Autores-personagens: O eu virtual e as estratégias de divulgação de novos escritores nos sites de redes sociais

June 1, 2017 | Autor: Mayara Araujo | Categoria: Redes Sociais, Autopublicação, Mercado Editorial
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

Autores-personagens: o “eu virtual” e as estratégias de

divulgação de novos escritores nos sites de redes sociais

Apresentado por

Mayara Soares Lopes Pinto de Araujo Professor orientador acadêmico: Beatriz Brandão Polivanov

Niterói, dezembro de 2015.

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

Autores-personagens: o “eu virtual” e as estratégias de

divulgação de novos escritores nos sites de redes sociais Apresentado por

Mayara Soares Lopes Pinto de Araujo Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Estudos de Mídia à banca examinadora composta por

_____________________________________ Profª. Drª. Beatriz Polivanov (UFF – orientadora)

_____________________________________ Profª. Drª. Thaiane Oliveira (UFF – examinadora)

_____________________________________ Profª. Drª. Mayka Castellano (UFF – examinadora)

Niterói 2015

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os novos autores e aspirantes a novos autores.

Espero que esta monografia possa dar ao menos um pouco de luz a todos aqueles que se aventuraram a embarcar na selva que é o mercado editorial.

Espero que algumas de minhas análises contribuam para a decisão de um

posicionamento na construção de identidades nos sites de redes sociais. E, por fim, que de alguma forma isso os auxilie a encontrar uma casa editorial tradicional e a sempre conquistar novos leitores.

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AGRADECIMENTOS Mesmo sem religião e sem certeza da própria fé, acredito que o primeiro a

receber os meus agradecimentos deve a força que comumente chamamos de “Deus”. Independentemente de que tipo de existência seja, não posso deixar de ressaltar uma

força maior que me guia e que, por isso, me fez chegar onde cheguei, com orgulho até

mesmo dos meus percalços, que contribuíram para o meu amadurecimento como ser humano.

Na sequência, agradeço aos meus pais por apoiarem as minhas decisões e

acreditarem em mim (até quando eu mesma duvido), por serem pessoas nas quais eu quero me espelhar e com as quais todas as minhas conquistas eu compartilho.

À minha orientadora, Beatriz Polivanov, pela paciência, pelos textos, dicas,

correções carinhosas e uma orientação que contribuiu para dar forma a esta monografia. Sem este apoio certamente essa pesquisa não teria caminhado.

Ao meu namorado, Guilherme, por atuar como meu ilustre conversor de PDF.

Aos autores analisados, Lu Piras, Maurício Gomyde e Vanessa Bosso, por terem

pacientemente respondido os meus e-mails e compartilhado informações que foram essenciais para a elaboração das análises.

Aos professores Dênis de Moraes e Aníbal Bragança que foram peças-chave

para a minha construção e amadurecimento como estudante da área de comunicação e,

mais importante, uma pessoa que escolheu falar sobre assuntos periféricos a esse objeto tão essencial que é o livro.

Às professoras Thaiane de Oliveira e Mayka Casellano por terem aceitado e

demonstrado interesse em participar da avaliação deste trabalho.

A todas as pessoas que compartilharam comigo os momentos dentro da

Universidade.

À Universidade Federal Fluminense e ao curso de Estudos de Mídia que me

acolheram e transformaram completamente a minha vida. Entidades que levarei no peito com orgulho pelo resto da vida.

Ao Google, não pela zoeira, mas por ter sido a ferramenta de busca que eu mais

utilizei (em especial o Google Acadêmico) e que se não existisse eu provavelmente estaria perdida.

E, por fim, a você, que lê e estuda essa monografia.

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RESUMO Este trabalho se propõe a entender as estratégias de utilização dos sites de redes sociais, em especial, o Facebook e o Twitter, por parte de autores de livros de ficção que iniciaram suas carreiras através da auto-publicação e que, por conta de sua boa administração desses perfis, assim como a ampla divulgação de suas obras, conquistaram um público cativo e conseguiram encontrar uma editora tradicional que arque com os custos de seu trabalho. Neste intuito, a análise – de cunho qualitativo – recairá sobre três autores que galgaram esses caminhos e obtiveram sucesso, Maurício Gomyde, Lu Piras e Vanessa Bosso, e seus modos de auto-apresentação nesses ambientes. Palavras-chave: auto-publicação; mercado editorial contemporâneo; sites de redes sociais.

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ABSTRACT This monograph aims at understanding the strategies of social network sites uses, specially Facebook and Twitter, by fiction authors that began their careers by means of self-publication and that, due to their good management of such profiles, as well as wide disclosure of their books, have managed to find a traditional publishing company which embraces the costs of their work. In order to do so, the analysis – of qualitative approach – will be based on three authors who followed such path and were successful, Maurício Gomyde, Lu Piras and Vanessa Bosso, and their modes of self presentation in those environments. Palavras-chave: self-publication; contemporary publishing industry; social network sites.

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SUMÁRIO LISTA DE TABELAS E FIGURAS ......................................................................................................... 8 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 9 Capítulo 1: Panorama do mercado editorial brasileiro contemporâneo ............................................. 13 1.1. Breve história do mercado editorial brasileiro ........................................................................... 14 1.2 O segmento de “literatura de entretenimento” ............................................................................ 18 1.3. O fim do livro com a cultura digital? ........................................................................................... 21 1.4. Auto-publicação ............................................................................................................................. 24 1.4.1 O papel do autor ...................................................................................................................... 25 1.4.2 Ferramentas de auto-publicação ............................................................................................ 28 Capítulo 2: Ser autor e estar nos sites de redes sociais .......................................................................... 34 2.1. Usos e apropriações dos sites ........................................................................................................ 34 2.2. Visibilidade e construção de identidade ...................................................................................... 36 2.3. Interação e diálogo com a rede de contatos ................................................................................. 41 2.4. Capital social e influência a partir de gostos compartilhados ................................................... 44 Capítulo 3: Análise da autoapresentação de escritores no Facebook e Twitter .................................. 47 3.1. Maurício Gomyde: um ar de mistério ......................................................................................... 49 3.2. Lu Piras: “gente como a gente” .................................................................................................... 57 3.3. Vanessa Bosso: glamour autoral .................................................................................................. 64 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................ 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................... 74 ANEXOS ................................................................................................................................................... 78

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS Tabela 01 - Relação livros por habitante/ano em alguns anos da década de 1960......p.13

Tabela 02 - Lista de livros mais vendidos na semana de 11/05/2015 segundo o site Publish News............................................................................................................... p.18 Figura 01 – Logotipo Clube dos Autores.....................................................................p.29

Figura 02 – Logotipo Kindle Direct Publishing.......................................................... p.30 Figura 03 – Logotipo KOBO Writing Life................................................................. p.30

Figura 04 – Logotipo Publique-se................................................................................p.31

Figura 05 – Logotipo Wattpad......................................................................................p.31 Figura 06 – Logotipo Widbook.....................................................................................p.32 Figura 07 – Maurício Gomyde aproveitando o dia dos pais com as filhas.................p.52

Figura 08 – Foto de capa do Facebook de Maurício Gomyde.....................................p.53 Figura 09 – Perfis que Gomyde segue no Twitter.......................................................p.54

Figura 10 – Capa “happy” do Twitter de Gomyde......................................................p.54 Figura 11 – Maurício Gomyde e Anna Todd, autora americana do livro After..........p.55

Figura 12 – Lu Piras em sua viagem ao Japão............................................................p.60

Figura 13 – Perfil de Lu Piras no Facebook................................................................p.61 Figura 14 – Páginas curtidas pela autora no Facebook...............................................p.62 Figura 15 – Páginas curtidas pela autora no Facebook...............................................p.62

Figura 16 – Campanha #eudigonãoaobullying, da qual a autora participou...............p.62 Figura 17 – Capa do perfil no Twitter de Lu Piras......................................................p.63

Figura 18 – Mensagem auto-publicada pelo Twitter...................................................p.63 Figura 19 – Postagens de Vanessa Bosso no Facebook..............................................p.65 Figura 20 – Postagens de Vanessa Bosso no Facebook..............................................p.65

Figura 21 – Imagens de capa e perfil de Vanessa Bosso no Facebook...................... p.68 Figura 22 – Páginas curtidas por Vanessa no Facebook.............................................p.68

Figura 23 – Postagens vindas do Instagram para o Twitter........................................ p.69 Figura 24 – Postagens vindas do Instagram para o Twitter.........................................p.70

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INTRODUÇÃO Uma mudança está presente no cenário editorial. Graças ao advento da internet,

formas diversas de publicação e divulgação de livros tornaram-se viáveis. Ou seja, a

busca por uma casa editorial tradicional que arque com os custos da editoração de um livro, bem como sua divulgação, não é o único caminho existente para a publicação de

uma obra. Atualmente outros métodos também são utilizados como, por exemplo, a

publicação de e-books gratuitamente pelo sistema KDP (Kindle Direct Publishing) promovido pela Amazon; a contratação de “editoras-impressoras”, que visam

exclusivamente à impressão do livro sob demanda, sem se relacionar com a parte textual da obra; e a autopublicação de livros físicos, através da qual o autor assume, também, o

papel de “editor”, determinando quando o livro está pronto para ser publicado,

contratando profissionais (revisores, capistas, diagramadores e preparadores de texto), escolhendo a gráfica para imprimir o seu material, determinando a tiragem e cuidando da divulgação, ou seja, arcando completamente com os custos da própria publicação e adquirindo conhecimento sobre diversos processos editoriais.

Entretanto, apesar de tantas alternativas de publicação, alguns autores ainda

visam uma publicação tradicional, por conta de uma série de motivos, dentre eles, o

capital simbólico e econômico promovidos por um selo editorial, além da confiança prévia do público na marca. Sendo assim, diversos autores que poderiam ser chamados de “independentes”, ou seja, aqueles que, conforme descrevemos acima, desempenham,

em um primeiro momento, o papel de editores para si mesmos, ainda valorizam e buscam o reconhecimento de uma editora tradicional1 (BRUST, 2014). Em alguns casos, conforme temos observado, sua proeminente atuação nesse processo de auto-

divulgação e auto-venda através de canais digitais leva à formação de um público consumidor de suas obras. Nesses casos, os autores outrora “independentes”, sem

vínculo com editoras, são convidados por editoras tradicionais a se tornarem autores da casa. Conforme observamos, isso tem ocorrido a partir da visibilidade que esses autores

atingem na internet e, principalmente, nos sites de redes sociais, tornando, dessa forma,

o risco mercadológico menor para a editora – uma vez que esses autores já conquistaram certo público.

O termo “tradicional”, nesse contexto, é utilizado para se referir às editoras que passam por diversos processos editoriais ao decorrer da produção do livro. Ou seja, aquelas que trabalham o material a partir do texto até a chegada nas livrarias. Trata-se dos métodos de editoração do material. 1

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Diante desse contexto, a fim de entender como o mercado editorial se posiciona

optamos por fazer um estudo de caso sobre três autores que iniciaram suas carreiras de

forma independente e que agora são publicados pelo Grupo Editorial Novo Conceito,

uma empresa de médio porte focada em literatura de massa ou entretenimento2 voltada para o público jovem. A escolha foi feita por conta de um movimento vindo da editora, a fim de abraçar autores iniciantes e “independentes”.

A editora criou o selo “Novas páginas3” para os novos nomes do mercado de

livros brasileiros com a promessa de ser vanguardista dentre as grandes editoras na

valorização da literatura brasileira e seus autores, além de ter como meta inicial a publicação de um livro nacional por mês.

Por se tratar de um catálogo abrangente, este trabalho vai focar exclusivamente

nos autores Maurício Gomyde4, Lu Piras5 e Vanessa Bosso6, que publicaram livros anteriores de forma “independente”, isto é, sem a mediação de uma editora, e que, por

uma série de motivos que serão aqui investigados, conseguiram chamar a atenção de uma editora tradicional7 e ter as suas obras publicadas pela mesma.

Dessa forma, nosso objetivo principal é entender, a partir dos autores e editora

selecionados, as estratégias de autopromoção que os próprios autores utilizaram na internet, e mais especificamente, nos sites de redes sociais, para conseguirem dialogar

com seu público-alvo, divulgar suas obras e de fato criar um público consumidor suficientemente interessante – em termos tanto quanti quanto qualitativos – para que

fossem convidados pela editora a fazerem parte de seu catálogo. Tal objetivo está relacionado diretamente com o problema / questão central desta pesquisa: como novos autores se apropriam das mídias sociais para divulgarem suas obras, retirando a

necessidade de uma editora que desempenhe tal papel e, por outro lado, conquistam a Posteriormente iremos problematizar tais conceitos neste trabalho. http://www.editoranovaspaginas.com.br/. 4 Maurício Gomyde é autor de quatro livros publicados de forma independente. Em 2014 lançou o seu primeiro romance, A máquina de contar histórias, pelo selo Novas Páginas do Grupo Editorial Novo Conceito. 5 Lu Piras fez campanha através de blogs literários para que seus livros fossem publicados. Equinócio, seu romance de estreia, foi publicado pela Editora Dracaena que, apesar de possuir um selo editorial, trabalha conforme demanda e não custeia integralmente a produção dos livros de seus autores. Sendo assim, pode ser wconsiderado independente por este trabalho. Em 2014 passou a integrar o time de autores da Editora Novo Conceito com o livro Um herói para ela. 6 Vanessa Bosso possui mais de 10 livros publicados de forma independente. Dentre eles, destaca-se a utilização do sistema Kindle Direct Publishing da Amazon, bem como o reconhecimento da empresa por suas obras. Em 2014 publicou o seu primeiro livro, O homem perfeito, dentro de um selo editorial. 7 Apesar do nome da editora em questão, neste trabalho, a editora Novo Conceito será tratada como uma editora tradicional devido aos métodos de produção. 2 3

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atenção de editoras tradicionais a partir desta visibilidade? Que estratégias de autoapresentação utilizam para tal? Intrínseco a esses questionamentos está presente o

reposicionamento da editora em relação ao catálogo de livros nacionais, que, interessada nos movimentos autorais na internet, deu a oportunidade de uma publicação dentro dos moldes tradicionais para esses autores.

Nesse sentido, trabalharemos com a hipótese de que o autor, para obter destaque

no concorrido mercado editorial, precisa construir um tipo de imagem que possa ser interessante para “gerir o eu como uma marca”. Dessa forma, consideraremos dois

aspectos para sustentá-la: 1) a forma como estes autores usufruem dos sites de redes

sociais, considerando tanto a divulgação de seus livros, quanto a exposição de sua imagem enquanto indivíduo fora do universo literário, expondo a sua vida pessoal e 2) a

disponibilidade e atenção para com os leitores, gerando uma potencial interação direta com os compradores e divulgadores de seus produtos.

Para empreender tal pesquisa, o método utilizado será de mapear e realizar uma

análise sobre as estratégias de auto-apresentação online dos autores citados acima, que

deixaram de ser independentes por conta da publicação no Grupo Editorial Novo Conceito. Tal plano consiste na observação dos perfis do Facebook e Twitter criados e utilizados por esses autores. O trabalho também será ancorado em um estudo

bibliográfico, onde contextualizaremos o mercado editorial da contemporaneidade,

assim como buscaremos entender o impacto das mídias sociais para impulsionar a divulgação dos autores.

Cabe também ressaltar o envolvimento direto da pesquisadora com o tema, uma

vez que também atua como autora independente no mercado editorial brasileiro e, por

conta deste fator, possui o conhecimento empírico acerca dos processos de construção de público para as obras.

O primeiro capítulo abordará o mercado editorial brasileiro contemporâneo. Para

compreendê-lo, faremos um breve levantamento histórico. Em seguida, será feita uma

análise sobre o lugar do livro físico em uma cultura que tem se tornado cada vez mais

digital. A partir de então, partiremos para a reconfiguração do mercado editorial diante

desse novo cenário. E, para finalizar, focaremos na literatura de entretenimento, voltada, mais especificamente para livros que visam atingir o público jovem.

O segundo capítulo será ancorado em conceitos teóricos e valores-chave

disputados nos sites de redes sociais, levando em conta os aspectos que cercam a autoapresentação e construção identitárias nesses espaços, assim como a questão da

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visibilidade e exposição de si na rede. Também recorreremos aos conceitos de Recuero (2009) acerca dos laços sociais na rede de contatos, visando um melhor entendimento da relação entre público e autores.

No capítulo final deste trabalho, partiremos para a parte empírica de pesquisa,

onde analisaremos detalhadamente cada um dos autores escolhidos para compor este quadro. Para isso, utilizaremos os conceitos e embasamento teórico abordados nos dois capítulos anteriores, dialogando com os autores citados, bem como outros pertinentes à análise.

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Capítulo 1: Panorama do mercado editorial brasileiro contemporâneo Para entendermos o mercado editorial brasileiro da contemporaneidade,

precisamos, inicialmente, fazer um breve levantamento histórico, buscando definir termos e compreendermos as origens que levaram à reconfiguração mercadológica atual. Para tal, o levantamento será feito a partir da segunda metade do século XX. O

momento histórico foi escolhido a partir dos dados divulgados pelo IBGE no que tange à publicação de livros por habitantes ao ano. Em 1960, a totalidade de livros publicados

anualmente era de 36,3 milhões. Como a população brasileira chegava aos 65,7 milhões,

estima-se que o número de livros por habitante girasse em torno de 0,5 (REIMÃO, 2001), conforme mostra a tabela abaixo.

Tabela 01. Relação livros por habitante/ano em alguns anos da década de 1960.

1960

População no Brasil Tiragem total de Livros por hab./ano livros publicados 65 743 000 36 322 827 0,5

1962

74 096 000

Ano 1961 1963 1964

36 322 827

0,4

74 409 000

54 222 606

0,7

78 809 000

1967 1969

71 868 000

86 580 000 92 282 000

Fonte: Sandra Reimão, 2001.

66 559 000 51 914 564

154 899 852 68 583 400

0,9 0,6

2,1

0,7

Sendo assim, nota-se, na década de 60, um mercado ainda pouco movimentado

em relação à produção de livros, com uma indústria editorial ainda bastante incipiente.

A partir de então, o número de publicações anuais por habitantes tem se tornado gradualmente mais expressivo. Além disso, a partir desse mesmo período, inovações

foram implantadas na indústria editorial no que tange a questões como marketing e divulgação.

Dessa forma, pretendemos traçar uma breve trajetória da data em questão até os

dias de hoje, discutindo a indústria editorial que se consolidou e que vem a se

reconfigurar a partir do advento da internet e novas possibilidades de publicação. Cabe aqui discutir aqui especificamente a realidade brasileira, ainda que, claro, relacionando-

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a a outras partes do mundo. Ao término do capítulo, focaremos em questões

relacionadas ao tipo de livros que interessam a esse trabalho: o segmento de literatura de entretenimento.

1.1. Breve história do mercado editorial brasileiro Para iniciarmos esta seção, traremos uma definição do que entendemos enquanto

“mercado editorial”. Partindo do princípio utilizado por Fernandes e Gonçalves,

definiremos que: “o setor editorial compreende todas as atividades relacionadas à

publicação de livros, por intermédio das editoras e gráficas, até a disponibilização do livro por distribuidores e livrarias” (FERNANDES E GONÇALVES, 2011, p. 39). Sendo assim, compreendemos que o mercado editorial lida com uma gama de

profissionais que vão além de autores e editores, compreendendo também gráficos, bibliotecários, atacadistas, livreiros, leitores, dentre outros agentes. Cada agente do

processo envolve desde a produção do produto livro, passando pela distribuição do material, até chegar às mãos do leitor, possuindo sua devida importância para que essa cadeia de produção, circulação e consumo funcione.

O início da segunda metade do século XX foi marcado, principalmente, por

resquícios da Segunda Guerra Mundial, quando o mercado nacional de livros passou a

vivenciar uma fase de recessão, após um período que Hallewell denominou de “surto de leitura durante a guerra” (HALLEWELL, 2012). As editoras de livro pareciam não estar acompanhando a dinâmica mercadológica dos bens culturais daqueles anos. O mercado

editorial enfrentava sérios problemas por conta da concorrência com os outros meios de

comunicação e falta de apoio por parte do governo, que preferia beneficiar as empresas jornalísticas e de revistas. Além disso, existia certo "temor" em relação aos outros meios de comunicação da época acabarem tomando o lugar – mesmo que ainda pequeno – do

livro. Tal afirmação pode ser constatada a partir de um trecho extraído do jornal Diário de Notícias, em 1952:

Ouvem-se muito e a todo momento, frases assim: “Cada vez se lê menos no Brasil”; “Cinema, rádio, teatro e revistas ilustradas estão matando o livro”. “Perto de 100 editoras fecharam suas portas no ano de 1951” por falta de mercado. Autores, editores e livreiros têm promovido debates públicos e o problema se mantém de forma idêntica, surdo o governo às necessidades culturais do país (Diário de Notícias, 1952, apud LABANCA, 2010, p. 3).

Para sanar tal problema, cabia às casas editoriais reverem o seu posicionamento

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perante o mercado, deixando de lado o "status de nobreza cultural" e reconhecendo o livro enquanto um produto, uma mercadoria comum, além de buscar uma maior aproximação com a lógica do mercado de bens culturais moderno.

Entretanto, ainda assim, o livro no Brasil continuava enfrentando problemas. De

acordo com Labanca (2010):

no editorial intitulado “Os inimigos do livro”, Silveira irá deixar claro contra quais entraves lutavam os editores brasileiros. Para ele, eram de três tipos as dificuldades enfrentadas no mercado de livros no país: culturais (analfabetismo, desinteresse, autodidatismo, etc.), materiais (carestia de vida, dificuldade de transporte, etc.) e puramente técnicos (métodos de produção ainda não totalmente racionalizados, dificuldades para a importação de papel). O editor acreditava que a crise do livro se explicava por uma conjunção da “crise econômica nacional” com uma “crise cultural” vivida pela sociedade brasileira. Ou seja, sem poder aquisitivo, a classe média não consumia livros, produtos considerados supérfluos, embora investisse em outros produtos que não são de primeira necessidade para “manter as aparências” (LABANCA, 2010, p. 5).

O trecho extraído versa a respeito do editor Ênio Silveira, que assumiu a editora

Civilização Brasileira em 1963, personagem importantíssimo para condicionar as

mudanças que estavam por vir no mercado editorial brasileiro. A partir de tal citação é

possível constatar que, além das questões que dizem respeito à logística mercadológica, também é possível ressaltar que o interesse da população brasileira estava longe de

priorizar o livro, por considerá-lo um bem supérfluo, dando preferência a outros bens de consumo, mesmo que eles também não fossem essenciais para a sua sobrevivência.

Nessa época, alguns editores, tal como Ênio Silveira, visavam uma mudança

radical no mercado de livros. Mais do que um profissional que consegue escolher aquilo

que tem potencial para ser um sucesso intuitivamente, é também necessário alguém que

se baseie em práticas gerenciais modernas para conduzir o negócio, um manager. Para

isso, esse empresário ficaria atento às pesquisas de mercado, técnicas de marketing e publicidade de seus produtos.

Ênio Silveira buscou conscientizar os editores a respeito daquilo que eles

poderiam fazer para revolucionar este mercado, mesmo que sem a ajuda estatal. A

primeira medida que ele sugere é a criação de verbas destinadas à pesquisa de mercado, visando atender às necessidades do público consumidor. Além disso, Silveira também

desempenhou papel fundamental no que diz respeito à estética do livro. A partir da publicação de Lolita, do autor russo Nabokov, o editor se aliou ao capista Eugênio

Hirsch, fazendo com que a capa tivesse forte apelo visual para o leitor. A questão da

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identidade visual do livro começa, então, a ganhar destaque no momento de pensar a

produção editorial. Por último e não menos importante, Silveira também valorizou a

distribuição de livros que, até então, era muito concentrada no eixo Rio-São Paulo e em poucos outros estados brasileiros.

Os anos 1960 foram marcados por uma expansão no mercado editorial

brasileiro, devido ao número de casas editoriais brasileiras, principalmente no que tange

ao setor de livros didáticos, bem como a quantidade de livros distribuídos. De acordo com Sphor (2009) este crescimento refere-se ao aumento do número de publicações, relativo ao número de títulos e quantidade de exemplares, independente da média de tiragem ser ou não alterada (SPHOR, 2009 apud SALGADO, 1994).

A década é marcada por efervescência política devido ao Golpe Militar de 1964

que, diferentemente do esperado, em um primeiro momento, não afetou diretamente as

atividades culturais do país. Nas palavras de Sandra Reimão: “Durante os primeiros quatro anos do Regime Militar conviviam um governo “de direita” e a presença, nas telas de cinema, nos teatros, nos shows e nas livrarias, de várias obras que faziam críticas a este mesmo regime” (REIMÃO, 1996, p. 15). Até então, a censura a livros no

Brasil ocorreu de forma confusa, sem critérios claros estabelecidos e sem uma regulamentação.

Somente com o decreto do AI-5, em 1968, que a produção cultural brasileira

passa a ser efetivamente perseguida. Entretanto, ao mesmo tempo em que a cassação de livros se torna mais forte e evidente, é, também, o momento do chamado “Milagre Econômico”, o que acarreta em uma maior produção literária dentro do território

nacional. É na década de 1970 que, pela primeira vez, o Brasil ultrapassa a taxa de um livro por habitante ao ano (REIMÃO, 1996).

Um dos apontamentos que podem ser feitos a respeito dessa década versa a

respeito dos meios de comunicação de massa, sendo o seu principal representante a

televisão. Ao contrário do que as décadas anteriores pensavam a respeito do investimento do governo em outros meios de comunicação, que não o livro, a televisão

acabou por desempenhar um papel importante no que tange à venda de livros no país. Nas palavras de Reimão: “A expansão e o caráter francamente dominante da televisão

como principal meio de comunicação no Brasil favorecem um determinado segmento

no mercado livreiro e nas listas de best-sellers: o de autores de forte presença na televisão” (1996, p. 65).

Uma das questões de interesse deste trabalho pode ser indagada a partir de tal

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citação, uma vez que a partir da década de 1970 começa a ganhar destaque, no que diz respeito à vendagem de livros, autores que abandonam o status de “o intelectual por trás do livro” e aparecem enquanto personagens, no sentido de atuar, buscando criar uma

persona interessante para um público. Isso era feito através dos meios de comunicação

que podiam oferecer maior visibilidade, como a televisão. Indagamo-nos, assim, se tal

dinâmica não pode ser atualizada para o contexto dos sites de redes sociais, entendendoos como configuradores de um lócus privilegiado na contemporaneidade para a autopromoção.

Os anos 1990 trouxeram uma novidade para o mercado editorial brasileiro: a

implementação das megalivrarias. Essas lojas ficam localizadas principalmente em

shopping centers e também atuam como megastores, vendendo, além de livros, CDs, computadores, televisores etc.

Outro fenômeno interessante desta década foi a presença de autores nacionais

ocupando quase metade da lista dos best-sellers internacionais, de acordo com a

pesquisa levantada por Sandra Reimão (2001). A autora aponta como um dos possíveis catalisadores de tal evento a presença do autor Paulo Coelho nas listas, que serviu para estreitar os laços entre leitores e autores, uma vez que ele possuía vontade de vender e

aparecia para o público, oferecendo palestras e eventos de autógrafos. Além disso, a

tendência originada nos anos 1970 se mantém: as listas de best-sellers são constituídas por autores que conseguem marcar forte presença na mídia, principalmente na televisão,

mas não se excluem os outros meios de comunicação. Entretanto, o papel da TV se reforça, passando a adaptar, inclusive, obras literárias e impulsionando vendas a partir

disso (REIMÃO, 2001), tendência que, por sinal, é vista até o momento de realização desta pesquisa8.

Por fim, podemos traçar um paralelo com o mercado editorial do século XXI, no

qual as inovações iniciadas nas décadas passadas permanecem configurando o mercado

editorial brasileiro. No que diz respeito às grandiosas campanhas de marketing,

principiadas nos anos 1970, percebemos que passam por novas mudanças e encontram na internet um novo e poderoso aliado, possibilitando a ampliação do que entendemos

enquanto divulgação de livros, uma vez que as ferramentas se tornam cada vez mais plurais. Além disso, percebemos que a interação entre autores e leitores não é um

Por exemplo, o apresentador de programa Jô Soares chegou ao topo da lista dos mais vendidos com o seu livro “As esganadas”. Disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/mercado/josoares-chega-ao-topo-com-as-esganadas/. 8

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fenômeno exclusivo dos dias atuais. Entretanto, os autores se tornaram mais

“presentes”, uma vez que, agora, os leitores podem acompanhar sua vida e seus

pensamentos com o auxílio dos sites de redes sociais, onde autores e leitores podem compartilhar ideias, muitas vezes antes mesmo de os livros serem publicados oficialmente por uma casa editorial. No que diz respeito às editoras, nota-se o mesmo. As interações se tornaram mais próximas e os leitores ganharam mais “voz”. Assim, o leitor pode dizer o que quer e o que não quer ler, indicar autores e até mesmo auxiliar na confecção do livro (AZEVEDO, 2014).

1.2 O segmento de “literatura de entretenimento” O livro, enquanto um bem simbólico, dotado de uma “aura” — pois se trata de

uma produção cultural e artística — também é um bem material, produzido e comercializado de acordo com as leis do mercado. Sendo assim, o livro enfrenta um

processo de criação, por parte do autor que o escreve, bem como está inserido em processos industriais por parte da editora que o contrata. Dessa forma, trata-se de um bem de consumo que, para sobreviver, precisa manter o interesse do público.

O termo “literatura de entretenimento” ou “literatura de massa” serve para

caracterizar um tipo de produção literária que, seguindo alguns moldes, se tornam dotadas de potencial para obter sucesso comercial. Cabe ressaltar que o objetivo aqui não é qualificar nem desqualificar os termos que são propostos. Acredito que a “alta

literatura”, bem como a “de massa” possuam a devida importância, dependendo de seus

objetivos. Assim como são escritas e destinadas em geral a públicos distintos, ambas possuem espaço dentro do mercado editorial, podendo, portanto, coexistir de forma pacífica. Além disso, muitas vezes apostar em literatura de entretenimento é interessante para as editoras, pois conseguem com isso um maior número de exemplares vendidos e

podem, assim, inclusive financiar publicações de livros da considerada “alta literatura” (PAZ, 2004).

Porém, mais importante do que financiar cânones, a missão mais valiosa da

literatura de entretenimento consistiria em estimular as pessoas a ler. Em uma lista dos

livros mais vendidos do site Publish News na semana de 11/05/2015 a 17/05/20159 não Disponível em: . Último acesso em 17 de junho de 2015. 9

19

se encontra nenhum “clássico” entre eles. Os cinco primeiros lugares estão ocupados por:

Livro

Editora

Exemplares vendidos

Cidades de Papel

Intrínseca

2529

Toda luz que não podemos ver

Intrínseca

3935

Se eu ficar

Novo Conceito

2301

Para sempre Alice

Nova Fronteira

1706

Para onde ela foi

Novo Conceito

1828

Tabela 02 – Lista de livros mais vendidos na semana de 11/05/2015 segundo o site

Publish News

É interessante observar que todos os livros são considerados literatura de massa,

e com exceção da editora Nova Fronteira, as demais são conhecidas justamente por produzirem best-sellers. Conforme afirma Paz: “Investir e incentivar a literatura de

entretenimento como uma primeira etapa que precede o leitor médio para textos mais significativos é uma alternativa mais interessante e mais produtiva do que fazer da

literatura um dever” (PAZ, 2004). Sendo assim, não se pode ignorar a importância desse mercado.

Dessa forma, Muniz Sodré (1985) estabelece:

Vamos esquecer, entretanto, maiúsculas e minúsculas e adotar como representativas de fenômenos diferentes de produção e reconhecimento de textos as expressões “literatura culta” e “literatura de massa”. Como sinônimas desta última, poderemos usar também as expressões “best-seller” e “folhetim” (SODRÉ, 1985, p. 5-6).

Segundo o autor, para um livro ser enquadrado dentro de um desses dois termos,

não basta se afirmar enquanto tal; é preciso que ele seja reconhecido dessa forma pelo

seu público. Ou seja, não se trata de uma caracterização própria da produção, mas, sim, da esfera do consumo.

Cabe considerar que a literatura de entretenimento, termo que escolhemos

utilizar, é pautada em uma série de características textuais que visam facilitar a leitura, tornando-a mais leve e, nem por isso, dotada de menos críticas ou reflexões. As técnicas

utilizadas por esses escritores, inicialmente chamados de folhetinistas10, foram os

conteúdos fabulativos (SODRÉ, 1985, p. 15). Na prática, trata-se de uma estrutura 10

Figura a qual o editor recorria quando objetivava vender.

20

muito comum em diversos campos midiáticos, como o cinema hollywoodiano, por exemplo, bem traduz. A narrativa é estruturada em cima do princípio tensão-desfecho,

no intuito de manter o leitor interessado na história, deixando-o curioso a respeito do conteúdo que vem a seguir e despertando a sua sensibilidade. Quando busca realizar reflexões sociais, elas aparecem enquanto discursos da história, através de diálogos e

personagens, que, por sinal, se configuram enquanto elementos chave em obras desse cunho.

Dentro do conceito de “entretenimento” estão enquadrados tanto os autores que

servirão como base para o presente estudo, assim como a editora que iremos investigar,

Novo Conceito, que aposta em publicações, principalmente de best-sellers, como, por

exemplo, o autor norte-americano Nicholas Sparks11, cuja linha editorial pode ser enquadrada dentro do gênero “romance sentimental” e “comédia romântica”12.

O importante a ser ressaltado em relação aos livros que visam o entretenimento,

retomando Muniz Sodré, é que o reconhecimento não virá em geral em formato de críticas literárias, mas mais pelo apreço do público-leitor. Uma vez que o selo de

aprovação vem através do próprio leitor, qualificando-o dentro de sua área de atuação,

ou seja, determinando se o livro é bom ou ruim de acordo com sua proposta, a interação prévia com o público funciona como um termômetro fundamental para as editoras que

optaram por investir em jovens autores nacionais. Afinal, a escolha dos livros (ou autores) por parte da editora conta, também, com a opinião dos leitores que interagem nos sites de redes sociais. De acordo com Azevedo “Os jovens indicam novos autores,

são consultados sobre os títulos a serem publicados, votam na escolha das capas, no formato, chegando a influenciar a agenda de lançamentos” (2014, p. 12).

Uma vez que determinados autores auto-publicados conseguiram conquistar um

público relevante, consagrando-se na internet, é provável que o autor continue atingindo bons números de venda em parceria com uma casa editorial. Dessa forma, o

investimento da editora no autor seria benéfico para todos os agentes do meio editorial: autor, leitor e editora.

Apesar de em 2011 os direitos de publicação do autor Nicholas Sparks terem ido para o Grupo Sextante, em uma disputa que girou em torno de 1,5 milhões de dólares, o Grupo Editorial Novo Conceito publicou oito livros do autor. O autor possui um catálogo extenso, até a presente data, em 2015, nove de seus livros foram adaptados para o cinema. Graças ao autor, a editora ganhou notoriedade no mercado de livros, não sendo incomum ouvir dos fãs que a Novo Conceito “só” publica o Nicholas Sparks. 12 Entendemos que os conceitos de gêneros são híbridos, difíceis de serem limitados dentro de uma única categoria. Entretanto, a fim de contextualizar a seleção de livros, optamos por caracterizá-las dessa forma, mesmo que isso não signifique que nenhum outro gênero possa ser encontrado dentro de suas histórias. 11

21

1.3. O fim do livro com a cultura digital? Um assunto que tem sido muito debatido na indústria editorial contemporânea

diz respeito ao surgimento dos livros digitais e seu impacto na produção e consumo de

livros físicos. Enquanto para alguns os primeiros iriam substituir por completo os segundos, servindo como uma ameaça ao livro “tradicional”, para outros há a possibilidade de coexistência de ambos formatos. É importante destacarmos que a

criação do livro digital está longe de ser a primeira “revolução” pela qual o livro passou.

Antes mesmo da criação dos tipos móveis de Gutenberg, que tornaram o processo de reprodução dos livros mecanizado, mais rápido e eficaz, o livro já havia passado por diversas mudanças, tanto no material utilizado quanto no formato.

A invenção de Gutenberg proporcionou grandes benefícios, como a reprodução

rápida e de melhor qualidade do original, que, até então, eram reproduzidos

manualmente ou a partir de impressões feitas de materiais de baixa resistência, como

madeira e cerâmica, que estragavam rapidamente. A invenção de Gutenberg foi uma das principais revoluções sofridas pelo livro, mas vale cabe ressaltar que a substituição do

rolo de papiro ou de pergaminho pela encadernação dos livros, de forma que se escrevesse dos dois lados da folha e facilitando o manuseio do material, também foi uma importante inovação.

Tais revoluções servem como modelo que configuraram o formato do livro

como conhecemos até hoje. E, assim como as questões relacionadas ao livro digital, tais

revoluções também sofreram restrições quando começaram a ser disseminadas (GUEDES ET AL., 2013).

Os livros digitais surgiram na década de 1970, a partir do projeto denominado

Gutenberg13. Tal projeto, criado pelo norte-americano Michael Hart, visava a preservação e distribuição de conteúdo, partindo do livro impresso para o digital,

constituindo-se, assim, em uma biblioteca digital. Entretanto, esse novo formato de livro se tornou expressivo apenas décadas mais tarde e não se limitou a ser apenas uma ferramenta de digitalização de livros impressos. Mais do que isso, esse formato

possibilitou a criação de livros exclusivamente digitais, os chamados e-books. Com o

auxílio do computador e softwares de formatação de texto, os livros passaram a ser O Projeto Gutenberg foi fundado em 1971, com o objetivo de digitalizar, arquivar e distribuir obras culturais de forma gratuita de livros eletrônicos. O projeto continua em vigor até hoje. < https://www.gutenberg.org/> . 13

22

escritos no próprio ambiente virtual, e / ou criados no intuito de serem transformados em e-books.

Além dos próprios livros digitais, abriu-se espaço também para um novo suporte

para esses livros, os aparelhos eletrônicos chamados e-readers. Tais aparelhos possuem como a principal função armazenar e permitir a leitura de vários livros digitais, em geral possibilitando também que haja interações entre leitor e texto, através de marcações,

comentários, dentre outros. Apesar de os livros digitais poderem ser consumidos através do computador, Ipads e smartphones, os e-readers inovam no mercado por serem um suporte voltado exclusivamente para a leitura e, portanto, dotado de características que tornam essa atividade potencialmente mais confortável para o leitor.

Muito se discute, assim, a respeito do futuro do livro impresso por conta do

avanço tecnológico que propiciou a criação de e-books ou livros eletrônicos. Entretanto, cabe aqui pontuar que se tratam de dispositivos diferentes que podem se adequar a

finalidades distintas, pois, até então, o mercado tem provado que existe espaço tanto

para um quanto para o outro, uma vez que a substituição de um artefato tecnológico por outro acontece somente se o interesse do público deixar de existir para um deles.

Em uma comparação entre os livros digitais e os livros impressos, os e-books

apresentam a vantagem do suporte. Com o auxílio dos dispositivos de leituras para esse tipo de material, o armazenamento de conteúdo torna-se superior, pois não ocupa espaço, além de não apresentarem dificuldades quanto ao transporte do suporte. Além

disso, o livro digital também pode apresentar características de hipertexto, permitindo

associar elementos de linguagens distintas, criando uma narrativa multimídia com apenas um clique de botão (PRATA, 2014). Dessa forma, os livros eletrônicos suprem demandas que os livros impressos não têm capacidade para atender (GUEDES ET AL. , 2013), proporcionando experiências diferentes de leitura.

Os livros impressos, no Brasil, possuem a vantagem do preço mais competitivo.

Por não possuirmos ainda um mercado maduro de e-books14, muitas vezes, o valor do ebook e do livro físico é praticamente o mesmo. Além disso, com os livros digitais,

perde-se certa ideia de “autonomia” que se tem com os livros impressos. Por exemplo, o ato de emprestar um livro, sendo este digital, é uma tarefa difícil de ser realizada. A Amazon, apesar de possuir uma ferramenta de empréstimo de livros – que seria uma atividade pioneira – não favorece a totalidade de seu catálogo. No caso de livros de

O mercado de e-books no Brasil até 2014 apresentava apenas 3% do total de venda de livros no país. Disponível em: http://hypescience.com/ebook-x-livro-papel/. Último acesso em 19. Mai. 2015. 14

23

autores independentes fica a critério do próprio autor a decisão de disponibilizar a

ferramenta de empréstimo ou não. Isso também fica a critério das editoras em relação a seus catálogos. De acordo com Virgínio e Nicolau (2012):

O que encontramos no mercado atual de livros digitais são uma série de empecilhos surgidos a partir das práticas mercadológicas impostas pelas editoras que se lançaram no mercado dos livros digitais e descaracterizaram as propriedades de um livro impresso (VIRGINIO E NICOLAU, 2012, p. 7).

Tal apontamento se dá por conta da ameaça da pirataria, um dos grandes

problemas relacionados aos livros digitais. Com medo de perder boa parte dos lucros, as editoras limitam ao máximo a liberdade do leitor com os e-books (VIRGINIO E

NICOLAU, 2012). Isso significa que as diversas empresas que produzem os seus e-

readers tiveram como estratégia utilizar diferentes formatos de e-books. O exemplo mais notável é o leitor digital da Amazon, o Kindle, que só trabalha com o formato .mobi, ainda que o formato Epub tenha sido criado para ser universal. As editoras

buscam usar formatos específicos, de forma que que só sejam lidos pelos leitores digitais criados por elas mesmas.

Dessa forma, o crescimento do mercado de livros digitais depara-se com sérios

problemas, que certamente não atingem os livros impressos. Uma vez que os preços dos

e-books não são tão atrativos, existem muitas restrições em relação ao aparelho de leitura. Além disso, muitos leitores já estão acostumados ao formato impresso, mantendo a preferência por livros impressos.

De acordo com Guedes et al. “digital e impresso quase se completam,

proporcionando ao leitor um leque maior de opções e facilidades, de acordo com os seus

interesses pessoais” (2013, p. 4). Sendo assim, entendemos que os livros digitais não chegaram para eliminar a existência dos livros impressos. “Por toda a história da comunicação, nenhuma mídia superpôs-se a outra. Mas algumas adaptações são feitas” (PRATA, 2014).

A história dos livros, independentemente de formatos, está longe de terminar de

ser escrita. Os e-books e livros físicos devem ser entendidos como aliados tanto para o mercado quanto para a sociedade, pois ambos funcionam como ferramentas

mercadológicas de disseminação de informação e de cultura, cada um com suas linguagens e modos de fruição. Afinal, não se pode deixar de considerar que ao decorrer

de sua trajetória, essa história é “feita de renascimentos e mortes sucessivas: a morte do rolo em favor do códice, do manuscrito em favor do impresso, etc. Numa estranha

24

forma de metempsicose, o morto sempre retorna.” (GONÇALVES; TIMPONI,2012). 1.4. Auto-publicação A auto-publicação de livros é uma forma alternativa de publicação realizada por

autores denominados “independentes”. O termo independente se dá por conta de o autor não possuir o apoio de uma casa editorial tradicional, ou seja, uma editora que arque com os custos do seu trabalho, desde o momento de “lapidação” do original, até a

distribuição de seus livros, não deixando de passar, é claro, pelas práticas de marketing necessárias para que determinado livro tenha uma chance maior de se tornar conhecido pelo público leitor.

Entretanto, não se pode afirmar que a auto-publicação de livros é uma prática

atual. Autores como James Joyce e Marcel Proust, hoje consagrados, já utilizaram essa prática anteriormente15.

Nas palavras de Pablo Guimarães de Araújo (2011): Escrever um livro, enviar o texto para as editoras, aguardar ansiosamente por um retorno, receber uma resposta negativa e, após um período, decidir investir financeiramente para viabilizar a publicação. A auto-edição ou auto-publicação não é uma prática nova, já foi utilizada por escritores consagrados no início de suas trajetórias e constitui o principal caminho dos autores denominados independentes, que por não conseguirem espaço no catálogo das editoras ou por discordarem das condições oferecidas ao autor nas cláusulas dos contratos de edição financiam parcial ou integralmente a edição de seus livros. (ARAÚJO, 2011, p. 1).

De acordo com Araújo, a auto-publicação de livros ocorre, principalmente, por

autores que não conseguiram espaço dentro de um catálogo de uma editora. Entretanto,

isso seria uma verdade parcial, pois não se pode afirmar que todos os autores independentes tentaram uma publicação tradicional antes de optar pela auto-publicação.

Muitas vezes, os autores escolhem arcar com os custos, visando, inicialmente, atingir

um público, para que, aí sim, a publicação por uma casa editorial torne-se uma realidade

possível. Nesse caso, poderia ser interpretada como uma estratégia de marketing por

parte de autor. Uma vez que atingir destaque, o autor pode ser convidado a integrar a Disponível em: . Acesso em 23 de Abril de 2015. 15

25

equipe de autores de uma editora. Assim como é o caso do autor Maurício Gomyde, cujo estudo será detalhado posteriormente neste trabalho.

Também há casos de autores que optem pela auto-publicação visando uma maior

obtenção de lucros a partir do seu trabalho. De acordo com Brust “ele (o autor) pode ter

visto nela uma oportunidade – levando-se em consideração o total controle sobre a obra e as possibilidades de royalties maiores do que os que receberia na publicação tradicional” (2014, p. 30).

E, por fim, também não deve ser desconsiderado que, às vezes, a auto-

publicação é o único caminho encontrado pelo autor, no desejo de ver a sua obra

publicada, pois não há garantias de retorno de respostas — ainda mais positivas — por parte da editora. Assim, cansados de esperar e de respostas negativas, os autores optam por produzirem seus livros sozinhos.

Sendo assim, podem ser pontuadas duas questões no que envolve a

reconfiguração da indústria diante desse modelo que tem se afirmado, cada vez mais, como uma alternativa válida para a produção de livros. A primeira delas versa a respeito do papel do autor na contemporaneidade, uma vez que, além de escritor, também pode

atuar como o seu próprio editor e, até mesmo, vendedor. A segunda é sobre a própria prática da auto-publicação, que tem se tornado mais comum e obtido destaque como

forma de publicação, uma vez que editoras jovens como, por exemplo, o Grupo

Editorial Novo Conceito ou a editora Madras, têm valorizado tais práticas e convidado autores independentes a se tornarem autores da casa. 1.4.1 O papel do autor Até a segunda metade do século XVII, não existia a profissionalização da

escrita. Os escritores antecessores deste período eram considerados meros reprodutores

dos textos que escreviam, pois tal ato era encarado como uma “revelação da palavra divina”, sendo considerado apenas reprodução de conteúdo, dessa forma, desprovido de

originalidade, já que era sinônimo de reescrever. Assim, não existia uma forma de

pagamento que validasse a escrita de livros enquanto uma atividade profissional (LEWKOWICS, 2013, p. 10).

Entretanto, no momento em que se consolida uma “economia da escrita”, os

escritores passam a receber benefícios ou cargos por seu trabalho. Caso não fossem nobres, eles ofereciam uma dedicatória a membros da aristocracia e, assim, seriam

26

“patrocinados” pelos mesmos. Dessa forma, a remuneração era dada pela “honra” de ter uma obra dedicada a um nobre, podendo o escritor receber uma pensão, de forma que pudesse sobreviver, ou um cargo político em troca disso.

É nesse momento que o ato de escrever se torna uma atividade profissional.

Entretanto, assim como hoje, a profissão não é pautada sobre um salário. Se a partir da segunda metade do século XVII o autor passa a viver de benefícios, hoje, o autor vive de direitos autorais, que são pagos, geralmente, a cada três meses. Exceto em casos

pontuais, os escritores complementam sua renda através de cursos de escrita criativa,

escrevendo matérias em periódicos e palestras. Sendo assim, será que poderíamos, de fato, considerar o ato de escrever livros uma profissão?

O título de “autor” aparece somente quando a dedicatória perde a importância e

se torna a principal fonte de apresentação de seu nome. Segundo Chartier (1998), na língua inglesa o termo author remete diretamente à ideia daquele cujo próprio nome

confere identidade e autoridade sobre a obra. Além disso, o mercado editorial se torna

mais complexo. Enquanto o trabalho do autor era focar-se “exclusivamente” no ofício de escrever, os editores e agentes literários seriam responsáveis pelas outras etapas do

processo de produção da obra. Dessa forma, os autores deixariam de receber uma parte do dinheiro, que seriam atribuídos aos demais agentes do que chamamos hoje de indústria editorial.

Apesar de muitas das características que um autor, de acordo com a concepção

citada, poderem ser encontradas no século XXI, tal como a autoridade no texto e o

recebimento de direitos autorais, não se pode afirmar que suas funções permaneceram as mesmas ao decorrer dos séculos.

Mesmo com a ideia de que editores e agentes literários existem para exercer uma

função, seja ela durante a modelação do original ou no intermédio entre o autor e outros canais, o autor, principalmente no caso da auto-publicação, passou a desempenhar novas funções além da própria escrita, uma vez que o seu leque de habilidades precisa, cada vez mais, ser ampliado. De acordo com Luiza Lewkowicz (2013):

O autor agora deve ser plural e multitasking. Não apenas deve estar focado nas recompensas por sua qualidade literária e produção escrita, mas também deve pensar nas plataformas de publicação, divulgação, distribuição. (...) As figuras do livreiro, do tipógrafo, do distribuidor, do marqueteiro, do divulgador, antes separadas, podem ser acumuladas pelo autor (LEWKOWICS, 2013, p. 8).

Uma vez que faz parte de um mercado extremamente concorrido como o

27

editorial, no qual a leitura de livros não acompanha a quantidade de livros que vêm

sendo escritos (ZAID, 2004), o autor, sozinho, precisa encontrar formas de se destacar diante da vasta multidão de outros autores, seja no intuito de vender mais livros e obter maior lucro ou de chamar a atenção de uma casa editorial tradicional que, com esse boom de originais, dificilmente conseguirá realizar a leitura de todos os materiais que recebe e realizar uma seleção exclusivamente a partir da qualidade do original.

Com uma afirmação polêmica a respeito do assunto, o diretor do selo Fantasy,

da editora Casa da Palavra, e, também autor de livros, Raphael Draccon, valoriza o fato de que a personalidade do autor também influencia no momento de escolha da obra.

“Todo mundo acha que tem uma história boa e que ela daria um livro. Então, a pergunta

que o escritor deve se fazer é: “O que eu ofereço para a editora além da minha obra? É

preciso que sua história de vida e sua personalidade sejam tão impactantes quanto a fantasia que você criou”16.

Raphael Draccon também acredita que autores introspectivos, que se dedicam

exclusivamente ao ato de escrever, não existem mais. Ele reforça a importância da

comunicação com os leitores na vida do autor, bem como a utilização de sites de redes sociais para se promover. De acordo com Campos (2009, p. 32), o que o diretor da

Fantasy afirma não está longe da realidade, pois vivemos em uma época dominada pelas

mídias, com diversas tecnologias e produtos midiáticos disputando a nossa atenção. De modo similar, Azevedo (2013) afirma que os escritores participam cada vez mais da divulgação de seus livros, colocando-os em uma posição de celebridade, onde a força do autor está vinculada à própria circulação da obra.

Independentemente de valores que possam ser julgados a partir do

posicionamento do autor, uma tendência é visivelmente constatada no que diz respeito a jovens autores que têm em mente uma carreira literária pela frente: com a internet, o

papel do autor passou a ser mais abrangente do que nos séculos passados. Agora, além

de escrever o próprio livro, ele também precisa estar atento às necessidades dos leitores se quiser conseguir espaço dentro do mercado editorial atual. Ele precisa, também, estar

envolvido em todas as fases do processo de publicação, dominando o maior número possível de técnicas para que o seu trabalho se torne mercadologicamente relevante17.

Disponível em: . Último acesso em 14. Mai. 2015. 17 Entretanto, ainda que estas práticas tenham se tornado mais frequentes na contemporaneidade, alguns autores dos séculos passados também apresentavam habilidades multitasking, como Tolkien, autor de O Hobbit e O senhor dos anéis, por exemplo, que, além de escrever, também se incumbiu de ilustrar os 16

28

1.4.2 Ferramentas de auto-publicação Como dito anteriormente, a auto-publicação não é um método novo de

publicação. Entretanto, a partir das tecnologias desenvolvidas ao longo do século XX, a auto-publicação se tornou um fenômeno mais comum, devido às facilidades que esse

novo formato, o livro digital, proporciona ao autor independente. O livro digital, no entanto, não é o único a ser auto-publicado. Ele é um dos caminhos possíveis para a publicação independente, possuindo custos financeiros mais favoráveis ao autor do que

os métodos antigos, que demandavam mais investimento de capital. Uma vez que as

novas tecnologias diminuam o valor de produção do livro, mais escritores se veem

interessados em publicar suas obras com o auxílio dessas ferramentas. Sendo assim, não se trata de um fenômeno exclusivo ao livro digital, mas colabora com a expansão dessa alternativa de publicação de livros.

Para possuir um livro auto-publicado, até então, era necessário dispor da verba

necessária para arcar com os custos de diversos profissionais do ramo editorial, bem como os elevados custos da gráfica. Mesmo com uma impressão sob demanda18, ou seja, realizada por fábricas de livro que trabalham com uma tiragem geralmente de até

200 exemplares19 ou pequenas gráficas que trabalham com até 300 exemplares impressos, os custos para a produção sairiam muito elevados, principalmente devido ao

fato de a quantidade de livros ser menor, uma vez que as gráficas barateiam os custos quanto maior for a tiragem.

Somente em 2014, mais de 500 títulos foram impressos através da editora Letras

e Versos, por exemplo, de acordo com as informações fornecidas pelo próprio site da

empresa20, o que mostra que, apesar de não ser necessariamente a alternativa mais barata, muitos autores ainda preferem bancar os custos do livro impresso. Uma das possíveis explicações seria o leitor brasileiro ainda preferir livros de papel ao invés do digital.

Entretanto, ao término do século XX, novas possibilidades de publicação são

oferecidas a esses autores independentes. A criação de livros digitais ou e-books parece

próprios livros. Disponível em: . Último acesso em 14. Mai. 2015. 18 O termo “sob demanda” pode se referir a duas formas de publicação: o autor compra uma quantidade pequena de livros (geralmente até 300 exemplares) e vai repondo conforme a necessidade. E a segunda forma, quando o autor mantém vínculos com sites como o Clube dos Autores, que imprimem o livro somente depois que a compra é realizada. Nesse segundo caso, o autor não arca com esta impressão. 19 Como é o caso da editora Fábrica de Livros: http://www.fabricadelivros.com.br/. 20 http://www.letraseversos.com.br/.

29

uma alternativa mais viável para aqueles que não possuem ou não estão dispostos a realizar grandes investimentos. Vale ressaltar, no entanto, que a opção por uma forma

de publicação não inviabiliza a outra. Diversos jovens autores brasileiros, tal como

Vanessa Bosso, utilizam ambos formatos. Afinal, o livro digital não surgiu para excluir o formato tradicional, mas há uma coexistência entre eles (VIRGÍNIO E NICOLAU, 2014, p. 97).

Assim, o livro digital apresenta algumas vantagens para autores independentes,

no que tange ao custo de produção e lucratividade. O custo de produção de um e-book é

inferior a de um livro impresso, uma vez que o autor não precisaria arcar com o valor da distribuição e da impressão gráfica. No entanto, também é importante lembrar que o livro, ainda que digital, tem também certo custo. Ainda que o autor domine técnicas de marketing para a divulgação e os softwares de diagramação, ainda será necessária a contratação de outros profissionais do mercado editorial, como, por exemplo, a figura

do revisor. Por outro lado, dentro de uma casa editorial, o autor receberia entre 10% e

15% do valor do preço de capa do livro21, enquanto, fazendo de forma independente, os autores podem receber até 80%, no caso do livro digital, dependendo da loja e do contrato estabelecido.

Atualmente, diversas empresas têm investido em ferramentas de auto-publicação

na internet. A seguir, faremos uma lista apresentando algumas das principais ferramentas e plataformas para autores que desejam publicar suas obras de forma

independente. A seleção foi feita a partir das empresas que se configuram mais ativas no mercado editorial brasileiro. Começaremos com o Clube de Autores. Clube de Autores

Figura 1: Logotipo do Clube de Autores.

Fonte:

O Clube dos Autores é o primeiro site brasileiro que permite a publicação

gratuita de livros, sendo 100% sob demanda. Nesse caso, o autor cadastra o seu livro no

Disponível em: http://blog.apethebook.com/2013/02/artisanal-publishing-the-top-10-reasons-toself-publish-infograph/ Acesso em: 02/05/2015. 21

30

site e escolhe o valor que gostaria de receber por cada exemplar, que será impresso

somente no momento em que a compra for realizada por um leitor. O site também permite a publicação de e-books e não presta serviços editoriais, mas mantém uma

página chamada Profissionais do Livro22 onde diversos profissionais estão à disposição para prestar serviços como freelances através da própria empresa. Na página

Universidade do autor23, o site também auxilia os novos autores na própria produção do livro, fornecendo dicas para a divulgação de suas obras de forma inteiramente gratuita.

Entretanto, a maior desvantagem do site é a falta de autonomia por parte do autor em relação ao valor do exemplar. Como a impressão é feita individualmente, exemplar por exemplar, o site simula um valor de acordo com as características do livro, de forma que

não fique com prejuízo e também adquira uma parcela de lucro e, junto a esse montante, soma o valor que o autor estipulou que queria receber. Dessa forma, o produto final acaba ficando mais caro para o leitor.

Kindle Direct Publishing Figura 2: Logotipo do Kindle Direct Publishing.

Fonte:

O KDP, como também é chamado, pertence à Amazon e também atua no Brasil.

O site permite que os usuários cadastrados publiquem seus livros em até 12 horas após a publicação na página da Amazon. A própria empresa disponibiliza ferramentas aos

usuários para a formatação de seus livros e converte automaticamente os arquivos para o formato Mobi. Os e-books são vendidos exclusivamente na loja virtual Amazon. Em

relação à remuneração, o autor recebe 35% do valor, para livros que custam até $2,99 e 70% para livros que ultrapassem esse valor. O autor tem autonomia para escolher o preço de sua obra.

Atualmente trabalha também com o Kindle Unlimited, que funciona como uma

espécie de Netflix de livros. Com a assinatura do programa, permite que o leitor leia 22 23

https://profissionaisdolivro.com.br/ https://clubedeautores.com.br/webpage/universidade-do-autor

31

quantos livros quiser. Se o autor cadastrar o livro no KDP Select, a obra

automaticamente fará parte do Kindle Unlimited e o autor receberá uma parte do Fundo

Global, ou seja, uma porcentagem do montante de vendas de todos os livros cadastrados, sempre que o livro for selecionado e mais de 10% do seu conteúdo for lido. Kobo Writing Life Figura 3: Logotipo da Kobo Writing Life.

Fonte:

A Kobo é uma empresa canadense que também atua no mercado brasileiro,

firmando parceria com a Livraria Cultura. Os autores fazem upload de seus originais,

que serão convertidos no formato Epub e publicados. A Kobo paga 45% ou 70% dos royalties por cada livro vendido para os autores. O valor que o autor receberá depende

do preço do e-book e do território em que o livro será vendido. O serviço é gratuito e se configura como a principal concorrente da Amazon.

Publique-se! Figura 4: Logotipo do Publique-se!

Fonte:

O Publique-se! foi criado pela Saraiva para autores independentes. Os livros são

enviados à plataforma e comercializados na rede Saraiva e na Siciliano. Os royalties

pagos aos autores são de 35%. O site não disponibiliza muitas informações para usuários sem cadastro.

Diversas outras ferramentas de autopublicação também são utilizadas por novos

autores brasileiros. A fim de não ficar repetitivo e cansativo, optamos por partir para a

apresentação de sites de redes sociais que também se configuram como ferramentas de

32

autopublicação, tal como o widbook e o wattpad. Wattpad Figura 5: Logotipo do Wattpad

Fonte: < https://www.wattpad.com/>

O Wattpad é um site de rede social criado no Canadá, que se autointitula a maior

comunidade de leitores e escritores do mundo. O serviço funciona como uma rede social, onde os usuários criam seus cadastros e seguem uns aos outros. O escritor vai

publicando a sua história através de capítulos e interagindo com os leitores através de comentários deixados no site. Também disponibiliza o número de visualizações em cada página do texto. A ferramenta tem se mostrado principalmente interessante como

fonte de revelação de novos autores, que, muitas das vezes, têm migrado para o sistema KDP da Amazon uma vez que suas obras tenham sido concluídas e o sucesso tenha sido atingido dentro do site.

Widbook Figura 6: Logotipo do Widbook

Fonte: < https://pt-br.widbook.com/>

O Widbook é similar ao Wattpad, com o diferencial de ter sido criado por

brasileiros. Entretanto, até então, possui maior reconhecimento no exterior do que no

Brasil. Assim como o Wattpad, os autores escrevem as suas histórias dentro da própria plataforma. O diferencial da rede é a possibilidade de escrita colaborativa, onde um

grupo de usuários pode se juntar para escrever a mesma obra. Também oferece estatísticas sobre o acesso em seus e-books e, arcando com o valor de R$7,99 ao mês,

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ganha acesso a uma conta Premium, com estatísticas mais detalhas e com a possibilidade de vender seus e-books no exterior.

Vale reforçar que as ferramentas de auto-publicação de livros digitais passam a

impressão de que o custo para o autor é inexistente, o que não é a realidade. Ainda que o

barateamento do custo seja evidente, se comparado ao livro impresso, é sempre interessante destacar que a editoração de um livro envolve mais do que a plataforma no qual ele será inserido. As figuras do revisor de textos, do preparador de originais e dos diagramadores continuam possuindo grande importância para a produção de um material de qualidade.

Por fim, independentemente de plataformas, os autores autopublicados também

precisam estar apoiados em técnicas de divulgação para expandir o alcance de seus livros. Para tal, as práticas de construção identitárias e a exposição nas redes serão os tópicos abordados no próximo capítulo.

34

Capítulo 2: Ser autor e estar nos sites de redes sociais A emergência das mídias sociais24 na internet potencializou a “venda de si” e

novas formas de busca por visibilidade. Muitos usuários procuram construir uma imagem de si que pareça interessante para o outro por meio da exposição nessas redes, visando uma identidade que supra os seus objetivos. Sibilia (2008) defende que no

século XXI as personalidades são, assim, alterdirigidas, – e não mais introdirigidas

como costumavam ser no século XIX – com as construções de si exteriorizadas, voltadas para a figura do outro.

No mercado editorial contemporâneo não seria diferente. Como dito no capítulo

anterior, uma das estratégias adotadas pelos novos escritores brasileiros diz respeito à

utilização dessas ferramentas no intuito de construir laços com os seus possíveis leitores. Para tal, diversas ações podem ser adotadas. Assim como a divulgação do

próprio produto, os autores compartilham seus gostos e interesses, opiniões políticas, recomendam produtos televisivos e postam fotografias do seu dia a dia. Tanto quanto —

ou quiçá mais — importante do que o livro, o seu “criador” também está em voga.

Dessa forma, a aproximação com o público se dá em muitos casos mais do que pelo interesse referente à temática do livro, mas, também, está intrinsecamente relacionado aos laços “afetivos” criados com os seus autores.

Assim, neste capítulo discutiremos sobre a visibilidade e apresentação de si nas

redes sociais online para buscarmos entender, afinal, como as identidades dos autores-

usuários são constituídas e quais seriam suas estratégias ao fazê-lo. Em seguida, investigaremos a interação e o diálogo com a rede contatos e, por fim, estudaremos a

questão da influência social, obtida através das mídias sociais, a partir da exposição das identidades.

2.1. Usos e apropriações dos sites Entendemos como “mídias sociais” as tecnologias e práticas online com fins de interação social, diferenciando-se dos meios de comunicação de massa tradicionais por não serem construídos na lógica do “um para muitos”, ou seja, um emissor enviando a mesma mensagem para grupos de receptores entendidos como homogêneos. As mídias sociais distinguem-se dos sites de redes sociais, que possuem como o principal foco os atores sociais; ou seja, sites que privilegiam a criação de perfis online que possibilitem a conexão com outros usuários. Sendo assim, “todo site de rede social é uma mídia social, mas nem toda mídia social se restringe somente ao universo dos sites de redes sociais” (POLIVANOV, 2012, p. 33). 24

35

As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes no cotidiano na

contemporaneidade. Dessa forma, as pessoas se habituaram a um estilo de vida diferente

do passado, no qual a utilização da tecnologia, principalmente da internet e dos sites de redes sociais, se tornaram essenciais no dia a dia de muitos sujeitos, transcendendo as barreiras de tempo e espaço. Diante desse contexto, as indústrias têm se apropriado

dessas ferramentas para divulgarem o seu trabalho e sua marca. Para isso, investem em uma “personalidade” embutida nos discursos da publicidade online. Segundo Maria Eduarda Mota Rocha, tais narrativas possuem o objetivo de “construir a boa vontade da

opinião pública – e converter parte desta em consumidores efetivos de produtos e

serviços” (MOTA ROCHA, 2010, p. 13). Entende-se, assim, que a utilização desses novos meios de comunicação pode auxiliar um usuário a se tornar consumidor de determinada marca ou produto.

Converter consumidores em fãs é um desafio que as empresas enfrentam na

atualidade e, para isso, utilizam-se das redes digitais para produzir, também, apelos emocionais.

Mais do que a mera promoção de produtos ou serviços, percebe-se nesses casos um bem sucedido esforço em construir modos de ser que gerem identificação, atraindo o consumidor para o universo simbólico da marca. Analisando-se esse tipo de estratégia, percebe-se o fomento à consolidaçaõ de um tipo de agente social ao qual interessa o envolvimento mais pessoal e direto com o intangıv́ el da marca em questão. Trata-se do apelo ao capital emocional25 destacado por autores como Henry Jenkins. (CASTRO, 2012, p. 136)

Essa realidade também é presente no mercado editorial e, talvez ainda mais

presente, no dia a dia dos novos autores que frequentemente usufruem dos sites de redes

sociais para encontrar leitores e legitimar a posição como autores de livros. Redes como o Wattpad, citado no capítulo anterior, por exemplo, reforçam o relacionamento

entre autores e leitores. A possibilidade de comentar as histórias confere ao leitor certo “poder” no rumo da narrativa, uma vez que, se o fio condutor da história pensado originalmente pelo autor não estiver agradando o seu público, é possível repensá-lo no intuito de agradar os leitores.

Para isso, o “amadurecimento” dos sites de redes sociais foi útil para diversificar

O capital emocional é a contribuição e colaboração vinda dos consumidores que, com o apoio de laços sociais, promove um relacionamento entre produtor e consumidor transformando-se em reputação. Esta reputação é resultado da força colaborativa dos fãs-consumidores que promovem certas marcas, apropriando-se e produzindo novos sentidos aos conteúdos (JENKINS, 2009). 25

36

as práticas de usos, uma vez que também se tornaram mais complexas e, acima disso, mais plurais. De acordo com Burke et. al (2011):

Sites de redes sociais são projetados para conectar pessoas com os amigos, familiares e outros laços fortes, bem como manter, de forma eficiente, o contato com um grande conjunto de conhecidos”. Portanto, eles têm forte potencial para influenciar o capital social dos usuários e o seu bem estar psicológico, o que muitas vezes ocorre com os fluxos de capital social. Enquanto, em seus primeiros dias, sites como o Facebook apelou para uma base homogênea de estudantes universitários e suportou apenas um pequeno conjunto de atividades, hoje, o sucesso dos SNS (sites de redes sociais) são as plataformas ricas deles mesmos, permitindo uma grande e diversificada base de usuários para participar de grupos, jogar, compartilhar fotos, notícias, transmitir mensagens privadas, etc. Portanto, assim como os pesquisadores começaram a chamar para diferentes análises a utilização da internet, eles estão igualmente reconhecendo que nem todos os usos de SNS são igualmente “sociais”26. (BURKE ET AL., 2011, p. 1)

Para tal, os autores defendem que existem três tipos de usos de atividades sociais

no Facebook, sendo elas: 1) comunicação direta com os amigos27, que consiste em uma troca de acordo com o modelo “um para um”; 2) consumo passivo de notícias sociais28, que seria quando os usuários leem as atualizações dos outros. E, por fim, 3) Broadcasting, quando um usuário escreve para um público não específico.

Como o Facebook é uma ferramenta que visa à interação social e que ultrapassa

as fronteiras entre espaço e tempo, usufruindo desta rede, os autores conseguem atingir um público mais amplo do que seria possível se dependessem da presença física,

podendo, dessa forma, compartilhar informações com mais usuários e se tornar mais influentes dentro da rede, possivelmente devido à exposição de uma identidade que esteja de acordo com o desejado por seus leitores. 2.2. Visibilidade e construção de identidade Escrever sobre si nos sites de redes sociais é uma prática bastante comum na “Social network sites are designed to connect people with friends, family, and other strong ties, as well as to efficiently keep in touch with a larger set of acquaintances and new ties. Therefore, they have strong potential to influence users’ social capital and the psychological well-being that often flows from social capital. While in their early days, sites like Facebook appealed to a homogeneous base of college students and supported only a small set of activities, today successful SNS are themselves rich platforms, allowing an enormous and diverse user base to join groups, play games, share photos, broadcast news, and exchange private messages. Therefore, just as researchers began to call for differentiated analyses of Internet use, researchers are recognizing that not all SNS use is equally “social”” (BURKE ET AL., 2011, p. 1, tradução nossa). 27 Directed communication with individual friends. 28 Passive consumption of social news 26

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contemporaneidade. Frequentemente os usuários são convidados a expor o seus pensamentos, comportamento que é alimentado pelos próprios sites. O Facebook, por

exemplo, pergunta ao usuário: “Gostaria de compartilhar algo?”. Assim como o Twitter,

que indaga “O que está acontecendo?”, ambos buscam convocar seus assinantes a dividir com suas redes de contatos suas opiniões, impressões, pensamentos sobre o assunto que lhes convir.

Pouco a pouco, construímos narrativas que vão se encaixando em um “todo” do

eu, traduzindo ideias a respeito da identidade individual de cada um. De acordo com Sibilia (2003):

Nos diversos gêneros da escrita íntima, os sujeitos modernos aprenderam a modelar a própria subjetividade através desse mergulho introspectivo, dessa hermenêutica incessante de si mesmo: no papel, a partir da matéria caótica e da experiência fragmentária da vida, era preciso narrar uma história e criar um eu. Nessa atividade criativa, bem como em qualquer outra modalidade de construção de si, sabe-se, a linguagem é o berço do sujeito, que somente pode se constituir como tal a partir da interação com os outros e da sua inserção em um universo simbólico compartilhado através do equipamento linguístico. “Eu é um outro”, reza a famosa frase de Rimbaud, que cai como uma luva para definir os protagonistas dos relatos autobiográficos e, também, a qualidade sempre fictícia do eu. (SIBILIA, 2003, p. 4).

Ainda que fazendo referência à escrita íntima, o trecho citado revela uma

importante característica das narrativas de si: o seu caráter fictício, algo que talvez fique ainda mais acentuado nos sites de redes sociais.

Os usuários possuem certa liberdade para “publicizar” aquilo que desejam e

aquilo que não desejam que seja dito no ambiente virtual. Seguindo este modelo, os recortes de sua imagem são feitos e selecionados nos momentos de postagem, revelando, em tese, apenas o que for interessante para a construção de sua identidade29.

Em relação aos jovens autores contemporâneos o mesmo ocorre. Além de

informações relevantes para a obtenção de seu produto, como website ou entrevistas

concedidas a diferentes veículos midiáticos, os autores também compartilham questões do seu dia a dia. Como, por exemplo, Lu Piras, autora de ficção para jovens que será um

dos objetos de pesquisa do terceiro capítulo, divulgou, em sua página no Facebook, em

03 de julho de 2015, a experiência que teve de ir ao show do artista Tiago Iorc, É claro que estes “recortes de identidade” não são totalmente racionalizados. As construções da imagem são feitas a partir de um ideal a ser publicizado, mas não está isento de conflito. As formas de interação na rede, por exemplo, curtir, comentar e compartilhar, não necessariamente seguirão a mesma lógica das postagens feitas pelo usuário, podendo “traí-lo” algumas vezes. Afinal, a própria representação da imagem do sujeito pode acabar se tornando múltipla, da mesma forma que as identidades, de acordo com a perspectiva de Stuart Hall (1992). 29

38

expressando sua opinião, assim como fotografias:

Coisa linda que foi ontem, depois do expediente. Pocket show do artista querido, Tiago Iorc. Privilégio assistir de pertinho e ouvir algumas de suas canções de maior sucesso e, claro, a novíssima e belíssima "Coisa Linda", lançamento do álbum Troco Likes. Espero que curtam também. O trabalho dele está demais! — se sentindo encantada em Som Livre. (PIRAS, 2015)30.

Bem como, dois dias depois, também expõe no mesmo ambiente um material a

respeito de sua carreira como escritora:

A matéria de capa da revista Eu Leio Brasil, edição especial da Semana do Livro Nacional ficou assim. Linda, não acham? Obrigada, Janaina Rico, pelo belo texto! Fotos da maravilhosa, Evany Bastos. Produção da querida Kátia Navarro. (PIRAS, 2015)31.

A primeira postagem mencionada gerou, até o dia 16 de julho de 2015, 115

curtidas e a segunda 98, de forma que aumenta a possibilidade de confirmação da hipótese de que tanto os “bastidores” de sua vida pessoal quanto a sua vida profissional,

como autora de livros, possuem o mesmo grau de importância, conforme discutiremos no terceiro capítulo.

Seus anseios e gostos são frequentemente divulgados em suas páginas de redes

sociais. Dessa forma, os autores abdicam de uma posição diferenciada do leitor e se

colocam no mesmo “patamar”, apresentando seus problemas, dúvidas, opiniões e preferências.

Justamente por se colocarem “de igual para igual”, como mais um usuário de uma

plataforma de rede social, acreditamos que a aproximação com o leitor ocorra e o autor

se torne uma pessoa mais interessante para o público. Mais importante do que ter escrito

um livro e comercializá-lo, parece ser o fato de ser um anônimo tentando se colocar em

evidência através de postagens que revelam a sua intimidade através de recortes do seu cotidiano.

O lugar do público e do privado se confundem, assim, nessa nova conjuntura. A

visibilidade se torna uma ferramenta necessária para a divulgação e comercialização de

seus livros, bem como de seu self enquanto autor, mas não aquele inalcançável, distante dos seus leitores, ao contrário. Os autores têm a possibilidade de mostrar que, assim

Trecho disponível em: < https://www.facebook.com/lupiras80/posts/941992955863682?pnref=story >. Último acesso em 02. Ago. 2015. 31 Trecho extraído de < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=943785429017768&set=a.603426316387016.1073741842.10 0001589604257&type=1&theater > . Último acesso em 02. Ago. 2015. 30

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como qualquer um, saem com os amigos e com a família no fim de semana e na noite

do mesmo dia autografam livros em uma livraria, desdobrando-se “assim, nas telas interconectadas pelas redes digitais, todo o fascínio e toda a irrelevância de ‘a vida como ela é’” (SIBILIA, 2003, p. 05).

De modo análogo a como as câmeras dos reality shows observam os seus

participantes, os usuários dos sites de redes sociais são também observados por anônimos interessados no dia a dia de outras pessoas e não são isentos de julgamentos. Focando no caso dos escritores de livros, esse julgamento pode acontecer de forma

ainda mais severa, uma vez que oportunidades podem aparecer ou deixar de aparecer de acordo com a imagem que é construída nas redes.

É, inclusive, devido a essa visibilidade que se torna possível um autor “de

primeira viagem”, sem livros publicados ainda, encontrar uma casa editorial para publicá-lo. Tornar-se visível nas redes sociais funciona como vitrine para as editoras, que passam a apostar naqueles que conquistaram uma boa audiência.

Quanto a isso remetemos a uma segunda entrevista concedida pelo editor do selo

Fantasy, da Casa da Palavra, Raphael Draccon, que afirma:

Se hoje um autor de literatura fantástica brasileira chegar em uma editora e afirmar que não pretende dar entrevistas, participar de palestras ou mesmo do o corpo a corpo com leitores do país inteiro, ele não será publicado, pois as regras do mercado da literatura fantástica BR de hoje exigem isso. (DRACCON, 2013)”32

Assim, nota-se a valorização da imagem pessoal do autor e a sua disposição a

aparecer em diferentes veículos midiáticos. Autores como Cirucci defendem que essa exposição está associada à ideia de o usuário se tornar um herói/celebridade, e que tais medidas fazem deles os próprios paparazzis, divulgando a própria imagem (CIRUCCI,

2012 apud POLIVANOV, 2012, p. 42). No caso da declaração do editor, essa exposição ainda ganharia o aval das casas editoriais, bem como contribuiria para a divulgação do próprio nome, ampliando a interação com os leitores na rede.

De acordo com Cunha, os usuários não são necessariamente honestos uns com os

outros, uma vez que é a internet é o cenário é propício para a simulação e a fantasia. A

autora questiona: “Por que os cibernautas criam identidades falsas e fingem ser alguém que não são?33” (CUNHA, 2008, p. 3). No entanto, não corroboramos com tal visão, Disponível em: < http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/raphael-draccon-eu-amo-rubemfonseca-9741278> . Último acesso em 02. Ago. 2015. 33 Tradução nossa para “Why do cybernauts create false identities and pretend to be someone they are not?”. 32

40

entendendo, a partir de Sibilia (2008), que: 1) o “eu” tem sempre uma qualidade fictícia,

não nos cabendo afirmar ou analisar se as identidades construídas online são “falsas” ou “verdadeiras” – são sempre construções; e 2) nos sites de redes sociais especificamente

os sujeitos são convocados cada vez mais a se apresentarem “como eles mesmos”, ainda

que haja, claro, perfis falsos (chamados comumente de “fakes”) – que não são o objeto deste trabalho – e rupturas no processo de tentar mostrar-se como “verdadeiro” (POLIVANOV, 2012).

Retomamos, novamente, as palavras de Sibilia (2008), quando a autora afirma que

os modos de ser contemporâneos são direcionados ao aparecer, uma vez que, se ficarem presos à esfera do privado, essa pessoa corre o risco de simplesmente não existir.

E esse show do eu tem que ser visível. Porque se esses pequenos espetáculos intimistas se mantivessem dentro dos limites da velha privacidade — aquela que era oculta e secreta por definição — ninguém poderia vê-los e, portanto, correriam o triste risco de não existir. É por isso que hoje se torna tão imperiosa essa necessidade de tornar público algo que supostamente deveria permanecer protegido no silêncio do privado; porque mudaram os modos de construção do eu e os alicerces em cima dos quais se sustenta esse edifício. (SIBILIA, 2009, online)

Por fim, cabe ressaltar que a construção desta persona é feita usualmente de modo

a se parecer mais interessante sob a perspectiva da visão do outro. De acordo com Pollak, “a construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos

outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com outros” (1992, p. 5).

Ou seja, tais recortes de sua imagem parecem visar revelar o melhor lado da

identidade: momentos familiares, conquistas pessoais e profissionais ou fotografias de viagens. Segundo a perspectiva de Zhao, Grasmuck e Martin, a maioria dos usuários

projeta um “eu” espontâneo e popular, focando em identidades que seriam “socialmente aceitas” (ZHAO, GRASMUCK E MARTIN, 2008).

Para que essa visibilidade ocorra de forma positiva para os autores de livros, é

necessária a aprovação dos outros, como afirma Pollak (1992) e, neste caso, dos seus

amigos nas redes sociais online, os seus possíveis leitores. Para tal, nada mais expressivo do que revelar uma faceta de constante felicidade nas redes sociais, conforme explica Carrera:

Entender, portanto, a felicidade como uma qualidade publicável, tendo em vista o sucesso da socialização humana, é perceber a relevância do papel da plateia (GOFFMAN, 1985) para as escolhas performáticas dos atores sociais. Cabe ao outro a aprovação da imagem de felicidade

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construída, da fachada social desejada. O outro representa o lugar de legitimação do sujeito, revelando o caráter colaborativo da existência. (CARRERA, 2014, p. 37)

Dessa forma, acreditamos que a exposição dos recortes de imagens de escritores

nos sites de redes sociais possa contribuir para maior aproximação do público, além de potencializar a criação de um relacionamento entre os autores e leitores. Um

relacionamento que não necessariamente se limita a ser cordial, podendo, muitas vezes, se tornar mais íntimo e estreitar os laços sociais, questão que será analisada em maior profundidade no terceiro capítulo.

2.3. Interação e diálogo com a rede de contatos A segunda fase da World Wide Web, chamada web 2.034, além de compreender uma

série de mudanças culturais e combinações de técnicas informáticas, também diz respeito à chamada “arquitetura da participação”. Conforme explica Primo (2007):

O’Reilly destaca a passagem da ênfase na publicação (ou emissão, conforme o limitado modelo transmissionista) para a participação: blogs com comentários e sistema de assinaturas em vez de homepages estáticas e atomizadas; em vez de álbuns virtuais, prefere-se o Flickr, onde os internautas além de publicar suas imagens e organizálas através de associações livres, podem buscar fotos em todo o sistema; como alternativas aos diretórios, enciclopédias online e jornais online, surgem sistemas de organização de informações (del.icio.us e Technorati, por exemplo), enciclopédias escritas colaborativamente (como a Wikipédia) e sites de webjornalismo participativo (como Ohmy News, Wikinews e Slashdot). (PRIMO, 2007, p. 2)

Os sites de redes sociais são produtos da web 2.0 e funcionam de acordo com esta

lógica, isto é, a sua existência ocorre somente se houver interação entre os agentes – ou, como coloca Primo (2007), interagentes – envolvidos. Conforme explica Recuero:

A análise estrutural das redes sociais procura focar na interação como primado fundamental do estabelecimento das relações sociais entre os agentes humanos, que originarão as redes sociais, tanto no mundo concreto, quanto no mundo virtual. Isso porque em uma rede social, as pessoas são os nós e as arestas são constituídas pelos laços gerados através da interação social. (RECUERO, 2004, p. 3)

Esses agentes podem interagir de diversas formas: diretamente, anonimamente,

Web 2.0 é um termo que se tornou popular a partir de 2004. É usado para designar a segunda geração de comunidades e serviços na Internet, tendo como foco a mudança na forma como ela é recebida pelos usuários e programadores, versando mais especificamente sobre o ambiente de participação e relacionamento. 34

42

serem apenas observadores ou desempenhar um papel fictício (os chamados perfis fake). Cabe também ressaltar que essa interação, muitas vezes, vai além de uma mera troca de

mensagens entre os usuários de uma determinada plataforma de rede social: pode existir

um relacionamento entre eles, ou seja, pode existir intimidade, graus de compromisso e confiança entre eles, construindo-se, assim, laços sociais fortes (RECUERO, 2012).

Outra característica importante é o fato de que esses laços não são imutáveis,

pois podem ficar mais fortes e fracos com o passar do tempo, dependendo do

investimento dos indivíduos na relação (RECUERO, 2006 apud BORDIEU, 1983).

Dessa forma, a manutenção desses laços é fundamental para definir que tipo de relação esses usuários terão. Segundo Recuero “O tipo de investimento que será feito pelos atores nas redes sociais que mantêm em cada ferramenta está diretamente relacionado com a apropriação e o tipo de benefício que eles esperam obter” (2012, p. 65).

Para o desenvolvimento do trabalho em questão, o principal site de rede social

em que é possível analisar o relacionamento entre autores e o seu público é o Facebook,

pois é o local em que existe uma aproximação entre ambos, troca de informações, bem como “construção de valor, como, por exemplo, a construção e a legitimação de uma

identidade” (RECUERO, 2012). Entretanto, a interação de mão dupla entre autores e leitores não é uma regra, conforme será visto.

Seguindo a mesma lógica apresentada por Recuero (2004) em sua análise sobre

o Orkut, “a maioria dessas conexões pode ser falsa, no sentido de que não apresenta

nenhum tipo de interação social e, portanto, pode não demonstrar a existência de uma rede social” (RECUERO, 2004, p. 8). Assim, o grande número de “amigos” apresentado por um usuário não necessariamente significa que ele é popular na rede social ou influente dentro de seu grupo, pois tal atitude pode funcionar apenas como um ato de colecionar perfis, o que é bastante visto no meio literário na internet.

As autoras Lu Piras35 e Vanessa Bosso36 em 16 de julho de 2015 atingiram o

limite de 5000 amigos em seus perfis no Facebook. Mesmo que seja impossível administrar o relacionamento com tantos usuários, esse mecanismo é interessante para os autores de livros, pois essa popularidade funciona de acordo com a lógica de “ricos

ficam mais ricos”, proposta por Barabási (2003). Ou seja, quanto maior o número de conexões, maior a chance de esse usuário ser visto e, por consequência, adicionado por outros usuários. Dessa forma, aumenta a possibilidade de alguém ter interesse por seu 35 36

Disponível em < https://www.facebook.com/lupiras80?fref=ts >. Disponível em < https://www.facebook.com/vanessa.bosso?fref=ts>.

43

produto (o livro) ou sobre o seu cotidiano.

O Facebook funciona, assim, de forma a favorecer os “ricos”. Uma vez curtida

uma postagem, ela aparecerá no feed37 dos amigos, que podem, também, se interessar por ela e reproduzir o ato, contribuindo para aumentar a visibilidade daquele perfil. Tratando do meio literário na internet – compreendido por autores, editores, leitores e

blogueiros –, onde muitos se adicionam por compartilharem um interesse em comum, o maior número possível de “amigos” no Facebook ajuda a tornar o nome do autor conhecido.

Ainda assim, o relacionamento entre autores e leitores, diante do contexto das

redes sociais na internet, pode deixar de ser distante, uma vez que, graças a essas novas ferramentas, é possível interagir diretamente um com o outro, sem necessitar estar no mesmo espaço físico para que a interação aconteça. Além disso, a interação entre os

dois agentes deixa de ser focada, exclusivamente, sobre o próprio produto ou literatura

de forma geral. Com a atualização constante dos perfis, é possível saber mais sobre a vida um do outro e com a possibilidade de “curtir” ou “comentar” as postagens, a interação passa a ser mais íntima, contribuindo para a existência dos chamados “laços sociais fracos”. Raquel Recuero (2006), remetendo à teoria de Mark Granovetter (1973),

explica que os laços fracos podem ser mais importantes do que os fortes, pois os fracos são essenciais justamente por conectar vários grupos sociais:

A comunicação mediada por computador pode ser muito eficiente no estabelecimento de laços sociais porque facilita sua manutenção. Basta um comentário em um weblog ou fotolog, um e-mail ou uma breve conversa no ICQ e já se mantém um laço social existente. (RECUERO, 2006, p. 12)

Dessa forma, não é preciso que as relações sejam extremamente próximas para

cumprir o objetivo de socialização e aproximação com o leitor, saciando as vontades de ambos participantes. Se, por um lado, o autor “ganha” ao ter o seu nome mais

conhecido, bem como um maior alcance para a sua obra, o leitor também se beneficia

de tal lógica, uma vez que se relacionar com um autor também confere a este um certo

capital social, ou seja, certo “poder” recebido por um usuário de uma rede social (seja online ou off-line) através de suas relações sociais, que confere ao mesmo algum grau

de influência social em determinado meio. Sendo assim, o relacionamento confere aos dois um compartilhamento de vantagens.

O feed de notícias é a lista sempre atualizada com histórias de pessoas e páginas que são seguidas no Facebook. 37

44

Assim, entendemos que, a priori, os laços sociais existentes entre autor e leitor

nos sites de redes sociais tendem a ser fracos, mas isso não desmerece, de forma

alguma, o relacionamento entre eles. Pelo contrário: auxiliam na aproximação de diferentes grupos e, diante de um quadro de uma boa manutenção do perfil, pode conferir ao autor certa influência social, questão que será o tema central do próximo tópico.

2.4. Capital social e influência a partir de gostos compartilhados Para começarmos a discussão acerca da influência social no que tange à relação

entre autores de livros de ficção e seus leitores, será utilizado o conceito de capital social. Cabe ressaltar que existem duas correntes de pensamento distintas que envolvem

tal conceituação: a primeira que privilegia a noção de desenvolvimento social – sobre a qual autores como Maria Celina D’Araujo, autora do livro intitulado Capital Social (2003), versam a respeito – e a segunda, que é a vertente de interesse deste trabalho, que direciona a discussão para o âmbito da cultura digital, partindo, principalmente, das definições propostas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, que compreende o conjunto das possibilidades de recursos que estão presentes nas relações entre as

pessoas, associados ao pertencimento a uma coletividade (BOURDIEU, 1986 online). Sendo assim, o conceito abrange relacionamentos interpessoais e os recursos disponíveis para os membros de um grupo.

Também vale acentuar que o capital social pode ter um caráter tanto individual

(no momento em que um agente pode utilizar os recursos) ou coletivo (pois é pertencente a determinado grupo ou rede e necessita da existência desse conjunto para

existir). Além disso, Bourdieu pontua que o capital social pode ser convertido em outras formas de capital, como, por exemplo, o cultural e o econômico.

De acordo com esta linha de pensamento, as características do capital social não

acabam por aí, pois para construir um relacionamento também se depende de

investimento e custo para os indivíduos envolvidos, bem como de esforços de sociabilidade. Em outras palavras, obter capital social depende principalmente de interação e interesse entre as pessoas.

Nas redes digitais, o capital social transcende as relações de espaço e tempo,

uma vez que as relações sociais podem ser mantidas e trabalhadas à distância

(RECUERO, 2006). Além disso, justamente por conta da comunicação ser mediada por

45

um computador, é possível, como visto anteriormente neste mesmo capítulo, construir-

se a si mesmo de maneira a se tornar mais interessante para outros usuários de determinada rede social. Por isso, certos valores são compartilhados no ciberespaço: “elementos como reputação, confiança e visibilidade tornam-se importantíssimos para a interação, como bases de relações sociais e de redes sociais, através das quais alguém

terá acesso a um determinado tipo de capital social” (RECUERO, 2006, online apud

BERTOLINI & BRAVO, 2004). Assim, acreditamos que autores de livros sapresentam sua imagem nas redes sociais de acordo com tais critérios.

Conferindo a certo usuário de um grupo social quantidade de capital social, ele

passa a obter influência sobre os demais membros do grupo. Não obstante, por conta

deste fator, ele pode ser “seguido” pelos outros, uma vez que usufrui de status. Tal característica se enquadra no que Recuero (2006), partindo da definição de Coleman

(1988), denominou como “capital social cognitivo ou informacional”, ou seja, são

valores que compreendem “a soma do conhecimento e das informações colocadas em comum por um determinado grupo” (RECUERO, 2006, p. 5).

De acordo com tais autores, o capital social é heterogêneo, possuindo algumas

categorias de classificação, tal como o cognitivo, como citado acima, bem como

relacional (soma de relações) ou normativo (que corresponde às determinadas normas de comportamento de determinado grupo), de confiança no ambiente social ou

institucional. Tais aspectos serão melhor analisados no capítulo seguinte, quando iniciarmos a análise das estratégias discursivas dos autores selecionados.

A partir dessas características que envolvem o conceito de capital social,

acreditamos que os autores de livros de ficção podem servir como “influenciadores”

para seu público, divulgando ideias e/ou produtos para além do próprio. Uma vez que se consiga gerar confiabilidade e reputação nas redes sociais, é possível que seus passos sejam seguidos. Sendo assim, por exemplo, uma vez que o usuário que detém alto grau

de capital social faça check-in38 em um determinado restaurante ou poste uma foto em determinado lugar, é possível que o seu público tenha interesse em também conhecer tal

ambiente. No âmbito literário, uma recomendação positiva a respeito de um livro feito

por determinado autor pode fazer com que os seus leitores também tenham interesse em lê-lo, uma vez que, a partir de tal referência, o produto recebeu um “selo de aprovação”. A ferramenta de check-in do Facebook serve para o usuário expor em que local ele estava no momento de determinada postagem. Geralmente é utilizada em lugares tidos como “interessantes”, como restaurantes, teatros ou cinemas, pontos turísticos, etc. 38

46

Entretanto, cabe ressaltar que essas propriedades são dinâmicas e não são isentas de mudança. Dependendo do uso da rede e de sua manutenção, estão sujeitas a sofrer alterações.

Assim, partimos no terceiro e último capítulo para a análise das estratégias de

construção de si nos sites de redes sociais no intuito de conquistar mais leitores e publicação por casas editoriais tradicionais. Para tal, analisaremos os perfis no

Facebook e Twitter dos autores Maurício Gomyde, Lu Piras e Vanessa Bosso, todos auto-publicados que conseguiram visibilidade e foram convidados a publicar seus livros

por casas editorias, tendo como ponto de convergência o Grupo Editorial Novo Conceito.

47

Capítulo 3: Análise da autoapresentação de escritores no Facebook e Twitter O capítulo final desta pesquisa tem como objetivo analisar os perfis de três

escritores pertencentes ao Grupo Editorial Novo Conceito citados ao decorrer do trabalho, no intuito de compreender como constroem o seu “eu” de forma a atrair os olhares de novos leitores e se tornarem interessantes o suficiente para encontrar casas editoriais que apostem em seus livros.

Conforme apontado, os três autores selecionados para a pesquisa foram:

Maurício Gomyde, Lu Piras e Vanessa Bosso. A escolha se deu devido à combinação de uma série de fatores:

1) Os casos analisados chamaram a atenção por se tratarem de autores de ficção

que iniciaram as suas trajetórias através de publicações independentes em que cada um

optou por um caminho diferente. Por exemplo, a autora Vanessa Bosso usufruiu tanto

de auto-publicação custeada por ela mesma e, em seguida, optou pela auto-publicação

através do Kindle Direct Publishing da Amazon, que se constituiu como um modelo

relativamente novo. Por outro lado, Lu Piras preferiu arcar com os custos de uma editora-impressora, de forma que não precisasse dominar os processos de editoração do próprio livro. Assim, mesmo que trilhando caminhos diferentes, cada um dos autores selecionados conquistaram um público amplo, a ponto de chamar a atenção do Grupo

Editorial Novo Conceito (além de outras editoras, como será visto ao decorrer da análise) e atingir o objetivo de encontrar uma casa editorial que confie e invista no trabalho deles.

2) Outro importante critério de seleção dos autores esteve relacionado com a

própria Editora Novo Conceito, uma vez que esta casa editorial “tradicional”, atenta aos movimentos de autores auto-publicados e de primeira viagem, investiu na criação do

selo “Novas Páginas”, dando a oportunidade desejada por diversos autores

independentes. Dessa forma, optamos por selecionar autores contratados por essa

editora em específico uma vez que no momento em que o projeto de pesquisa começou a tomar forma, a Novo Conceito era uma das poucas editoras brasileiras que decidiram investir no potencial dos autores independentes que divulgavam os seus livros na

Internet, prática que nos momentos finais da pesquisa, foi seguida por algumas outras editoras.

48

3) Além disso, tínhamos como hipótese, a partir de observação inicial, que os

três autores se apropriavam dos sites de redes sociais de modos distintos, o que enriqueceria nossa análise.

4) Por fim, a facilidade de acesso aos mesmos também foi relevante, uma vez

que a pesquisadora já possuía um relacionamento prévio com cada um deles, o que viabilizou a realização da pesquisa.

A análise das estratégias de auto-divulgação dos três autores foi empreendida a

partir: a) da observação das postagens dos autores nos sites de redes sociais Facebook e

Twitter em um período de aproximadamente três meses39, b) das definições que fazem

de si em seus perfis nesses sites e c) através de entrevistas realizadas com os mesmos

através de seus endereços de e-mails (as entrevistas na íntegra constam nos anexos deste trabalho). A utilização de entrevistas se justifica por permitir que as perguntas sejam feitas a distância e de modo assíncrono, possibilitando que os autores respondessem

quando pudessem. Também cabe ressaltar que a análise dos perfis dos autores nos sites

de redes sociais foi concluída em um período que antecede o envio das perguntas e, consequentemente, dos mesmos saberem que estavam sendo “observados”. Tal escolha

foi feita no intuito de não afetar o posicionamento dos autores em suas redes, além de proporcionar uma visão dos mesmos semelhante a qual os seus leitores possuem.

A entrevista contava com três eixos de perguntas. O primeiro tinha o objetivo de

nos levar a entender a trajetória dos autores desde a auto-publicação até o momento de encontro, ou melhor, de interpelação por uma editora. Em seguida as perguntas foram formuladas com a pretensão de compreender como estes autores usufruem de seus perfis

nos sites de redes sociais: a sua relação com as redes, a exposição de sua identidade, a

divulgação de seus livros e o seu relacionamento com os leitores e/ou usuários que

acompanham os seus perfis. Por fim, questionamos se os autores acreditam que as construções nas redes são semelhantes aos indivíduos fora delas e se eles acreditam que

a utilização de tais ferramentas contribuiu, de alguma forma, para conquistar um público-leitor e/ou editoras que publiquem os livros.

As seções seguintes deste capítulo abordam, individualmente, cada um dos

autores investigados e serão estruturadas da seguinte maneira: de início, traçaremos um breve perfil dos autores, baseado em informações disponíveis em suas redes online, bem como em materiais de divulgação de seu trabalho como autores que foram encontrados 39

De 05 de agosto de 2015 até 02 de novembro de 2015.

49

exclusivamente na Internet40. Feito isso, será analisada a seção “sobre” do seu perfil no

Facebook – onde o usuário é convidado a se definir e discorrer brevemente sobre suas ocupações – para, então, partirmos para a análise das postagens que realizam na linha do tempo no mesmo site. Em um segundo momento, a análise recairá sobre a utilização do Twitter como ferramenta de divulgação. A análise será embasada não apenas nos dados

empíricos – obtidos através dos materiais observados no Facebook e Twitter e das entrevistas – mas também em trabalhos de pesquisadores citados ao decorrer desta monografia.

3.1. Maurício Gomyde: um ar de mistério Maurício Gomyde nasceu em São Paulo, mas mora em Brasília desde os três

anos de idade. Apesar de atuar como autor de livros de ficção, busca deixar bastante claro que não faz disso uma profissão para o próprio sustento. Assim, possui atividades

paralelas que servem como base financeira, mas o autor não informou quais. Além disso, antes de se aventurar escrevendo livros, Gomyde embarcou na carreira musical como baterista e compositor de diversas bandas brasileiras. Possui seis livros publicados, sendo que O mundo de vidro, Ainda não te disse nada, O rosto que precede

o sonho e Dias melhores pra sempre foram auto-publicações nas quais o próprio autor contratou profissionais para realizar os processos de editoração dos livros – algo sobre o

qual não tinha domínio –, tal como revisão, diagramação, criação da capa e formatação gráfica.

Em 2014 foi contatado pelo Grupo Editorial Novo Conceito para publicar o livro

intitulado A máquina de contar histórias e, em 2015, conseguiu publicar Surpreendente!

pela Editora Intrínseca que, até o momento de realização dessa pesquisa, possui um catálogo de livros nacionais ainda modesto. Para conseguir esses contratos com casas editoriais tradicionais, o autor afirma ter usufruído bastante dos sites de redes sociais no

intuito de promover o seu trabalho e conquistar um público-leitor. Desse modo, avalia a sua trajetória enquanto autor independente como satisfatória. De forma geral, os seus

livros poderiam ser enquadrados na categoria dramas-românticos, por normalmente se relacionarem com temas acerca de amor, morte, desilusões, amadurecimento e

Cabe destacar que tais materiais encontrados na Internet, tal como entrevistas realizadas com os autores para blogs os vlogs, se constituem como dados secundários interessantes de análise, uma vez que os autores divulgam essas entrevistas em seus perfis nos sites de redes sociais, além de também divulgarem o seu trabalho e conquistar novos leitores. Dessa forma, acreditamos que nos momentos em que os autores respondem a essas entrevistas, eles permanecem interessados em construir uma imagem que seja bem vista por seu público-alvo. 40

50

deficiências físicas. O público-alvo costuma ser YA (young-adults) 41.

Ao ser indagado a respeito da utilização dos sites de redes sociais, Gomyde

reitera a importância dessas plataformas para estar dentro do “jogo” desse mercado.

Hoje em dia, todas as editoras estão de olho nas redes sociais. Seja para prospectar novos autores-autores, seja para enxergar oportunidades de lançamento de livros (...). Ter uma boa plataforma nas redes sociais, hoje, é fundamental. Isso não quer dizer que todos os novos autores sairão dali, mas é realmente importante, um super impulso (GOMYDE, 2015).

Dessa forma, entendemos que usufruir das ferramentas digitais que hoje estão

disponíveis para o uso de pessoas “comuns” se torna interessante para ser visto, além de

promover o seu trabalho. Gomyde parece ratificar a análise de Lewkowicz (2013) ao colocar o autor hoje como multitasking: escrever e promover o seu livro na internet são tão importantes quanto saber estar visível para alcançar olhares no mercado editorial.

Entretanto, nem todas as plataformas possuem o mesmo peso ou a mesma

finalidade. A partir de nossa análise, percebe-se que o uso do Facebook vem,

necessariamente, em primeiro lugar, uma vez que é o mais atualizado e no qual o autor se faz mais presente. Enquanto essa plataforma é atualizada com uma média de quatro

postagens por dia42, o Twitter, ao contrário, não ganha tanto destaque, tendo menos posts, com uma média de uma postagem escrita por ele mesmo (as demais seriam retweets, isto é, replicações de mensagens de outrem). Porém, é importante lembrar que

esses números tendem a variar de acordo com os acontecimentos do dia/mês. Se, por exemplo, em um dia saírem três resenhas de seus livros feitas por blogueiros, o número de postagens aumenta, uma vez que o autor compartilha/retweeta43 essa informação nos

próprios perfis. Além disso, também cabe ressaltar que os tipos de postagens não são necessariamente iguais. Se por um lado, no caso do Twitter, o autor se faz mais distante,

não o utilizando para a interação com os seus leitores, mas de forma meramente informativa, no Facebook ele se torna uma pessoa mais próxima, respondendo comentários deixados pelos leitores e colocando, inclusive, imagens da própria família divulgando os seus livros.

A The Young Adult Library Services Association define o público Young Adults (jovens adultos) como pessoas de 15 a 29 anos. 42 Entretanto, o autor não tem como hábito atualizar o perfil todos os dias. As postagens ocorrem, geralmente, dia sim, dia não. 43 A ferramenta de retweet do Twitter serve para compartilhar uma informação postada por outra pessoa. Com o clique de um botão, o tweet de outro usuário aparece na timeline de quem retweetou. 41

51

Seu perfil no Facebook44 foi criado em 2011 e até dado momento possui em

torno de 3.900 amigos (usuários que fazem parte de sua rede de contatos). Percebe-se

que nem todas as suas seções possuem a mesma importância. Ao ser convidado a se definir, na página “sobre”, o autor se limita a dizer: “Autor dos livros O Mundo de

Vidro, Ainda não te disse nada e O rosto que precede o sonho45” mostrando que a seção não é atualizada com frequência, uma vez que mais duas publicações foram realizadas depois dessas. Informações como idade, preferência política e formação escolar, por

exemplo, foram deixadas em branco. Como o próprio autor pondera acerca da imagem que deseja construir nas redes: “minhas redes sociais são para falar essencialmente do

meu trabalho (...). Minha vida pessoal é bem restrita, então quanto mais pessoas interessadas no meu trabalho melhor” (GOMYDE, 2015). Essa afirmação se valida ao investigar o seu perfil no Facebook. Curiosamente, o autor não curte nenhuma página46 (nem a do próprio trabalho), mantendo os seus gostos pessoais longe da esfera da exposição.

Porém, essa restrição acaba não sendo tão uniforme. Mesmo com uma tentativa

de manter sua imagem “limpa” nos site de redes sociais, deixando a sua vida pessoal

para dentro das paredes da própria casa, a maneira da qual usufrui das redes, às vezes, acaba indo em direção contrária a este discurso do autor. Em algumas de suas postagens

é possível ver fotografias de sua vida privada, do seu dia a dia, do papel de pai se sobrepondo ao papel de autor47, como pode se ver na figura 7 abaixo.

Perfil disponível em: https://www.facebook.com/mauriciogomyde?fref=ts. Disponível em: . Acesso em: 12 de outubro de 2015. 46 Curtir uma página no Facebook significa que as informações postadas pelos administradores delas estarão disponíveis no feed de notícias dos usuários que as curtem. Através desse mecanismo, é possível perceber os interesses pessoais dos usuários, seja por curtidas informacionais (como páginas informativas, de jornais ou revistas, por exemplo) ou por curtidas culturais (como os filmes, músicas e livros que apreciam). 47 Disponível em: Acesso em: 12 de outubro de 2015. 44 45

52

Figura 7: Maurício Gomyde aproveitando o dia dos pais com as filhas

Em medidas homeopáticas, Gomyde também exterioriza a sua intimidade e

justamente pela boa administração e “dosagem” de sua intimidade, tais imagens geram

grande repercussão em seu perfil, atingindo quase 300 curtidas em média para este tipo

de fotografia. Assim, com certo ar de mistério, seus leitores também conseguem acesso à “vida como ela é” e, nas palavras de Carrera (2014), legitimam essa seleção de

imagens divulgadas pelo autor. Afinal, a opção por revelar pouco de si também pode ser entendida como uma estratégia para montar uma identidade para os seus leitores.

Segundo o próprio entrevistado afirma: “O importante é você ter uma boa imagem junto aos leitores, de alguém que escreve por paixão e trata a literatura como coisa séria” (GOMYDE, 2015).

Em relação à imagem que mantém na capa do Facebook, Maurício procura

divulgar os seus livros, seja através de imagens que divulgam sessão de autógrafos ou outras com os marcadores de página dos livros. A imagem que manteve como capa

durante esta análise (ver figura 8 abaixo) é a de um ensaio fotográfico feito pelo autor para divulgar o seu livro “Surpreendente!”, o mais recente até então. Dessa forma, o autor mantém se mantém coerente: o seu perfil serve para ser alimentado pelo seu trabalho literário e, de vez em quando, expõe um pouco de intimidade, mantendo a sua disponibilidade perante o leitor e, ao mesmo tempo, certo ar de mistério.

53

Figura 8: Foto de capa do Facebook de Maurício Gomyde

O Twitter48, por sua vez, é usado essencialmente para a divulgação de seus

livros. Dessa forma, o autor parece não criar uma “persona” para interagir com o

público nesta plataforma. Pelo contrário, desde o início do momento de observação por parte da pesquisadora, o Twitter do autor teve o uso exclusivo para a divulgação de

material relacionado ao livro mais recente Surpreendente!: resenhas feitas por sites ou blogs, entrevistas concedidas, divulgação de tarde de autógrafos, compartilhamento de

textos escritos por ele no site da editora Intrínseca, fotos dos eventos que participou e trechos dos próprios livros que, às vezes, são também acompanhados por imagens.

Apesar de Gomyde responder quando um leitor manda mensagem direta –

através do uso de @, ferramenta do Twitter que proporciona uma interação direta, nos moldes de uma conversa, entre dois ou mais usuários – a sua utilização do Twitter está

mais próxima, quantitativamente, de uma comunicação de massa, tal como a televisão ou o rádio, por exemplo, onde um emissor envia a mesma mensagem para muitos receptores. O diálogo ocorre de forma esporádica, breve e educada, apenas respondendo

a uma pergunta feita pelo leitor ou agradecendo a divulgação. Essa pouca interação também pode ser traduzida ao se perceber que enquanto o autor possui pouco mais de 3.500 seguidores acompanhando as suas postagens, ele se limita a seguir 27 perfis,

sendo que desses 27, poucos estão relacionados com a vida literária. Os perfis que são majoritariamente seguidos pelo autor são de políticos, jornais, assim como ilustra a figura 9 abaixo.

48

Perfil disponível em: https://twitter.com/mauriciogomyde.

jornalistas e colunistas de

54

Figura 9: Perfis que Gomyde segue no Twitter

Em contrapartida ao Facebook, a imagem utilizada para a capa do Twitter (ver

figura 10 abaixo) não procura uma divulgação de seus livros, mas simplesmente compartilhar uma ideia de alegria, relacionada ao imperativo da felicidade,

nomenclatura proposta por Freire Filho (2010) e sobre a qual Castro (2010), comenta: “Nesta época de gestaõ do “eu” como produto no competitivo mercado das subjetividades, projetar-se como pessoa “dinâmica” e “de bem com a vida” tornou-se must.” (CASTRO, 2010, p. 343).

Figura 10: Capa “happy” do Twitter de Gomyde

Em ambos sites de redes sociais, o autor também demonstrou um interesse em se

construir como alguém que desfruta de certo capital social relacional. Uma postagem que chama a atenção, repetida tanto no Facebook quanto no Twitter, diz respeito a

fotografias do autor com outros autores, inclusive estrangeiros, em momentos que não

55

dizem respeito à literatura, como mostra a figura 11 abaixo49.

Figura 11: Maurício Gomyde e Anna Todd, autora americana do livro After

A partir da exposição desses momentos de “intimidade” com figuras

internacionalmente conhecidas e populares, o autor também elevaria o seu grau de reputação e visibilidade, aumentando o seu capital social relacional (RECUERO, 2006) e se tornando cada vez mais interessante para o seu público.

O autor não deixa de conferir crédito ao seu público pelo sucesso. O apoio dos

leitores conseguido através dos sites de redes sociais também foi um fator importante

para que o autor atingisse o seu objetivo. “Procuro manter a relação mais próxima possível. Porque a “escola” onde fui criado (da publicação independente50) pede isso. Gosto de conversar, ter o feedback, responder aos questionamentos” (GOMYDE, 2015).

Entretanto, é importante ser pontuado que essa interação parecer não ocorrer no Twitter.

Como salientado acima, a utilização do autor deste site de rede social se limita ao Disponível em: . Acesso em: 12/10/2015. 50 Aqui, Gomyde se refere às aprendizagens que teve devido aos seus livros publicados de forma independente. 49

56

compartilhamento de informação e não a uma real interação com os seus leitores.

Assim, Maurício busca um relacionamento próximo do seu público. Entretanto,

esse relacionamento próximo parece não traduzir intimidade, uma vez que o autor tenta

manter a sua vida privada o máximo possível fora desses ambientes online. Entendemos, desse modo, que o seu relacionamento com os leitores constrói laços

sociais fracos, conforme explica Recuero: “Os laços fracos (...) caracterizam-se por

relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade” (RECUERO, 2005, p. 89).

Isso, entretanto, não desmerece a importância conferida aos laços fracos que

“facultam um maior acesso à informação, em que a inovação “cruza fronteiras”, isto é,

se propaga por uma malha extensa e diversificada de redes, mesmo que com pontos de comunicação relativamente esporádicos.” (KAUFMAN, 2012, p. 210). Desse modo, a

existência desses laços são relevantes, principalmente para que os usuários sejam capazes de transitar em diversos grupos sociais. Como explica Castells:

A Rede é especialmente apropriada para a geraçaõ de laços fracos múltiplos. Os laços fracos saõ úteis no fornecimento de informações e na abertura de novas oportunidades a baixo custo [...]. De fato, tanto off-line quanto on-line, os laços fracos facilitam a ligação de pessoas com diversas caracterıś ticas sociais. (CASTELLS, 2009, p. 445)

Também cabe ressaltar que este tipo de laço é característico de redes em que os

atores sociais possuem bastante popularidade, tornando a manutenção das relações mais difícil, limitando-se a um pequeno grupo de pessoas, com quem pode manter uma relação de “laços fortes”, onde se deposita maior grau de confiança.

No caso de Gomyde esses laços fracos são, normalmente, compostos pelos

leitores de seus livros, que buscam acompanhar a vida do autor e as novidades literárias. Apesar de o autor se dizer “próximo” de seus leitores, entendemos que essa definição de

proximidade diz respeito a estar sempre disposto a responder as perguntas e

compartilhar informações sobre a sua carreira, o que não confere necessariamente um elevado grau de intimidade.

Por fim, Maurício Gomyde constrói a sua imagem em ambos sites de redes

sociais como alguém que está disponível para responder o que os leitores tiverem

interesse em saber e como alguém interessado em compartilhar as suas conquistas e vitórias acerca do universo literário em seus perfis. Não obstante, o autor “valida” e

“legitima” que o seu público interaja com ele, toda vez que retweeta e compartilha as opiniões de seus leitores sobre seus livros e sua carreira.

57

3.2. Lu Piras: “gente como a gente” Ana Luísa Piras nasceu no Rio de Janeiro em 1980, é formada em Direito e

possui experiência no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal e no Governo de

Açores. Retornou ao Brasil em 2009, depois de viver sete anos em Portugal e, inclusive, trabalhar como artesã de bonecas, quando decidiu prosseguir os estudos. Dessa vez,

optou por cursar Produção Editorial na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no intuito de se aproximar mais de sua principal área de interesse: a escrita. Em 2010,

publicou o seu romance de estreia Equinócio, pela Editora Dracaena51. Em 2012 lançou o seu terceiro livro em parceria com o autor Felipe Colbert pela Editora Novo Século A

última nota, até que, finalmente, em 2014, a autora publicou pelo Grupo Editorial Novo Conceito Um herói para ela. A partir de então, começou a estabelecer laços com editoras tradicionais e, em 2015, assinou o contrato de publicação com a Editora L&PM com o livro Além do tempo e mais um dia, publicado em agosto do mesmo ano.

Lu Piras transita entre diversos gêneros literários. Enquanto seu livro de estreia

(Equinócio e a continuação da série literária Polaris) trata de uma fantasia ambientada

no Rio de Janeiro, Um herói para ela e A última nota são voltados ao público young-

adult, configurando o que seria “literatura juvenil” e, por fim, em 2015 a autora se

arriscou em um sick lit52 em Além do tempo e Mais um dia. A autora também participa de bate-papos e palestras em escolas incentivando a leitura e promovendo sua carreira.

A própria escolha pelo nome “Lu Piras” foi visando a construção de uma

identidade artística53. Ao optar por “Lu” ao invés de “Ana Luísa”, seu nome recebe um tom mais jovem e pode significar uma aproximação com o público, também jovem, que costuma se interessar por seus livros.

Desde antes da publicação de seus livros através de casas editoriais a autora fez

uso dos sites de redes sociais para impulsionar a sua visibilidade. Através do contato

com os leitores e petições, a autora conseguiu que uma editora-impressora olhasse para o seu material e o publicasse, ainda que não arcasse com os custos da publicação.

Como visto no primeiro capítulo, algumas editoras optam por trabalharem como “editorasimpressoras”, cobrando do autor a publicação de seu material e não se envolvendo com a parte textual do livro, como é o caso da Editora Dracaena. Dessa forma, consideramos aqui que tal método de publicação não legitima a editora enquanto uma “casa editorial”, que se envolve efetivamente com o autor. Sendo assim, os autores publicados por editoras-impressoras permanecem independentes a nosso ver. 52 O termo sick lit é utilizado para se referir a histórias tristes e melancólicas. Costuma abordar temas polêmicos para o público adolescente, como anorexia, depressão, doenças graves e suicídio. 53 Disponível em: . Acesso: 16 de outubro de 2015. 51

58

Decidi fortalecer minhas redes sociais e aumentar meu círculo de amizades nos eventos literários. As parceiras com blogueiros foram fundamentais para que eu conhecesse a receptividade do público. A sinopse e a capa provisórias foram muito bem aceitas. Motivada, fiz uma petição online que ganhou assinaturas suficientes para chamar a atenção de uma editora chamada Dracaena. O investimento financeiro valeu a pena. (PIRAS, 2015).

Fica evidente a necessidade de visibilidade para conseguir espaço e movimentar

o mercado editorial, constituído por novos autores que se auto-divulgam com o auxílio dos sites de redes sociais. Ao abordar editoras para publicarem o seu livro inicial, Lu

Piras foi rejeitada diversas vezes, sendo que, muitas delas, até mesmo antes de ter o seu

original lido. De acordo com Reimão (1996), para que um autor consiga aparecer, são necessários elementos internos à narrativa, assim como os externos a ela:

[...] podemos levantar a hipótese de que um texto depende de um duplo alicerce para se firmar em termos de vendagem. Esse alicerce é composto, por um lado, de elementos internos à narrativa e, por outro, de elementos externos a ela. Por elementos internos, entendemos o assunto, o enredo, as técnicas narrativas, o estilo etc. Por elementos externos entendemos, entre outros, a popularidade do escritor, que pode advir da divulgação de algum evento pessoal ou de seus trabalhos por outros meios como jornais, revistas, televisão, campanhas de marketing etc. (REIMÃO, 1996, p. 95).

O texto de Reimão foi escrito em 1996, quando os sites de redes sociais ainda

não eram populares para compor esse quadro. No entanto, adicioná-los na análise do

autor não seria equivocado, uma vez que esses sites também se configuram como meios

de comunicação e, dessa forma, podem contribuir para divulgar a imagem de um autor e outros artistas que façam uso das redes. Diferentemente dos meios de comunicação off-

line, que demandam alto capital econômico para trabalhar com a divulgação de uma

obra, a internet e, principalmente, os sites de redes sociais diminuíram e/ou isentaram os

custos deste trabalho, ampliando as possibilidades de artistas em início de carreira, como o caso da autora em questão.

Como Lu Piras aponta no trecho da entrevista acima, foi por conta da realização

de uma petição online, através das redes sociais digitais e blogs, que o início de sua

carreira se tornou viável. Sua trajetória como autora começou antes mesmo da

publicação de seu livro, quando a autora entrava em contato com blogs literários e participava de eventos, a fim de divulgar o material prévio (capa e sinopse provisória) e conseguir parceria com blogueiros para divulgar este material. Cabe agora analisar

59

como a autora utiliza os sites de redes sociais para continuar promovendo o seu nome e conseguindo novas publicações no mercado editorial.

Seu perfil no Facebook54 foi criado em 2010, e é utilizado para fins tanto

pessoais quanto profissionais. Lu Piras mantém a sessão “sobre” no site55 atualizada. Para se definir, a autora se afirma como autora de diversos livros, sem se esquecer de

adicionar a publicação mais recente, de 2015. Também não há receios de se expor: todos os lugares em que morou, sua formação acadêmica, seu trabalho e seus

relacionamentos são expostos, mesmo que nada tenham a ver com o mercado editorial. Parece haver poucas omissões. Suas preferências políticas, por exemplo, não são

expostas, uma vez que a autora afirma ser “cuidadosa” com determinados temas, dentre os quais a política está inclusa.

Lu Piras afirma estar se tornando cada vez mais cautelosa com as publicações

que faz, justamente por ser um perfil mais voltado para a sua vida profissional,

enquanto escritora, do que pessoal. Entretanto, nem por isso a autora se cala ou se omite, afirmando que se manifesta quando sente necessidade.

No meu perfil, o leitor vai encontrar meus gostos pessoais para música, cinema, livros. Apesar de ser um perfil mais profissional, não deixo de postar opinião, quando acredito que devo me manifestar. Mas como figura pública, sou bastante cuidadosa. Em especial quando o tema é política e religião. (PIRAS, 2015).

Mas, de forma geral, em sua timeline se encontra muito mais do que suas

preferências artísticas. A sua utilização do Facebook é bastante plural, tendo espaço

para todos os tipos de assuntos, inclusive sobre a sua vida pessoal (como mostra a figura

12 abaixo). A autora também não descarta os check-ins em restaurantes, shoppings ou viagens56.

Perfil disponível em: Perfil disponível em: 56 Disponível em: . Acesso: 16 de outubro de 2015. 54 55

60

Figura 12: Lu Piras em sua viagem ao Japão

Na pesquisa realizada por Polivanov (2014), a autora procurou entender de que

forma os atores sociais selecionam os conteúdos que são valiosos ou não para serem

expostos no Facebook e as implicações que essa seleção tem para a construção

identitária dos usuários. Através dessa pesquisa empírica, de cunho qualitativo,

Polivanov conclui que existe uma negociação entre os materiais que os usuários desejam expor ou ocultar. Dessa forma, ela concorda com Miller (2011), ao afirmar que

ao mesmo tempo em que, no Facebook, as pessoas se tornam mais visíveis, ele também pode contribuir para aumentar o nível de ocultamento de certos traços identitários, que

são propositalmente não relevados. Essa situação pode ser vista também no caso de Lu Piras. Enquanto a autora não se mostra receosa de colocar fotos de seus passeios ou com

seus amigos pessoais, ela se reserva o direito de não comentar publicamente assuntos que possam ser mal interpretados por suas conexões mais fracas (RECUERO, 2009) – como os relacionados à política – negociando, desse modo, certos traços de sua identidade que quer deixar visíveis e outros que deseja ocultar.

Os seus passos são frequentemente relatados através de seu perfil do Facebook.

Entretanto, na seleção desses momentos não inclui as partes negativas ou pouco interessantes de sua vida. Suas postagens pessoais, principalmente na seleção de

fotografias, se apresentam de formas a reafirmar uma faceta de felicidade constante e

61

sociabilidade57, conforme aponta Carrera: “o predomı́nio de configurações simbólicas que permeiam os discursos sociais a partir do ideal da felicidade revela-se como

importante pista a respeito das escolhas identitárias disponı́veis para o sujeito vigente”

(CARRERA, 2014, p. 42). E, por sua vez, tais momentos também são legitimados pelo seu público, que demonstra a aprovação através de comentários e curtidas nas postagens.

Para a imagem de capa do Facebook, a autora prioriza imagens que divulguem

os seus livros e os eventos dos quais participará, como mostra a imagem 13 abaixo.

Dessa forma, o “amigo” que acessar o seu perfil imediatamente estará informado sobre os seus próximos passos enquanto autora.

Figura 13: Perfil de Lu Piras no Facebook

As páginas que curte no Facebook são estritamente sobre assuntos culturais

(conforme mostram as figuras 14 e 15 abaixo) – incluindo o seu próprio trabalho,

através das curtidas a páginas de seus próprios livros – buscando a construção de certo

capital cultural e compartilhando seus gostos. Conforme afirma: “o leitor vai encontrar meus gostos pessoais para música, cinema, livros” (PIRAS, 2015).

Disponível em: . Acesso: 16 de outubro de 2015. 57

62

Figuras 14 e 15: páginas curtidas pela autora no Facebook

Percebe-se que os perfis de Lu Piras no Facebook e Twitter são utilizados para

divulgar os seus livros e os eventos em torno da literatura, porém, a sua imagem possui tanta força quanto a sua divulgação, uma vez que a autora, através de suas próprias postagens, procura legitimar a sua imagem como uma pessoa interessante (dotada de

capital cognitivo e cultural por conta de postagens informativas ou fotografias de

viagens), com opinião própria, engajada em campanhas sociais, como, por exemplo, de anti-bullying (ver figura 16 abaixo), e informada acerca dos acontecimentos no mundo.

Figura 16: Campanha #eudigonãoaobullying, da qual a autora participou

63

A sua utilização do Twitter58 pouco difere à do Facebook. O perfil informativo é

o mesmo, diferenciando-se apenas com imagens. No Facebook, muitas fotografias são divulgadas. Já no Twitter, talvez por conta da própria “gramática” do site que não prioriza imagens, a atenção se volta mais para links, sejam sobre seus livros e literatura ou de portais de notícias como O Globo. A frequência de atualização da imagem da

capa do Twitter se difere do Facebook. Enquanto no Facebook a capa é trocada de

acordo com o evento de autógrafos ou bate-papo do qual a autora participará, no Twitter a autora mantém fixa a imagem de seus livros, conforme mostra a figura 17.

Figura 17: Capa do perfil no Twitter de Lu Piras

Cabe ressaltar que no caso da autora Lu Piras, a utilização de ambas redes é

semelhante. Dos três autores analisados ao decorrer da pesquisa, Lu Piras é a que mais

mantém o seu perfil no Twitter atualizado. Enquanto os demais autores repetem mais postagens do Facebook no Twitter e não o atualizam diariamente, demonstrando menor interesse em uma rede do que outra, Lu Piras parece tentar manter o mesmo grau de atenção em ambas.

Os pontos de divergência entre os seus perfis no Facebook e Twitter devem-se

mais a razões externas à própria autora do que por motivações vindas dela, como, por exemplo, é o caso das postagens feitas automaticamente pelo Twitter relatando quantas e quais pessoas acessaram o seu perfil recentemente (ver figura 18):

Figura 18: Mensagem auto-publicada pelo Twitter

Ainda em relação à frequência de postagens observa-se que está diretamente

relacionada aos eventos de divulgação dos quais participa. Em setembro, por exemplo, 58

Perfil disponível em: https://twitter.com/lupiras80.

64

ocorreu a Bienal do Rio de Janeiro e por se tratar de um evento importante para os

autores, o número de postagens diárias em ambos sites aumentaram consideravelmente. Em dias com tarde de autógrafos ou outros eventos, o mesmo ocorre. Entretanto, de forma geral, nos dias sem “grandes acontecimentos”, a autora faz uma média de três a

quatro postagens59 no Twitter, incluindo aquelas que foram retweetadas. Além disso, também vale pontuar que a autora conta com um público composto por, até a data em

que a pesquisa foi realizada, em novembro de 2015, 2840 seguidores nessa rede. Já no Facebook, a autora atingiu o limite de 5.000 amigos e o número de postagens aumenta,

tendo uma média de cinco a sete novos posts diários60, sendo que a maior parte deles se refere a compartilhamentos acerca do universo literário (e cultural, de forma geral),

mantendo a ideia de ser um perfil informativo – ainda que em determinados momentos sua vida pessoal também seja compartilhada. Dessa forma, Lu Piras dedica a sua atenção aos dois sites de redes sociais, diversificando as suas postagens em ambos. 3.3. Vanessa Bosso: glamour autoral Vanessa Bosso é formada em publicidade e trabalha na área há mais de 10 anos.

Entretanto, o interesse pela publicidade não a satisfazia por completo, levando-a a

publicar os seus primeiros trabalhos a partir do ano de 2010, através de editoras-

impressoras. Desde então, ao longo de breves cinco anos, a autora lançou um total de 11 livros, optando por diversas formas de publicação, tal como a auto-publicação através

de editoras-impressoras, como já citado, auto-publicação de e-books através do Kindle Direct Publishing, da Amazon, até, finalmente, ter chamado a atenção do Grupo Editorial Novo Conceito, que publicou o seu último livro O Homem Perfeito. Uma

parceria que, até então, tem demonstrado funcionar, uma vez que a editora tem utilizado

outros de seus livros auto-publicados para publicar com o selo delas, como é o caso de A aposta, anteriormente publicado na Amazon. A autora costuma trabalhar com o

gênero chick-lit61, mas também possui obras de fantasia, como é o caso do livro 2012. De forma geral, pode-se dizer que o público de seu interesse são mulheres e jovens.

Cabe pontuar que essa estimativa desconsidera as postagens autopublicadas pelo Twitter, uma vez que, nesses casos, a autora não optou nem interferiu nos posts. 60 Também vale apontar que essa média desconsidera as postagens em que a autora é marcada por outras pessoas e aparecem na timeline dela, uma vez que não teve interferência nas mesmas. 61 O termo chick-lit é utilizado para se referir a livros de ficção feminina, com público-alvo entre 15 e 30 anos, que aborda questões relativas à mulher moderna, como independência, amor versus vida 59

65

Vanessa Bosso afirma manter a vida íntima separada dos sites de redes sociais e

tomando como base a sessão “sobre” do Facebook, a autora se manteve coerente com a sua afirmação. As informações na sessão são poucas: idade, formação, cidade em que reside e sua vida profissional como escritora, marcando as editoras e sites em que seus livros foram publicados.

Assim, a autora direciona o seu perfil no Facebook62 para a divulgação das

próprias obras e “não falo muito sobre minha vida particular, apenas uma coisa ou outra que acho bacana compartilhar” (BOSSO, 2015). Mas de que forma a autora define o que é interessante para ser compartilhado na rede?

Embora a maioria de suas postagens esteja, de fato, relacionada à divulgação dos

próprios livros, é nos momentos de “descontração” que a sua imagem se torna mais

interessante para os seus amigos / seguidores no Facebook, ao validar suas postagens através das ferramentas “curtir”, “compartilhar” e “comentar”, como pode ser visto nas imagens abaixo:

Figuras 19 e 20: postagens de Vanessa Bosso no Facebook

Ambas postagens foram feitas no dia 29 de outubro de 2015 e em horários

próximos. Entretanto, na imagem da esquerda, o nível de interação com o público é consideravelmente inferior ao da direita. Uma possível explicação poderia ser dada profissional, dilemas familiares, consumo, dentre outras. 62 Perfil disponível em: https://www.facebook.com/vanessa.bosso?fref=ts.

66

devido ao fato de a autora priorizar a divulgação do material de trabalho, saturando o

público por não trazer informações diferentes. Porém, ao postar “descontraidamente”, sem preocupação com divulgar seu material, os leitores podem se sentir mais à vontade para interagir. Este tipo de postagem é interessante para trabalhar a manutenção dos

laços sociais nos sites de redes sociais, tal como Recuero (2012) aponta. Enquanto na

primeira imagem a ênfase recai sobre um laço social fraco, na segunda, tanto a autora quanto os amigos do seu Facebook possuem espaço para se posicionarem, tornando o diálogo mais fácil e aberto e, por fim, pode abrir as portas para a construção de laços sociais fortes, por visarem um maior grau de relacionamento e intimidade.

A autora publica, em média, quatro ou cinco postagens diárias no Facebook.

Dentre os três autores analisados nesta pesquisa, Vanessa é a que mais posta conteúdos “reflexivos”, como, por exemplo, frases falando sobre a vida (conforme a imagem 20 acima), além de material que contribua para a divulgação de seus livros.

Para tornar o seu perfil mais interessante para os leitores, Vanessa explica:

“Meus livros e minha carreira são interessantes, portanto, minha pessoa também se

torna ponto de interesse. Existe um glamour que envolve a carreira, bem como uma aura

misteriosa. Esse é o gancho, é o que torna o perfil de um escritor algo interessante”

(BOSSO, 2015). A autora parece compartilhar a visão de Azevedo (2013, p. 10) ao tomar como base os pensamentos de Rojek (2008), usando o termo “glamuroso” quando

se obtém um reconhecimento favorável por parte do público no processo de celebrização de um indivíduo pertencente à esfera pública. Assim, mais uma vez a ideia de que a imagem do autor é tão importante quanto a obra vem à tona.

Ao ser indagada se a imagem que mantém nos sites de redes sociais é

semelhante à que possui no seu cotidiano não-virtual, curiosamente, a autora responde

que é exatamente a mesma pessoa e procura validar a sua afirmativa recorrendo aos

outros: “Quem me conhece nas redes e me conhece ao vivo, fica até surpreso por eu ser

exatamente a mesma figura” (BOSSO, 2015). Independentemente do ambiente, tal recurso tende a reafirmar o pensamento de Pollak (1992) acerca da identidade ser construída e ser validada sob a perspectiva do olhar do outro.

Também é interessante aqui pontuar que a autora ajusta as suas postagens de

acordo com o público, buscando evitar temas polêmicos, tal como a política, por receio

de ser mal interpretada, podendo danificar a sua imagem. Acerca dessa construção sobre “o que pode e não pode” ser dito publicamente nos sites de redes sociais, Mocellim (2007) vai buscar em Goffman (2004) o conceito de “fachada”, que pode ser definido

67

como a maneira intencional ou inconsciente que o indivíduo se expressa durante a sua

representação (POLIVANOV, 2012 apud GOFFMAN, 2004) (e, neste caso, no ambiente digital), para definir que

A construção de uma fachada é algo pensado, e que exige

reflexão a respeito de que tipo de impressão se deseja causar. Busca-se eliminar o que não condiz com o papel que se busca

representar, e enfatizar (criando muitas vezes a idealização de algumas características) o que favorece essa representação. (MOCELLIM, 2007, p. 19)

Isso condiz com os recortes feitos pela autora na hora de decidir o que postar

em seus perfiis nos sites de redes sociais. Isto é, ela busca criar uma fachada relacionada ao glamour da vida de escritora, acreditando haver uma coerência expressiva

(POLIVANOV, 2012) entre essa sua apresentação nos sites de redes sociais e fora deles, em ambientes off-line.

Curiosamente, Vanessa não utilizava sites de redes sociais antes de ter uma

carreira como escritora, pois não sentia necessidade. A criação do seu perfil no Facebook foi no ano de 2009; entretanto, a autora só passou a atualizá-lo de fato em

2010 e obteve uma média de 1.000 amigos adicionados por ano, totalizando o limite de 5.000 amigos em 2015. Entende-se, portanto, que o seu uso está diretamente envolvido com a promoção do seu trabalho, mesmo que, como dito ao decorrer desta análise, a

autora tenha mostrado interesse em compartilhar também conteúdo “filosófico” ou

“reflexivo”. A autora não possui opinião formada acerca do uso dos sites de redes sociais como uma possível vitrine para que editoras tradicionais arquem com os custos da publicação de livros de novos autores, pois diz que seria apenas uma suposição.

Para compor a imagem de perfil e de capa do Facebook, Vanessa não deixa de

exaltar o seu trabalho como escritora, optando por, na capa, atualizá-la de acordo com

as novidades literárias (imagem sobre sessão de autógrafos e imagens promocionais de

seus livros) e, no perfil, colocar uma fotografia de si autografando seu livro, como mostra a figura 21.

68

Figura 21: Imagens de capa e perfil de Vanessa Bosso no Facebook

É possível ver a sua relação com o mercado editorial brasileiro até mesmo

através das páginas que Vanessa curte no Facebook. Apesar de também estarem inclusos os seus gostos pessoais, como séries de televisão, filmes ou música, além de páginas que abordam a estética, informações nutricionais ou produtos/comércio, a

maioria está voltada para páginas de colegas escritores e dos respectivos livros, profissionais do livro (como revisores e capistas), blogs que falam de literatura e

ajudam a divulgar o trabalho de autores nacionais e páginas de editoras do seu interesse, como pode-se ver na figura abaixo.

Figura 22: páginas curtidas por Vanessa no Facebook

69

Em relação ao Twitter63, o seu uso está em congruência com os demais autores

analisados, servindo basicamente como uma ferramenta de trabalho, divulgando

material promocional dos livros e retweetando informações relacionadas ao mercado editorial. Assim, os métodos de utilização dessa ferramenta digital se enquadram no tipo

“informacional” (RECUERO, ZAGO, 2009, p. 85), que podem ser separados em: informações pessoais (neste caso, sobre o próprio livro), notícias – que contêm links – e auto-publicados (como fotos vindas do Instagram, por exemplo).

Figura 23: Postagens vindas do Instagram para o Twitter

Na análise do perfil de Vanessa Bosso, não houve registros da utilização do

Twitter para usos “conversacionais”, nos quais existiria a interação direta entre os

usuários (através do @ que direciona a mensagem para outro usuário, como uma ferramenta de reply). Dessa forma, as conexões feitas tendem a ser fracas, não havendo capital social relacional.

O Twitter não se apresenta como uma ferramenta forte para a autora, que conta

com menos de 200 seguidores e apenas 200 tweets. Vanessa faz menos de uma atualização por dia, em média, e a maioria delas vêm do Instagram que, neste caso, parece ser mais utilizado pela autora.

Sua imagem de perfil neste site possui um caráter pessoal, uma vez que é uma

foto da autora com a filha. Por outro lado, a imagem de capa mantém a mesma lógica do Facebook de divulgar o seu trabalho literário, como pode-se ver abaixo.

63

Perfil disponível em: https://twitter.com/vanessa_bosso.

70

Figura 24: Capa e perfil de Vanessa Bosso no Twitter

Entendemos, por fim, que a autora prioriza a utilização do Facebook ao Twitter e

que as maneiras de se construir na rede tendem a “glamourizar” os seus passos, exibindo a “agitação” e os benefícios de ser uma autora de livros, o que implica em ter uma vida tão interessante quanto o conteúdo de suas obras.

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CONCLUSÕES A pesquisa buscou entender as maneiras de apropriação de dois sites de redes

sociais – Facebook e Twitter – por parte de três autores que se auto-publicaram e, posteriormente, por conta de seu trabalho de divulgação na internet e criação de um

sólido público leitor, conseguiram contratos com casas editoriais tradicionais. Para isso, recorremos a análise dos seus perfis nos sites e entrevistas que pudessem nos ajudar a entender melhor os seus usos.

Ao decorrer da fase de observação dos perfis dos autores Maurício Gomyde, Lu

Piras e Vanessa Bosso, junto com as entrevistas concedidas por eles, percebemos que as

formas como eles se apropriam dos sites de redes sociais diferem uns dos outros, principalmente no que se refere à utilização do Facebook, uma vez que o Twitter dos três serve principalmente para a divulgação de conteúdos relacionados aos seus livros, como é o caso de resenhas realizadas por blogueiros, por exemplo, e a construção de uma imagem fica em segundo plano.

Enquanto Vanessa Bosso afirmou não utilizar sites de redes sociais antes de ter

um livro publicado, pois “não sentia necessidade”, curiosamente, dos casos analisados, é a única que utiliza o Facebook de maneira auto-reflexiva (além de, é claro, da

promoção de seu nome como escritora no mercado editorial) e, dessa forma, acaba se expondo mais nas redes do que os outros. Maurício Gomyde, por outro lado, prefere manter a sua vida pessoal mais reservada, postando menos sobre si na rede e mantendo

o seu perfil com um objetivo mais profissional. No entanto, essa imagem profissional não é tão homogênea, pois o autor, em alguns momentos, também revela a sua vida particular e nesses momentos o autor atinge grande visibilidade. Lu Piras, ao contrário,

parece não ter receios de mostrar a sua vida, fato percebido através das frequentes

fotografias publicadas com amigos ou familiares. Entretanto, isso não diminui o caráter informativo (principalmente com assuntos relacionados a cultura) de seu perfil.

A partir disso, entendemos que os três autores utilizam os seus perfis no intuito

de promover a visibilidade não somente de seu trabalho, mas também de sua imagem

pessoal. No entanto, isso não significa que eles estejam dispostos a compartilhar

qualquer informação sobre suas vidas pessoais ou que pretendem se exibir desenfreadamente, de modo “aleatório” (POLIVANOV, 2012).

Também cabe ressaltar que diferentes sites de redes sociais proporcionam

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diferentes tipos de interação. Assim, além da diferença de usos por parte dos três atores sociais analisados, é importante pensar que as maneiras de utilizar o Facebook não são iguais ao do Twitter, o que pode proporcionar duas imagens distintas do mesmo ator social, uma vez que os atores sociais se apropriam dos diferentes sites de redes sociais a

procura de valores diferentes, de diversos tipos de capital social (RECUERO, 2009).

Em outras palavras, entendemos que as maneiras de utilizar as redes aqui estudadas, o Facebook e o Twitter, tendem a e podem ser diferentes em cada caso, já que cada usuário se apropria dessas ferramentas com finalidades distintas e procuram construir imagens particulares, que sirvam melhor aos interesses de cada um.

Concordamos, assim, com Consoni e Oikawa (2012), ao recorrer ao pensamento

de Goffman (2007), ao afirmar que “o homem em sociedade apresenta-se como um ator

diante de seu público: representando diferentes papéis, tentando controlar as impressões

que os outros possam ter dele e empregando certas técnicas para sustentar sua atuaçaõ ” (CONSONI; OIKAWA, 2012, p. 67). Desse modo, acreditamos que esses papéis

possam se misturar e a representação de sua imagem pode não ser tão homogênea como os atores desejam que seja. E, cabe destacar, elaborar tal análise acerca da utilização dos

sites de redes sociais e construções identitárias por parte de seus usuários não foi uma

tarefa simples de ser realizada. Trata-se de um objeto dinâmico, que incita diversas possibilidades de apropriação pelos atores sociais.

A partir das considerações feitas sobre a administração de sua imagem através

dessas plataformas digitais, compreendemos que a força de divulgação de um produto artístico, neste caso, o livro, está associada tanto ao seu conteúdo quanto ao seu autor, que trabalha para promover a sua obra, além da própria imagem como “cool” ou “misteriosa” ou a identidade que o autor julgar como interessante para se autopromover.

A utilização de sites de redes sociais por autores auto-publicados se torna, então,

uma ferramenta poderosa para ampliar a sua rede de contatos através da interação com o público e/ou da visibilidade de sua obra e/ou do seu “eu”, permitindo a conquista de um espaço no disputado mercado editorial brasileiro. Uma vez que esses espaços sejam

conquistados, as casas editoriais tradicionais podem legitimar o sucesso desses autores, convidando-os a fazer parte de sua equipe e arcar com os custos dessas publicações. Esses autores auto-publicados, tendo conquistado visibilidade e fãs / seguidores,

tornam-se investimentos de menor risco para as editoras, que apostam no lucro vindo a partir desse trabalho dos autores junto ao seu público.

73

Por fim, é importante ter em mente que este estudo compreende em si diferentes

formas de ver o objeto e que, portanto, as análises acerca do tema são individuais e não possuem a intenção de se posicionarem como verdades absolutas.

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ANEXOS Anexo 1: Questionário respondido por Maurício Gomyde Nome Completo: Maurício Gomyde Porto Data de Nascimento: 26/05/1971

Formação: Tecnologia em Processamento de Dados

Livros publicados: "O mundo de vidro"; "Ainda não te disse nada"; "O rosto que precede o sonho"; "Dias melhores pra sempre"; "A máquina de contar histórias"; e "Surpreendente!" Questionário: 1. O que o/a levou a arcar com os custos de uma publicação?

R: Quando comecei, não estava difundida, ainda, a publicação sob demanda. Então, a única opção, para baratear o valor individual de cada exemplar, era realizar a publicação

em gráfica (tiragens de 1.000 cópias). Decidi optar por esse caminho, porque sabia como funcionavam as editoras do tipo “gráfica de luxo”, que cobram do autor até mais do que o valor para impressão de uma tiragem e ficam com a maior parte dela. Eu queria ter liberdade de poder trabalhar meu próprio material, essencialmente porque as redes sociais já estavam permitindo isso. Então, decidi trilhar o caminho independente. 2. Conte um pouco sobre este processo.

R: A publicação independente exige muito trabalho do autor, porque ele precisa realizar todas as fases do processo (desde escrever até vender, passando por diagramação, revisão, leituras-beta, capa, impressão, divulgação, montagem de material para envio). Nesse sentido, se não é do autor ter essa “pegada”, não é o caminho que deve escolher.

Eu lancei quatro livros assim, fazendo tudo. Apenas a parte gráfica ficava a cargo do meu irmão, que é da área de publicidade. Nunca enviei nenhum livro meu para ser submetido por editoras. Sempre acreditei que era um caminho válido, que eu acharia meu espaço ali.

3. Você descreveria essa experiência como positiva? Por quê?

R: Foi muito positiva porque aprendi muito nesta “escola”. Você acaba tendo noção

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completa do negócio. Hoje sei boa parte de como funciona a coisa, somando-se a isso a experiência que venho adquirindo por trabalhar com editoras. O independente me deu

base, não tenho ilusões sobre como as coisas são. O importante, no fim das contas, é trabalhar muito e bem.

4. Quando você publicou livros através de editoras tradicionais, foram as editoras que fizeram o primeiro contato?

R: Quando fui para a Novo Conceito, para lançar “A máquina de contar histórias”, o

contato foi feito pelo editor. Ele me adicionou no facebook e me perguntou se eu gostaria de ir para lá. Ele já conhecia meu trabalho e recebeu, durante a Bienal do Rio

2013, um exemplar do “O rosto que precede o sonho”, dado por uma autora amiga. Depois, para a Intrínseca (onde lancei o “Surpreendente!”), o contato já foi feito por uma agente literária com quem trabalho.

5. Você acredita que a utilização de redes sociais contribuíram de alguma forma para que o encontro com uma editora tradicional fosse possível? Se sim, como?

R: Não tenho dúvidas disso. Hoje em dia, todas as editoras estão de olho nas redes

sociais. Seja para prospectar novos autores-autores, seja para enxergar oportunidades de

lançamento de livros por blogueiros, vlogueiros, youtubers, booktubers e todas as denominações que a internet vem criando. Ter uma boa plataforma nas redes sociais,

hoje, é fundamental. Isso não quer dizer que todos os novos autores sairão dali, mas é realmente importante, um superimpulso.

6. Como você utiliza os sites de redes sociais para divulgar os seus livros?

R: Uso da forma “tradicional”. Divulgo os livros, as resenhas, falo dos meus livros e de temas afins. Tenho uma relação muito boa com os blogs de literatura (e os booktubers e

os instablogs). Eles foram fundamentais na divulgação do meu trabalho e sou eternamente grato por isso. O importante é você ter uma boa imagem junto aos leitores, de alguém que escreve por paixão e trata a literatura como coisa séria.

7. Quais são os principais sites de redes sociais que você utiliza para divulgar os seus livros? Você poderia descrever como os utiliza?

R: Uso o facebook, o instagram e o twitter, essencialmente. Não entendi muito bem, ainda, o Snapchat. Como disse anteriormente, faço deles espaços para divulgar o trabalho, as resenhas, novos textos, convidar para eventos. Ou seja, para “esquentar a

máquina”. Costumo fazer promoções com meus livros independentes também, isso tem

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dado muito certo.

8. Como é o relacionamento com os leitores através dos sites de redes sociais?

R: Procuro manter a relação mais próxima possível. Porque a “escola” onde fui criado (o independente) pede isso. Gosto de conversar, ter o feedback, responder aos

questionamentos. Afinal de contas, não haveria muito sentido eu dizer que “escrevo só para mim”. Eu escrevo para os leitores, eles são a razão primeira disso tudo.

9. Existe algum critério para aceitar ou negar alguma amizade no Facebook?

R: Como minhas redes sociais são para falar essencialmente do meu trabalho, eu aceito

todo mundo que me adiciona. Não tenho crise quanto a isso. Minha vida pessoal é bem restrita, então quanto mais pessoas interessadas no meu trabalho melhor. 10. Como você deseja ser visto através dos sites de redes sociais?

R: Apenas e tão somente como alguém que ama o que faz, que gosta verdadeiramente de escrever e contar histórias. O resto é consequência.

11. Existe alguma estratégia na hora de construir o seu perfil?

R: Meu perfil é construído especificamente das coisas que faço de verdade. Sou músico, já estudei cinema e sou escritor. Então, meu universo passeia por aí. A impressão que as

pessoas terão de mim será construída na cabeça delas pelas informações que eu

compartilhar. E o que compartilho é, essencialmente, a arte. Se olharem nas minhas redes sociais, verão que falo basicamente sobre isto: arte. 12. O que você costuma compartilhar nos seus perfis?

R: Apenas coisas relacionadas à arte (literatura, cinema, música, pintura, teatro, etc.).

13. Quais os temas que você jamais publicaria nos sites de redes sociais e por quê?

R: Não falo de política em redes sociais. Se me chamarem para tomar um chope, eu vou

e sou daqueles que não dispensa um bom debate político. Mas minhas redes sociais não são para isso. Há muito ódio e intolerância, hoje, escondidos por trás do teclado do

computador. As pessoas não têm respeito pela opinião alheia que seja adversa à sua. Então, eu me abstenho disso. Quero minhas redes felizes. Inclusive, sou dono de um perfil chamado “Gentileza Online”, onde só posto notícias boas.

14. Existe algum receio de publicar determinados assuntos por medo de rejeição por parte de seus leitores?

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R: Como meus leitores (o próprio nome diz) são os leitores de meus livros, quero apenas que os meus livros sejam debatidos, criticados, elogiados ou xingados. O que

escrevo é pelo que desejo ser reconhecido. Não tenho receio de ter minhas opiniões

sobre todos os assuntos, e quem me conhece pessoalmente sabe quais são. Só que não é meu objetivo enquanto autor entrar em polêmicas desnecessárias, ainda mais por conta daquilo que disse sobre a intolerância.

15. Você considera que a sua imagem nos sites de redes sociais é semelhante a sua imagem fora delas?

R: Acho que sim. Quem me conhece pessoalmente sabe da importância que dou para os

leitores. Eu não seria nada sem eles, então a atenção é total, exatamente como procuro ter nas redes sociais. Tento atender todo mundo, responder todas as entrevistas (virtuais e pessoais), autografar tudo o que me pedem. Gosto demais de fazer isso tudo, não é marketing. Muitos leitores sabem que a coisa que eu mais gosto de fazer depois dos eventos é sair com eles para sentar numa mesa de bar e continuar a conversa.

16. Você percebe alguma diferença na seleção de postagens que você faz nos seus perfis nas redes sociais antes e depois de ter publicado livros?

R: Depois de publicados os livros há um interesse maior, sim, sobre minhas postagens.

Por isso, procuro ser bem seletivo. Não publico qualquer coisa e não adiciono à minha timeline qualquer marcação. Tento manter o mais limpo possível. Por exemplo, no meu

perfil do Instagram só coloco fotos relevantes sobre o trabalho. E nunca publico uma foto sem antes trabalha-la em um software de edição de imagem. Acho fundamental isso, de ter uma imagem clara, interessante, que traga algo de construtivo para o leitor.

17. Na sua opinião, o que torna o seu perfil interessante para os seus possíveis leitores?

R: Como sou autor-autor, e não autor-blogueiro, ou autor-vlogueiro (nada contra, muito pelo contrário!), as pessoas vêm conhecer meu trabalho pelos livros, diretamente. Não

vêm porque conheceram meus vídeos sobre outros temas, ou porque tenho uma plataforma diversa que os direciona à minha literatura. Então, basicamente acho que

quem entra nos meus perfis está à procura de conhecer minha literatura. Por isso, falo muito sobre ela, sobre o que estão falando dela. Não me importo em não ter milhões de

seguidores, mas, sim, em ter seguidores fiéis. Se uma pessoa entra nas minhas redes e se conecta pelo que estou falando sobre a arte, acho que ele nunca mais sairá.

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Anexo 2: Questionário respondido por Lu Piras: Nome Completo: Ana Luisa Piras Gonçalves Viana Data de Nascimento: 30/01/1980

Formação: Direito / Produção Editorial

Livros publicados: Equinócio - a Primavera, Polaris - o Norte, A Última Nota, Um Herói Para Ela, Além do Tempo e Mais Um Dia Questionário: 1. O que o/a levou a arcar com os custos de uma publicação? O sonho.

2. Conte um pouco sobre este processo.

Terminei de escrever “Equinócio – a Primavera” em junho de 2011 e nunca pensei em engavetá-lo. Meu sonho era publicar. Fiz uma pesquisa sobre editoras cujo catálogo incluía romances sobrenaturais e enviei o manuscrito. Organizei uma planilha tendo em vista os prazos de avaliação, que variam de editora para editora. Algumas respostas chegaram por e-mail, outras por carta, com o mesmo teor, o que me permitia concluir que o manuscrito nunca foi realmente lido. Não desanimei com as recusas. Decidi fortalecer minhas redes sociais e aumentar meu círculo de amizades nos eventos literários. As parceiras com blogueiros foram fundamentais para que eu conhecesse a receptividade do público. A sinopse e a capa provisórias foram muito bem aceitas. Motivada, fiz uma petição online que ganhou assinaturas suficientes para chamar a atenção de uma editora chamada Dracaena. O investimento financeiro valeu a pena. Esgotei a tiragem do livro em menos de um ano e publicamos uma nova edição por conta da editora. Depois veio o segundo livro da série, “Polaris – o Norte”, cujos custos também foram pagos pela editora. 3. Você descreveria essa experiência como positiva? Por quê?

Sim. Valeu a pena. Foi a partir de “Equinócio – a Primavera” que me tornei conhecida no meio literário, e a consequência disso é hoje ser parte do catálogo de uma das editoras mais tradicionais do país, a L&PM Editores. Pagar ou não pagar para publicar é uma dúvida recorrente na cabeça do escritor iniciante. Eu acredito que um sonho não tem preço. Mas ele exige muita dedicação. E isso é até mais difícil do que conseguir o dinheiro para investir. Saber esperar o momento e aproveitá-lo quando ele chega é muito importante. 4. Quando você publicou livros através de editoras tradicionais, foram as editoras que fizeram o primeiro contato?

Meu terceiro livro “A Última Nota” surgiu por convite de um escritor da Novo Século. Meu quarto livro, “Um Herói Para Ela” foi publicado pela Novo Conceito. Eu mesma entreguei o manuscrito nas mãos do editor, na Bienal do Livro. O último livro “Além do Tempo e Mais Um Dia” foi publicado pela L&PM com intermédio de uma

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agência literária. 5. Você acredita que a utilização de redes sociais contribuíram de alguma forma para que o encontro com uma editora tradicional fosse possível? Se sim, como?

Com certeza. Graças à forte divulgação que fiz nas redes sociais e na blogosfera literária, ganhei o reconhecimento dos leitores jovens, mais conectados e antenados. Também por causa dos meus contatos com outros escritores nas redes sociais, fui chamada a participar de 4 grupos literários, que me fizeram viajar por algumas cidades e ampliar meu público. 6. Como você utiliza os sites de redes sociais para divulgar os seus livros?

Todos os meus livros têm fanpage. Procuro atualizá-las com frequência. Também uso os grupos para isso. Atualmente, não fecho parcerias porque tanto a Novo Conceito quanto a L&PM fazem esse trabalho com os blogs literários. Mas estou sempre online para responder os leitores, ouvir sugestões e trocar ideias. Adoro esse trabalho. 7. Quais são os principais sites de redes sociais que você utiliza para divulgar os seus livros? Você poderia descrever como os utiliza?

Meu preferido é o Facebook. Mas uso também o Instagram e o Twitter. Meu blog é pouco atualizado, justamente porque interajo mais pelo facebook. Estou sempre postando novidades sobre os livros, lançamentos, promoções em livrarias, notícias do meio literário. Gosto de informar e de me manter informada. 8. Como é o relacionamento com os leitores através dos sites de redes sociais?

Os leitores jovens são muito carinhosos. Temos uma relação de amizade. Não falamos somente de livros. Uma vez que o leitor adote um livro meu, ele está levando para casa não apenas uma história, mas um pouco de mim. Sinto-me à vontade para conhecer também um pouco sobre ele. 9. Existe algum critério para aceitar ou negar alguma amizade no Facebook?

Procuro saber se há amigos e interesses em comum. Atualmente estou no limite de amizades, por isso, estou sempre atenta aos perfil fantasmas para não perder a chance de adicionar novos amigos. 10. Como você deseja ser visto através dos sites de redes sociais?

Como uma escritora que ama o que faz e que escreve por amor.

11. Existe alguma estratégia na hora de construir o seu perfil?

No meu perfil, o leitor vai encontrar meus gostos pessoais para música, cinema, livros. Apesar de ser um perfil mais profissional, não deixo de postar opinião, quando acredito que devo me manifestar. Mas como figura pública, sou bastante cuidadosa. Em especial quando o tema é política e religião.

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12. O que você costuma compartilhar nos seus perfis? Notícias do universo literário.

13. Quais os temas que você jamais publicaria nos sites de redes sociais e por quê?

Evito temas de política e religião para não ferir suscetibilidades. Respeito as opiniões diversas. Não uso minhas redes como ferramenta de debate. Não é esse o meu objetivo. 14. Existe algum receio de publicar determinados assuntos por medo de rejeição por parte de seus leitores? Sim.

15. Você considera que a sua imagem nos sites de redes sociais é semelhante a sua imagem fora delas?

Sim. Sou bastante reservada na vida pessoal. E isso se reflete na forma como me exponho e que exponho minhas opiniões nas redes sociais. 16. Você percebe alguma diferença na seleção de postagens que você faz nos seus perfis nas redes sociais antes e depois de ter publicado livros?

Minha tendência é ser cada vez mais cautelosa sobre o que posto e comento. Da mesma forma, sou cada vez mais seletiva sobre o meu público de interesse. 17. Na sua opinião, o que torna o seu perfil interessante para os seus possíveis leitores? Ser acessível para os leitores que buscam conhecer mais sobre o mercado editorial e literatura em geral.

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Anexo 3: Questionário respondido por Vanessa Bosso

Nome Completo: VANESSA RIBAS CHBANE BOSSO Data de Nascimento: 06/07/1976 Formação: Publicidade, Propaganda e Marketing Livros publicados: 2012, O Elemental, O Imortal, Senhor do Amanhã, Possuída, A Aposta, A Aposta 2, O Homem de Todas as Minhas Vidas, Poção do Amor, A Noite em que as Estrelas Caíram, O Homem Perfeito. Questionário: 1. O que o/a levou a arcar com os custos de uma publicação?

Sempre acreditei no meu projeto escritora e foi isso que me levou a custear a produção dos meus primeiros livros. 2. Conte um pouco sobre este processo.

Trabalhei com 3 editoras diferentes e depois, optei por publicar apenas em e-book na Amazon devido aos baixos custos e ótima exposição das minhas obras online. 3. Você descreveria essa experiência como positiva? Por quê?

Foi uma boa experiência, conheci os bastidores do mercado de livros no Brasil e hoje posso dizer que sou uma quase expert nessa coisa de autopublicação. 4. Quando você publicou livros através de editoras tradicionais, foram as editoras que fizeram o primeiro contato?

No caso da Novo Conceito, sim. As outras editoras, eu pesquisei o mercado e fui atrás das publicações.

5. Você acredita que a utilização de redes sociais contribuíram de alguma forma para que o encontro com uma editora tradicional fosse possível? Se sim, como?

Não sei dizer qual foi o impacto, qualquer coisa que eu disser será mera suposição. 6. Como você utiliza os sites de redes sociais para divulgar os seus livros?

Divulgo quotes, fotos de leitores e resenhas. Basicamente isso.

7. Quais são os principais sites de redes sociais que você utiliza para divulgar os seus livros? Você poderia descrever como os utiliza?

Utilizo o Facebook, o instagram, twitter e também os blogs literários. Tudo está intercalado. Faço o marketing tradicional e também contatos com os leitores.

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8. Como é o relacionamento com os leitores através dos sites de redes sociais?

É um relacionamento bacana, estreito, e muitos acabam se tornando amigos pessoais.

9. Existe algum critério para aceitar ou negar alguma amizade no Facebook?

Só aceito amigos de amigos.

10. Como você deseja ser visto através dos sites de redes sociais?

Exatamente como sou, não sou dessas que cria uma imagem virtual, nem sustento máscaras. Tudo o que eu digo ou posto nas redes é a minha verdadeira cara. 11. Existe alguma estratégia na hora de construir o seu perfil?

Se existe, desconheço. Deixo a intuição me guiar e tomo cuidado de não entrar em discussões desnecessárias. Também não falo muito sobre minha vida particular, apenas uma coisa ou outra que acho bacana compartilhar. 12. O que você costuma compartilhar nos seus perfis?

99% dos meus perfis falam exclusivamente da carreira literária. 1% é da vida particular. Afinal, num mundo onde tudo é compartilhado, na boa, a privacidade é artigo de luxo.

13. Quais os temas que você jamais publicaria nos sites de redes sociais e por quê?

Bom, aprendi que não devemos falar sobre religião, política e futebol por motivos óbvios. Também não posto mais minha opinião pessoal a respeito de assuntos polêmicos. É melhor assim. Hehehehehehehe. 14. Existe algum receio de publicar determinados assuntos por medo de rejeição por parte de seus leitores?

As pessoas interpretam as coisas de acordo com seu entendimento de mundo. Portanto, tem assuntos que podem ser muito perigosos. Evito polemizar, mas aprendi isso só agora, depois de ter passado alguns perrengues por opiniões que compartilhei e que foram distorcidas erroneamente. 15. Você considera que a sua imagem nos sites de redes sociais é semelhante a sua imagem fora delas?

Eu prezo por isso. Quem me conhece nas redes e me conhece ao vivo, fica até surpreso por eu ser exatamente a mesma figura. Como já disse, nada de máscaras, gosto de quem sou e sou fã da verdade. 16. Você percebe alguma diferença na seleção de postagens que você faz nos seus perfis nas redes sociais antes e depois de ter publicado livros?

Eu não tinha perfil antes de ser escritora, não sentia essa necessidade. Só entrei nas

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redes para estreitar relação com os meus leitores conectados.

17. Na sua opinião, o que torna o seu perfil interessante para os seus possíveis leitores?

Meus livros e minha carreira são interessantes, portanto, minha pessoa também se torna ponto de interesse. Existe um glamour que envolve a carreira, bem como uma aura misteriosa. Esse é o gancho, é o que torna o perfil de um escritor algo interessante.

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