de São Paulo, levando informação a mais de 120 mil leitores por dia. Baseado nos dados da ANJ, em 2013 a Folha ocupava a 39ª posição no ranking nacional com uma média de circulação de 30.817 exemplares, com uma variação negativa de 4,87%, com o ano anterior. Mesmo com esta queda na média de circulação de ambos os periódicos, pode-se dizer

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que atualmente, as duas publicações são as mais expressivas do Paraná em jornais diários impressos e estão entre as 50 maiores do país. Três fatores motivaram a pesquisa comparativa ocorrer com jornais impressos. Primeiramente, pela facilidade de manuseio de edições anteriores nos sites de ambos os periódicos, considerando o espaço temporal que separou a pesquisa do que foi enviado pela assessoria de imprensa da Alep e o que foi publicado nos jornais. O segundo fator se dá pela importância de ambos os periódicos no cenário midiático paranaense, como também nacional e por fim, o terceiro fator, considerando que a eficiência do conteúdo publicado no meio impresso, ainda mais com as ferramentas on-line se assemelham nos resultados com a televisão com aponta Alsina (1993, p.48) quando cita McCombs. En su estudio inicial, Mc COMBS y SHAW (1972) no diferenciaban el medio televisivo e la prensa, otorgándoles la misma eficacia. En otras investigaciones se ha pretendido diferenciarlos, aunque los resultados no parecen todavía demasiado convincentes. En algunos supuestos la televisión parece ser más efectiva que el periódico, mientras que en otros es a la inversa. Por ejemplo, en lós asuntos locales los periódicos tienen una influencia más fuerte, mientras que em temas nacionales le corresponde a la televisión una mayor efectividad. En cualquier caso, es evidente que no es posible considerar todos los medios como iguales. Cada medio cumple dentro del ecosistema comunicativo una función propia. Quizás, uma de las mayores preocupaciones, y de los más importantes retos para el futuro de la teoría de la comunicación, sea la descripción y explicación de la estructura comunicativa de forma global y diferenciada. No hay que quedarse en simples aforismos intuitivos como el que afirma que la radio informa, la televisión ilustra y la prensa explica. (ALSINA, 1993, p.48)4

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Metodologia de investigação

Com o objetivo de identificar os produtos disponíveis para a imprensa e para a população em geral nos espaços mantidos pela Alep na internet, este trabalho tem como base a realização de uma observação exploratória, de forma a verificar a composição das 4

Em seu estudo inicial, Mc Combs e Shaw (1972) não diferenciou o meio da televisão e da imprensa, dandolhes a mesma eficiência. Outras pesquisas tem-se procurado diferenciar, embora os resultados ainda não são muito convincentes. Em alguns casos, a televisão parece ser mais eficaz do que o jornal, enquanto em outros o inverso. Por exemplo, em assuntos locais, os jornais têm uma influência mais forte, enquanto em questões nacionais corresponde a televisão uma maior eficácia. Em qualquer caso, é claramente não é possível analisar todos os meios de igual para igual. Cada meio de comunicação tem um ecossistema que apresenta funções individuais. Talvez a grande preocupação e os desafios mais importantes para o futuro da teoria da comunicação, estão na descrição e explicação da estrutura global destes meios, de forma diferenciada. Para que não fique em aforismos intuitivos simples como afirmando de que o rádio informa, a televisão ilustra e a imprensa escrita explica. (tradução do autor)

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publicações ocorridas na Agência Sinal, que refletem a produção enviada como releases pela assessoria de imprensa da Alep, e consequentemente o conteúdo que poderia ser veiculado nos periódicos escolhidos para a pesquisa, Gazeta do Povo e Folha de Londrina. De acordo com o modelo de Zicman (1985), a análise de conteúdo acontece em duas etapas de categorização, primeiramente a de inventário e depois a de classificação. Aqui, a primeira faz um levantamento da produção de conteúdo jornalístico na Agência de Notícias da Alep, que é o reflexo da produção da assessoria de imprensa da instituição. A análise compreenderá a presença e frequência das mesmas informações nos distintos meios. Para isso, são utilizadas as indicações metodológicas de Masip e col. (apud PALACIOS 2011, p.82) que define a multimidialidade como conjunto de unidades de caráter informativo com título independente. O recorte temporal para esta etapa da pesquisa se deu entre os dias 30 de maio e 09 de junho, com as publicações na Agência Sinal da Alep, como dos periódicos Gazeta do Povo e Folha de Londrina. Segundo Schneider & Schimitt (1998) a pesquisa comparativa pode ser definida pela formula Fenômeno + Observação = Dedução + Leis Invariáveis. É através desta formula de percepção de um que temos condições de observar um fenômeno e através de leis invariáveis no contexto, deduzir então indicativos que nos permite romper com a singularidade dos eventos, formulando outras leis capazes de explicar o social. A comparação aparece como sendo inerente a qualquer pesquisa no campo das ciências sociais, esteja ela direcionada para a compreensão de um evento singular ou volta da para o estudo de uma série de casos previamente escolhidos. A comparação, enquanto momento da atividade cognitiva pode ser considerada como inerente ao processo de construção do conhecimento nas ciências sociais. É lançando mão de um tipo de raciocínio comparativo que podemos descobrir regularidades, perceber deslocamentos e transformações, construir modelos e tipologias, identificando continuidades e descontinuidades, semelhanças e diferenças, e explicitando as determinações mais gerais que regem os fenômenos sociais. (SCHNEIDER e SCHIMITT, 1998, p.1)

A análise tem como ponto de partida, em caráter exploratório, as publicações no site da Agência de Notícias da Alep, para então efetuar de maneira comparativa o que cada jornal utilizado na pesquisa, publicou do que foi enviado pela assessoria, sugerindo a influencia do

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agendamento na mídia através da fonte, bem como, os assuntos divulgados nos periódicos, que não foram divulgados pela fonte, mas tiveram repercussão nos veículos estudados.

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Apresentação e discussão dos dados

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Agência Sinal, o agendamento na Gazeta do Povo e Folha de Londrina

Entre os dias 02 e 06 de junho, a Agência Sinal trouxe um total de 27 publicações distintas, incluindo seus desdobramentos, mas sempre com conteúdo novo. Destas, 16 notícias são factuais (59%) e oito (29%) divulgaram evento ou discussão futura pela Casa, enquanto três eram notícias melhor trabalhadas de projetos de lei que entraram na pauta na semana. Nas 27 matérias publicadas na semana analisada, a palavra Assembleia apareceu em pouco mais de 37% dos títulos, enquanto a palavra deputado, ou mesmo a referência direta ao nome de algum deputado foi registrada em quase 33% dos títulos, ao lado da palavra Comissão, considerando também a sigla CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), presente também em 33% dos títulos. Vale ressaltar que o segundo e o terceiro item se repetem em alguns títulos, por isso o empate. O restante está dividido entre projetos de lei, homenagens, audiências públicas, lançamentos de publicações relacionadas com a política ou com a Alep.

5.2

Comparativo do agendamento temático da Alep nos jornais Três são os espaços utilizados para a coleta de dados desta pesquisa. A capa, para se ter

noção da importância do atribuída pelo jornal para o fato. A matéria interna, pois desenvolve o assunto com o objetivo de informar de maneira mais aprofundada e também as colunas Notas Políticas da Gazeta do Povo e Informe Folha da Folha de Londrina. Nestes espaços, de maneira resumida, juntamente com outros assuntos relacionados com a política em âmbito local e nacional, ambos os periódicos noticiam o que acontece na Alep, utilizando do material produzido pela Divulgação da Casa, ou por outros meios, como assistindo a sessão plenária ao vivo presencialmente, pela TV Sinal, site, ou mesmo, outra forma desconhecida pela pesquisa. No dia 02 de junho, o jornal Folha de Londrina não foi agendado nenhuma vez pela

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Alep, neste dia, o periódico também não conta com a coluna Informe Folha. No entanto, o jornal Gazeta do Povo, traz na coluna Notas Políticas uma nota que anuncia que na semana em questão seria votado o projeto de lei do Poder Executivo que apresentava a destinação dos recursos vindos do petróleo. Cabe ressaltar que este assunto foi divulgado pela Divulgação da Alep na sexta-feira, dia 30 de maio, às 14h25 com o título “Destinação de recursos provenientes da exploração de petróleo ou gás natural será votada na segunda-feira (2)”. No dia 03 de junho, terça-feira, o volume de informações aumenta e a Gazeta do Povo já repercute a votação sobre a destinação dos recursos do petróleo em uma matéria titulada como “Alep aprova destinação de verba do petróleo para educação e saúde”. Além disso, nas Notas Políticas teve destaque também uma nota divulgando que na quarta-feira, seria apresentado o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava irregularidades nos pedágios das estradas concessionadas no Paraná. Ainda no dia 03, uma nota também tratava do repasse de imóveis do governo do Estado ao Paranaprevidência para a construção de delegacias cidadãs. Uma frase do presidente da Casa, Valdir Rossoni, fechou a página de notas políticas sobre Joaquim Barbosa “A história de vida desse homem é brilhante. De faxineiro a presidente do STF.” Tal afirmação foi retirada de release enviado pela Casa, às 17h47, da segunda-feira, dia 02 de junho. Na Folha de Londrina, duas matérias davam visibilidade à Alep, uma delas se tratava também a CPI do Pedágio e a outra sobre um projeto de lei proposto pelo Legislativo e vetado pelo governador, mas que tal veto foi derrubado pela maioria dos deputados. A matéria aponta que faziam três meses que isso não acontecia. Os assuntos da CPI do Pedágio e Paranaprevidência foram tratados na segunda e na terça-feira pela Divulgação da Alep, como também a derrubada do veto do governador ao projeto de lei proposto pelo Legislativo também agendado pela Divulgação para a imprensa. Neste mesmo período, era feita a pesquisa etnográfica de campo com os profissionais de imprensa da Divulgação. Foi notado que os poucos, mas também longos e exaltados, discursos favoráveis a derrubada do veto não foram divulgado pela Casa e toda a discussão em torno do assunto se resumiu em um pequeno trecho da matéria intitulada como „Assembleia aprova afetação de imóveis à Paranaprevidência‟, em meio a outros assuntos.

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Finalmente, por 29 votos a 19, o Plenário derrubou veto aposto pelo governador do Estado ao projeto de lei nº 46/2013, de autoria da deputada Luciana Rafagnin (PT), alterando artigo da Lei nº 16.786/2011, que trata da obrigatoriedade da presença de profissionais de Odontologia nas unidades de terapia intensiva. (ALEP, 2014)

A Gazeta do Povo não noticiou nada sobre o veto e a imprensa em geral teve acesso mais informações sobre o assunto pelo site da deputada, autora do projeto. No dia 03, a Folha de Londrina não aproveitou nada da Alep no Informe Folha. Dia 04 de junho, a Gazeta do Povo estampa já na capa uma chamada sobre a conclusão da CPI do Pedágio, com matéria interna. Nas Notas Políticas o periódico comenta a rápida sessão plenária acontecida no dia anterior que coincidentemente era dia de jogo amistoso da seleção brasileira de futebol. Além dessa, outra nota discorreu sobre uma emenda apresentada pelo PT ao projeto que ampliava o número de cargos comissionados no Ministério Público do Estado. Na Folha o destaque também foi dado à CPI do Pedágio, também com chamada na capa. No entanto, na coluna Informe Folha, nada foi dito relacionado a Alep ou aos deputados neste dia. No dia 05, a Gazeta do Povo não noticiou nenhuma matéria específica relacionada com a Alep, a instituição apareceu apenas nas Notas Políticas do periódico, em uma delas que tinha como título „Trote pelo telefone‟. A chamada tinha por objetivo satirizar o acontecido do dia na Alep, em que alguém efetuou diversos trotes telefônicos para deputados, dizendo que o presidente queria falar com o parlamentar com urgência na presidência da Casa. Após diversos deputados se dirigirem à presidência, o imbróglio só se desfez na sessão, quando o presidente Valdir Rossoni, após alguns deputados tentarem falar com ele no Plenário, irritado dizer que se quisesse falar com alguém, ele mesmo ligaria diretamente. O episódio não foi comentado pela assessoria de imprensa da Alep. O mesmo aconteceu com a Folha de Londrina que em nota no espaço Informe Folha, titulou o acontecido como „Forças Ocultas‟, pois foi a resposta irônica de Valdir Rossoni, quando perguntado pela imprensa sobre a autoria dos trotes telefônicos. De acordo com Santos (2001, p.95), as fontes de informação se organizam para publicitar interesses próprios, garantindo acesso a enquadramentos específicos de um acontecimento e não apenas uma simples menção ou cobertura. O autor comenta ainda (2001, p.100) que as fontes tem um interesse visível em publicitar os fatos positivos sobre a

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instituição, mas guardam os problemas no domínio secreto. Por mais que não tenha sido nada grave aos olhos da opinião pública, a confusão divulgada, de certa forma, comprometia, por mais que muito pouco, a imagem da instituição. Frequentemente, as fontes conseguem incluir suas mensagens e enquadramentos nas noticias, desenvolvendo algumas estratégias que estimulem o apetite dos jornalistas. Em especial, as fontes oficiais, que jogam com o fator da falta de tempo dos jornalistas, oferecem recursos como exclusivos, dossiers de informação e fotografias. Por outro lado, através de fugas de informação sobre a sua acção e de outras fontes, censura ou omissão de factos, as fontes tentam controlar a realidade social dos acontecimentos, através da definição dos dados envolvidos. (SANTOS, p. 99)

Ainda no dia 05, a Gazeta do Povo, nas Notas Políticas discorreu sobre a formação e uma Comissão Especial da Agenda Paraná, em dois momentos, que explicaram que a Comissão tinha como objetivo reunir documentos para apresentar à Presidência da República. O assunto também foi explorado em duas notas pelo outro periódico analisado. Na coluna Informe Folha, com o título „Melhorar a relação‟, de maneira como se a formação da Comissão poderia beneficiar o contato da União com o Paraná, como também, dos deputados fazerem reivindicações pontuais. Enquanto a Gazeta do Povo se limitou as duas notas relacionadas à Alep, o periódico londrinense abordou em sete das oito notas da coluna, tratando ainda da instauração da CPI da Saúde Psiquiátrica e de desdobramentos, bem como a repercussão, da CPI do Pedágio com a fala do presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), João Chiminazzo Neto. No dia 06 de junho, a Gazeta do Povo repercutia a CPI do Pedágio, que apresentou dados sobre a cobrança de CPMF cobrada indevidamente dos usuários pelas concessionárias desde 2008, considerando que o valor ainda estava presente na tarifa, mesmo a cobrança não acontecendo mais pelo governo. A matéria que teve chamada na capa do periódico e foi feita a partir do relatório final da CPI, pois estes dados não foram trabalhados pela Divulgação da Casa. Já a Folha de Londrina não dedicou nem uma linha para a Alep neste dia. Pela segunda vez na semana a Alep conquistava espaço na capa da Gazeta do Povo, enquanto na Folha de Londrina o mesmo foi alcançado uma vez apenas. De acordo com McCombs (2009, p.87). A capa é um importante espaço para o agendamento do tema, como também, que a matéria em questão tenha outros recursos para chamar a atenção do leitor.

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No dia 09 de junho, nenhuma notícia divulgada pela Alep conseguiu espaço nas páginas da Gazeta do Povo, nem mesmo nas Notas Políticas e o mesmo aconteceu com a Folha de Londrina que também não registrou nada, ainda mais considerando que nas segundas-feiras o periódico não conta com a coluna Informe Folha. Dessa forma, dos 27 temas inéditos pautados pela Alep, dez deles foram utilizados pela a Gazeta do Povo (37%), sendo o assunto da CPI do Pedágio usado duas vezes, bem como, do petróleo utilizado duas, restando apenas seis temas distintos usados pelo periódico (22%). A Gazeta do Povo publicou ainda sobre dois temas não pautados pela assessoria de imprensa da Casa, um sobre os trotes telefônicos e o outro sobre os horários de funcionamento da Casa em dias de jogos da Copa do Mundo, aprovado em requerimento e divulgado anteriormente. Já a Folha de Londrina publicou 11 vezes assuntos relacionados com a Alep e repetiu somente o tema da CPI do Pedágio, as dez restantes foram materiais inéditos, nove deles pautados pela Assembleia (33%), exceto o assunto do trote telefônico que vazou de outra fonte.

Considerações finais No período analisado uma quantidade inferior a 40% do que é produzido de informação pela Casa agendou os jornais. O que se busca entender, bem como, o que pode pautar outra pesquisa sobre o assunto, é saber se esta porcentagem, por fim, é pequena, ou considerando a demanda de informações de outros temas e de outras áreas, levando em conta que ambos os jornais veículos impressos são multitemáticos, e talvez este percentual acabe por ultrapassar as expectativas. Cabe ressaltar que a porcentagem de assuntos noticiados pelos jornais agendados pela Alep, se dá em virtude de serem intrusivos, que de acordo com McCombs, afetam quase que na totalidade a vida dos cidadãos paranaenses. A agenda de temas não intrusivos consiste de sete itens: credibilidade do governo, gastos do governo, meio ambiente e energia, crime, relações raciais e problemas sociais. Os quatro temas na de temas intrusivos são todos referentes a preocupações economicas: desemprego, impostos, inflação e o estado geral da economia. (McCOMBS, 2009, p.151)

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Segundo o autor, a incerteza é outro fator gera o interesse nos leitores. Principalmente em relação a assuntos intrusivos a vida da população, pois todos são referente a questões econômicas, como o desemprego, impostos, inflação e o estado geral da economia geravam preocupação aos paranaenses pela incerteza do que aconteceria em virtude destes fatores. Tanto a incerteza, quanto os fatores que fazem do tema intrusivo remetem ao interesse do público em consumir uma ou outra notícia. Segundo Lippmann (2008, p.51) a fronteira do que está escondido, já que sua publicação não é, „compatível com o interesse público‟, desaparece gradualmente no que é escondido porque se acredita que não diga respeito a qualquer um dos negócios públicos. Para os veículos não há prejuízos em não noticiar toda a demanda disponível de notícias enviadas pelas fontes. Por outro lado, para a fonte o ideal é que seja tornado público o máximo possível de ações de seus gestores ou representantes da população. É nesta limitação nos veículos que se fortaleceu o interesse das fontes contarem com veículos próprios. De acordo com Sant‟anna (2009, p.212) pelo volume de informação produzida no setor público, que são de interesse do público ou pelo menos de grupos específicos. Sendo assim, o pesquisador aponta que o jornalismo não responde as demandas de informação nem representa de forma equilibrada a pluralidade de interesses da sociedade brasileira. Ele comenta que os profissionais de jornalismo que trabalham na fonte apresentam um grande descontentamento com a agenda midiática: O descontentamento com o critério de seleção – ou exclusão – praticado em especial com a abordagem (não) concedida aos temas de seus interesses – tanto quanto sob o aspecto quantitativo quanto o qualitativo incita o desejo de alterar tal realidade. Um novo padrão de construção da agenda midiática pode ser fruto da utilização de táticas de interferência na construção da informação; ou de forma mais radical, falando-se diretamente à opinião pública. Contorna-se, assim, a imprensa e seus filtros para construir um espaço midiático próprio. (SANT‟ANNA, 2009, p.212)

Desta maneira, pelo advento tecnológico possibilitado pela internet 2.0, mesmo que ainda dependente dos meios de comunicação, a fonte consegue cumprir com a legislação no aspecto da transparência, disponibilizando além dos 60% dos conteúdos jornalísticos não divulgados na mídia, como também outros conteúdos, como documentos e serviços para a população que comprovam o que é noticiado.

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