ATRAVÉS DE POTÊNCIAS ESTÉTICAS: OS MULTIÁLOGOS AUDIOVISUAIS NA NUVEM Towards The Audio-Visual Clouding Aesthetics

June 9, 2017 | Autor: Milena Sz | Categoria: Video remix, Film Aesthetics, Online Video, HTML5 Video, Clouding Audiovisual Aesthetics
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ATRAVÉS DE POTÊNCIAS ESTÉTICAS: OS MULTIÁLOGOS AUDIOVISUAIS NA NUVEM Towards The Audio-Visual Clouding Aesthetics ‫א‬

[Prof. Ph.D.] Milena Szafir profmilena[at]manifesto21.tv Submitted on April 17th, 2014

As narrativas audiovisuais contemporâneas no online possuem em comum uma gestualidade da apropriação midiática que parte de memórias afetivas para construção dos multiálogos metalinguísticos desde efeitos do “ao vivo”. Quais as especificidades desta(s) estética(s) emergente(s)? ie Como diferenciá-la(s) de préexistentes denominações como “found footage films”, “compilation documentaries”, “essay film”, “cybernetic art”, “telematic art”, “database aesthetics”, “fuzzy aesthetics”, entre outras!? [resumo: 493 caracteres]

Esta comunicação tem por objetivo propor um exame sobre as [diferentes] estéticas audiovisuais trazidas pelas habituais práticas na internet 'atual' [em nuvem]. Tal produção [in]específica nos induziu a visitar algumas noções, muitas vezes relacionadas às artes visuais e às linguagensdispositivos do cinema expandido ao live images e vídeosinterativos em rede.

O campo ao qual a estética se volta não é a arte, mas uma realidade corporal como forma de cognição através de todos os sentidos possíveis [percepção através dos sentimentos]. Do analógico, eletrônico ao digital, são os gestos que dão feição às linguagens audiovisuais. Instinto-gestualidades que trabalham antes a experiência sensível-sensorial à cultura[lização] das formas, o imaginário sobre o empírico, a ilusão mais do que a ideia de real. Atualizam-se comportamentos habituais, em que um [ex-]espectador é afetado [despertado]. Nascem formas estéticas como um ‫ א‬Milena Szafir é considerada uma das pioneiras no Brasil em “vj’ing/ live cinema” e realizadora da 1 a webTV móvel (live streaming via celulares). Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais e mestre em Ciências da Comunicação, ambos pela ECAUSP. Graduada na FAUUSP, possui formação também em Processamento de Dados [ETESP] e em metodologias de educação não-formal. Co-coordenou o “EuroITV Grand Challenge Competition” (2010-2013) e atualmente é professora de 'Cinema e Audiovisual' no ICA-UFCE. @SOCINE // Educadora universitária em Linguagens e Projetos Artísticos, Montagem Audiovisual, Design Gráfico, Fundamentos da Mídia Digital e Cinema. Formada pela FAU-USP, é mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. @ANAIS-SOCINE

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hábito emergente, característico de épocas históricas em transformação, que guiam a recepção além óptica [extracontemplação], em narrativas audiovisuais oriundas do/no espaço “público” de mentes [memórias] coletivas.

Na tentativa de descrever um viés analítico sobre as ocorrências do audiovisual contemporâneo frente aos estudos artístico-cinematográficos em órbita, sugerimos alguns termos – ideias em esboço (conceitos em construção) – tais como “clouding audiovisual aesthetics” e “memórias afetivas”. Experimentações ensaísticas como diálogos – retóricas audiovisuais – que se estabelecem através da coordenação-argumentação reflexiva entre os componentes gráficos, visuais e sonoros à disposição, em processos de busca e montagem [in]conscientes no enorme [des]encontro do bancode-dados existente online. Ou seja, estéticas do “remarkable”: políticas e éticas em atravessamentos no tempo real como fluxos midiáticos de efetiva potência, manifestações hipermidiáticas de construção de sensações-emoções e acepçõesinterpretações que existem na [ou para a] Internet via “apropriação dos mecanismos de produção da representação [visibilidade]”.

Desta maneira, apresentaremos um leque de possibilidades estéticas desta 'novíssima' arte cinematográfica [em seu sentido etimológico] que se insere no que denominamos como “Pós-Remix”, ie uma era de videografias que apresentam uma nova maneira de desenvolvimento e espectatorialidade das narrativas audiovisuais. Em comum são 'obras' realizadas ao longo dos últimos cinco anos e que propõem uma participação do espectador. Ainda que se insiram no conceito “Remix”, o ultrapassam em suas especificidades características. Desde as séries de manifestações ao redor do mundo [caracterizadas por estratégias de compartilhamento via mobile live streaming, dentre outras] aos experimentos de ensino-aprendizagem – além videoarte – que se utilizam do material “disponível” nos repositórios online, reiteramos pós-cinematografias como “The Wilderness Downtown” (2011). Desenvolvida pelo Google Labs em parceiria com Chris Milk e Aaron Koblin, [re]apresentou uma 'nova' possibilidade de narrativa audiovisual na nuvem.

Diferentemente daquele “formato YouTube”, onde a maneira do assistir a um material audiovisual já havia sido transformada, agora – com os exemplos mapeados ao longo da pesquisa em doutoramento – novamente nasce uma percepção distinta e uma recepção aparentemente desfigurada daquela proposta inicialmente pelo cinema. Em

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particular, via HTML5 [interligado a APIs, metadados, links etc], experimentos que se apresentam desde diversas janelas também abertas, mas pré-dispostas 'em choques' para gerar uma outra espectatorialidade do discurso presente: imagens em movimento que dialogam e nos convidam a uma espécie de atenção somatória nelas para que melhor possamos acompanhar as retóricas propostas que sucedem. Ou talvez “não tanto através da atenção (…) [mas desde tarefas que, apresentadas ao aparelho de percepção humana,] só são dominadas gradualmente, pelo hábito, após a aproximação da recepção táctil”. [resumo expandido: 3995 caracteres]

Bibliografia BENJAMIN, W. Obras Escolhidas, vol.1. Brasiliense: São Paulo, 1993. BUCK-MORSS, S. The Dialectics of Seeing. MIT Press: Cambridge 1991. [ERRATA: Aesthetics and Anaesthetics: Walter Benjamin's Artwork Essay Reconsidered. MIT Press: Cambridge 1992.] DOANE, M. Emergence of Cinematic Time. Harvard Univ: Cambridge, 2002. DUBOIS, P. Cinema, vídeo, Godard. Cosac Naify: São Paulo, 2004. FLUSSER. V. Los Gestos. Herder: Barcelona, 1994. GINZBURG, C. Medo, Reverência, Terror. Cia das Letras: São Paulo, 2014. HAMBURGER, E. Políticas da Representação. In: Mourão, D.; Labaki, A. (org.). O Cinema do Real. São Paulo: Cosac Naif, 2005. JAMESON, F. Marcas do visível. Rio de Janeiro: Graal, 1995. MACHADO, A. Pré-Cinemas e Pós-Cinemas. Papirus: São Paulo, 2007. MANOVICH, L. Visualizing Vertov, 2014. Disponível em: < http://goo.gl/J2riNb >, acesso em fevereiro/2014. MEEK, A. Trauma and media. New York : Routledge, 2010. NAVAS, E. Remix Theory: The Aesthetics of Sampling. Springer-Verlag/Wien: New York, 2012. SZAFIR, M. The 'State of Art' at Online Video Issue. 2012 < http://goo.gl/SJ1oMh >, acesso em jan/2014.

Enviado em 17 de abril de 2014 @ SOCINE :: Fortaleza – Brasil < http://www.socine.org.br/anais/2014/interna.asp?cod=392 >, acesso em 02/02/16

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Second version: November 30th, 2014 < http://www.socine.org.br/anais/2014/AnaisDeTextosCompletos(XVIII).pdf >, acesso em 02/02/16

Resumo: As narrativas audiovisuais contemporâneas no online possuem em comum uma gestualidade da apropriação midiática para construção de multiálogos desde efeitos do “ao vivo”. Em comum, convidam-nos a ser participador: apropriar-nos daquilo que normalmente de nós se apropria ao moldar nossas memórias. Quais as especificidades desta(s) estética(s) emergente(s)? Palavras-chave: filme-ensaio, artesanato digital, montagem, [re]apropriação, guerrilha midiática Abstract: This paper will be pointing the array of aesthetic possibilities that can be placed under the concept “clouding audiovisual aesthetics” in challenge through the images movement montage practices. Rhetorical stance resorting to the enormous [un]found database material which can be appropriated on the Internet. What does actually happen with this emergent aesthetics!? What's about this chaotic-fuzzy cinema's grandchild as enunciative subjectivity through the intensive data flow? Keywords: found footage, database, essay film, big data, mash up.

“O meu cordel estradeiro, vem lhe pedir permissão pra se tornar verdadeiro, pra se tornar mensageiro da força do teu truvão. E as asas da tanajura fazer voar o sertão. (…) eu também sou cangaceiro e meu cordel estradeiro é cascavel poderosa, é chuva que cai maneira... É seca desesperada, rasgando o bucho do chão, é inverno e é verão... Vocês que estão no palácio, venham ouvir meu pobre pinho, não tem o cheiro do vinho, mas... um cantador de primeira, que nunca foi numa escola” (Cordel do Fogo Encantando, 2001)1 O “resumo expandido” enviado a esta Socine (17/04/2014) correspondia a uma reciclagem e tradução ao português de textos que à época se encontravam em órbita: “¿The Next TV? The Aesthetic Possibilities To The Online Remix Audio-Visual Rhetorics”, “Audiovisual Rhetorics 2.1 […]” e “Towards an Aesthetic of The Clouding Video”2. “[Kriegspiel] pertence às tele-conexões, aos sistemas de tempo e rotas logísticas (…) um jogo de espaço auto-descentralizado (…) A chave-projetual do jogo é a rede de 1

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Iniciei esta minha apresentação referenciando “O Meu nome é Severino...” de João Cabral de Melo Neto a partir do filme de Zito Viana com músicas de Chico Buarque de Hollanda. Não apenas porque era “Dia do Nordestino” (08 de outrubro, de acordo ao calendário de datas brasileiras), mas também para adentrarmos ali ao termo “memórias afetivas”, como o vislumbro em minha tese Retóricas Audiovisuais 2.1: o “filme-ensaio” aliado ao “vídeo-remix” na cultura de “banco-de-dados” [ou uma prática da apropriação digital e online como fundamento dialógico-discursivo a uma reflexão e escrita auto-conscientizadora através de imagens e sons] , título provisório (Relatório de Qualificação – maio/2013). A seguir, aqui neste texto, a explicarei novamente. Todos enviados em Janeiro/2014 e publicados entre março e julho do mesmo ano.

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conexões (…) A alegoria debordiana sobre o algoritmo – ou alegoritmo, se não for um trocadilho infame – da nova sociedade da informação que crescia ao redor dele nos anos 1970. Em suma, o jogo de Debord é algo como um 'xadrez conectado'...” (GALLOWAY, 2009; livre tradução) “Um diálogo audiovisual e em rede digital é, portanto, um embate.” (SZAFIR, 20103)

O título, então ao português, tentou traduzir aqueles originais em retorno ao termo “Multiálogos” 4 [ou “multi-diálogos”], criado por Esther Hamburger durante um dos atendimentos (ainda no mestrado) enquanto tratávamos de todo aquele enorme diálogo em rede, sua heterogeneidade, uma polifonia de vozes, assim como os diálogos audiovisuais travados comumente entre realizações cinematográficas. Como pode[ría]mos analisar este caótico neto da arte de vanguarda – o audiovisual midiático em redenuvem – em termos de subjetividade(s) enunciativa(s) que [co-]existem através do intenso fluxo de dados? Interessa-me um exame sobre as [diferentes] estéticas audiovisuais trazidas pelas habituais práticas na internet 'atual' [em nuvem]. Tal produção [in]específica nos induz a visitar algumas noções, muitas vezes relacionadas às artes visuais e às linguagens-dispositivos do cinema expandido ao live images e vídeos-interativos em rede. Tenho apresentado [compartilhado5] um leque de possibilidades estéticas desta 'novíssima' arte “cinematográfica”, desde trabalhos artísticos dentro e fora do Brasil 6 até plataformas complexas em seus domínios de empoderamento a não-especialistas aos processos também de montagem, estas últimas necessariamente transformam o público em participador7 (SZAFIR, 2013d; 2014), hipótese-mote de meu doutorado.

“A principal proposta da Mostra de Arte Digital é transformar o visitante em peça fundamental na criação da obra, tornando-o um co-criador do trabalho. Esse é o princípio de 'YouToRemix teste#02: Bike C-Mapping @ YouTube[Mix]' ... O vídeo interativo propõe ao internauta reordenar (…) uma sequência de imagens sugerida (…) A obra discute o conceito de liberdade na era de tecnologias como a telefonia móvel e o GPS.” (ATTAB, 2011) *** 3 4 5 6 7

Projeto original de ingresso no doutorado (ECA-USP). Copy&paste também na publicação online (ABCIBER, 2011) Em inglês tentei desenhar o mesmo jogo de palavras – Multitud'ialogues [multitude + dialogues] – mas retirei por não aparentar claro sentido como no neologismo em português. Os quatro anos de pesquisa, escrita e docência foram feitos através de extenso compartilhamento aberto do projeto originalmente entregue (2010) para ingresso no doutorado e suas seguidas complementações-reflexões [work in progress]. Agradeço, portanto, os enriquecedores feedbacks dos observadores de nosso sistema metodológico. Os brasileiros, mapeados, se configuram (em sua maioria) às tecnologias de indexação como gestos culturais. A validade destes trabalhos encontra-se na experimentação colaborativa da rede que os sustenta e os conceitualiza. Obras como YouTAG (2008), Socket Screen (2011) e Cinema Sem Loop (2014) merecem destaque pelas intrínsicas críticas à “Caixa Pr@ata” (SZAFIR, 2010), tais como os atuais trabalhos de Lev Manovich (2014). Termo originalmente utilizado por Hélio Oiticica e Lygia Clark, no Brasil, em contexto com movimentos internacionais, Fluxus (EUA), Situacionistas (França), entre outros às décadas de 1960-70. O termo foi amplamente retomado por coletivos de jovens artistas brasileiros na virada ao século XXI. Em 2007, Seaman o traduzirá ao escrever sobre estéticas do banco-de-dados.

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Do analógico, eletrônico ao digital, são os gestos que dão feição às linguagens audiovisuais. O campo ao qual a estética se volta não é a arte, mas uma realidade corporal como forma de cognição através de todos os sentidos possíveis [percepção através dos sentimentos]. Atualizam-se comportamentos habituais, em que um [ex-]espectador é afetado [despertado]. Nascem formas estéticas como um hábito emergente, característico de épocas históricas em transformação, que guiam a recepção além óptica, extra-contemplação (BUCK-MORSS, 1991), em narrativas audiovisuais oriundas do/no espaço “público” de mentes [memórias] coletivas (KERCKHOVE, 1997). Na tentativa de descrever um viés analítico sobre as ocorrências do audiovisual contemporâneo em órbita, sugeri o termo “clouding audiovisual aesthetics”; nesta encontramos aquilo que denominei como “estéticas do remarkable”: desde as séries de manifestações ao redor do mundo [caracterizadas por estratégias de compartilhamento via mobile live streaming, dentre outras] aos meus experimentos de ensino-aprendizagem que se utilizam do material “disponível” nos repositórios online, reiteramos a experiência “The Wilderness Downtown” (2010)8. Desenvolvida pelo Google Labs em parceiria com Chris Milk e Aaron Koblin – junto aos seus similares (SZAFIR, 2011) – surge uma 'nova' possibilidade de narrativa audiovisual na nuvem que retoma não apenas a questão de metadados (procedimento primeiro e comum à maioria), mas repensa linguagem e estética através de multi-[split-]screen (INGRASSIA, 2009) – como nos trabalhos de Abel Gance (1927), Michael Gordon (1959), Pierre Huyghe (1999) e na série televisiva “24” (FOX; 2001-2010, de Surnow e Cochran) –, interfaceando-se em pop-ups. Ou seja, diferentemente daquele “formato YouTube” – como diz o ator na obra “Retóricas Audiovisuais ME#03”9 (SZAFIR, 201010) – onde a maneira do assistir a um material audiovisual já havia sido transformada, renasce agora uma percepção distinta e uma recepção aparentemente desfigurada daquela proposta inicialmente pelo cinema. Experimentos que se apresentam desde diversas janelas também abertas, mas pré-dispostas 'em choques' para gerar uma outra espectatorialidade do discurso presente: imagens em movimento que dialogam e nos convidam a uma espécie de atenção somatória nelas para que melhor possamos acompanhar as retóricas propostas que sucedem (SZAFIR, 2011). Ou talvez “não tanto através da atenção (…) [mas desde tarefas que, apresentadas ao aparelho de percepção humana,] só são dominadas gradualmente, pelo hábito, após a 8 9 10

Agradeço pela indicação ao meu ex-aluno Caio Basseti (Design, 2011). Demais agradecimentos no site MANIFESTO21.TV Projetada nesta Socine 2014 para discussão sobre métodos e metodologias de ensino do filme-ensaio via banco-de-dados online nas estéticas da cultura digital. “Biopolítica Brasileira: a reverberação midiática de um filme nacional [e a geração pós-Blade Runner]”: artigos audiovisuais através da estética 'vídeo-remix' escritos ao longo da pesquisa de mestrado (2008-2010).

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aproximação da recepção táctil” (BENJAMIN, 2010). *** Um raro caso de projeto que soube elaborar esteticamente os recursos do YouTube na criação merece destaque. Trata-se de YouToRemix_Bike C-Mapping_YouTubeMix (…). O vídeo aborda o alarde midiático em torno da mobilidade e é mixado em tempo real pelos usuários do YouTube, na própria plataforma, com base na playlist [previamente] elaborada. (HTTPpix; HTTPvideo, 2011)

Nos últimos anos vemos cada vez mais surgirem audiovisuais que se configuram desde as habituais práticas de buscas no exponencial banco-de-dados da contemporânea internet. Em comum, trabalham desde a lógica de indexação que rege nossa atual realidade de agenciamentos simbólicos (e humanos) – ao descreverem tais ocorrências não apenas pelo comum marketing da web 2.0, em que passamos do hipertexto [gestos de linkagens] entre páginas a uma taxonomia do banco-de-dados; Giselle Beiguelman em seu mais recente trabalho ainda reitera: “Cinema sem Volta aborda as ambivalências da rede como espaço onde confluem todas as multidões e as turbas, revelando os discursos mais extremos no espectro político contemporâneo. A partir de hashtags comuns a tendências e aspirações ideológicas radicalmente distintas (…) compõe-se um audiovisual dinâmico que carrega imagens a partir de buscas automáticas no Instagram. O resultado é um slideshow infinito que, em suas contradições, enuncia a batalha de linguagem pela visibilidade como uma das questões políticas mais acirradas do nosso tempo. (…) as sequências que aparecem aqui compõem um patchwork de disputas, por vezes desconcertante, por vezes estimulante, pelo território informacional, transnacional e local que flui nas redes.” (grifos meus) Obras que, aparentemente, convidam o usuário-espectador a se tornar participador: apropriar-se daquilo que normalmente de nós se apropria ao moldar nossas memórias. Participadores, enquanto engrenagens dos sistemas de comportamentos emergentes, geram construções de sentidos mnemônicos nos modelos randômicos, já naqueles etimologicamente cinematográficos, apropriam-se também dos meios e processos de escrituras audiovisuais para diálogos em rede. ...cada usuário deve construir seu caminho audiovisual a partir de sons e imagens … O funcionamento do vídeo interativo é bem fácil, e está explicado no começo dele. Através de uma pad lateral, o usuário tem acesso a várias partes da peça, e, consequentemente, aos vários sons e imagens editados nela. A cada clique nos botões, o VJ [“não-especialista”] tem uma experiência audiovisual diferente e, assim, a possibilidade de refazer o percurso apresentado … experimentando novas possibilidades. (VENANZONI, 2011)

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*** Assim, como é de se esperar, as três comunicações em inglês configuravam-se como peças de um mesmo quebra-cabeça: trechos de minha pesquisa no doutorado 11 em clara busca de ricas e generosas interlocuções 12. Ou seja, uma busca por refletir as questões estéticas caracteristicamente dos vídeos online frente aos conceitos de memória, arquivo e banco-de-dados digital: quais seriam suas particularidades não apenas de transmissãodistribuição e consumo (SZAFIR, 2011b), mas principalmente de produção [modus operandi] (SZAFIR, 2010)? De qual [quais] materialidade[s] estamos a tratar em termos da techné como um todo? Neste leque de sintomáticas realizações após nosso original mapeamento (2011), interessa-nos as possibilidades ensaísticas que se caracterizem como diálogos – retóricas audiovisuais – ao se projetarem através da coordenação-argumentação reflexiva entre os componentes gráficos, visuais e sonoros à disposição, em processos de busca e lógicas de montagem [in]conscientes no enorme [des]encontro da Big Data. Nós almejamos um futuro onde o público tenha acesso a uma casa-do-tesouro do conteúdo digital (…) um lugar que lhes pertença e que possam utilizar com liberdade, perenemente, para além de quaisquer direitos legais. Um futuro onde o tráfico histórico de mão única – o conteúdo de um emissor ao consumidor – transforme-se em um verdadeiro diálogo criativo no qual a audiência não seja passiva mas ativa, participadores. (WALNES, s/d; livre tradução)

Não sou um filósofo, sou um estrategista (DEBORD apud AGAMBEN,2006)13

[Referências errata: BUCK-MORSS, S. Aesthetics and Anaesthetics: Walter Benjamin's Artwork Essay Reconsidered. In: October Vol. 62 (pp.3-41). MIT Press: Cambridge 1992. < http://goo.gl/FSdOyg >, acesso em 13/fevereiro/2014]

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Conforme fiz nos artigos enviados ao longo dos últimos anos em diversos eventos e na própria Socine: “ Das Imagens Sobreviventes [ou A Escória do Arquivo de Nossos Tempos]”, “[Des]apropriada: par’além do tempo real – dispositivos audiovisuais & artesãos digitais em form'ação [sobrevivente em breve testemunho]” e “Montagens Audiovisuais extra-Apropriação [Por uma Pedagogia do Filme-Ensaio na Cultura Digital]”. Durante a escrita dos resumos (janeiro/2014) tive a valiosa interlocução de meu ex-orientando, David Leão, que buscava uma bolsa-artes para pesquisa em montagem audiovisual (“Edição no Pós Cinema”). Agradeço Anita Leandro por me indicar nesta Socine em Fortaleza (2014)

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