Autoridade e o Uso do Ingles Americano (traducao de David Foster Wallace)

May 25, 2017 | Autor: Guilherme Bandeira | Categoria: Translation Studies, David Foster Wallace
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Presente Tenso: Democracia, Inglês e Guerras pelo Uso1 David Foster Wallace Tradução: Guilherme Villela de Viana Bandeira “Dilige et quod visfac.” – St. Agostinho2 Você sabia que o exame dos pontos-fracos espinhosos da lexicografia americana revela uma luta ideológica e controvérsia e intriga e sordidez e fervor em uma escala semelhante a um escândalo sexual presidencial? Por exemplo, você sabia que alguns dos dicionários modernos são notoriamente liberais e outros notoriamente conservadores, e que certos dicionários conservadores são atualmente concebidos e desenhados como respostas adequadas à “corrupção” e “permissividade” de certos dicionários liberais? Que uma ferramenta oligárquica como o “Painel de Uso Distinto… de falantes e escritores profissionais excepcionais” é a tentativa de acordo de alguns dicionários entre as forças de igualitarismo e tradicionalismo do inglês, mas que os lingüistas mais liberais desconsideram o Painel de Uso como um mero populismo fraudulento, como por exemplo “Mesmo perguntando pelas opiniões da elite, ele se intitula ser um guia democrático”? Você ao menos sabia que a lexicografia americana tinha pontos-fracos espinhosos? A ocasião para este artigo é a semi-recente publicação pela Oxford University Press do Dictionary of Modern Usage escrito por Bryan A. Garner, um livro que Oxford propagandeia agressivamente e é meu trabalho funcional resenhar.... O que importa é que o dicionário do Garner é extremamente bom, certamente o mais abrangente guia de uso desde o Webster’s Dictionay of English Usage de E. W. Gilman, agora uma década datado3. Seu formato, como o de Gilman e de outros grandes guias americanos de uso do último século, inclui verbetes de palavras individuais e frases e curtos ensaios indicativos em fonte pequena sobre qualquer assunto amplo o bastante para justificar uma discussão mais geral. Mas a característica mais engenhosa e distinta do Dictionary of Modern American Usage envolve questões de retórica e ideologia e estilo, e é impossível descrever por que essas questões são importantes e por que o manejo de Garner com elas beira o genial sem falar do contexto histórico4 no qual ADMAU apareceu, e esse contexto se tornou um verdadeiro furacão de controvérsias envolvendo tudo, desde técnica lingüística até educação pública e ideologia política, e essas controvérsias demoram um pouco para aparecer antes de se poder estabelecer a relação de como o suado livro do Garner faz valer cada centavo seu; e de fato não há como começar a tratar de toda essa 1

David Foster Wallace, “Tense Present: Democracy, English, and the Wars over Usage”, Harper’s Magazine, Abril 2001, at 39,40. 2 “Ama e faze o que quiseres” Cometário à Espístola de João. 3 Com o advento de bases de dado on-line, Garner teve acesso a mais exemplos do uso corrente do que Gilman, e ele soube aplicá-las com grande efeito (FYI, de Oxford de 1996 New Fowler’s Modern English Usage é igualmente abrangente e bom, mas sua ênfase é no uso britânico). 4 Desculpe por essa frase; Eu odeio essa frase também. Ocorre que esse é um daqueles momentos raros em que “contexto histórico” é a expressão a se usar e não há outra equivalente que não seja ainda pior. (Eu de fato tentei “pano de fundo lexo-temporal” em um dos rascunhos intermediários, que eu penso que você irá concordar que não é preferível). INTERPOLAÇÃO O parágrafo acima é motivado pelo fato de este resenhista quase sempre chacota e/ou estremece toda vez que vê “contexto histórico” portanto espera desviar de qualquer chacota e/ou estremecimento dos leitores aqui, especialmente em um artigo sobre uso oporturno.

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intensamente polêmica discussão sem tirar um momento para estabelecer e definir termo altamente coloquial SNOOT. De uma perspectiva, uma certa ironia envolve a publicação de qualquer bom livro sobre uso do inglês americano. É que a pessoa que estiver interessada neste tipo de livro é última a precisar dele, isto é, oferecer conselhos de uso para fina flor do inglês americano é pregar para convertido. Convertido aqui compreendido por aquela pequena porcentagem dos cidadãos americanos que estão de fato interessados em saber sobre modais duplos e verbos ergativos. O mesmo tipo de pessoa que viu Story of English na PBS (duas vezes) e leu a coluna de W. Safire tomando cafezinho todo domingo. O mesmo tipo de pessoa que sente uma mistura especial de desespero estremecedor e superioridade zombeteira quando vê EXPRESS LANE – 10 ITEMS OR LESS e ouve diálogo usado como verbo ou percebe que os fundadores da cadeia de motéis Super 8 certamente ignoram o significado de supurar. Há muitos epítetos para pessoas como essas – Nazistas Gramaticais, Nerds do Uso, Esnobes Sintáticos ou Polícia Lingüística. O termo que eu bolei foi SNOOT5. O termo pode ser um pouco auto-depreciativo, mas aqueles outros são completos disfemismos. Um SNOOT pode ser definido como alguém que sabe o que disfemismo quer dizer e não se importa em fazer você saber disto. Eu admito que nós SNOOTs somos os últimos remanescentes do tipo dos nerds verdadeiramente elitistas. Há, certamente, muitas espécies de nerds hoje em dia na America, e alguns deles são elitistas dentro de seu próprio limite nérdico (por exemplo, o nerd de computador magro, carbuncular e semi-autista sobe em cima de um poste toda vez que a tela do seu computador trava e você precisa da ajuda dele, e a doce condescendência com a qual ele consegue acionar os comandos secretos no seu teclado que irão destravar sua tela é ao mesmo tempo elitista e circunstancialmente válido). Mas o limite do SNOOT domina a vida social em toda sua extensão. Você não precisa, afinal (apesar da pressão social intimidadora), usar seu computador, mas você não consegue escapar da linguagem: Linguagem é tudo e está em todo lugar; é o que nos permite fazer uma coisa a ter a ver com a outra; é o que nos separa dos animais; Genesis 11:7-10 e assim por diante. E nós SNOOTs sabemos quando e como os hifenizar os adjetivos frasais e evitar que os particípios pendam, e nós sabemos que sabemos, e nós sabemos que tão poucos outros americanos também sabem ou mesmo se importam com essas coisas, e nós os julgamos de acordo. No sentido que alguns de nós estamos desconfortáveis, as atitudes de um SNOOT em relação ao uso contemporâneo lembram a atitude de conservadores religiosos/políticos acerca da cultura contemporânea6. Nós combinamos zelo missionário e uma fé quase neural na importância de nossas crenças com o desespero avarento infernal pelo jeito com que o inglês é rotineiramente mal-conduzido e corrompido pelas pessoas supostamente educadas. O Mal está nos circunda: erros e 5

SNOOT (n) (altamente coloquial) é o apelido à clef que a família nuclear do presente resenhista usa para um usage realmente fanático, o tipo de pessoa cuja ideia de diversão de domingo é procurar por erros na própria coluna do Safire. A família nuclear do presente resenhista é 70 por cento SNOOT, termo ele mesmo um acrônimo, sendo a grande piada tradicional da família se SNOOT quer dizer “Sprachgefühl Necessitates Our Ongoing Tendence”ou “Syntax Nudnicks of Our Time” dependendo se você é um ou não. 6 Isso é verdade no meu caso em qualquer grau – mais a parte do “desconfortável”. Eu ensino inglês em meio expediente na faculdade, mais Literatura e menos Composição. Mas eu sou tão patologicamente anal em relação ao uso do inglês que todo semestre a mesma coisa acontece: no minuto que eu leio os primeiros trabalhos dos meus alunos, nós imediatamente abandonamos o roteiro regular de literatura e temos três semanas de Unidade Reparadora Emergencial de Uso, durante o qual minha conduta é como se alguém ensinasse prevenção contra HIV para usuários de droga intravenosa. Quando isso acontece (e acontece, todo tempo) que 95 por cento desses estudantes inteligentes em nível universitário nunca aprenderam, por exemplo, o que é uma cláusula, ou por que um mal colocado only somente pode fazer um frase ficar confusa, eu só bato minha cabeça no quadro negro; Eu os exorto a processar o conselho de escolas natais. As crianças ficam assustadas, tanto para mim quanto para elas.

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calhambeques e solecismos imbecis e rajadas de metano lingüístico que fazem a bochecha de qualquer SNOOT torcer e sua testa enegrecer. Um colega SNOOT que eu conheço gosta de dizer que ouvir o inglês da maioria das pessoas é como ver alguém usando um Stradivarius para aparar as unhas. Nós7 somos poucos, os Orgulhosos, os Estarrecidos por Todos os Outros. Estabelecimento da Tese para o Todo o Artigo Temas de tradição versus igualitarismo no inglês dos EUA estão enraizados em questões políticas e podem ser tratados por o que aqui por diante neste artigo se chamará de “espírito democrático”. Um espírito democrático é o que combina rigor e humildade, isto é, convicção apaixonada e respeito diligente pela convicção dos outros. Como qualquer americano sabe, isso é um espírito muito difícil de se cultivar e manter, particularmente quando toca assuntos caros a você. Igualmente duro é o critério D. S. de 100 por cento de integridade intelectual – você deve estar disposto a olhar honestamente a si mesmo e suas razões para acreditar no que você acredita, e fazê-lo mais ou menos continuamente. Esse tipo de coisa é cidadania americana avançada. Um verdadeiro espírito democrático está lá com a fé religiosa e maturidade emocional e todos os outros tipos de qualidade no topo da Pirâmide de Maslow que as pessoas passam a vida inteira buscando. Um espírito democrático constituído por rigor e humildade e honestidade são de fato tão difíceis de manter em determinados assuntos que é quase irresistível de cair na tentação de ficar em campos dogmáticos estabelecidos e seguir a linha deste campo neste assunto e deixar sua posição ficar mais firme dentro deste campo e ficar inflexível e acreditar que qualquer outro campo é mal ou insano ou e gastar todo o seu tempo e energia tentando berrar mais que eles. Eu admito, portanto, que é incontestavelmente mais fácil ser dogmático do que ser Democrático, especialmente sobre assuntos que são aborrecedores e altamente carregados. Eu admito, além disso, que as questões que tocam a “correção” do uso inglês americano contemporâneo são aborrecedoras e altamente carregadas, e que as questões fundamentais que elas envolvem são aquelas cujas respostas precisam ser “trabalhadas” em vez de simplesmente encontradas. 7

Por favor note que o pronome em primeira pessoa repetida estrategicamente queria iterar e enfatizar que este resenhista é bem SNOOT também, além de conotar que a mencionada supra SNOOtitude vem de família. No seu Prefácio ao ADMAU, Bryan Garner menciona tanto seu pai quanto seu avô e na verdade usa a palavra genético, e é provavelmente verdadeiro: 95 por cento dos SNOOTs que eu conheço possui ao menos um dos pais que seja, por profissão ou temperamento ou ambos, um SNOOT. No meu próprio caso, minha mãe é professora de composição e tem escrito livros de uso de emergência e é um SNOOT do tipo mais raivoso e intratável. Ao menos uma parte de eu ser um SNOOT é que por anos Mamãe nos fez uma lavagem cerebral de todas as formas sutis. Aqui um exemplo. Os jantares em família frequentemente envolviam um jogo: se um de nós crianças cometêssemos algum erro de uso, Mamãe fingiria que estava engasgando e permaneceria assim até que a respectiva criança identificasse o respectivo erro e corrigi-lo. Isso tudo muito auto-irônico e alegre; mesmo assim, olhando em retrospecto, parece um pouco excessivo fingir que seu filho lhe está negando oxigênio por falar incorretamente. Mas o desânimo bate quando me vejo jogando este mesmo “jogo” com meus alunos, completo com a percussão pretendida. INTERPOLAÇÃO Algo que eu tenho certeza que a Harper’s vai exigir, eu também insiro que nós ainda tínhamos uma canção familiar alegre mas retrospectivamente desanimadora que Mamãe e eu nós pequenos SNOOTitas cantávamos no carro nas longas viagens que Papai silenciosamente nos olhava e dirigia (você provavelmente tem que se lembrar de um pequeno tema de Underdog para seguir essa canção: When idiots in this world appear / And fail to be concise and clear / And solecisms rend the ear / The cry goes up far and near / For Blunder Dog / Blunder Dog / Blunder Dog [etc.]* (*Como eu tenho quase certeza que isso será cortado, eu admito que, sim, eu quando criança, fui o autor de fato dessa canção. Mas nesta época eu já tinha sofrido uma completa lavagem cerebral. E nada menos que todo o carro cantava essa canção. É um tipo de versão da nossa família para “100 Bottles... Wall”?)

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Um traço distintivo do ADMAU é que seu autor quer que você entenda que um dicionário de uso não é uma bíblia nem mesmo um livro-texto mas só um testemunho da tentativa de uma pessoa esperta buscando respostas para certas questões difíceis. Essa vontade é para mim instruída pelo espírito democrático. A grande questão é se esse espírito compromete a capacidade do Garner de se apresentar como uma “autoridade” em assuntos de uso. Avaliar o livro do Garner, então, envolve tentar encontrar a estranha e complicada relação entre Autoridade e Democracia em que nós como uma cultura decidimos estar no inglês. Essa relação está, como muitos americanos educados diriam, ainda em processo hoje em dia. O Dicionary of Modern American Usage não possui Equipe Editorial nem Painel Distinto. É concebido, pesquisado e escrito ab ovo usque ad mala por Bryan Garner. Esse é um cara interessante. Ele é ao mesmo tempo advogado e lexicógrafo (tipo como ser ao mesmo tempo traficante e policial do BOPE). Seu 1987 Dicionário Moderno do Uso Jurídico já é um pequeno clássico; agora, ao invés de praticar a advocacia, ele fica por aí conduzindo seminários de escrita para estudantes de graduação em direito e fazendo consultoria de prosa para vários corpos jurídicos. Garner também é fundador de algo que se chama H. W. Fowler Society8, um grupo internacional de Trakkies9 de uso que gosta de enviar um ou outro fiasco lingüístico destacados de diferentes periódicos. Você pegou a ideia. Esse Garner é um SNOOT sério e muito hard-core. O lúcido, atraente, e extremamente útil prefácio ao ADMAU serve para confirmar a SNOOTitude do Garner ao mesmo tempo em que rebaixa o seu tom. No caso, enquanto o tradicional pândita do uso cultiva um tipo remoto e imperial de persona – o tipo que usa one ou nós para se referir a si mesmo – Garner nos dá quase um waltônito cativante esboço de sua própria experiência: “Eu percebi cedo – quando tinha 1510 anos – que meu interesse intelectual principal era o uso da língua inglesa... Isso se tornou uma paixão integral... Eu li tudo que pude encontrar sobre o assunto. Então, em uma tarde de inverno enquanto visitava o Novo México aos 16 anos, eu descobri Usage and Abusage do Eric Partridge. Eu fiquei encantado. Nunca tinha tido um livro tão excitante... É suficiente dizer que aos 18 eu tinha me comprometido a memorizar a maioria do Fowler, Partridge e seus sucessores...” Embora este resenhista note a falta de menção aos bastante significativos custos sociais de ser um adolescente cuja paixão lancinante seja o uso do inglês11, a sacada crucial do prefácio está em outra passagem pessoal que Garner intitula “Primeiros Princípios”: “Antes de avançar, eu devo explicar minha abordagem. Isso é uma coisa incomum para um autor de dicionário de uso fazer – não há precedente, até onde sei. Mas um guia de boa escrita é tão bom quanto os princípios nos quais está

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Se Samuel Johnson é o Shakespeare do uso do inglês, pense em Henry Watson Fowler como Eliot ou Joyce. Seu 1926 A Dictionay of Modern English Usage é o avô dos modernos guias de uso, e sua sagacidade seca e imperiosidade desavergonhada têm sido modelo para todos os subseqüentes clássicos neste campo, desde o Usage and Abusage do Eric Partridge ao The Careful Writer do Theodore Bernstein ao Modern American Usage do Wilson Follet ao Webster do Gilman de 1989. 9 (N.T.) Referência a fãs de Star Trek. 10 (Garner prescreve que deve-se soletrar só números abaixo de dez. Eu fui ensinado que esta regra se aplica somente a escrita corporativa e isso em todas as outras formas você deve soletrar um a dezenove e começar a usar cardinais a partir de 20. De gustibus non est disputandum.) 11 Por experiência pessoal, eu posso garantir que qualquer criança como essa será no mínimo marginalizada e no pior dos casos selvagem e repetidamente seviciada.

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baseado. E usuários devem estar naturalmente interessados nestes princípios. Então, com intenção de abertura total...”12 “Não há de precedente” e “abertura total” aqui são de fato piadas bemhumoradas aos predecessores de Garner Fowlerite, e um sutil aceno para o outro campo na guerra que tem assolado tanto a lexicografia quanto a educação desde que o notoriamente liberal Webster’s Third New International Dictionary saiu em 1961 e incluiu termos como heighth e irregardless sem qualquer rótulo de advertência sobre eles. Você pode pensar o Webster’s Third como um tipo de Fort Sumter13 da guerra de uso contemporânea. Essas guerras são ao mesmo tempo contexto e alvo de uma muito sutil estratégica retórica no A Dictionary of Modern American Usage e sem falar delas é impossível explicar por que o livro do Garner tão bom e tão útil. Nós cidadãos comuns normalmente recorremos ao dicionário como um guia de autoridade14. Raramente, entretanto, nós nos perguntamos o que entra n’O Dicionário ou quais palavras ou ortografias ou pronúncias são condenados como “baixo-nível”ou “incorreto”. Donde, qual é a autoridade dos dicionaristas para decidir o que é OK e o que não é15? Ninguém os elege, afinal de contas. E simplesmente apelando para o precedente ou tradição não funciona, porque o que é considerado correto muda conforme o tempo. No anos de 1600, por exemplo, o pronome da segunda pessoa do singular exigia uma conjugação singular – “You is”. Antes ainda, o pronome padrão da segunda pessoa do singular não era you mas thou. Um número enorme de palavras hoje aceitas, como clever, fun, e prestigious entraram no inglês como o que autoridades do uso consideravam erros ou gírias escandalosas. Mas não são só convenções de uso que mudam conforme o tempo como o próprio inglês também o faz; se não mudasse, nós ainda falaríamos como Chaucer. Quem poderá dizer quais mudanças são naturais e quais são corrupções? E quando Bryan Garner ou E. Ward Gilman efetivamente decidem dizer, quem deve acreditar neles? Esse tipo de questão não é nova, mas elas de fato têm uma certa urgência. America está no meio de uma prolongada Crise de Autoridade em matéria de linguagem. Em resumo, o mesmo tipo de agitações políticas que produziram tudo desde Kent State a Independent Counsels têm produzido uma escola influente contraSNOOT para quem padrões normativos da gramática inglesa e uso são o produto de nada além do que do costume e superstição e da docilidade ovina com que o povinho submete às ordens de auto-denominadas autoridades da linguagem. Veja por exemplo do artigo do Steven Pinker do MIT no seu famoso artigo para a New Republic – “Uma vez introduzida, uma regra prescritiva é muito difícil de erradicar, não importa quão ridícula ela seja. Dentro do esblishment literário, as regras sobrevivem pela mesma dinâmica que se perpetuam as mutilações genitais em rituais” – ou, em algum passo mais baixo, Bill Bryson no Mother Tongue: English and How It Got That Way: Quem escolhe todas aquelas regras que nós aprendemos desde a infância – a ideia de que nós nunca podemos acabar uma frase com uma preposição ou começar uma com 12

O que segue no prefácio é “... e dez pontos críticos que, depois de anos trabalhando com problemas de uso, eu encontrei”. Estes pontos estão muito envolvidos para serem tratados separadamente, mas uma dupla deles são escorregadios ao extremo, por exemplo: “10. Uso Atual. No fim, o uso atual dos falantes educados e escritores é o critério abrangente para a correção”, em que “educado” e “atual” requer inúmeras páginas de clarificação abstrata e quantificação para fortalecer contra os Guerreiros do Uso – ataques relacionados, mas que Garner um tanto ingenuamente elege para definir e defender pela aplicação no seu dicionário em si. 13 (N.T.) Fort Sumter foi o primeiro palco da guerra civil americana. 14 Não há indicador melhor da autoridade d’O Dicionário do que usá-lo para formular apostas. Meu próprio pai está até hoje vivendo do resultado de uma boa aposta pela grafia correta de meringue, uma aposta feita no dia 14 de setembro de 1974. 15 Nota do Editor: O manual de estilo da Harper’s prescreve que é Ok.

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a conjunção, que nós devemos usar each ou other quando se referem a duas coisas e one other quando houver mais de duas? A resposta, surpreendentemente freqüente, é que ninguém o faz, e quando você olha para o fundamento de tais “regras” há frequentemente pouca base para elas. No prefácio do ADMAU, Garner faz a si mesmo a Pergunta de Autoridade com uma simplicidade Trumanesca e candura que simultaneamente disfarça a engenhosidade do autor e a exemplifica: Como você já deve ter suspeitado, eu não deixo de fazer julgamentos. Eu não consigo imaginar que a maioria dos leitores gostaria que eu deixasse. Lingüistas não gostam disso, claro, por que julgamento envolve subjetividade16. Não é científico. Mas retórica e uso, na visão de muitos escritores profissionais, não são empreendimentos científicos. Você não quer descrições desapaixonadas; você quer um guia claro. E isso requer julgamento. Monografias inteiras poderiam ser escritas sobre a retórica magistral dessa passagem. Note por exemplo o engenhoso equívoco de julgamentos em “Eu não me coíbo de fazer julgamentos” vs. “E isso requer julgamento”. Basta dizer que Garner está a todo tempo sutilmente consciente da Crise de Autoridade no uso moderno; e sua resposta a essa crise é – no melhor espírito democrático – retórica. Então... Corolário do estabelecimento da tese para todo esse artigo. A mais evidente característica oportuna do livro do Garner é ao mesmo tempo lexicográfica e retórica. Sua maior estratégia envolve o que é conhecido em retórica clássica como Apelo Ético. Aqui o adjetivo, derivado do grego ethos, não significa o mesmo quando nós dizemos ético. Mas há afinidades. O que conta no Apelo Ético é um complexo e sofisticado “Confie em Mim”. É o mais ousado, mais ambicioso, e ainda mais distintivamente americano dos apelos retóricos, porque isso requer que o retórico nos convença não só na sua acuidade intelectual ou competência retórica mas também na sua decência básica e honestidade e sensibilidade para com os medos e esperanças de sua própria audiência17. Essas não são qualidades associadas com a autoridade de uso do SNOOT tradicional, uma figura que está mais para o esnobismo fundamentado e analítica justificada, e alguém cuja imagem atual não fica melhor por meio de gente como Morris Bishop, um American Heritage Dictionary Distinguished Usage Panelist: “A notória má educação dos ignorantes é frequentemente omitida, sem levar em conta o que ele possa sentir por esses desleixados” ou o crítico John Simon’s “A língua inglesa está sendo hoje em dia tratada da mesma forma como os traficantes de escravos tratavam sua mercadoria...” Compare essas linhas das personas de autoridade com o Garner, em, por exemplo, “O uso do inglês é tão desafiador que mesmo os escritores mais calejados precisam de um guia de vez em quando”. A questão aqui é que A Dictionary of Modern American Usage dá a Garner toda a confiança que ele pede no seu Apelo Ético. Esse livro tem um espírito bom (no melhor sentido que a expressão “bom” pode ter), casa rigor e humildade num sentido 16

Essa é uma meia-verdade esperta. Linguistas compõem somente uma parte do campo anti-julgamento, e suas objeções aos julgamentos de uso envolvem muito mais do que só “subjetividade”. 17 Neste último quesito, lembre-se do exemplo do famoso “I feel your pain” do W. J. Clinton, que foi um ruidoso senão particularmente magistral Apelo Ético.

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que permite Garner ser extremamente prescritivo sem nenhuma aparência de prescrição evangelista ou prescritiva. Esse é um feito extraordinário. Entender por que é um feito basicamente retórico, e por que isso é ao mesmo tempo historicamente significante e (na opinião deste resenhista) politicamente redentor, requer a um olhar mais detalhado nas Guerras de Uso. Você saberia com certeza que lexicografia possui pontos-fracos se lesse os pequenos ensaios introdutórios dos dicionários modernos – tipos como “A Brief History of English Usage” do Webster’s DEU ou Linguistic Advances and Lexography do Webster’s Third’s ou Usage in The American Heritage Dictionary: The Place of Criticism do AHD-3. Mas ninguém se interessa por essas pequenas introduções, e não é só pelo seu tipo seis pontos ou pelo fato de que dicionários tendem a ser difíceis de segurar no colo. É que essas introduções não são de fato escritas para você ou para mim ou para o cidadão comum que vai para O Dicionário só para ver como se escreve (por exemplo) meringue. Eles são escritos para outros lexicógrafos e críticos, e na verdade eles não são introdutórios coisa nenhuma mas sim polêmicos. Eles são evasivas nas Guerras do Uso que estão em curso desde que o editor Philip Gove primeiro tentou aplicar os princípios livres de valor na lingüística estrutural na lexicografia do Webster’s Third. A famosa resposta do Gove para os conservadores que berraram18 quando Webster Third endossou OK e descreveu o ain’t como “usado oralmente na maioria dos Estados Unidos por muitos falantes cultos [sic]” foi isso: “Um dicionário deve não ter trânsito com... noções artificiais de correição ou superioridade. Deve ser descritivo e não prescritivo”. Esses termos ficaram e se tornaram epítetos, e lingüistas conservadores são formalmente conhecidos como Prescritivistas e os lingüistas liberais são Descritivistas. Os primeiros são muito mais conhecidos. Quando você lê a coluna do William Safire ou Morton Freeman ou livros como Stricly Speaking do Edwin Newman ou Paradigms Lost do John Simon, você está lendo o Prescritivismo Popular, um gênero lateral de alguns jornalistas (a maioria mais velha, a grade maioria dos quais usa gravata borboleta) cuja ironia confusa frequentemente mascara a raiva do Colonel Blimp sobre como o amado inglês de sua infância está sendo emporcalhado pela decadência do presente. O tom plutocrático e a sagacidade hemostática de Safire e Newman e os melhores Prescritivistas é frequentemente modelado depois que as personas Brit-mandarin como Eric Partridge e H. W. Fowler, as mesmas torres gêmeas do Prescritivismo escolar que Garner diz ter reverenciado quando criança19. Descritivistas, por outro lado, não têm uma coluna semanal no Times. Esse tipo de gente tende a ser acadêmicos hard-core, a maioria lingüista ou teóricos de 18

Realmente, berraram: resenhas aborrecidas e editoriais ultrajados por todo este país – do Times à The New Yorker e a boa e velha Life, ou q.v. esse da Atlantic de Janeiro de 1962: “Nós temos visto o improviso de uma nova forma de dicionário, em grande parte, feito por julgamentos rompidos e por uma espécie de desenvolvimento teórico que na prática prejudica; nós tempos visto os canais bem abertos na hospitalidade entusiástica para a confusão heterogênea e corrompida. Por tudo, o trabalho ansiosamente aguardado que era para ter coroado a intelectualidade lingüística cisatlântica com glória particular vem a ser um escândalo e um desastre”. 19 Note por exemplo a medula mordante (e o we real) desse fragmento retirado ao acaso do Usage e Abusage do Partridge: ansioso de. “Eu não sou descrente de seu futuro. Mas eu estou profundamente ansioso dele., Beverly Nichols, News of England, 1938: que nos fez profundamente ansioso pelo (ou sobre o) – não do – futuro literário do Sr. Nichol’s. Ou veja o quase Himalaiana condescendência de Fowler, aqui com o uso das palavras de alguém para que as palavras signifiquem coisas que elas não significam: extensões desleixadas... é especialmente provável de ocorrer quando algum acidente dá curso entre os ignorantes a palavras de origem aprendidas, & quanto mais eles estão isolados ou tem poucos familiares no vernáculo... O significado original de feasible (factível) é simplesmente doable (realizável, ou mesmo factível, do Latim facere do); mas para os ignorantes é um mero símbolo, de que ele tem que inferir o valor do contexto nos quais ele ouviu a palavra ser usada, por que esses familiares como tem no inglês - feat, feature, faction &c. – ou deixam de mostrar a obvia semelhança para qual ele está acostumado entre famílias de palavras nativas, o são (como malfeasance) fora de seu alcance.

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Composição. Livremente organizados sob a bandeira dos lingüistas estruturais (ou “descritiva”) eles são positivistas doutrinários que possuem suas raízes intelectuais nas obras de Auguste Comte e Ferdinand de Saussure e suas raízes ideológicas fincadas no anos sessenta dos EUA. A breve menção explícita no Prefácio do Garner entrega este grupo: Em algum lugar desta linha, porém, dicionários de uso pegam carona nos lingüistas descritivistas20, que observam a língua cientificamente. Para os puramente descritivos, é impossível dizer que uma forma de língua é melhor do que a outra: desde que o falante nativo a empregue, está OK – e qualquer um que siga a posição contrária é um imbecil.... Essencialmente, decritivistas e prescritivistas estão abordando diferentes problemas. Descritivistas querem registrar a linguagem como ela é de fato usada, e cumpre uma função útil – embora sua audiência esteja geralmente limitada àqueles dispostos a se debruçar vastos tomos de uma pesquisa seca. é extremamente dissimulado, especialmente na parte “abordando diferentes problemas”, porque é vastamente subestimado a influência Descritivista na cultura dos Estados Unidos. Por um lado, Descritivismo tão rápida e completamente tomou conta da educação neste país que depois de 1970 tem se ensinado a escrever Descritivamente – via “livre-escrita”, “brainstorming”, “jornalisticamente” uma visão de que escrever é mais auto-exploratório e expressiva do que comunicativa, um abandono da gramática sistemática, uso, semântica, retórica e etimologia. Por outro, a própria linguagem nos movimentos socialistas, feministas, gays, e ambientalistas estruturam suas posições no debate político instruídos pela crença Descritivista de que o inglês tradicional é concebido e perpetuados pelos Privilegiados Machos WASP21 e é portanto inerentemente capitalista, sexista, racista, xenófobo, homofóbico, elitista: injusto. Pense Ebonics. Pense nas contorções envolvidas quando as pessoas tentam evitar ele como um pronome genérico, ou jeito deliberadamente tenso com que brancos machos hoje ajustam seu vocabulário em volta do não-w.m. Pense nos debates intermináveis de hoje sobre o nomes justos das coisas – “Ações Afirmativas” v.s. “Discriminação Reversa”, “Pro-vida” v.s. “Pro-Escolha”, “Sub-registro” v.s. “Voto Fraudulento”, etc. A revolução dos Descritivistas demora pouco tempo para desembrulhar, mas vale a pena. A rejeição dos lingüistas estruturais das regras de uso convencionais dependem de dois principais argumentos. O primeiro é acadêmico e o outro é metodológico. Nessa era de tecnologia, Descritivistas lutam pelo Método Científico – clinicamente objetivo, sem atribuição de valor, baseado na observação direta e hipóteses demonstráveis- que devem determinar tanto o conteúdo dos dicionários quanto os padrões de uso do inglês “correto”. Porque a língua está em constante evolução, tais padrões tendem a ser fluídos. A introdução agora clássica do Gove ao Webster’s Third enumera os cinco editos básicos deste tipo de Descritivismo: “1- A linguagem muda constantemente; 2 – A mudança é norma; 3 – A linguagem falada é a linguagem; 4 – Correção está no uso; 5 – Todo uso é relativo.” Esses princípios são OK prima facie – senso comum e assessorados pela prosa S.V.O. da ciência desapaixonada – mas de fato elas são vagas e confusas e demora-se menos de três minutos para pensar em réplicas razoáveis para contestar cada uma 20

Exclamação bushwa: como o corpo do ADMAU deixa claro, Garner sabe exatamente quando Descritivistas começaram a influenciar os guias de uso. 21 (que é de fato verdade)

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delas, como: 1- OK, mas o quanto e quão rápido? 2- Mesma coisa. O fluxo heraclitiano normal ou desejável como uma mudança gradual? Algumas mudanças de fato servem para o geral pizzazz melhor do que outras? E quantas pessoas precisam se desviar de quantas convenções antes de se dizer que a língua mudou de fato? Cinquenta por cento? Dez por cento? 3 - Essa é uma reivindicação antiga, tão antiga quanto Fedro de Platão. E é ilusório. Se Derrida e seus Desconstrucionistas infames não fizeram nada além disso, eles desmascararam a ideia de que o discurso é instância primária da linguagem22. Além disso considere a arrogância estranha da correição do Gove. Só os fanáticos dos Prescritivistas se importam tanto com o inglês falado; a maioria dos guias Prescritivistas se preocupam com o Escrita Inglesa Padrão23. 4Tudo bem, mas o uso de quem? Gove pede pela questão inteira. O que ele pretende aqui, eu penso, é inverter a relação de vinculação tradicional de regras abstratas e uso correto: ao invés de uso idealmente correto de uma série de regras, essa regulação deve corresponder à forma como as pessoas reais utilizam a linguagem. Novamente, tudo bem, mas quais pessoas? Latinos urbanos? Brahminis de Boston? Ruralistas do meio-oeste? Neogálicos Apalacianos? 5- Huh? Se isso significa o que parece significar, então acaba por chutar todo o argumento do Gove. (5) Parece implicar que a resposta correta a “Quais pessoas?” é: “Todas elas!” É fácil mostrar como isso não se sustenta como um princípio lexicográfico. O problema mais óbvio com ele é que nem tudo pode entrar n’O Dicionário. Por que não? Porque você não consegue observar toda a pequena porção de todo o “comportamento lingüístico” de todo falante nativo, e, mesmo se você conseguisse, o resultado seria um dicionário que pesaria 6 milhões de quilos e que deveria ser atualizado a toda hora24. O fato é que qualquer lexicógrafo terá que fazer decisões sobre o que colocar no dicionário e o que não. E essas escolhas são baseada em... o quê? E agora nós voltamos para o começo. É verdade que, sendo um SNOOT, eu sou predisposto neurologicamente a ver falhas no argumento metodológico do Gove e companhia. Mas essas falhas são assustadoramente fáceis de se encontrar. Provavelmente a maior delas é o que os Descritivistas “lexicógrafos científicos” – sob o qual, lembremos, o dicionário ideal de inglês é basicamente numericamente massacrante; você de alguma forma observa cada ato lingüístico por cada falante nativo/naturalizado do inglês e junta todos esses atos entre duas capas e chamada isso de O Dicionário – que envolve um incrivelmente simplista e datado entendimento do que científico quer dizer. Isso exige a crença ingênua na objetividade científica, de um lado. Mesmo em ciência física, tudo, desde mecânica quântica até teoria da informação, mostrou que o ato de observação é por si mesmo parte do fenômeno observado e analiticamente inseparável dele. Se você se lembra das aulas de inglês do colegial, há uma analogia aqui que aponta o problema no qual os estudiosos se metem quando confundem observação com interpretação. Lembre-se do New Criticim25. Eles acreditavam que a crítica 22

(Q.v. “The Pharmakon” no Derrida La dissémination – mas você estaria melhor só acreditando em mim) Escrita Inglesa Padrão (EIP) é também chamado de Inglês Padrão (IP) ou Inglês Educado, mas a ênfase indicativa é a mesma. SEMI-INTERPOLAÇÃO Além disso note que o Prefácio do Garner explicita que os nomes explícitos da audiência esperada do ADMAU são “escritores e editores”. E mesmo propagandas do dicionário nesses órgãos como The New York Review of Books são contruídos em torno do slogan “Se você gosta de ESCREVER... Refere-se a nós)* *(Seu resenhista SNOOT não pode deixar de observar que, w/r/t esses anúncios, que o r de abertura em Refere não deveria ser em maiúsculo depois de uma cláusula dependente + elipse – Quandoque bonus dormitat Homerus) 24 Verdade, algum tipo de Megadicionário de compêndio atualizado em tempo real poderá ser possível on-line, embora será necessário um pequeno exército de webmasters léxicos e um exército muito maior de repórteres de uso in situ e técnicos de vigilância; além de que seria caro nível-PIB. 25 New Criticism se refere a T. S. Eliot e I. A. Richards e F. R. Leavis e Cleanth Brooks e Wimsatt & Beardsley e toda a escola “close reading” que dominou a crítica literária desde a Primeira Grande Gerra até os anos setenta. 23

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literária era melhor concebida como um empreendimento científico: a crítica deveria ser uma neutra, cuidadosa, imparcial e altamente treinada observação cujo trabalho era encontrar e objetivamente descrever os significados que estavam lá – literalmente dentro – dos pedaços de literatura. Se você sabe o que aconteceu com o a reputação do Novos Críticos vai depender se você estudou inglês no colégio antes ou depois de 1975. É suficiente dizer que sua estrela foi ofuscada. O New Criticism compartilha do mesmo problema do que a Metodologia Descritivista do Gove: Eles acreditam que científico quer dizer a mesma coisa que neutro ou imparcial. E que os significados lingüísticos podem existir “objetivamente”, separados dos atos interpretativos. O ponto da analogia é que reivindicações de objetividade no estudo da linguagem são agora são motivo de piadas e arrepios. A assunção epistemológica que norteia o Descritivismo Metodológico tem sido totalmente desmascarada e deslocada – em Literatura pela ascensão do pós-estuturalismo, Resposta-do-Leitor Criticismo, e pela Teoria da Recepção Jaussiansa; em lingüística pela ascensão dos Pragmáticos – e é mais ou menos aceito universalmente que (a) significado é inseparável de algum ato interpretativo e (b) um ato de interpretação é de alguma forma parcial, isto é, informado pela ideologia particular do intérprete. E a conseqüência de (a) e de (b) é que não há caminho fora disso – decisões sobre o que colocar no dicionário e o quer excluir serão baseadas na ideologia do lexicógrafo. E todo lexicógrafo possui uma. Presumir que qualquer dicionarista consiga de alguma forma escapar ou transcender ideologia é simplesmente subscrever uma particular ideologia, uma que pode corretamente ser descrita por Positivismo Incrivelmente Ingênuo. Há um sentido ainda mais errado em pensar que o Método Científico seja apropriado para o estudo da linguagem: mesmo se, como num experimente intelectual, nós assumirmos algum tipo de realismo científico oitocentista- no qual, ainda que a interpretação científica possa ser parcial26, o fenômeno natural por si mesmo pode ser pressuposto como existindo independentemente da observação ou interpretação – nenhuma suposição realista como essa pode ser feita sobre o “comportamento lingüístico”, porque esse comportamento é ao mesmo tempo humano e fundamentalmente normativo. Para entender isso, você deve aceitar apenas a proposição de que a linguagem é por sua própria natureza pública – isto é, não pode algo como um Linguagem Privada27 – e então seguir o caminho dos Descritivistas 26

(“EVIDENCIA DE LIGAÇÃO COM CÂNCER REFUTADA POR PESQUISA DO INSTITUTO DO TABACO) 27 Essa proposição é de fato verdadeira, como interpolativamente demonstrado abaixo, e embora a demonstração seja extremamente persuasiva ela é também, como você pode ver pelo tamanho desta nota de rodapé, longa e envolvente e um tanto, humm, densa, então de novo você provavelmente estaria melhor por simplesmente tomá-la como verdade e continuar no corpo do texto DEMONSTRAÇÃO INTERPOLATIVA DO FATO DE QUE NÃO EXISTE TAL COISA COMO UMA LINGUAGEM PRIVADA É tentador imaginar que possa existir algo como uma linguagem privada. Muitos estão inclinados à filosofia leiga sobre a estranha privacidade de nossos próprios estados mentais, por exemplo, sobre o fato de que quando meus joelhos doem só eu consigo senti-los, é tentador concluir que para mim a palavra dor tem um significado interno que só eu consigo verdadeiramente entender. Essa linha de pensamento é parecida com o terror do adolescente maconheiro de que sua própria experiência interna é privada e inverificável, uma síndrome que é tecnicamente conhecida como Solepicismo Cannábico. Comendo Chitos Ahoy! e olhando fixo intensamente para a rede de canais da TV, por exemplo, o adolescente maconheiro está preso pela medonha possibilidade que, e.g., o que ele vê como “cor verde” e o que as pessoas chamam de “cor verde” pode de fato nunca ter sido a mesma experiência de cor: O fato de que ele e outro alguém chamarem de verde um campo de golfe e o sinal de “SIGA” em um sinaleiro parece garantir de que há somente uma consistência similar em suas experiências de cor em campos de golfe e nas luzes de um sinaleiro, não que a qualidade subjetiva atual dessas experiências de cor seja a mesma; pode ser que as experiências em um viciado em maconha chamadas de verde seja na realidade azul para outras pessoas, e que o que nós “queremos dizer” com azul é o que ele quer dizer como “verde”, etc., etc., até que toda essa linha de pensamento fique tão chata e exaustiva até que o v.e.m. termine coberto de migalhas e paralizado em sua cadeira. O ponto aqui é que a ideia de que uma Linguagem Privada, como Cores Privadas e outros conceitos solipsistas pelos os quais esse resenhista já ficou várias afligido, é tanto ilusório como demonstrativamente falso.

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Metodológicos parece, ou ignorar este fato, ou esquecer suas conseqüências, como por exemplo em uma das introduções de Charles Fries no epígono do Webster’s Third intitulado O Dicionário Colegial do Inglês Americano: Um dicionário pode ser uma “autoridade” somente no sentido no qual um livro de química ou de física ou de botânica podem ser chamados de “autoridade” – pela precisão e pela completude de seus registros dos fatos observáveis no campo examinado, de acordo com os últimos princípios e técnicas de cada ciência. Isso é tão estúpido que praticamente baba. Um texto de “autoridade” de física apresenta os resultados das observações físicas e teorias físicas sobre essas observações. Se um livro-texto de física opera segundo princípios descritivistas, o fato de alguns americanos observarem que o fluxo de eletricidade colina abaixo (baseado no fato observável de que linhas de força tendem a correr acima das casas que servem) irá requerer que a Teoria do Melhor Fluxo Colina Abaixo da Eletricidade ser incluído como uma teoria “válida” em seu livro-texto – como se, para o Dr. Fries, se alguns americanos inferem ou implicam, o uso se transforma ipso facto uma parte válida da linguagem. Lingüistas estruturais como Gove e Fries não são, finalmente, cientistas mas fazedores de census que ocorre por desconstruir a importância dos “fatos observáveis”. Não é o fato científico que eles estão tabulando mas um conjunto de condutas humanas, e muitas condutas humanas são – para ser bruto – imbecis. Tente, por exemplo, imaginar um livro-texto de autoridade cujos princípios devam ser baseados no que as pessoas de fato fazem. Normativamente sensato, pensemos que a linguagem nunca veio a ser o que é porque nossos ancestrais peludos sentaram-se ao redor da estepe com nada melhor a fazer. Linguagem foi inventada para servir a certos propósitos28 específicos: “Esse cogumelo é venenoso”; “Bata essas pedras juntas e você fará fogo”; “Esse cobertor é meu!” E assim por diante. Claramente, as comunidades lingüísticas se desenvolvem com o tempo, e elas descobrem que algumas formas de usar a linguagem são “melhores” do que outras – melhor aqui no que diz respeito aos propósitos da comunidade. Se nós assumirmos que um determinado propósito pode ser comunicar que tipo de comida é seguro para ser comido, então você pode ver como, por exemplo, um modificador equivocado pode violar uma norma importante: “Pessoas que comem um certo tipo de cogumelo frequentemente passam mal” confundem o recipiente sobre se ele passará mal se comer o cogumelo frequentemente ou se ele terá grandes chances de passar mal na primeira vez que ele comê-lo. Em outras palavras, a No caso da Linguagem Privada, a ilusão é usualmente baseada na crença de que uma palavra como dor possui seu significado pois de alguma forma está “conectada” no sentimento do meu joelho. Mas como provado pelo Philosophical Investigations do Sr. L. Wittgenstein nos anos 1950, palavras possuem seu sentido porque algumas regras e testes de verificação são impostos a nós exteriormente às nossas próprias subjetividades, viz., pela comunidade na qual temos que sobreviver e comunicar com outras pessoas. O argumento do Wittgenstein, que é admitidamente muito complexo e gnômico e opaco, basicamente se centra no fato de que uma palavra como dor significa o que significa para mim por causa do jeito como a comunidade da qual eu faço parte tacitamente concordou com o uso de dor. Se você está pensando que tudo isso soa não só muito abstrato mas também pretensiosamente relevante para as Guerras pelo Uso ou qualquer coisa pela qual você se interessa realmente, você está muito enganado. Se o significado das palavras dependem de regras transpessoais e essas regras do consenso da comunidade, a linguagem não é só conceitualmente não-Privada mas também irredutivelmente pública, política e ideológica. Isso significa que questões de consenso nacional sobre gramática e uso são na realidade atadas aos últimos temas sociais que estão em jogo nessa América milenar - classe, raça, gênero, moralidade, tolerância, pluralismo, coesão, igualdade, justiça, dinheiro: Diga você. 28 Normas, afinal de contas, são só práticas que pessoas concordaram ser como maneiras ótimas de fazer coisas para certos propósitos. Não são leis, mas também não são lasseiz-faire também.

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comunidade tem investido interesse prático em excluir esse tipo de modificador equivocado de um uso aceitável; e mesmo se uma certa porcentagem dos homens tribais estragar tudo e usá-lo, isso mesmo assim não é uma m.m.’s (misplaced modifier) boa ideia. Talvez agora a analogia entre o uso e ética seja mais clara. Só porque pessoas às vezes mintam, soneguem impostos, ou grite com seus filhos, isso não significa que eles pensam que essas coisas sejam “boas”. Todo o objetivo das normas é nos ajudar a avaliar nossas ações (incluindo exortações) de acordo com o que nós enquanto comunidade decidimos quais são os nossos reais interesses e propósitos. Admito, essa análise é simplificada; na prática é incrivelmente difícil atingir essas normas e mantêlas ao mesmo minimamente justas ou algumas vezes concordar quais sejam elas (vejam as Guerras Culturais). Mas as assunções dos Descritivistas de que as normas são arbitrárias e dispensáveis nos levam a – bem, pegue um cogumelo. A conotação arbitrária aqui é trapaceira, porém, e esse tipo de mudança nos leva um segundo argumento que os Descritivistas fazem. Há um sentido no qual convenções lingüísticas específicas são arbitrárias. Por exemplo, não há nenhuma razão metafísica particular para um mamífero quadrúpede que dá leite e faz moo ser uma vaca e não, digamos, prtlmpf. A frase chique para isso é “a arbitrariedade do signo lingüístico” e é usada, assim como certos princípios da ciência cognitiva e gramática generativa, em um versão filosoficamente mais sofisticada do Descritivismo que retém as convenções do IEP para ficar com as sutilezas da moda do que com as normas de fato. Esse “Descritivismo Filosófico” não liga muito para dicionários ou método; seu objetivo é a afirmação SNOOT padrão supra – que regras prescritivas precisam ter sua última justificação nas necessidades da comunidade para fazer sua linguagem fazer sentido. O argumento vai mais ou menos assim. Uma frase do inglês com sentido não é a mesma coisa do que ela ser gramatical. Isto é, construções claramente mal formadas como “Você tem visto as chaves do carro por mim? ou “O show foi olhado por muitas pessoas” são mesmo assim compreensíveis; as frases de fato, mais ou menos, comunicam a informação que elas estão tentando passar. Adicione a este fato que ninguém que tenha sofrido um dano de um jeito profundamente Oliver Sackiano na verdade comete esse tipo de erro sintático29 e você entende a proposição básica da lingüística generativa de Noam Chomsky, de que há uma Gramática Universal subjacente a todas as línguas, e que há provavelmente uma parte do cérebro humano onde está impressa essa Gramática Universal da mesma forma que os cérebros de passarinhos possuem uma Alma Voadora impressa e cachorros com Genitálias Cheiráveis. Há todos o tipo de evidência robusta e suporte para essas ideias, não menos de que há evidências de que cientistas lingüistas e cognitivos e pesquisadores de inteligência artificial têm sido capazes de fazer com elas, e que teorias têm muita credibilidade, e elas são aduzidas pelos Descritivistas Filosóficos para mostrar que desde as mais importantes regras da linguagem são desde o nascimento plugadas no neocórtex das pessoas, as prescrições do IEP contra os particípios pendentes ou metáforas misturadas são basicamente os equivalentes lingüísticos dos espartilhosbarbatana e garfos pequenos para a salada. Como um Descritivista Stiven Pinker, coloca, “Quando um cientista considera toda a maquinaria mental high-tech eles

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Em seu The Language Instintic: How the Mind Creates Language (1994), Stiven Pinker coloca assim: Ninguém, nem mesmo uma garota fútil, foi dita para falar Maçãs que comem o garoto ou ou A criança parece dormindo ou Quem você conheceu John e? Ou a vasta, vasta maioria dos milhões dos trilhões de combinações matemáticas possíveis.

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precisam ordenar suas afirmações em frases do dia-a-dia, regras prescritivas são, quando muito, ornamentos sem importância”. Esse argumento não é um barril de trutas drogadas como o Descritivismo Metodológico era, mas ainda é vulnerável a algumas objeções. A primeira é fácil. Mesmo que seja verdade de que todos nós estamos plugados na Gramática Universal, não se segue simplesmente que todas as regras prescritivas sejam supérfluas. Algumas dessas regras realmente não parecem servir à clareza e precisão. A injunção contra advérbios de duas vias (“Pessoas que comem frequentemente passam mal”) é um exemplo óbvio, como há regras sobre outros tipos de modificadores malcolocados (“Há muitos motivos pelos quais os advogados mentem, alguns melhores que outros”) e sobre a proximidade de pronomes relativos em relação aos substantivos que eles modificam (“Ela é a mãe de uma menina que trabalha doze horas por dia”. Admito, o Descritivismo Filosófico pode questionar o quão absolutamente necessário essas regras são – é bem freqüente que o recipiente de cláusulas como essas consiga descobrir os que elas significam em cada caso ou pelo “contexto geral” ou sei lá. Um ouvinte consegue descobrir o que eu realmente quero dizer quando uso incorretamente inferir por implicar ou digo indicar no lugar de dizer, também. Mas muitos desses solecismos exigem um pouco mais de nanosegundos de esforço cognitivo, o tipo de processo filtre-e-descarte rápido, antes que recipiente o entenda. Trabalho extra. Podemos debater o quanto de trabalho extra, mas me parece pacífico que nós colocamos alguma carga cognitiva extra no recipiente quando nós deixamos de seguir algumas convenções. W/r/t cláusulas confusas como essas acima, é simplesmente mais atencioso seguir as regras do correto IEP... assim como é mais atencioso limpar sua casa antes de entreter seus convidados e escovar os dentes antes de encontrar sua paquera. Não mais atencioso mas sim mais respeitoso de alguma forma – ambos para seu ouvinte quanto para o que você pretende fazer. Assim como nós falamos sobre moda básica ou etiqueta, a forma como nós usamos o inglês “Faz uma Declaração” ou “Envia uma Mensagem” – mesmo que essas Declarações/Mensagens frequentemente não tenha nada a ver com a afirmação que você deseja transmitir. Nós agora temos sustança para uma réplica mais séria ao Descritivismo Filosófico: pelo fato de a comunicação lingüística não ser estritamente independente do uso e da gramática, isso não quer dizer necessariamente que as regras tradicionais de uso ou da gramática não passem de “ornamentos sem importância”. Outra forma de fazer essa objeção é dizer que só porque uma coisa seja “ornamental” isso não faz dela “sem importância”. Retoricamente, o descrédito petulante do Pinker é uma tática ruim, pois isso nos convida para a questão que suplica: sem importância para quem? Tome, por exemplo, a afirmação Descritivista de que o assim chamado uso do inglês correto como brought ao invés de brung e felt ao invés de feeled são arbitrárias e restritivas e injustas e são mantidas somente pelo costume e são (assim como verbos irregulares em geral) arcaicos e tudo isso que enche o saco. Pensemos um momento que essas objeções são 100 por cento razoáveis. Eu sugiro que você considere a roupa sub-torácica “correta” dos homens nos EUA seja calças ao invés de saia como arbitrária (muitas culturas deixam homens usarem saias), restritivas e injustas (mulheres dos EUA podem usar calças), baseada somente num costume arcaico (eu penso que isso deve ter alguma coisa a ver com algumas tradições acerca dos gêneros ou posição das pernas, as mesmas razões pelas quais as bicicletas de mulheres não possuírem barras transversais) e de alguma forma não só incômoda mas ilógica (saias são mais confortáveis do que calças; calças sobem; calças são quentes; calças apertam as genitálias e reduzem a fertilidade; com o tempo, calças desgastam e erodem seções

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irregulares dos pelos masculinos da perna e dá a homens mais velhos uma perna metade nua, etc., etc.). Vamos assumir – como experimento mental e nada mais – que todas elas são objeções razoáveis e constrangedoras às calças como normas de alfaiate masculinas. Vamos realmente em nossas mentes em corações dizer sim – grite sim – para a saia, o kilt, a toga, o sarong, o jupe. Vamos sonhar ou até em nosso tempo livre trabalhar para uma América onde ninguém dita uma prescrição arbitrária suntuária em ninguém mais e nós poderíamos andar por aí arejados e afrouxados e não irritados e móveis como quisermos. E ainda a coisa permanece que, na ampla cultura mainstream da América milenar, homens não usam saias. Se você, um leitor, é um homem dos EUA, e mesmo assim compartilha minhas objeções às calças e sonha como eu sonho com um Amanhã Americano fresco e genitaliamente solto, as chances são ainda 99.9 por cento a 100 por cento que em situações públicas nós usemos calças/calções/shorts/sungas. Mais precisamente, se você é um homem dos EUA e também tem uma criança do sexo masculino dos EUA, e se essa criança vier em uma tarde a você e anunciar seu desejo/intenção de usar uma saia ao invés de calça para ir à escola no dia seguinte, eu sou 100 confiante de que você irá desencorajá-lo a fazê-lo. Fortemente desencorajálo. Você pode ser um radical anti-calças Molotoviano ou um fabricante de kilt ou o próprio Steven Pinker – você cuidará de seu filho e será prescritivo sobre uma arbitrária, arcaica, desconfortável, e inconsequencialmente decorativa peça de roupa. Por quê? Bem, porque na América moderna qualquer garoto pequeno que vier à escola em um skirt (mesmo, digamos, um de todas as temporadas) ele será encarado e evitado e levará umas porradas e será chamado de Total Estranhóide por um monte pessoas cuja aprovação e aceitação é importante para ele30. Em nossa cultura, em outras palavras, um garoto que veste saias está Fazendo um Testemunho que terá todos os tipos consequências emocionais e macabramente sociais. Veja para onde isso está indo. Eu vou descrever os pontos pretendidos com a analogia da calça em termos que eu sei que são simplistas – sem dúvida há livros inteiros sobre Pragmática e psicolinguísitica ou alguma coisa voltada para desembrulhar esse ponto. A coisa estranha é que eu não vi nenhum Descritivista nem SNOOT utilizá-los nestas Guerras31. Quando digo ou escrevo algo, há de fato todo um monte de coisas diferentes que eu estou comunicando. O conteúdo proposicional (a informação efetiva que eu estou tentando transmitir) é somente uma parte disso. Outras são coisas sobre mim o comunicador. Todo mundo sabe disso. É em função do fato de haver incontáveis bemformadas formas de dizer basicamente a mesma coisa, como por exemplo, “Eu fui atacado por um urso!” para “O desgraçado do urso tentou me matar!” para “Aquele ursino gigante acabou de pular sobre minha pessoa” e assim por diante. E diferentes níveis de dicção e formalidade e somente os tipos mais simples de distinção; coisas ficam mais complicadas com tipos de comunicação interpessoal e sentimentos e humores entram em jogo. Aqui um tipo familiar de exemplo. Suponha que você e eu somos conhecidos e você está no meu apartamento tendo uma conversa e que num 30

No caso do Steven Pinker Jr., essas pessoas são os pares do garoto e professores e guardas de trânsito, etc. No caso de adultos cross-dressers e drag queens que possuem empregos no Mundo Straight e que usam calças nos seus trabalhos, seus co-trabalhadores e clientes e pessoas no metrô. Para o pateta duro-de-morrer que mesmo assim usa um casaco e uma gravata no trabalho, que é provavelmente seu chefe, que ele mesmo não deseja que as roupas dos seus empregados enviem a “mensagem errada”. Mas claro é tudo basicamente a mesma coisa. 31 De fato, a única vez que alguém ouve esse assunto tornado explicitamente é nos anúncios de rádio para fitas que prometem aumentar o vocabulário das pessoas. Esses anúncios são extremamente ameaçadores e intimidadores e sempre começam com “VOCÊ SABIA QUE PESSOAS TE JULGAM PELAS PALAVRAS QUE VOCÊ EMPREGA?”

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momento eu quero terminar a conversa e não quero que você esteja mais no apartamento. Momento social muito complicado. Pense nos diferentes caminhos eu posso fazê-lo: “Podemos terminar isso depois?”; “Você pode sair agora?”, “Wow, que tarde!”, “Vá embora”; “Dê o fora daqui”; “Você não disse que deveria estar em algum lugar?”; “Tá na hora de você se picar daqui, colega”; “Vamos indo, benzinho”; ou aquela maneira astuta de terminar uma conversa telefônica: “Bom, vou deixar você ir agora”, etc etc. E então pense nos diferentes fatores e implicações de cada opção. O ponto aqui é obvio. Diz respeito ao fenômeno que SNOOTs cegamente reforçam e que Descritivistas subestimam mal e que propagandas vocabulárias assustadoras tentam explorar. Pessoas realmente “julgam” umas as outras de acordo com o seu uso da linguagem. Constantemente. Claro, pessoas julgam umas as outras com base em todos os tipos de coisas – peso, sentimento, fisionomia, ocupação, feitura do veículo32 – e, novamente, sem dúvida é muito terrivelmente complicado e ocupa todo um batalhão de sócio-linguistas. Mas está claro que pelo menos um componente do julgamento semântico interpessoal envolve aceitação, significando não um tipo meloso de afirmação emocional mas uma verdadeira aceitação ou rejeição do apelo de alguém a ser considerado como um par, um membro da coletividade de alguém ou comunidade ou Grupo. Outra forma de chegar a isso é reconhecer coisa que na Guerras do Uso é mencionado somente em termos muito abstratos: Inglês “Correto” é, como um assunto prático, em função de com quem você está falando e como você deseja que essa pessoa responda – não só de suas declarações mas também você. Em outras palavras, grande parte da agenda de qualquer comunicação é retórica e depende do que alguns intelectuais de retórica chama, de “Audiência” ou “Comunidade Discursiva”33. E os Estados Unidos obviamente têm um número enorme dessas Comunidades Discursivas, muitas das quais dialetos culturais e/ou regionais do inglês: inglês negro, inglês latino, rural sulista, urbano sulista, Upper-Midwest padrão, Yankee do Maine, Bayou LesteTexano, Boston Blue-Collar, e assim por diante. Todo mundo sabe disso. O que nem todo mundo sabe – especialmente alguns Prescritivistas – é que muitos desses dialetos não-IEP possuem sua gramática interna altamente desenvolvida e consistente, e que algumas das normas de uso desses dialetos na realidade fazem mais sentido lingüístico-retórico do que seus homólogos Padrão (veja INTERPOLAÇÃO). Mais, clara, há inumeráveis sub-sub-dialetos baseados em todo tipo que não têm nada a ver com localidade ou eticidade – Inglês de Escolas Médicas, Inglês de Peorianos que Seguem de Perto Lutas, Inglês de Garotos de Doze Anos Cuja Visão de Mundo é Feita pelo South Park – e que é quase incompreensível para ninguém que não esteja dentro de sua Comunidade Discursiva específica (que caso é parte de sua função34) INTERPOLAÇÃO: EXEMPLO DE VANTAGENS GRAMATICAIS DE DIALETO NÃO-PADRÃO QUE ESTE RESENHISTA CONHECE DE PRIMEIRA MÃO

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(... sem mencionar cor, gênero, credo – você consegue ver quão cheio e carregado isso tudo está se tornando) Comunidades Discursivas é um exemplo raro de jargão acadêmico que na verdade é uma adição valiosa ao IEP porque ele captura algo de uma vez só muito complexo e muito específico que nenhum outro termo em inglês consegue captar.* *(O que foi dito acima é uma óbvia tentativa para prevenir zombarias/estremecimentos dos leitores com o contínuo emprego deste termo neste artigo.) 34 Além disso é verdade que se uma coisa é chamada de “subdialeto” ou “jargão” parece depender do quanto isso irrita as pessoas fora da Comunidade Discursiva. Garner ele mesmo tem mini-ensaios sobre AIRLINESE, COMPUTERESE, LEGALESE, e BUCAUREASE e mais ou menos os chama de jargão. Não há no ADMAU nenhum mini-ensaio sobre DIALETOS, mas sim sobre JARGÃO, no qual tão grande é o auto-retraímento do Garner que você pode quase ouvir seus tendões tensionando, como no “([Jargão] vem do apelo para salvar tempo e espaço – e ocasionalmente para conceder significado para os não iniciados”) 33

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Este resenhista acontece de ter dois dialetos do inglês – o IEP de meus pais hipereducados e o suado Rural do Meio-Oeste da maioria dos meus pares. Quando converso com R.M.O.s eu uso, por exemplo, a construção “Where’s it at? ” ao invés de “Where is it?” Parte disso é o desejo sincero de se encaixar e não ser rejeitado como um cabeção ou bicha (veja sub). Mas outra parte é que eu, SNOOT ou não, acredito que isso e outros R.M.mismos são em algumas formas superiores aos seus padrões equivalentes. Para um Prescritivista dogmático, “Where’s it at?” é duplamente condenável como uma frase que não só termina com uma preposição como cuja preposição final forma uma redundância com onde que é similar à redundância em “a razão é porque” (que recentemente usado devo admitir fez eu enterrar minhas unhas na palma de minha mão). Réplica: primeiro de tudo, a regra evitem-terminar-com-preposições é uma invenção de um Fr. R. Lowth, um pastor inglês setecentista e um pedante empedernido que fez coisas como gastar incontáveis páginas argumentando pelo hath contra a tendência degenerada do has. A regra a.t.p. é antiquada e estúpida e somente o SNOOT ayatolático leva isso a sério. Garner mesmo chama a regra de “abafada” e lista todos os tipos de construções como “the man you were listening to” que nós deveríamos descartar e distorcer se nós realmente a aplicarmos. Além disso a aparente redundância de “Where’s it at?” é compensada pela sua lógica métrica35. O que at realmente faz é permitir uma contração do is depois do verbo interrogativo. Você não pode dizer “Where is it at?” Então a escolha está em “Where is it?” e “Where’s it at?”, e a última, um forte anapesto, é mais bonito e faz a língua viajar melhor do que “Where is it?”, cuja métrica é ou um pé-monosilábico desajeitado + troqueu ou não é nada. Isso é provavelmente o lugar para seu resenhista SNOOT abertamente conceder que algum número de regras prescritivas tradicionais são estúpidas e que pessoas que insistem nelas (como o assessor lendário da Primeira Ministra Margaret Thatcher que se recusou a ler qualquer memorando com um infinitivo dividido nele, ou o professor alto-jr. que eu tive que automaticamente dava uma nota baixa se você começasse uma frase com Hopefully) são os mesmo tipos de SNOOT patéticos e perigosos, o SNOOT Quem Está Errado. A injunção contra infinitivos divididos, por exemplo, é uma conseqüência do fato estranho de que a gramática inglesa é modelada pelo latim mesmo que o latim seja uma língua sintética e inglês seja uma língua analítica36. Os infinitivos do latim consistem em uma palavra e são impossíveis de se dividir, e os primeiros Prescritivistas ingleses – tão encantados com o latim que seus guias de uso do inglês eram escritos em latim37 – decidiram que os infinitivos do inglês não deveriam ser divididos também. Garner mesmo tira sarro da regra s.i. tanto em no caso do INFINITIVOS DIVISÍVEIS e SUPERSTIÇÕES 38. E Hopefully no começo das frases, como um certo aluno de oitava série atrevido uma vez apontou 35

(uma redundância que é um pouco arbitrária, desde que “Where’s it from?” não é redundante [mais porque whence foi varrido como um semi-arcaísmo]) 36 Uma língua sintética usa inflexões para ditar sintaxe, ao passo que uma língua analítica usa a ordem das palavras. Latim, Alemão e Russo são sintéticas; Inglês e Chinês, analíticas. 37 Q. v. Por exemplo a atrofia no córtex do Sir Thomas Smith De Recta et Emendata Linguae Anglicae Scriptione Diologus de 1568. 38 Mas note que ele é são quanto isso. Alguns infinitivos divisíveis realmente são desajeitados e difíceis de analisar, especialmente quando há um todo um conjunto de palavras entre o to e o verbo – “We will attempt do swiftly and to the best of our ability respond to these charges” – que Garner chama de “separações grandes” e sensivelmente desencoraja. Seu veredito completo sobre s.i. é – que é que alguns são “propriamente perfeitos” e alguns duvidosos e alguns são simplesmente más notícias, e nenhum dogmático arrumado ucasse consegue lidar com todos os casos s.i., e portanto que “saber quando dividir os infinitivos requer um bom ouvido e um olho apurado”- é um bom exemplo da forma como Garner distingue objeções Descritivistas sólidas e úteis e as incorpora às sólidas objeções em uma mais inteligente e mais flexível Perspectivismo.

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para seu eterno custo social, atualmente funciona não como um auxiliar modal ou como uma maneira de advérbios como quickly e angrily mas como uma “frase advérbio” que indica que a atitude do falante sobre o estado de coisas descrito pela frase (exemplo de frases adverbiais perfeitamente OK são Clearly, Basically, Luckly) e somente SNOOTs educados nos altamente pedantes anos antes de 1960 cegamente os proscreveria ou daria nota baixa. Casos de infinitivos divisíveis e Hopefully são de fato tratados pelos dogmáticos Descritivistas como evidência de que todas as regras de uso IEP são arbitrárias e estúpidas (que é um pouco como apontar para Pat Buchanan como uma evidência de que todos os republicanos são maníacos), Garner rejeitou a proscrição instintiva também, ainda que mesquinhamente, incluindo o advérbio na sua mini dissertação como TERMOS ESCULHAMBADOS, que em sua frase para que é “altamente disputável... qualquer uso dele é provável de distrair alguns leitores.” (Garner também indica algo que eu nunca tinha notado, que é que hopefully, se mal colocado ou mal pontuado no corpo da frase, consegue criar algumas das mesmas ambigüidades de duas vias como outros advérbios, como na oração “I will borrow your book and hopefully read it soon”) Sendo nós conscientes disso ou não, a maioria de nós é fluente em mais de um dialeto do inglês e um grande número de subdialetos e provavelmente conseguimos navegar em inúmeros outros. Qual dialeto você escolhe para usar depende, é claro, a quem você se dirige. Mais ao ponto, eu admito que o dialeto que você usa depende mais de qual grupo seu ouvinte faz parte e se você deseja se apresentar como um membro deste grupo. Um exemplo óbvio é que o inglês tradicional de alta-classe possui algumas diferenças de dialeto em relação ao inglês de baixa-classe e que escolas tinham cursos em Elocução cujo todo objetivo era ensinar pessoas a falar de uma forma alta-classe. Mas o uso-como-inclusão é muito mais do que uma questão de classe. Eis aqui um ou outro experimento mental: um bando de adolescentes dos EUA em roupas que parecem muito maiores para eles está sentado junto em um shopping Corte da Comida, e um homem de 53 anos como um pega-emprestado e roupas que se ajustam vem a eles e diz que ele os estava secando e pensa que eles são totalmente maneiros e descolados e se seria bacana se ele ficasse de boa ali com eles. A reação da criança seria de desprezo ou vergonha pelo cara – mais ou menos uma mistura de ambos. Q: Quê? Ou imagine que dois negros urbanos hardcore estão de pé conversando e eu, que sou retumbantemente e totalmente branco, chego e os saúdo com “Yo” e os chamo de “Mano” e digo “Colé, que tá rolando?” pronunciando o rolando como aquela NYCish oo-o lingual que o Inglês do Jovem Urbano Negro emprega no lugar do o. Ou esses caras ficarão ofendidos ou eles vão pensar que eu simplesmente perdi minha cabeça. Nenhuma outra reação é remotamente visível. Q: Por quê? Porque: Um dialeto do inglês é aprendido e usado seja porque é seu vernáculo nativo seja porque é o dialeto de um Grupo pelo qual você desejaria (com algum grau de possibilidade) ser aceito. E embora seja o mais importante e indiscutivelmente o mais importante, IEP é só um dialeto. E não é nunca, ou quase nunca, o único dialeto de alguém. Isso porque há – como você e eu sabemos e mesmo assim ninguém nas Guerras Pelo Uso parece mencionar – situações nas quais o irrepreensivelmente correto IEP claramente não é o dialeto apropriado. Infância é cheia dessas situações. Há uma razão pela qual o SNOOTitos tendem a ter um período social muito difícil na escola. Um SNOOTtita é uma pequena criança que é descontrolada e precocemente fluente em IEP (ele é frequentemente, lembre-se, prole de SNOOTs). Mais ou menos cada sala possui um

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SNOOTita, então eu sei que você já os viu – esse é o tipo de gente que entre seis e doze anos e usa cujo corretamente e cuja resposta a ter perdido um gol é “Que incalculavelmente terrível!” etc. O SNOOtita do ensino funamental é uma das espécies mais jovens de Geekoides acadêmicos e é devidamente desprezado pelos seus pares e louvado pelos seus professores. Esses professores normalmente não veem a incrível quantidade de castigos que o SNOOTtita está recebendo de seus colegas de classe, se eles de fato veem eles culpam seus colegas de classe e balança suas cabeças tristemente pela crueldade arbitrária e viciosa de que as crianças são capazes. Mas os castigos das outras crianças ao SNOOtita não são nada arbitrários. Eles são a importante coisa em jogo. Criancinhas na escola estão aprendendo sobre inclusão-de-Grupo e exclusão e sobre suas respectivas punições e recompensas e sobre sintaxe e dialeto e gírias como sinais de afinidade e inclusão 39. Eles estão aprendendo sobre Comunidades Discursivas. Crianças aprendem esse tipo de coisa não nos seus estudos de Inglês ou Estudos Sociais mas no playground e no recreio e no ônibus. Quando seus pares estão dando nos SNOOtitas pescotapas quádruplos e segurando de ponta cabeça e se revezando para cuspir neles, há uma sério aprendizado acontecendo... para todo mundo exceto para o pobre SNOOT, que de fato está punido precisamente por sua falha em aprender. O que nem ele nem seu professor entendem é que o SNOOTita é deficiente na Arte da Língua. Ele possui apenas um dialeto. Ele não consegue alterar seu vocabulário, uso, ou gramática, não sabe usar gíria ou vulgaridade; e são essas habilidades que são realmente requeridas pela “comunicação de pares”, que é só um termo chique da educação fundamental para ser aceito pelo mais importante Grupo na vida de uma criancinha. Este resenhista reconhece que parece haver alguma, humm, coisa pessoal sendo salpicada e trabalhada aqui40; mas essa coisa é importante. O ponto é que o pequeno SNOOT nota 10 está na realidade na mesma posição dialetal que o menino “limitado” da classe que não consegue parar de dizer tipo ou trazido. Um é punido em classe, o outro no playground, mas ambos são deficientes na mesma habilidade lingüística – como a habilidade de mover-se entre dialetos e graus de “correção”, a habilidade de comunicar de uma forma com seus pares e de outra com seus professores e outra com sua família e outra com os treinadores da Pequena Liga e assim por diante. A maioria desses ajustes dialetais são feitos abaixo da consciência vigilante, e nossa habilidade de fazê-lo parecer parte psicológica e parte outra coisa – talvez alguma coisa plugada na mesma placa-mãe como Gramática Universal – e na verdade essa habilidade é um indicador muito melhor do “Q.I. Verbal” de uma criança do que testes e notas, visto que as aulas de inglês dos EUA mais retarda talento dialetal do que o cultiva. Fato bem conhecido: nem no K-12 nem no inglês colegial as gramáticas sistemática IEP e uso são ensinadas mais. É assim há mais de 20 anos. O fenômeno enlouquece os Prescritivistas, e é uma das grandes coisas que eles citam como evidência do gradual assassinato do inglês pela América. Descritivistas e especialistas em educação do inglês contrapõem que gramática e uso tem sido abandonados porque pesquisas científicas provaram que estudar gramática IEP e uso simplesmente não faz 39

O SNOOtita é, como acontece, um parte indispensável da educação de playground das outras crianças. As crianças que estão aprendendo sobre identidade de Grupo dependem tanto da exclusão quanto da inclusão. Eles são, em outras palavras, começando a aprender sobre Nós e Eles, e sobre como um Nós sempre precisa de um Eles porque sendo não-Eles é essencial para ser Nós. Porque eles são crianças e estão na escola, os óbvios Eles tendem a ser os professores e todos os valores e todas as benfeitorias do mundo dos professores. Esse professor-Eles ajudam as crianças a verem como começar a ser um Nós, mas o SNOOTita completa o quebra-cabeças por fornecer o link como se ele existisse: ele é o Traidor, o Nós que não é de fato Nós mas Eles. 40 (Esse cenário saias-no-colégio não é assunto pessoal, FYI)

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de suas crianças melhores escritores. Cada lado no debate tende a considerar o outro como mentalmente doente e/ou cego pela política ideológica. Nenhum dos campos parece considerar que o jeito como IEP foi tradicionalmente ensinado tenha alguma coisa a ver com sua inutilidade. Por jeito aqui estou me referindo não muito ao método atual como espírito ou atitude. A maioria dos professores tradicionais da gramática inglesa tem sido, claro, SNOOTs dogmáticos e como a maioria dos dogmáticos eles tem sido incrivelmente estúpidos acerca da retórica que eles usaram e a Audiência para quem eles se dirigem41. Eu me refiro especificamente a sua suposição que IEP é o único dialeto inglês apropriado e que a única maneira de não ver isso é ignorância ou amência ou grave deficiência no caráter. Como retórica, esse tipo de atitude funciona somente como pregação para convertido, e como pedagogia é simplesmente desastroso. A verdade é que um estudante dos EUA comum só passará pelo transtorno de manejar as convenções difíceis do IEP se ele enxergar o Grupo IEP relevante ou Comunidade de Discurso como uma da qual ele gostaria de fazer parte. E na falta de qualquer argumento de porque o Grupo correto-IEP é bom ou desejável (um argumento que, lembremos, o professor tradicional não deu, porque ele é um SNOOT tão dogmático que não vê necessidade para tal), o estudante se restringirá a avaliar o apelo de um baseado na IEP a partir dos membros do Grupo que ele encontra, a saber o próprio professor SNOOToso. Não estou sugerindo aqui que a pedagogia IEP efetiva requereria que os professores usassem óculos de sol ou chamasse seus estudantes de “Cara”. O que eu estou sugerindo é que a situação retórica de uma aula de inglês – uma classe composta inteiramente por jovens cuja identidade de Grupo está baseada na provocação dos valores Adultos-Estabelecidos, e também composta parcialmente por minorias cujos primeiros dialetos são diferentes de IEP – requer que o professor venha com um claro, honesto e influente argumento de porque o IEP é um dialeto que vale a pena aprender. Esses argumentos são difíceis de se fazer – não intelectualmente mas emocionalmente, politicamente. Porque eles são puramente elitistas42. A verdade verdadeira, é claro, é que IEP é o dialeto da elite americana. Que ela foi inventada, codificada e promulgada pelos WASPs Masculinos Privilegiados e foi perpetuado como “Padrão” por eles. Que ela é a pedra-de-toque do Establishment e um instrumento de poder político e divisão de classes e discriminação racial e todas as formas de desigualdade social. Esses são digamos temas delicados para trazer em uma aula de inglês, especialmente se serve para argumento um pro-IEP, e extraespecialmente se você é ao mesmo tempo um WASP Masculino Privilegiado e Professor e portanto algo como um símbolo ambulante do Establishment Adulto. A opinião deste resenhista, porém, é que e estudantes e IEP estão melhores servidos se o professor deixa suas premissas claras e seu argumento evidente, apresentando-se como um advogado da utilidade do IEP do que como um profeta da sua superioridade intrínseca. Porque esse argumento é mais delicado e (acredito eu) mais importante para estudantes negros, aqui está uma versão de um papo que eu tive em uma conferencia privada43 com alguns estudantes negros que eram (a) brilhantes e inquisitivos e (b) 41

Há ainda alguns desses professores por aí, ao menos aqui no Meio-Oeste. Você conhece o tipo: sem lábios, que usa tweed, solteirões-cancrinitas de ambos os gêneros. Se você teve um (como eu, 1976-77), você certamente se lembrará dele. 42 (Ou ainda esse argumento nos faz pensar abertamente e falar sobre elitismo, ao passo que a pedagogia do SNOOT dogmático é a mera ação elitista.) 43 (Eu não sou um completo idiota)

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deficientes no que a educação superior americana consideram uma facilidade do inglês escrito: Eu não sei se alguém já disse isso para vocês isso ou não, mas quando vocês estão numa aula de inglês vocês estão basicamente estudando um dialeto estrangeiro. Esse dialeto é chamado de Inglês Escrito Padrão. [Breve visão geral do maior dialeto dos EUA à la p. 15] De conversar com vocês e ler seus trabalhos, eu conclui que dialeto primário de vocês é [uma das três variantes do INP comum em sua região]. Agora, deixe-me decifrar em minha voz professoral oficial: o tipo de INP em que vocês são fluentes é diferente do IEP de muitas maneiras importantes. Algumas dessas diferenças são gramaticais – por exemplo, negativos duplos são OK em Inglês Negro Padrão (INP) mas não em IEP, e INP e IEP conjugam alguns verbos de maneiras totalmente diferentes. Outras diferenças têm a ver com estilo – por exemplo, Inglês Escrito Padrão (IEP) tende a usar muitas cláusulas subordinadas nas primeiras partes das frases, e isso desencadeia muitas dessas subordinadas com virgulas, sob as regras IEP, escrever isso não faz isso “agitado”. Há diferentes tons como isso. O quanto desse tipo de coisa vocês já sabem? [RESPOSTA PADRÃO: algo em torno de “Eu sei por minhas notas e comentários nos meus trabalhos que professores de inglês pensam que eu não sou um bom escritor”]. Bem, eu tenho boas e más notícias. Há alguns professores de inglês variados e inteligentes que não estão muito cônscios de que há dialetos reais além do IEP, então quando eles leem seus trabalhos colocarão, tipo, “Conjugação Incorreta” ou “Precisa-se de vírgula” ao invés de “IEP conjuga esse verbo de forma diferente” ou “IEP exige vírgula aqui”. Esse é a boa parte – não é que você seja um escritor ruim, é que não aprendeu as regras especiais do dialeto no qual eles desejam que você escreva. Talvez, isso não seja uma notícia tão boa que eles estejam dando nota baixa a você por erros de um dialeto estrangeiro que você nem sabia ser um dialeto estrangeiro. Que eles não vão deixar você escrever em INP. Talvez isso pareça injusto. Se parece, você não vai gostar dessa notícia: Eu não vou deixar que você escreva em INP também. Na minha aula, você terá que aprender e escrever em IEP. Se você deseja estudar e escrever em seu próprio dialeto e suas regras e história e como ele é diferente do IEP, tudo bem – há alguns livros de intelectuais de Inglês Negro, e eu vou te ajudar a encontrar alguns e conversar sobre eles se você desejar. Mas isso será fora da aula. Em aula – na minha aula de inglês – você terá que dominar e escrever em Inglês Escrito Padrão, que nós devemos assim mesmo chamar de “Inglês Escrito Padrão”, porque foi desenvolvido por pessoas brancas e usado por pessoas brancas, especialmente educadas, pessoas brancas poderosas. [RESPOSTAS a partir deste ponto variam muito para padronizar] Eu os respeito o suficiente aqui para dar a vocês o que eu acredito ser a mais dura verdade. Neste pais, IEP é percebido com um dialeto de educação e inteligência e poder e prestígio, e qualquer um de qualquer raça, etnia, religião ou gênero que queira ter sucesso na cultura americana precisa saber manejar IEP. E Isso é Como É. Você pode gostar disso ou não ou ficar profundamente puto. Você pode acreditar que é racista ou injusto ou decidir aqui e agora e gastar todo minuto acordado argumentando contra isso, e talvez você deveria, mas eu vou dizer a você uma coisa: se você quiser que esses argumentos sejam ouvidos e levados a sério, você terá que comunicá-los em IEP, porque IEP é o dialeto que este país fala consigo mesmo. Afro-americanos que se tornaram bem sucedidos e importantes na cultura dos EUA sabem disso; é por isso que os discursos do King do X do Jackson são em IEP, por isso que os livros do Morrison do Baldwin do Wideman do West são totalmente fodas IEP, e porque juízes negros e políticos e jornalistas e doutores e professores se comunicam

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profissonalmente em IEP. Algumas dessas pessoas cresceram em casas e comunidades onde IEP era um dialeto nativo, e essas pessoas negras aprenderam mais facilmente na escola, mas aqueles que não cresceram em IEP perceberam em certo ponto que eles teriam que aprendê-lo e ter que saber escrever nele, e então eles fizeram. E [INSIRA O NOME AQUI], você terá que aprender a usá-lo, também, porque eu você eu vou te obrigar. Devo notar aqui que alguns estudantes para quem eu disse isso ficaram ofendidos – um protocolou uma Reclamação Oficial – e eu tive mais de um colega professor que achou meu papo “racialmente insensível”. Talvez você também achará. Minha humilde opinião é que algumas realidades políticas e culturais da vida americana são elas mesmas racialmente insensíveis e elitistas e ofensivas e injustas, e que ficar por aí tucanando essas realidades com eufemismos de duplo sentido não é só hipócrita mas tóxico ao projeto de algum dia mudá-los realmente. Tucanagens como essas agora alcançaram o status de dialeto – um poderoso o bastante para transformar a política normal nas Guerras de Uso completamente. Me refiro aqui ao Inglês Politicamente Correto (IPC), sob cujas convenções estudantes repetentes se tornam estudantes de “alto potencial” e pessoas pobres “economicamente desavantajados” e pessoas na cadeira de rodas “diferentemente habilidosas” e frases como “White English e Black English são diferentes e é melhor você aprender White English se você não quer ser reprovado” não é só brusco como “insensível”. Embora seja comum fazer piadas com o IPC (referindo a pessoas feias com “esteticamente desafiadoras” e assim por diante), seja avisado que pre-e proscrições variadas do IPC são levadas muito seriamente também por colégios e empresas e agências do governo cujo próprio dialeto institucional agora está sob o novo lustroso tipo de escrutínio da Política Lingüística. De uma perspectiva, a história do IPC evidencia um tipo de ironia Lênin-paraStalinesca. Isto é, os mesmos princípios ideológicos que participam da revolução os Descritivistas originais – a saber, a rejeição da década de sessenta da autoridade tradicional e da desigualdade tradicional – agora têm produzido um Prescritivismo muito mais inflexível, um desvinculado da tradição ou complexidade e protegido da ameaça das sanções do mundo-real (expulsões, litígios) para aqueles que não conseguem se conformar. Esse é um tipo de caminho engraçado e obscuro, talvez, e as maiores críticas do IPC parece tirar sarro desse modismo ou insipidez. Na opinião deste resenhista IPC não é só bobo mas confuso e perigoso. Uso é sempre político, claro, mas é complexamente político. Em relação, por exemplo, à mudança política, convenções de uso pode funcionar de duas formas: de um lado, eles podem refletir uma mudança política, e de outro pode ser um instrumento de mudança política. Essas suas funções são diferentes e devem ser tomadas separadamente. Confundi-las – em particular, achar o que é eficácia política o que é realmente somente um simbolismo lingüístico – permite a convicção bizarra de que a América deixou de ser elitista e injusta simplesmente porque americanos pararam de usar certo tipo de vocabulário que está historicamente associado ao elitismo e injustiça. Essa é a falácia central do IPC – que o modo de expressão da sociedade é produtiva de suas atitudes ao invés de ser produto de suas atitudes – e claro nada a não ser anverso da desilusão do SNOOT politicamente conservador que a mudança social possa ser retardada pela restrição do uso padrão44. 44

E. g., esse é raciocínio por trás da reclamação de muitos Prescritivistas Pop de que o uso tosco significa o Declínio da Civilização Ocidental.

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Esqueça os equívocos da Stalinização ou Lógica nível 101, porém. Há uma ironia mais crassa sobre o Inglês Politicamente Correto. É que IPC intenciona ser o dialeto da reforma progressiva mas é de fato – na sua substituição Orwelliana de eufemismo de igualdade social pela igualdade social ela mesma – é muito mais para ajudar os conservadores e o status quo dos EUA do que o SNOOT tradional jamais foi. Sendo eu, por exemplo, um político conservador que se opõe aos tributos como forma de redistribuir a riqueza nacional, eu adoraria ver progressistas IPC gastar o seu tempo e energia argumentando se uma pessoa pobre deva ser descrita como “baixarenda” ou “economicamente desavantajado” ou “pré-póspero” ao invés de construir argumentos efetivamente públicos por uma legislação redistributiva ou aumentar a tributação marginal nas empresas. (Sem mencionar que os estrito código eufemsta serve para abafar todo to tipo de discurso doloroso, feio e muitas vezes ofensivo que em uma democracia pluralista levaria a uma mudança política atual ao invés de mudança política simbólica. Em outras palavras, IPC funciona como uma forma de censura, e censura sempre serve ao status quo.) Em matéria prática, eu desconfio fortemente se um cara que tem três filhos e ganha R$ 12.000 ao ano se sente mais poderoso ou menos mal-tratado por uma sociedade que se refere a ele como “economicamente desavantajado” ao invés de “pobre”. Se fosse ele, de fato, eu provavelmente acharia o termo IPC insultante – não só porque é paternalista mas porque é hipócrita e auto-serviente. Como muitos formas do USO EM VOGA45, IPC funciona primariamente para sinalizar e congratular algumas virtudes do falante – igualitalismo escrupuloso, preocupação com a dignidade de todos, sofisticação em relação às implicações políticas da linguagem – e então serve parar interesses egoístas do PC bem mais do que serve para qualquer pessoa ou grupo renomeado. INTERPOLAÇÃO SOBRE UM ASSUNTO RELACIONADO EM CUJA FACE DO ESPÍRITO DEMOCRÁTICO CHOCANTEMENTE MALIGNO DESSE RESENHISTA ABERTAMENTE CONCEDE, ADMITIDAMENTE Esse assunto é Inglês Acadêmico, um câncer que sofreu metástase agora para afligir tanto a escrita escolar Se um ciborgue como esse for insinuar o futuro sujeito pós-fordista, sua locação provavelmente masoquista como agente estático do superestado sublime precisa ser decodificado como o “agora todo-mas-ilegível-DNA” na Dedroit rapidamente industrializável, assim como sua estratégia tipo-Robocop de negociação carcerária e seu controle da rua permanece inscansavelmente americano uma das regenerações inflingidas pela violência sobre os heteroglássicos racialmente selvagens e outros do interior da cidade46. 45

A Dictionary of Modern American Usage inclui mini-ensaios sobre PALAVRAS EM VOGA, mas é um ensaio desapontador no qual Garner faz pouco mais do que listar PVs que o incomodam e dizer que “palavras em voga tem tamanho apelo na mente popular que elas passam a ser usadas em contextos nos quais elas servem para pequenos propósitos”. Esse é um dos raros lugares no ADMAU onde Garner está simplesmente errado. O problema verdadeiro é que cada frase mistura e é o resultado de no mínimo duas funções comunicativas diferentes – uma da transmissão da informação crua, e outra a transmissão de alguma coisa sobre o falante – e Palavras em Voga joga fora esse balanço. O “serve para pequenos propósitos” do Garner é exatamente incorreto; palavras vagas servem muito ao propósito de apresentar o falante em uma certa luz (mesmo se isso for meramente como com it or hip), e a antena-B. S. subliminar das pessoas pegam esse desesquilíbrio, e é por isso que mesmo nãoSNOOTs frequentemente acham o USO VAGO irritante e arrepiante. 46 FYI, essa passagem, que aparece na nota do ADMAU sobre OBSCURIDADE, foi tirada de um artigo do Sacramento Bee de 1997 intitulado “Incontestável: Professores de Inglês são os Piores Escritores no Campus.”

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- e prosa tão mainstream quanto do The Village Voice Como primeiro encontro, os poemas distantes da superfície cerebral conseguem ser desencorajadores, evadindo locação física e arco emocional direto. Mas isso significando remotamente rápido revela uma paixão muito real, centrada no esforço do falante para definir sua auto-construção evolutiva. Talvez é a combinação da minha SNOOTitude e o fato de eu acabar tendo que ler muito disso no meu trabalho, mas eu estou com medo de considerar Inglês Acadêmico não como uma variação dialetal mas como um aviltamento do IEP, e detestá-lo ainda mais que as incoerências empoladas do Inglês Presidencial (“Esse é a melhor e única maneira de desencobrir, destruir e prevenir o Iraque de reengenheirizar armas de destruição em massa”) ou as devoções mutiladas da Fala-de-Negócios (“Nossa missão: proativamente procurar e fornecer as habilidades do network ótimo e recursos para encontrar as necessidades de nosso negócio crescente”); e eu para reforçar esse total desprezo e intolerância eu cito a autoridade de ninguém mais que o Sr. G. Orwell, quem 50 anos atrás teve IA marcado como uma “mistura de vagueza e pura incompetência” no qual “é normal encontrar passagens quase completamente desprovidas de significado”47. Não é provavelmente toda a explicação, mas, assim como a hipocrisia em voga do IPC, a obscuridade e pretensão do inglês acadêmico pode ser atribuída em parte ao rompimento do balanço retórico delicado entre linguagem como vetor de significado e linguagem como vetor do résumé do próprio escritor. Em outras palavras, é quando a vaidade/insegurança do intelectual o leva a escrever principalmente para comunicar e reforçar seu próprio status como um Intelectual que seu inglês é deformado pelo pleonasmo e pela dicção pretensiosa (cuja função é para sinalizar a erudição do próprio escritor) e pela opaca abstração (cuja função é manter qualquer um de rebaixar o escritor a uma asserção definida que possa ser refutada ou vista como boba). A última característica, um nível de obscuridade que frequentemente deixa quase impossível de descobrir o que uma frase em IA está realmente dizendo, tão parecida com o jargão político e corporativo (“realçamento de vendas”, “enxugamento”, “pré-propriedade”, “proativo”, “reestruturação de alocação de recursos”) que é tentador a pensar que o real propósito da IA é a dissimulação e temer sua real motivação. A insegurança que motiva IA, IPC, e propagandas com vocabulários está longe de ser sem fundamento, todavia. Esses são tempos lingüísticos tensos. Culpe a Incerteza Heisenberguiana ou o posmodernismo ou a Imagem pela Substância ou a ubiqüidade das propagandas e P.R. ou a ascensão da Política da Identidade ou o que você desejar – nós vivemos em uma era com uma terrível preocupação com apresentação e interpretação. Em termos retóricos, algumas distinções longamente mantidas entre Apelo Ético, Apelo Lógico (= um argumento plausível e sólido) tem agora entrado em colapso – ou agora diferentes tipos de Apelos afetam e são afetados de um jeito que deixa quase impossível avançar argumento somente pela “razão”. 47

Isso aconteceu em seu “Política e Língua Inglesa” de 1946, um ensaio que embora a data (e a redundância básica de seu título) permanece um a definitiva proclamação SNOOT na Academia. A famosa tradução para o IA do Orwell do lindo “Não há nada novo debaixo do sol” de Eclesiastes como “Considerações objetivas do fenômeno contemporâneo nos obrigam à conclusão de que o sucesso ou o fracasso em atividades competitivas exibem nenhuma tendência a ser comensurada com capacidades inatas, mas que um elemento considerável do imprevisível deve invariavelmente ser levado em conta” deveria ser tatuado pulso esquerdo de todo bom estudante de graduação no mundo anglófono.

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Uma vivamente concreta ilustração aqui concerne a Reclamação Oficial que um estudante de graduação negro protocolada contra este res. depois de meu pequeno papo in camera descrito nas páginas. 19-20. A reclamação estava (eu opino) errada, mas ela não era doida nem estúpida; e eu pude depois ver que eu carrego alguma responsabilidade por todo minha degradável provocação administrativa. Minha culpabilidade repousa na maior ingenuidade retórica. Eu veria o primeiro Apelo do meu discurso como Lógico: o objetivo era fazer um argumento honesto e visivelmente direto pela utilidade do IEP. Não foi bonito, talvez, mas foi verdadeiro, além de ser tão manifestamente livre de lenga-lenga que eu penso eu antecipei não só não a aquiescência mas a gratitude pela minha candura48. O problema que eu falhei em não ver, claro, repousa não no argumento per se mas com a pessoa que o formulou – a saber eu, o Privilegiado Masculino WASP na posição de poder, portanto alguém cujas afirmações sobre a primazia e utilidade do dialeto Privilegiado Masculino WASP apareceu não cândido/exortatório/verdadeiro mas elitista/mãolevantada/autoritário/racista. Retoricamente, o que aconteceu foi que eu permitir que substância e estilo do meu Apelo Lógico completamente torpedear meu Apelo Ético: o que o estudante ouviu foi só mais um PWN racionalizando por que seu Grupo e seu Inglês eram melhores e deveriam “logicamente” ficar assim (mais, pior, tentando usar seu poder acadêmico sobre ele e coagir seu assentimento.49) Se por uma razão acontecer de você compartilhar com as percepções desse estudante em particular e reações50, eu pediria que você colocasse um parênteses longo o bastante para reconhecer que o bem moderno dilema do instrutor PWN naquele escritório não era na realidade diferente do dilema enfrentado pelo homem que faz um argumento Pró-Vida, ou um ateu que argumenta contra a Ciência Criacionista, ou um caucasiano que se contrapõe às Ações Afirmativas, ou uma Afroamericano que denuncia a Discriminação Racial, ou qualquer pessoa de dezoito anos que tenta aumentar a idade mínima para dirigir para dezoito anos, etc. O dilema não tem nada a ver com se esses argumentos eles próprios são plausíveis ou certos ou mesmo sãos, porque o debate raramente vai tão longe – qualquer oponente com sentimentos fortes suficientes ou um dogmaticamente inclinado conseguem descartar o argumento e praticamente barrar qualquer discussão com uma simples e terrivelmente familiar réplica: Claro que você diria isso”; “Fácil para você falar”; “Que direito você tem....? Agora (ainda em parênteses) considere que a situação de um SNOOT razoavelmente inteligente e bem-intencionado que se senta e prepara um guia de uso prescritivo. É o milênio, pós-Tudo: Daí, afinal qual autoridade para fazer qualquer tipo de Apelo pela IEP? PONTO CRUCIAL DO ARTIGO: POR QUE BRYAN A. GARNER É UM GÊNIO, EMBORA UM TIPO BEM PECULIAR Não é que o A Dictionary of Modern American Usage seja perfeito. Não parece cobrir familiarizado vs. familiado com, por exemplo, ou abstruse vs. obtruso, ou não tem nada sobre hereby e herewith (que eu costumo usar cambiavelmente mas tenho o sentimento difícil de estar estragando tudo). Garner tem uma boa discussão 48

Por favor nem diga. (Ela alegou ter ficado especialmente traumatizada com o “E eu vou fazer você” que olhando em retrospecto foi um fiasco retórico gigantesco) 50 (O Chefe do Departamento e o Diretor não, como acontece, compartilharam sua reação... embora seria insincero não dizer a você que calhou de eles serem PWM’s, fato que não passou despercebido pelo reclamante, tanto que todo procedimento fico gravemente tenso, de fato, antes de tudo acabar) 49

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sobre o used to mas nada sobre o supposed to. Nem ele dá qualquer exemplo para ajudar a explicar particípios irregulares ou transitividade (“The light shone” vs. “I shined the light”, etc.), e isso pareceria ser mais importante que, digamos, a correta grafia de huzzah ou o plural de animalculum, ambos os quais são discutidos. Além disso, há as PALAVRAS EM VOGA snafu e a falta de uma nota sobre a pronuncia de trough51. Em outras palavras, um SNOOT é capaz de encontrar coisas para se discutir em qualquer dicionário de uso, e ADMAU não é exceção. Mas ele é muito, muito bom – e não só lexicograficamente mas também retoricamente, politicamente (se realmente fizer sentido distinguir ainda). Como uma coleção de julgamentos, ADMAU não de forma alguma descritivista, mas Garner estrutura seu julgamento muito cuidadoso para evitar elitismo e analidade da SNOOTitude tradicional. Ele não emprega ironia ou desdém ou destreza cáustica, nem tropos ou coloquialismo ou contrações... ou qualquer tipo de tipo verbal. De fato, mesmo que Garner fale abertamente sobre ele mesmo e use o pronome em primeira pessoa por todo o dicionário, sua personalidade é estranhamente apagada, neutralizada. Parece que ele é são brando que quase não está ali. Por exemplo, enquanto este resenhista estava terminando a última nota52, me veio que eu não tinha a menor ideia de Bryan Garner era negro ou branco, gay ou hetero, Democrata ou Mesmacabeça. O que foi ainda mais estranho era que eu não tinha nem pensado sobre isso até agora; alguma coisa sobre a persona léxica do Garner evitou que eu me perguntasse se o cara estava com algum objetivo em particular ou ideologias quando ele me informou desde o começo que eram “julgamentos de valor”. Bryan Garner é um gênio porque A Dictionary of Modern American Usage praticamente resolve a crise da Guerra pelo Uso da Autoridade. Garner consegue controlar a co-presença dos Apelos retóricos tão habilmente que ele parece transcender tanto as Guerras pelo Uso quanto simplesmente dizer a verdade, e de tal forma que ele não torpedeia sua própria credibilidade mas na verdade a engrandece. Sua estratégia argumentativa é totalmente brilhante e totalmente sneaky, e parte das duas qualidades é que usualmente não parece haver nenhum argumento passando. Garner reconhece algo que nenhum dos campos dogmáticos parecem ter percebido: dados 40 anos de Guerra pelo Uso, “autoridade” não é algo que um lexicógrafo consegue presumir ex officio. De fato, grande parte do projeto de qualquer dicionário de uso contemporâneo consistirá em estabelecer essa autoridade. Se isso parece um pouco óbvio, seja informado de que ninguém antes de Garner parece ter notado isso antes – que o desafio do lexicógrafo agora é ser não só preciso e compreensível mas crível. Que a falta de uma Autoridade inquestionável na linguagem, o leitor deve agora ser inclinado e persuadido a conceder a um dicionário sua autoridade, livremente e por o que parece ser boas razões. O Dictionary of Modern American English do Garner é portanto uma coleção de informação e uma peça de retórica Democrática53. Seu objetivo é recuperar a persona Prescritivista: o autor se apresenta como uma autoridade não no sentido autocrático mas sim no sentido tecnocrático. E o tecnocrático é não somente a

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Para ser honesto, eu notei essa omissão só porque na feitura deste artigo aconteceu de eu usar a palavra trough na frente do mesmo amigo SNOOT que gosta de comparar o inglês público com o violino-cortador-de-unhas, e ele caiu de lado da sua cadeira, e veio a mim que eu de alguma forma ao longo da minha vida eu ouvi mal o final th ao invés de f e eu tenho pronunciado errado publicamente só Deus sabe quantas incontáveis vezes e eu corri para casa cantando pneu para ver se talvez o erro fosse tão comum e humano e compreensível que Garner mesmo tem uma boa nota sobre isso, mas não tive sorte, que sendo justo eu acho que não posso realmente culpar Garner por. 52 (sobre zwienback vs. zweiback) 53 (significando literalmente Democrático – isso Quer seu Voto)

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inteiramente moderna e palatável imagem da Autoridade como também imune às mudanças de elitismo/classicismo que tem claudicado o tradicional Prescritivismo. Claro, Garner realmente é um tecnocrata. Ele é um advogado, lembre-se, e no ADMAU ele conscientemente projeta um tipo sábio de persona jurídica: bem informado, desapaixonado, justo, com quase uma nível-Iluminismo paixão pela razão. Seus julgamentos sobre o uso parecem ser prestados como opiniões jurídicas – citação exaustiva do precedente (o julgamento de outros dicionários, exemplos publicados do uso atual) combinados com um raciocínio claro, lógico que está sempre instruído pelos propósitos largamente consensuais do IEP estão para servir. Igualmente é a aproximação totalmente tecnocrática ao assunto de se alguém ao menos se interessará em 700 páginas de conselhos bem fixados. Como qualquer especialista, ele simplesmente presume que há razões práticas para algumas pessoas se preocuparem com o uso IEP; e sua atitude sobre o fato de a maioria dos Americanos “não poderia me importar menos” não é de desprezo nem desaprovação mas a resignação fleumática de um doutor ou advogado que percebe que ele consegue dar um bom conselho mas não consegue fazer você segui-lo: A realidade que eu mais me importo é que algumas pessoas ainda queiram usar bem a linguagem54. Eles querem escrever efetivamente; eles querem falar efetivamente. Eles desejam que sua linguagem seja graciosa algumas vezes e poderosa em outras. Eles querem entender como usar bem as palavras, como manipular as frases, e como mover-se pela linguagem sem parecer debulhá-la. Eles querem boa gramática; mas eles querem mais: eles querem retórica55 no sentido mais tradicional. Isto é, eles querem usar a linguagem habilmente para que assim ela se encaixe em seus propósitos. Agora é possível ver como que as coisas autobiografias do Prefácio do ADMAU fazem mais do que só humanizar o Sr. Bryan A. Garner. Isso também serve para detalhar a precoce e duradora paixão que ajuda a fazer alguém um tecnocrata confiável – nós tendemos a gostar e confiar em experts cuja expertise nasce de um amor verdadeiro pela sua especialidade ao invés de um simples desejo de ser um expert em algo. De fato, acontece que o Prefácio ADMAU calma e constantemente investe Garner com todas as qualificações da Autoridade tecnocrática moderna: devoção passional, razão e accountability (lembre-se “com interesse de abertura total, aqui há então os dez pontos críticos...”), experiência (isso, depois de anos trabalhando com problemas de uso, eu estabelço”), exaustiva e pesquisa tech-experiente (“Para uso contemporâneo, os arquivos de nosso melhores dicionários são marcadores pálidos em comparação com as capacidades textuais completas de busca agora fornecidas pelo NEXIS e WESTLAW”), e até mesmo um comportamento judicioso (veja um exemplo disso de HIPERCORREÇÃO: “Algumas vezes as pessoas esforçam-se para cumprir a estrita etiqueta, mas no processo acabam por se comportar inapropriadamente”56), e o tipo de integridade humilde (por exemplo, incluindo notas sobre erros em suas próprias publicações antigas) que não só faz do Garner simpático 54

As últimas duas palavras dessa frase, claro, são o porquê das Guerras pelo Uso – linguagem de quem? e bem para quem? A coisa mais incrível desta frase vindo de Garner é que ela não soa ingênua nem desagradável mas simplestemente... razoável. 55 Você achou que eu estava brincando? 56 (Aqui o íntimo e sempre-vigilante SNOOT deste resenhista não consegue deixar de pergungar por que Garner usa uma vírgula antes da conjunção da frase, pois o que segue a conjunção não é uma cláusula independente nem qualquer complemento plausível para strive to. Mas discordâncias entre pessoas de boa vontade é claro Democraticamente natural e saudável e, quando você vai até o fundo, até um pouco engraçado.

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mas também transmite um tipo de reverencia pelo Inglês que só bons juristas tem pelo direito, ambos os quais são maiores e mais importantes do que para qualquer pessoa. Provavelmente, a coisa mais atraente no Apelo Ético ADMAU, porém, é a consideração escrupulosa do Garner com a preocupação do leitor com sua própria autoridade lingüística e persona retórica para convencer a audiência com quem ele ou ela se importam. Em mais de uma vez, Garner forma suas prescrições em termos retóricos, por exemplo: “Para o escritor ou falante cuja própria credibilidade seja importante, é uma boa ideia evitar distrair qualquer leitor ou ouvinte”. A verdadeira tese do A Dictionary of Modern American Usage, em outras palavras, é que o propósito para uma autoridade expert e os propósitos do leitor leigo são idênticos, e identicamente retóricos – que, admito, é o mais Democrático que hoje em dia se pode alcançar.

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