Auditoria em oncologia Otávio Clark Oncologista Clínico
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Por que a auditoria em oncologia é tão difícil?
Sopa de letrinhas
MVAC , MVC, Folfiri, Folfox, CarboTax, FMaCHOP, AC, FAC…
Medicamentos normalmente não usados por outras especialidades Não usual durante o curso médico
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Por que a auditoria em oncologia é tão difícil?
Doença devastadora
Emocional Físico Financeiro
Lucros advindos da medicação
Frequente conflito de interesse entre o oncologista e a fonte pagadora
Por que a auditoria em oncologia é tão difícil?
Falta de tratamento efetivo em parte dos casos Uso de tratamentos experimentais
“Se é novo é bom” bom” Efeito Fantástico
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Editorial February 6, 2003, Thursday
Overpriced Cancer Drugs
Editorial on doctors who make profit on chemotherapy drugs says best solution would be for Medicare to pay the real wholesale price for the drugs and adjust its formula to pay doctors full cost of administering them The crazycrazy-quilt pattern of medical financing in this country often makes itit impossible to tell what a patient is really paying for and whether the price is fair. fair. That is especially true in the case of cancer doctors who provide chemotherapy treatments in offices and clinics outside the hospital setting. setting. As Reed Abelson of The Times reported recently, recently, cancer doctors buy these drugs at discount prices but bill the patients and their insurers at much higher rates, making a substantial profit on the differential
Quanto custa (preço médio em R$)?
Per capita
Por sessão
1100 a 3500
Entre 2% e 5% do custo total do convênio Custo por paciente em tratamento
1,5 a 7,5 por usuário
? Extremamente variável
Uma sessão de quimioterapia
Entre 200 e 50.000 (até (até mais) mais)
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Quanto custa (R$)?
Em 10 anos os custos vão dobrar devido ao desenvolviment o de novas drogas, mais caras
(BMJ 2002;325:2692002;325:269-271)
Quanto custa?
O custo total por usuário tem aumentado universalmente Mesmo em países desenvolvidos a provisão de recursos é aproximadamente a metadade da necessária
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Por que os medicamentos custam tão caro? Erbitux: Estudo com
Pesquisa de novos medicamentos frequentemente mal sucedida (100:1)
Custos absorvidos e repassados nas “bem sucedidas” sucedidas”
Custo de desenvolvimento
resultado negativo
U$ 900.000.000,00
Novas drogas “desenhadas” desenhadas” para usos específicos
É possível reduzir custos de tratamento quimioterápico sem afetar a qualidade do serviço?
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É possível reduzir custos de tratamento quimioterápico sem afetar a qualidade do serviço?
Negociar preços das medicações Eliminar tratamentos experimentais Normalizar os tratamentos Regulamentar a cobertura Atualizar contrato com prestadores
Negociar preços Brasíndice
Redução de até 25% é possível
“Pacotes”
Vantagens Custo
fixo Melhor previsão
Desvantagens Tamanho
dos pacientes Engessamento das condutas
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Negociar preços Fornecimento do fármaco Vantagem
Elimina o atravessador
Desvantagem
Logística Perdas por falta de conservação adequada Aceitação pelos prestadores Risco para o operador (exposição desnecessária) desnecessária)
Qualquer problema com certeza será atribuído a problemas de logística
Negociar preços Serviço próprio Elimina o “atravessador” Não elimina abusos Problemas de logística Elimina co-responsabilidade do prestador Quem atende urgências? Pode reduzir custos, mas pode aumentar
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Normalização de tratamentos
Desenvolvimento de protocolos Baseados em evidências Claros Definir o que é padrão Fluxograma de tratamento Drogas, dose, via de administração, tempo de uso e critérios de suspensão do tratamento
Ficha de solicitação de tratamento
Normalização de tratamentos Diretrizes clínicas: Tumores invasivos de bexiga Tumor invasivo
Tumor metastático ou localmente avançado
Rx tórax, Ct abdomem, cintilografia (se dor óssea)
Tumor localizado
T2N0M0 baixo grau
T4N0M0 N1-N3, M0
T2N0M0 alto grau T3aN0M0 T3bN0M0
Preservação da bexiga QT/RT com cistectomia de salvamento ( esquema QT 1)
Cistectomia radical
M1
RT neoadjuvante à cistectomia para controle local Com ou sem QT (esquema QT1)
RT exclusiva se pcte sem condições
Quimioterapia`/RT paliativa Derivação urinária (esquema QT 2 e 3)
Cistectomia radical
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Normalização de tratamentos Esquemas de quimioterapia • Preservação da bexiga com QT + RT (Esquema QT1) – Cisplatina 70mg/m2 a 100mg/m2 cada 3 semanas, durante a RT (2 a 3 aplicações)
• QT paliativa (Esquema QT 2) – MVAC (metotrexate 30mg/m2 d1/d15/d22 + vimblastina 3mg/m2 d1/d15/d22 + doxorubicina 30mg/m2 d2 + cisplatina 70mg/m2 d2)
• QT paliativa (Esquema QT 3) – Gemcitabina + Cisplatina (gem 1000mg/m2 d1/d8/d15 + cis 70mg/m2 d2), até 6 ciclos. Prevê-se a subsitituição de Cisplatina por Carboplatina área sobre a curva 5 a 6 em casos de baixa performance ou insuficiência renal
Normalização do atendimento Ficha de solicitação CID diagnóstico Estágio
Indicação de tratamento
TNM
Paliativo/ Paliativo/ controle Curativo Neoadjuvante Adjuvante
Descrição dos tratamentos anteriores Linha de quimioterapia (1a, 2a, 3a,…)
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Normalização do atendimento
Envio de exames comprobatórios Anátomo-patológico Imunohistoquímica para uso de anticorpos monoclonais # Laudo de imagenologia Hemograma para uso de fatores de crescimento hematopoiético
Normalização do atendimento
Normalizar o uso de “adjuvantes” Antieméticos Fatores hematopoiéticos
Requisitar
hemogramas
Bisfosfonatos Amifostina
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Normalização do atendimento
O oncologista é obrigado a prestar informações?
Decreto lei 1621 (28/09/95) “… é lícito a solicitação de informações para exame analítico e pericial”
Normalização do atendimento
NÃO padronizar novas medicações Padronizar a INDICAÇÃO
Ex. Padronização Temozolomida
para código 30. (AMB) Temozolomida para o tratamento do glioblastoma multiforme ou do astrocitoma anaplásico
Evita outros usos
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Regulamentar a cobertura
Reformulação dos contratos de cobertura Tratamento domiciliar Quimioterápicos VO Adjuvantes
Atualizar contrato com prestadores
Meta de “performance”
Uso dos protocolos
“Monitorização da farmácia”
Blitz Evitar
uso de similares e cobrança de referência
Notas fiscais?
Pagamento de honorários compatíveis
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Limitações tratamento experimental
Limites para tatamento experimental Dentro dos contratos Legal (lei 9656/98 – não há cobertura para tratamento experimental)
Não se nega o tratamento Nega-se a cobertura a tratamento experimental
Limitações tratamento experimental
Argumento:
Projeto de pesquisa aprovado por comitê de ética, informe consentido assinado, aprovação central pela CONEP
A entidade pagadora (convênio, cooperativa, etc) é solidário em caso de processo
Precisa se resguardar de eventuais processos
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Limitações de tratamento experimental
Código de ética médica
Infrigem a ética médica os médicos que “
exageram na gravidade do diagnóstico ou prognóstico ou complicam a terapêutica de seu paciente” paciente”
Identificação de prioridades
“80-20”
De acordo com custos unitários
80% dos gastos correspondem a 20% dos casos Disciplinar uso de anticorpos monoclonais
De acordo com custos totais
Patologias mais comuns
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Identificação de prioridades A PREVENÇÃO É A MAIOR PRIORIDADE Mama Cólon Próstata Colo de útero Pele
Monitoramento
Construir e definir um índice (custo) Por tratamento Por paciente Por usuário ….
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Monitoramento
Estudo de impacto financeiro ANTES de se adotar nova tecnologia
É possível?
Interior de São Paulo 4 Clínicas Diferença absoluta de 40% por paciente entre a de maior custo e a de menor custo
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É possível?
Unimeds Mercosul
Redução de 20% no custo total Redução na diferença dos preços por procedimentos entre as clínicas
2000 (92%)
2002(46%)
Mais cara 2700 Mais barata 1400 Mais cara 2200 Mais barata 1500
Economia total estimada em Porto Alegre de 1,5 milhão de reais por ano apenas com quimioterápicos
Auditando operadores
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Auditando um operador…
Diagnóstico Explicitação dos problemas Determinação de prioridades Ficha de liberação de tratamento Elaboração de protocolos Monitorização
Fluxograma de trabalho Diagnóstico Determinar prioridades
Apresentação dos resultados
Classificar os tratamentos realizados de acordo com as evidências científicas
Definição de prioridades
Avaliar a qualidade das informações prestadas ao convênio
Elaboração das diretrizes Feed back dos prestadores de serviços
Auditoria do processo de liberação de tratamento Atualização Implementação
Monitoramento do uso das diretrizes
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Auditando um operador
Levantamento dos tratamentos quimioterápicos (últimos 3 – 6 meses) Objetivo
Detectar as principais patologias Avaliar a qualidade das informações prestadas pelos médicos ao solicitarem liberação do tratamento Avaliação da indicação dos tratamentos realizados conforme as evidências científicas disponíveis
Auditando um operador
Dados Extraídos de cada solicitação: Patologias (CID) Estágio da doença Intenção do tratamento (neoadjuvante, adjuvante, curativo ou paliativo) Medicamentos utilizados e dose Linha de tratamento (em caso de doença metastática) – 1ª, 2ª, 3ª ou maior
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Auditando um operador
Avaliação da indicação de tratamento conforme:
indicação oficial (bula) aprovação do esquema terapêutico por agências regulatórias (FDA, Anvisa, Anvisa, EMEA) Diretrizes clínicas de associações de classe existência de estudos clínicos adequados (níveis de evidência e graus de recomendação)
Auditando um operador Cada solicitação de tratamento
Não
Liberação em bula para a indicação proposta Agências regulatórias fda.gov emea.org anvisa.gov.br
Sim
Não Não
Entidades e associações de classe SBC/AMB ASCO NCCN ESMO NCI
Sim
Tratamento adequado
Tratamento adequado
Sim
Bases de dados (estudos que mostrem benefício) Meta-análise Fase III Fase II (casos selecionados)
Tratamento adequado
Sim
Tratamento adequado
Não
Tratamento experimental
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Auditando uma operadora O que temos achado? (CASO 1) A grande maioria das guias não continha informações mínimas que permitissem serem avaliadas quanto a indicação do tratamento Raras foram as guias que continham informações básicas, como estadiamento, indicação de tratamento (adjuvante, neoadjuvante, paliativo ou curativo) Várias guias eram absolutamente ilegíveis
Auditando uma operadora (caso 1 cont.) Pelo que se pôde observar, o processo de solicitação de tratamento e liberação das guias é caótico Não há normas e diretrizes para os tratamentos Há muitas indicações de tratamento que não encontram nenhum suporte na literatura, nem mesmo em estudos de séries de casos
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Auditando uma operadora (Caso 1 Cont.) Sugestões:
Implementação de ficha específica de solicitação de tratamento Desenvolvimento de diretrizes para o tratamento quimioterápico (medicamentos, dose, duração...) Implementação de auditoria oncológica intensa e independente Requisição do envio de exames complementares
Receptores para uso de anticorpos monoclonais Hemograma para fatores de crescimento hematologico
Revisão dos contratos de prestação de serviço
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Auditando uma operadora O que temos achado (CASO 2) Nenhuma problema maior foi encontrado na fase de diagnóstico, diagnóstico, referente aos tratamentos realizados A absoluta maioria dos tratamentos realizados encontra suporte científico adequado, adequado, exceto os quatro que se seguem, seguem, que, que, por falta de maiores informações não pudemos avaliar
Auditando uma operadora Caso 2 (cont.) Algumas sugestões em anexo que podem gerar economia de recursos sem comprometer o atendimento
Cobrança de frascos inteiros de medicamentos com estabilidade devem ser cobrados por miligramagem de uso Normalizar uso de fatores de crescimento hematopoiético Implementar ficha de solicitação de tratamento Implementar diretrizes de tratamento que permitam a um auditor sem formação específica em oncologia avaliar a indicação do tratamento
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Casos reais
Caso 1
QT adjuvante para neoplasia de cólon dukes “c”
5FU 425mg/m2 + Leucovorin 300mg/m2 + Irinotecan 125mg/m2 semanal X 6 meses
Não há NENHUM trabalho que suporte este esquema de tratamento O tratamento padrão é 5FU 425mg/m2 + Leucovorin 20mg/m2 semanal X 6 meses
Custo ~ R$ 12.000,00/mês
Custo ~ R$ 500,00/mês
Diferença total (R$) 72.000,00 – 3.000,00 = 69.000,00
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Caso 2
Paciente com neoplasia de próstata com receptores HER2 + Solicitado: Herceptin 320mg semana 1 + Herceptin 160mg semanais Tempo estimado de uso: 12 meses Custo estimado R$ 96.000,00
Caso 2
Avaliação do caso:
Levantamento bibliográfico mostrou Existem dois estudos de fase II na literatura que avaliaram o uso de Herceptin em câncer de próstata, próstata, um com 10 pacientes e outro com 6 Não houve respostas terapêuticas expressivas Não há menção a este tratamento em nenhuma das diretrizes pesquisadas (SBC/AMB, NCCN, NCI, ESMO...) O tratamento não pode ser considerado padrão
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Caso 3
Tumor neuroendócrino de fígado, já fez 7 (SETE) linhas de tratamento anteriores Solicitado Hycantim semanal Custo estimado R$ 4.000,00/ mês Levantamento na literatura mostra que não existe tratamento quimioterápico padrão sequer para primeira linha em tumores neuroendócrinos Posteriormente, descobriu-se que a paciente não tinha condições clínicas para realizar a QT
Estratégia para mudança Diagnóstico Mapeie o conhecimento
Quantos e quem são os oncologistas Onde trabalham Serviço próprio X oncologistas
Lucro
Custo real
Procedimento Paciente “per capita”
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Estratégia para mudança Plano de ação Diretrizes Baseadas em evidências Envolver os oncologistas locais
Implementar ficha de solicitação Auditoria efetiva Especializada Geral
Em conclusão
É possível reduzir os custos do tratamento quimioterápico sem prejuízo na qualidade Envolve medidas antipáticas (conflituosas) Requer envolvimento de especialistas
Oncologista
É necessário conhecer o terreno ANTES Requer auditoria intensiva (especializada ou não)
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Auditoria em oncologia Otávio Clark Oncologista Clínico
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