Ataques dos vikings em França. Narrativa dos monges de Noirmoutier

September 23, 2017 | Autor: Mário Oliveira | Categoria: Vikings in the North Atlantic
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Universidade de Lisboa/Faculdade de Letras.
Cadeira: História Medieval (Política e Cultura).
TP1.
Curso: História.
Ano Letivo: 2014/2015.


Ataques dos vikings em França. Narrativa dos monges de Noirmoutier
(Análise do texto 23, b)
















Docente: Prof.ª Doutora Margarida Garcez. Discente: Mário Oliveira N.º 50366.
Introdução:

Ao que tudo indica o texto alvo deste trabalho é uma narrativa dos monges de Noirmoutier. Poucos são os peritos nesta área e como tal e com carência informativa sendo que normalmente a vasta bibliografia refere os mesmos aspetos, é impossível com exatidão saber a data e o lugar onde foi redigido assim como também saber em que circunstâncias o contexto histórico pode ter exercido alguma influência sobre a sua redação ou sobre a implicação e a ação das personagens expostas no texto. É de referir que este texto está bem estruturado e mantêm-se fiel a apenas um assunto facilitando a sua abordagem, mas a nível espacial, a nível de enquadramento no tempo é um pouco confuso obrigando a problematizar este aspeto. Os Vikings são guerreiros e praticantes de pirataria. Originários da Escandinávia invadiram e pilharam grandes áreas da Europa desde o século VIII até meados do século IX. Três grandes povos que habitam a região da península da Escandinávia: os Noruegueses, os Suecos, os Dinamarqueses sendo que eles próprios estavam organizados em múltiplas populações, não eram apenas um povo grande e unido. Há quem defenda que estes povos não tinham práticas agrícolas mas segundo Pierre Riché os escandinavos são agricultores e normalmente os operários agrícolas são escravos ou libertos. São uma comunidade organizada, sendo que a sociedade revela ser tripartida: aristocracia, homens livres e escravos. Os vikings tinham já tentado entrar em espaço franco em pleno início da dinastia Carolíngia mas o Carlos Magno tinha conseguido travar esta expansão. Foi devido às rivalidades entre os sucessores de Carlos Magno que os Escandinavos retomaram a rota do sul. Fizeram-se aproveitar da sua má imagem e do seu domínio do ferro, superior ao do reino franco. Na primeira metade do século IX os dinamarqueses, especialmente eles, fizeram vários ataques á costa norte da europa (França). Penetraram no Elba, Sena, Loire e no Tamisa. Criaram bases nas Ilhas da Mancha onde começaram a estabelecer-se. A comunidade viking era extremamente agressiva e pilhava e massacrava quase tudo o que encontrava. Foi na segunda década do século IX que os ataques dos vikings começaram a ameaçar a calma e as terras prósperas do enorme Império Franco preocupando Luís, o Piedoso do perigo do norte. Um dos casos mais conhecidos foi o da ilha de Noirmoutier, que a meu ver é o ponto-chave do texto.
Desenvolvimento:

O início do texto aborda as invasões vikings. Este parágrafo retrata não só estas invasões como também a tentativa, especialmente do abade Hilbodus de arranjar uma solução face a este problema. A ilha de Noirmoutier situada no sul da foz do Loire foi fortemente atacada pelos vikings inclusive o mosteiro de São Filiberto, não que este mosteiro representasse uma instituição de grande riqueza, mas estava inserido num local de prospeção económica na medida em que a ilha era um porto de escala do comércio de sal por via marítima, bastante conhecido na indústria dos países do norte. Tanto reconhecimento pode ter chamado a atenção dos piratas normandos que fizeram desta ilha o primeiro ataque em águas do atlântico norte. Se foram os vikings dinamarqueses ou os vikings noruegueses os primeiros a chegar à ilha não se sabe ao certo nem a narrativa dos monges (texto) fazem referência mas tudo indica que tenham sido os noruegueses que se tinham afixado na Irlanda os primeiros a chegar. Esta abordagem inicial serve para tentar explicar o início do texto, visto que os monges começam por abordar os ataques dos normandos a Noirmoutier. As investidas regulares destes povos do norte obrigaram a que o abade Hilbodus construísse um castelo como forma de se defenderem destes ataques. As investidas regulares que são evocadas podem muito provavelmente ser as de 834 a 838 (o rei Pepino morre a 838, sendo que foi este que esteve reunido com o monge Hilbodus para discutir o futuro de Noirmoutier, por isso, o primeiro paragrafo do texto encontra-se entre esse período de tempo). Estas investidas começaram com os dinamarqueses em Frísia, uma província comercial que já tinha sido atacada no tempo de Carlos Magno por volta de 820. Durante anos houve ataques em várias cidades do império franco, Irlanda e em outros países. Ataques que o imperador dos francos, Luís tentou resolver diplomaticamente em especial com o rei dos dinamarqueses, aparentemente sem grande sucesso. Em 838 uma tempestade destruiu a frota dinamarquesa instalada em Frísia e o rei franco como forma de prevenir outro ataque ordenou a construção de barcos para vigiarem a costa para que novos ataques não passassem despercebidos. No período em que este texto se insere as devastações eram maiores, mais cidades queimadas, mais mortes, mais prisioneiros. Segundo a narrativa dos monges de Noirmoutier nem já tendo pedido ajuda ao rei Pepino arranjaram solução para impedir os piratas, sendo que o acesso à ilha era complicado e os vikings dominavam o mar e tinham muito mais facilidade em chegar à ilha, por isso num consenso comum entre o rei, nobres e bispos e abades decidiu-se declarar de certo modo a ilha como causa perdida e foi mandado retirar o corpo de São Filiberto. O castelo que se tinha construído na ilha era impotente para salvaguardar a terra
Seguindo para o segundo parágrafo, este faz referência à evolução das invasões normandas. As pilhagens, mortes, incêndios, entre outras catástrofes continuam a cresce. Isto pode mostrar a debilidade da defesa franca. Juntamente com estas referências os monges falam da tomada de várias cidades, da profanação dos seus defuntos, especialmente das cinzas dos seus santos e das relíquias roubadas. Falam da sua própria fuga e da concretização da escritura de Jeremias (capítulo I, versículo XIV). Estas abordagens são muito sucintas e por isso é necessário desenvolver. Este parágrafo pelo seu conteúdo não é um seguimento do primeiro. A altura é diferente. Situa-se por volta de 838 (morte de Pepino) e tem seguimento durante o reinado de Carlos II, o Calvo que subiu ao poder após o tratado de Verdun em 843. Este tratado veio pôr fim a uma crise de sucessão, a um conflito interno que permitiu a progressão dos vikings. Esta crise foi gerada em particular em 840 quando Luís, o Piedoso morre, ficando três filhos que lutavam pelo poder. Com o Tratado de Verdun os três irmãos fizeram a repartição do império. Lothar ficou com o título imperial, recebendo o reino do meio, que é a Itália e a longa extensão de terra atingindo desde os Alpes até o Mar do Norte entre o Reno e o Escalda; Luís, o Alemão teve as terras a leste exceto Frísia, que foi atribuído a Lothar, e por isso possuía uma costa marítima do Weser ao Eider; Carlos tinha França do Meuse para o Loire, juntamente com Toulouse. Com esta divisão os dinamarqueses aproveitaram e voltaram a atacar em peso. Em 841 os vikings apareceram de repente no Sena e foram até Rouen sempre a pilhar até chegarem ao mar e terem desaparecido cheio de riquezas e oferendas. Os ataques realizados a Rouen e Quentovic foram eclipsados pelo ataque a Nantes em 843. Desta vez não foram os dinamarqueses mas sim noruegueses com uma frota de cerca de sessenta e sete navios vindos de Vestfold (Noruega), conseguiram devastar uma cidade muito bem equipada defensivamente em pleno dia festivo, dia de São João. A cidade estava superlotada e sem quaisquer avisos os vikings mataram todos os que encontraram e só ao anoitecer se foram embora com uma enorme quantidade de espólio, retomando a Noirmoutier. Estava revelada uma fase mais brava dos vikings, que monstra a total falta de respeito perante a comunidade do império carolíngio. Foi possivelmente durante estas novas vagas de invasões que as cidades explícitas neste parágrafo foram tomadas. Nesta altura já a Europa era maioritariamente cristã. Tinham esta crença fortemente enraizada no quotidiano. Não é difícil de acreditar, especialmente vindo de um texto de homens da igreja que tivesse explicito que estas invasões vikings fossem a concretização de uma passagem bíblica.
Referente ao terceiro parágrafo a narrativa dos monges de Noirmoutier mostra que a atenção deles não está só voltada para dentro das limitações do império carolíngio como também estão atentos aos problemas externos cuja entidade problemática é a mesma. Estes monges relatam ataques em território da Península Ibérica e Itálica por isso torna-se essencial falar um pouco dessas incursões ao redor do mediterrâneo. Fora estas incursões este excerto textual fala também da mudança das cinzas de São Filiberto. A linguagem usada e a cronologia a que o texto se refere, indica que o texto também não é seguimento dos anteriores, ou pelo menos não é do mesmo autor. Faz referência a datas a partir de 857. Primeiro foram os dinamarqueses a chegar ao solo espanhol seguindo-se os noruegueses. Em Espanha ainda se travou alguns combates onde se distinguem dois chefes dinamarqueses – Bjorn Jernside e Hastings. Segundo os registos árabes sabe-se que houve duas penetrações vikings: uma a 844 dentro da Península Ibérica e outra de 859 a 862, estas já voltadas mais para as costas de Espanha e restante interior do mediterrâneo ocidental. Em 844 os normandos seguiram por Galiza até a Corunha onde foram expulsos. Perseguiram ao longo da costa portuguesa até à região de Lisboa e capturaram não só esta praça fortificada mas como juntaram também às suas conquistas Cádis e Sevilha. Os vikings tinham o costume de trocar prisioneiros por alimentos e elementos de vestuário. A incursão de 859 a 862 foi das mais bem preparadas dos normandos. Com uma frota perto dos sessenta e dois navios e partindo da Bretanha conseguiram chegar às costas de Espanha passando pelo estreito de Gibraltar chegando a Algeciras. Posteriormente chegaram a Nekor, em Marrocos, seguindo-se as ilhas Baleares, continuando para a costa sul de França onde se fixaram durante algum tempo na ilha de La Camargue, no delta do Ródano onde prejudicaram a economia da zona. Em 860 os vikings partiram para leste chegando ao norte de Itália onde pilharam Pisa. Em 862 a expedição regressou à Bretanha pelo estreito de Gibraltar.
Recuando para finalizar, em 836 os monges foram forçados a cavar e remover para um lugar seguro (Cunault) os ossos do bem-aventurado, São Filiberto (expressão utilizada pelo texto), futuramente mudaram-no para Messay. Estes monges estiveram em constante mudança, seguiram para Saint-Pourçain-sur-Sioul mais para centro e por fim terminam em Tournus.
Conclusão:
O texto alvo deste trabalho como está explícito na análise anterior é muito provável que seja uma aglomeração de vários excertos de autores diferentes e de alturas diferentes. Isto deve-se à linguagem usada ser diferente assim como existir nomes escritos de maneira diferente. É um texto que remete-nos essencialmente para uma vertente política e que obriga-nos a problematizar as problemáticas tendo em conta a dispersão temporal que existe. Só após a investigação feita através das bibliografias que constam neste trabalho e após a análise/debate elaborado com terceiros se conseguiu chegar a conclusões sobre os períodos de tempos que os excertos textuais retratam.
Pode-se concluir que os vikings marcaram sobretudo o século IX principalmente os territórios da atual França e Reino Unido. Estes povos escandinávicos apresentavam uma maneira de viver totalmente oposta à realidade europeia o que permitiu ter um impacto tão grande como tiveram.
A análise destas incursões só é possível devido aos estudos feitos até ao momentos mas sobretudo aos relatos deixados pelos monges da época.
O conteúdo da análise está dentro dos limites impostos pela professora (5 páginas, excluindo capa, bibliografia e anexos). Toda a bibliografia expressa no trabalho foi consultada durante o processo de investigação que permitiu esta análise.
O texto alvo da análise consta na obra: Ermentaire, Miracles de Saint Philibert, Paris, 1905.
Bibliografia:

2. Bibliografia Geral:
2.1 Obras de Referência:
ARBMAN, Holger, Os Vikings, Lisboa, Verbo, 1967.
BRONDSTED, Johannes, Os Vikings, trad. Horta, H. Silva, Lisboa, Ulisseia, 1963.
2.2 Obras Gerais:
BALLARD, Michel, GENET, Jean-Philippe, ROUCHE, Michel, A Idade Média no Ocidente, dos Bárbaros ao Renascimento, Lisboa, Edições Dom Quixote, 1994, pp. 102-103.
BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, Lisboa, Edições 70, 1979, pp. 37-49.
DELORME, Jean, Chronologie des civilizations, Paris, Presses Universitaires de France, 1949.
DIOGO, António Dias, XAVIER, Ângela Maria Barreto, SANTOS, Maria Catarina Madeira Henriques dos, et. al. História da Vida Quotidiana, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1993.
GIORDANI, Mário Curtis, História do mundo feudal I, Petrópolis, Vozes, 1982.
HEERS, Jacques, História Universal, O Mundo Medieval, [s.l], Circulo de Litores, 1977, pp.50-89.
PREVITÉ-ORTON, C.W, História da Idade Média, Vol. III, Lisboa, Editorial Presença, 1973, pp. 67- 75.
REIS, António, MACEDO, Jorge Borges de, História Universal, Vol. I,[s.l], Circulo de Leitores – Selecções do Reader's Digest, [s.d].
RICHÉ, Pierre, Grandes Invasões e Impérios: séculos v a x, Lisboa, Publicações Dom Quixote,1980, pp. 200-211.
RINGLER, Richard N (consultor), Vida e Sociedade no tempo dos vikings, trad. PIRES, Paulo Emílio, Lisboa, Editorial Verbo, 2002.
Obras Especificas:
HALPHEN, Louis, Carlos Magno – O Império Carolíngio, Lisboa, Editorial Início, 1970, pp. 294-306.
PIRENNE, Henri, Maomé e Carlos Magno; trad. Manuel Vitorino Dias Duarte, Lisboa, Dom Quixote, 1970.
2.4 Sitiografia:
http://deremilitari.org/wp-content/uploads/2013/07/price03.pdf [Consultado: 04-10-2014].
http://www.northvegr.org/secondary%20sources/germanic%20studies/a%20history%20of%20the%20vikings/044.html [Consultado: 04-10-2014].
http://thewildpeak.wordpress.com/2014/05/02/salty-vikings-salt-and-the-early scandinavian-raids-in-france-799-843/ [Consultado: 10-10-2014].













Anexos:

Figura 1Figura 1Figura 2Figura 2
Figura 1
Figura 1
Figura 2
Figura 2







Figura 3Figura 3
Figura 3
Figura 3

Figura 4Figura 4
Figura 4
Figura 4





Página " 9



Pirataria é um termo usado por vários historiadores mas não é um termo correto para classificar os vikings.
Vide, infra anexos, p. 9 figura 1 e 3.
Vide http://thewildpeak.wordpress.com/2014/05/02/salty-vikings-salt-and-the-early-scandinavian-raids-in-france-799-843/ [Consultado: 10-10-2014].
Vide, PREVITÉ-ORTON, C.W, História da Idade Média, Vol. III, Lisboa, Editorial Presença, 1973, pp. 67- 75.
Vide: BRONDSTED, Johannes, Os vikings Johannes; trad. H. Silva Horta, Lisboa, Ulisseia, 1963, pág. 49-50.
Vide: HEERS, Jacques, O mundo medieval, Lisboa, Edições Ática, 1976, pág. 46.
Vide: infra anexos, p. 9 figura 2.
Vide: ARBMAN, Holger, Os vikings, Lisboa, Verbo, 1967, pág. 83-86.
Vide: BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, Lisboa, Edições 70, 1979, pp. 37-49.
Imagens retiradas da Internet [Google imagens (10-10-2014)].

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