Autonomia na Educação à Distância

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Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751

AUTONOMIA NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA Nayara Nunes SALBEGO1

RESUMO: Com o número crescente de cursos oferecidos online, as atribuições de professores e alunos se encontram em constante mudança. Enquanto os professores não mais têm papel central nos processos de aprendizagem dos alunos, estes ganham mais responsabilidade e autonomia. Considerando-se tal contexto, este trabalho traz uma discussão sobre o conceito de autonomia comparado à percepção de alunos com relação a características que determinam aprendizes autônomos na educação a distância. Autonomia tem sido o tópico central de inúmeras pesquisas relacionadas ao ensino de línguas em ambientes virtuais. A aprendizagem autônoma é vista como um importante objetivo educacional, conforme afirmam pesquisadores como Dickinson (1994); Dias (1994); Finch (2002); White (2003); Moreira (2004); e Paiva (2006, 2005). Tais estudiosos destacam a importância da autonomia no ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras em qualquer contexto de ensino. De acordo com Paiva (2005), grande parte da aprendizagem efetiva de línguas estrangeiras pode decorrer através do desenvolvimento da aprendizagem de autonomia. Autonomia é essencialmente uma atitude com relação ao aprendizado. Um aprendiz autônomo é aquele que apresenta responsabilidade pelo seu próprio aprendizado (Dickinson, 1994). Os resultados deste estudo apontam que, embora existam vários recursos para aprendizagem autônoma, instrução formal sobre o tema é ainda necessária. Ensinar aos alunos sobre o seu potencial com relação a como aprender ainda é uma ação chave nos contextos de ensino atuais, especialmente quando se trata de educação a distância. PALAVRAS-CHAVE: Autonomia; Educação a Distância; Ensino e Aprendizagem de Língua Estrangeira. ABSTRACT: With the increasing number of DE (Distance Education) courses, the traditional role of teachers and students has been changing. Teachers do not hold a central position in the students’ learning processes, whereas students gain more responsibility. Considering that, this study consists of a discussion about the concept of autonomy compared to students’ perceptions on characteristics that apply to autonomous learners in distance education. Such a concept is then related to language teaching and learning via DE courses. Autonomy has been part of mainstream research and practice and has been seen as an important educational goal nowadays, according to researchers as Dickinson (1994); Dias (1994); Finch (2002); White (2003); Moreira (2004); and Paiva (2006, 2005), who attempted to understand the importance of autonomy in language learning and teaching. As claimed by Paiva (2005), part of effective language learning can be accomplished by the development of learning autonomy, especially in language learning contexts. Autonomy is essentially a matter of attitude towards learning. An autonomous learner is one who has undertaken the responsibility for his own learning (Dickinson, 1994). The results of this study show that, although infinite resources are available for autonomous learning, guidance is still necessary. Teaching students about their potential on how to learn is a useful skill in today’s world, especially concerning DE courses. 1

Aluna de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Inglês (PPGI), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]

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Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751

KEY-WORDS: Autonomy; Distance Education; Foreign Language Teaching and Learning. 1 Introdução Por toda a nossa vida escolar, percebemos que há um alto nível de centralização no papel desempenhado pelo professor em sala de aula. Por outro lado, pouco espaço é dedicado ao potencial criativo dos alunos, onde suas experiências prévias e conhecimento de mundo são muitas vezes ignorados. Com o número crescente de cursos a distância (EaD), pode-se afirmar que este contexto vem apresentando mudanças: os professores não têm mais papel central nos processos de aprendizagem dos alunos, enquanto estes parecem ter ganho mais responsabilidade e autonomia na sala de aula. Considerando-se este contexto, o desenvolvimento de autonomia passa a ser uma forma de ajudar estudantes sobre como decidir de forma autônoma sobre suas próprias estratégias e processos de aprendizagem. O conceito de autonomia foi primeiramente relacionado ao ensino de línguas estrangeiras (L2) nos anos 70, acompanhando o surgimento do método comunicativo para o ensino de L2 (PAIVA, 2005, p.2). Anteriormente, os alunos de línguas não costumavam ter a oportunidade de tentar se expressar livremente; ao contrário, todos deveriam se adaptar às regras da escola e dos professores, fazendo as atividades que lhes eram apresentadas. O método comunicativo propunha uma abordagem na qual os alunos teriam mais espaço para produção linguística criativa e não repetitiva. Embora tal método aponte a importância do papel dos alunos para o desempenho do seu próprio aprendizado, isso não acontece complemente até mesmo nos dias de hoje 2, sendo que na maior parte do tempo, o papel central nas aulas ainda é assegurado pelo(a) professor(a). Atualmente, autonomia é um conceito chave que deveria ser desenvolvido em ambas as modalidades de ensino: presencial e a distância. Educação a distância, por exemplo, somente é possível se os aprendizes bem como os educadores forem independentes nos seus processos de aprendizagem e ensino, conforme afirma White (2003). Parte do conhecimento de uma língua estrangeira pode ser desenvolvida através da aprendizagem de autonomia. De acordo com Dickinson (1994, p. 4, tradução nossa), autonomia na aprendizagem de línguas é essencialmente “uma questão de atitude com relação à aprendizagem”3. De fato, um aprendiz autônomo é aquele que tem responsabilidade sobre seu próprio aprendizado, conforme está implícito na asserção de Dickinson. Embora muitos recursos estejam disponíveis para aprendizagem autônoma, o acompanhamento do desenvolvimento deste comportamento é essencial e necessário. Conforme Bulton (2006, p. 108), os alunos não aprendem como nadar sozinhos (grifo do autor). Portanto, os professores deveriam promover as instruções necessárias para guiar os alunos de forma que eles saibam como aprender de forma autônoma, especialmente quando tratamos de educação a distância. Com o número crescente de cursos oferecidos nesta modalidade, o comportamento autônomo passa a ser necessário, o qual pode ajudar os alunos a aproveitarem melhor seus cursos online. Este trabalho, portanto, busca investigar percepções de autonomia dos alunos do curso de Graduação em Letras Inglês EaD, oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), comparando-as com definições do termo proposta por estudiosos da área. Dentre as várias definições de autonomia existentes, as selecionadas para este trabalho correspondem a uma seleção feita por Finch (2002). 2

TUMOLO e SANTIBANES (2012) explicam que a ideia de que autonomia não é desenvolvida na educação brasileira é de longa data, explicando o conceito de educação bancária, proposto por Paulo Freire (1993). 3 “a matter of attitude towards learning” (DICKINSON, 1994, p. 4).

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O referido curso teve início no segundo semestre de 2009, sendo oferecido pelo Departamento de Letras Estrangeiras e Literatura (DLLE). O curso consiste em uma licenciatura com o nome de Curso de Licenciatura em Letras – Inglês, no qual as aulas são online. Somente uma turma foi aberta, pois se trata de um programa experimental de ensino a distância. O objetivo central do curso é formar professores de Língua Inglesa. Um dos principais requisitos para ser aluno do curso é ser um aprendiz autônomo, pois autonomia tem um papel importante no Projeto de curso superior na modalidade a distância: licenciatura em Letras Inglês: Este Projeto Pedagógico está alicerçado em três princípios fundamentais – a cooperação, a autonomia e a interação – que orientarão o design teóricometodológico do curso e que permitirão a formação de professores de Língua Inglesa e respectivas Literaturas capacitados para lidar com as exigências da sociedade contemporânea. (TUMOLO; MOTA, 2008, p. 15)

Dessa forma, pode-se afirmar que autonomia está em consonância com os princípios do Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso, sendo um dos alicerces do projeto. No documento, autonomia é definida como: [D]omínio do conhecimento, a capacidade de decidir, de processar e selecionar informações, a criatividade e, principalmente, a iniciativa [...] construída e desenvolvida por meio de uma série de ações e de tomada de decisão frente a novos contextos educativos. (TUMOLO; MOTA, 2008, p. 15)

Pesquisas recentes realizadas por alunos de diferentes Programas de Pós-graduação da UFSC (Programa de Pós-graduação em Inglês – PPGI e Programa de Pós-graduação em Linguística - PPGL) apontaram a importância do desenvolvimento de pesquisas sobre autonomia na educação a distância (ESTIVALET& HACK, 2011; KREMER, 2012). Os pesquisadores investigaram como os alunos do referido curso vêm desenvolvendo a habilidade oral em Língua Inglesa. Os resultados destes estudos apontaram a necessidade de desenvolvimento de mais pesquisas relacionando autonomia em cursos a distância com o desenvolvimento de proficiência em língua estrangeira nessa mesma modalidade de ensino e aprendizagem. Neste trabalho, apresenta-se uma revisão de literatura sobre autonomia, a qual aplicase ao ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras em cursos a distância. Logo, uma análise de respostas de alunos é feita, relacionando a conceitos de autonomia de diferentes autores. Por último, são apresentadas as conclusões e considerações finais que apontam para importância e necessidade de se trabalhar com o tema explicitamente em sala de aula a fim de se desenvolver aprendizes mais autônomos. 2 Autonomia no ensino e aprendizagem de L2 em cursos a distância Autonomia tem sido uma questão muito pesquisada na área do ensino de línguas. Da mesma forma, autonomia também tem sido parte de objetivos educacionais, conforme afirmam estudiosos como Holec (1981); Dickinson (1994); Dias (1994); Finch (2002); White (2003); Moreira (2004); e Paiva (2006, 2005), os quais apontam para a importância do entendimento deste termo para qualquer contexto de ensino.

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Finch (2002), por exemplo, faz um mapeamento da história da autonomia. Em “Autonomia: onde estamos e para onde vamos?” 4 (tradução nossa), resultante da sua pesquisa de doutoramento, o autor faz um panorama no estilo “estado da arte” sobre o termo e sua relação no contexto da sala de aula de línguas. A partir desta perspectiva panorâmica, Finch defende que é uma responsabilidade de cada professor promover autonomia a fim de formar membros da sociedade que sejam mais autônomos e críticos com relação a sua aprendizagem. O autor também afirma que, nesse parâmetro, o conteúdo da lição e a matéria a ser trabalhada em si ficariam em segundo plano devido à importância de se desenvolver a autonomia na sala de aula. Finch (2002) também apresenta noções de diferentes autores que estudaram sobre o tema, os quais criaram conceitos diferenciados para o termo autonomia. No entanto, apesar de não haver consenso nas definições, elas estão intrinsecamente interligadas e, de uma forma ou de outra, sempre chegam a um ponto em comum, apresentando características similares. Da mesma forma, Dickinson (1994) defende que autonomia consiste em uma atitude que alunos deveriam ser ensinados a ter com relação aos seus próprios estilos e processos de aprendizagem. Na perspective da autonomia, os alunos são capazes de tomar decisões sobre o seu desenvolvimento nos estudos, assim como tomar iniciativas para aprenderem de forma independente. Conforme afirma Dickinson, autonomia precisa ser aprendida e os professores têm um papel importante em ensinar os alunos a se desenvolverem como aprendizes autônomos. Aplicada à aprendizagem de línguas, autonomia significa que os alunos não somente têm mais controle sobre, mas também têm mais responsabilidade pelo, seu próprio processo de aprendizagem. No entanto, ser autônomo não significa aprender isoladamente. Ao contrário, aprendizes autônomos não aprendem sem professores e colegas, e desenvolvem um senso de interdependência e trabalham juntos com professores e colegas com o intuito de alcançar objetivos em comum (Üstünoğlu, 2009; Benson, 2001). Além disso, é de senso comum entre os estudiosos que professores têm papel chave no desenvolvimento da autonomia já que são eles que estão encarregados de educar os alunos não somente sobre o conteúdo de suas respectivas disciplinas, mas principalmente para a vida. De acordo com Dickinson (1992, apud Finch, 2002), o papel do professor é o de facilitar a aprendizagem de forma autônoma. Da mesma forma, Holec (1981, p. 3) enfatiza que esta habilidade não é inata, mas sim deve ser desenvolvida por meios naturais ou através de ensino formal. Holec também aponta que “encarregar-se da aprendizagem de alguém é ter [...] a responsabilidade por todas as decisões com relação a todos os aspectos dessa aprendizagem [...]” (Holec, 1981, p.3). Moreira (2004) apresenta maneiras para ajudar alunos a desenvolverem autonomia não só enquanto aprendendo línguas, mas também outras áreas de estudo, como Matemática, Biologia, Geografia, enfim. O autor afirma que os aprendizes se tornam mais autônomos quando seus professores os ajudam a focar na maneira como se aprende do que no conteúdo por si só. Considerando-se o ponto de vista de Moreira, o ensino e a aprendizagem de como ser mais autônomo são atualmente uma abordagem segura para a educação no geral, visto que a atualidade requer indivíduos capazes de aprender mais independentemente. Para White (1995), a autonomia pode ser considerada a chave absoluta para o sucesso na educação a distância. No entanto, White menciona que existe um lado negativo na maioria dos cursos EaD. Ou seja, a EaD considera a autonomia como algo já aprendido e que não precisa ser trabalhado em sala de aula. Professores geralmente não ensinam seus alunos sobre 4

“Autonomy: where are we and where are we going?”

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como aprender de forma autônoma. Consequentemente, a tomada de consciência dos alunos depende diretamente da tomada de consciência dos professores, conforme afirmam Boulton (2006), Oster (2006) e White (1995). Conclui-se que as concepções sobre autonomia apresentadas nessa seção enfatizam a necessidade de formar os estudantes a fim de atingir comportamento mais autônomo de aprendizagem. Para que isso aconteça, professores também deveriam ser formados sobre como ensinar os alunos a serem mais autônomos. Considerando-se o contexto da EaD, no qual os alunos têm tempo limitado, curto ou até mesmo nulo de interação com outros falantes da língua alvo, o desenvolvimento da proficiência em língua estrangeira pode ser um grande desafio. Assim, o desenvolvimento de autonomia nesses contextos de ensino e aprendizagem poderia representar uma das soluções para que os alunos e professores atinjam seus objetivos educacionais. 3 Metodologia A análise proposta para este trabalho busca fazer uma correlação entre conceitos de autonomia e percepções dos alunos do curso de Graduação em Licenciatura em Letras Inglês EaD (UFSC), que apontam para a necessidade de se desenvolverem como aprendizes autônomos. Tal estudo visa comentar as respostas dadas pelos alunos em uma avaliação formal feita no referido curso. A partir de seus relatos escritos, é possível registrar suas percepções5 com relação aos estudos em um curso na modalidade EaD. Após a correlação das percepções dos alunos com os conceitos de autonomia, faz-se um comentário sobre os resultados obtidos e sua possível aplicação para o desenvolvimento de alunos autônomos em cursos com disciplinas que têm como objetivo a aprendizagem de L2 na modalidade EaD. Os dados foram coletados em agosto de 2009, de uma avaliação da disciplina introdutória do curso, Introdução à Educação a Distância, a qual tinha como objetivo a promoção de orientações e discussões sobre como ser aluno na modalidade a distância, com foco em estratégias de organização e também de aprendizagem. Nesta avaliação, constavam as seguintes perguntas: a) Considerando o que aprendeu sobre estratégias de organização e aprendizagem no curso, como você acha que é possível ser um aprendiz bem sucedido na modalidade a distância? Quais estratégias, quais formas de organização podem ser citadas? O que você pretende fazer e quais serão suas ações para ser esse aprendiz bem sucedido e concluir o curso?; e b) Considerando sua atuação como aluno do curso, responsável pelo seu aprendizado, o que tem sido bem sucedido e o que não tem sido bem sucedido e que compromete seu processo de aprendizagem? Por quê? As respostas dos alunos a serem comentadas e relacionadas ao conceito de autonomia foram escolhidas de forma que fizessem menção a características relevantes ao conceito. Dentre as várias possibilidades de concepções de autonomia, as selecionas para serem analisadas foram retiradas de Finch (2002), no qual o autor menciona e comenta diferentes concepções de teóricos que discutem o tema. A tabela abaixo apresenta a relação de autores e concepções de autonomia a serem adotadas. Autor

Definição de Autonomia [U]m aprendiz bem sucedido é aquele que aprendeu a aprender, literalmente. Tais aprendizes adquiriram estratégias de aprendizagem,

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Percepção, neste texto, é entendida como expressão de opiniões e/ou crenças a partir de um processo de reflexão.

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Wenden (1991, p. 15)

Dickinson (1992, p. 330)

Littlewood (1996, p. 428)

Coterall (1995b, p.195)

conhecimento sobre aprendizagem, atitudes que os possibilitam a usar tais habilidades e conhecimento sobre confidencia, flexibilidade, apropriação e independência de professores.6 [A]utonomia significa uma atitude com relação a aprendizagem, na qual o aprendiz está preparado para ter total responsabilidade pela sua própria aprendizagem.7 Pode-se definir uma pessoa autônoma como aquela que apresenta uma capacidade independente não só para tomar, mas também para fazer acontecer decisões que guiam para ações. Tal capacidade depende de dois componentes principais: habilidade e vontade. Habilidade está relacionada com o conhecimento das alternativas sobre as quais se tem que fazer escolhas e também com a habilidade que se tem para realizar quaisquer que sejam as escolhas mais apropriadas. Já a vontade depende diretamente da motivação para se responsabilizar pelas escolhas feitas.8 Autonomia consiste em um âmbito no qual os alunos demonstram habilidade para usar um conjunto de estratégias a fim de controlar o seu aprendizado.9

Tabela baseada em Finch (2002, p. 21 – tradução nossa)

4 Análise Dentre as características que se aplicam ao comportamento autônomo apontadas pelos alunos, sobressaem-se: a) organização do tempo para melhor desenvolver os estudos; b) ter dedicação, disciplina e responsabilidade; c) tomar iniciativa; d) buscar outros materiais; dentre outros a serem apontados na discussão que segue. As características mencionadas acima são fundamentais para o desenvolvimento de autonomia e, consequentemente, aprendizagem da Língua Inglesa na graduação EaD. Dessa forma, é possível identificar nas respostas dadas pelos alunos que eles apresentam consciência da necessidade de ser autônomo na EaD. O aluno A10, por exemplo, coloca:

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“[S]uccessful [..] learners have learned how to learn. They have acquired the learning strategies, the knowledge about learning, and the attitudes that enable them to use these skills and knowledge confidently, flexibly, appropriately and independently of a teacher.” 7

“[Autonomy means] an attitude towards learning in which the learner is prepared to take, or does take, responsibility for his own learning.” 8 “We can define an autonomous person as one who has an independent capacity to make and carry out the choices which govern his or her actions. This capacity depends on two main components: ability and willingness. … Ability depends on possessing both knowledge about the alternatives from which choices have to be made and the necessary skills for carrying out whatever choices seem most appropriate. Willingness depends on having both the motivation and the confidence to take responsibility for the choices required.” 9 “[T]he extent to which learners demonstrate the ability to use a set of tactics for taking control of their learning.” 10 Embora tenha havido uma seleção de respostas de homens e mulheres na pesquisa, todos serão referidos no gênero masculino como auxílio para a análise e para omissão de identidade dos respondentes.

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Acredito que para ser bem sucedido, em primeiro lugar, devemos criar uma rotina diária de acesso à Internet, no caso, verificando constantemente as mensagens dos Professores ou tutores, Atividades agendadas, leituras necessárias, etc... no sentido de evitar acúmulos e atrasos. (aluno A)

A organização do tempo para estudo é algo fundamental na concepção de autonomia, pois auxilia na determinação do aluno para cumprir os prazos estipulados. Conforme Coterall (1995b, p.195), autonomia consiste em um “âmbito no qual os alunos demonstram habilidade para usar um conjunto de estratégias a fim de controlar o seu aprendizado”. Nesse sentido, a organização do tempo seria uma estratégia vista como necessária pelo aluno para se dedicar a realização das atividades. A fim de promover autonomia, professores poderiam estabelecer como uma atividade padrão a organização de uma agenda para cada atividade proposta no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Littlewood (1996) define uma pessoa autônoma como aquela que apresenta uma capacidade independente não só para tomar, mas também para fazer acontecer decisões que guiam para ações. Para autora, tal capacidade depende de dois componentes principais: habilidade e vontade. Habilidade está relacionada com o conhecimento das alternativas sobre as quais se tem que fazer escolhas e também com a habilidade que se tem para realizar quaisquer que sejam as escolhas mais apropriadas. Já a vontade depende diretamente da motivação para se responsabilizar pelas escolhas feitas. Parte da resposta do aluno B aponta para características de tal definição: Para seguir neste curso, é preciso (...) realizar todas as atividades propostas dentro do prazo, focar em cada atividade de cada vez, sempre seguindo o que é proposto, não deixar para postar nada em cima do prazo, e nem acumular leituras. Um aluno da EaD precisa ser disciplinado, se cobrar ao máximo. (aluno B)

O aluno B apresenta ações a serem tomadas no curso EaD, mostrando assim que ele percebe a necessidade de tomar e fazer acontecer decisões (não deixar acumular leituras) que guiam para ações (realizar atividades dentro do prazo). Tal resposta mostra que o aluno tem o conhecimento das alternativas sobre as quais se tem que fazer escolhas. Seguindo a definição de autonomia proposta por Littlewood (1996), essa é uma característica do aprendiz autônomo. O aluno B acrescenta que “aluno da EaD precisa ser disciplinado, se cobrar ao máximo”. A característica de ser disciplinado vai ao encontro da definição de autonomia de Coterall (1995) na qual disciplina seria uma estratégia necessária na EaD. Através da análise das respostas dos alunos, percebe-se a recorrência da preocupação com o tempo dedicado aos estudos. A organização mencionada deveria ser parte de todo processo de ensino/aprendizagem. Porém, no caso da EaD, é necessário mais atenção, pois os alunos não têm um quadro de horários obrigatório para estar online. Consequentemente, o aluno precisa ser autônomo para definir a relevância e ordem do cumprimento de suas obrigações para com o curso. O aluno C enfatiza algumas necessidades nesse sentido, tais como: Cumprir horários para leitura do material impresso, pesquisas na internet ou em outros livros sobre os temas relacionados, ter um lugar só meu para estudar (...) e tentar ao máximo adiantar as atividades que podem ser feitas no polo para evitar o acumulo de atividades e eu não conseguir concluí-las no prazo estipulado. (aluno C)

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Nesta resposta, é possível observar que o aluno percebe a necessidade de não só organizar o tempo de estudo, mas também de procurar materiais extras para auxiliar na aprendizagem de determinado conteúdo bem como na realização de tarefas. Tal característica pode ser relacionada com a definição de autonomia de Dickinson (1992), a qual indica que autonomia significa uma atitude com relação à aprendizagem, na qual o aprendiz está preparado para ter total responsabilidade pela sua própria aprendizagem. Baseando-se nesta resposta, pode-se dizer que o aluno C apresenta esta característica. Já o aluno D apresenta uma série de elementos necessários como sendo características essências para o estudo na EaD. Além disso, ele enfatiza a flexibilidade de um curso EaD como uma característica positiva, pois tal flexibilidade coloca o aluno como o próprio autor da sua aprendizagem: É importante acrescentar alguns elementos principais numa agenda de estudos: metas que quer alcançar, tempo e dedicação média, os conteúdos, as atividades, os materiais que vai utilizar, onde vai estudar. Além disso, é imperioso ter em mente que a vantagem oferecida na EaD é fazer as tarefas em horário e local escolhidos ou seja, o aluno será o autor principal de sua aprendizagem. (aluno D)

O aluno como autor da sua própria aprendizagem é o princípio básico que sustenta a definição de autonomia. Para Wenden (1991, p. 15), um aprendiz bem sucedido é aquele que aprendeu a aprender, literalmente. Tais aprendizes desenvolveram estratégias de aprendizagem, conhecimento sobre sua própria aprendizagem, atitudes que os possibilitam a usar tais habilidades e conhecimento sobre confiança em si, flexibilidade, apropriação e independência de professores. Enquanto isso, o aluno E aponta para o estabelecimento de metas, o que o caracteriza como autor de estratégias necessárias para seu desenvolvimento no curso: Cada tarefa é considerada uma “meta”, e conquistando uma a uma é possível se chegar ao sucesso. Isso lembra claramente aquele ditado “não deixe para depois o que pode fazer hoje”. Minha agenda a qual estou novamente refazendo está começando a partir dos seguintes itens: - disciplina e data de entrega (que disciplina é o trabalho e quando deve ser entregue); - o quê e quando fazer (tipo de atividade: leitura, criação de texto, pesquisa); - quanto tempo preciso para realizá-la; - tempo utilizado (quanto tempo a tarefa exigiu, assim, saberei com antecedência quanto tempo precisarei se uma tarefa similar aparecer); - se é um trabalho em grupo ou individual (se trabalho individual, melhor fazer em casa e se em grupo, através do pólo). (aluno E)

Este aluno apresenta detalhadamente seu plano de ação para com as atividades propostas no curso, fato que demonstra sua habilidade em termos de organização e tomada de decisões para com a sua aprendizagem. Estas características vão ao encontro das definições apresentadas anteriormente, as quais caracterizam aprendizes autônomos. A partir desta comparação entre as respostas dos alunos e os conceitos de autonomia, percebe-se que o desenvolvimento de aprendizes autônomos é essencial concretização das aprendizagens na EaD. O estudante da educação a distância, assim como o da modalidade presencial, precisa se organizar no sentido de planejar como aprender através da realização 8

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das atividades do curso EaD e da complementação dos seus estudos. É por este motivo que a autonomia é fundamental, pois somente o ser autônomo capaz de desejar o saber, o diálogo, e a reflexão – aspectos fundamentais que devem ser estimulados tanto no ambiente presencial de ensino, como no virtual – viabiliza a apropriação do conhecimento e o uso deste em benefício em prol de si próprio e do contexto de aprendizagem. 5 Conclusão As correlações entre as definições de autonomia e as respostas dos alunos apontam que existe um conhecimento implícito sobre o conceito de autonomia, o qual foi representado nas características mencionados nas respostas com relação aos estudos em cursos EaD. Embora a prova da qual as respostas foram coletadas não apresentasse a palavra autonomia explicitamente, as percepções dos alunos mostram que eles têm consciência de características autônomas necessárias para quando se está estudando a distância. No entanto, existem outras características de aprendizes autônomos que não foram mencionadas. De acordo com Cotterall (1995), existem aspectos a serem observados em aprendizes autônomos, tais como: a) seleção de materiais a atividades; b) definição de ordens e progressos; c) planejamento de tempo para prática; d) monitoramento; e) avaliação de progresso, dentre outros. Assim, nota-se a necessidade de se trabalhar com o termo mais diretamente a fim de auxiliar os alunos a tomarem consciência da importância de ser autônomo. Conforme sugere Holec (1981), a autonomia não é uma característica inata, mas sim algo que deve ser desenvolvido por meios naturais ou sistemáticos. 6 Considerações Finais Este estudo abordou, de forma preliminar, algumas definições do conceito de autonomia, as quais foram selecionadas, dentre uma vasta gama de possibilidades, com base em discussões propostas por Finch (2002). Tal autor aponta que, embora as definições sejam distintas, elas apontam para características semelhantes que, de certa forma, complementamse na caracterização de aprendizes autônomos. Ressalta-se que, para aprendizagem de línguas estrangeiras, há infinitas possibilidades de materiais, websites, livros, vídeos, jogos, dentre outros recursos, os quais estão disponíveis sem custo algum online. Considera-se que a busca e o uso de tais materiais facilitaria o desenvolvimento autônomo das habilidades linguísticas de Inglês dos alunos do curso. No entanto, dentre as respostas selecionadas para este estudo, não há menção sobre a facilidade de acesso a materiais extras diferenciados que complementem os estudos individuais de cada aluno. Espera-se que, com este trabalho, seja possível identificar características de aprendizes autônomos que ainda precisam ser trabalhadas em contextos de ensino, não só na educação a distância, mas também em cursos presenciais, especialmente quando se trata de formação de professores de Língua Inglesa. O desenvolvimento de proficiência em L2 exige dedicação e tempo, o que a mera presença em sala de aula ou a realização de atividades obrigatórias online não contemplam ou não são suficientes. Autonomia, nesse caso, tem papel central no sentido de que faz os alunos buscarem a complementação necessária para sua aprendizagem. Autonomia na educação também pode vista a partir da perspectiva de Preti at al (2005), o qual defende que não existe uma separação entre o ser autônomo e o ser que trabalha em conjunto, colaborativamente. Neste sentido, o aluno precisa desenvolver atitudes que promovam a interaprendizagem e a pesquisa, estando sempre disposto e motivado a 9

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empreender ações de modo a viabilizar seu acesso ao conhecimento. A autonomia, nesse sentido, atua como uma característica que ajuda o indivíduo a aprender de forma mais eficiente, possibilitando-o, assim, a interagir no grupo de aprendizagem, dando sua contribuição individual para o bem comum. Autonomia se constitui ao longo da vida, no entanto, é preciso que professores atuem como intermediários desse amadurecimento e da construção da autonomia pelo estudante. Agradecimentos Gostaria de agradecer ao Professor Dr. Celso Henrique Soufen Tumolo e ao meu colega de Mestrado Alison Gonçalves pela leitura atenta deste trabalho, o que gerou comentários essenciais para o melhoramento do texto. Referências BENSON, P. Teaching and Researching Autonomy in Language Learning. London: Longman, 2001. BOULTON, A. Autonomy and the Internet in distance learning: reading between the e-lines. In: Mélanger CRAPEL, 28th, Edition Spécial: TIC et Autonomie dans l’apprentissage des langues, p.101-112, 2006. Disponível em: http://revues.univnancy2.fr/melangesCrapel/article_melange.php3?id_article=287 Acesso em: 8 set. 2011. DIAS, R. Towards autonomy: the integration of learner-controlled strategies into the teaching event. In: LEFFA, V. J. (Org.). Autonomy in Language Learning. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1994, p. 13-24. DICKINSON, L. Learner Autonomy 2: Learner Training for Language Learning. Dublin: Authentik, 1992. _____. Learner Autonomy: what, why and how? In: LEFFA, V. J. (Org.). Autonomy in Language Learning. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1994, p. 13-24. ESTIVALET, G. L.; HACK, J. R. Ensino de Língua Estrangeira a distância: reflexões sobre o ensino/aprendizagem da habilidade oral. In: Anais do VII Congresso Internacional da Abralin. p.1761-1775, 2011. Disponível em: http://www.abralin.org/abralin11_cdrom/artigos/ Gustavo_Estivalet.PDF Acesso em: 15 out. 2011. FINCH, A. Autonomy - where are we, and where are we going? In: JALT CUE-SIG Proceedings. Kyoto Institute of Technology, Kyoto, Japan, p. 15-42, 2002. FREIRE, P. Pedagogy of the oppressed. NY, NY: Continuum Books, 1993. HOLEC, H. Autonomy and foreign language learning. 2 ed. Oxford: Pergamon, 1981. KREMER, M. Oral development in English as a foreign language: perceptions of distance education students on resources and activities, 2012. 222f. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. Dissertação (Mestrado em Inglês). MOREIRA, M. M. In the search of the foreign language learner’s autonomy: concept maps and learning how to learn. In: LEFFA, V. J. (Org.). Autonomy in Language Learning. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1994, p. 25-35. PAIVA, V. L. M. O. Autonomy in second language acquisition. In: SHARE: An electronic magazine, 146, (no page numbers), 2005. Disponível em http://www.veramenezes.com/autoplex.htm Acesso em: 14 agosto 2011. PAIVA, V. L. M. O. (2006) Autonomia e complexidade. In: Linguagem & Ensino, 9 (1), p.77-127, 2006. PRETI, O; NEDER, M. L. C.; et al. Educação a Distância: sobre discursos e práticas. Brasília: Líber Livro Editora, 2005. 10

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