Ato I - A maldição do canvas em branco

June 30, 2017 | Autor: Charles Baldaia | Categoria: Música, Romance, Misterios, Revolução Industrial, Sobrenatural
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Ato I - A maldição do canvas em branco

Ele se levantou no meio da noite e a beijou. A pele dela estava tão fria quanto aquela noite escura e tempestuosa. O artista só percebeu o sangue nos lençóis depois que voltou do banheiro. "Annabel!" grita o filho do capitão industrial e não recebe resposta.
A bela serviçal negra, que já à dois meses tem um caso com seu senhor, está jogada no chão nua, olhos fechados, pele pálida e uma poça de sangue sob o belo corpo. O Artista também não havia reparado nas manchas de sangue no seu próprio peito.
Rapidamente ele se aproxima e analisa de perto a figura de sua amada. A pele gelada e pálida dão o veredito tão bem quanto a ausência do som agradável que o coração da moça fazia. Ele gira a sua cabeça, procurando pela casa que ele comprara justamente para os encontros secretos dos dois jovens algo que pudesse indicar a razão da morte da jovem, mas não encontra nada.
Ele não pode dizer a ninguém o que houve, seu pai nunca entenderia, seu noivado com a garota de família nobre estaria arrasado.Escândalo . Com lagrimas nos olhos ele pega o leve e magro corpo de Annabel e caminha em direção ao jardim.
Mesmo sendo simples, a casa comprada com a mesada que o garoto recebia do pai tinha um jardim, um luxo em meio ao processo de industrialização que o Reino Unido sofria naqueles dias. Um clarão provocado por um relâmpago revela o rosto por trás da janela. Assustado ele deixa Annabell cair no chão de madeira. Sumiu.
O Artista corre a janela a procura do Homem. o conhecia de algum lugar. põe a cabeça pra fora. Nada. Só o barulho da tempestade. "Um truque pregado pela minha mente atormentada" pensa.
Chegando ao jardim com o cadáver, o Artista começa o trabalho braçal. Não estava acostumado com aquilo, mas logo termina a cova rasa, onde deposita sua amada. "Prometo visitar-lhe todos os dias" diz para ela antes de colocar a primeira porção de terra.
Ele passa alguns minutos admirando o resultado de seu primeiro trabalho pesado e promete, agora pra si mesmo, trazer flores na manhã seguinte. O silencio da pequena cabana zomba de sua desgraça. O Artista sai pelas ruas de Londres.
É madrugada, aproximadamente três da manhã de sábado, ele caminha sem rumo, a esmo e aleatoriamente pelas ruas e avenidas sem ouvir um som sequer além da risada doce de Annabell em sua cabeça. "Meu amor..." pensa ele. Ela propusera na noite anterior, antes do sexo, que ele fugissem. Ele detestava sua noiva tanto quanto ela, mas nunca sobreviveria sem os mimos que a fortuna do pai lhe proporsionava. Agora ele se arrependia da discusão. "Todo aquele sangue..." aquilo não foi natural. Será que alguém soubera do caso dos dois e matou a jovem? "Transformarei sua vida em um inferno" prometeu O Artista ao assassino. Prometeu o Artista ao "Amante"
Seu devaneio o levou até uma pequena e suja taverna no centro. Três operários comemoravam a folga ao som de um alegre pianista. O dono do bar estava por trás do balção com um sorriso amarelo no rosto.
"Como podem estar tão felizes enquanto eu estou tão triste?"
A profundidade da alma de um homem não pode ser medida em metros, muito pelo contrario, em minha opinião, a única medida cabível é sua proximidade com o céu ou o inferno.
Se tivesse sido uma noite diferente, um lugar diferente, um tipo diferente de homem que desconta a desgraça que o destino lhe impõe naquele pub inocente os eventos ocorridos naquela madrugada teriam, sem duvida, sido muito diferentes.
Ao sair do bar O Artista era uma confusão de Annabel com os cinco homens. Sangue de ambos em seu corpo, a voz de ambos em sua cabeça.
"O que eu fiz?" pensou. Aquilo acontecia as vezes. Ele perdia o controle e depois não se lembrava do que havia acontecido. "Apesar de todo o peso que esta vida coloca sobre minhas costas, eu ainda sou um assassino.". Não podia se entregar. Não. Ninguém nunca encontraria evidencias. Seu pai acreditava que ele estava em seu quarto dormindo. "Só tenho que me livrar da faca"
O artista corre em direção ao rio Thames, onde pretende jogar a prova do crime. Conhece bem as ruas, caminhara inúmeras vezes com Annabell por ali. "Annabell". Não! Tem tempo para se lamentar depois.
Chgando ao rio, ele tira a faca que pegara no bar para matar ao felizes homens da cintura. Olha para a direita. Nada. Olha para a esquerda. Nada. Ele prepara o impulso quando percebe que há alguem na ponte sobre o rio. Terror. Ele fica parado, em choque.
É uma mulher. Uma cabeça mais baixa que ele, aparentemente. "Me lembra…". A mulher sobe sobre a mureta que põe limite entre a ponte e a beirada. "Ela vai pular!" Pensa desesperado "NÃO!!!" Ele grita enquanto a mulher se joga.
Os olhos do artista saltam ao orbitas e suas sobrancelhas chegam a metade da testa pálida como leite enquanto a mulher vem flutuando em sua direção. "Finalmente enlouqueci".
As feições dela ficam mais nítidas conforme ela se aproxima. A pele negra, os cabelos crespos e soltos, o rosto sério. Quanto mais ela se aproxima mais a duvida dele vai embora. É ela. "É ela".
Paralisado, com lagrimas no rosto e a faca na mão o artista observa Annabell contorna-lo e flutuar a poucos centímetros do chão em direção ao centro. Ele a persegue.
Ela flutua rapidamente, mas o Artista ainda é capaz de acompanha-la.
"É ela, tenho certeza". As feições eram perfeitas. Lembrou-se de quando tentou pinta-la, mas não encontrou tinta alguma que representa-se o lindo tom da pele da jovem. "Este canvas vazio está lhe rogando uma maldição" ela o disse quando contara o caso "nunca encontrarás ninguém que se assemelhe a mim.".
Ele nunca encontrou. Aquele tom de pele era tão único quanto o sorriso dela.
"'bell!" gritou o artista em meio a perseguição, mas não teve resposta. Ela virava as ruas bruscamente, mas parecia saber onde queria chegar. O esforço de cavar a cova, de matar os homens e agora de correr pela cidade começavam a fazer com que o corpo do Artista se manifestasse. Mas não por muito tempo. Anabell chegou onde queria.
Era um jardim. "É o jardim".
O artista perambulava pelo jardim, com a cabeça imersa em seus pensamentos mais profundos sobre a noiva que ele conhecera a cinco minutos quando vira Annabell pela primeira vez. A arpa em sua mão produzia o mais doce som que ele jamais ouvira e dava a ela um aspecto de ninfa.
Ele se apaixonou dois minutos depois.
Sim, era o jardim.
O jardim estava vazio, não havia som algum além do som da chuva. Ele virou a cabeça a procura de Annabell. Mas não a encontrou. "Aquele coreto". Era gigantesco, ele fizera qualquer comparação do lugar com o ego dos capitões industriais antes de conseguir o primeiro beijo da serviçal.
Ele sobe no coreto. tenta se lembrar. Fecha os olhos. O medo o consome.
"Vire-se, sou eu, Annabell"
Ele abre os olhos e vira bruscamente.
"Meu amor, tudo ficará bem." há algo errado com os olhos dela. Ela está companhada "É o fim".
O Artista tenta sacar a faca mas não é rápido o bastante. O Amante o esfaqueara no coração. As lagrimas se mistura com o sangue. Ele está confuso.
"Eu enterrei você"
Não há resposta
"Isto não é justo…"
- Se é isto o que você chama de justiça - diz o amante, apontando para a figura dos espíritos dos operários mortos, que assistiam ao espetáculo - Então é isso o que eu chamo de vingança. - E afundou mais a arma no peito do artista, só para garantir.
Na manhã seguinte todos os jornais estampavam a noticia de um maniaco que matara cinco pobres bêbados em um bar e arrastara e matara o filho do dono da industria produtora de amendoins caramelizados, que fazia sucesso naqueles dias. Nenhum deles Falava do desaparecimento de Annabell e quando a poça de sangue foi encontrada na cabana no centro nenhum investigador conseguiu ligar os pontos com Annabel e muito menos com o Artista.
Durante todos estes anos essa estória foi um mistério. Mas você precisa conhecer a estória deles, se quiser conhecer a minha.



Charles Baldaia
Baseado no album "The Empitness" de "Alessana"










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