Associação de Amizade Portugal-Portugal

July 18, 2017 | Autor: Pedro Vaz Serra | Categoria: Sociology, Economics, Portugal
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Associação de Amizade Portugal-Portugal (publicado no Diário de Coimbra, em 29/02/2008 – sexta-feira)

No âmbito das minhas funções profissionais, tive oportunidade de ler o último número da revista “De coração”, uma publicação trimestral editada pela Matobra, a conhecida (e reconhecida) empresa de materiais de construção, com sede em Coimbra. Para além do Editorial, da autoria de Marta Rio Torto, bem escrito, coerente com os princípios e valores da Matobra e consequente com a estratégia empresarial e a mensagem que pretende transmitir através desta publicação, fiquei positivamente impressionado com a entrevista feita a Moniz Pereira, o atleta-treinador português com maior prestígio e carisma, com quem Portugal festejou muitas medalhas em Campeonatos europeus e mundiais, assim como em sucessivos Jogos Olímpicos. Vem tudo isto a propósito de uma iniciativa de Moniz Pereira que achei particularmente interessante, pela atitude implícita e pela constatação de um facto que, no nosso dia-adia, todos nós sentimos: Portugal tem um problema consigo próprio. Moniz Pereira decidiu fundar a Associação de Amizade Portugal-Portugal, que conta com cerca de 300 associados e que, segundo as suas palavras, justificou-se pelo facto de sentir que “nós não somos amigos de nós próprios, temos tendência para valorizar tudo o que é estrangeiro e esquecemo-nos que, também em Portugal, existem muitas coisas boas, algumas delas melhores do que no estrangeiro”. A Associação foi criada “para melhorar a nossa auto-estima e para que as pessoas aprendam umas com as outras, nomeadamente com os melhores valores da cultura portuguesa”. Após ler esta entrevista, dei por mim a meditar sobre o seu conteúdo. E verifiquei que, de facto, Moniz Pereira tem toda a razão. Não posso deixar de considerar e estimar alguém que promove uma iniciativa desta natureza - com a bonita idade de 87 anos! – e que é reveladora de um carácter determinado e de uma personalidade inconformada com a passividade e com o comodismo que, vezes de mais, sentimos no nosso País. Portugal, como muitos outros países, vive um período conturbado. Os níveis de confiança estão historicamente baixos e as expectativas da maioria dos agentes económicos – que, em bom rigor, somos todos nós – são pouco optimistas. No entanto, temos de reconhecer, começam a existir alguns argumentos válidos e de extrema importância que, diariamente, vão emergindo na nossa realidade e que constituem, hoje e desde logo, um excelente tónico para o futuro. Vejamos: 





Não estamos no centro da Europa, no meio do nosso mercado natural, mas, ainda assim, temos uma localização privilegiada, onde uma economia aberta e periférica como a nossa, pode e deve utilizar os fortes laços que unem Portugal à União Europeia, colocando-nos numa posição de "porta de entrada" entre a União Europeia e os mercados mundiais. Por outro lado, a ligação do País com África, Brasil e EUA, constitui uma base sólida e eficiente para a internacionalização. Não possuímos um tecido industrial e de serviços com expressão europeia mas temos, entre nós, Sectores que, nos últimos anos, têm tido um desenvolvimento notável: o Automóvel, o Químico, o Eléctrico e Electrónico, o das Tecnologias de Informação e da Comunicação, o das Ciências da Vida, dos Moldes, os Centros de Serviços Partilhados e o Turismo. Não tem existido, em Portugal, uma política de Educação e de Investigação consistente e coerente mas, ainda assim, começamos a sentir um maior

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compromisso estratégico com a Ciência e a Educação e temos tido, entre os países da União Europeia e da OCDE, um progresso científico notável. Actualmente, existe no País uma proeminente comunidade científica e tecnológica internacionalizada, a qual conta com um conjunto de investigadores jovens e orientados para o futuro. É verdade que, ao longo dos últimos meses, temos sentido uma maior frequência de crimes violentos e uma maior insegurança, mas Portugal continua a ser um país aprazível para viver e trabalhar. Não temos um Inverno rigoroso nem um Verão particularmente quente, temos um clima fantástico, com temperaturas médias de 25º no Verão e de 16º no Inverno. Não temos todas as vias rodo e ferroviárias que gostaríamos, mas temos, ainda assim, boas infra-estruturas de comunicação, com uma rede moderna de infraestruturas rodoviárias, aeroportuárias e marítimas.

No entanto, sabemos que Portugal vai continuar a ter muita Banca e pouca Economia, muitos projectos e pouca execução, muito Estado e pouco Serviço Público, muitos recursos e pouco critério na sua distribuição, muito desperdício e pouca racionalização. Assim, a competitividade das economias em geral e, muito em particular, da economia portuguesa, estará directamente relacionada com a qualidade dos projectos empresariais, com a qualidade da gestão e com a capacidade de concretização das estratégias delineadas. Os fundos para a concretização de bons projectos existem e estão disponíveis. Falta-nos, muitas vezes, a capacidade de inovar, de agir, de dar “o passo em frente”, de criar, de empreender. Moniz Pereira e a sua Associação de Amizade Portugal-Portugal podem constituir, pelo que representam e pela mensagem que transmitem, um excelente argumento para, pensando nas causas que levaram à sua formação e agindo em coerência, possamos ter no nosso País um ambiente mais propício ao seu crescimento e desenvolvimento, assim como à revitalização da nossa capacidade empreendedora e da nossa auto-estima! Esta é a prova que, aos 87 anos, há quem continue a dar à sociedade muito daquilo que dela recebeu…

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