Autores brasileiros publicados na Espanha entre 2000 e 2010

July 19, 2017 | Autor: Luciana Guedes | Categoria: Literatura brasileira, Tradução, Literatura Brasileira Contemporânea, Mercado Editorial
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Autores brasileiros publicados na Espanha entre 2000 e 2010

Luciana Guedes[1]

Resumo: O mercado editorial brasileiro cresce a um ritmo acelerado e,
consequentemente, aumentam as relações comerciais com o mercado
internacional, seja importando ou exportando produtos literários. O mercado
de língua espanhola foi, desde muito cedo, receptivo aos produtos
literários brasileiros, portanto, é de especial interesse investigar as
relações comerciais com a Espanha por se tratar, apesar da crise, do maior
mercado global em língua espanhola. Sendo assim, neste texto trato de
oferecer dados objetivos que ajudem a compreender as dinâmicas e os
processos das exportações de livros para a Espanha.

Palavras-chave: mercado editorial, exportação, literatura brasileira

O mercado editorial brasileiro cresce a um ritmo acelerado e,
consequentemente, aumentam as relações comerciais com o mercado
internacional, seja importando ou exportando produtos literários. O mercado
internacional tem demonstrado interesse nos clássicos da literatura
nacional, como Machado de Assis, Jorge Amado e Guimarães Rosa, passando
pelo irrefutável êxito comercial Paulo Coelho e culminando nos mais
variados autores contemporâneos, como Marçal Aquino, Luiz Rufatto e Alberto
Mussa. Outra mostra do crescente interesse no Brasil foi a recente disputa
pela fatia digital do mercado editorial do país entre Amazon, Kobo e Apple.

O projeto de pesquisa dos mercados globais, patrocinado pela
International Publishers Association (IPA) e realizado pelo consultor
editorial austríaco Rüdiger Wischenbart, divulgou em 2012 alguns resultados
e neles a Espanha figura como o 8º mercado editorial global seguido pelo
mercado brasileiro, o que consolida o Brasil como o maior mercado editorial
da América Latina (Carrenho, 2012). A recente crise financeira na Europa e
o agravamento da crise na Espanha, como era de se esperar, causou retração
na indústria editorial espanhola, de 10% a 15%, segundo especialistas
(Critchley, 2012). Por isso, agentes do mercado editorial espanhol voltaram
ainda mais a sua atenção para a América Latina, consolidando na região a
presença de seus grandes grupos editoriais, como Planeta, Santillana e SM.
Tal conjuntura atual do mercado produz o fluxo de produtos em vários
sentidos, por exemplo, produtos literários espanhóis são importados por
mercados consumidores latino-americanos, produtos latino-americanos
(incluindo os brasileiros) chegam ao mercado espanhol e produtos
brasileiros são importados pelas comunidades vizinhas com a intermediação
de agentes do mercado espanhol. Não é de estranhar, portanto, que a Machado
de Assis Magazine[2] seja publicada, além de em inglês, em espanhol.
De acordo com as informações das que disponho, as primeiras
publicações de livros de autores brasileiros no mercado internacional foram
feitas precisamente ao espanhol[3]. Em 1902, o braço editorial do periódico
uruguaio La Razón publicou uma tradução feita por Julio Piquet de Memórias
Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis e, no mesmo ano, o periódico
argentino La Nación publicou em livro a tradução de Inocência de Visconde
de Taunay, realizada por Arturo Costa Alvarez. Já o público leitor espanhol
teve à disposição, por primeira vez, um título de um autor brasileiro em
1919, quando a editora A.G. Izquierdo publicou Narraciones escogidas de
Machado de Assis, traduzidas por Ramón Cansinos Assens. Portanto, o mercado
de língua espanhola foi, desde muito cedo, receptivo aos produtos
literários brasileiros. E é de especial interesse investigar as relações
comerciais com a Espanha por se tratar, apesar da crise, do maior mercado
global em língua espanhola, já que nenhum outro país hispano-americano
aparece sequer entre os 20 maiores mercados consumidores de literatura.
Sendo assim, neste texto trato de oferecer dados objetivos que ajudem
a compreender as dinâmicas e os processos das exportações de livros para a
Espanha, respondendo a perguntas tais como: quantos livros de autores
brasileiros foram publicados no mercado espanhol entre 2000 e 2010? Houve
crescimento das exportações? E, se houve, foi estável? A que subsetores
editoriais correspondem a maioria das obras publicadas? Quais autores
receberam maior interesse por parte do mercado editorial espanhol? E quais
editoras investiram na publicação de autores brasileiros? A decisão de
fazer este corte temporal da última década completa tem por objetivo tentar
compreender os recentes movimentos do mercado e, portanto, as tendências
para os próximos anos. Anos estes que, devido à atual posição que o Brasil
vem ocupando no campo econômico e no campo do poder (Bourdieu, 1995),
aparentemente seguirão uma forte tendência de crescimento do interesse
internacional na literatura brasileira.
Respondendo já à primeira questão, os dados[4] demonstram que foram
editadas na Espanha, um total de 637 publicações[5] correspondentes a 171
diferentes autores brasileiros no período de 2000 a 2010, além de outras 54
publicações do subsetor religioso[6]. Foram publicados 316 títulos
distintos[7], traduzidos por 211 tradutores ou grupo de tradutores
diferentes. As obras que mais vezes foram editadas ou reimpressas são de
autoria de Paulo Coelho, dessas, a mais editada foi O alquimista, com 35
publicações.
Das 179 editoras diferentes que investiram na publicação de autores
brasileiros, a Editorial Planeta, Edicions Proa, Círculo de Lectores,
Ediciones SM e Alianza Editorial imprimiram mais de 20 publicações cada
uma. Quanto ao suporte escolhido para a publicação, a esmagadora maioria
chegou ao público leitor em suporte impresso; e apenas 13 títulos foram
editados em suporte digital, quase todos do subsetor de Científicos,
Técnicos e Profissionais. Visto o crescente interesse e desenvolvimento do
mercado digital, provavelmente, um estudo similar da corrente década aponte
a resultados mais favoráveis para o livro eletrônico.
Como podemos observar no gráfico abaixo, 2007, 2008 e 2009 são os
anos que apresentam o maior volume de publicações, nessa mesma ordem. Em
2010 há um descenso, de 2001 a 2006 o número anual de publicações apresenta-
se estável, com um leve descenso nesse último, para recuperar-se no ano
seguinte. O fato de que esse triênio abarque os anos com o maior volume de
publicações explica-se, além de outros fatores, porque a atual crise
financeira na Europa iniciou-se a princípios de 2008 e agravou-se pouco a
pouco. Portanto, é natural que em 2010 o volume de negócios do mercado
editorial espanhol tenha caído.


Gráfico 1. Elaboração da autora.[8]

A maior parte das publicações de livros brasileiros foi feita em
castelhano (510), 71 em catalão, 14 em galego, 12 em valenciano e 7 em
euskera. E os 23 restantes saíram como edições bilíngues ou em línguas
estrangeiras. Em harmonia, portanto, com o cenário editorial na Espanha.

Gráfico 2. Elaboração da autora.

Com respeito ao subsetor do mercado, podemos dizer que os editores
espanhóis, ao publicar obras de autores brasileiros, dão preferência à
literatura de ficção, especialmente à prosa. Seguindo a classificação
habitualmente utilizada pelo mercado editorial, identificamos que 406
publicações pertencem ao subsetor Literatura adulta, 151 a CTP
(Científicos, Técnicos e Profissionais), 77 a literatura infanto-juvenil e
apenas três a Didáticos.
Os cinco autores brasileiros de ficção mais publicados na Espanha
entre 2000 e 2010 são, por esta ordem, Paulo Coelho, Ana Maria Machado,
Jorge Amado, Clarice Lispector e Machado de Assis. E os autores de não-
ficção mais editados são Lair Ribeiro (21 publicações) e Paulo Freire (19
publicações), aparecendo no quinto e sexto posto na listagem geral.
Gráfico 3. Elaboração da autora.

Assim como no caso das editoras, também muitos tradutores aparecem
como nomes habituais na tradução de obras literárias brasileiras. Repetem-
se nomes como Mario Merlino, Dolors Ventós, Francisco Ernesto Zaragoza,
Joan Salvador, Elena Losada, Josep Doménech, Monserrat Mira, Basilio Losada
e Ana Belén Costas. De fato, esses são os profissionais da tradução que,
respectivamente, mais traduziram as obras do período analisado. Mario
Merlino é também quem traduziu a maior variedade de autores.
Até não muito tempo atrás, as iniciativas individuais de editores e
tradutores eram quase a única razão para que um título de um autor
brasileiro fosse traduzido no exterior. Atualmente, no entanto, os agentes
do mercado contam também, e cada vez mais, com mecanismos de incentivo e
fomento governamentais. A Câmara Brasileira de Livros (CBL), a Apex Brasil
e a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) têm feito um esforço conjunto para
promover a literatura brasileira no exterior (cfr. Villarino Pardo, 2011,
2012). Não nos cabe aqui analisar e julgar se esse esforço é suficiente ou
não, o que sim comentamos são os resultados. Segundo a FBN em 2012 foram
concedidas "131 bolsas de tradução, 14 de intercâmbio de autores
brasileiros no exterior, 10 de apoio à publicação em países de língua
portuguesa e 15 de residência de tradutores estrangeiros no Brasil"
(PublishNews, Redação – 29/11/12). E, para este primeiro semestre do ano
2012, a Fundação já aprovou 14 novas bolsas de apoio à tradução de autores
brasileiros no exterior. O foco principal das exportações de produtos
literários brasileiros agora é a Alemanha, devido à homenagem ao Brasil na
Feira de Frankfurt em 2013, por isso, boa parte das traduções será feita ao
alemão. Contudo, isto não impede que autores clássicos e contemporâneos
sejam traduzidos também a outros idiomas com o financiamento do Programa de
Apoio à Tradução da FBN, especial atenção recebem os mercados de língua
espanhola já que grande parte dos tradutores selecionados para o Programa
de Residência de Tradutores Estrangeiros no Brasil trabalham com o espanhol
como língua de chegada.
Nesta ocasião será sobre os cinco autores brasileiros de ficção mais
publicados na Espanha na última década e sobre sua trajetória editorial
nesse país que vou centrar este trabalho. A análise dos casos específicos
de tais autores, serve-nos de exemplo do processo de exportação de produtos
literários brasileiros.

Trajetória editorial dos cinco autores brasileiros de ficção mais editados
na Espanha de 2000 a 2010

Para traçar um plano de promoção efetivo da literatura brasileira no
exterior é importante conhecer quais os produtos literários brasileiros têm
chamado a atenção do mercado consumidor internacional até agora. A fim de
apresentar uma amostra de tais predileções, comentaremos a seguir os dados
da tradução na Espanha de cinco autores cujo número de obras publicadas
destaca-se dos demais autores brasileiros editados nesse país. Tomando como
base os dados fornecidos pela Base de datos de libros editados en España[9]
do Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, recolhemos e organizamos
todas as referências de obras publicadas disponíveis sobre Paulo Coelho,
Ana Maria Machado, Jorge Amado, Clarice Lispector e Machado de Assis até o
ano de 2010.
Analisando as edições de Paulo Coelho[10] até 2010[11] vemos que os
anos em que mais foram editadas obras do autor na Espanha são 2002 e 2001
respectivamente. E nos anos subsequentes caiu um pouco o volume de
publicação, porém, manteve-se relativamente estável. O aumento do interesse
pela publicação de obras de Paulo Coelho no início da década de 2000 deve-
se, entre outros fatores, ao lançamento de quatro livros entre o final da
década anterior e o início dos anos 2000 – Veronika Decide Morrer (1998),
Cartas de Amor do Profeta (1999), O Demônio e a Srta. Prym (2000) e Onze
Minutos (2003) – e também aos vários prêmios que recebeu em países europeus
no mesmo período, citando alguns – Oficial de Artes e Letras (França,
2003), Premio Bambi de Personalidade Cultural do Ano (Alemanha, 2001),
Premio Fregene de Literatura (Itália, 2001), Crystal Mirror Award (Polônia,
2000), Chevalier de L'Ordre National de la Legion d'Honneur (França, 2000)
e Golden Medal of Galicia (Espanha, 1999). Ademais, o escritor foi eleito
em 2002 para a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras.
Quanto às edições de Machado de Assis, observamos que a publicação de
sua obra manteve-se estável de 1974 a 1998. O período de 1999 a 2001 é o
que compreende um aumento do volume de edições. Porém, foi em 2009 quando
mais se publicou sua obra. Provavelmente devido a que no ano anterior foi
comemorado o centenário de morte do célebre escritor e houve eventos tanto
no Brasil como no exterior. Na Espanha, a Embaixada do Brasil em Madri, o
Ministério da Cultura da Espanha, a Secretaria Geral IberoAmericana
(SEGIB), a Fundação Cultural Hispano-Brasileira e o Instituto Camões
organizaram um seminário em sua homenagem e o número 7 da Revista de
Cultura Brasileña editou um número especial dedicado ao autor. Também o
Centro de Estudios Brasileños da Universidad de Salamanca publicou em 2010
o título Un clásico fuera de casa. Nuevas miradas sobre Machado de Assis,
organizado por Ascensión Rivas Hernández. O livro reúne, além de outros
ensaios, algumas intervenções numas jornadas realizadas nessa universidade
naquele mesmo ano, cuja finalidade era acercar a obra de Machado ao leitor
espanhol.
O volume de publicação das obras de Ana Maria Machado é estável e
baixo até 2007, quando aumenta consideravelmente e apresenta no ano
seguinte o maior número de edições. Em 2009, reduz-se ligeiramente e em
2010 cai bruscamente. Ao contrário dos dois casos anteriores, a variação no
volume de edições de suas obras não pode ser explicado devido aos
mecanismos de consagração e divulgação externos. Em 2000, Ana Maria Machado
ganhou o maior prêmio mundial da literatura infanto-juvenil, o Prêmio Hans
Christian Andersen, e em 2003 foi eleita a ocupante da cadeira 1 da
Academia Brasileira de Letras (ABL). Não obstante, os números indicam que
isso não incentivou à publicação, na Espanha, das obras da atual presidente
da ABL.
De acordo com os dados da Base de datos de libros editados en España,
Jorge Amado é o autor brasileiro a ter uma obra publicada por primeira vez
na Espanha (Los viejos marineros. Barcelona: Ediciones Caralt, 1961). Desde
1961 a trajetória editorial de Jorge Amado na Espanha observa-se constante
mas com altos e baixos, destacando-se os anos de 1980, 1995, 1997, 2002 e
2009. O ano com maior volume foi 1997. Jorge Amado, ao largo de sua longa
carreira literária, recebeu vários prêmios e reconhecimento da crítica no
Brasil e no exterior. E os que talvez possam justificar, pelo menos em
parte, o aumento do número de edições de seus textos na Espanha em 1997
talvez sejam a Ordem do Mérito Cultural da Presidência da Republica do
Brasil em 1996, a Medalha de Ouro Simon Bolívar, pela UNESCO, e o Prêmio
Ministério da Cultura do Brasil ambos em 1997.
Sobre Clarice Lispector podemos comentar que o volume de publicação
de suas obras é baixo e estável até 2006, quando apresenta um aumento,
continuado nos três anos seguintes, e volta a cair em 2009 e 2010; 2008 foi
o ano em que mais se editou sua obra. Chamo a atenção para os prêmios ou as
homenagens recebidas pelos autores como possível causa para o aumento na
tradução de suas obras porque, normalmente, estes eventos geram publicidade
em torno ao escritor e o conjunto de sua obra e, como consequência, maior
interesse do público leitor e dos editores. Contudo, não são, nem muito
menos, os únicos propulsores para a edição de um título traduzido, no
princípio do processo de exportação de um livro estão os agentes
literários, os tradutores e os editores. E a estes últimos devemos o
aumento do número de publicações de Clarice Lispector em 2008, devemos ao
esforço e iniciativa de duas editoras, a Sabina Editorial, especializada na
publicação de textos escritos por mulheres, e a Ediciones Siruela, que
desde que publicou por primeira vez uma obra da autora na década de 80, não
parou mais.
Como já foi visto, Paulo Coelho é o autor brasileiro com o maior
número de edições na Espanha entre 2000 e 2010 e o mesmo ocorre quando
analisamos a trajetória editorial espanhola dos cincos autores, como
podemos ver no gráfico abaixo, os dados do mercado espanhol acompanham a
tendência mundial, já que Paulo Coelho e Jorge Amado são os dois autores
brasileiros mais traduzidos no mundo.
Gráfico 4. Elaboração da autora.

Porém, se levamos em consideração os títulos distintos editados desde
os anos iniciais disponíveis nos registros até o ano de 2010, a autora que
encabeça a lista é Ana Maria Machado. Isto pode-se explicar pela própria
constituição do conjunto da obra de cada autor, Ana Maria Machado escreveu,
e ainda escreve, um grande número de narrativas curtas, sobretudo
literatura infanto-juvenil, enquanto os outros quatro autores produziram
principalmente romances. Outro fator a considerar é que, dos cinco autores
analisados, apenas Ana Maria Machado e Paulo Coelho estão ainda ativos como
produtores de literatura.


Gráfico 5. Elaboração da autora.
Vimos até agora como oscila o volume das traduções destes cinco
autores brasileiros, representativos dos demais, no mercado espanhol e
apontei a direção das possíveis causas, internas e externas ao campo
literário, para tais números. E os dados para as traduções ao redor do
mundo? Os resultados seguem a mesma tendência? Vejamos.

Tradução mundial dos cinco autores mais publicados na Espanha de 2000 a
2010

Para ter um panorama mais abrangente do interesse do mercado
editorial internacional nos autores brasileiros, recorri ao banco de dados
da Unesco (Index Translationum) que recompila as traduções ao redor do
mundo[12]. É importante considerar que as estatísticas da Unesco estão
baseadas nos dados fornecidos pelas agências nacionais, portanto, podem
apresentar certa defasagem. Recolhi, portanto, os dados das traduções ao
redor do mundo dos cincos autores que estamos estudando aqui.
Entre 1983 e 2008 vieram à luz 50 publicações editadas em 7 línguas,
10 países e 22 editoras diferentes de Ana Maria Machado. E o país que mais
editou suas obras foi Espanha, seguido de Colômbia e Alemanha; suas obras
foram publicadas mais em castelhano que em qualquer outra língua. 2001 e
2002 foram os anos em que mais se editaram. E as editoras com maior número
de publicações são Norma (Colômbia) e SM (Espanha). O período com maior
volume de traduções, à diferença dos dados exclusivos para Espanha,
coincidem com a consagração da autora pela crítica mundial quando recebe o
Prêmio Hans Christian Andersen em 2000.
Entre 1981 e 2007, foram editadas 91 publicações em 14 línguas, 16 países e
40 editoras diferentes de Clarice Lispector. A língua na qual mais foi
publicada é o alemão, seguida de perto pelo castelhano, francês e inglês. E
o país que mais editou suas obras foi Alemanha, seguido de França e
Espanha. 1986 foi o ano em que mais se editaram. E a editora que mais a
publicou foi a alemã Rowohlt. Por um conjunto de fatores internos e
externos ao mercado editorial, a obra de Clarice Lispector foi muito
prestigiada pela comunidade internacional nos anos seguintes à sua morte em
1977. Um fenômeno que ocorreu mais uma vez em 2012 e que culminará com a
publicidade dada a sua vida e obra pela Câmara Brasileira do Livro na Feira
de Frankfurt 2013.
Dos cinco, Machado de Assis é o autor que primeiro teve suas obras
distribuídas mundialmente, embora a primeira referência que aparece no
Index seja tardia, apenas de 1955, como já comentei, a primeira tradução de
um texto seu foi ainda no início do século XX. Entre 1995 e 2007, ano da
última referência do autor no Index, teve 85 publicações editadas em 17
línguas, 21 países e 54 editoras diferentes. A língua na qual mais foi
publicada sua obra é o francês seguida de perto pelo espanhol e o inglês. E
o país que mais o editou foi França seguido por Espanha. 2000 foi
destacadamente o ano com o maior volume de publicação. E a francesa
Métailié é a editora com mais traduções editadas de Machado de Assis.
O seguinte autor a ser foco de interesse do mercado internacional foi Jorge
Amado, sendo a primeira tradução de 1977 e os últimos dados de 2008. 420
publicações editadas em 38 línguas, 42 países e 155 editoras diferentes.
Foi mais editado em castelhano, alemão, francês e italiano nessa ordem. E
os países que mais publicaram suas obras foram Alemanha, Espanha, França e
Itália. 1980, 1985 e 1992, respectivamente, são os anos com o maior volume
de edições. Na década de 2000 o volume é bastante inferior. As editoras que
mais o publicaram foram Losada (Argentina) e Piper (Alemanha).
Seguindo a tônica das estatísticas anteriores, também aqui Paulo
Coelho (traduzido entre 1990 e 2009) é quem possui o maior volume de
traduções, 817 publicações editadas em 40 línguas, 45 países e 128 editoras
diferentes. Suas obras foram publicadas principalmente em castelhano,
francês e húngaro. E, como consequência, os países com mais edições suas
são Espanha, França e Hungria. 2003, 2004 e 2005 são os anos em que mais
foram publicados títulos do autor. As editoras que mais o imprimiram foram
Planeta (Espanha), Bazar (Países nórdicos) e Athenaeum 2000 (Hungria).
Paulo Coelho e Jorge Amado foram os mais traduzidos, guardando as
proporções entre o volume de publicações dos dois autores. E também esses
mesmos foram traduzidos a uma maior variedade de línguas. No entanto, Ana
Maria Machado e Machado de Assis foram os autores publicados em países mais
variados.

Gráfico 6. Elaboração da autora.

Já Clarice Lispector e Paulo Coelho foram os autores publicados por
mais editoras distintas.


Gráfico 7. Elaboração da autora.

Os dados apresentados exemplificam o ativo interesse do mercado
espanhol por obras de escritores brasileiros. Podemos notar que a Espanha
aparece, senão como o primeiro, como um dos primeiros importadores da obra
destes cinco produtores literários brasileiros. E ainda fornece dados que
demonstram a tão próxima relação com o público leitor espanhol que mantém
Ana Maria Machado e seus relatos infanto-juvenis, publicados também como
livros para-didáticos, e Paulo Coelho desde a edição de O Diário de um Mago
(1987).

Conclusões

Desde que um livro é publicado na língua original até que chega às
mãos de um consumidor que o lerá em uma língua estrangeira, há um processo
longo, e por vezes lento, que conta com a participação dos mais diversos
agentes do mercado editorial. Na etapa de produção da obra, os principais
agentes são o próprio autor, o seu agente literário ou editor, o editor que
o publicará em língua estrangeira, o tradutor e todos os profissionais do
departamento editorial envolvidos no projeto. Já na etapa de distribuição,
participam ativamente do processo, o departamento de vendas da editora, o
departamento de compras da livraria ou da distribuidora e a transportadora.
E, finalmente, estão os agentes do mercado que incentivam o leitor a
comprar aquele livro específico, os profissionais da publicidade e o
vendedor da livraria (apenas no caso da livraria física; na compra do livro
digital, um papel similar assumem as sugestões de compra/leitura
apresentadas na página da livraria virtual).
Os resultados de todo esse processo podem ser quantificados e
analisados, isso pretendi fazer com esse texto de forma breve e sucinta.
Encontramos respostas a cada uma das questões levantadas no princípio do
texto e poderíamos resumir a análise apresentada na constatação de que o
mercado internacional há anos apresenta certo interesse pela literatura
brasileira, focalizado, isso sim, em determinados autores. No entanto,
também podemos ver como o interesse foi aumentando de maneira geral nas
últimas décadas. E, atualmente, várias das grandes editoras estrangeiras
têm demonstrado interesse ativo pela produção editorial brasileira,
impulsionadas, em grande parte, pelo fato de que o Brasil é o país
homenageado na Feira do Livro de Frankfurt 2013 e, em certa medida, pelo
programa de apoio à tradução da Fundação Biblioteca Nacional.
A Apex Brasil realizou uma pesquisa, Análise de mercados potencias,
que avaliou a situação econômica e mercadológica de 33 países e envolveu
representantes de editoras nacionais no final de 2009. Foram qualificados
18 países como mercados-alvo para a venda de direitos autorais. Tratando
especificamente da relação com o mercado espanhol, é surpreendente que dita
pesquisa diga textualmente que a Espanha está "sofrendo muito com a crise.
Mercado agressivo para vendas (muito vendedor) e estão focados em vender ao
Brasil. Não tem destaque na área científica e tem rejeição ao Brasil"
(2009, p13) e, portanto, indique que o mercado espanhol tem pouco interesse
na publicação de obras brasileiras dos subsetores Científico, Técnico e
Profissional e Obras Gerais. Ao mesmo tempo, porém, indica que a Espanha é
um dos mercados-alvo para o segmento religioso.
Contudo, considerando os resultados estatísticos que descobrimos
neste texto, a Espanha aparece em destaque no volume de traduções de
autores brasileiros. E, se bem não é o maior mercado global, sim é um
mercado de interesse pela sua tradicional e constante aliança com o mercado
latino-americano, materializada pela forte presença das grandes editoras
espanholas nos países de língua castelhana e também no Brasil.



















Referências bibliográficas

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Janeiro: Apex Brasil; Câmara Brasileira do Livro.
BOURDIEU, Pierre. (1995). Las reglas del arte. génesis y estructura del
campo literario. Madrid: Anagrama.
CARRENHO, Carlos. (2012). Brasil fica em 9º lugar em ranking global de
mercados editoriais. Blog do PublishNews. Disponível em:
. Acesso em:
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CRITCHLEY, Adam. (2012). Publishers, Agents Turn to Latin America Amid
Crisis in Spain. Publishing Perspectives. Disponível em:
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PublishNews (Redação – 29/11/12) Disponível em:
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Cultura.
Libro blanco de la traducción editorial en España. (2010). Madrid:
Ministerio de Cultura.
Produção e vendas do setor editorial brasileiro. São Paulo: FIPE; CBL;
SNEL, 2010
SORÁ, Gustavo. (2003). Traducir el Brasil : Una antropología de la
circulación internacional de ideas. Buenos Aires: Libros del Zorzal.
VILLARINO PARDO, M. Carmen (2011). Dinâmicas de exportação para a
literatura brasileira na primeira década do século XXI. Brasil/Brazil. A
Journal of Brazilian Literature, nº 44. Brown University/ Fundação Érico
Veríssimo-Porto Alegre, pp. 52-63.
VILLARINO PARDO, M. Carmen (2012). Literatura Brasileira Contemporânea: o
desafio da exportação. Romance Notes, nº52, 2, pp. 151-164.















Referências das fontes digitais de informação

Fundación Cultural Hispano Brasileña: http://fchb.es/
Base de datos de libros editados en España:
http://www.mcu.es/libro/CE/AgenciaISBN/BBDDLibros/Sobre.html
Agência Nacional do ISBN (Fundação Biblioteca Nacional):
http://www.isbn.bn.br/
Catálogo da Biblioteca Nacional: http://www.bn.br/
Index Translationum: http://www.unesco.org/xtrans/

-----------------------
[1] Licenciada em Letras – Português/Literaturas (2007) pela Universidade
Federal Fluminense (Brasil) e Diplomada em Estudos Avançados no Programa de
Teoria da Literatura e Literatura Comparada (2009) pela Universidade de
Santiago de Compostela, Espanha. Atualmente desenvolve o projeto de tese
"Indústria cultural brasileira e exportação de produtos literários" em
colaboração com o grupo Galabra na mesma universidade.
Contato: [email protected]
[2] A Machado de Assis Magazine é uma publicação digital sob a
responsabilidade da Fundação Biblioteca Nacional cujo primeiro número veio
à luz em 2012. Tem por objetivo a divulgação da literatura brasileira no
exterior e para tanto proporciona texto de autores brasileiros traduzidos
ao espanhol e ao inglês. Os editores da revista afirmam que é
"particularmente importante para el libro y la literatura brasileños, que
cada vez más atraen sobre si la atención de editores, libreros,
investigadores y, sobretodo, lectores. Por fin, en este momento en que
personas de todo el planeta buscan conocer y comprender este país que
despunta como potencia mundial, nada más apropiado que recurrir a la
cultura y, en particular, a los libros y a la literatura. No por otra
razón, los editores internacionales buscan traducir autores clásicos y
contemporáneos o reeditar obras fundamentales para entender el Brasil y los
brasileños, incluso su buena literatura universal" (Disponível em:
).
[3] Estão excluídas aqui as edições portuguesas de obras de autores
brasileiros e a impressão na França de títulos brasileiros em língua
portuguesa que seriam distribuídos no Brasil; uma prática comum no século
XIX, como faziam a editora Garnier e a casa editorial Lammert.
[4] Para todos os dados apresentados neste trabalho o processo de criação
e revisão das estatísticas seguiu principalmente os seguintes passos:
recolha de dados na Hemeroteca da Fundación Cultural Hispano Brasileña,
cotejo e correção de dados segundo a Base de datos de libros editados en
España, cotejo e correção de dados segundo a Agência Nacional do ISBN
(Fundação Biblioteca Nacional) e finalmente a comparação com as referências
bibliográficas do Catálogo da Biblioteca Nacional do Brasil.
[5] Com "publicações" entendemos todos os livros impressos, incluindo
segundas edições e reimpressões. Os vocábulos "títulos" e "obras", referem-
se, salvo outra orientação, a uma única edição de uma obra, e não a suas
reimpressões ou reedições.
[6] Utilizamos a seguinte classificação dos subsetores do mercado:
Didáticos, Obras Gerais, Religiosos e Científicos, Técnicos e
Profissionais. A mesma subdivisão utilizada no informe Produção e vendas do
setor editorial brasileiro (2010) da Câmara Brasileira do Livro. Excluímos
das estatísticas aqui apresentadas as obras do subsetor religioso porque
circulam e funcionam em um subcampo do mercado com normas próprias. Em um
texto futuro desenvolveremos o porquê dessa opção de abordagem.
[7] No caso das reimpressões, o "ano de publicação" sempre se refere ao
ano de impressão. Portanto, não aparece em lista as primeiras impressões.
Podem ser contabilizadas através do registro das reimpressões.
[8] Volume total de livros publicados (excluem-se 54 publicações do
subsetor religioso), inclui títulos inéditos, reimpressões e publicação de
uma mesma obra em edições distintas. Os gráficos 1 a 3 seguem essa mesma
orientação.
[9] "Esta base de datos contiene referencias bibliográficas de los
libros editados en España desde 1972, año en que nuestro país se unió al
sistema ISBN. Está gestionada por la Agencia Española del ISBN. Los datos
los proporciona el propio editor al tramitar y remitir a la Agencia el
impreso de solicitud del ISBN". (Base de datos de libros editados en
España)
[10] Paulo Coelho é o autor que apresenta o maior número de publicações
(200) anuais em total. Os dados para os outros autores são baixos se
comparados com ele, por isso, devem ser tomados de maneira relativa e
proporcionalmente. Sendo – Ana Maria Machado (49), Jorge Amado (95),
Clarice Lispector (36) e Machado de Assis (35).
[11] Os dados incluem apenas Traduções completas de livro, excluindo
portanto Coletânea de obras, Coletânea de obras VV.AA e Editados na
Espanha. O volume total de livros publicados inclui títulos inéditos,
reimpressões e publicação de uma mesma obra em edições distintas. Os dados
referem-se exclusivamente ao mercado editorial espanhol.
[12] "El Index Translationum es un repertorio de obras traducidas en todo
el mundo, una bibliografía internacional de traducciones. Fue creado en
1932. La base de datos contiene una información bibliográfica acumulativa
sobre las obras traducidas y publicadas en un centenar de Estados Miembros
de la UNESCO a partir de 1979. Más de 1.800.000 referencias de todas las
disciplinas: literatura, ciencias sociales y humanas, ciencias exactas y
naturales, arte, historia, etc." (Index Translationum).



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