ATUALIZAÇÃO (UPDATE) COMO CONCEITO REVELADOR DA EXPERIÊNCIA DA HISTÓRIA NA ERA DIGITAL: DESCREVENDO O \"ATUALISMO\" .

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CASA DE LEITURA DIRCE CÔRTES RIEDEL Inauguração da Cátedra Alberto da Veiga Guignard (UERJ-UFOP) Ciclo de Conferências ATUALIZAÇÃO (UPDATE) COMO CONCEITO REVELADOR DA EXPERIÊNCIA DA HISTÓRIA NA ERA DIGITAL: DESCREVENDO O "ATUALISMO" Profs. Dr. Mateus Pereira & Valdei Araujo (NEHM-UFOP)

Figura 1: Cena do Episódio "National Anthem", Black Mirror.

Nestas conferências discutiremos sintomatologias do tempo presente que apontam para uma ruptura substantiva entre o momento historicista-moderno, geralmente situado entre os séculos XIX-XX, e um "cronótopo" (Gumbrecht, 2014) ou "regime de historicidade" (Hartog, 2003) emergente no Pós Segunda-Guerra. A partir da leitura do capítulo "Temporalidade e cotidianidade" de Ser e Tempo, argumentaremos que certos aspectos do tempo presente, apontados como sintomas de uma mutação histórica da experiência, podem ser derivados das descrições de Heidegger da temporalidade da "abertura" (Erschlossenheit), em particular da dimensão "inautêntica" ou "imprópria". Para avançar na caracterização dos impasses nas descrições de nossa historicidade utilizaremos a palavra "atualismo" (updatism), derivada da expressão inglesa "update", para pensar uma forma do presente que enfatiza as temporalizações impróprias. Estas, embora sempre ativas em outros momentos históricos, vão se tornando predominantes não apenas na cotidianidade, mas se oferecem como a única forma possível e desejável de temporalização na era digital. Horário: 18 às 21hs. Local: Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel. Rua das Palmeiras, 82 - Botafogo. 2334-8227 Realização: PPGHIS-UFOP & Casa de Leitura Dirce Cortes Riedel (UERJ) Apoio: ABRALIC

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DIA 20: APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA Parte 1: Sobre a recente emergência da palavra Update. Há uma mudança sutil e subterrânea da experiência contemporânea do tempo histórico, a saber: o progressivo esgotamento e substituição do vocabulário moderno. Quais as mudanças temporais que possibilitam a transformação, por exemplo, da ideia de modernização pela de “atualização”? Procuraremos refletir sobre essa mutação por meio da emergência do neologismo updatism (atualismo) em língua inglesa. Parte 2: Multiplicidade de figurações da temporalidade em Heidegger. Heidegger aborda a cotidianidade do Ser-aí (Dasein), começando pela constituição temporal de compreensão, disposição (Stimmung), de-cadência (Verfallen) e discurso, entendidas como estruturas fundamentais da existência humana. Embora portadores de temporalizações particulares, é no conjunto de suas relações que Heidegger afirma encontrar a unidade estrutural da temporalidade. O que queremos compreender por meio dessa leitura é a multiplicidade de figurações de cada uma das dimensões temporais, passado, presente e futuro, demonstrando a impossibilidade de sua compreensão isolada e, no limite, da noção de "presentismo" como um tempo "puro presente". DIA 21: DA "ATUALIDADE" EM HEIDEGGER AO "PRESENTE LENTO" EM GUMBRECHT Parte 1: A atualidade (Gegenwart) como categoria central nas temporalizações modernas em Heidegger. Em nossa leitura, a atualização é a resposta do Dasein à experiência do tempo como uma sucessão vazia de "agoras", é a forma como ele pretende manter diante de si essa sucessão. O mundo então só pode estar presente porque ele se "atualiza" como que automaticamente. Essa visualização depende de um encontro em um tipo especial de presente, que a edição brasileira de Márcia de Sá Cavalcante traduz como "atualidade". Assim, demonstraremos que essa forma de presente como atualidade não está destituída de futuro ou passado, mas estabelece com eles relações específicas. Parte 2: Gumbrecht e as ambivalências do Presente Amplo. No último ensaio de seu livro "Our Broad Present", Gumbrecht (2014) analisa as relações entre tecnologias digitais e temporalizações. O argumento parece oscilar entre um fraco otimismo com a perda das grandes narrativas e uma evidente nostalgia com a percepção de que essa perda pode ter sido fruto não do esgotamento, mas do aprofundamento da cultura de sentido na era digital. Contra seu próprio desejo de estabelecer uma ruptura liberadora de nosso tempo com a "modernidade", o relato de Gumbrecht também abre a possibilidade da interpretação oposta. Sua descrição do desejo por "presentificação" como sintoma do nosso tempo pode igualmente ilustrar a

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agonia das práticas de presença, mais do que a sua generalização reativa e compensatória, descrevendo mais uma (hiper)modernidade do que o seu desfazer-se. DIA 22: DO PRESENTISMO AO ATUALISMO? QUESTÕES EM TORNO DO DIAGNÓSTICO DE FRANÇOIS HARTOG Parte 1: Os limites do Presentismo. François Hartog define o Presentismo como uma experiência do tempo em que o presente se impõe como o único horizonte. Viveríamos em um mundo da tirania do presente onipotente, onipresente e hipertrofiado. Estaríamos condenados a dar respostas imediatas ao imediato, como no episódio "Hino Nacional", da série Black Mirror, em que o Primeiro Ministro britânico é forçado a fazer sexo ao vivo com uma porca por exigência dos sequestradores de uma das princesas. Haveria uma passagem social e historiográfica "da longa duração ao tudo é evento"? Nossa apresentação procura desenvolver o argumento e sistematizar algumas críticas à descrição de Hartog e sua recepção. Parte 2: Chateaubriand e a modernidade como "mélange" temporal: uma alternativa à descrição nostálgica e romântica do "entre lugar". Em "Regimes de Historicidade", na seção dedicada ao século XIX, Hartog utiliza-se de alguns textos de Chateaubriand para caracterizar a passagem entre o antigo e o moderno regime de historicidade. O autor francês é apresentado como um homem entre dois regimes temporais. Tentaremos oferecer uma leitura alternativa dessa passagem a partir de uma releitura das obras de Chateaubriand utilizadas por Hartog. Tentaremos demonstrar como a situação moderna emergente pode ser melhor entendida como uma "mescla" do que uma justaposição ou mesmo sobreposição de "regimes temporais" distintos. É próprio da situação moderna a acumulação de diferentes estratos temporais em um mesmo campo de experiência. Assim, a imagem da "mélange" (mistura) utilizada por Chateaubriand pode nos oferecer uma ferramenta analítica mais complexa para lidar com o acúmulo de regimes temporais sobre nossa contemporaneidade. Assim, o Atualismo não deve ser pensado como um novo regime temporal que substituiria os regimes anteriores, mas como a emergência de novas configurações que amplificam e intensificam certas dimensões temporais sem anular as figurações anteriores, permitindo e exigindo sua reconfiguração relacional. DIA 23: TRANSPARÊNCIA, SOLIDÃO E ATUALISMO Parte 1: Transparência e escândalo: da Lava-jato ao Watergate. A transparência seria uma das ideologias hegemônicas de nossa condição atualista? Como essa lógica alimenta a constante atualização e/ou repetição de escândalos? Em que medida a política no mundo atual é reativa e prisioneira de escândalos espetaculares? As noções modernas de público e privado ainda são úteis para descrever nossa condição atualista? O objetivo é pensar sobre essas questões a partir de alguns exemplos dos seguintes escândalos-eventos: “Operação Lava-Jato”, “Mensalão”, “Operação Mãos Limpas”, “Glasnost”, “Caso Watergate”, bem como com

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menções ao filme “Blade Runner” e alguns episódios das séries “House of Cards” e “Black Mirror”. Para Koselleck (2014, p. 99): “Toda história está sob a pressão do tempo. Para aliviar e corrigir essa pressão a fronteira entre segredo e publicidade sempre precisa ser redefinida e restabelecida. O caso Watergate foi uma violação criminosa dessa fronteira. Sendo assim, nossa hipótese é que em um mundo “atualista” esses limites praticamente não existiriam mais, viveríamos no reino da constante “violação criminosa”. Parte 2: Solidão em rede: o pós-humano e os limites do Atualismo no episódio White Christmas, da série Black Mirror. Nesta parte faremos algumas relações entre atualismo e solidão, com base na análise de um fragmento do episódio White Christmas da série televisiva Black Mirror. Nossa hipótese é que a ideia de duplicação do ego presente neste episódio é uma resposta paradoxal para nosso medo profundo da solidão e, ao mesmo tempo, nossa insatisfação nas relações com as pessoas reais que resistem às nossas expectativas. Essa consciência duplicada nunca está sozinha, mas também nunca verdadeiramente em relação com uma realidade da qual possa sentir falta. O "atualismo" produz a sensação de que tudo que importa está ou estará disponível e presente?

Figura 2 "You can't because you don't have a body". Cena do Episódio White Christmas, Black Mirror.

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