Assinalar o patrimonio. O caso de la cidade de Pau (França)

June 8, 2017 | Autor: Francesca Cozzolino | Categoria: Ethnography, Graphic Design, Patrimonio Cultural
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Assinalar o património. O caso da cidade Pau. Francesca Cozzolino, Ehess, Ensad, Esa Pau Fotos: Estudantes do 4º Ano da ESA dos Pireneos

A sinalética patrimonial, uma escrita urbana Na intenção de apreender os sistemas de objectos gráficos que participam na construção do espaço urbano, iniciámos um inquérito sobre a sinalética patrimonial (Cozzolino, 2014). Para analisar este objecto de estudo ainda pouco identificado e que começa apenas a ser interrogado com um olhar académico1 e com reflexões de designers2, usámos uma abordagem pragmática. Antes de tudo, considerámos esta tipologia de sinalética como uma escrita exposta (Fraenkel, 1994), ou seja escritas que se afixam no espaço público que respondem a critérios de visibilidade, legibilidade e de publicidade. Esta escolha epistemológica implica pensar a sinalética antes de tudo assim como uma acção de escrita (Fraenkel, 2007) que produz objectos gráficos que não são simplesmente um acto de escrever e que testemunham de uma força performativa da escrita no espaço público. Assim, interrogámo-nos como é que estes objectos – fazendo parte de um dispositivo muito mais vasto destinado a gerir as escritas da cidade – não só criam referências na cidade mas igualmente favorecem, pela sua afixação, a presença e a institucionalização de um discurso patrimonial. Então estudámos o processo de acção pública implicado na realização destes sinais gráficos: como e por quem estas escritas são fabricadas, quais são os actores que entram em jogo na cadeia operacional que vai da tomada de decisão institucional sobre o que “faz património”, até à criação da placa que o indicará e a escolha política que subentende este processo. Com efeito, as escritas que analisamos pertencem a uma tipologia de escrita urbana oficial que, como mostrou o trabalho do paleógrafo Armando Petrucci sobre as escritas de aparato na Itália (Petrucci, 1986), tem uma história antiga. Estas escritas, levam-nos a reflectir a um nível mais amplo nos mecanismos pelos quais dispositivos de poder3 traduzem-se em escritas públicas. Com efeito, há neste caso, dois ní1 2 3

Ver Jacobi Daniel e Le Roy Maryline, 2013 e Wildbur Peter e Burke Michael, 2001. Ver Baur Ruedi, 2001 e 2002 e Dana Karine 2008. Utilizamos este termo na acepção de Michel Foucault fazendo por conseguinte referência à sua teoria do poder que nos permite considerar as inscrições urbanas oficiais como formas de marcação invisível do poder. Ver: Foucault Michel, Surveiller e Punir, Paris, Gallimard, 1975.

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veis de análise: este inquérito mostra por um lado, que a patrimonialização é um acto político, e por outro lado o facto de que os painéis que afixam textos nas calçadas supõem um conjunto de decisões administrativas e políticas. 1. Assinalar o património natural, uma tradição antiga Em Pau, a primeira forma de sinais gráficos afixados na cidade, tendo a função de indicar e repertoriar o património, data do início do século XX. É nessa época que, no boulevard dos Pirenéus construído por Jean-Charles Alphand e inaugurado em 1899, afixa-se um dispositivo específico que devia orientar a vista nas montanhas. O boulevard compreendia 54 placas com o nome e a altitude dos picos, colos, cristas que podem ser identificados. Com efeito, as placas são superadas de referências traçadas no corrimão da balaustrada da estrada que permite, visando na mesma linha o pára-raios da antiga fábrica dos eléctricos, situarem o pico, o colo ou a crista correspondente4. Estas escritas tomam a forma de placas azuis, seladas nas grades e colocadas sob entalhaduras feitas directamente na grade. Indicam o nome de picos pirenéus, colos, cristas dos contrafortes de Ariège até ao País Basco. Dispostos como as

Trilho da Avenida dos Pirineus, Cidade de Pau, França 4

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As escritas indicam 47 picos, cristas e colos e 14 cidades e estações termais. Em nome dos picos, colos ou cristas está associada a altitude; em nome dos lugares ou estações termais, a quilometragem partindo de Pau.

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pequenas placas identificando quadros expostos no museu, chamam atenção sobre 54 paisagens remotas, exteriores à própria cidade, mas que participam na identidade desta última.

Quadro exposto no musesu

A instalação destas placas, a 17 de Maio de 1900, um mês após a inauguração da fábrica da Sociedade Béarnaise dos Eléctricos, fábrica de produção de electricidade e de garagem para os pequenos eléctricos urbanos que circulam na cidade. A sua imensa chaminé participa no processo de leitura inerente aos painéis, porque orienta o olhar do leitor da escrita para o pico indicado. O procedimento a seguir para servir-se deste dispositivo de leitura da paisagem era, no projecto inicial, descrito nestes termos: “o pico situado na linha alvo que passa por cada referência e pelo pára-raios, tomado como ponto de mira, seria designado através de uma placa (...) que se selaria na superfície lateral do trilho acima do traço de referência”5. Parece que o interesse destas escritas reside, em parte, na capacidade que têm de colocar em relação a um conjunto de elementos do património: um património natural, formado pela cadeia dos Pirenéus, outro, industrial, simbolizado pela chaminé da antiga fábrica dos eléctricos, um último, urbano, o da própria cidade. Este relatório interno/externo induz uma intimidade específica entre o lugar no qual nos situámos e o que nos é tornado legível à distância. Os objectos gráficos ajudam os visitantes a tomar consciência da presença da montanha, património cultural que, no final, se torna o seu próprio objecto de exposição e ao mesmo tempo, o seu próprio sítio de exposição. 5

Documento original consultado nos arquivos departamentais da cidade de Pau.

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“Em Pau, a paisagem faz parte do património há mais de um século”6, diz-nos a responsável da missão cidade de arte e de história7. O panorama de Pau numa cadeia de montanha dos Pirenéus sempre constituiu um elemento importante da valorização da cidade. Para compreender o desafio destas escritas singulares extraídas ao longo do Boulevard dos Pirenéus, uma contextualização histórica e geográfica mostra-se necessária. Até ao século XIX, a cidade Pau vira as costas para as montanhas, percebidas como um universo hostil. Só o castelo e os seus jardins beneficiam deste ponto de vista. Paradoxalmente, este elemento natural que constitui hoje uma identidade forte da cidade de Pau foi ocultado voluntariamente: fonte de medos irracionais por ignorância, as montanhas eram assimiladas a um mundo obscuro e selvagem. É necessário esperar o século XIX – e o modo naturalista que inspira então escritores e artistas – de modo que os Pirenéus sejam percebidos como um elemento constitutivo da identidade da cidade. O clima favorável da cidade tornaa atractiva e fica um dos destinos preferidos da burguesia inglesa. A chegada desta nova população induz mudanças sanitárias e conforta a sua modernização. Entre estas mudanças, os residentes de Pau assistem a numerosas transformações arquitecturais. É nessa época que é construído o Boulevard dos Pirenéus. A paisagem montanhosa muda então de estatuto, nomeadamente graças às suas virtudes curativas e aos seus benefícios terapêuticos. As curas termais estão na moda e permitem à cidade de Pau beneficiar de um certo desenvolvimento turístico. Neste contexto, assinalar o património significa então inscrever uma acção de escrita que, pelo objecto gráfico produzido, tem efeitos além da organização do espaço da cidade. Escrever o nome de um pico na cidade, indicar um sítio panorâmico, equivale a afirmar uma vontade política de dar valor a uma parte da cidade e construir para esta uma identidade singular que liga a sua história à sua localização paisagística. Hoje, as coisas mudaram muito com o aparecimento da noção “de património natural”. A emergência de tal noção na França data dos anos 70, época durante a qual 6

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Entrevista realizada com o responsável da missão “Cidade de arte e de história “ a 8 de Março de 2014 no âmbito do projecto de investigação “escrever no espaço”, Escolas superiores de arte dos Pirenéus, de 2012-2014. Este serviço foi criado no município da cidade de Pau, após ter obtido o rótulo “Cidade de arte e de história” em Novembro de 2011. A denominação “Cidade de arte e de história” é um rótulo que saiu, em 1985, de uma parceria entre o Ministério da Cultura e da Comunicação e os municípios, no âmbito da implementação de uma política de valorização do património e sensibilização à arquitectura. Assim este procedimento é enunciado no site dedicado à rede “Cidades e Países de arte e de história”: “O rótulo “Cidade ou País de arte e de história”, depositado no Instituto nacional da propriedade industrial (INPI), qualifica territórios, comunas ou agrupamentos de comunas que, conscientes dos desafios que representam a apropriação da sua arquitectura e do seu património pelos habitantes, comprometem-se num procedimento activo de conhecimento, conservação, mediação e de apoio e na qualidade arquitectural e no âmbito da vida. O termo património deve ser entendido na sua acepção mais ampla, dado que se refere igualmente ao conjunto do património construído da cidade tanto os patrimónios natural, industrial, marítimo, bem como a memória dos habitantes. Trata-se por conseguinte de integrar no procedimento todos os elementos que contribuem para a identidade de uma cidade ou de um país rico no seu passado e forte do seu dinamismo “. Cf. http://www.vpah.culture.fr/label/label.htm

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começa a extensão progressiva do domínio patrimonial nas produções de todos os períodos históricos e em todas as categorias de objecto, e além dos objectos no ambiente e mais recentemente, nas práticas (com a formulação da noção de património imaterial em 2006). Assim, o ambiente natural torna-se um destes objectos patrimoniais que, na mesma qualidade de monumento, deveria ser indicado por uma sinalética pensada ao nível nacional como é o caso para o castelo da cidade de Pau.

Castelo de Pau

Neste último caso, tratando-se de um monumento classificado pelo Ministério da Cultura e da Comunicação, a sinalética é gerida directamente pela administração central. O primeiro sinal que torna visível esta marca do cidadão é o logótipo “Monumentos da França” que aparece em todos os objectos gráficos que se referem ao castelo. Aqui, tudo é decidido ao nível do ministério, tanto nos conteúdos a afixar num painel informativo, bem como o lugar deste. A nossa interlocutora explica-nos: “Há 500 metros de zona de protecção em redor dos monumentos históricos, que limita a presença de outros painéis de afixação em redor do painel, e no que diz respeito à sinalética do castelo, tudo deve passar pelo arquitecto dos edifícios de França8”. 8

Extracto da entrevista realizada com o responsável da missão «Cidade de arte e de história» a 6 de Março de 2014 no âmbito do projecto de pesquisa «Escrever no espaço», escolas superiores de arte dos Pirenéus, 2012-2014.

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Entrada do Castelo de Pau

O Estado, representado pelo arquitecto dos edifícios de França, é por conseguinte a primeira entidade referida pela sinalética de um monumento nacional, mas não a única: “neste tipo de situação, há o arquitecto da cidade, o arquitecto dos edifícios de França e o castelo. Os três devem concordar e trabalhar em diálogo quando se trata de produzir a sinalética de um monumento nacional”. Este caso mostra-nos que as decisões em matéria de sinalética patrimonial são muito hierarquizadas e que neste caso do castelo, a cidade não tem poder único de decisão. Diferente é a situação das escritas do boulevard dos Pirenéus, solicitadas e erguidas pela cidade e actualmente no centro de um debate em redor da sua conservação. Com efeito, com vista aos trabalhos de renovação do boulevard, abriu-se uma discussão no seio da cidade sobre a utilidade de guardar estas velhas escritas ou substituí-las com escritas digitais, os QR códigos que, através de uma aplicação nos telefones portáteis, permitiria o acesso a um certo número de informações, e mesmo conservá-los noutro lugar, o que implicaria a patrimonialização desta mesma forma de sinalética patrimonial. Encontrar-nos-emos assim face a um dos casos de patrimonialização de escritas expostas, na mesma qualidade em que o poderiam ser as insígnias que utilizam os caracteres Excoffon, famoso desenhista de caracteres originário da cidade9. Assim, a cultura gráfica que se materializa em insígnias, placas de ruas ou painéis de sinalética, está inclusa neste vasto domínio que é o património. 9

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Estas escritas, por exemplo, tinham sido o objecto de um reconhecimento intelectual graças ao trabalho de três especialistas da tipografia (Chamaret, Gineste, Morlighem, 2010) que tinham criado um site que repertoria os sinais luminosos do mundo inteiro e que utilizavam as famílias de caracteres desenhados por Excoffon.

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2. Do património à construção de uma identidade territorial e a sua exposição Estamos actualmente perante novas mutações que, durante os cinco últimos anos, fizeram com que a cadeia dos Pirenéus, objecto patrimonial, se tornasse objecto de uma estratégia de comunicação municipal. A questão do património foi integrada no programa político de Martine Lignière-Cassous, que foi Presidente do Conselho Municipal da cidade entre 2008 e 2014. Foi durante o seu mandato que a cidade obteve o rótulo “Cidade e país de arte e de história” e que será desenvolvida pelo serviço de comunicação da cidade, uma estratégia de comunicação que se encarna no slogan da cidade “Pau Porta dos Pirenéus”, pelo qual a cidade, para falar dela própria, escolherá falar da sua paisagem. Interrogada sobre as razões desta escolha, a encarregada de comunicação da cidade explica-nos: “Porque quando se vê o grande público ou um turista que vem aqui, o que retém? É a vista nos Pirenéus, é algo que marca. Nós, no nosso quotidiano em Pau, esquecemo-nos um pouco salvo quando vamos ao exterior ou quando viajamos, qual é a imagem que vai aparecer na cabeça? É esta aqui. Por conseguinte a ideia, é fazer de modo que se apropriem desta representação identitária do território… Como se não houvesse uma identidade própria que caracteriza esta cidade, salvo a imagem dos Pirenéus, que é universal, mas não há identidade tomada em conta de maneira universal. O País Basco, no limite, vai sair-se melhor. O Béarn, é ligeiramente como um brasão, acho que o brasão tem a ver com uma história, mas não da actualidade de um território e seguidamente se a um chinês, lhe dissermos Pirenéus, vai compreender de que território falamos; e se lhe dissermos Béarn, não compreende nada! Depois, é a política, quando quisermos uma identidade territorial, a questão é: que imagem quer dar o eleito da sua cidade?”10. Neste discurso, a cadeia dos Pirenéus, será então este elemento que caracterizará a identidade da cidade de Pau até ao fim do mandato municipal. O projecto político era, nesse momento, pensar o território da cidade e a aglomeração, como o detalha o responsável da comunicação: “Queríamos fazer com que as pessoas se considerem parte de um conjunto com uma identidade comum. Houve um grande trabalho de fundo sobre uma leitura do território em relação às suas vertentes geográficas, a função de passagem de Pau para os Pirenéus com a presença das montanhas neste território, a ligação com o pastoralismo e valores como a solidariedade, a democracia”11. Este discurso, ultrapassado por uma lógica patrimonial construída numa visão da montanha, caracterizará as escolhas que estão na base destes objectos gráficos 10

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Entrevista realizada a 21 de Março de 2014 no âmbito do projecto de investigação “escrever no espaço”, Escola superior de arte dos Pirenéus, de 2012-2014. idem

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concebidos para mostrar um património que responde a um discurso local. Foi o caso para a sinalética da exposição “Horizontes de Pau” Isso não o será talvez agora em 2015 dado que, na sequência de uma mudança de direcção municipal, um novo slogan foi escolhido para a cidade: “Pau. País Béarn”. A exposição “Horizontes de Pau”12 mostra-nos uma nova etapa destas dinâmicas políticas e patrimoniais que, desde 2008, contribuíram para construir a ideia de uma cidade construída sobre a vista da montanha. Para esta exposição, sobre sítios panorâmicos que podemos admirar desde a cidade Pau, foi realizado um conjunto de suportes de comunicação que vão da brochura informativa até ao painel descritivo afixado na rua. O trabalho foi confiado a um grafista da cidade (Jean Marc Saint Paul) que pensou os elementos visuais a partir de um mapa gráfico imposto pelo rótulo “Cidade de

Sinalética da Exposição Horizontes de Pau

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A exposição teve lugar entre Fevereiro de 2014 e Fevereiro de 2015.

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arte e de história” e desenhada pela grafista Laurence Madrelle em 1998, a pedido do Ministério da cultura e da comunicação. Esta disposição plural de pessoas e de competências mostra-nos a hierarquia deste processo que leva à fabricação de escritas oficiais que vão da sinalética patrimonial até à exposição. Para assinalar a exposição na cidade, o grafista cria uma imagem que, acompanhada por enunciados informativos acordados com o serviço de comunicação da cidade, afixar-se-á nos diferentes elementos de comunicação da exposição. Esta imagem foi construída juntando um dos grafitis que se encontra nas grades do boulevard dos Pirenéus (um dos sítios “dos Horizontes de Pau”) e a vista que se tem da cidade e das suas montanhas a partir deste sítio. Esta escolha não é insignificante e é reveladora de uma vontade política afirmada: fazer dos Pirenéus a identidade da cidade. Com efeito, o grafista tinha à partida proposta como identidade da exposição a única imagem do grafiti das grades. Em seguida, a pedido da missão cidade arte e história, integrou igualmente uma imagem da cidade Pau-escolhida pelo serviço de comunicação – que mostra os três níveis dos horizontes de Pau: o

Cartaz da exposição Horizontes de Pau

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Gave, os Coteaux e os Pirenéus como pano de fundo. Esta imagem respondia assim à preocupação de proximidade e de atracção trazida pela marca da cidade: três letras “P” em maiúsculas, constituía o acrónimo do slogan: “Pau Porta dos Pirenéus”.

Logotipo da cidade de Pau

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