Astúcias do Saneamento Midiático: a imagem televisiva da atuação militar do Estado na \"Guerra ao tráfico\"no Rio de Janeiro

May 30, 2017 | Autor: A. Vasconcellos d... | Categoria: Estado, Percepção Social, Televisão, Cultura Do Medo, Governabilidade, Midiatização do poder
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ALAIC  2012  –    XI  CONGRESO  LATINOAMERICANO  DE  INVESTIGADORES  DE  LA  COMUNICACIÓN  

Astúcias  do  Saneamento  Midiático:     A  imagem  televisiva  da  atuação  militar  do  Estado  na      “Guerra  ao  Tráfico”  no  Rio  de  Janeiro1   Adriano Miranda Vasconcellos de JESUS2

Pontifícia  Universidade  Católica  de  São  Paulo  -­‐  PUC-­‐SP  -­‐  Brasil  

RESUMO: Esse   texto   vem   apresentar   as   estratégias   midiáticas   brasileiras,   a   imagem   do   Estado  e  sua  percepção  social  após  o  episódio  de  transmissão  da  operação  militar   de  ocupação  do  Complexo  de  favelas  do  Morro  do  Alemão  em  novembro  de  2010,   secundado   e   apoiado   pelas   características   contemporâneo.   Estado   e   mídia   reunidos,   desenvolvem   um   papel   fundamental   em   uma   estratégia   de   governabilidade.  O  objetivo  do  trabalho  é  a  observação  e  a  análise  da  percepção  do   cidadão  e  a  dimensão  social  de  sua  atuação,  considerando  as  logísticas  das  imagens   de  saneamento  midiático  nas  transmissões  televisivas  e  o  seu  papel  na  construção   da  percepção  social  dos  serviços  estatais.   TEMA CENTRAL: Midiatização do Poder PALAVRAS-CHAVE: Televisão  –  Governabilidade  –  Estado  –  Medo  -­‐  Percepção  Social  

A percepção social da atuação do Estado no processo nas várias camadas da população se estrutura e fortalece por uma midiatização de seu poder. Ordenar as naturezas das visualidades desta atuação é base da presença midiática do Estado, que conta com uma logística da percepção, principalmente nos serviços relacionados a segurança pública.

O Complexo de Favelas do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro é um dos território mais conflituoso no Brasil, e se tornou nos últimos vinte anos um marco geopolítico que desafia a eficiência de atuação do Estado e consequentemente se configurava como a imagem triunfante do crime.

1 Resumo apresentado para o GT- 3, Comunicación Política y Medios, Comunicación Política y Medios, evento componente do XI Congreso Latinoamericano de Investigadores de la Comunicación - Alaic 2012. 2 Radialista, Bacharel em Direito, Mestre em Comunicação Social, doutorando pela PUC-SP, bolsista CAPES e

professor dos cursos de comunicação social da UAM e FAPCOM, São Paulo, SP. Email: [email protected]

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Há cerca de 20 anos o território de favelas é mencionado na mídia televisiva quando a pauta é violência urbana da cidade do Rio de Janeiro. A região abrange 13 favelas circunvizinhas em uma intrincada e desordenada formação de casas, barracos, vielas e outros acessos.

O morro do Alemão incorporou a Serra da Misericórdia, que possuía uma densa vegetação e nascente de rios e córregos. Nos anos 1920 as terras foram adquiridas pelo polonês Leonard Kaczmarkiewicz, conhecido pelos moradores como “alemão”. Na década de 1950 a área é loteada e comercializada aos trabalhadores do Curtume Carioca e outras fábricas instaladas na região à partir da abertura da Avenida Brasil. Na década de 60 com o adensamento das construções e asfaltamento de suas principais ruas de acesso, os rios foram assoriados e aterrados em galerias subterrâneas. Porém nas décadas de 1970 e 1980 essas fábricas mudaram e fecharam. Consequentemente o bairro cresceu de forma desordenada favorecendo da criminalidade e do tráfico de drogas.

Na década de 90 o local se tornou o ponto principal de atuação do tráfico no Estado do Rio de Janeiro pela sua localização, demografia, rotas de saída, malha interna complexa e um declive bem acentuado. Em 1993 foi considerado como bairro em uma área de 186 hectares, ocupados na época por 56 mil habitantes, com uma densidade de 302 habitantes por hectares, ou seja seis vezes superior à densidade média do Rio de Janeiro, de 49 habitantes por hectare, segundo o Instituto Pereira Passos. No último senso realizado (2008/2009) pelo Escritório de Gerenciamento de Projetos do Governo do Estado do Rio de Janeiro (EGP-Rio), estimam que a população do Complexo do Alemão supere as 85 mil pessoas e já ocupa 296,09 hectares.

O Complexo do Alemão sempre teve uma ocupação midiática televisiva relevante onde a sucessão hierárquica do tráfico foi acompanhada em uma narrativa que se confunde com a história do narcotráfico no Brasil. Dos primeiro malandros e golpistas aos traficantes e lideres de grupos armados e estruturados. O primeiro a flertar com a midi a foi "Orlando Jogador", líder do Comando Vermelho facção criminosa que tinha como

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objetivo apropriar pontos de vendas de drogas de grupos rivais. Utilizava uma logística tática de impactar os adversários em ataques surpresas, algo que gerava nele uma certa identificação com as estratégia da mídia (APURAR ISSO MELHOR) foi morto pelo traficante Uê em uma emboscada em 1994 líder do Terceiro Comando, inimigo e facção oposta. Assim iniciou uma guerra interna do tráfico pelas posses dos pontos de venda. Em um combate que utilizava o medo e a coação dos moradores como escudo de proteção e táticas complexas de tomadas de territórios oras em ações dissuasivas oras em ações ostensivas ( MELHORAR AQUI)

Em agosto de 2001 a Rede Globo apresentou uma série de reportagens chamada Feira das Drogas, produzida pelo jornalista Tim Lopes que resultou em traficantes presos e prejuízo de 40 dias interrompidos do comércio de drogas. Com o sucesso de público e prêmios da reportagem (Prêmio Esso 2001) o jornalista Tim Lopes retornou ao Complexo do Alemão para realizar outra reportagem sobre os Bailes Funk. Na quarta ida ao Morro no dia 02 de junho de 2002 ele foi capturado pelos traficantes do Comando Vermelho ordenados por Elias Maluco e foi torturado, morto e seu corpo carbonizado. Mais que um crime uma ação midiática de repercussão nacional e internacional, rompendo assim o limite de atuacao territorial ingressando na disputa do controle midiatico. Tal crime tratava de uma recado para a imprensa em uma intenção de estabelecer seus limites ali dentro. Neste momento a morte do jornalista é atrelada a uma imagem de falência do Estado e uma ousadia sem limites do poder do narcotráfico. A Emissora Rede Globo de Televisão ao falar de seu jornalista repercutiu sobre crime e abre espaço para a população recorrer a própria emissora em busca de Justiça. Indiretamente e posiciona como vitima dessa falência do sistema e impedida de cumprir seu papel social de alerta.

Na sequência destes acontecimentos o telejornalismo se estrutura e atua repercutindo eventos como a Rebelião do presídio Bangu I (2002), os Ataques de retaliação do PCC no Rio de Janeiro (2003), Sequência de Rebeliões em presídios no Rio de Janeiro (2004), Atentados Terroristas do PCC que pararam São Paulo (2006), Massacre no Complexo do Alemão e vigilância da região para a segurança dos Jogos Panamericanos

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(2007), Visita do Presidente Lula, lançamento do PAC e do território da Paz (2008), Inaugurações Obras do PAC no Complexo do Alemão e intensificação das Milícias (2009) e o evento com maior repercussão: Retomada e Ocupação do Complexo de Favelas do Alemão (2010), depois surgiram na sequência matérias sobre a Inauguração de mais obras do PAC e inauguração do teleférico (2011).

A ofensiva televisiva de saneamento dos problemas sociais invadiu e apropriou outras esferas como por exemplo da teledramaturgia como os seguintes programas da Rede Globo de Televisão: Cidade dos Homens (2002 – 2005), Carandiru, outras histórias (2005), Antônia (2006), Duas Caras (2007) e Força Tarefa (2009 - 2010).

Esses produtos televisivos revelam a mudança perceptiva das metrópoles brasileiras nesta primeira década onde a deteriorização de seus marcos geopolíticos e a falência dos serviços urbanos geram novas visualidades de suas paisagens. Ao mesmo tempo recupera a imagem criada mentalmente pelos indivíduos da atuação do Estado, seus espaços de habitação e convivência e os meios tecnológicos de comunicação presentes em sua vida. Neste momento o Estado percebe a relevância da atuação midiática dado que o indivíduo governado é um ser midiático, para quem as estratégias de poder se articulam, considerando sua atmosfera cultural e seu acesso a dispositivos midiáticos.

Na publicação de Outubro / Novembro de 2010 da revista Desafios do Desenvolvimento do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em sua matéria de capa “Ipea sobe o Morro” coloca em pauta os impactos da intervenção urbanística no Complexo do Alemão, ao término do texto apresenta o depoimento do arquiteto responsável pelo Projeto IUCA (Intervenção Urbanística do Complexo do Alemão), Jorge Jauregui: a segurança não é o único problema. "Eu diria que nem sequer é o principal. O problema da favela é sua condição marginal em relação ao resto da cidade, o fato de não ter direito de residência, direito de posse, não ter uma situação de fornecimento de serviços normais, como escola, educação, trabalho, transporte, infraestrutura", sentencia. Ele acrescenta que "o Estado não tomou posse do problema, deixou que a população resolvesse isso por seus próprios meios. Claramente, então, há um déficit da presença do poder

ALAIC  2012  –    XI  CONGRESO  LATINOAMERICANO  DE  INVESTIGADORES  DE  LA  COMUNICACIÓN   público. Este tipo de trabalho [do Ipea e da Caixa, além das obras] implica fazer e pensar e pensar e fazer ao mesmo tempo. Não há tempo para primeiro pensar e depois fazer. Esta é a diferença entre trabalhar na cidade informal e trabalhar na cidade formal", conclui

A reportagem deixa claro em sua abertura que os projetos tem como objetivo retirar o Complexo do Alemão das páginas policiais, e incluí-lo nos exemplos de práticas de intervenção sócio-urbanísticas para áreas de assentamento precários. O modelo de intervenção urbana incluso no PAC e subsidiado pelo Habitar Brasil BID possui uma séria de dimensões: mobilidade, qualidade ambiental, moradia, acesso a serviços, cidadania, inserção no mundo do trabalho, vida social e comunitária. Além disso são abordados aspectos de valores simbólicos, como por exemplo a denominação de “comunidade pacificada”, os sentimentos e percepções ligados a exclusão e a segregação em função do local da moradia, as limitações de mobilidade física. E neste ponto a atuação do meio comunicativo se torna eficaz para alterar e modelar a forma de pensar destes moradores desta área.

O projeto de Intervenção Urbanística do Complexo do Alemão teve inspiração na projeto de Medellin na Colombia, onde a alteração do desenho urbano imprimia novas possibilidades nas relações sociais com foco na diminuição da violência, para sua implantação teve que integrar as obras com ações de segurança pública. O ponto alto deste projeto de Medellin foi a implantação de um icônico teleférico. No caso do Complexo do Alemão o teleférico passou a ser o elemento chave na Intervenção Urbanística. Primeiro pelo seu aspecto único e monumental da obra, segundo pela vitrine midiática da ação do Governo Federal dada a dimensão do investimento, a enormidade da área, a profundidade da precariedade envolvida e o fortalecimento de sua imagem. O teleférico iria organizar as visualidades "caóticas" daquela região imprimindo um referencial a ser utilizado em vários vetores de intervenção no bairro que se pretende formar. Assim, Educação, cultura, turismo, mobilidade, segurança e valorização imobiliaria viria junto com o teleférico.

Porém antes de inaugurar o teleférico seria necessário uma extenso e efetivo saneamento midiático da imagem da atuação estatal, uma ação a altura do monumento

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físico a ser construído, uma estratégia do poder estatal cuja lógica perceptiva tornaria coerente tais investimentos na área. Uma ação nao só aos moradores da regiao mas para todo o crime organizado do estado do rio de janeiro. O momento era ideal, desde o início de 2010 a mídia ostentava em seus editoriais uma crise na segurança pública no Brasil ao mesmo tempo que comemorava o Rio de Janeiro (02 de outubro de 2009) iria sediar os jogos Olímpicos de 2016. Assim perguntas como: o que fazer para conter a explosão da violência nas metrópoles brasileiras? Como combater a corrupção da polícia e o tráfico de drogas? Por que o Governo não chama o Exército? Qual a imagem internacional do Brasil? Conseguiremos realizar a Copa e as Olimpíadas sem a intervenção do crime organizado?

Outro fator era a reconfiguração que o crime na cidade do Rio de Janeiro que vem ocorrendo desde 2005. As formações das Milícias sofisticaram a atuação dos criminosos, não interrompendo o tráfico mas incluindo em sua lista de negócios o transporte clandestino, negociação e especulação imobiliária, venda de botijões de gás, TV a cabo pirata, venda de votos e principalmente o fornecimento de “segurança”. Com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora desde 2008 induziram a modernização da economia do tráfico, analistas em segurança pública apontam que na inviabilidade de extinguir o negócio das drogas o efeito se dará na redução das armas em circulação e do despotismo a que são submetidas tantas comunidades.

O cenário era ideal para uma atuação Estatal, porém não poderiam cometer o mesmo erro do Massacre do Complexo do Alemão (2007) onde toda a imprensa deu destaque a morte de inocentes na mega-operação revertendo os efeitos midiáticos figurando a força policial com despreparada e truculenta. Então estava claro que Estado e mídia deveria atuar em cooperação e na mesma logística perceptiva para uma eficaz campanha de saneamento midiático.

OPERAÇÃO NOVEMBRO DE 2010

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No final de Novembro de 2010 a região metropolitana do Rio de Janeiro foi novamente alvo de ataques onde criminosos ligados ao narcotráfico promoviam os chamados “atos terroristas”. Destes ataques, sem comprovação de autoria motivou uma ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) no dia 25 de novembro 2010 para tomar controle da Vila Cruzeiro que resultou em uma cena emblemática de fuga dos traficantes e indivíduos ligados ao crime para o Complexo do Alemão transmitidos ao vivo pela câmera de um helicóptero da Rede Globo. A fuga de cerca de 300 pessoas e o impacto das imagens forneceram o argumento necessário para as forças policiais do Rio de Janeiro produzir a chamada “retomada do Complexo do Alemão”.

A edição do dia 25 de novembro do Jornal Nacional foi em quase totalidade balisada pelos conflitos do Rio de Janeiro, definindo como situação caótica, com cenas de câmera da mão, tiros, pânico e desespero das pessoas. Diante do clamor popular midiático de perigosos criminosos a solta de sua região de exclusão foi suficiente para motivar a participação na operação da Marinha do Brasil com sua frota de oito blindados e o grupo de fuzileiros navais.

Em questão de horas os criminosos que estavam ocupando a área do Complexo do Alemão se deslocaram com facilidades para outras regiões vizinhas da cidade devido ao fácil acesso a uma pedreira e até mesmo em vielas e tubulações de água pluvial. Mesmo assim no dia 27 de novembro, já sabendo da desocupação dos criminosos as forças unificadas do Estado emitiram um comunicado que ordenava a rendição até o “pôr do sol”, a televisão repetia a todo momento e em todas as edições de seus jornais o comunicado se pronunciando diretamente a população da área. Trinta criminosos se entregaram neste período.

PALCO DAS OPERAÇÕES DIA 28 DE NOVEMBRO DE 2010

Nas primeiras horas do dia 28 de novembro de 2010, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro com 1,2 mil homens, 400 policiais civis e 300 policiais federais e 800 militares do exército, além de 30 carros blindados da policia civil, militar e marinha

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estavam posicionados estrategicamente nas entradas do Morro do Alemão. Concomitante a imprensa foi instruída para acompanhar as tropas com cautela e em pontos determinados.

A cobertura televisiva foi aos moldes da Guerra do Golfo de 1991, transmitida pela CNN, em uma sequência lógico perceptiva onde audiência era impactada por informações sobre o armamento que seria utilizado e imagens do palco das operações. Na noite anterior os telejornais apresentavam as características dos blindados da Marinha do Brasil, sua força bélica, junto com o depoimento das autoridades prevendo um confronto sem precedentes na história dos conflitos sociais brasileiros.

No início da operação os jornalistas acompanharam a entrada do Batalhão mais numeroso pela rua principal do Complexo do Alemão, o momento era ideal, as oito horas da manhã de um domingo a cena foi marcada por tiros ao alto e razantes de helicópteros. Os repórteres por uma questão técnica ainda transmitiam via cabo, conforme a subida do morro as transmissões foram feitas por link de internet conectados via celular. O marco seria a imagem ao vivo de um repórter no alto do morro anunciando o êxito da operação.

Em apenas uma hora e vinte minutos foi anunciada oficialmente a retomada do morro do Complexo do Alemão. Após foi feita uma varredura na comunidade em busca de criminosos e apreensão de armas e drogas. Ao final as bandeiras do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro foram hasteadas sobre a estrutura do teleférico, ponto mais alto, com a intenção de criar um ícone da eficiência da operação. Porém o que mais chamou atenção da mídia foi a “mansão” do traficante conhecido como “Pezão”, um imóvel tríplex com piscina, hidromassagem, discoteca, ar condicionado central, televisores de lcd e uma vista privilegiada de toda a região.

Meses depois o Complexo do Alemão foi palco uma outra ocupação, a midiática. O governador do Estado Sergio Cabral visando ações de cidadania e reprimir a ilegalidade anunciou serviços de internet gratuita e TV a cabo a partir de R$ 25,00. As empresas

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Embratel e Sky criaram pacotes especiais para combater o serviço clandestino, popularmente conhecido como “gatonet”. O programa de internet digital por wi-fi irá custar R$ 5,5 milhões e cobrirá três milhões de metros quadrados partindo de 257 antenas emissoras.

Programas de televisão incluíram em suas pautas o Complexo do Alemão, nos três meses subsequentes quase todos os programas de entretenimentos foram até a região, “Caldeirão do Huck”, “Mais Você”, “Globo Esporte”, “Hoje em dia” da Record, além de programas de humor e dramaturgia em geral. Uma invasão bárbara midiática explorando uma desconhecida matéria prima.

Como repercussão o governo federal e estadual repetiu a operação nos anos subsequentes atuando em outras regiões como: Morro da Mangueira (janeiro de 2011), Complexo do São Carlos (fevereiro de 2011) e Morro do Vidigal e Rocinha (novembro de 2011) todas com ampla repercussão midiática.

RETOMADA DO TERRITÓRIO MIDIÁTICO

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A  Governabilidade  Midiática   - A  preocupação  da  atual  administração  publica  sobre  a  percepção  social   e  a  imagem  da  eficiência  do  Estado  na  diversas  áreas  de  atuação   - Midiatização  do  Poder   o Quais  suas  origens  que  ficaram  culturalmente  invisíveis   o As  manifestações  que  emergem  vetores  que  apontam  seus   interesses  de  controle  e  atuação  estatal  na  mídia,  revestidos  de   um  papel  social  do  telejornalismo.   - A  ordenação  das  visualidades   - A  percepção  social  e  a  imagem  do  poder   - A  complexidade  do  problema  e  como  ele  deve  ser  visto  

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- A  metodologia  utilizada:  a  cautela  arqueológica  (agamben).  Abandono   da  concepção  tradicional  de  Estado  e  Governabilidade,  sem  suas   categorias  universais,  mas  uma  análise  dos  dispositivos  concretos   através  dos  quais  o  poder  penetra  nos  próprios  corpos  de  seus  súditos  e   governa  suas  formas  de  vida.   O  território  Estratégico  da  Governabilidade  ou  a  tradução  que  os  meios   comunicativos  fazem  destas  regiões  e  que  narrativa  é  gerada  por  esses  territórios   - Periferia  e  favelas  /  Zonas  de  tensão  urbana   - Telejornalismo  como  território  da  Governabilidade   - Imaginário  do  local  do  medo  (  os  medos  coletivos  e  a  alteração  da   percepção  social  por  meio  da  mídia).     o A  cultura  dirigente  e  o  interesse  em  alterar  e  modelar  a  forma  de   pensar  pelo  convívio  com  os  meios  midiáticos   o Lucien  Febvre  a  civilização  é  produto  da  longa  batalha  do  medo   o Bauman  e  o  medo   - O  reforço  do  imaginário  com  a  midiatização  do  local.  Nomeando  os   medos  e  criando  imagens   - A  qualificação  midiática  das  favelas  e  o  choque  de  sua  auto-­‐imagem   A  Midiatização  da  “Guerra  ao  Tráfico”   - O  panorama  breve  do  telejornalismo  hoje,  e  as  características  que   favorecem  o  seu  uso  em  estratégias  de  governabilidade.   - A  quem  se  dirige  as  imagens,  a  classe  média.   - A  periferia  como  meio  comunicativo,   - A  construção  da  imagem  do  morro:  o  telejornalismo  e  a  favela.   Comparação  com  fotojornalismo  e  outros  suportes  como  rádio.  Imagem   incompatível   - A  construção  desordenada  das  imagens  dispositivos  de  controle  do   estado.   O  que  levou  a  operação  (contexto)         o Experiência  traumática  de  2007  –  vésperas  do  pan   o Fortalecimento  das  milícias  e  onda  de  ataques  em  2010  (  texto   José  Cláudio  Souza  Alves  e  sociólogo)   o Enfraquecimento  do  tráfico;   o Alto  uso  de  armas  de  fogo     o Inibição  de  consumo  e  acesso  da  população   o Visão  internacional   o Fortalecimento  da  imagem  do  estado   o Saneamento  dos  problemas  sociais  brasileiros   As  astúcias  do  Saneamento  Midiático   - A  transmissão  ao  vivo  –  dispositivo  espetacular  de  controle  do  Estado   - O  Saneamento  Midiático  e  seu  papel  na  narrativa  jornalística   - As  habilidades  de  enganar  (análise  dos  vídeos:  descrição  das  imagens,   texto,  roupas  e  construção  do  espetáculo.  O  horário,  o  impacto,  o  dia,  a   repercussão  e  seu  tempo).  

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- As  estratégias  disuassivas  e  os  formatos  ostensivos   o Logística  da  percepção.   - Extensões  desta  estratégia,  outros  usos  e  possibilidades  futuras.   Conclusão   - A  cultura  dirigente  formada  pelo  Estado  e  o  telejornalismo  visa  ordenar   as  naturezas  das  visualidades  de  seu  poder  e  assim  manter  uma   eficiência  de  atuação  estatal.  Assim  a  necessidade  de  uma  “guerra  ao   tráfico”  homologa  esse  papel  e  equipara  o  poder  do  telejornalismo  ao   do  Estado,  secundando  e  apoiando  um  ao  outro.  Cenário  este  que  tende   a  se  fortalecer  aumentando  a  opacidade  dessas  ligações  e  expondo  o   Estado  de  tal  forma  que  altere  e  modele  a  forma  de  pensar  do  indivíduo   comum.      

- Telejornalismo  como  território  da  Governabilidade   O  telejornalismo  inicia  no  Brasil  dois  dias  após  o  início  das  transmissões  de  18  de   setembro  de  1950,  na  TV  Tupi  o  primeiro  telejornal:  Imagens  do  Dia.   No  segundo  semestre  de  1950  Getúlio  Vargas  inicia  seu  percurso  para  voltar  ao   poder  como  o  “Pai  dos  Pobres”.  As  imagens  da  campanha  de  Getúlio  Vargas  nos   comícios  no  Estado  do  Amazonas,  para  ser  veiculada  nos  cinejornais  faziam  parte   de  uma  estratégia  de  propaganda  política,  descrito  no  livro  de  Karla  Crisitna  de   Castro  amaral  (getulio  vargas  criador  de  ilusões).   Era  comum  nos  telejornais  o  nome  de  patrocinadores  como  “telenotícias  Panair”,   Reportes  Esso,  Telejornal  Bendix,  Reportagem  Ducal,  Telejornal  Pirelli   Todos  com  forte  herança  radiofônica    Na  década  de  60  os  profissionais  não  vinham  apenas  do  rádio  mas  migraram  das   redações  do  jornal  impresso.  O  Golpe  Militar  brasileiro  de  1964  limita  a  evolução   do  telejornalismo,  como  Ato  Institucional  n  5,  o  Jornal  de  Vanguarda  que  trazia   jornalistas  como  produtores  e  cronistas  (Villas-­‐Bôas  Correia,  Millor  Fernandes  e   Stanislaw  Ponte  Preta)  foi  extinto  pela  própria  emissora.  Assim  os  telejornais   passaram  a  utilizar  o  padrão  norteamericano  utilizando  apresentadores   dispensando  o  uso  dos  jornalistas.  

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O  Jornal  Nacional  surge  em  setembro  de  1969  contando  com  uma  rede  de   transmissão  nacional  de  seu  sinal  visando  integrar  cerca  de  56  milhoes  de   espectadores  com  interesses  políticos  e  mercadológicos  evidentes.   Sua  atuação  na  política  se  constrói  nos  governos  militares  principalmente  entre   1977  e  1979  no  governo  Geisel  (confirmar)  e  o  governo  João  Baptista  Figueiredo  o   telejornalismo  brasileiro,  principalmente  o  Jornal  Nacional  passa  a  ter  uma  censura   interna.  Na  década  de  1980  a  venda  dos  canais  da  então  cassada  TV  TUPI   possibilitam  a  formação  de  duas  novas  redes  de  televisão  o  SBT  e  a  Rede  Manchete.   Quanto  a  tecnologia  em  1973    filme  16mm  começa  a  ser  substituído  pelas   instalaçãoo  da  ENG  (eletronic  News  Gathering)  que  permite  a  ediçãoo  em  vídeo   tape,  possibilitando  velocidade  na  produçãoo  da  noticia.  Em  1991  pela  primeira   vez  uma  guerra  é  transmitida  ao  vivo  pela  TV,  as  imagens  da  Guerra  do  Golfo  

Teorias  de  Barbero   Segundo  Martin  Barbero  (prefácio  a  5  ed  espanhola),  aponta  como  novos  rumos  de   sua  investigação  as  tecnologias  audiovisuais  e  informáticas  que  adquiriram  nesta   última  década  uma  expressiva  “envergadura  econômica-­‐cultural”  que  inserem  os   meios  na  construção  das  políticas  sociais  e  econômicas  da  américa  latina.     Destaca  Martin  Barbero  como  elemento  de  mudança  dos  cenários  das   comunicações  das  últimas  décadas  na  America  Latina  o  otimismo  tecnológico  com   o  mais  radical  pessimismo  político,  e  o  que  busca  é  legitimar,  através  do  poder  dos   meios,  a  onipresençaa  mediadora  do  mercado.   A  comunicação  passa    a  se  situar  como  local  estratégico  na  configuração  das  novas   sociedades   Barbero  (pg1  4)   No  que  concerne  a  política,  o  que  estamos  vivendo  não  é,  como  crêem  os  mais   pessimistas  a  sua  dissolução  mas  a  reconfiguraçãoo  das  mediações  em  que  se   constituem  os  novos  modos  de  interpelaçãoo  dos  sujeitos  e  de  seus  vínculos.  A   mediação  televisiva  ou  radiofônicas  passou  a  constituir,  a  fazer  parte  da  trama  dos   discursos  e  da  própria  ação  política.   Se  falar  de  cultura  política  significa  levar  em  conta  as  formas  de  intervenção  das   linguagens  e  culturas  na  constituição  dos  atores  e  do  sistema  político,  pensar  a   política  a  partir  da  comunicação  significa  por  em  primeiro  plano  os  ingredientes   simbólicos  e  imaginários  presentes  nos  processos  de  formação  de  poder.  

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